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JOVENS: Como conviver com a violência?
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Jovens: Como Conviver com a Violência 2011© Copyright by Symon Hill
Hill, Symon. Jovens: Como Conviver com a Violência. Symon Hill.
São Paulo: Clube de Autores, 2011.
VENDA EXCLUSIVA EM: www.clubedeautores.com.br
DISPONÍVEL PARA DOWNLOAD GRATUITO A TODOS OS
PARTICIPANTES DOS CURSOS E PALESTRAS COM SYMON HILL
EM: www.symonhill.com.br|www.apalestra.com
1. Violência 2. Auto-Ajuda 3. Motivação
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem a
prévia autorização por escrito do autor, sob pena de constituir
violação do copyright (Lei 5.988)
Projeto Gráfico, capa e ilustrações: CLUB DE COMUNICAÇÃO
SYMON HILL
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AGRADECIMENTOS
Agradecer a esta pessoa que tanto me apóia e
incentiva não pode ser feito em apenas algumas
linhas. Se realmente quisesse escrever algo para
que pudesse representar uma pequena fração de
tudo o que ela representa para mim, faltaria
espaço no planeta. Mas, como sou teimoso e
insisto em fazer um singelo agradecimento aqui,
quero aproveitar para dizer o quanto sou grato à
minha esposa e companheira, Vânia, que tem me
oferecido seu apoio em tantos projetos e neste,
especificamente, não foi diferente.
Obrigado meu bem!
JOVENS: Como conviver com a violência?
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SUMÁRIO
Introdução...............................................................8
A Violência pode ser
controlada?.............................................................11
As Causas da violência..........................................24
Agressividade.........................................................31
A Violência Urbana...............................................42
Violência contra Mulheres....................................52
Violência Doméstica.............................................59
Como Começa a Violência entre os Jovens...........70
Gangues: O Perigo da Violência em Grupos.........75
Como os Pais podem Libertar os Jovens da
Violência das Gangues..........................................82
SYMON HILL
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Como conviver com a Violência nas Escolas........89
Como conviver com a Violência...........................96
Contato com o Autor...........................................100
JOVENS: Como conviver com a violência?
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INTRODUÇÃO
Vivemos em uma época marcada pela violência.
Esta violência assume diversas formas e acaba
condicionando o ser humano à uma cultura de medo e
opressão. Antigamente, a violência apresentava um
rosto claro e definido, mas, hoje em dia ela pode
apresentar diversas faces ou até mesmo nenhuma,
apresentando-se por meio de uma tela de computador
através da internet. Num panorama geral, isso é a
realidade que nós vivemos, mas se olharmos um pouco
mais a fundo, perceberemos que este ar de violência
pode estar chegando dentro de nossas casas através de
filmes, músicas, livros e casos de jornal. Sem se dar
conta a pessoa pode estar sendo absorvida por este mar
de informação violenta que só faz com que pessoas e
comunidades inteiras vivam com medo de sair de casa e,
numa escala mais abrangente – com medo de ficar em
casa e ser assaltados lá dentro.
Significa isso que estamos condenados a agir cada vez
mais com a violência? Alguns argumentam que a
propensão à violência ou a matar sempre foi algo inato
SYMON HILL
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nos seres humanos. Para os defensores da evolução nós
nos originamos de animais selvagens e simplesmente
herdamos suas características violentas. Essas teorias
nos condenariam a um ciclo infindável de violência sem
esperança de escape.
No entanto, existe muita evidência em contrário. As
teorias mencionadas acima não explicam por que em
diferentes culturas existem amplas variações na
freqüência e nos tipos de violência. Não indicam por que
em certas culturas reagir com violência parece ser a
regra, ao passo que outras sociedades relatam bem
pouca violência, com índice de assassinatos quase zero.
O psicanalista Erich Fromm expôs falhas na teoria de
que herdamos a agressividade de primatas destacando
que, embora alguns deles sejam violentos em resultado
de necessidades físicas ou de autodefesa, sabe-se que os
humanos são os únicos que matam pelo simples prazer
de matar.
Em seu livro The Will to Kill—Making Sense of
Senseless Murder (A Vontade de Matar — Como
Entender o Homicídio Insano), os professores James
Alan Fox e Jack Levin dizem: “Alguns indivíduos são
mais propensos à violência do que outros, mas o livre-
arbítrio ainda está presente. A vontade de matar,
embora governada por numerosas forças internas e
externas, ainda inclui fazer uma escolha e decisão
humanas e, com isso, vem responsabilidade e
culpabilidade.” A situação fica ainda mais preocupante
se observarmos que, à medida que o tempo passa, mais
jovens recorrem a violência como forma de expressão e
com isso, a violência se espalha cada vez mais em nossas
famílias, comunidades, cidades, estados, países –
tomando proporções alarmantes e sem precedentes.
JOVENS: Como conviver com a violência?
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Com isso torna-se imperativo que os jovens comecem a
fazer valer sua opinião, não através da agressividade,
mas, por meio de uma postura antiviolência,
conscientizando-se de que a sua vontade pode ser
manifestada através de uma vida plena e cheia de
realizações, marcada, não pelas cicatrizes do crime, mas,
pela dignidade de uma vida sadia e em paz.
Este livro foi escrito a partir de palestras ministradas em
escolas públicas para jovens do ensino fundamental e
médio, com o objetivo de ajudá-los a enxergar seu
potencial para o bem e prevenir que famílias sejam
destruídas com a violência, seja ela urbana, escolar, no
trabalho ou doméstica. O foco deste trabalho é levar ao
conhecimento dos jovens que mesmo diante das
dificuldades socioeconômicas é possível conviver bem
sem a necessidade de agir com violência para fazer valer
os seus direitos. E ainda: este livro lhe ajudará a ser
mais cauteloso e preventivo com comportamentos e
indivíduos violentos.
Espero sinceramente que você desfrute destas páginas.
Leia este livro e fale dele para seus parentes, amigos e
colegas de trabalho e escola. Faça dele uma referência
para trabalhos escolares. Use-o em seu benefício e a
favor dos outros. Você perceberá que é maravilhoso
ajudar alguém a viver um pouco melhor só por que
conheceu você!
Pense nisso e boa leitura!
Symon Hill
Palestrante motivacional
SYMON HILL
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A VIOLÊNCIA PODE SER
CONTROLADA?
Apenas para lembrá-lo do que aparece nos noticiários:
▪ Aluno com problemas mentais, armado até os dentes,
massacra colegas e professores em sua escola.
▪ Menininha é raptada, e isso causa enorme sofrimento a
seus pais.
▪ Adolescente confessa ter assassinado alguém só por
emoção e ter mostrado o cadáver a amigos, que
guardaram o segredo por semanas.
▪ Predador sexual conversa pela internet com outros
pedófilos sobre como seduzir crianças.
ESSES são apenas alguns dos crimes chocantes que
aparecem hoje em dia. Sente-se seguro em sua
vizinhança, em especial à noite? Você ou alguém de sua
família já foi afetado pelo crime? Milhões de pessoas no
JOVENS: Como conviver com a violência?
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mundo inteiro — mesmo em países antes considerados
relativamente seguros — admitem viver com medo do
crime e da violência. Veja o que acontece em vários
países:
JAPÃO: De acordo com o jornal Asia Times, “o Japão já
foi um dos países mais seguros do mundo . . . Mas, hoje
em dia, parece que aquele senso de segurança pessoal
que se tinha desapareceu, e a sensação de viver num
país seguro deu lugar a uma grande ansiedade por causa
do crime e do terrorismo mundial”.
AMÉRICA LATINA: Segundo certa notícia em 2006,
pessoas importantes no Brasil previram uma guerra do
crime organizado em São Paulo. Por causa dos episódios
de violência que ocorreram num período de semanas, o
presidente ordenou o posicionamento imediato do
exército nas ruas da cidade. Na América Central e no
México, “as autoridades locais estão em estado de alerta
porque pelo menos 50 mil jovens fazem parte de
gangues”, diz um artigo no jornal Tiempos del Mundo,
que acrescentou: “Só em 2005, cerca de 15 mil pessoas
morreram às mãos de gangues juvenis em El Salvador,
em Honduras e na Guatemala.”
CANADÁ: “Criminalistas indicam um aumento
alarmante no número de gangues”, disse o jornal USA
Today em 2006. “A polícia. . . identificou 73 gangues de
rua agindo em Toronto.” De acordo com a mesma fonte,
o chefe de polícia da cidade reconheceu que não existe
uma solução simples para o crescente problema das
gangues urbanas.
ÁFRICA DO SUL: O pesquisador criminal Patrick
Burton disse ao jornal Financial Mail: “O medo do
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crime permeia todos os aspectos da vida dos jovens sul-
africanos.” Segundo o jornal, isso inclui “crimes
violentos, como assaltos à mão armada, a bancos e a
pessoas em veículos”.
FRANÇA: Todo dia, muitos moradores de conjuntos
habitacionais sentem medo ao “subir escadarias
vandalizadas, entrar em estacionamentos inseguros por
causa da violência e do crime e usar o transporte
público, que à noite fica perigoso”. — Guardian Weekly.
ESTADOS UNIDOS: Gangues organizadas intensificam
a onda de crimes. De acordo com um artigo do jornal
The New York Times, uma pesquisa feita pela polícia
mostrou que quase 17 mil jovens, de ambos os sexos,
pertencem a 1 das cerca de 700 gangues em certo Estado
do país. Isso representa um aumento de uns 10 mil
membros em apenas quatro anos.
GRÃ-BRETANHA: Com respeito a um relatório da
Unicef sobre o efeito do crime nas crianças, o jornal The
Times, de Londres, comentou: “O número de jovens
britânicos mortos a tiros está aumentando. . . . Tanto as
vítimas como os que cometem esses crimes são cada vez
mais jovens.” A população carcerária na Inglaterra e no
País de Gales saltou para quase 80 mil.
QUÊNIA: De acordo com um jornal, mãe e filha
demoraram a sair de seu carro durante um assalto e
foram baleadas por ladrões de automóveis perto de uma
estrada movimentada. Nairóbi, capital do Quênia, ficou
bem conhecida por todo tipo de crime, incluindo
invasões domiciliares violentas, assaltos a veículos e em
lugares públicos.
JOVENS: Como conviver com a violência?
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É evidente que nos últimos anos a violência e o crime
têm aumentado de forma escalonada. Acredito que se
você fosse questionado quanto ao que deveria ser feito,
provavelmente diria que as autoridades deveriam agir
com maior intensidade e a polícia deveria intervir. No
entanto, é preciso reconhecer que os esforços do
governo e da polícia, embora bem direcionados na
maioria dos casos, são limitados tamanha a dimensão
do problema. Analisemos um pouco mais a fundo o
papel de quem está diretamente ligado ao combate da
violência, a polícia. No início do século 19, muitos na
Inglaterra resistiram às propostas da criação de uma
força policial uniformizada. Temiam que um exército
sob o comando de um governo central constituísse uma
ameaça à liberdade. Havia também o receio de que se
desenvolvesse um sistema de policiais espiões, como
ocorreu na França sob José Fouché. Mas o dilema era:
‘O que faremos sem polícia?’
Ao passo que Londres se tornara a maior e a mais rica
cidade do mundo, o aumento da criminalidade
representava uma ameaça ao seu comércio. Os vigias
noturnos voluntários e os caçadores de ladrões
(detetives de uma entidade privada denominada Bow
Street Runners) não davam conta de proteger a
população e suas propriedades. Clive Emsley comenta
no seu livro The English Police: A Political and Social
History (História Política e Social da Polícia Inglesa):
“Houve uma conscientização cada vez maior de que o
crime e a desordem não poderiam ser tolerados numa
sociedade civilizada.” Assim, os londrinos acharam por
bem dispor de uma força policial profissional,
organizada sob a direção de Sir Robert Peel. Em
setembro de 1829, policiais uniformizados da Polícia
Metropolitana começaram a fazer rondas.
SYMON HILL
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Desde o começo de sua história moderna, a polícia tem
inspirado esperança e medo na população — esperança
de que proporcione segurança e medo de que abuse de
sua autoridade.
É claro que se fossemos falar da polícia no Brasil, você
teria muito que acrescentar. Afinal, os escândalos que
aparecem nos jornais, são quase tão marcantes quanto
ao próprio crime. No ínterim, se analisarmos a história
da polícia em países de primeiro mundo poderemos nos
surpreender. As coisas não são ruins só porque
acontecem no Brasil. A história do serviço policial no
primeiro mundo confirma isso.
História da polícia nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos, Nova York foi a primeira cidade a
dispor de uma força policial profissional. Ao passo que a
cidade ficava mais rica, a criminalidade também
aumentava. Na década de 1830, toda família podia ler
histórias horripilantes e sensacionalistas sobre crimes,
publicadas em jornais populares que começavam a
circular. Houve crescentes protestos públicos e Nova
York criou a sua força policial em 1845. Desde então,
nova-iorquinos e londrinos nutrem uma admiração
mútua pelas respectivas polícias.
Os americanos compartilhavam o medo dos ingleses, de
ter um exército controlado pelo governo. As duas nações
chegaram a diferentes soluções. Os ingleses preferiram
policiais distintos, de cartola e uniforme azul, que
portavam apenas um cassetete curto, oculto sob a roupa.
Até hoje, os policiais ingleses não portam armas de fogo,
exceto em situações de emergência. Mas certo informe
declara: “Parece ser apenas uma questão de tempo até
JOVENS: Como conviver com a violência?
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que a polícia britânica se torne uma unidade totalmente
armada.”
Nos Estados Unidos, o medo de que houvesse abusos
cometidos pelo poder do Estado levou à adoção da
Segunda Emenda à Constituição Americana, que
garante “o direito do cidadão de ter e portar armas”. O
resultado foi que a polícia também exigiu o direito de
portar armas de fogo. Com o tempo, isso levou a trocas
de tiros com os bandidos na rua, que se tornou uma
característica dos policiais americanos, pelo menos na
concepção popular. Outro motivo da postura americana
com relação ao porte de armas é que a primeira
corporação de polícia nos Estados Unidos surgiu numa
sociedade bem diferente da de Londres. O aumento
explosivo da população de Nova York havia gerado uma
situação de caos. O influxo de milhares de imigrantes,
principalmente da Europa, e de afro-americanos depois
do início da Guerra Civil de 1861-65, levou à violência
racial. A polícia achou necessário adotar métodos mais
rígidos de repressão.
Isso fez com que a polícia fosse encarada como um mal
necessário. A população se resignou a aceitar excessos
ocasionais na esperança de conseguir certo grau de
ordem e segurança. Mas em algumas partes do mundo
surgia um tipo diferente de força policial.
A polícia do medo
No início do século 19, quando as modernas forças
policiais começaram a ser formadas, a maior parte da
humanidade havia estado sob o domínio dos impérios
europeus. De modo geral, a polícia européia estava
organizada para proteger os governantes, não o povo.
SYMON HILL
17
Até mesmo os britânicos, que repudiavam a idéia de ter
uma polícia militar armada em seu meio, pareciam não
ter escrúpulos de usar a polícia militar para manter as
colônias em sujeição. Rob Mawby, no seu livro Policing
Across the World (A Polícia ao redor do Mundo), diz:
“Incidentes de brutalidade, corrupção, violência,
assassinato e abuso de autoridade ocorreram em
praticamente todas as décadas da história da polícia
colonial.” Depois de salientar alguns aspectos positivos
da polícia imperial, o mesmo livro acrescenta que ela
“passou para o mundo a imagem de que a polícia é
instrumento de repressão do Estado, não uma entidade
de serviço público”.
Governos despóticos, temendo revoluções, quase que
invariavelmente tinham a sua polícia secreta para
espionar os cidadãos. A polícia secreta extrai
informações mediante tortura, e supostos subversivos
são eliminados ou presos sem julgamento. Os nazistas
tinham a Gestapo; a União Soviética, a KGB e a
Alemanha Oriental, a Stasi. Esta última possuía um
impressionante contingente de 100.000 homens e
possivelmente meio milhão de informantes para
controlar uma população de uns 16 milhões. Policiais
faziam escuta de conversas telefônicas 24 horas por dia
e mantinham fichas de um terço da população. “Os
policiais da Stasi não conheciam limites nem ética”, diz
John Koehler no livro Stasi, de sua autoria. “Um grande
número de clérigos, incluindo autoridades de
denominações protestantes e católica, foram recrutados
como informantes secretos. Seus gabinetes e
confessionários estavam repletos de aparelhos de
escuta.”
JOVENS: Como conviver com a violência?
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Mas esse tipo de polícia não é exclusividade de governos
despóticos. Policiais de grandes cidades em outros
lugares são acusados de infundir o terror quando
adotam práticas extremamente agressivas de imposição
da lei, especialmente contra minorias. Comentando um
escândalo de ampla repercussão envolvendo abusos
cometidos pela polícia de Los Angeles, uma revista
noticiosa disse que ‘a violência policial havia atingido
um nível sem precedentes, levando a se cunhar o termo
“policial-bandido”’.
