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LEVANTAMENTO ARQUITETÔNICO DAS PRIMEIRAS EDIFICAÇÕES

URBANAS DE IPEÚNA, SP.

CARVALHO, MARA LÍGIA S. E FERREIRA, MONICA C. B. F.

Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) – Universidade de São Paulo (USP) Escola Superior de Tecnologia e Educação de Rio Claro – ASSER/RC

ligiascotton@uol.com.br monicafrandiferreira@hotmail.com

RESUMO Este artigo analisa o processo de formação do primeiro núcleo urbano da cidade de Ipeúna, município de pequeno porte do interior do Estado de São Paulo, verificando o aspecto fundiário, o parcelamento e a ocupação da terra, a partir da investigação bibliográfica em fontes originais. Objetiva elucidar o processo de constituição do patrimônio religioso local, a partir de meados do século XIX, no regime de aforamento, apontando a sua consequência físico-espacial, entendida com o parcelamento original e o início da ocupação deste traçado com as primeiras edificações urbanas. Assim como outros povoados do Estado de São Paulo, Ipeúna começou a se formar em torno de uma capela, numa região que foi rota de tropeiros e mascates que cruzavam a extensa região do “Morro Azul”, tomando a direção para os “sertões de Araraquara”, para onde partiam em busca de outro nos “sertões de Goiás”. Num processo que encontra ressonância na história da urbanização paulista, fazendeiros locais fizeram doações de parte de suas terras para a constituição do patrimônio religioso, o que deu início à efetiva ocupação do povoado, constituído por caboclos e, mais tarde, por imigrantes europeus. O contato entre esses povos resultou em uma troca cultural dinâmica, com adaptações e inovações que podem ser verificadas nos novos materiais e métodos construtivos das edificações urbanas, além de sugestivas transformações no modo de vida local. Foi feito o levantamento das primeiras construções localizadas no patrimônio religioso, com pesquisa iconográfica das edificações residenciais, comerciais e institucionais, na intenção de elaborar registro inédito dos imóveis, apontando suas características arquitetônicas e o atual estado de conservação, informações estas que serão complementadas por meio de entrevistas com antigos moradores, de forma a registrar usos e costumes tradicionais. Importante destacar que não existe qualquer tipo de registro arquitetônico e urbanístico até então elaborado para Ipeúna. Verificou-se que as edificações eram térreas, estavam implantadas em lotes tradicionais (estreitos e profundos), foram construídas no alinhamento da via pública e encostadas nas suas divisas laterais. Os terrenos receberam plantas arquitetônicas elaboradas em esquemas simples, constituídas de dois ou três cômodos multifuncionais, o que resultou em pouca variação formal. A grande maioria foi edificada em taipa, e posteriormente em tijolos, com alicerces de pedras possivelmente retiradas dos rios da região. As poucas construções de maiores dimensões apresentavam maior separação entre as atividades de estar, íntima e de serviços, a maioria possuía chão de terra batida e poucas possuíam porão alto, havendo similaridade das técnicas construtivas, dos materiais de construção e de acabamento, como as cimalhas sobre janelas e portas. Pela inexistência do sistema de água e de esgotos, implantado por volta de 1962, a maioria das casas possuía latrina em seus quintais e a água era de poço artesiano. Infere-se que Ipeúna seguia as determinações dos Códigos de Posturas e das leis sobre construções de São João do Rio Claro, município a qual ela pertenceu até 1964, ano de sua emancipação. Em virtude das dificuldades de fiscalização, fruta da distância da cidade-sede, as edificações foram construídas em sua maioria sem plantas aprovadas pelo poder público municipal, foram concebidas e executadas por construtores locais, sem a obediência efetiva aos princípios

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contidos na legislação sobre edificações, primeiramente de embelezamento e posteriormente, relativos à higiene. Desta forma, sob o ponto de vista de Marx, Dean, Lemos e Reis Filho e tomando como referências os estudos sobre Rio Claro e Ipeúna, Garcia, Diniz, Cachioni, Ferreira, Machado, Martins e Sakaguti, para citar alguns dos autores cujos textos constituíram referência para a pesquisa nas fontes originais, este artigo deve contribuir para ampliar e documentar a compreensão do processo inicial de urbanização da localidade. Deve permitir entender como seu povoado começou a se formar a partir de um estudo detalhado das primeiras moradias, verificando seu estilo arquitetônico, os materiais e métodos construtivos, com o intuito de auxiliar no registro, divulgação e compreensão de sua história, intencionando-se, por fim despertar o interesse da comunidade local para a recuperação e a conservação das edificações remanescentes. Palavras-chave: História da urbanização paulista; Patrimônio religioso paulista; Moradias urbanas.

