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SANDRA KISS MOURA
ESTUDO DA MORFOLOGIA DA INTERFACE DE UNIÃO EM
DIFERENTES REGIÕES DE UMA CAVIDADE MOD
São Paulo2003
Sandra Kiss Moura
Estudo da morfologia da interface de união em diferentes
regiões de uma cavidade MOD
Dissertação apresentada à Faculdade de
Odontologia da Universidade de São Paulo para
obter o título de Mestre, pelo Programa de Pós-
graduação em Odontologia.
Área de Concentração: Materiais Dentários
Orientador: Prof. Dr.Rafael Yagüe Ballester
São Paulo2003
FOLHA DE APROVAÇÃO
Moura SK. Estudo da morfologia da interface de união em diferentes regiões de umacavidade MOD [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP;2003.
São Paulo, 12/06/2003
Banca Examinadora
1) Prof(a). Dr(a).____________________________________________________
Titulação: _________________________________________________________
Julgamento: __________________ Assinatura:___________________________
2) Prof(a). Dr(a).____________________________________________________
Titulação: _________________________________________________________
Julgamento: __________________ Assinatura:___________________________
3) Prof(a). Dr(a).____________________________________________________
Titulação: _________________________________________________________
Julgamento: __________________ Assinatura:___________________________
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho
Aos meus pais, Esmeraldino e Marlene; aos meus irmãos, Haroldo e Celso,
pelo amor incondicional e por partilharem comigo de mais esta conquista.
Obrigada por sua existência e por sua presença em minha vida.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
A Deus pela benção da vida.
Ao Prof. Dr. Rafael Yagüe Ballester pela atenção e disponibilidade
constantes, pela maneira segura e ao mesmo tempo amiga de ensinar. Sua ajuda
foi fundamental para a realização deste trabalho. Você merece todo o meu
respeito e admiração!
Ao Prof. Dr. José Fortunato Ferreira Santos pela confiança em mim
depositada para a realização deste trabalho.
À Profa. Dra Rosa Helena Miranda Grande, coordenadora do Programa de
Pós-Graduação em Materiais Dentários, por todo o apoio.
Ao Prof. Dr. Mario Fernando de Goes pelos esclarecimentos prestados
sobre a metodologia do trabalho. Com você também aprendi, através da disciplina
de Compósitos, o verdadeiro significado do que é fazer ciência.
AGRADECIMENTOS
À Fundação para o Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo apoio
financeiro.
Aos demais professores do Departamento de Materiais Dentários da
FOUSP pelo aprendizado.
Aos funcionários Rosa Cristina, Márcia, Antônio e Sílvio por atenderem
prontamente a todas as minhas solicitações, sempre com boa vontade.
A Paulo Eduardo Ferreira Santos pelas ilustrações.
Ao Serviço de Documentação Odontológica da FOUSP pela revisão e
formatação do texto.
Ao Laboratório de Microscopia Eletrônica de Varredura e Microanálise, do
Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo, pelas micrografias eletrônicas.
À Eliane Plácido e Andréa Urbano Tavares pela amizade que tanto prezo e
que se fortalece a cada dia. À Letícia Jacques, André Mallmann e demais colegas
do curso de Pós-Graduação pela convivência.
“Ao amanhecer... Dia novo, oportunidade renovada. Cada amanhecer representa
divina concessão, que não podes nem deves desconsiderar. Mantém, portanto, atitude
positiva em relação aos acontecimentos que devem ser enfrentados, otimismo diante das
ocorrências que surgirão. Cada amanhecer é um convite sereno à conquista de valores
que parecem inalcançáveis. Não te aflijas ante o volume de coisas e problemas que tens
pela frente. Dirige cada ação à sua finalidade específica. Não tragas do dia precedente o
resumo das desditas e dos aborrecimentos. Amanhecendo, começa o teu dia com alegria
renovada e sem passado negativo, enriquecido pelas experiências que te constituirão
recurso valioso para a vitória que buscas.”
Divaldo P. Franco
Moura SK. Estudo da morfologia da interface de união em diferentes regiões de umacavidade MOD [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia daUSP; 2003.
RESUMO
Esmalte e dentina são substratos dentários simultaneamente presentes na maioria
das cavidades preparadas para restaurações adesivas, mas não há estudos sobre a
morfologia regional das interfaces de união em uma mesma cavidade. Adesivos
autocondicionantes incorporam a smear layer na camada híbrida e,
conseqüentemente, as bactérias que porventura estejam presentes nela.