Incidentes desse tipo têm levado autoridades a se
perguntar: Como melhorar a imagem da polícia? Num
esforço de enfatizar o seu papel de servidores públicos,
muitas forças policiais têm procurado salientar os
aspectos comunitários de seu serviço.
Policiamento comunitário
O estilo tradicional japonês de policiamento
comunitário tem chamado a atenção de outros países.
Tradicionalmente, no Japão há pequenos distritos
policiais onde trabalham uns 12 policiais organizados
em turnos. Frank Leishman, conferencista em
criminologia e antigo residente do Japão diz: “A
abrangência da prestação de serviços dos policiais dos
koban (pequenas delegacias) é lendária: eles ajudam
pessoas a localizar um endereço nas ruas do Japão que
na sua maioria não têm nome, emprestam guarda-
chuvas (não-reclamados no setor de achados e perdidos)
aos passageiros de trem quando chove, ajudam os
sararimen (funcionários de colarinho-branco) bêbados a
pegar o último trem para casa e dão aconselhamento aos
cidadãos com problemas comuns.” O policiamento
comunitário no Japão contribuiu para a sua invejável
SYMON HILL
19
reputação de ser um país onde se pode andar nas ruas
com segurança.
Será que esse tipo de policiamento funcionaria em
outros lugares? Estudantes de criminologia acham que
se pode aprender algo desse sistema. O progresso nas
comunicações tem distanciado a polícia da população
para a qual presta serviços. Em muitas cidades hoje em
dia, o trabalho da polícia parece consistir
principalmente em reagir a situações de emergência. A
impressão que se tem é que a ênfase original na
prevenção do crime foi esquecida. Como reação a essa
tendência, o programa vizinhos em alerta voltou a ser
enfatizado em muitos lugares.
O medo da corrupção policial
Às vezes parece ingenuidade acreditar na proteção
policial, principalmente quando se ouve falar de muitos
casos de corrupção. A corrupção existe desde o início da
história da polícia. Referindo-se ao ano de 1855, o livro
NYPD—A City and Its Police (Departamento de Polícia
de Nova York — Uma Cidade e sua Polícia) diz que
“muitos nova-iorquinos achavam que estava ficando
cada vez mais difícil fazer distinção entre polícia e
bandido”. Na América Latina, acredita-se que “há muita
corrupção, incompetência e abusos de direitos humanos
dentro da polícia”, diz o livro Facets of Latin America
(Aspectos da América Latina), de Duncan Green. O
comandante de uma força de 14.000 homens na
América Latina pergunta: “O que você pode esperar
quando um policial ganha menos de [100 dólares] por
mês? Se alguém oferecer uma propina, o que acha que
ele vai fazer?”
JOVENS: Como conviver com a violência?
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Qual é a dimensão do problema da corrupção? A
resposta depende de a quem você pergunta. Um policial
norte-americano que há anos faz rondas numa cidade
com uma população de 100.000 habitantes responde:
“Com certeza existem policiais corruptos, mas a grande
maioria é honesta. Essa pelo menos tem sido a minha
experiência.” Por outro lado, um investigador criminal
com 26 anos de experiência num outro país diz: “A
corrupção está praticamente em toda parte. A
honestidade é uma coisa muito rara na polícia. Se um
policial revista uma casa arrombada e encontra
dinheiro, ele provavelmente vai pegá-lo. Se recupera
objetos de valor, pega parte para si.” Por que alguns
policiais se tornam corruptos?
Alguns começam com as mais nobres intenções, mas
depois se deixam influenciar por colegas corruptos e
pelo freqüente contato com a marginalidade. O livro
What Cops Know (O Que os Policiais Sabem) cita um
patrulheiro de Chicago que diz: ‘Os policiais conhecem
muito bem o submundo da marginalidade porque
convivem com ele, respiram o seu ar e lidam com ele o
tempo todo. ’ O contato com a corrupção pode
facilmente exercer uma influência negativa.
Embora a polícia forneça um serviço inestimável, está
longe de ser ideal. Quando a polícia adota medidas
eficazes, os resultados podem ser notáveis. Nova York
havia muito tinha a reputação de ser uma das cidades
mais perigosas do mundo. Em fins da década de 80, a
polícia, desalentada, parecia ter perdido o controle da
situação. Pressões econômicas forçaram a prefeitura a
congelar salários e reduzir o número de policiais.
Narcotraficantes tomaram conta, gerando uma terrível
onda de violência. Os moradores do centro dormiam ao
SYMON HILL
21
som de tiros. Houve grandes distúrbios raciais em 1991,
e a própria polícia organizou uma manifestação ruidosa
expressando suas reivindicações.
Mas um novo chefe do Departamento de Polícia
tomou a iniciativa de motivar seus homens,
organizando reuniões regulares para discutir estratégias
em cada setor da cidade. James Lardner e Thomas
Reppetto, no livro NYPD, explicam: “Os comandantes
dos setores conheciam o chefe dos detetives ou o chefe
do Departamento de Combate ao Narcotráfico apenas
pelos jornais. O contato pessoal era raro. Com a nova
estratégia, eles passaram a se reunir por horas a fio para
discutir procedimentos operacionais.” O índice de
criminalidade começou a cair. O total de homicídios
registrou uma queda progressiva: de quase 2.000 em
1993 para 633 em 1998 — o número mais baixo em 35
anos. Os nova-iorquinos começaram a falar em milagre.
As denúncias de crime nos últimos oito anos caíram
64%.
Como se conseguiu esse resultado? Segundo o The New
York Times de 1.° de janeiro de 2002, um dos fatores do
sucesso foi o Compstat, “um sistema de rastreamento do
crime que envolve examinar estatísticas de cada setor da
cidade em base semanal, para identificar e solucionar os
problemas assim que surgem”. Bernard Kerik, ex-
comissário da polícia, declarou: “Detectávamos as áreas
com grande incidência de crimes, identificávamos as
causas e então dávamos atenção especial a esses lugares,
reforçando o policiamento e enviando recursos. É assim
que se reduz o crime.”
Como vimos, os esforços da polícia e das autoridades
podem e realmente surtem efeito de forma isolada. Mas
JOVENS: Como conviver com a violência?
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o que podemos fazer em base pessoal para combater a
violência? Minha mãe já dizia que a melhor maneira de
manter um local limpo é não sujando. De maneira
similar o melhor modo de combater a violência é não
sendo violento. Acontece que a violência, como toda
praga é sutil e começa de forma silenciosa. Ninguém
amanhece e decide se tornar agressivo e sai de casa
disposto a ferir seu semelhante. A violência toma
grandes proporções por meio de um processo lento e
gradual que pode começar de forma inofensiva. Veja por
exemplo o caso dos jogos de computador violentos. O
Dr. Richard F. Corlin, ex-presidente da Associação
Médica Americana, fez uma palestra para um grupo de
formandos em medicina na Filadélfia, Pensilvânia, EUA.
Ele falou de jogos de computador que incentivam a
violência. Em alguns desses jogos ganha-se pontos para
ferimentos superficiais, mais pontos para um tiro no
corpo e ainda mais para um tiro na cabeça. O sangue
jorra e tecidos do cérebro se esparramam por todo lado.
O Dr. Corlin comentou que não permitimos que crianças
dirijam, que tomem bebidas alcoólicas e que fumem.
Daí ele disse: “Mas permitimos sim que sejam treinadas
como atiradores numa idade em que ainda não
desenvolveram o controle de seus impulsos e não têm
nenhuma maturidade e disciplina necessária para usar
com segurança as armas com as quais brincam. Temos
de ensinar aos nossos filhos desde o início que a
violência [tem] conseqüências — sérias conseqüências —
sempre.”
Infelizmente, em vez de serem ensinadas que o crime
tem conseqüências, as crianças muitas vezes são as
vítimas inocentes de crimes violentos. As estatísticas
mostram que as armas de fogo matam dez crianças por
SYMON HILL
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dia nos Estados Unidos. O Dr. Corlin ainda diz: “Os
Estados Unidos lideram o mundo — na taxa de crianças
que são mortas por armas de fogo.” Sua conclusão? “A
violência com armas de fogo é uma ameaça à saúde
pública do nosso país. Isso é um fato.”
Mas, se você é jovem, provavelmente não deixará de
lado os jogos de computador de que tanto gosta. Talvez
não veja as coisas desta maneira, afinal, é só um jogo.
Pense por favor, e responda: em sua opinião qual é o
começo de uma atitude de violência?
JOVENS: Como conviver com a violência?
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2
AS CAUSAS DA VIOLÊNCIA
Não existe um fator único que explique a variedade de
violência insana presente na atualidade. O que dificulta
entender alguns crimes é sua natureza irracional. Por
exemplo, é difícil entender por que alguém mataria a
facadas pessoas totalmente desconhecidas, ou por que
alguém passaria de carro atirando a esmo contra uma
casa. Há quem afirme que a violência é inerente ao ser
humano. Muitos especialistas acreditam na existência
de várias circunstâncias e fatores catalisadores que
levam pessoas a cometer atos irracionais e violentos.
Um relatório da Academia do FBI (Departamento
Federal de Investigações), dos Estados Unidos, chega a
dizer: “O homicídio não é um ato praticado por um
indivíduo equilibrado e racional.” Alguns especialistas
discordam do fraseado dessa afirmação, mas muitos
concordam com o que ela implica. Por alguma razão, o
modo de pensar dos praticantes de crimes sem sentido
SYMON HILL
25
não é normal. Algo afetou seu raciocínio a ponto de
praticarem o inimaginável. Que fatores levam pessoas a
cometerem tais atos? Examinemos várias possibilidades
mencionadas por especialistas. Muitos afirmam que as
seguintes coisas podem contribuir para crimes insanos:
Ruptura familiar;
Grupos de ódio extremistas;
Participação em cultos perigosos;
Praticar a diversão violenta;
Ficar exposto à violência real;
O abuso de drogas;
A incapacidade de lidar com problemas;
O acesso fácil a armas destrutivas e;
Certos tipos de doença mental.
Para nos aprofundar e entender melhor o assunto dê
atenção às causas mais comuns analisadas na seqüência.
Durante a leitura procure identificar se você de alguma
forma está sofrendo algumas destas causas da violência.
Ruptura da vida familiar
O redator de de uma revista importante nas Filipinas,
perguntou a Marianito Panganiban, porta-voz do
Departamento Nacional de Investigações das Filipinas,
a respeito da formação dos que cometem crimes
extremos. Ele comentou: “Eles vêm de famílias
desfeitas. Carecem de cuidados e de amor. A fibra moral
dessas pessoas entra em colapso, por lhes faltar
orientação e, assim, se desencaminham.” Muitos
pesquisadores afirmam que relações familiares péssimas
e um histórico de violência na família são comuns entre
criminosos agressivos.
JOVENS: Como conviver com a violência?
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O Centro Nacional de Análise de Crimes Violentos, dos
EUA, publicou um relatório alistando fatores que
poderiam identificar jovens com potencial de cometer
crimes de morte na escola. Estão incluídos os seguintes
fatores familiares: relação pai—filho conturbada, pais
incapazes de reconhecer problemas nos filhos, falta de
achego, pais que estabelecem poucos (ou nenhum)
limites para a conduta dos filhos e crianças
extremamente retraídas, que levam uma vida dupla,
ocultando dos pais uma parte de sua vida.
Muitas crianças hoje são vítimas da ruptura familiar.
Outras têm pais que dispõem de pouco tempo para elas.
Milhares de jovens cresceram sem orientação moral e
familiar adequada. Alguns estudiosos acham que
situações assim podem produzir crianças que não
desenvolvem a capacidade de interagir com outros, o
que lhes facilita cometer crimes contra o próximo,
muitas vezes sem remorso.
Grupos e cultos de ódio
As evidências indicam que alguns grupos ou cultos de
ódio têm tido forte influência na prática de certos
crimes. Em Indiana, EUA, um rapaz negro de 19 anos
saiu de um shopping center e se dirigia a pé para casa.
Momentos depois, jazia ao lado da rua com uma bala na
cabeça. Ele havia sido alvejado por outro rapaz que o
escolheu a esmo. Por quê? O assassino alegadamente
queria ingressar numa organização de supremacia
branca e granjear o direito a uma tatuagem em forma de
teia de aranha por ter matado uma pessoa negra.
O ataque com gás nervoso no metrô de Tóquio, em 1995;
o suicídio em massa em Jonestown, Guiana e as mortes
SYMON HILL
27
na Suíça, no Canadá e na França de 69 membros da
Ordem do Templo Solar ocorreram todos sob inspiração
de cultos. Tais exemplos ilustram a forte influência de
certos grupos sobre o modo de pensar de algumas
pessoas. Líderes carismáticos têm levado pessoas a fazer
coisas “inimagináveis” tentando-as com alguma suposta
recompensa.
A mídia e a violência
Alguns apontam a evidência de que vários meios de
comunicação modernos podem estimular a conduta
agressiva. Argumenta-se que a exposição regular à
violência retratada na televisão, nos filmes, nos jogos
eletrônicos e na internet pode cauterizar a consciência e
inspirar crimes violentos. O Dr. Daniel Borenstein,
presidente da Associação Americana de Psiquiatria,
declarou: “Já existem mais de 1.000 estudos, baseados
em mais de 30 anos de pesquisas, que demonstram uma
relação de causa e efeito entre a violência na mídia e o
comportamento agressivo de algumas crianças.” Perante
uma comissão do Senado americano, o Dr. Borenstein
afirmou: “Estamos convencidos de que a repetida
exposição à violência como meio de entretenimento, em
todas as suas formas, tem significativas implicações na
saúde pública.”
Muitas vezes são mencionados casos específicos em
apoio do acima. No caso onde um atirador matou a
sangue frio o casal que observava o nascer do sol na
praia, mencionado no artigo anterior, os promotores
apresentaram evidência de que o desejo de matar por
emoção tinha ligação com o fato de o jovem ter assistido
várias vezes a um filme violento. E, segundo
depoimentos, os dois alunos que mataram 15 pessoas a
JOVENS: Como conviver com a violência?
28
tiros numa escola costumavam brincar, por horas a fio
todos os dias, com jogos eletrônicos violentos. Além
disso, assistiam repetidas vezes a filmes que
glorificavam a violência e a matança.
Drogas
Nos Estados Unidos, o índice de homicídios cometidos
por adolescentes triplicou num período de oito anos.
Qual é um dos fatores, segundo os especialistas? As
gangues, em especial as envolvidas com o crack, um
subproduto da cocaína. Entre mais de 500 homicídios
recentes em Los Angeles, Califórnia, “segundo a polícia,
75% se relacionavam com gangues”.
Um relatório da Academia do FBI declarou: “O número
de casos de homicídios relacionados com drogas é
anormalmente elevado.” O abuso de drogas distorce o
raciocínio de algumas pessoas e as leva a matar. Outras
usam a violência em defesa de seu controle do
narcotráfico. Obviamente, as drogas constituem um
fator poderoso que influencia pessoas a cometer atos
terríveis.
Fácil acesso a armas destrutivas
Um único atirador na Tasmânia, Austrália, matou 35
pessoas e feriu 19. Ele utilizou armas semi-automáticas
de uso militar. Isso leva muitos a concluir que o acesso
fácil a tais armas é outro fator no aumento de crimes
violentos.
Um relatório indica que no Japão ocorreram apenas 32
homicídios com armas de fogo, em 1995, na maioria
deles bandido matando bandido. Nos Estados Unidos,
porém, ocorreram mais de 15.000 casos. Por que essa
SYMON HILL
29
diferença? Alguns apontam como uma das razões as
estritas leis sobre o porte de armas no Japão.
A incapacidade de lidar com as realidades da vida
Ao ouvirem falar de certas atrocidades, alguns talvez
digam: ‘Essa pessoa deve estar louca!’ Mas nem todos os
indivíduos que cometem tais crimes são mentalmente
perturbados. Muitos, na verdade, têm dificuldades de
lidar com as realidades da vida. Especialistas apontam
desvios de personalidade que podem levar a atos
extremos. Entre esses desvios, estão os seguintes:
deficiências de aprendizado e de convívio social; efeitos
negativos de abusos físicos ou sexuais; caráter anti-
social; ódio a certos grupos, como mulheres; falta de
remorso na prática do mal e desejo de manipular outros.
Seja qual for o problema, alguns ficam tão desgastados
pela sua dificuldade que seu raciocínio se altera, o que
pode levá-los a cometer atos estranhos. Um exemplo é o
de uma enfermeira que tinha um desejo anormal de
receber atenção. Ela injetava em criancinhas um
relaxante muscular que provoca parada respiratória. Daí
ela se deliciava com a atenção que recebia ao “salvar”
cada criança. Infelizmente, não conseguia reativar a
respiração em todas elas. Foi condenada por
assassinato.