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INÍCIO DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL DE IPEÚNA

Em consequência da descoberta do ouro na Província do Mato Grosso, desde o ano de

1718, desbravadores criaram rotas em toda a província de São Paulo. Nesse momento

existiam duas principais rotas, o roteiro do Anhembi (Tietê) e o caminho pelo sertão. Os

paulistas preferiram as rotas por terra do Tatuibi-Limoeiro (Tatu-Limeira – Morro Azul), e

partiam com tropas de burros de São Paulo, por intermédio da Depressão Periférica.

(DEAN, 1977, p. 21)

O impulso definitivo para o desenvolvimento desta região foi desencadeado pela doação de

sesmarias, feita no final do século XVIII e início do XIX, garantindo a posse do território

ocupado e o cultivo efetivo das terras. De acordo com Diniz (1973, p.32), entre os anos de

1817 e 1821 observou-se intenso processo de concessão de sesmarias, configurando a fase

mais representativa do povoamento dos “sertões do Morro Azul”.

Os “sertões1 do Morro Azul” constituíram fronteira natural, abrangendo a borda interna de

uma grande depressão geográfica que durante muito tempo foi considerado o limite distante

e conhecido dos moradores da Capitania de São Paulo.

O processo geral de desmembramento das sesmarias paulistas, que influenciou de modo

definitivo a formação territorial do povoado de Ipeúna, garantiu a continuidade da ocupação

dos “sertões do Morro Azul”, como também definiu a estrutura fundiária da região, uma vez

que as grandes fazendas monocultoras e escravistas formaram-se a partir da divisão dessas

sesmarias.

Uma das propriedades que deu origem a cidade foi o “Sítio Invernada”, que de acordo com a

descrição contida em sua escritura do ano de 1856, pode-se inferir que suas terras teriam

sido desmembradas de uma sesmaria provavelmente localizada na região de Piracicaba,

como pode ser verificado na figura a seguir. (Figura 01)

Segundo Garcia (2001, p. 32), a partir de 1817, as doações configuraram a divisão das

terras. Neste ano, proveniente de Itu2, a família Galvão França foi a primeira a receber uma

sesmaria, iniciando a ocupação da região e dando origem ao povoado de São João Batista

do Rio Claro, com a doação de terras aos irmãos Pereira, vindos da Freguesia de Moji-

Mirim. Estes obtiveram “uma légua e meia de terras”, de norte a sul, por duas de leste a

oeste, no local denominado “Ribeirão Claro”, situado no sertão devoluto entre a vila de Moji-

Mirim e o rio Piracicaba, começando assim a formação de um pequeno núcleo, considerado

1 A palavra “sertões” aqui tinha o significado de “terras ainda não desbravadas”.

2 Registra-se a data de fundação das comarcas de Itu (1654), Porto Feliz (1797), e São Carlos (1797).

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como marco inicial da formação deste povoado, atual cidade de Rio Claro, ao qual Ipeúna

fez parte de seu território até 1964, configurando-se como distrito.

Figura 01 - Mapa das Sesmarias doadas - 1739/42-1821.Destaque para a porção de terras doadas em 29/09/1816, que originou a região denominada "Sítio Invernada", atual Ipeúna. Este mapa mostra a distribuição das sesmarias que compunham a extensa área de terras das regiões do Morro Azul que deram origem às primeiras grandes propriedades na região.(Fonte: Garcia, 2001, p.32)

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A região estudada encontra-se primeiramente denominada Bairro Passa Cinco, segundo

Machado (2004, p.37), o mais antigo documento relacionado a Ipeúna, que nomeia a região

como Bairro Passa Cinco, é uma certidão de casamento de escravos, da propriedade do

Capitão Mor Estevam Cardoso de Negreiros, transcrita abaixo:

Aos desaseis de Fevereiro de Mil Oitocentos e Trinta e Três Nesta Matriz de São João

Batista do Ribeirão Claro pelas oito horas da manhan em minha presença e das

testemunhas Roque Gomes de Moraes e Alexandre Jose feitas as diligencias necessárias,

sem impedimento algun precedendo exame de Doutrina e o Sacramento da Penitencia se

receberão por marido e mulher por palavras de presente Marco e Ana gentios da Guiné,

escravos do Capitão Mor Estevam de Negreiros morador no Passa Cinco e logo lhe confiri

a bençao Nupcial pelo Missal Romano do que para constar fis este Termo que com as

testemunhas assigno. O Vigario Delfim da Silva Barbosa. (MACHADO, 2004, p. 37). (grifo

nosso)