Recentemente surgiu um adesivo autocondicionante com propriedades
antibacterianas, conferidas pela adição de MDPB ao primer, mas ainda há poucas
pesquisas sobre a morfologia da interface de união produzida por este material. Este
estudo teve por objetivo analisar a morfologia de interfaces de união em diferentes
regiões de cavidades MOD, através de microscopia eletrônica de varredura - MEV,
em casos com adesivos autocondicionantes com ou sem MDPB. Como controle,
foram usados dois adesivos de frasco único, cuja morfologia está amplamente
descrita na literatura. Foram preparadas dezesseis cavidades Classe II em terceiros
molares humanos hígidos, que foram restauradas com Z250 e um dos seguintes
sistemas adesivos, aplicados segundo instruções dos fabricantes: ABF, Clearfil SE
Bond, Single Bond e Prime & Bond NT. Após vinte e quatro horas de
armazenamento em água destilada a 37ºC, os dentes restaurados foram
seccionados em três planos de corte e preparados para análise em MEV, segundo o
protocolo descrito por Montes et al. (2001). Também foram preparadas réplicas dos
espécimes em resina epóxica. A morfologia das interfaces de união apresentou
diferenças dependendo da região observada e também do tipo de sistema adesivo.
A presença de MDPB não alterou a morfologia da interface de união dos adesivos
autocondicionantes. A morfologia das interfaces de união em esmalte revelou
perfeita adaptação ao substrato para todos os produtos estudados.
Palavras-Chave: Adesão; adesivos dentários, MEV, cavidade.
Moura SK. A morphological study of the bonding interface in different areas of MODcavities [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP;2003.
ABSTRACT
Enamel and dentin are dental substrates simultaneously present in most cavity
preparations for bonded restorations. Yet, no study can be found regarding the
regional morphology of bonding interfaces present in a same cavity. Self-etching
adhesive systems incorporate the smear layer into the formed hybrid layer, and
consequently bacteria that might be present. Recently a self-etching system with
antibacterial properties provided by the addition of MDPB was introduced in the
market, but there is still little research on the interfacial morphology obtained with this
material. This study aimed at analyzing the interfacial morphology in different areas
of MOD cavities prepared using adhesive systems either with or without MDPB, by
means of Scanning Electron Microscopy – SEM. Two single bottle adhesive systems
whose morphology is widely described in the literature were used as control groups.
Sixteen class II cavities were cut in sound human molars and restores using Z250
resin composite and one of the following adhesive systems, applied strictly according
to the manufacturers’ instructions: ABF, Clearfil SE Bond, Single Bond and Prime &
Bond NT. After 24-hour storage in distilled water at 37ºC, the teeth were sectioned in
three directions and prepared for SEM analysis according to the protocol described
by Montes et al. (2001). Replicas were also obtained from each specimen using
epoxy resin. The interfacial morphology showed differences depending on the
observed area, and also on the adhesive system. The presence of MDPB did not
alter the interfacial morphology of the bonded interfaces obtained with self-etching
adhesive systems. Bonded interfaces in enamel revealed perfect adaptation for all
studied materials.
Key-words: Adhesion, adhesive systems, SEM, cavity
LISTA DE FIGURAS
Figura 4.1 - Dispositivo utilizado na etapa restauradora: A- partes do dispositivo edentes de resina; B- dispositivo montado e preparado para receber ocorpo de prova; C- corpo de prova posicionado no dispositivo..............43
Figura 4.2 - Desenhos dos fragmentos obtidos após o corte. A- plano paralelo aoeixo longitudinal do dente, em direção mésio-distal, após o primeirocorte; B- plano paralelo ao eixo longitudinal do dente, em direçãovestíbulo-lingual, após o segundo corte; C- plano transversal ao eixolongitudinal do dente, na altura do terço médio, após o terceiro corte.44
Figura 5.1 - Prime & Bond NT. Interface dentina/resina; parede pulpar. A- vistageral da interface de união (800x); B- A seta grossa aponta para oprolongamento de resina com formato de cone invertido e a seta finaaponta para a ramificação lateral (5000x); C- A seta aponta para acamada híbrida (3500x); D- A seta aponta para filamentos (15000x); E-A seta aponta para o espaço anteriormente ocupado por dentinaperitubular (2500x); F- A seta aponta para o espaço anteriormenteocupado por dentina peritubular (5000x). ..................................................49
Figura 5.2 - Single Bond. Interface dentina/resina; parede pulpar. A- As barrasdelimitam a camada híbrida, com espessura aproximada de 1,1 a2,5µm (5000x); B- A seta aponta para a presença de filamentos(15000x); C- Adaptação das interfaces resina e adesivo, adesivo ecamada híbrida, camada híbrida e dentina (2500x); D- As barrasdelimitam a camada híbrida, com espessura aproximada de 4µm(5000x).............................................................................................................50
