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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Getúlio Vargas – RS – Brasil 1
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO
EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI
FACULDADES IDEAU
OCORRÊNCIA DE HIPOCALCEMIA EM BOVINOS NA REGIÃO DO ALTO
URUGUAI
BERTOLDO, Taiana Piana1*
GRITTI, Claudia¹
MARCA, Monique Carla¹
PERUZIN, Raíssa Antonya¹
VIEDA, Lucia Helena¹
GRANDO, Rodrigo de Oliveira2
ALMEIDA, Mauro Antônio de²
BAZZAN, Alan Eduardo²
RIBEIRO, Ticiany Maria Dias²
ROSÉS, Thiago de Souza²
SEBEM, Juliana Gottlieb²
OLIVEIRA, Daniela dos Santos de²
RESUMO: A hipocalcemia é uma doença metabólica, onde ocorre queda nos índices de cálcio, relacionada com
a nutrição e na maioria das vezes os produtores não sentem os impactos econômicos que ela causa. O cálcio tem
como função fisiológica a formação de matriz óssea, sendo assim, o fator essencial na coagulação sanguínea,
participa no processo de contração muscular, atuando na transmissão de impulsos nervosos e ainda regula
algumas enzimas. O presente trabalho teve como objetivo relatar o caso de três bovinos com diagnóstico positivo
para hipocalcemia, atendidos nas cidades de Quatro Irmãos/RS, Charrua/RS e Aratiba/RS, relatando e discutindo
a melhor forma de prevenção desta doença visto que a mesma causa muitos prejuízos econômicos aos
produtores. O principal tratamento utilizado para os relatos foi o uso de cálcio via intravenosa. No primeiro caso
o animal acabou vindo a óbito, mesmo recebendo tratamento específico, no segundo e terceiro caso os animais
obtiveram uma melhora satisfatória perante o tratamento. Dessa forma os produtores foram orientados a realizar
uma correta nutrição do seu rebanho.
Palavras-chave: febre do leite, doença metabólica, tratamento.
ABSTRACT: Hypocalcemia is a metabolic disease, where there is a drop in calcium levels, related to nutrition
and most of the time the producers do not feel the economic impacts that it causes. Calcium has as its
physiological function the formation of bone matrix, and thus, the essential factor in blood coagulation,
participates in the process of muscle contraction, acting in the transmission of nerve impulses and still regulates
some enzymes. The present study aimed to report the case of three cattle with positive diagnosis for
hypocalcemia, treated in the cities of Quatro Irmãos/RS, Charrua/RS and Aratiba/RS, reporting and discussing
the best way to prevent this disease, since the same cause many economic losses to producers. The main
treatment used for the reports was the use of intravenous calcium. In the first case the animal ended up dying,
even receiving specific treatment, in the second and third case the animals obtained a satisfactory improvement
to the treatment. In this way the producers were directed to perform the correct nutrition of their herd.
Keywords: milk fever, metabolic disease, treatment.
1 INTRODUÇÃO
O objetivo do produtor de leite deve ser aumentar os lucros, tornando a atividade
economicamente viável, eficiente e rentável. Para atingi-lo é necessário que o criador tenha o
1 Discentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível VI 2017/2- Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.
2 Docentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível VI 2017/2 - Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.
*E-mail para contato: tai.pb.23@hotmail.com
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mínimo de conhecimento sobre os principais fatores que podem estar relacionados às
constantes perdas identificadas na atividade leiteira, uma das causas de descarte é a
hipocalcemia. O desconhecimento desse fator, ou quando este é ignorado, pode tornar o
descarte uma decisão aleatória, comprometendo a saúde financeira da produção.
Na maioria dos casos os produtores não sentem os impactos negativos que a doença
causa, até que essa se torne um problema evidente com vários casos clínicos na propriedade.
A doença causa queda na produção leiteira e também aumenta o risco de descarte dos
animais, dessa forma o produtor deve estar atento à nutrição que oferece ao seu rebanho por
conta da hipocalcemia estar ligada a desequilíbrios nutricionais e pela boa nutrição sendo uma
das melhores formas de prevenir a doença.