Em pesquisas nas Atas da Câmara Municipal de São João Batista do Rio Claro, encontrou-

se a descrição na Ata do dia 15 de agosto de 1847, com a seguinte informação:

[...]Foi lido huma represt, digo, representação do povo do Belem do Descalvado,

acompanhando a mesma hum abaixo assignado, pedindo a conservação de hum Portão no

córrego, que se acha entre a Freguesia, e a nova povoação de Santa Cruz, que cerca os

terrenos do Sancto, cuja representação foi submetida a huma Comissão de dois Membros,

sendo os Snrs. Vereadores Alves e Oliveira, e Camargo para darem depois de promovidos

os exames, seu parecer afim de que a Camara possa deliberar a respeito da dicta

representação.

Nas atas seguintes não foram encontradas mais referências a esse povoado, que pela

localização descrita, infere-se ser uma citação de Santa Cruz da Invernada, no Bairro Passa

Cinco.

Pelas transcrições anteriores, pode-se deduzir que já havia moradores nos arredores de

Santa Cruz da Invernada, tendo a denominação nesse período de Bairro Passa Cinco,

conforme documentos descritos, encontrados nos Livros de Registros Matriz de São João

do Rio Claro. Por ser essa uma vasta região, não existindo outra Igreja próxima, esses

moradores tinham que se deslocar até a Matriz de São João do Rio Claro.

Outra referência ao Bairro Passa Cinco, encontrada no arquivo do Fórum da Comarca de

Rio Claro, é uma certidão expedida pelo “Tabelião do Público Judicial e Nottas de São João

do Rio Claro”, que representa a transcrição da venda, em 02 de agosto de 1852, de área

denominada “Sítio Invernada”, onde se encontrava inserido o povoado de Santa Cruz da

Invernada. Machado (2004) afirma que a escritura de venda e compra do Sítio Invernada foi

expedida em 1856, e a procuração lavrada em 1852, foram dois instrumentos jurídicos que

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se ajustavam à Lei de Terras3, promulgada em 1850 e regulamentada em 1853, chamando

a atenção para as terras do referido Sítio não se tratar de uma grande propriedade, sendo

uma situação peculiar para a época. (MACHADO, 2004, p. 39).

Seus herdeiros, ao longo dos anos foram vendendo suas partes, e entre os anos de 1882 e

1896 as terras pertencentes ao “Sítio Invernada” foram repartidas em sucessivas vendas. O

Sr. Samuel Draesbach4, sendo um dos compradores com maior número dessas partes, para

saber exatamente os limites reais de sua propriedade, requereu uma Ação de Divisão e

Demarcação do Sítio Invernada, na qual aparecem também mais vinte e um condôminos, ou

seja, coproprietários (Figura 02). Para que as medidas que cada um desses compradores

tinham direito fossem estabelecidas, fez-se necessário o levantamento de uma planta da

propriedade, obtendo assim, pela primeira vez, a medida exata de 638,747 alqueires e a

localização precisa do Sítio Invernada, bem como às das partes procedentes de várias

vendas. Neste documento encontra-se a seguinte informação: “[...] Dentro do perímetro do

Sitio dividendo acha-se situada a povoação Sta. Cruz do Passa Cinco […].” (MACHADO,

2004, p. 40).

Figura 02 - Processo de Divisão e Demarcação do “Sítio Invernada” em 1896. (Fonte: Arquivo do Fórum de Rio

Claro)

3 Lei no. 601 de 18de setembro de 1850, foi uma das primeiras leis brasileiras a dispor normas para regularizar a

posse das terras, estabelecendo a compra como única forma de acesso à terra, abolindo o regime de sesmarias. 4 O Sr. Samuel Draesbach era natural de Wilkes-Barre, situado no Distrito de Luzerne, na Pensilvânia, USA.

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Nessa época já havia indícios da formação de um pequeno povoado nas terras do “Sítio

Invernada”, onde habitavam caboclos, tropeiros, mascates e as primeiras famílias de

imigrantes que extraíam madeira da Serra do Itaquerí, ao qual seriam utilizadas pela

Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

Desde esse momento, no bairro de Santa Cruz do Passa Cinco, observou-se um

arruamento regular, em “tabuleiro de xadrez”, composto por cerca de 14 quadras,

parcialmente ocupadas, onde se destacam os dois cemitérios, a capela e algumas

marcações que levam a entender que eram construções residenciais e comerciais. (Figura 03)

Figura 03 - Ampliação do Povoado mapeado em 1896. (Fonte: Arquivo do Fórum de Rio Claro)

CONSTITUIÇÃO DO PATRIMÔNIO RELIGIOSO

Os primeiros registros emitidos pela Igreja envolvendo o povoado de Santa Cruz do Passa

Cinco foram encontrados no Livro de Provisões do período 1884-1887, constituindo um

pedido de celebração de missa e benção de um novo cemitério.