Figura 5.3 - Clearfil SE Bond. Interface dentina/resina; parede pulpar. A- A setaaponta para o prolongamento de resina (2500x); B- As setas delimitama camada híbrida, com espessura aproximada de 0,6µm; as barrasdelimitam a camada híbrida mais smear layer modificado, comespessura aproximada de 1,6µm (6500x)..................................................51
Figura 5.4 - ABF Experimental. Interface dentina/resina; parede pulpar. A- Fendana smear layer modificada (seta curta); camada híbrida em destaquena seta maior (2500x); B- Fenda na smear layer modificada (5000x); C-Destaque para o prolongamento de resina (2500x).................................51
Figura 5.5 - Prime & Bond NT. Interface dentina/resina; parede axial. A- As barrasdelimitam a fenda entre adesivo e camada híbrida; a seta aponta oprolongamento de resina (2500x); B- A seta aponta para um filamentocom espessura aproximada de 0,2µm (15000x).......................................52
Figura 5.6 - Single Bond. Interface dentina/resina; parede axial. As setas apontamos prolongamentos de resina. A- Single Bond (2500x); B- Clearfil SEBond (2500x). .................................................................................................52
Figura 5.7 - ABF Experimental. Interface dentina/resina; parede axial. A- A setaescura aponta para a fenda entre resina composta e adesivo; as barrasdelimitam a camada de adesivo com espessura aproximada de 10µm;as setas brancas delimitam camada híbrida com espessuraaproximada de 1,3 a 2,6µm (2500x); B- A seta aponta para oprolongamento de resina (6500x)................................................................53
Figura 5.8 - Prime & Bond NT. Interface dentina/resina; diedro áxio-pulpar. A- Aseta aponta para a fenda (800x); B- Ampliação de A, as setasdelimitam camada híbrida com espessura aproximada de 1,42µminferior ao valor de 4µm descrito na literatura para este adesivo; indíciode rompimento da interface de união na camada híbrida (10000x); B- Aseta aponta para fenda observada na réplica de resina epóxica(1500x).............................................................................................................53
Figura 5.9 - Interface dentina/resina; diedro áxio-pulpar. A- Single Bond. As barrasdelimitam camada híbrida com espessura aproximada de 6µm; a setaaponta para o prolongamento de resina (2500x); B- Clearfil SE Bond. Aseta aponta para o prolongamento de resina. Logo acima, fenda(2500x); C- A seta aponta camada híbrida fina e fenda logo acima dela(2500x).............................................................................................................54
Figura 5.10 - ABF Experimental. Interface dentina/resina; diedro áxio-pulpar. A- Assetas da esquerda delimitam camada híbrida com espessuraaproximada de 0,6µm; as setas da direita delimitam camada híbrida esmear layer modificado, com espessura aproximada de 2µm e fenda(2500x); B- A seta aponta para a fenda no diedro(1000x)....................................................................................................54
Figura 5.11 - Prime & Bond NT. Interface dentina/resina; diedro áxio-pulpar. A- Aseta aponta para o prolongamento de resina; as barras delimitamcamada híbrida com espessura aproximada de 5µm(3500x)....................................................................................................55
Figura 5.12 - Single Bond. Interface dentina/resina; diedro áxio-gengival. A- A setaaponta o prolongamento de resina (2500x); B- A seta aponta o acúmuloda camada de adesivo com espessura aproximada de 50µm (800x); C-A seta aponta o prolongamento de resina e filamento(15000x)...................................................................................................55
Figura 5.13 - Interface dentina/resina; parede gengival. (A,B,C) Prime & Bond NT.A- As setas delimitam camada híbrida com espessura aproximada de3,5µm e acima o deslocamento entre camada híbrida e adesivo. Asbarras delimitam o acúmulo de adesivo. A seta única aponta umprolongamento de resina (2500x); B- A seta aponta um prolongamentode resina (2500x); C- Réplica de resina epóxica com fenda (800x);(D,E,F) Single Bond. D- 2500x e E- 5000x, túbulos dentinários comorientação paralela à superfície e ausência de prolongamentos deresina; F- 3500x a seta aponta túbulos dentinários em direção oblíquae presença de prolongamento de resina. Predomina camada híbrida naparede gengival....................................................................................56
Figura 5.14 - Interface dentina/resina; diedro áxio-gengival. A- Clearfil SE Bond. Aseta aponta camada híbrida com espessura variando de 4 a 6µm efenda acima (2500x); B- ABF Experimental. A seta única aponta oacúmulo de adesivo com espessura variando entre 6 e 13µm; as setasdelimitam camada híbrida e smear layer modificado com espessuraaproximada de 1,9µm (2500x).............................................................57