O acima deixa claro que existe uma combinação de
fatores que leva pessoas a cometer crimes violentos. Seu
pior efeito na vida das pessoas e da sociedade é a cultura
do medo que a violência impõe. Embora seja invisível, é
algo real, que afeta quase todos, mesmo que muitas
vezes não se dêem conta disso. O medo faz as pessoas
ficarem com medo ao sair de casa. Muitas delas se
JOVENS: Como conviver com a violência?
30
sentem inseguras no trabalho. Preocupam-se com a
segurança dos filhos. Mesmo sendo jovem você talvez se
preocupe com o que fará da sua vida se o mundo está
cada vez mais violento. Provavelmente tem visto pelos
jornais o que tem acontecido com pessoas que
escolheram seguir caminhos diferentes da maioria e são
agredidas fisicamente por isso. Ainda que tentemos
fechar os olhos para esta realidade não conseguimos
deixar de sentir o efeito da violência chegando a nosso
convívio cada vez mais rápido. Lidar bem com situações
e pessoas agressivas é fundamental para usufruir sua
juventude se comprometer-se. O próximo capítulo o
ajudará a combater a agressividade.
SYMON HILL
31
3
AGRESSIVIDADE
O que faz com que um jovem comece a atormentar ou
agredir outras? Se você já foi vítima de uma pessoa
agressiva, talvez diga: “Não me importa! Nada justifica
essa atitude.” E provavelmente você teria razão. Mas há
grande diferença entre motivo e justificativa. Os motivos
pelos quais um jovem se torna agressivo não justificam
esse proceder errado, mas podem nos ajudar a entendê-
lo. E essa perspicácia pode ser de real valor. Como
assim?
Diz um antigo provérbio: “A perspicácia do homem
certamente torna mais vagarosa a sua ira.” A ira causada
pela conduta do indivíduo agressivo pode nos cegar,
enchendo-nos de frustração e até mesmo de ódio. Mas a
perspicácia com relação ao comportamento dele pode
ajudar a abrandar a nossa ira. Isso, por sua vez, pode
nos dar mais clareza na busca de soluções. Vamos então
considerar alguns fatores desse comportamento
inaceitável.
JOVENS: Como conviver com a violência?
32
O que causa a agressividade?
Em muitos casos, os anos de formação da pessoa
agressiva são marcados pelo mau exemplo dos pais ou
por negligência total. Muitos agressores vêm de lares em
que os pais eram frios, desinteressados ou em que eles
tenham realmente ensinado seus filhos a usar a fúria e a
violência para resolver problemas. Crianças educadas
num ambiente desses talvez nem reconheçam como
sendo agressividade seus próprios ataques verbais e
físicos; podem até mesmo pensar que seu
comportamento é normal e aceitável.
Certa moça de 16 anos que havia sofrido ofensas e
agressões do padrasto, em casa, e de colegas, na escola,
diz que se tornou agressiva na sétima série. Ela admite:
“Basicamente, era muita ira crescendo dentro de mim;
eu simplesmente agredia a qualquer um e a todos.
Sentir dor emocional é uma carga muito pesada. A gente
fica com vontade de descarregá-la em outros.” Ao passo
que tais agressões físicas não são a característica de
mulheres agressivas, a ira por trás de sua agressividade
é muito comum.
Muitas escolas concentram grandes números de alunos
de diferentes formações, criados de maneiras muito
variadas. Infelizmente, algumas crianças são agressivas
porque foram ensinadas em casa que intimidar e
insultar outros é a melhor maneira de conseguir o que
querem.
Lamentavelmente, parece que tais métodos muitas vezes
funcionam. Shelley Hymel, reitora assistente na
Universidade da Colúmbia Britânica, Canadá, estuda o
comportamento infantil há duas décadas. Ela diz:
SYMON HILL
33
“Temos crianças que estão aprendendo as regras do jogo
e, infelizmente, a agressividade funciona. Elas
conseguem o que querem: poder, prestígio e atenção.”
Outra causa do aumento da agressividade é a falta de
supervisão. Muitas vítimas acham que não têm a quem
recorrer e, tragicamente, na maioria dos casos não têm
mesmo. Debra Pepler, diretora do Centro LaMarsh de
Pesquisas sobre Violência e Solução de Conflitos, da
Universidade York, em Toronto, estudou a situação dos
alunos nos pátios das escolas e descobriu que os
professores detectam e acabam com apenas 4% dos
incidentes de agressividade.
Mas a Dra. Pepler acredita que a intervenção seja
crucial, dizendo: “As crianças são incapazes de resolver
o problema porque diz respeito ao poder e, cada vez que
o agressor agride ou amedronta alguém, seu poder
aumenta.”
Por que, então, não são denunciados mais casos de
agressividade? Porque as vítimas estão convencidas de
que a denúncia apenas piora as coisas. Desse modo, até
certo ponto, muitos jovens passam seus anos escolares
num estado permanente de ansiedade e insegurança.
Quais são os efeitos de viver assim?
Efeitos físicos e emocionais da agressividade
Um relatório da Associação Nacional de Psicólogos de
Escola, nos Estados Unidos, diz que, todos os dias, mais
de 160.000 crianças faltam às aulas por medo de
agressão. As vítimas talvez deixem de falar a respeito da
escola ou de uma determinada aula ou atividade escolar.
Talvez tentem chegar à escola todos os dias um pouco
JOVENS: Como conviver com a violência?
34
atrasadas, ou faltar a certas aulas e até mesmo arranjar
desculpas para nem ir à escola.
O que há por trás do comportamento agressivo
O comportamento agressivo muitas vezes se relaciona
com o ambiente no lar. “Meu pai era agressivo”, diz um
jovem chamado Marcelo, “por isso eu também era
agressivo”. Sérgio também vinha de uma família com
problemas. Ele se lembra: “Eu percebia que as pessoas
sabiam da situação da minha família — que era diferente
das outras — e não gostava que sentissem pena de
mim.” Assim, quando Sérgio praticava esportes, tinha
de ganhar. Mas ganhar não bastava. Ele tinha de
humilhar seus adversários — esfregar na cara deles que
haviam sido derrotados.
Outros jovens parecem ser influenciados pela televisão.
Filmes policiais glorificam ‘os caras durões’ e dão a
entender que ser gentil não é ser “macho”. As comédias
estão repletas de sarcasmo. Os noticiários com
freqüência destacam as brigas e os palavrões que saem
em eventos esportivos. Nossos amigos também podem
influir na maneira de tratarmos outros. Quando nossos
amigos são agressivos, é fácil entrar na onda para que
eles não nos importunem. Qualquer que seja a situação,
se você tem o costume de ser agressivo ou de hostilizar
outros, as suas vítimas não são os únicos prejudicados.
Conseqüências de longo alcance
A revista Psychology Today diz: “O comportamento
agressivo e hostilizador pode começar na infância, mas
ele é perpetuado na idade adulta.” De acordo com certa
pesquisa publicada em The Dallas Morning News, “65%
SYMON HILL
35
dos meninos identificados como agressores na segunda
série tiveram condenações por delito grave aos 24 anos”.
É verdade que nem todos que têm comportamento
agressivo se tornam criminosos. Mas ter o hábito de
hostilizar outros pode criar verdadeiros problemas para
você mais tarde na vida. No casamento, pode resultar
em grande desgosto para o cônjuge e para os filhos.
Visto que os empregadores dão preferência a pessoas
que sabem relacionar-se bem com outros, você pode
acabar perdendo oportunidades de trabalho.
Que mal há em mexer com outros?
Questionado sobre porque importunava um colega de
escola, certo garoto respondeu: ‘Ei! Eu estava apenas me
divertindo um pouco. Qual é o problema? Além disso, o
Rodrigo merecia. ’ Você pode ser maior e mais forte do
que a maioria dos seus colegas. Ou talvez seja
espirituoso, sarcástico e agressivo. De qualquer forma,
você parece ter um talento natural para intimidar, fazer
gozação ou rir às custas de outros.
Embora mexer com outros possa arrancar risadas de
seus amigos, a questão é séria. De fato, alguns
pesquisadores estão descobrindo que o mal causado à
pessoa hostilizada é bem maior do que imaginavam.
Segundo certa pesquisa entre jovens americanos em
idade escolar, “90% dos que foram vítimas de alguma
forma de hostilização disseram sofrer de efeitos
colaterais: as notas abaixam, a ansiedade aumenta, a
pessoa perde amigos e pára de sair”. No Japão, um
menino de 13 anos “se enforcou deixando um relato
longo e detalhado de três anos de hostilizações”.
JOVENS: Como conviver com a violência?
36
Exatamente o que faz com que a pessoa mexa com
outros? Como identificar crianças vítimas de
agressividade? Talvez se tornem mal-humoradas,
irritáveis, frustradas, retraídas ou sempre aparentando
cansaço. Podem tornar-se agressivas com familiares ou
com colegas e amigos. Os inocentes que presenciam as
intimidações e agressões também sofrem as
conseqüências. A situação lhes causa muito medo, o que
prejudica seu aprendizado.
No entanto, a revista Pediatrics in Review diz: “Para as
vítimas e para a sociedade, a conseqüência mais extrema
da agressividade é a violência, incluindo o suicídio e o
assassinato. A sensação de impotência dos jovens
vítimas pode ser tão grande que alguns reagem com
ações autodestrutivas ou com retaliação mortal.”
O Dr. Ed Adlaf, pesquisador científico e professor de
saúde pública na Universidade de Toronto, teme que “os
envolvidos em agressividade tenham muito mais
probabilidade de vir a sofrer de problemas emocionais
agora e no futuro”. No ano letivo de 2001, foram
pesquisados mais de 225.000 estudantes em Ontário, e
entre um quarto e um terço deles estava envolvido em
alguma forma de intimidação ou agressividade, quer
como alvos, quer como perpetradores. No mesmo
grupo, 1 em cada 10 já havia pensado seriamente em
suicídio.
As intimidações ou a zombaria persistentes podem
corroer a autoconfiança da vítima, causar doenças
graves e até mesmo arruinar uma carreira. Ela talvez
sofra dor de cabeça, insônia, ansiedade e depressão.
Algumas desenvolvem o distúrbio de estresse pós-
traumático. Ao passo que os ataques físicos talvez
SYMON HILL
37
produzam muitas expressões de condolência para com a
vítima, os ataques emocionais podem não provocar a
mesma reação. O dano é bem menos evidente. Assim,
em vez de expressar solidariedade, os amigos e os
familiares talvez se cansem de ouvir as lamúrias da
vítima.
Essa agressividade também causa danos aos próprios
agressores. Se não for cortada na infância, ao crescerem
provavelmente agredirão outros no local de trabalho. De
fato, alguns estudos revelam que aqueles que eram
agressivos na infância desenvolveram padrões de
comportamento que passaram para a vida adulta. Além
disso, eram mais propensos a criar antecedentes
criminais.
A agressividade no trabalho
Sofrer intimidação ou ser atormentado no local de
trabalho é uma das queixas que mais crescem no que diz
respeito à violência no trabalho. De fato, alguns países
relatam que ela é mais comum do que a discriminação
racial ou o assédio sexual. Todos os anos, 1 em cada 5
trabalhadores americanos são vítimas desse tipo de
agressividade.
Na Grã-Bretanha, um relatório de 2000 do Instituto de
Ciência e Tecnologia da Universidade de Manchester,
informou que, dentre 5.300 empregados em 70
organizações, 47% disseram ter presenciado incidentes
de intimidação ou hostilização nos cinco anos
anteriores. Uma pesquisa de 1996 na União Européia,
baseada em 15.800 entrevistas em seus 15 estados-
membros, mostrou que 8% — cerca de 12 milhões de
JOVENS: Como conviver com a violência?
38
trabalhadores — haviam sofrido intimidações ou
agressões.
A intimidação e a hostilização no local de trabalho
afetam a estabilidade e a tranqüilidade do lar. Podem
desencadear na vítima uma ânsia inexplicável de ferir
seus próprios familiares amados. Além disso, podem
levar o cônjuge, ou outro membro da família, a lutar
contra o agressor numa mal-orientada demonstração de
apoio à vítima. Ou então a vítima pode ser acusada pelo
cônjuge de ter provocado o problema. Quando tais casos
de agressividade se arrastam sem solução, até mesmo
cônjuges normalmente solidários podem perder a
paciência. Com o passar dos anos, a possibilidade de a
família se desintegrar pode aumentar.
Há casos em que a agressividade resulta em perda de
uma carreira ou do meio de vida da pessoa, em
separação e divórcio ou até mesmo em suicídio. Na
Austrália, metade a dois terços das vítimas desse tipo de
agressividade no emprego relataram maus efeitos sobre
seu relacionamento com o parceiro, com o cônjuge ou
com a família.
A agressividade custa caro
A intimidação ou hostilização no local de trabalho custa
caro também para os empregadores. O agressor talvez
seja um chefe de língua ferina ou um colega
maquiavélico, que pode ser tanto homem como mulher.
Tais pessoas controlam tudo nos mínimos detalhes e
rebaixam os outros com palavras negativas e críticas
constantes, não raro humilhando a vítima na frente de
outros. Os indivíduos agressivos raramente reconhecem
sua rudeza ou se desculpam pelo seu comportamento.
SYMON HILL
39
Muitas vezes espezinham trabalhadores capazes, leais e
benquistos pelos colegas.
Trabalhadores que são vítimas dessa agressividade
tendem a trabalhar com menos eficiência. E a
produtividade dos colegas que observam tal
agressividade também pode cair. A agressividade pode
levar os trabalhadores a serem menos leais ao patrão e
menos diligentes no trabalho. Segundo certo relatório,
os indivíduos agressivos custam à indústria, no Reino
Unido, uns três bilhões de dólares por ano. E diz-se que
tal comportamento responde por mais de 30% das
doenças ligadas ao estresse. Obviamente, esse tipo de
agressividade causa um impacto sobre a sociedade no
mundo todo. A pergunta é: Pode-se fazer algo para
coibir esse problema e eliminá-lo?
Tipos de agressores
No entanto, hostilizar outros não se resume a bater
neles ou empurrá-los. Inclui também tratar outros
(especialmente os fracos e os vulneráveis) de modo cruel
ou abusivo. Pessoas assim tentam ameaçar, intimidar e
controlar outros. Mas a maioria delas usa a língua em
vez de os punhos. De fato, a forma mais freqüente de
hostilização envolve magoar ou ofender com palavras —
como insultar, usar de sarcasmo, zombar e falar mal. Os
tipos mais comuns de agressores, encontrados no dia a
dia são:
Agressores físicos: São os mais fáceis de
identificar. Eles dão vazão à ira golpeando,
empurrando ou chutando seus alvos — ou
danificando a propriedade das vítimas.
JOVENS: Como conviver com a violência?
40
Agressores verbais: Usam palavras para ferir e
humilhar a pessoa, por meio de palavrões,
insultos ou persistente zombaria ferina e cruel.
Vítimas reativas: São vítimas de agressividade
que se tornam agressoras. Naturalmente, terem
sofrido agressões não justifica sua conduta;
apenas ajuda a explicá-la.
Agressores de relacionamentos: Espalham
boatos maldosos a respeito da vítima. Esse
comportamento é adotado em especial por
mulheres.
Veja o exemplo do que aconteceu com uma jovem
chamada Luciana. Ela cresceu junto com um grupo de
amigas. Mas quando ela fez 15 anos, as coisas
começaram a mudar. Ela se tornou lindíssima e
chamava muita atenção. Ela explica: “Minhas amigas
começaram a me deixar de lado e a falar mal de mim
pelas costas, ou até mesmo na minha cara.” Chegaram a
espalhar mentiras sobre ela, na tentativa de arruinar sua
reputação. O ciúme fez com que elas a hostilizassem de
forma insensível e cruel.
Como mudar da agressividade para a bondade
Fazer mudanças pode não ser fácil, mas é possível. À
medida que você melhorar a maneira de tratar as
pessoas, sem dúvida verá que elas gostarão mais de
você. Lembre-se de que as pessoas podem ter medo dos
que são agressivos, mas ninguém realmente gosta deles.
Nem sempre enxergamos com clareza nossas falhas. É
comum a pessoa até mesmo agir de modo macio para
consigo mesma aos seus próprios olhos para encobrir
seu erro. Assim, experimente pedir a opinião de seu pai
SYMON HILL
41
ou de sua mãe, de um amigo de confiança ou de um
cristão maduro. A verdade talvez doa, mas pode muito
bem ajudá-lo a ver que mudanças precisa fazer. Significa
isso que você agora precisa fazer uma mudança drástica
de personalidade? Não, provavelmente será só uma
questão de reajustar seu modo de pensar e alguma coisa
no seu comportamento. Por exemplo, até agora talvez
você se tenha considerado superior por causa do seu
tamanho, força ou presença de espírito. Reconheça que
outros, não importa seu tamanho ou força, têm
qualidades admiráveis que você não tem.