Segundo Marx (1991, p.19), a construção da capela ou da igreja era a principal preocupação

do povoado que começava a se formar e, portanto, era comum que fosse edificada em lugar

de destaque e no seu entorno fossem implantadas as demais construções.

Conforme narrativas do Sr. Silvio Scotton, descritas em Machado (2004, p.45), logo no início

do povoado de Santa Cruz do Passa Cinco foi construída uma pequena capela de barro

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para atender às necessidades do povoado. (Figura 04) Embora o mesmo não soubesse precisar

a data da construção, o mesmo afirmou que em 1900 existia ali uma segunda capela

construída com tijolos, sendo maior que a primeira, para celebração de missas. (MACHADO,

2004, p. 45).

Figura 04 - Foto da antiga capela em dia de homenagem a São Sebastião. A Santa Padroeira seria Nossa

Senhora da Conceição, que tem seu dia comemorado em 8 de dezembro. Porém essa data não seria

conveniente, pois a colheita era em outra época fazendo com que os moradores estivessem com pouco dinheiro

para a festa. Desta forma, a homenagem foi para São Sebastião que tem seu dia comemorado em 20 de julho.

(Fonte: Museu da Prefeitura Municipal de Ipeúna)

Ao mesmo tempo em que o povoado crescia ao lado da capela, o poder público estadual

criou no local um Distrito Policial, por meio de decreto do Secretário da Justiça, datado de

26 de agosto de 1892, formalizando assim os poderes civis e religiosos no pequeno

povoado de Santa Cruz do Passa Cinco.

Aponta Marx (1991, p.31) que no século XIX era muito comum no Brasil a doação de terras

para compor o patrimônio religioso de um povoado. Segundo este autor, “como estímulo

para incentivar a formação do novo núcleo, quase sempre ao redor da capela, proprietários

de terras doavam posses ao santo de sua devoção e, ao fazê-lo, ganhavam prestígio junto à

comunidade”.

Em 14 de julho de 1896 ocorreram doações de terras para compor o patrimônio religioso de

Santa Cruz do Passa Cinco, da seguinte forma: Vicente José Barbosa, doou seis alqueires à

Nossa Senhora da Conceição e Francisco Barbosa de Moraes outros três alqueires à Santa

Cruz da Boa Vista. Ambos eram proprietários de terras na região. A formalização destas

doações ocorreu no mesmo dia e esta coincidência de datas foi provavelmente motivada

pelo início da Ação Judicial de Divisão e Demarcação de Terras, requerida por Samuel

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Draesback, na área que compreendia o Sítio Invernada, realizadas também nesse mesmo

dia.

Como não foram encontrados documentos que informassem a localização exata das terras

doadas ao patrimônio religioso, presume-se que seu traçado tenha as delimitações,

conforme imagem a seguir. (Figura 05) Uma antiga moradora, de codinome Myra Terra,

descreve em entrevista à Sakaguti Junior (2010, p.183), que “a parte que era da igreja fazia

fronteira com os terrenos do meu avô e do Nhô Tó. Na escritura consta.” As terras que Myra

Terra se refere são as quadras 01 que pertenciam a seu avô e a quadra 02, pertencentes ao

Nhô Tó.

Figura 05 – Mapa sugerindo a localização das terras doadas ao patrimônio religioso. (Mapa: M L Scotton, 2014)

A atual Igreja de Nossa Senhora da Conceição foi inaugurada em 1943, construída com o

esforço de toda a comunidade, inclusive por meio de doações, arrecadações de quermesses

e leilões. As obras iniciaram-se em 23 de dezembro de 1941, quando foi assentada a

primeira pedra pelo Sr. André Franzoni, pedreiro responsável pela obra, acompanhado pelo

Sr. Batista Ratim, mestre de obras. Estavam presentes na inauguração o Monsenhor

Antônio Martins, vigário da Matriz de São João Batista do Rio Claro, além de várias

autoridades e moradores locais.