A hipocalcemia é uma doença metabólica nutricional que acomete bovinos, se
caracterizando por distúrbio na concentração de cálcio no sangue associado com o parto e
inicio da lactação, conhecida também como febre do leite, paresia puerperal ou febre vitular.
As causas de hipocalcemia têm sido associadas a um baixo consumo, aumento significativo
da demanda ou à incapacidade do organismo em manter os níveis de cálcio, através de seus
mecanismos fisiológicos.
No período que antecede ao parto existe uma tendência para que as vacas apresentem
certa dificuldade para manter a homeostase do calcio, em particular, a fração do cálcio
ionizável. Tanto os níveis de absorção intestinal como reabsorção óssea estão diminuídos nos
últimos sete dias antes e dois dias após o parto. Além disso, é importante destacar que a
demanda de cálcio está aumentada, pois o colostro produzido contém o dobro das quantidades
de cálcio que o leite comum.
É importante lembrar que animais que ficam muito tempo em decúbito podem
desenvolver uma necrose isquêmica pela pressão induzida dos músculos da coxa, lesões em
nervos e articulações, principalmente nos nervos pélvicos. Se o tratamento da causa primária
do decúbito não obtiver sucesso e esses animais forem incapazes de levantar-se após 24 horas
de decúbito inicial, podem desenvolver um decúbito secundário em função dos danos
causados em músculos e nervos. Alguns animais caídos podem demonstrar apatia e doença
sistêmica, enquanto outros podem não demonstrar os mesmos sintomas, podendo beber e se
alimentar enquanto permanecem em decúbito esternal.
O presente trabalho teve como objetivo relatar o caso de três bovinos com diagnóstico
positivo para hipocalcemia, atendidos nas cidades de Quatro Irmãos/RS, Charrua/RS e
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Aratiba/RS, relatando e discutindo a melhor forma de prevenção desta doença visto que a
mesma causa muitos prejuízos econômicos aos produtores.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Referencial Teórico
A hipocalcemia é um distúrbio metabólico na concentração de cálcio no sangue, é
também conhecida como febre do leite ou vitular, sua primeira descrição se deu na Alemanha
em 1793. O cálcio é um dos principais elementos essenciais para a vida de ruminantes, junto
com P (fósforo) e Mg (magnésio) ele mantem a integridade estrutural dos ossos e dentes,
devido a sua incorporação na matriz mineral, além disso tem função nos sistemas de
comunicação celular, seja entre células ou organelas de uma mesma célula (BERCHIELLI et
al., 2011).
De acordo com Radostits et al. (2012) ela pode ser classificada como primária ou
secundária, mas nos dois casos, o resultado final é uma osteodistrofia, sendo esta considerada
uma doença que depende tanto da espécie como da idade dos animais atingidos.
O mineral que mais está profuso no corpo do animal é o cálcio, onde 98% estão
disponíveis na composição dos dentes e ossos. Os outros 2% estão presentes nos fluídos
extracelulares e outros tecidos. Ele envolve-se na coagulação sanguínea, na permeabilidade
celular, contração muscular, transmissão de impulsos nervosos, regulação cardíaca, secreção
de certos hormônios e ativação enzimática. A concentração sanguínea de cálcio varia entre 9 e
11mg/dL, mas não é um bom indicador do status de cálcio no organismo, devido ao
mecanismo homeostático de manutenção das concentrações sanguíneas deste mineral
(BERCHIELLI, et al., 2011).
O cálcio tem como função fisiológica a formação dos ossos e do leite, contribuindo
também no mecanismo de coagulação do sangue e na manutenção da excitabilidade
neuromuscular. A definição do cálcio é bem definida na evolução de uma osteodistrofia e nas
falhas da dentição e tetania, entre tanto, ela não é bem definida na relação entre a falta do
elemento e do apetite, na diminuição da taxa de crescimento, no emagrecimento, na
improdutividade e produção de leite reduzida. A indisposição dos animais em se locomover e
no ato de pastoreio, do mesmo modo que as más formações na dentição podem colaborar para
a ocorrência de tais resultados (RADOSTITS, et al., 2012).