É possível que você também tenha necessidade de
eliminar a tendência de ser agressivo e dominador.
Esforce-se a agir com empatia, colocando-se no lugar
dos outros. Se precisar falar o que pensa, faça isso sem
usar de agressão, sarcasmo ou ofensa.
Quando se sentir tentado a intimidar alguém, pare um
pouco e pense: ‘Será que eu gostaria que alguém
mexesse comigo, me intimidasse ou humilhasse? Então
por que trato outros desse jeito?’ Tente tratar do mesmo
jeito alguém que é mais fraco do que você, ou até
alguém que o irrita.
Mas, e se sua agressividade é fruto de um sentimento de
indignação pela forma como é tratado em casa? Mesmo
que você esteja sendo maltratado, não tem o direito de
maltratar outros. Melhor seria tentar falar sobre o
assunto com seus pais. Se for vítima de extrema
hostilização ou agressão, é possível que haja necessidade
de proteção de terceiros para evitar que isso continue. O
importante é reconhecer quando você está em perigo e
não tentar vencer o problema sozinho.
JOVENS: Como conviver com a violência?
42
4
A VIOLÊNCIA URBANA
As primeiras cidades foram construídas provavelmente
para prover proteção, mas muitas pessoas hoje as
encaram como zonas de perigo. O que antes era
considerado como refúgio tornou-se amedrontador.
Centros comerciais abarrotados são locais ideais para a
ação de assaltantes e, em algumas cidades, é perigoso
entrar em bairros pobres que têm pouca iluminação e
pouco policiamento.
Não é exagero: é assustador o número de pessoas que
morrem violentamente. Segundo um relatório da
Organização Mundial da Saúde, a cada ano 1,6 milhão
de pessoas no mundo todo morre por causa da violência.
Na África, de cada 100 mil pessoas, calcula-se que por
ano 60,9 morrem de forma violenta.
Muitas pessoas, lugares e organizações que antes eram
considerados seguros são agora encarados como uma
ameaça à segurança. Por exemplo, muitos playgrounds,
SYMON HILL
43
escolas e lojas são agora considerados locais perigosos,
onde há muita criminalidade. Em alguns casos líderes
religiosos, assistentes sociais e professores — pessoas
que deveriam dar proteção — traíram a confiança
depositada neles. Relatos de que alguns desses abusam
de crianças fazem com que os pais tenham medo de
deixar seus filhos aos cuidados de outros. Espera-se que
a polícia proteja as pessoas, mas em algumas cidades
são comuns a corrupção na polícia e o abuso de poder. E
que dizer das forças de “segurança”? Em alguns países,
muitos não conseguem esquecer as guerras civis,
quando perderam pessoas queridas, levadas pelos
militares. Portanto, em várias partes do mundo, a
polícia e os soldados contribuem para o aumento do
clima de medo, em vez de diminuí-lo.
O livro Citizens of Fear — Urban Violence in Latin
America (Cidadãos do Medo — Violência Urbana na
América Latina), diz: “Cidadãos que moram nas
capitais da América Latina vivem constantemente com
medo, em meio a algumas das condições mais perigosas
da Terra. Nessa vasta região, cerca de 140 mil pessoas
por ano morrem violentamente, e 1 em cada 3 cidadãos
tem sido direta ou indiretamente vítima de violência.”
Também, em outras partes da Terra, protestos políticos
ocorrem freqüentemente nas capitais. Quando esses
protestos se tornam violentos, muitas pessoas
aproveitam-se do tumulto para saquear lojas, resultando
num caos total. As pessoas que estão na cidade a
negócios podem facilmente ver-se encurraladas no meio
de uma multidão enfurecida.
Em muitos países formou-se um grande abismo entre os
padrões de vida dos ricos e dos pobres, resultando em
rancor. Multidões de pessoas que se sentem privadas
JOVENS: Como conviver com a violência?
44
das necessidades básicas saqueiam os bairros exclusivos
da elite. Em algumas cidades isso ainda não acontece,
mas a situação se parece com uma bomba-relógio
prestes a explodir — ninguém sabe quando.
PRECONCEITO: A alavanca da violência urbana
Um jovem chamado Rajesh, mora em Paliyad, um
povoado da Índia. Para levar água para casa, ele precisa
caminhar 15 minutos, assim como fazem todos os outros
da casta dos intocáveis. “Não podemos usar as torneiras
do povoado que as castas superiores usam”, ele explica.
Quando estudava, Rajesh e seus amigos não podiam
nem tocar na bola que as outras crianças usavam para
jogar futebol. “Em vez da bola, jogávamos com pedras”,
diz ele.
“Percebo que as pessoas me odeiam, mas não sei por
que”, comenta Christina, uma adolescente asiática que
mora na Europa. “É muito frustrante”, acrescenta.
“Costumo reagir me isolando, mas isso também não
ajuda.”
“A primeira vez que me dei conta do que era preconceito
foi quando tinha 16 anos”, diz Stanley, da África
Ocidental. “Algumas pessoas que eu nunca tinha visto
na vida me disseram para sair da cidade. Queimaram as
casas de alguns da minha tribo. A conta bancária do
meu pai foi bloqueada. Em resultado disso, comecei a
odiar a tribo que estava nos discriminando.”
Rajesh, Christina e Stanley são vítimas do preconceito,
mas eles não são os únicos. “Milhões de pessoas
continuam a sofrer ainda hoje com o racismo, a
discriminação, a xenofobia e a exclusão social”, explica
SYMON HILL
45
Koichiro Matsuura, diretor-geral da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco). “Essas práticas desumanas, instigadas pela
ignorância e pelo preconceito, desencadearam rixas
internas em muitos países e causaram muito sofrimento
a seres humanos.”
Se você nunca sentiu na pele o que é o preconceito,
talvez não compreenda como isso pode ser traumático.
“Alguns convivem com ele em silêncio. Outros revidam
o preconceito com mais preconceito”, observa o livro
Face to Face Against Prejudice (Cara a Cara contra o
Preconceito). De que maneiras o preconceito prejudica a
vida das pessoas? Caso pertença a um grupo
minoritário, é provável que você perceba que as pessoas
o evitam, olham-no de modo condenatório ou fazem
comentários depreciativos sobre sua cultura. As
oportunidades de emprego são raras, a menos que aceite
um emprego servil que ninguém mais queira. Talvez
seja difícil encontrar moradia adequada. Ou pode ser
que seus filhos se sintam isolados e rejeitados pelos
colegas de classe.
Pior ainda, o preconceito pode instigar as pessoas à
violência ou até mesmo ao assassinato. É verdade, as
páginas da história estão repletas de exemplos
angustiantes de violência — gerados pelo preconceito —
entre os quais estão massacres, genocídios e as
chamadas “limpezas étnicas”. Em certa época, os
cristãos eram o alvo principal do preconceito. Pouco
depois da morte de Cristo, por exemplo, houve uma
onda de perseguição cruel contra eles. Dois séculos mais
tarde, os professos cristãos enfrentaram tratamento
implacável. “Caso houvesse qualquer pestilência”,
JOVENS: Como conviver com a violência?
46
escreveu Tertuliano, do terceiro século, “o clamor
imediato era: ‘Joguem os cristãos para os leões!’”
No entanto, começando no século 11 com as Cruzadas,
os judeus passaram a representar o grupo minoritário
malvisto na Europa. Quando a peste bubônica varreu o
continente, matando cerca de 25% da população em
apenas alguns anos, ficou fácil culpar os judeus, visto
que eles já eram odiados por muitos. “A peste serviu de
desculpa para esse ódio e o ódio canalizou o medo que
as pessoas tinham da peste”, descreve Jeanette Farrell
em seu livro Invisible Enemies (Inimigos Invisíveis).
Por fim, um judeu no sul da França “confessou” sob
tortura que os judeus eram os culpados pela epidemia
por terem envenenado poços de água. É claro que sua
confissão era falsa, mas essa informação foi divulgada
como sendo verdadeira. Não demorou muito para que
as comunidades judaicas da Espanha, França e
Alemanha fossem dizimadas. Ninguém se deu conta de
que os verdadeiros culpados eram os ratos, além de
poucos perceberem que os judeus também morriam da
peste, assim como todas as outras pessoas!
Uma vez acesa, a chama do preconceito pode continuar
latente por séculos. Em meados do século 20, Adolf
Hitler jogou lenha na fogueira do anti-semitismo
culpando os judeus pela derrota da Alemanha na
Primeira Guerra Mundial. Ao final da Segunda Guerra
Mundial, Rudolf Hoess — diretor nazista do campo de
concentração em Auschwitz — admitiu: “Estava
implícito no nosso treinamento militar e ideológico que
devíamos proteger a Alemanha dos judeus.” E para
“proteger a Alemanha”, Hoess supervisionou o
SYMON HILL
47
extermínio de aproximadamente dois milhões de
pessoas, a maioria sendo judeus.
Infelizmente, as atrocidades não acabaram com o passar
das décadas. Em 1994, por exemplo, o ódio tribal na
África Oriental surgiu entre os tutsis e os hutus,
ceifando a vida de pelo menos meio milhão de pessoas.
“Não existiam esconderijos”, relatou a revista Time. “O
sangue escorria pela nave das igrejas onde muitos
procuravam refúgio. . . . A luta era corpo a corpo, de
caráter pessoal e indescritível, uma espécie de
carnificina sanguinária que deixava em estado de
choque os que conseguiam escapar.” Nem as crianças
foram poupadas dessa violência terrível. “Ruanda é um
país bem pequeno”, comentou certo cidadão, “mas
abriga todo o ódio do mundo”.
Os conflitos que resultaram na dissolução da ex-
Iugoslávia levaram à morte mais de 200 mil pessoas.
Vizinhos que viviam pacificamente havia anos passaram
a matar uns aos outros. Milhares de mulheres foram
estupradas e milhões de pessoas expulsas de suas casas
à força, sob o comando duma política brutal: a “limpeza
étnica”.
Embora não necessariamente induza as pessoas ao
assassinato, o preconceito causa divisões e promove o
ressentimento. Apesar da globalização, o racismo e a
discriminação “parecem estar ganhando terreno na
maioria dos países”, declara um relatório recente da
Unesco.
As faces do preconceito
JOVENS: Como conviver com a violência?
48
Em seu livro The Nature of Prejudice (A Natureza do
Preconceito), Gordon W. Allport explica cinco tipos de
comportamento instigados pelo preconceito. Quem é
preconceituoso geralmente apresenta um ou mais
desses tipos de comportamento.
1. Comentários negativos. Falar depreciativamente
sobre o grupo do qual a pessoa não gosta.
2. Evasão. Abominar estar na presença de alguém
daquele grupo.
3. Discriminação. Excluir membros do grupo malquisto
de certos tipos de emprego, moradia ou privilégios
sociais.
4. Agressão física. Participar na violência cujo objetivo
é intimidar as pessoas que se passa a odiar.
5. Extermínio. Participar em linchamentos, massacres
ou programas de extermínio.
As origens do orgulho racial
O que faz as pessoas ter um orgulho exagerado da sua
raça? O livro Black, White, Other (Negros, Brancos,
Outros) de Lise Funderburg diz: “Para muitas pessoas,
suas primeiras (e mais duradouras) impressões sobre
raça vêm dos pais e da família.” Infelizmente, muitas
vezes a impressão que os pais passam é desequilibrada e
distorcida. Às vezes se diz diretamente ao jovem que as
pessoas da sua raça são superiores e que as de outras
raças são diferentes ou inferiores. Com mais freqüência,
porém, os jovens simplesmente observam que os pais
mantêm distância de pessoas de outras raças. Isso
também pode influenciar bastante a maneira de pensar
SYMON HILL
49
deles. Pesquisas mostram que, embora os adolescentes e
seus pais não concordem em questão de roupas ou
música, a maioria dos jovens tem o mesmo conceito que
seus pais no que se refere a raças.
Por sofrer opressão ou maus-tratos, a pessoa também
pode desenvolver conceitos desequilibrados sobre as
raças. Os educadores notam, por exemplo, que as
crianças das chamadas minorias em geral têm pouca
auto-estima. Para tentar corrigir o problema, alguns
educadores prepararam currículos escolares que
ensinam às crianças a História da sua raça. É
interessante que os críticos afirmam que essa ênfase ao
orgulho racial simplesmente gera racismo.
A experiência pessoal também pode contribuir para o
desenvolvimento de atitudes raciais ruins. Se a pessoa
conheceu alguém de outra raça que agiu de forma
desagradável, pode concluir que todos daquela raça são
antipáticos ou fanáticos. Também, quando a mídia
destaca conflitos raciais, brutalidade policial e passeatas
de protesto ou quando retrata um grupo étnico de modo
depreciativo, isso pode gerar sentimentos negativos.
O mito da superioridade racial
Mito é quando falta causa para comprovar um efeito.
Sem causa não existe uma conseqüência. Será que existe
uma causa para a afirmação de alguns de que sua raça
tem o direito de se sentir superior a outras?
Absolutamente, não! Para começar, a idéia de que as
pessoas podem ser divididas em raças diferentes é
questionável. Um artigo da revista Newsweek
mencionou: “Para os cientistas que já pesquisaram o
assunto, raça é um conceito pouco confiável e para o
JOVENS: Como conviver com a violência?
50
qual é difícil achar uma definição séria.” É verdade que
talvez haja “diferenças observáveis na cor da pele,
textura do cabelo e forma dos olhos ou do nariz”. Porém,
Newsweek disse que “no máximo, essas diferenças são
superficiais, e, por mais que tentem, os cientistas têm
sido de modo geral incapazes de descobrir qualquer
conjunto significativo de características que distinga um
grupo racial de outro. . . . Para muitos cientistas que
trabalham nesse campo, o ponto principal é que raça
não passa de um ‘conceito social’, uma mistura
[degradante] de preconceito, superstição e mito”.
Mesmo se fosse possível encontrar diferenças científicas
entre as raças, a idéia de uma raça “pura” é ficção. The
New Encyclopædia Britannica menciona: “Não existem
raças puras; todos os grupos raciais que existem
atualmente estão completamente miscigenados.”
Independentemente da cor da pele, da textura do cabelo
ou das características faciais, existe apenas uma única
raça, a raça humana. Todos os humanos são
aparentados através do primeiro homem criado
diretamente por Deus, Adão, nosso antepassado.
Reconhecer que todas as raças são iguais aos olhos de
Deus pode mudar completamente o seu modo de
encarar a si mesmo e os outros. Pode levá-lo a tratar os
outros com dignidade e respeito, a apreciar e a admirar
as diferenças deles. Lembre-se também de que, embora
as pessoas da sua raça e cultura sem dúvida tenham
muitos motivos para se orgulhar, as pessoas de outras
raças também têm. E embora seja razoável ter um pouco
de orgulho da sua cultura e dos feitos dos seus
ancestrais, é muito melhor se orgulhar do que você
mesmo realizou com esforço e trabalho árduo.
SYMON HILL
51
“Jogue pela porta os preconceitos e eles
retornarão pela janela.”
— Frederico, o Grande, rei da Prússia.
JOVENS: Como conviver com a violência?
52
5
VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES
Dia 25 de novembro é o Dia Internacional para a
Eliminação da Violência contra a Mulher. Esse dia foi
reconhecido oficialmente pela Assembléia Geral das
Nações Unidas em 1999 a fim de conscientizar as
pessoas da violação dos direitos das mulheres. Por que
isso foi considerado necessário?
Em muitas culturas, as mulheres são encaradas e
tratadas como cidadãs de classe inferior. O preconceito
contra elas está profundamente arraigado. A violência
contra as mulheres, em todas as suas formas, é um
problema contínuo, mesmo nos países considerados
desenvolvidos. De acordo com o ex-secretário-geral da
ONU, Kofi Annan, “a violência contra as mulheres é um
problema mundial que atinge todas as sociedades e
culturas e afeta as mulheres, independentemente da sua
raça, etnia, origem social, nascimento ou qualquer outra
condição”.
SYMON HILL
53
Radhika Coomaraswamy, ex-Relatora Especial das
Nações Unidas da Comissão dos Direitos Humanos,
referindo-se à violência contra as mulheres, disse que,
para a grande maioria delas, esse tipo de violência é “um
tabu, algo que a sociedade finge não ver e uma realidade
vergonhosa”. Estatísticas divulgadas por uma
organização de vitimologia, na Holanda, indicam que
23% das mulheres em um país sul-americano, ou cerca
de 1 em cada 4, sofrem alguma forma de violência
doméstica. Do mesmo modo, o Conselho da Europa
calcula que 1 em cada 4 mulheres européias sofre
violência doméstica durante sua vida. De acordo com o
Ministério do Interior Britânico, na Inglaterra e no País
de Gales, num ano recente, em média duas mulheres
por semana foram mortas pelo parceiro, atual ou
anterior. A revista India Today International, relatou
que “para as mulheres da Índia, o medo é um
companheiro constante e o estupro é o estranho que
talvez tenham de encarar em qualquer esquina, rua,
lugar público e a qualquer momento”. A Anistia
Internacional descreve a violência contra mulheres de
todas as idades como “o mais comum dos desafios aos
direitos humanos” de hoje em dia.