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FORMAÇÃO DO NÚCLEO URBANO

A diversidade de nomes citados constantemente nas Atas da Câmara Municipal de Rio

Claro, sendo eles Santa Cruz do Passa Cinco, Santa Cruz da Invernada e Santa Cruz da

Boa Vista, para referir-se a mesma localidade, começou a gerar confusões, tanto que no

Jornal rio-clarense “O Alpha”, em sua edição de 02 de setembro de 1905, em trecho

transcrito a seguir, há um comentário sobre este fato:

O Sr. Secretário da Justiça, transmitiu à Câmara dos Deputados, cópia do oficio em que o

Presidente da Câmara de Rio Claro, representa sobre o facto de existir no seu município,

um Districto com três nomes, o que ocasiona grande confusão para o serviço público.

(Arquivo Público e Histórico de Rio Claro).

Conforme comenta Machado (2004, p.52) outro exemplo dos efeitos da confusão foi, em

1905, a nomeação de dois professores, um para Santa Cruz da Boa Vista e outro para

Santa Cruz da Invernada, em escolas que, na realidade, eram a mesma escola.

Para evitar novos problemas, o prefeito de Rio Claro fez um pedido ao Secretário Estadual

do Interior e da Justiça para que tal engano fosse corrigido. A solução encontrada pela

autoridade estadual foi o cancelamento das leis anteriores e a escolha de outro nome para o

local, que passou a ser denominado Ipojuca, que em língua indígena significava água suja e

parada, O nome de Ipojuca foi utilizado, oficialmente, durante pouco tempo, de 1906 a 1944,

quando foi modificado para Ipeúna, através do Decreto de Lei Estadual no 14.334, de 30 de

agosto de 1944. A razão disso foi uma determinação legal proibindo o uso do mesmo nome

para lugares diferentes, devendo prevalecer o mais antigo. Como outra localidade, no

nordeste do Brasil, já possuía esse nome, a solução encontrada foi a mudança de Ipojuca

para Ipeúna, que significa “ipê preto”.

Quando Ipeúna ainda era distrito de Rio Claro, foram eleitos dois vereadores que ali

residiam para representar os interesses da comunidade junto a Câmara Municipal da

cidade-sede, os srs. Joaquim Abdalla e Fausto Aguirre, conforme a Lei no 1.011, de 13 de

outubro de 1906.

Após muitas divergências, em 28 de fevereiro de 1964, foi criado o Município de Ipeúna,

pertencendo a Comarca de Rio Claro, conforme Lei Estadual no 8.092. Mas somente em 21

de março de 1965 é que foi instalada a Câmara e a Prefeitura Municipal, o primeiro prefeito

eleito foi o senhor Moacyr Silva Bueno e o presidente da Câmara o Sr. João Piovesam.

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PRIMEIROS MORADORES

Segundo relatos dos mais antigos moradores de Ipeúna, os primeiros habitantes do vilarejo

constituíam pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que viviam ali sem incomodar os

proprietários das terras, e esses, por sua vez, permitiam aos mesmos fixarem moradias no

local. Havia ainda mascates, boiadeiros e tropeiros que prestavam serviços para as

fazendas. Eles moravam em casebres de barro, cobertos de palhas. Quase não tinham

ferramentas de trabalho, plantavam milho e mandioca, pescavam e caçavam sem armas de

fogo, produzindo apenas o necessário para sobrevivência. Tinham pouco contato com as

fazendas próximas, pois os fazendeiros, donos de grandes plantações de café, preferiam

como trabalhadores os escravos africanos e, posteriormente os imigrantes estrangeiros.

A família Ferreira foi a primeira que chegou ao vilarejo para explorar madeira, por volta do

ano de 1876. Estes imigrantes portugueses chegaram para trabalhar no “avançamento” dos

trilhos da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, na época da inauguração da estação

ferroviária de Rio Claro. Como o trabalho era árduo, com ganhos reduzidos, eles se

desligaram da Companhia e se tornaram empreiteiros, fornecendo lenha para as máquinas.

(MACHADO, 2004, p. 54).

A partir de 1886, os imigrantes italianos iniciam o processo de substituição à mão de obra

escrava nas lavouras de Santa Cruz do Passa Cinco, introduzindo novos costumes aos

antigos habitantes. Os imigrantes chegavam ao Porto de Santos e seguiam por trem até a

estação de Paraíso (distrito próximo à Piracicaba) e poucos permaneciam, enquanto a

maioria seguia para as fazendas nos arredores.