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De acordo com Berchielli et al. (2011), as pastagens são tidas como boas procedências
de cálcio, e sua afluência varia em razão da espécie, quantia consumida, maturação,
quantidade de cálcio trocável no solo e do seu clima.
Bovinos jovens em confinamento necessitam de mais cálcio, em virtude de um
potencial de ganho de peso elevado fornecido pela dieta e pelo declínio de concentração de
cálcio nos grãos de cereais (LANA, 2007).
Além das funções importantes e essenciais realizadas pelo cálcio, pode-se fazer uma
relação com a qualidade da carne dos animais, pois durante a quebra das fibras que estão
presentes na carne há liberação de cálcio, o que favorece e proporciona a aceleração do
processo de maciez da carne. Isso se relaciona com o aumento da ação da enzima m-calpaína
que não está ativa em condições post-mortem, pois necessita de altas concentrações de Ca
para ser ativada (BERCHIELLI, et al., 2011).
Embora casos de óbito sejam raros, a doença pode levar a uma perda de função e
lesões dos ossos e das articulações (RADOSTITS, et al., 2012).
A diminuição de cálcio aumenta a permeabilidade de membrana ao sódio e
consequentemente acaba aumentando também a excitabilidade de todos os tecidos excitáveis,
sendo estes os principais sintomas e sinais da hipocalcemia, que em grande parte, decorrem
do aumento da excitabilidade neuromuscular. A sintomatologia que pode acometer e levar a
uma hipocalcemia são a parestesia periférica e perioral, cãibra, e nos casos mais severos, pode
levar a um laringoespasmo e convulsão. Em casos raros, os animais podem apresentar
taquicardia e também fibrilação atrial ou ventricular (PAULA et al., 1980).
Os principais sinais clínicos apresentados em animais adultos são a anorexia,
predisposição a fraturas ósseas, indisposição para elevar-se, parto complicado, baixa na
produção de leite, emagrecimento e fertilidade reduzida (RADOSTITS, et al., 2012).
Os principais sintomas da deficiência de cálcio são o raquitismo em animais jovens e
osteomalácia em animais adultos, queda na produção de leite e tetania ou febre do leite, que
levam a uma perda do controle motor e ocasionalmente se não tratado, a morte (LANA,
2007).
Os sinais clínicos vão mudando conforme o estágio em que a doença se encontra.
Primeiro começam apresentar perda de apetite, letargia e diminuição da temperatura retal.
Passa para um estágio em que a vaca mantém os jarretes retos, mas em pé, e faz oscilação
lateral do corpo, mas quando caminha verifica-se também constipação, tremores musculares
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da cabeça e membros, hiperestesia e agitação do animal. A oscilação lateral evolui para uma
futura incoordenação motora e ataxia. A vaca entra em posição de decúbito lateral e tem
bastante dificuldade para levantar, até não conseguir mais fazê-la. Pode também ficar em
decúbito esternal com curvatura em S no pescoço, avançando para a fase em que a cabeça
repousa sobre o ombro. Frequência cardíaca eleva-se para 90 batimentos/min, pupilas
dilatam-se e o reflexo pupilar diminui ou desaparece totalmente (ANDREWS, et al., 2008).
A concentração sanguínea do cálcio é dependente do consumo do nutriente, da
absorção no intestino, reabsorção de cálcio do tecido ósseo e do filtramento glomerular pelo
rim, onde esses processos são regulados por hormônios. As exigências de cálcio por vacas no
final da gestação e inicio da lactação são variáveis e dependem da produção de colostro e leite
no inicio da lactação, elas são baseadas na quantidade de cálcio absorvido, ou seja, o que é
ofertado na dieta (BERCHIELLI, et al., 2011).