Já foi mencionado neste livro que existem muitas
formas de violência e na maioria dos casos ela é muito
sutil. Sendo assim, quais as formas de violência mais
comuns, presente na vida das mulheres, inclusive as
mulheres jovens?
O pavor do assédio sexual
Assobios, gestos obscenos e olhares maliciosos é um
pesadelo diário para milhões de mulheres. A revista
Asia Week diz: “Os estudos revelam que 1 em cada 4
JOVENS: Como conviver com a violência?
54
japonesas sofre agressão sexual em público, e 90%
desses incidentes acontecem em trens. . . . Somente 2%
das vítimas tomam alguma ação quando são molestadas.
A maioria delas disseram que ficaram caladas
principalmente por medo da reação dos molestadores.”
O assédio sexual aumentou drasticamente na Índia.
“Toda vez que uma mulher sai de casa ela fica com
medo”, explica uma jornalista daquele país. “A cada
passo ela é alvo de piadas humilhantes e comentários
indecentes.” O seguinte relatório vem de uma cidade na
Índia, onde os moradores se orgulham das ruas
relativamente seguras: “O problema [desta cidade] não
está nas ruas, mas nos escritórios. . . . 35% das mulheres
entrevistadas disseram que já foram assediadas
sexualmente no local de trabalho. . . . 52% das mulheres
disseram que, por causa do medo de assédio sexual no
local de trabalho, elas preferem aceitar empregos com
salários mais baixos . . . onde têm de lidar [apenas] com
mulheres.”
O estupro
As mulheres têm mais a temer do que apenas a perda da
dignidade. O assédio sexual às vezes envolve ameaça de
estupro. É compreensível que as mulheres tenham mais
medo do estupro do que até mesmo do assassinato. Uma
mulher pode de repente se ver sozinha num lugar onde
teme ser estuprada. Talvez ela veja um homem que não
conhece ou em quem não confia. Seu coração dispara,
enquanto ela pensa desesperadamente no que fazer. ‘O
que ele fará? Para onde posso correr? Devo gritar?’
Passar por muitas situações assim vai aos poucos
prejudicando a saúde da mulher. Por causa do medo de
SYMON HILL
55
coisas como essas muitas pessoas decidem não morar
em áreas urbanas ou preferem não ir às cidades.
Os estupradores não são os estranhos
De acordo com uma pesquisa publicada pelo jornal O
Estado de São Paulo, ‘de 1994 a 1995, houve um
aumento de 21% nos casos de estupro’. Segundo a
delegada Elisabete Sato, os estupros “ocorreram em
maior número em cidades do interior”. Outra pesquisa
revela: “A maioria das mulheres vítimas de violência
sexual conhece ou é capaz de descrever seu agressor.” O
psiquiatra Cláudio Cohen, um dos coordenadores dessa
pesquisa, diz: “A idéia de que o estuprador é sempre um
desconhecido não é real. Na maioria dos relatos, a
agressão ocorreu dentro da casa da vítima.” O agressor
não procura prazer sexual, mas tenta “subjugar e
destruir o outro”. A pesquisa também ‘derruba o mito de
que o agressor estaria alcoolizado ou drogado durante o
ato’. “A maioria está consciente”, afirma Cohen
“O medo, a ansiedade e a aflição fazem parte do dia-a-
dia de muitas mulheres que moram em cidades”, diz o
livro The Female Fear (O Medo Feminino). “O medo do
estupro faz as mulheres sentir que precisam estar
sempre atentas, vigilantes e alertas; é um sentimento
que deixa uma mulher tensa se alguém caminhar bem
perto, atrás dela, especialmente à noite. É... um
sentimento do qual as mulheres nunca estão totalmente
livres.”
O crime violento afeta muitas mulheres. No entanto, o
medo da violência afeta quase todas as mulheres. A
Situação da População Mundial 2000, uma publicação
das Nações Unidas, diz: “No mundo todo, pelo menos 1
JOVENS: Como conviver com a violência?
56
em cada 3 mulheres tem sido espancada, forçada a fazer
sexo ou sofrido maus-tratos de alguma outra maneira —
geralmente por alguém que ela conhece.”
Como lidar com a injustiça?
A injustiça é mais dolorosa ainda quando é praticada
por aqueles que deveriam amar e proteger a pessoa.
Quando se é vítima de maus-tratos, pode ser difícil
controlar a raiva. Uma vítima de abusos na infância diz:
“Eu tinha sentimentos negativos até para com Deus.”
É natural sentir-se magoado e furioso quando se sofre
maus-tratos. Conviver com a injustiça todos os dias
pode também deixá-lo deprimido. Portanto, talvez
anseie o fim da injustiça. Uma jovem da América
Central lembra: “Aos 13 anos, entrei para o movimento
estudantil. Meu sonho era contribuir para mudar a
situação, para que não houvesse mais crianças
famintas... Mais tarde entrei para a luta armada.” Em
vez de conseguir justiça, porém, ela sofreu indizíveis
abusos às mãos de seus colegas soldados.
Casos assim nos lembram que a maioria das pessoas é
incapaz de melhorar sua situação na vida. Como, então,
as vítimas de injustiça podem enfrentar esse problema?
Como lidar com a amargura e a raiva que você talvez
sinta após ter sido vítima de injustiça? Em assuntos
relacionados ao crime nos negócios, a autoridade é o
Código de Direito Empresarial. Em crimes contra o
emocional das pessoas, como é o caso das injustiças, a
autoridade é o Código de Deus, escrito na Bíblia.
Independentemente se você acredita nela ou não, em
suas páginas encontramos um bálsamo para enfrentar
os problemas que a lei dos homens não tem solução.
SYMON HILL
57
Como se livrar da amargura e da raiva
De vez em quando é preciso nos lembrar de que vivemos
nos “últimos dias” deste sistema. A Bíblia predisse que
os homens hoje seriam “ímpios, sem amor pela família,
irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio,
cruéis, inimigos do bem, traidores”. Muitos ‘perderam
toda sensibilidade’. Portanto, a injustiça é uma realidade
da vida, da qual não dá para fugir. No fim das contas,
continuar amargurado e furioso é prejudicial e
autodestrutivo. Ficar furioso com Deus vai
comprometer sua relação com Aquele que mais pode
ajudá-lo.
O fim da injustiça
Felizmente, a injustiça não vai durar para sempre.
Tendo isso em mente fica mais fácil enfrentá-la. Veja o
caso de Asafe, que viveu nos tempos bíblicos. Havia
muita injustiça à sua volta, embora ele vivesse entre
pessoas que afirmavam servir a Deus. Em vez de serem
punidos por tratarem mal os outros, os homens cruéis
pareciam levar uma vida despreocupada e próspera.
Asafe admitiu: “Fiquei invejoso... vendo a própria paz
dos iníquos.” Asafe temporariamente perdeu o
equilíbrio ao ficar preocupado com essas coisas.
Com o tempo, Asafe se deu conta de um fato muito
importante. Ele disse, sobre os iníquos: “De fato, tu
[Deus] os pões em terreno escorregadio. Fizeste que
caíssem em ruínas.” Asafe se deu conta de que, por fim,
os iníquos não ficam impunes. Muitas vezes, suas
transgressões os alcançam e eles vão para a prisão,
sofrem ruína financeira, perdem o emprego ou o poder.
Na pior das hipóteses, os iníquos ‘cairão em ruínas’
JOVENS: Como conviver com a violência?
58
quando Deus executar a condenação do atual sistema
perverso. Saber que Deus resolverá os problemas no
futuro próximo pode ajudá-la a controlar a raiva e a
frustração de sofrer injustiças.
Como obter ajuda e apoio
Pode ser, porém, que você tenha profundas feridas
emocionais, como lembranças ruins. Segundo um
relatório do Unicef, “jovens continuamente expostas à
violência quase sempre sofrem uma grande mudança
em suas crenças e atitudes, incluindo uma perda geral
de confiança nos outros. Isso ocorre especialmente com
crianças atacadas ou molestadas por aqueles que elas
antes consideravam vizinhos ou amigos”.
Não há fórmula mágica para solucionar esse problema.
Mas se sentimentos negativos e lembranças ruins
dominam seu modo de pensar, você provavelmente
precisa de ajuda. Primeiro, leia matérias que tratem
especificamente das dificuldades que você passou. A
revista Despertai! (publicada pela Associação Torre de
Vigia de Bíblias e Tratados), por exemplo, publicou
vários artigos que dão conselhos práticos para vítimas
de estupro, assalto e molestamento de crianças.
Partilhar suas ansiedades e sentimentos com um
ouvinte maduro e que tem empatia pode ajudar
bastante.
Os especialistas dizem que uma rotina diária de
atividades significativas também pode ajudar.
Simplesmente ir à escola e fazer as tarefas domésticas
talvez já ajude bastante a afastar pensamentos
negativos.
SYMON HILL
59
6
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Espancar a esposa secretamente é uma crassa injustiça
que acontece no mundo todo — e em muitos lugares só
recentemente foi reconhecida como crime. Na Índia, um
relatório afirmou que “pelo menos 45% das mulheres
indianas são esbofeteadas, chutadas ou espancadas
pelos maridos”. Maus-tratos no casamento representam
um perigo para a saúde global. Com respeito às
mulheres entre 15 e 44 anos nos Estados Unidos, o
Departamento Federal de Investigações (FBI) relata que
mais delas são feridas em resultado da violência
doméstica do que por acidentes de carro, assaltos e
estupros juntos. Portanto, a violência doméstica é mais
séria do que uma discussão ocasional que termina numa
troca de tapas. Muitas mulheres vivem com medo de ser
feridas e mortas dentro de casa.
Uma pesquisa nacional no Canadá mostrou que um
terço das mulheres que tinha sofrido violência
doméstica temeram por suas vidas em alguma ocasião.
JOVENS: Como conviver com a violência?
60
Nos Estados Unidos, dois pesquisadores concluíram: “O
lar é o lugar mais perigoso para as mulheres e
geralmente um lugar de crueldade e tortura.”
Por que muitas mulheres ficam presas a tais
relacionamentos perigosos? Muitos se perguntam: ‘Por
que elas não procuram ajuda? Por que não deixam o
marido?’ Na maioria dos casos a resposta é: medo. Tem-
se dito que o medo é uma característica marcante da
violência doméstica. É comum que os homens que
maltratam as esposas as controlem com violência e
então as silenciem com ameaças de morte. Mesmo que a
esposa vítima de violência crie coragem para procurar
ajuda, ela talvez nem sempre a receba. Há uma
tendência, até mesmo entre pessoas que abominam
outras formas de violência, de banalizar, ignorar ou
justificar a violência cometida pelos maridos. Além
disso, fora de casa o marido pode parecer agradável.
Geralmente os amigos não conseguem acreditar que ele
bata na esposa. Desacreditadas e sem ter para onde
fugir, muitas esposas maltratadas acham que não tem
alternativa senão viver com medo constante.
As mulheres que por fim vão embora podem tornar-se
vítimas de outro tipo de assédio: a perseguição
obsessiva. Um estudo recente com mais de mil mulheres
no Estado de Louisiana, na América do Norte, mostrou
que 15% delas relataram terem sido perseguidas. Tente
imaginar o medo que elas passam. Alguém que o
ameaçou continua a aparecer aonde quer que você vá.
Fica telefonando, seguindo, vigiando e esperando você
chegar. Pode ser que ele até mesmo mate seu bichinho
de estimação. É uma campanha de terror!
SYMON HILL
61
O poder de opressores
O marido geralmente tem mais poder do que a esposa,
no casamento. Quase sempre é fisicamente mais forte,
tornando ainda mais apavorante uma ameaça de
agressão física. E, em muitos casos, o homem tem uma
profissão mais rendosa, mais facilidade de ser
independente e maiores vantagens financeiras. Por isso,
a mulher vítima de espancamento verbal provavelmente
se sente encurralada e sozinha. A esposa talvez fique
confusa se o marido oscilar entre extremos: cortês num
momento, crítico no seguinte. Ademais, se o marido for
um bom provedor material, a esposa alvo da linguagem
afrontosa talvez se sinta culpada de pensar que há algo
de errado no seu casamento. Talvez chegue a culpar a si
mesma pela conduta do marido. “Exatamente como a
esposa que é espancada fisicamente”, admite certa
mulher, “eu sempre achava que a causa do problema era
eu”. Outra esposa diz: “Fui levada a crer que se eu
simplesmente me esforçasse mais para entendê-lo e
fosse ‘paciente’ com ele, encontraria a paz.”
Infelizmente, os maus-tratos muitas vezes continuam.
É realmente trágico que muitos maridos abusam de seu
poder para dominar a mulher que talvez juraram amar e
tratar com ternura. Mas, como lidar com essa situação?
“Eu não quero largá-lo”, diz certa esposa, “só quero que
ele pare de me agredir”.
Depois de nove anos de casado, certo marido admitiu:
“Sei que mantenho uma relação verbal agressiva, e que o
agressor sou eu. Definitivamente prefiro mudar, não
largar a esposa.”
JOVENS: Como conviver com a violência?
62
Recentemente, durante um programa de TV chamado
Polícia 24h, transmitido pela emissora de TV
Bandeirante, uma viatura policial atendeu um chamado
de uma jovem de 16 anos que havia sido agredida pelo
namorado. Segundo ela, ele a maltratava com
freqüência, mas até então não havia batido nela. Ao ser
indagada sobre o que faria a respeito, a jovem disse: “Eu
quero continuar a morar com ele!” Isso também
acontece com muitas jovens ao redor do mundo.
“Aproximadamente 1 em cada 5 alunas disse ter sido
vítima de agressão física e/ou abuso sexual do
namorado”, diz um artigo na Journal of the American
Medical Association. Em uma pesquisa na Alemanha
envolvendo jovens na faixa de 17 a 20 anos, mais de um
quarto das garotas relataram ter sido induzidas a ter
contato sexual por meio de agressão física, ameaças,
drogas ou bebidas alcoólicas. Em outra pesquisa,
realizada nos Estados Unidos, 40% dos adolescentes
entrevistados haviam presenciado colegas de classe
“ofenderem a namorada com palavras duras”.
Você é adulta jovem e pensa em se casar com alguém
que a ofende ou grita com você? Alguém que faz pouco
caso de você, dá empurrões, ou bofetadas? O parágrafo
anterior mostrou que é alarmante a incidência de maus-
tratos como esses. Mesmo assim, é difícil saber o que
fazer em situações como essas. Você talvez ainda goste
muito de seu namorado, apesar do comportamento dele.
Ou pior ainda, pode ser que hesite em corrigi-lo,
temendo sua reação. O que fazer?
Avalie a situação
Antes de tudo, é bom você analisar o incidente de forma
calma e objetiva. Houve mesmo agressão verbal? Seu
SYMON HILL
63
namorado agiu de modo maldoso, ou apenas ‘falou
irrefletidamente’? Com que freqüência isso vem
ocorrendo? Foi apenas numa ocasião e dá para
desconsiderar? Ou ele tem por hábito fazer pouco caso
de você ou ofendê-la?
Se você não tem certeza sobre como se sente a respeito
da situação, converse com alguém — não com uma
colega, mas com uma pessoa de mais idade e
experiência. Talvez seja o caso de se abrir com seus pais
ou com uma pessoa madura. Conversando você poderá
avaliar se é uma reação exagerada da sua parte ou se o
problema é grave mesmo.
Acha que poderá conversar com seu namorado, sem
correr nenhum risco? Então explique a ele, sem se
alterar, como se sente quando ele a trata mal. Seja bem
direta e diga por que ficou magoada. Imponha limites e
diga o que você não tolera. Qual é a reação dele? Ele não
a leva a sério? Fica mais bravo ainda? Esse seria um
sinal e tanto de que ele não está disposto a mudar.
Mas e se ele for humilde, dando evidências de que
realmente se arrependeu? Talvez exista uma chance de
salvar o relacionamento. Mesmo assim, tome cuidado!
Pessoas que magoam outros com palavras agressivas
costumam tentar se explicar fingindo estar
arrependidas, mas voltam a agredir com palavras
quando se sentem provocadas de novo. O tempo dirá se
a pessoa é sincera ao dizer que quer mudar.