Com relação à chegada dos imigrantes italianos no povoado, Machado (2004, p.70),

confirma os relatos do Sr. Pedro Ferreira, transcrito a seguir:

Quando os imigrantes chegaram em Ipeúna, muitas coisas mudaram.(...) Os descendentes

dos caboclos não sabiam lidar com lavoura. Conseguiam trabalhar com derrubada da mata

com o machado, ou defendiam-se na caça e na pesca. Foram os imigrantes que deram

conta da lavoura, principalmente de café. Eles é que sabiam lidar com plantação e mesmo

com animais. Eles vinham de um lugar que era mais desenvolvido e por isso conheciam

mais coisas, então, se saiam melhor que os caboclos. (MACHADO, 2004, p. 70).

Com a chegada os imigrantes principalmente os italianos, que foram grande maioria em

Ipeúna, pelo fato de dominarem a construção em alvenaria de tijolos, foram os responsáveis

pelas inovações na técnica construtiva. Inicialmente utilizado no meio rural, nas construções

ligadas diretamente ao beneficiamento do café, o tijolo, pela facilidade construtiva, acabou

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sendo utilizado na construção de residências urbanas, substituindo a velha taipa, com suas

limitações construtivas.

PRIMEIRAS CONSTRUÇÕES / LEVANTAMENTO ARQUITETÔNICO

A tipologia das edificações existentes não apresentavam variações com relação ao estilo

arquitetônico e em sua maioria eram casas simples e térreas, de aspecto colonial e

vernacular. Dependendo da época de sua construção eram de taipa ou de tijolos, com

alicerces de pedras visivelmente retiradas dos rios da região, com pisos de terra ou

raramente apresentando porões altos com soalhos. Edificadas em sua maioria no

alinhamento da rua, conforme consta em Lemos (1989) e Reis Filho (2010), era a testada da

edificação, construída no alinhamento dos lotes estreitos e profundos, que geralmente

delimitava os espaços públicos e privados na cidade colonial. E era ainda encostada nos

limites laterais dos terrenos, que as empenas de taipa das construções paulistas estariam

protegidas, pois o telhado em “dois panos” e cumeeira paralela ao alinhamento lançava as

águas pluviais dos longos beirais para a rua e para o quintal.

Antes de sua emancipação em 1965, o município não contava com legislação de posturas

para construções. No Código Municipal de Posturas de Rio Claro, de 26 de junho de 1893,

há menção dos distritos, ficando este a critério de suas regras até o novo Código de

Posturas de 15 de junho de 1918, ao qual os excluía, conforme descrição abaixo:

A Codificação das Leis Municipais de Rio Claro (MRC – 15/06/1918, em vigor a partir de 01

de janeiro de 1919, estabelece as divisas gerais do município e dos distritos. Divide a

Cidade em duas seções: urbana (servida por sarjetas, iluminação pública e canalização de

águas e esgotos) e suburbana (o restante da cidade e arrabaldes não servidos por qualquer

uma dessas benfeitorias), excluindo os distritos. (art.1) (FERREIRA, 2001, p. 104)

Com relação ao traçado das ruas, em forma de “tabuleiro de xadrez”, relata Ferreira (2002,

p.57) que este esquema aclamado pelos munícipes, onde exigiam que o traçado a ser

adotado não deixasse “becos” como na antiga cidade de Itu, foi elaborado por Antonio Paes

de Barros, mais tarde Barão de Piracicaba, que se encarregou de fazê-lo segundo o projeto

do senador agrimensor Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, tal qual este havia feito nas

cidades vizinhas de Limeira e Piracicaba. Na área de quatrocentas braças de terreno em

quadra, doada por Manoel Paes de Arruda para edificação da futura cidade e da igreja

definitiva, as ruas foram dispostas formando ângulos retos de 40 em 40 braças (88,00m), de

modo que, incluindo as calçadas, as mesmas tivessem 60 palmos de largura (13,20m) e

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quarteirões de 1.600 braças (7.744m2). As quadras de Ipeúna não possuem medidas

regulares, variando em seu tamanho e forma, já as ruas mantém o padrão de 15,00m

incluindo as calçadas.

Os Códigos de Posturas de Rio Claro afirmaram a regularidade e a ortogonalidade do

traçado inicial. Segundo Ferreira (2001, p. 171), na determinação das dimensões de ruas e

avenidas, o 1º Código de 1867/68 padronizou em 11,00m a largura das ruas, com calçadas

de 1,54 m, medidas estas aumentadas para 15,00m e 2,00m no segundo código de 1893.