O periparto da vaca leiteira se caracteriza por um período de súbitas mudanças
endócrinas e nutricionais que causam uma redistribuição de nutrientes, este período é
denominado de período de transição que tem a duração de três semanas pré-parto á três
semanas pós-parto. Devido a isso, o animal fica pré-disposto a ocorrência de doenças
metabólicas como deslocamento de abomaso, cetose, retenção de placenta, metrite, laminite e
em especifico a hipocalcemia, a qual é relatada neste trabalho. A definição dessa doença se da
pela vaca caída no momento inicial do pós-parto, onde o animal pode se apresentar alerta,
porém incapacitado de se levantar (CORBELLINI, 1998).
Com o prolongamento da idade, a absorção real de cálcio, decai de 90% para 22% em
comparação á terneiros com até 100 kg de peso corporal e vacas em terço final de lactação.
Em bezerros desmamados é sugerida a quantidade de 68% para absorção verdadeira de cálcio.
As mudanças decorrentes da vida do animal se relacionam com a baixa nos receptores de
vitamina D no Trato Gastrointestinal, que reduzem a capacidade de resposta do hormônio
1,23 di-hidroxivitamina D³. Observa-se que a absorção de cálcio também é controlada por
mecanismo homeostático e não está relacionada com o teor de cálcio oferecido na dieta.
Especialmente com a proporção de Cálcio na dieta em relação à exigência líquida
(BERCHIELLI, et al., 2011).
O aumento na ocorrência é mais comum na sexta parição ou a partir dela, isso se
explica pelo fato em que a condição de cálcio eleva-se a proporção em que a produtividade
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aumenta. Também existe o fato de que a mobilização instantânea de cálcio das reservas (dos
ossos) decai com o aumento da idade (ANDREWS, et al., 2008).
2.2 Material e Métodos
2.2.1 Relato de caso
Para realização deste trabalho foram acompanhados três casos clínicos em municípios
distintos. No primeiro caso, o bovino fêmea da raça Jersey, idade de cinco anos, quatro
parições e peso de 400 kg, e sem ingestão de dieta pré-parto, foi atendido na cidade de Quatro
Irmãos/RS pela parte da manhã, onde na anamnese o proprietário relatou que o animal havia
parido no anoitecer e ao amanhecer não conseguia levantar-se, apresentando-se fraca (Figura
1). Dessa forma realizou-se o exame clínico, onde se observou dispneia, atonia ruminal e
bradpneia. Após o diagnóstico de hipocalcemia foram aplicados 500 mL de cálcio e vitamina
B12, os dois sendo admininistrados por via endovenosa. Com isso tudo, o animal voltou a
ficar em estação, durante a noite retornou ao decúbito, levando assim, a aplicação da
medicação novamente. Porém o animal não resistiu e acabou vindo a óbito no terceiro dia de
tratamento.
Figura 1: Animal altamente debilitado – Fonte: Gritti, C., 2017. Quatro Irmãos/RS.
O segundo caso, o bovino fêmea da raça Holandês/Jersey, com idade de seis anos,
peso de 500 kg, foi atendido na cidade de Charrua/RS, onde na anamnese o proprietário
relatou que o animal estava caído a pelo menos 12 horas pós-parto (Figura 2), não apresentava
retenção de placenta, estava em seu 4º parto, não havia recebido a dieta pré-parto e o colostro
foi retirado logo após o mesmo. No exame clínico observou-se que o animal encontrava-se em
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decúbito esternal, com a cabeça para o lado, caracterizando uma hipocalcemia de 2° estágio
passando para o 3° estágio, aferindo a temperatura retal, foi contastado que o mesmo estava
com 35,3ºC, caracterizando uma hipotermia, sua frequência cardíaca estava próxima ao limite
superior fisiológico (74 bpm), as extremidades estavam frias e apresentava atonia ruminal. O
tratamento administrado no animal consistiu de 500 mL de cálcio por via endovenosa, através
da veia mamária. A administração do cálcio ocorreu de forma lenta (duas a três
gotas/segundo). Realizou-se um intervalo de 12 horas e administrou-se mais 250 mL de cálcio
por via endovenosa.
Figura 2: Animal altamente debilitado – Fonte: Vieda, L. H., 2017. Charrua/RS.