Não adianta procurar perfeição. Todos os que se
casarem vão ter de sofrer alguma ‘tribulação na carne’
por causa da imperfeição. Mas, no fim das contas, é você
quem terá de decidir se vai poder conviver com os
JOVENS: Como conviver com a violência?
64
defeitos dele. Novamente, deixar o tempo correr é o
melhor meio de se chegar a uma decisão.
Quando ele é violento
A questão muda se as palavras ofensivas vêm
acompanhadas de palavrões ditos num acesso de ira, ou
de ameaças de agressão física, ou se ele chega a agredi-la
dando empurrões ou bofetadas. Isso indica um
temperamento perigoso, descontrolado e que facilmente
pode levar a atos de violência mais sérios.
A princípio é melhor que namorados não fiquem
sozinhos. Mas se por acaso você ficar sozinha com um
homem furioso, não retribua mal por mal. Fique calma.
Peça a ele que a leve para casa. Se for preciso, vá
andando — ou saia correndo — fuja dele!
E se o namorado tentar forçá-la a ter relações sexuais
com ele? Para evitar essa situação, o certo seria o casal,
desde o início do namoro, estabelecer limites para
expressões de afeto. Se um rapaz pressiona uma jovem a
violar princípios morais, ela deve ser bem categórica ao
dizer que não vai transigir. Certa jovem, chamada Ana,
que cedeu a pressão de ser usada, diz: “Não ceda! Tenha
amor-próprio. Por favor, não cometa o erro que eu
cometi, mesmo que você o ame muito!” Se ele não a
levar a sério, diga-lhe que se continuar você vai encarar
a atitude dele como estupro. Se mesmo assim ele não
parar, grite por ajuda e resista, como faria com um
estuprador. Em alguns casos, como na tentativa de
estupro, seus pais poderão achar melhor dar queixa à
polícia. Isso ajudará a evitar que outras garotas passem
pela mesma situação arrasadora.
SYMON HILL
65
Você não tem nenhuma obrigação de continuar um
relacionamento assim. E é óbvio que seria loucura
encontrar-se sozinha com um homem agressivo ou
ousado para lhe dizer que vai romper o namoro. Na
maioria dos casos, a melhor coisa a fazer é comunicar a
seus pais o que aconteceu. Com toda a certeza eles vão
ficar bravos e aborrecidos com o comportamento dele.
Mas poderão ajudá-la a decidir que passos tomar.
Você acha que vai mudá-lo
A questão é que não cabe a você fazer seu namorado
mudar. Você acha que o ama, que vai saber lidar com a
situação e que vai poder ajudá-lo. Mas você
simplesmente não tem como. Mas, na realidade, só ele
pode reformar a própria mente e mudar. E esse é um
processo longo e penoso.
Assim, seja firme em sua decisão. Não lhe dê atenção se
ele tentar mexer com os seus sentimentos. Mantenha
distância, a máxima possível, emocional e fisicamente.
Não permita que ele a convença com palavras, súplicas
ou ameaças para reatar o namoro. Quando Ana rompeu
com o namorado agressivo, ele ameaçou se matar. É
óbvio que uma pessoa que reage assim precisa de ajuda,
mas não da sua ajuda. A melhor maneira de você ajudá-
lo é deixar claro que não aprova um comportamento que
infringe os princípios cristãos. Se ele quiser mudar, está
livre para procurar ajuda.
Há quem pense que casando tudo se resolve. Mas um
pesquisador diz: “As mulheres que se casam com
namorados agressivos e os homens que se casam com
JOVENS: Como conviver com a violência?
66
namoradas agressivas costumam ter a infelicidade de
descobrir que a violência continua após o casamento.
Muitos se iludem com o mito de que casando tudo se
resolve. Não acredite nisso!” O fato é que a
agressividade física no namoro geralmente continua no
casamento.
É difícil acabar o namoro com alguém que você gosta.
Mas ficar presa a um marido agressivo é bem pior. Não
fique com medo de não conseguir encontrar um bom
namorado. Com a visão que você tem agora, mais do que
nunca vai querer procurar uma pessoa gentil, bondosa e
que saiba se controlar.
Cicatrizes emocionais
As vítimas de agressão verbal ou física sofrem muito.
Procure ajuda. Conte a alguém imediatamente. Eu achei
que ia conseguir superar sozinha, mas falar com outros
ajudou muito. Abra-se com os seus pais, com uma amiga
madura e de confiança. Para algumas, tem sido de ajuda
procurar se distrair com boas leituras, esportes ou
passatempos. Pessoas com traumas poderão optar por
um tratamento com um médico ou um profissional de
saúde mental.
Isso deve chamar nossa atenção para o seguinte fato:
atos de violência doméstica começam aos poucos, dando
evidência de que poderão aumentar em freqüência e
intensidade. Se você é jovem e namora com alguém que
insiste em maltratá-la, deve perguntar-se se realmente é
isso que quer para sua vida. Nenhum momento de
aventura vale o preço de uma vida segura no futuro.
SYMON HILL
67
Como lidar com a violência doméstica
Ser violento é um comportamento aprendido, e tudo o
que foi aprendido pode ser desaprendido.’ — Dra. C.
Sally Murphy.
TANTO o indivíduo violento como sua vítima precisam
de ajuda. O agressor precisa aprender a relacionar-se
com outros sem abuso de força ou de poder. E a vítima
precisa de alguns artifícios práticos para lidar com o
problema.
Em muitos casos, o agressor não sabe se relacionar com
outros, nem entende os sentimentos daqueles a quem
intimida. Ele precisa ser monitorado e ensinado a
comunicar-se corretamente. O livro Take Action
Against Bullying (Tome Medidas contra a Intimidação)
diz: “A menos que se aprenda e se adote novos
comportamentos, os indivíduos agressivos continuam a
agredir durante a vida inteira. Agridem o cônjuge, os
filhos e, possivelmente, seus subordinados no trabalho.”
Ensinar os filhos desde pequenos a mostrar empatia
pode impedir que se tornem agressivos. Em alguns
países, educadores estão trabalhando com um novo
estilo de educação chamado de aprendizado de empatia.
O objetivo é ensinar os alunos, mesmo que só tenham 5
anos de idade, a entender os sentimentos dos outros e a
tratar as pessoas com bondade. Embora ainda sejam
poucos os dados estatísticos sobre o impacto a longo
prazo, os primeiros resultados indicam que aqueles que
receberam o treinamento são menos agressivos do que
os que não receberam.
JOVENS: Como conviver com a violência?
68
Como pai, ou mãe, você não deve deixar esse
treinamento inteiramente a cargo de algum programa
escolar. Se não deseja que seu filho se torne agressivo é
preciso ensiná-lo, por meio de palavras e de exemplo, a
tratar os outros com respeito e dignidade. O que pode
ser de ajuda?
Ensinar os filhos a aceitar a Regra Áurea: “Todas as
coisas, portanto, que quereis que os homens vos façam,
vós também tendes de fazer do mesmo modo a eles”.
Isso exige bom exemplo, persistência e trabalho árduo,
especialmente porque as criancinhas são por natureza
egocêntricas. Mas vale a pena o esforço. Se os seus filhos
aprenderem a ser bondosos e solidários, acharão
repulsiva a idéia de agredir os outros.
Ajuda para as vítimas
As vítimas da agressividade, em especial as jovens,
enfrentam um desafio difícil — manter o equilíbrio sob
pressão. Quando você é intimidado ou agredido, o
agressor provavelmente anseia que você perca o
equilíbrio emocional. Ele espera que você fique furioso
ou aterrorizado. Se você explodir de raiva, chorar ou
expressar mágoa ou medo, o agressor terá conseguido
seu intento. De modo que ele tentará provocar repetidas
vezes a mesma reação.
O que você poderá fazer? Veja as seguintes sugestões,
escritas primariamente para as mulheres jovens, mas
cujos princípios se aplicam também a adultos que
enfrentam indivíduos agressivos.
Mantenha-se calmo; não se enfureça. Se você
se descontrolar, estará fazendo o jogo do
SYMON HILL
69
agressor e provavelmente fará coisas que depois
vai lamentar.
Procure tirar da mente idéias de desforra. A
vingança muitas vezes sai pela culatra. Seja
como for, a desforra não é realmente
satisfatória. O que fica é um sentimento de
vazio.
Quando os ânimos parecem se acirrar, afaste-se
rapidamente. Via de regra, mantenha-se longe
de agressores em potencial.
Se as intimidações ou os maus-tratos
persistirem, você talvez tenha de encarar a
situação. Escolha um momento em que você
esteja tranqüilo, olhe o marido nos olhos e fale
de modo firme e calmo. Diga a ele que você não
gosta do que ele faz — que não é divertido e que
a magoa. Não recorra a insultos ou desafios.
Fale a respeito das intimidações ou agressões
com alguém responsável e prestimoso. Seja
específico a respeito do problema e peça ajuda
para lidar com ele.
Lembre-se de que você tem valor como pessoa.
O agressor talvez queira que você pense que
você não vale nada, que merece ser maltratado.
O agressor é quem perde valor, por recorrer a
tal conduta.
JOVENS: Como conviver com a violência?
70
7
COMO COMEÇA A VIOLÊNCIA ENTRE
OS JOVENS
Um jovem chamado Carlos, de apenas 15 anos, foi preso
por assassinato. Questionado sobre o porquê havia
tirado a vida de um colega, respondeu: “Ele me
ofendeu.” André, 14 anos, matou uma professora num
baile na escola e alegou que odiava os professores e os
pais, e que estava com raiva das meninas porque o
rejeitavam.
A revista Time chama atitudes como estas de “tendência
mortal”. Um jovem irado leva escondido para a escola
uma arma letal e começa a atirar nos colegas de escola e
nos professores. Esses incidentes trágicos parecem ser
tão comuns nos Estados Unidos que uma rede de
televisão descreveu a tendência como “uma explosão de
violência”.
Ainda bem que tiroteios em escolas não acontecem com
freqüência. Mesmo assim, os últimos crimes dessa
natureza revelam quanta raiva alguns jovens sentem. O
que será que desencadeia esses surtos de violência? É
SYMON HILL
71
evidente que alguns jovens ficaram furiosos por causa
de alguma injustiça ou abuso de poder praticados por
pessoas que exerciam autoridade. Já outros ficaram com
raiva de colegas que freqüentemente zombavam deles.
Um garoto de 12 anos que atirou num colega de classe —
e depois em si mesmo — era alvo constante de zombaria
por causa do excesso de peso.
É verdade que a maioria dos jovens talvez nunca cogite
praticar atos de extrema violência. Ainda assim, é difícil
superar a mágoa e a tristeza que surgem quando se é
alvo de racismo, intimidação ou zombaria desumana.
Lembrando-se de quando ia à escola, Benjamim
comenta: “Visto que sempre fui mais baixo que a
maioria dos meninos da minha idade e tinha a cabeça
rapada, os meninos viviam zombando de mim e dando
tapas na minha cabeça. Isso me deixava com muita
raiva. O que tornava as coisas ainda piores era que,
quando pedia ajuda do pessoal da diretoria, eles me
ignoravam. Daí, eu ficava com mais raiva ainda!” Ben
continua: “A única coisa que me impedia de dar uns
tiros nessas pessoas era o fato de não ter acesso a
nenhuma arma.”
Como encarar os jovens que tentam se vingar do que
outros lhes fazem? E o que você deve fazer caso alguém
o maltrate?
O autocontrole é uma virtude
Não é de hoje que acontecem maus-tratos e injustiça. A
fúria está intimamente relacionada com a perda do
autocontrole e, quando alguém lhe dá vazão, é porque
não leva em conta as conseqüências. Ficar exaltado pode
JOVENS: Como conviver com a violência?
72
resultar numa explosão de fúria! Quais seriam as
conseqüências?
De fato, há ocasiões em que há motivos válidos para se
ficar com raiva. Mas mesmo assim, as coisas podem
acabar mal se não houver controle. A ira descontrolada
não é sinal de força moral, mas sim de fraqueza. Certo
provérbio do Oriente diz: “Melhor é o vagaroso em irar-
se do que o homem poderoso, e aquele que controla seu
espírito, do que aquele que captura uma cidade.”
A tolice da vingança
A vingança — quer com agressão física quer verbal —
não é uma atitude pacífica. Ao mesmo tempo, é inútil e
revela insensatez por uma simples razão: a violência
gera mais violência. E agressão verbal gera mais
agressão verbal. Lembre-se também de que muitas vezes
a ira não se justifica. Por exemplo, será que você pode
ter certeza de que a pessoa que o ofendeu realmente
nutria algum ressentimento em relação a você? Não
seria o caso de a pessoa ter simplesmente agido sem
pensar ou de estar sendo grosseira? Mesmo que a
pessoa tenha agido com maldade, ir à desforra é
realmente a coisa certa a fazer?
Certamente, não é nada agradável ouvir outros falar
coisas ruins sobre você, mas isso faz parte da vida. Não é
verdade que você provavelmente já disse coisas sobre
outros que teria sido melhor não ter dito? Então, por
que perder a calma quando alguém diz coisas ruins
sobre você? Na maioria das vezes, a melhor coisa a fazer
é ignorar as provocações, afinal, ninguém joga pedra em
pipa que está no chão.
SYMON HILL
73
Seguindo a mesma linha de raciocínio, não é sensato
perder a calma quando alguém o maltrata. Em vez de se
vingar de alguém que lhe ofendeu, o mais certo é falar
com a pessoa sobre o assunto. Caso você seja
constantemente importunado, talvez por um valentão
na escola, não reaja de maneira violenta. Antes, você
precisa fazer algo para se proteger.
Como reagir
Muitos jovens reagem à altura quando provocados. Mas
isso só agrava a situação. Além disso, se você perde o
controle, rebaixa-se ao mesmo nível do outro. Não
responda ao estúpido segundo a sua tolice. Reagir à ira
com uma palavra de ofensa só piora as coisas. Mas uma
resposta branda geralmente acalma a situação e tira
lenha da fogueira.
Bondade: sinal de fraqueza ou força?
Talvez não goste da idéia de ter uma língua suave. Pode
ser que ache mais corajoso não levar desaforo para casa.
Talvez tenha medo de que, se for bondoso, vão pensar
que você é fraco. Mas exatamente o que é ser bondoso?
De acordo com uma obra de referência, ser bondoso
significa ser dócil. Mas a mesma fonte diz: “Por trás da
docilidade há a força do aço.” Assim, longe de ser sinal
de fraqueza, a bondade pode ser sinal de força. Em que
sentido?
Quem é bom sabe se controlar e não perde a calma
facilmente. Já a pessoa que não é bondosa é insegura,
frustrada ou até desesperada. Também não tem
autocontrole. Provavelmente ela sempre se mete em
encrenca porque não sabe controlar as emoções. Mas o
JOVENS: Como conviver com a violência?
74
que você faria se foi você quem provocou alguém? Peça
desculpas, e rápido! Isso deve bastar para acalmar a
pessoa. Vivemos em tempos de grande tensão, e muitas
pessoas têm temperamento explosivo. Mas se você
aplicar o que consideramos aqui é bem provável que
consiga evitar que alguém descarregue a raiva em você.
O desejo de vingança é o começo da violência entre os
jovens. Quando não se consegue controlar isso, o jovem
sofre uma pressão ainda maior para cometer atos de
vandalismo e violência – através de gangues.
SYMON HILL
75
8
GANGUES: O PERIGO DA VIOLÊNCIA
EM GRUPOS
As gangues com freqüência começam como grupos
formados por garotos do mesmo bairro. Adolescentes ou
pré-adolescentes se reúnem numa esquina. Fazem
coisas juntos e se unem para proteger-se de grupos
vizinhos mais estabelecidos. Mas logo o grupo cai no
nível de seus membros mais violentos, envolvendo-se
em perigosas atividades criminais.
Uma gangue rival de outra rua talvez considere o novo
grupo como inimigo. A hostilidade leva à violência.
Traficantes usam a gangue para vender drogas. Seguem-
se daí outras atividades criminais.
Luis tinha 11 anos quando seus amigos formaram uma
gangue. Aos 12 começou a usar drogas. Aos 13 foi preso
pela primeira vez. Ele participou em roubos de carro,
invasão de domicílio e assaltos à mão armada. Foi preso
JOVENS: Como conviver com a violência?
76
várias vezes por envolvimento em brigas de gangues e
arruaças.
Às vezes nos surpreendemos com os que pertencem a
gangues. Martha, estudante do segundo grau, aparência
impecável, inteligente, tirava boas notas e era bem
comportada na escola. Mas era líder de uma gangue que
traficava maconha, heroína e cocaína. Ela só ficou com
medo e pensou em mudar de vida quando uma de suas
amigas foi morta com vários tiros.