A pesquisa sobre os aspectos arquitetônicos das primeiras construções do município de

Ipeúna teve como referência os trabalhos de Ferreira (2002), sobre o município de Rio Claro

e de Cachioni (2011), sobre o inventariamento do patrimônio edificado na cidade de

Piracicaba. Foi elaborada uma ficha de cada imóvel, contendo informações das

características arquitetônicas, de uso original e atual, e ainda do estado de conservação e

do uso atual.

A partir da pesquisa historiográfica e levantamento arquitetônico das primeiras construções,

foi confeccionado um mapa da cidade, com numeração das quadras onde foram descritas

as principais edificações, demolidas e existentes, com localização aproximada sem

referência à medida do lote.

Foram catalogados 77 imóveis residenciais, comerciais e institucionais, uma praça e uma

igreja, com levantamento iconográfico, que foram numeradas, e identificadas com sua

localização no mapa, alguns já demolidos, mas que tiveram nesse trabalho a intenção de

registro e elaboração de fichas de inventário, com análise comparativa do antes e depois,

apontando suas principais mudanças e seu estado de conservação atual, conforme exemplo

a seguir, da quadra 06, casa D. (Figura 06)

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ANTIGA ESTRADA

PR

AÇA

Demolidas sem registro

Existentes / Modificadas

Demolidas com registro

LEGENDA

Ave

nida 07

Rua 03

Rua 01

Rua 02

Ave

nida

05

Ave

nida

03 Ave

nida 01

Ave

nida

02

Ave

nida 04

06

A

B

C

D

Rua 01

Rua 02

Ave

nida 05

Ave

nida

03

Figura 06 – Mapa de Ipeúna com a localização de todas as casas catalogadas, ao lado destaque da quadra 06,

casa D. (Fonte: M L Scotton, 2014).

INFORMAÇÕES CASA D / QUADRA 06:

Local: Rua 01, esquina com avenida 03, com localização no mapa aproximada, sem medida de lote

Proprietário anterior: Sr. Adolpho Wiechmann

Proprietário atual: Banco Bradesco

Tipologia: Térrea de uso comercial

Envasaduras: Vergas retas com cimalha

Esquadrias: Original: Portas de duas folhas, janelas de vidraças de guilhotina com escuro

Atual: Portas de metal com vidros, janelas com vitro basculante, com gradil de ferro

Coberturas: Original: Quatro águas, telhas capa e canal, cimalha de massa

Atual: Quatro águas, telhas francesas, cimalha de massa

Outros: Alterações na fachada, telhamento e esquadrias

Mérito: Arquitetura de valor histórico

Uso atual: Comércio

Data da construção: Final do século XIX

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

Figura 07 - Hotel Wiechmann em dois momentos: em 1902 e o edifício nos dias atuais. (Fonte: Museu Prefeitura

Municipal de Ipeúna) (Foto: M L Scotton, 2014).

O Hotel Wiechmann, de propriedade do Sr.Adolpho (Figura 08) era a maior construção do

povoado por volta de 1890 e, por esse motivo, sediou em suas dependências uma escola,

bailes festivos e encontros políticos, até o seu fechamento em 1903.

Machado (2004, p.80) destaca a narrativa do Sr. Pedro Ferreira, transcrita a seguir:

[...] O baile era animado, não tinha bebida, nem comida. Às vezes passavam o chapéu e

compravam pão e serviam com café. A maioria dos músicos tocavam de graça, só o Piassa

(Eugeninho Piassa, músico do local) que não. Então corria um chapéu e davam o dinheiro

para ele. Os bailes eram assim: a energia elétrica muito ruim, a lâmpada pendurada parecia

um tomate. Às vezes, colocavam um lampião de querosene. Era uma disciplina...! Os mais

velhos ficavam lá fora, só olhando. Se surgisse alguma coisa, os pais só olhavam e todas

as moças iam embora e acabava o baile. Os filhos respeitavam os pais...(MACHADO, 2004,

p. 80).

Conforme também descreve Martins (2004, p.6), sobre a construção do Hotel Wiechmann:

Criado o Distrito de Paz em 30 de abril de 1894, com o nome de “Santa Cruz da Boa Vista”,

começa a surgir o comércio e o primeiro registro deste, uma nota fiscal de 1898, do

armazém de secos e molhados Martins e Ribeiro, nesta década surge à construção do