No terceiro caso, o bovino fêmea da raça Holandêsa, idade de seis anos e seis meses,
peso vivo de 500 kg, com quatro parições e sem dieta pré-parto foi atendido na cidade de
Aratiba/RS, onde na anamnese o proprietário relatou que o animal estava caído a um dia pós-
parto e encontrava-se em decúbito esternal, a temperatura retal estava diminuída sendo de
37ºC, o mesmo não estava se alimentando e estava com tremores musculares, o que
demonstra que estava no 2º estágio da doença. O tratamento administrado no animal consistiu
de 1000 mL de complexo de vitaminas e sais minerais, 500 mL de cálcio, 100 mL de DL-
Metionina, Cloreto de Colina, Nicotinamida, Destros, Cloridrato de Tiamina B1 e cloridrato
de piridoxina B6, após a medicação, o animal levantou-se novamente demostrando melhora e
não houve recaídas.
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2.3 Resultados e Discussão
2.3.1 Raças e idade predisponentes
Segundo Andrews et al., (2008), uma das raças mais predisponentes a hipocalcemia é
a Jersey, devido a sua alta produção relacionada a seu pequeno porte. Nessa raça há uma
predisposição genética à ocorrência da doença. De acordo com Oliveira (2006), a Jersey
mesmo produzindo uma quantidade menor de leite do que a Holandês, é mais acometida pela
febre do leite, nos casos relatados, as raças que tiveram mais predisposição foram Jersey e
Holandês, quanto à idade, percebe-se que o aumento na ocorrência é mais comum a partir do
sexto parto.
Segundo Oliveira (2006) vacas com idade entre cinco e dez anos, idade as quais os
animais descritos apresentavam, são mais pré-dispostas a ter febre do leite, pelo fato de
possuírem menor capacidade de utilizar o cálcio dos ossos, assim como menor absorção de
cálcio intestinal nessa faixa de idade. Acomete mais em bovinos que estejam entre a terceira e
a sétima parição.
De acordo com Oliveira (2006), alguns bovinos criados sob pastejo não recebem
adicionalmente minerais em quantidade e taxas suficientes para atender suas necessidades de
manutenção (mantença) e produção. Fator esse que faz com que os animais dependam
exclusivamente da pastagem para o fornecimento desses minerais. As concentrações nas
plantas forrageiras são variáveis, pois dependem de seu tipo, da época do ano, quantidade de
mineral no solo e suas condições.
O excesso da ingestão de fósforo na alimentação pode alterar a quantidade de cálcio
em relação ao fósforo. O excesso de fósforo é um dos fatores que mais prédispõem a febre do
leite. As altas taxas do mesmo no sangue do animal diminuem a absorção de cálcio no
intestino, os animais dos casos eram alimentados em pastejo e não recebiam uma ração
balanceada, e também não receberam a dieta pré-parto, que visa dar um melhor suporte para
evitar a hipocalcemia (OLIVEIRA, 2006).
2.3.2 Transmissão hereditária
Alguns autores relatam que a transmissão hereditária da hipocalcemia é insignificante
e que gira em torno de 6 a 12%, já outros relatam que a herdabilidade gira em torno de 20,4%
(SAUER, 2005).
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2.3.3 Sinais clínicos
Os sinais clínicos da hipocalcemia e que foram observados durante o acompanhamento
dos casos clínicos são divididos em três estágios. Cada sinal clínico é descrito em uma fase
(EDDY, 1999).
2.3.3.1 Primeiro estágio
Nesta fase normalmente o animal ainda está em estação, resistindo em mover-se, com
a alimentação diminuída. Há excitação, tetania, tremores de cabeça e membros, ranger de
dentes, protusão da língua, e rigidez de membros posteriores. A temperatura retal do animal
está normal ou levemente aumentada (SAUER, 2005).
Muitos veterinários inspecionam uma prévia antes do primeiro estágio, onde o animal
apresenta anorexia, agalactia, estase ruminal, redução do volume fecal, mas sem alteração
respiratória, cardíaca e da temperatura retal. Respondem rapidamente a administração de
doses de cálcio, mas se não tratados após uma hora evoluem para o segundo estágio. Somente
10% dos casos são diagnosticados nesta fase, o que corresponde a minoria dos casos que
ocorrem (RADOSTITS, 2002).