Por que os jovens entram em gangues
Surpreendentemente, alguns dizem que entraram na
gangue porque estavam carentes. Eles procuravam o
companheirismo e a união que não encontravam em
casa. De acordo com o jornal Die Zeit, de Hamburgo,
Alemanha, os jovens tentam encontrar nas gangues de
rua a segurança que não acham em outro lugar. Eric, ex-
integrante de gangue, disse que “se você não é amado
em casa, você vai lá fora procurar algo melhor”.
Certo pai, ex-integrante de gangue, escreveu sobre sua
juventude: “Eu vivia sendo preso por conduta
desordeira, brigas de gangues, tumultos e no final por
tentativa de homicídio, por ter atirado em alguém de um
carro em movimento.” Mais tarde, quando nasceu o seu
filho Ramiro, ele quase não tinha tempo para o garoto.
Quando Ramiro ficou mais velho, ele também entrou
numa gangue, e foi preso depois de uma briga de
gangue. Quando o pai insistiu para que ele saísse da
gangue, ele gritou: “Agora eles são a minha família.”
Uma enfermeira de um hospital no Texas, que
conversou com 114 jovens que haviam sido baleados
SYMON HILL
77
num período de pouco mais de um ano, disse: “Estranho
como pareça, não me lembro de nenhum deles ter
perguntado pela mãe ou por algum membro da família.”
Vale notar que os que se engajam em gangues não são
apenas jovens de bairros mais pobres. Há alguns anos, a
revista canadense Maclean’s citou uma declaração da
polícia, de que havia encontrado jovens tanto de bairros
mais ricos como de mais pobres na mesma gangue.
Jovens de procedências diversas se unem por uma
mesma razão: procuram a solidariedade e o
companheirismo que não encontram em casa.
Em alguns lugares os jovens crescem achando que é
normal fazer parte de gangues. Fernando, de 16 anos,
explicou: “Eles acham que entrar numa gangue vai
resolver seus problemas. Pensam: ‘Vou ter amigos, que
são grandes e que portam armas. Eles vão me proteger,
e ninguém vai me fazer nada.’” Mas esses novatos logo
descobrem que fazer parte de uma gangue os torna alvo
dos inimigos da gangue. Com freqüência as gangues se
formam em comunidades onde há pouco dinheiro e
muitas armas. Reportagens falam de salas de aula em
grandes cidades onde 2 em cada 3 estudantes moram só
com a mãe ou só com o pai. Às vezes este é viciado em
drogas, e talvez não volte para casa à noite. A estudante,
mãe solteira, tem de levar o próprio filho para a creche
antes de ir para a escola de manhã.
O ex-governador da Califórnia, Pete Wilson, disse:
“Estamos com um grande problema porque muitos
jovens estão crescendo sem pai, sem um modelo
masculino para lhes dar amor, orientação, disciplina e
valores: sem o senso do porquê devem respeitar a si
mesmos e a outros.” Segundo ele, essa incapacidade de
JOVENS: Como conviver com a violência?
78
alguns jovens de mostrar empatia é a razão pela qual
“são capazes de dar um tiro em alguém sem sentir um
pingo de remorso”.
Embora a falta de união na família, de treinamento
pessoal, e de sólido exemplo moral sejam os fatores
principais que contribuem para o crescimento das
gangues, há outros envolvidos. Estes incluem programas
de TV e filmes que apresentam a violência como solução
fácil para os problemas, uma sociedade que com
freqüência rotula os pobres como pessoas fracassadas e
que continuamente os lembra de que eles não podem se
dar ao luxo de fazer as coisas que outros fazem, e o
crescente número de famílias uniparentais, em que uma
mãe jovem tem de trabalhar duro para sustentar um ou
mais filhos que ficam sem supervisão. A combinação da
maioria ou de todos esses fatores e talvez de ainda
outros, tem levado à crescente praga mundial de
gangues de rua.
Gangues femininas: uma tendência alarmante
“Implacáveis, explosivas e brutais”. Foi assim que o
jornal The Globe and Mail descreveu as gangues
femininas das escolas de segundo grau no Canadá.
Cansadas de integrarem as gangues masculinas, um
crescente número de moças está dando o seu grito de
independência. Um detetive da polícia de Toronto,
especializado em gangues juvenis, observou que elas
estão “se auto-afirmando de uma maneira muito
violenta”. Não hesitam em “usar armas e ‘extrema’
violência” e são “em geral mais implacáveis e agressivas
do que as gangues masculinas”, disse o Dr. Fred
Mathews no Globe. Por quê? Segundo certo policial, as
jovens delinqüentes sabem que, “se forem apanhadas,
SYMON HILL
79
provavelmente vão pegar menos tempo na cadeia”. Um
porta-voz da polícia disse ao Globe que “meninas com
apenas 11 anos se envolvem em pequenos delitos e
tráfico de drogas e de armas nas escolas de segundo
grau”.
O Dr. Mathews, psicólogo e autoridade nesse tipo de
violência, entrevistou membros de gangues femininas
por um período de dez anos e chegou à conclusão de que
elas são “revoltadas e rebeldes, em grande parte por
procederem de uma família abusiva ou disfuncional”. O
que atrai essas jovens para as gangues? As gangues
oferecem “a segurança de pertencer a um grupo”, diz um
ex-membro. Mas ao ser entrevistada por um jornal, ela
admitiu que por duas vezes tentou suicidar-se para
poder escapar da gangue, e acrescentou: “Muitos
‘acidentes’ e ‘suicídios’ que ocorrem nos subúrbios na
verdade são assassinatos de gangue. A gangue protege
você das outras gangues. O problema é que não protege
você contra sua própria gangue.”
Um professor do segundo grau, preocupado com a
situação, disse: “Lidamos com moças violentas,
totalmente imprevisíveis. Você não sabe de que elas são
capazes quando estão zangadas. E, se você é professor,
cuidado!” Hoje em dia é comum vermos cenas de
violência nas escolas. Sem dúvidas, as gangues
colaboram com isso.
É difícil sair
É verdade que depois de algum tempo alguns membros
saem da gangue para realizar outras atividades. Alguns
talvez vão morar com parentes em outro lugar para
JOVENS: Como conviver com a violência?
80
escapar da gangue. Mas com freqüência sair da gangue
não é tão fácil assim.
Em geral, integrantes de gangues têm de levar uma
surra violenta de vários colegas antes de terem a
permissão de sair dela vivos. De fato, pessoas que
quiseram sair de determinadas gangues tiveram de levar
um tiro. Se sobrevivessem, podiam sair! Vale a pena
sofrer tais abusos para sair de uma gangue?
Um ex-integrante explicou por que ele queria sair:
“Cinco dos meus amigos já estão mortos.” De fato, a vida
como membro de uma gangue é perigosíssima. A revista
Time falou sobre um ex-integrante de uma gangue de
Chicago: “Em sua carreira de sete anos, ele levou um
tiro no estômago, uma pancada na cabeça com um
dormente de linha de trem, quebrou o braço numa briga
e foi preso duas vezes por roubo de carro... Mas agora
que finalmente endireitou a vida, até os seus ex-amigos
querem pegá-lo.”
É possível uma vida melhor
Paulo, um brasileiro, era membro dos Headbangers,
uma gangue que brigava com facas e às vezes com armas
de fogo. Sentindo-se desfavorecido, ele se realizava
quebrando coisas e atacando pessoas. Um colega de
trabalho falou com ele a respeito da Bíblia. Mais tarde
Paulo assistiu a algumas reuniões bíblicas com este
colega de trabalho, onde encontrou ex-colegas que
haviam saído de sua gangue bem como um ex-
integrante de uma gangue rival. Eles se
cumprimentaram como verdadeiros irmãos. Que
diferença do que teria acontecido no passado!
SYMON HILL
81
Será que isso realmente acontece? Sem dúvida!
Recentemente, um representante da Revista Despertai!,
nos Estados Unidos, se reuniu com ex-integrantes das
principais gangues de Los Angeles que agora estavam
convertidos. Depois de conversarem por várias horas,
um deles pausou, recostou-se na cadeira e disse:
“Imaginem só! Ex-integrantes dos Bloods e dos Crips
sentados lado a lado, como verdadeiros amigos!” Todos
concordaram que a mudança — de cruéis integrantes de
gangue para homens bondosos e amorosos — foi
resultado de terem aprendido princípios piedosos
através de cuidadoso estudo da Bíblia.
Será que isso realmente pode acontecer no século XXI?
Podem membros de gangues fazer essas mudanças
agora? Com certeza, se estiverem dispostos a considerar
o poderoso encorajamento encontrado na Bíblia e então
harmonizar a vida com seus princípios. Se você for
membro de uma gangue, por que não pensa em fazer tal
mudança?
Vale a pena fazer um esforço para mudar? Sem dúvida!
Se você é membro de uma gangue, provavelmente
precisará de ajuda para fazer tal mudança. Existem
pessoas no seu bairro que terão prazer em ajudá-lo. No
entanto, quem geralmente está em melhores condições
de exercer a maior influência positiva sobre os filhos são
os próprios pais.
JOVENS: Como conviver com a violência?
82
9
COMO OS PAIS PODEM LIBERTAR OS
JOVENS DA VIOLÊNCIA DAS GANGUES
Como ajudar os jovens a libertar-se de grupos
violentos? Devemos conversar com eles, ouvi-los,
abraçá-los e assegurar-lhes que são muito importantes
para nós. É preciso ensinar-lhes coisas boas: a ser
honestos e prestimosos, a levar uma vida feliz e
satisfatória e a ser bondosos.
O diretor de um reformatório juvenil apontou um
grande problema hoje ao dizer: ‘Os pais não ensinam
valores aos filhos. ’ Sem dúvida temos de dar atenção a
isso. Se quisermos que nossos filhos vivam de
determinada maneira, precisamos nós mesmos dar o
exemplo, deixando que eles vejam a satisfação que
resulta disso. Se não lhes ensinamos valores corretos,
como podemos esperar que eles os sigam?
De acordo com Today, uma revista dirigida a
professores americanos, as gangues com freqüência
SYMON HILL
83
atraem jovens que “se consideram um fracasso” e que
estão “à procura de segurança, de afeto e de aceitação
social”. Se realmente dermos estas coisas aos nossos
filhos em casa — segurança e uma base sólida para
serem bem-sucedidos tanto no âmbito familiar como na
própria vida — haverá muito menos probabilidade de
que se sintam atraídos por promessas falsas feitas por
uma gangue.
O líder de uma unidade antigangue da polícia da
Califórnia fala da expressão de choque que vê no rosto
dos pais quando a polícia bate na porta para dizer que o
filho se meteu em problemas. Eles não conseguem
imaginar que seu filho, a quem pensavam conhecer tão
bem, poderia ter feito algo errado. Mas o mesmo filho
havia encontrado novos amigos e havia mudado. Os pais
simplesmente não notaram.
É vital tomar precauções
As pessoas que moram em áreas onde as gangues atuam
dizem que tanto os jovens como os demais devem usar
de bom critério e não desafiar nem ameaçar uma
gangue. Evite lugares onde haja aglomeração de
integrantes de gangue, e não copie o seu visual ou
comportamento, incluindo o estilo e a cor da roupa que
vestem. Imitá-los pode torná-lo alvo de uma gangue
rival.
Também, se a pessoa se veste ou se comporta como se
quisesse fazer parte de uma gangue, seus integrantes
podem pressioná-la a se tornar um deles. A importância
de conhecer as atitudes dos integrantes da gangue local
foi ilustrada por um pai de três filhos em Chicago. Ele
JOVENS: Como conviver com a violência?
84
disse: ‘Se uso o meu boné virado para a direita, eles
encaram isso como afronta. ’ E isso pode gerar violência!
Envolva-se com os filhos
Uma mãe disse: “Precisamos conhecer bem os nossos
filhos — saber o que eles pensam e o que fazem. Não
teremos nenhuma chance se não nos interessarmos pela
vida deles.” Outra disse que o problema das gangues não
vai acabar até que os pais façam alguma coisa. Ela
acrescentou: ‘Precisamos dar bastante amor aos nossos
filhos. A desgraça deles será a nossa desgraça. ’
Conhecemos os amigos de nossos filhos, aonde eles vão
após as aulas, e onde estão depois que escurece?
Naturalmente, não são todas as mães que têm condições
de estar em casa quando os filhos voltam da escola. Mas
as mães que criam os filhos sozinhas, que lutam para
pagar o aluguel e sustentar os filhos, podem combinar
com outras mães ou com alguém de confiança para
supervisionar os filhos na sua ausência.
Perguntou-se a certo homem que mora numa área
conhecida pela atuação de gangues o que faria para
proteger seus filhos. Ele disse que levaria o filho para
dar uma volta no bairro para mostrar o resultado da
atividade das gangues. Apontaria para as pichações e
para os prédios depredados, fazendo-o ver que “a área
não parece segura, e que os integrantes de gangues
simplesmente estão por aí, sem fazer nada de produtivo
com as suas vidas”. Ele acrescentou: “Daí explicaria que
viver segundo princípios bíblicos evitará que ele acabe
assim.”
SYMON HILL
85
Algo tão simples como o interesse sincero nos estudos
dos filhos pode servir de proteção para eles. Se a escola
tem uma reunião de pais ou uma outra ocasião em que
os pais são convidados a visitar as salas de aula e
conversar com os professores, faça questão de
comparecer. Conheça os professores de seus filhos,
mostre que se preocupa com eles e que se interessa na
sua educação. Se a escola não tem um programa para a
visita dos pais, procure oportunidades para falar com os
professores sobre o desempenho de seu filho na escola e
sobre como você poderia ajudar.
Uma pesquisa numa grande cidade americana revelou
que entre estudantes que contavam com a ajuda ou
incentivo da família no tocante aos deveres escolares,
9% aderiram a gangues. Mas em famílias onde não havia
tal atenção, duas vezes mais estudantes — 18% —
entraram em gangues. Uma família amorosa e unida,
que faz coisas saudáveis em conjunto, reduz a
probabilidade de que os filhos sejam atraídos por
promessas falsas das gangues.
O que os filhos realmente precisam
Nossos filhos precisam das mesmas coisas que nós
precisamos: amor, bondade e afeto. Muitos filhos nunca
foram tratados com amor e carinho, nunca ninguém
lhes disse que eles eram importantes. Que isso nunca
aconteça com os nossos filhos! Precisamos abraçá-los,
dizer que os amamos, e fazer de tudo para que eles
levem uma vida moralmente correta, como os
ensinamos. Eles são preciosos demais para agirmos de
outro modo.
JOVENS: Como conviver com a violência?
86
Geraldo, ex-integrante de gangue, explicou: “Eu não
tinha um pai para me servir de exemplo, de forma que
entrei em gangues para preencher essa falta.” Ele
começou a usar drogas aos 12 anos.
Nossos filhos devem ver que damos o exemplo — que
vivemos do modo como dizemos para eles viverem.
Devem orgulhar-se de sua família, não por causa das
coisas que ela possui, mas pelas coisas que faz. E os
filhos devem ter sido ajudados de tal forma que se
sintam bem com seu próprio comportamento moral. O
ex-promotor público do condado de Los Angeles, Ira
Reiner, disse: “Precisamos nos aproximar dos jovens
antes que eles se aproximem das gangues.”
Demos aos jovens o que eles precisam
O mais importante não são as coisas materiais que
damos aos nossos filhos. O que realmente conta é que os
ajudemos a se tornar adultos amorosos, que se
importam com outros e que têm bons princípios. Se
considerarmos nossos filhos como preciosos - estaremos
mais propensos a tratá-los com amor e a ensiná-los a
viver de forma honesta, correta e com boa moral.
Faremos assim todo o possível para viver nossa vida de
tal forma a dar o exemplo correto para os nossos filhos.
Daremos a eles motivo para ter um orgulho salutar e
correto de sua família, não das posses materiais da
família, mas do tipo de pessoas que somos. Assim, será
menos provável que eles procurem apoio na rua.
Recordando sua juventude, certo homem diz: “Eu
jamais teria tido coragem de fazer algo que
SYMON HILL
87
envergonhasse minha família.” Ele reconhece que
pensava assim porque sabia do amor que os pais tinham
por ele. É verdade que para alguns pais talvez não seja
fácil demonstrar amor pelos filhos, visto que eles
mesmos não receberam amor de seus próprios pais.
Contudo, os pais precisam esforçar-se a demonstrar
amor pelos filhos. Por que isso é tão importante? A
revista “What’s Up”, publicada pela Associação dos
Investigadores de Gangues de Utah, responde: “Quando
os jovens se sentem amados e seguros — seguros não em
sentido financeiro, mas emocional — geralmente eles
não se sentem atraídos às gangues.”
Nenhum de nós jamais desejará ter de dizer, como disse
certo pai: ‘Na gangue meu filho encontrou o
companheirismo e o respeito que ele nunca teve.’ Nem
queremos ouvir nossos filhos repetir o que disse certo
jovem: “Eu entrei na gangue porque precisava de uma
família.” Nós, os pais, precisamos ser essa família. E
precisamos fazer tudo ao nosso alcance para que nossos
filhos, que nos são tão preciosos, permaneçam sendo
parte de uma família cordial e amorosa.