Hotel Wiechmann, onde também funcionava uma padaria, sobre esse fato, nos conta as

netas Irene e Carolina Wiechmann;... “Os Wiechmann vieram em Piracicaba trabalhar na

fazenda de café, terminado o contrato em 1891, vieram para Santa Cruz da Boa Vista, o

nosso avô Adolpho Wiechmann e a avó Carolina, polonesa que não aprendeu a falar o

português. Quando o meu avô chegou aqui, ele observou que o pessoal que vinha da

região dos sítios aos domingos para assistir missa, eles não tinha um lugar para comer,

com aquelas crianças e tudo, então o meu avô fazia cufa e vendia para eles, e aí veio a

ideia de montar uma padaria, aí ele amassou barro no largo da igreja e fez os tijolos crus,

como a construção era grande e vários quartos, e vinha viajante fazer a praça, e às vezes

ficava tarde, aí ele passou a hotel, onde funcionava a padaria e um salão grande para a

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festa, era uma espécie de clube, que funcionou até os anos de 1960. [...]. (MARTINS, 2004,

p. 6)

.

Figura 08 – Adolpho Wiechmann com os filhos Júlio, João e Antônio, e com sua esposa Carolina.(Fonte:

Biblioteca Munic. Ipeúna).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pesquisar sobre o passado de Ipeúna, no trabalho final de graduação do curso de

Arquitetura e Urbanismo, foi uma experiência motivadora, dado que a cada descoberta e

contato com as pessoas permitiu conhecer um pouco mais da história do processo de

ocupação e seu desenvolvimento urbano. Para um bom entendimento sobre sua história foi

preciso buscar e reconstruir informações através do cruzamento das narrativas de antigos

moradores com documentos escritos e materiais iconográficos. Pelo fato de existirem

poucas publicações que abordam sobre esse assunto, foi realizada uma detalhada pesquisa

a respeito de como se iniciou a ocupação efetiva das terras dos “Sertões do Morro Azul”,

com a doação das sesmarias.

Assim como em muitos outros povoados, o município de Ipeúna começou a se formar em

torno de uma capela, no lugar que era rota de tropeiros e mascates que cruzavam a extensa

região do Morro Azul. Esse núcleo começou se formar aos poucos e com recursos mínimos

construíram uma capela rústica de taipa para atender às necessidades religiosas. Com as

doações das terras para o patrimônio religioso a cidade começou a ser ocupada, concluindo

que essas doações tenham sido um dos principais incentivos para que parte dos imigrantes

e caboclos que ali habitavam permanecesse na região. O contato entre o caboclo e os

imigrantes resultou em uma troca cultural dinâmica, na qual os habitantes iniciais

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incorporaram traços dos costumes dos imigrantes, e podem ser verificados na culinária, no

modo de vida, no vestuário, nos novos métodos construtivos e, simultaneamente, os

imigrantes foram “acaipirados”, no que diz respeito ao trabalho rural e à produção para

subsistência.

Com relação à formação inicial de seu traçado, não foram encontrados documentos ou

indícios que comprovem quem foi o idealizador do desenho das primeiras ruas e se esse

modelo, apesar das similaridades, foi baseado nos moldes do plano de quadrícula do

Senador Vergueiro, que utilizou em outras cidades da mesma região.

Das primeiras casas existentes verificou-se que as edificações em sua totalidade eram

térreas, com plantas arquitetônicas simples, apresentando pouca variação formal,

constituídas de dois ou três cômodos multifuncionais, que ocupavam toda a largura do lote.

As poucas construções maiores apresentavam maior número de aposentos, poucas

possuíam porão alto, e havia similaridade das técnicas construtivas, dos materiais de

construção e de acabamento, como as cimalhas que aparecem sobre as janelas e portas na

maioria dos edifícios. Pela falta do sistema de água e de esgotos, que somente foi

implantado por volta de 1962, em sua maioria as casas possuíam latrinas em seus quintais

e a água era de poço artesiano. Nota-se que as edificações construídas ao redor da igreja,

na região central, estavam nos moldes da casa colonial urbana, ou vernacular, implantadas

em lotes estreitos e profundos, construídas no alinhamento da via pública, encostadas nas

divisas laterais dos lotes, sendo térreas e de “porta e janela”.

Sobre a legislação urbanística, Ipeúna seguia os moldes dos Códigos de Posturas de Rio

Claro, mas não havia fiscalização e as casas foram construídas em sua maioria sem plantas

aprovadas, existindo essa exigência formal somente após a emancipação do município, em

1964.

Esse artigo objetiva trazer dados inéditos, relacionados à arquitetura e ao urbanismo, a fim

de que a história local não permaneça somente na memória de seus antigos moradores,

buscando novas interpretações da mesma, com a intenção de que seu patrimônio material e

imaterial seja preservado, garantindo com seu registro sua permanência para que gerações

futuras conheçam e perpetuem a sua história.

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