2.3.3.2 Segundo estágio
Nesta fase o animal adota uma postura de decúbito esternal, não tendo mais a
capacidade de levantar-se. Encontra-se muito deprimido, há redução da tetania, sonolência.
Pode apresentar a cabeça dobrada para o lado ou o pescoço esticado com a cabeça no chão,
protusão da língua, apreensão e medo, paralisia ruminal, podendo haver constipação. Pode
estar com a temperatura retal diminuída (36º a 38ºC), diminuição das bulhas e da frequência
cardíaca, redução da pressão e amplitude do pulso, mas sem nenhuma alteração respiratória.
Focinho e olhos secos, pele e extremidades frias e pupilas dilatadas também são
características desta fase. Cerca de 70% dos animais são diagnosticados neste estágio e são a
maioria, tendo grande importância de serem diagnosticados nesta fase, o que se não ocorrer
pode levar a morte (SAUER, 2005).
2.3.3.3 Terceiro estágio
O animal já adota o decúbito lateral, acentuada flacidez muscular oque impede a
posição esternal e favorece o aparecimento de timpanismo. Hipotermia, pulso quase sutil, e as
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bulhas dificilmente detectadas, pupilas dilatadas e ausência de reflexo pupilar a luz (SAUER,
2005).
Se não for tratado, em torno de três a quatro horas virá a óbito por paralisia de
musculatura respiratória e cardíaca. O óbito pode ocorrer também por afogamento já que
muitos animais caem durante a fase de incoordenação. Tratamento indispensável, mas
dificilmente regride a evolução do caso (RADOSTITS, 2002).
2.3.4 Tratamento
De acordo com estudos feitos por Azevedo (2013), como forma de tratamento do
animal afetado, recomenda- se a administração de até um litro de cálcio pela via endovenosa,
e parte desta quantidade deve ser administrada pela via subcutânea. Este tratamento pode ser
repetido em função da persistência de alguns sintomas.
O tratamento padrão para hipocalcemia é a administração por via intravenosa de
borogliconato de cálcio na dose de 400 a 800 ml de solução a 25%, lembrando que doses
elevadas de cálcio podem provocar efeitos tóxicos sobre o sistema cardiovascular como
arritmias cardíacas, que podem ser observadas quando a velocidade da aplicação das soluções
de sais de cálcio é alta, para os casos relatados, foram aplicados 500 ml de cálcio através da
via intravenosa (AROEIRA, 1998). Considerando assim que os veterinários responsáveis
pelos casos tiveram uma ótima conduta terapêutica, utilizando a dose e a via de administração
correta em que o cálcio deve ser aplicado.
O uso de vitamida D tem como função estimular a absorção de cálcio e fósforo no
intestino, bem como, estimular a utilização de cálcio dos ossos pelo organismo, tendo assim a
consequência de aumentar a concentração desses sais no sangue, se destacando assim, como
uma forma de tratamento e prevenção da hipocalcemia (OLIVEIRA, 2006).
Sauer (2005) cita que o sucesso do tratamento está diretamente relacionado com a
rapidez com que os animais são atendidos. Outros pontos relevantes são a duração da doença
e em que posição o animal se encontra durante o tratamento, onde vacas que permaneceram
em pé não vieram a óbito e nenhum decúbito após o tratamento. No primeiro caso relatado o
animal não levantou e acabou vindo a óbito no terceiro dia de tratamento.
Geralmente a maioria dos animais respondem bem ao tratamento a base de cálcio e os
resultados podem ser rapidamente observados, entre eles pode-se citar eructação, tremores
musculares, defecação, melhora do pulso (amplitude e pressão), aumento das bulhas cardíacas
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e sudorese no focinho, sinais estes observados no segundo e terceiro caso relatado, onde se
obteve sucesso no tratamento (SAUER, 2005).