Resumindo, os pais devem:
Passar tempo em casa com seus filhos, e façam
coisas juntos em família.
Conhecer os amigos deles e suas famílias, e
saibam aonde eles vão e com quem.
Deixar as portas abertas para que eles sempre
possam recorrer a vocês com qualquer tipo de
problema.
Ensinar-lhes a respeitar as pessoas, seus
direitos e seu modo de pensar.
JOVENS: Como conviver com a violência?
88
Dar-lhes apoio por conhecer os professores, e
digam aos professores que os apreciam e que
apóiam seus esforços.
Conversar. Gritaria e violência não resolvem
problemas. Seus filhos precisam de afeto.
SYMON HILL
89
10
COMO CONVIVER COM A VIOLÊNCIA
NAS ESCOLAS
O que está acontecendo nas escolas? “As escolas em
crise: tragam os policiais já!”, disse recentemente em
manchete de primeira página um jornal de Nova York. O
Conselho de Educação da Cidade de Nova York tem seus
próprios seguranças nas escolas — uma força de 3.200
efetivos — que patrulham as mais de 1.000 escolas da
cidade. Agora muitos querem que a polícia pública da
cidade ajude na segurança nas escolas. É realmente
necessário?
Um cabeçalho no New York Times dizia: “Investigação
revela que 20% dos estudantes na cidade de Nova York
portam armas”. O diretor-geral das escolas da cidade de
Nova York, de 1990 a 1992, Joseph Fernandez, admitiu:
“Nunca vi nada igual à violência que temos hoje nas
escolas das nossas cidades grandes. . . . Quando assumi
a diretoria em Nova York, em 1990, eu não imaginava
JOVENS: Como conviver com a violência?
90
que a situação fosse tão ruim assim. Não é uma fase, é
uma malignidade.”
Quão perigoso é?
Fernandez relata: “Durante meus primeiros dez meses
como diretor-geral, tivemos em média um aluno
assassinado dia sim, dia não — esfaqueado no metrô,
baleado no pátio da escola ou na rua... Algumas escolas
de 2.° grau têm 15 ou 16 [seguranças] patrulhando os
corredores e áreas adjacentes.” Disse mais: “A violência
nas escolas é epidêmica, e foi preciso tomar medidas
extraordinárias. As escolas em Chicago, Los Angeles,
Detroit — todos os grandes centros urbanos —
apresentam agora a mesma imagem de uma selvageria
quase apocalíptica. “O caráter vergonhoso disso é
clamorosamente óbvio. Nas últimas duas décadas
viemos a aceitar o inaceitável: as escolas americanas
como zonas de guerra. Centros de medo e de
intimidação, em vez de refúgios de instrução.”
Existem agentes de segurança em 245 estabelecimentos
de ensino nos Estados Unidos e, em 102 destes, eles
andam armados. Mas eles não são os únicos que andam
armados. Segundo um estudo feito na Universidade de
Michigan, calcula-se que os estudantes americanos
levem diariamente à escola umas 270.000 armas de
fogo, sem contar os outros tipos de armas!
Em vez de melhorar, a situação piorou muito. Os
detectores de metal usados em muitas escolas não
conseguem deter o fluxo de armas. Durante o outono de
1994 os casos notificados de violência nas escolas da
cidade de Nova York aumentaram 28% sobre o mesmo
período do ano anterior! “Pela primeiríssima vez”,
SYMON HILL
91
comenta a publicação Phi Delta Kappan a respeito de
uma enquete realizada nos EUA, “a categoria ‘brigas,
violência e gangues’ divide o primeiro lugar com a ‘falta
de disciplina’ como o maior problema das escolas
públicas locais”.
A violência nas escolas gerou crises no setor em muitos
países. No Canadá, uma manchete do Globe and Mail,
de Toronto, dizia: “Escolas se transformam em zonas de
perigo”. E, segundo uma pesquisa feita em Melbourne,
na Austrália, quase 60% das crianças do curso primário
são levadas e trazidas da escola pelos pais por causa do
medo de assalto ou seqüestro. Mas a violência é apenas
parte do problema. Acontecem outras coisas muito
preocupantes nas escolas que colaboram para o avanço
da violência.
Certa professora universitária veterana disse que “um
espantoso grande número de jovens acha que não existe
certo ou errado, que a escolha de moral depende do que
a pessoa pensa”. Por que os jovens pensam assim? Disse
a professora: “Talvez a sua experiência na escola de 2.°
grau os tenha levado a se tornar agnósticos morais.”
Quais são os efeitos dessa incerteza moral?
Um recente editorial de jornal lamentou: “Às vezes
parece que jamais se deve culpar alguém de alguma
coisa. Jamais.” Sim, a mensagem é que tudo é válido!
Considere um exemplo do efeito profundo que isso pode
ter nos estudantes. Numa aula de universidade sobre a
Segunda Guerra Mundial e a ascensão do nazismo, o
professor constatou que a maioria dos alunos achava
que ninguém devia ser culpado pelo Holocausto! “Para
os alunos”, disse o professor, “o Holocausto era como
um cataclismo natural: fatal e inevitável”.
JOVENS: Como conviver com a violência?
92
A quem cabe a culpa quando os estudantes não sabem
distinguir o certo do errado?
Exemplificando, durante um período em que a
imoralidade de certas autoridades do governo
americano produzia manchetes, uma bem-conhecida
colunista escreveu: “Não posso imaginar como os
professores nessa era cínica conseguirão ensinar
moralidade... ‘Olhe para Washington!’, dirão até mesmo
as mais pequeninas vozes. Elas sabem . . . que o mais
sujo conchavo da história ocorreu sob o teto daquela
grande casa branca.”
Talvez, enquanto lê este texto, você pode estar pensando
que todos estes relatos sobre violência nas escolas se
referem aos Estados Unidos. Realmente. Eu fiz questão
de trazer para vocês artigos que mostram que a violência
não é só uma coisa que acontece no Brasil, em borá,
aqui, a violência nas escolas também tem se mostrado
alarmante.
Hoje, os professores não podem exercer qualquer tipo
de castigo físico aos alunos sob pena de sofrerem
sanções disciplinares, mas e os alunos? Que perfil
apresenta os adolescentes que se envolvem em atos de
violência nas escolas?
Um estudo realizado no ano de 2001, por Margarida
Matos e Susana Carvalhosa, pesquisadoras portuguesas,
baseado em entrevistas feitas com 6903 alunos de
escolas escolhidas aleatoriamente, com as idades médias
de 11, 13 e 16 anos, analisaram a violência na escola
entre vítimas, provocadores (incitação na forma de
insulto ou gozo de um aluno mais velho e mais forte do
SYMON HILL
93
que o outro) e outros (similarmente vítimas e
provocadores) demonstram os seguintes resultados:
Mais de metade dos alunos pesquisados são do
sexo feminino (53.0%);
25.7% dos jovens afirmaram terem estado
envolvidos em comportamentos de violência,
tanto como vitimas provocadores ou
duplamente envolvidos;
As vítimas de violência são em sua maioria do
sexo masculino (58.0%);
Os entrevistados que se envolveram em
comportamentos de violência em todas as suas
formas situavam-se nos 13 anos de idade;
Os jovens provocadores de violência são aqueles
que têm hábitos de consumo de tabaco, álcool e
mesmo de embriaguez. Também são os que
experimentaram e consumiram drogas no mês
anterior à realização do inquérito;
Quanto às lutas, nos últimos meses anteriores
ao inquérito, 19.08% dos jovens envolveram-se
em comportamentos violentos;
Os vitimados pela violência são os que andam
com armas (navalha ou pistola) com o intuito da
sua própria defesa;
Os adolescentes que vêem televisão quatro
horas ou mais por dia são os que estão mais
freqüentemente envolvidos em atos de
violência;
As vítimas e os agentes de violência não gostam
de ir à escola, acham aborrecido ter que a
freqüentar e não se sentem seguros no espaço
escolar;
JOVENS: Como conviver com a violência?
94
Para os praticantes de violência a comunicação
com as figuras parentais é difícil;
16.05% das vítimas vive em famílias uni
parentais e 10.9% dos agressores vive com
famílias reconstruídas;
Quanto aos professores, os alunos sujeitos e
alvos de violência consideram que estes não os
encorajam a expressar os seus pontos de vista,
não os tratam com justiça, não os ajudam
quando eles precisam e não se interessam por
eles enquanto pessoas;
Em relação ao relacionamento entre grupo de
pares, estes adolescentes referem a pouca
simpatia e préstimo e não-aceitação por parte
dos colegas de turma, a dificuldade em obter
novas amizades, ausência quase total de amigos
íntimos.
Os comportamentos violentos na escola têm uma
intencionalidade lesiva. Podem ser determinados de
fora para dentro, como acontece nos bairros degradados
invadidos pela miséria e pelo tráfico de drogas, onde
agentes estranhos ao meio o invadem e destroem; pode
tratar-se de violência contra a escola, em que alunos
assumem um verdadeiro desafio à ordem e à hierarquia
escolares, destruindo material e impondo um clima de
desrespeito permanente; ou são simplesmente
comportamentos violentos na escola, que ocorrem,
sobretudo quando esta não organiza ambientes
suficientemente tranqüilos para a construção de valores
característicos a este local. A violência pode ser
desencadeada fruto de muitas situações de indisciplina
que não foram resolvidas e que constituem a origem de
um comportamento mais agressivo.
SYMON HILL
95
A violência protagonizada pelos jovens nas escolas é
uma realidade inegável. Para combater a violência, a
escola tem de analisar a forma como é exercido o seu
controle, tem que se organizar pedagogicamente, para
conseguir deter a violência não só interior, mas também
exterior. A sociedade terá que se organizar e posicionar-
se ativamente contra este mal.
Do mesmo modo, a escola terá que ajustar os seus
conteúdos programáticos e ater-se mais às necessidades
dos jovens. Devido às exigências da vida moderna, as
famílias muitas vezes relegam sua função educativa,
delegando-a à escola. Por isso é importante levar às
escolas o debate, o questionamento e principalmente, o
conceito correto sobre a violência e seus reais efeitos na
vida destes jovens.
JOVENS: Como conviver com a violência?
96
11
COMO CONVIVER COM A VIOLÊNCIA
Muito já se falou sobre a violência e seus efeitos. Creio
que você jovem leitor tenha conseguido perceber as
conseqüências penosas de quem decide levar a vida
através de um caminho marcado pela agressividade e
violência. Espero agora que consiga de certa forma
elevar seu pensamento e ajudá-lo a ter maior
autoconfiança e visão de futuro. O que se seguirá é de
extrema valia para que você coloque em prática os
conselhos deste livro.
Muitos jovens almejam ter sucesso na vida. Desejam
realizar coisas grandes e inspiram-se em personalidades
famosas que muitas vezes chegaram lá mais por acaso
que por planejamento. Estes jovens se esquecem de que
é preciso, antes de tudo, saber escolher para poder
alcançar algo realmente valioso. Nem tudo que reluz é
ouro, como diz o ditado. Aparentemente o modo de vida
violento, brilha como sendo verdadeiramente precioso,
SYMON HILL
97
mas, na realidade acaba frustrando aqueles que se
deixam levar pelo seu falso glamour.
Em meu livro “22 Leis Universais para o Sucesso”
explico bem a questão envolvida com fazer escolhas.
Todos nós durante a vida precisamos fazer escolhas.
Com o passar do tempo estas escolhas aumentam em
número e responsabilidade. O segredo para ser bem
sucedido na vida é saber escolher o que se quere agir em
conformidade. Tente imaginar a seguinte situação: você
pega uma semente de melancia, planta em seu quintal e
na hora de colher, percebe que o que realmente gostaria
de comer era banana e não melancia. O problema com o
mundo é que as pessoas querem viver em paz, mas,
continuam plantando sementes de violência, seja
através de linguagem agressiva, filmes, jogos, músicas,
programas de TV e até por meio de piadas. A definição
de insanidade é continuar fazendo sempre a mesma
coisa e esperar obter um resultado diferente. Se você
espera viver em paz, comece a evitar a violência. Duas
coisas são realmente necessárias para conviver com a
violência em sua vida:
1. AMAR O QUE É BOM.
2. TER AVERSÃO AO QUE É MAU.
Estes dois parâmetros são bem simples de entender.
Toda criança sabe, desde a tenra idade o que é bom e o
que é ruim. Portanto, para conviver com a violência não
basta gostar do que é bom e ainda assim ficar exposto ao
conteúdo violento. Toda forma de violência é ruim e
deve ser evitada. Mesmo que não possa ser erradicada
por completo, procure evitar ao máximo ser invasivo e
agressivo. Amar o que é correto do ponto de vista do
JOVENS: Como conviver com a violência?
98
amor ao próximo e evitar o que é prejudicial pode ajudá-
lo a conviver com a violência.
Eu sei que nos dias de hoje, falar de amor é meio ‘brega’,
mas, a única coisa forte o bastante para suplantar o mau
causado pela violência é o amor verdadeiro, primeiro
expresso para com Deus, o Criador da Vida e depois
expressá-lo para com o nosso semelhante.
Este livro trouxe muita informação a respeito da
violência no mundo todo e, em alguns momentos
chegou até mesmo a ser pessimista. No entanto, o modo
como você irá enxergar o que foi escrito aqui é que fará
diferença para você. Isso é importante até para conviver
com a violência. Duas pessoas foram assaltadas na
mesma rua, coincidentemente na mesma semana. Uma
nunca mais saiu de casa, com medo de ser assaltada
novamente. Entrou em depressão e ficou estagnada na
vida. A outra, após o trauma inicial, também teve medo
de sair nas ruas, mas, logo percebeu que a vida continua
e agora, toma mais cuidado. Você pode estar pensando
que as pessoas reagem de maneira diferente ao crime. E
é justamente por isso que a mensagem deste livro tem
valor. Não importa o que tenha acontecido com os
outros – isso não significa que irá acontecer com você!
Mesmo que você tenha sido vítima de um ato de
violência, há ainda um mundo inteiro e cheio de vida
pela frente. Caberá a você escolher. Escolha usufruir a
vida mesmo que para isso tenha que enfrentar a
realidade de conviver com a violência. Valerá à pena!
A muitos e muitos anos atrás, e ao mesmo tempo agora, em
lugar muito distante e ao mesmo tempo aqui, um grupo de
homens e mulheres cavalgando em seus cavalos no meio da
noite, ouviram uma forte voz dizer o seguinte:
SYMON HILL
99
“Desmontem de seus cavalos, peguem suas sacolas e
apanhem as pedras que estão no chão. Amanhã de manhã, ao
nascer do sol, vocês ficarão felizes e tristes ao mesmo tempo!”
Alguns, ouvindo a ordem, desceram de seus cavalos e
apanharam as pedras. Uns pegaram muitas pedras, outros
pegaram menos. No dia seguinte ao nascer o sol, ao abrirem
suas sacolas, perceberam que não eram pedras e sim pepitas
de ouro.
Imediatamente, ficaram felizes e tristes ao mesmo tempo.
Felizes por que ganharam ouro apenas por obedecerem e
tristes, lamentando por que não pegaram mais pedras...
Eu espero que agora, não fim desta leitura, você possa estar
se sentindo feliz por ter encontrado algumas pepitas de ouro
e ao mesmo tempo triste, pensando que deveria ter
aproveitado melhor sua caminhada por estas páginas. Mas
no seu caso, diferentemente dos cavaleiros e amazonas da
história, você pode voltar e pegar mais ouro, recomeçando a
leitura em busca de novas pedras preciosas.
Se alimente bem, durma melhor e sorria muito!
Symon HILL
Verão de 2011.
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Sobre o Autor:
Symon Hill é empresário, palestrante motivacional
especializado em autodesenvolvimento e escritor.
Completou em 2011, 18 anos de experiência em vendas e
atendimento a clientes.
Master Practitioner em PNL participou também de
importantes treinamentos na área comercial, entre eles o
EMPRETEC, Seminário para Empreendedores promovido
pela ONU em 33 países e ministrado no Brasil pelo
SEBRAE. Iniciou sua carreira como palestrante em 2004
motivando integrantes de um grupo de teatro. De lá para cá
tem ajudado as pessoas a viver com mais dignidade,
autoconfiança e visão de futuro.
Suas palestras, marcadas pelo seu poder de comunicação e
arte de ensino abordam assuntos profundos com a mesma
clareza e simplicidade presente em seus 11 livros
publicados. Atualmente, mora com a esposa e um filho, na
cidade turística de Poços de Caldas-MG. Seu site é
www.apalestra.com .
Contato por telefone através do (35) 8886-2679.
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