2.3.5 Prevenção
De acordo com Cozzati (2007), a prevenção da hipocalcemia esta baseada em um
bom manejo nutricional no pré-parto. Assim, a bovinocultura de leite vem utilizando o
balanço catiônico aniônico de dietas, com o intuito de prevenir a incidência de distúrbios
metabólicos, principalmente a febre do leite, e consequentemente aumentar a produção de
leite e produtividade da propriedade. Dessa forma os produtores atendidos foram orientados a
praticarem uma boa nutrição para cada fase em que o animal se encontra, tendo em conta que
essas não eram realizadas.
2.3.6 Diagnóstico diferencial
De acordo com Sauer (2005), as principais doenças que podem ser equivocadas na
hora de fechar o diagnóstico são a hipofosfatemia, que ocorre normalmente associada à
hipocalcemia, quando o tratamento da hipocalcemia falha ou ocorre um decúbito repentino.
Hipomagnesemia, onde acomete animais de todas as idades podendo apresentar baixo teor de
magnésio no plasma e vacas em gestação e lactação podem apresentar em qualquer fase,
podendo ocorrer em conjunto com a hipocalcemia ou isolada, e neste caso leva ao decúbito,
mas ocorre uma maior tetania, hiperestesia, taquicardia, bulhas cardíacas e convulsões.
Cetose, tendo maior ocorrência em vacas com escore corporal elevado, assim como a
hipocalcemia. Casos simultâneos de cetose e hipocalcemia podem acontecer, e quando
existentes o animal responde ao tratamento com cálcio e adota a posição de estação e mantém
os sinais clínicos da cetose, como por exemplo andar em círculos, lambedura e vocalização.
Toxemia, onde ocorrem casos decorrentes de mastites ambientais, peritonites, metrites, que
levam ao decúbito. Também há elevação da frequência cardíaca e respiratória, temperatura
corporal e saída de secreções por um ou mais tetos e por fim a Síndrome da vaca caída que se
diferencia pela aplicação de cálcio e pela aferição de duas enzimas importantes, a creatina
fosfoquinase (CK) e a aspartato aminotransferase (AST) (SAUER, 2005).
2.3.7 Achados de necropsia
Não é identificada nenhuma alteração microscópica e macroscópica quando se trata
apenas de hipocalcemia, a menos que esteja ligada a alguma patologia, em casos de
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hemorragia, são encontrados alterações quando há hipomagnesemia, contusões e fraturas em
caso de decúbito e/ou quedas (SAUER, 2005).
3 CONCLUSÃO
Com o presente trabalho foi possível verificar que a hipocalcemia é uma doença que
atinge diversas propriedades onde na maioria das vezes não é levada em consideração os
prejuízos que a mesma causa, sendo que a bovinocultura leiteira se caracteriza pela obtenção
de lucros e depende disso para manter sua viabilidade. Assim concluímos que a hipocalcemia
é uma doença de fácil diagnóstico, tratamento e prevenção, dessa forma um bom manejo no
pré-parto é essencial e pode evitar perdas significativas na propriedade.
REFERÊNCIAS
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e criação de Bovinos. São Paulo/SP, Roca, 2008.
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20 1998.
AZEVEDO, H. C.; OLIVEIRA, A.A.; DANTAS, T.V.M.; Hipocalcemia ou febre do leite:
um problema recorrente em vacas leiteiras. www.agrolink.com.br; 2013.
BERCHIELLI, Telma Teresinha; PIRES, Alexandre Vaz; Oliveira, Simone Gisele de.
Nutrição de ruminantes. 2º Edição. Jaboticabal: Funep, 2011.
CORBELLINI C.N.; Etiopatogenia e controle de hipocalcemia e hipomagnesemia em
vacas leiteiras. Editora UFRGS. Porto Alegre, RS. Brasil. 1998).
COZZATI C. A. Hipoclacemia: Aspectos relevantes. Faculdade de Ciimcias Biologicas e de
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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Getúlio Vargas – RS – Brasil 13
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO
EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI
FACULDADES IDEAU
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