Figura 5.15 - Interface dentina/resina; parede gengival (2500x). A e B - Clearfil SEBond. A- A seta aponta a fenda acima da camada híbrida; B-as setasdelimitam camada híbrida e smear layer modificado. C e D – ABFExperimental. C- a seta aponta o prolongamento de resina; D- as setasdelimitam a camada híbrida e esfregaço; as barras delimitam oacúmulo de .........................................................................................57
Figura 5.16 - Interação esmalte/resina (2500x); superfície tratada com H3PO4 a37%. A- Prime & Bond NT. A seta aponta o prolongamento de resina;as barras delimitam a interface de união; B- Single Bond. A seta apontao prolongamento de resina; as barras delimitam a interface de união;C- Clearfil SE Bond. A seta grossa aponta a camada híbrida; a setapequena aponta o prolongamento de resina pouco definido; D- ABFExperimental. A seta grossa aponta a camada híbrida mais fina que a
do Clearfil SE Bond; a seta fina aponta o prolongamento resinosopouco definido......................................................................................58
Figura 5.17 - Adaptação esmalte/resina (3500x); superfície tratada com H3PO4 a50%. A- Prime & Bond NT; B- Single Bond; C- Clearfil SE Bond; D-ABF Experimental................................................................................59
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABF Antibacterial / Fluoride releasing Bonding System
Bis-GMA Bisfenol A diglicidilmetacrilato
CQ Canforoquinona
CSE Clearfil SE Bond
FDA Food and Drug Administration
EC-MEV Microscopia de fluorescência confocal de varredura a laser
GPDM Dimetacrilato de ácido glicerofosfórico
HEMA Hidroxietil metacrilato
JAD Junção amelodentinária
MDP 10 dihidrogeno metacriloiloxidecil fostato
MDPB Brometo de 12 metacriloiloxiduocecil piridina
MET Microscopia eletrônica de transmissão
MEV Microscopia eletrônica de varredura
PAA Copolímero de ácido poli-acrílico e poli-itacônico
PBNT Prime & Bond NT
PENTA Monofostato Dedipentaeritritol pentacrilato
SB Single Bond
SEM Scanning Electron Microscopy -
SUMÁRIO
p.
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................19
2 REVISÃO DA LITERATURA.............................................................................................22
2.1 Adesão ..............................................................................................................................23
2.2 Estrutura do esmalte e fundamentos da união...........................................................24
2.3 Estrutura da dentina e fundamentos da união............................................................27
2.4 Sistemas adesivos 30
2.5 Estudo da interface de união 33
3 PROPOSIÇÃO....................................................................................................................40
4 MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................................41
5 RESULTADOS....................................................................................................................46
6 DISCUSSÃO........................................................................................................................60
7 CONCLUSÕES...................................................................................................................67
REFERÊNCIAS......................................................................................................................69
Moura SK. Estudo da morfologia da interface de união em diferentes regiões de umacavidade MOD [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia daUSP; 2003.
ERRATA
Folha Linha Onde se lê Leia-se
44 19 As fatias...3 seg Metade das fatias...3 seg e a outra
metade com ácido fosfórico
a 50% durante 3 segundos
47 23 Figura 5.16 Figura 5.17
48 2 Figura 5.17 Figura 5.16
48 4 Figura 5.17 Figura 5.16
1 INTRODUÇÃO
A morfologia da interface resina/dentina e a resistência de união à dentina
sofrem influência de variáveis inerentes a este substrato, tais como umidade
(PASHLEY, 1991; PRATI et al., 1998), profundidade (BELTRÃO et al., 1999),
direção dos túbulos dentinários (CARVALHO et al., 1999), presença de dentina
esclerótica (PERDIGÃO et al., 1994) ou cariada (NAKAJIMA et al., 1995).
Schupbach, Krejci e Felix (1997) observaram que a morfologia da camada híbrida é
diferente nas regiões onde os túbulos dentinários apresentam localização
perpendicular ou paralela à superfície. Além da diferença na morfologia da interface
dentina/resina. Ogata et al. (2001) reportaram maior resistência de união nas regiões
em que os túbulos dentinários localizavam-se paralelamente à superfície.
Curiosamente, apesar da influência da variabilidade do substrato na morfologia e na
resistência de união à dentina, não há estudos sobre a morfologia regional da
interface de união em uma mesma cavidade.
A união entre dentina e resina é estabelecida mediante a penetração do
primer e adesivo na dentina desmineralizada, para formar a camada híbrida,
estrutura normalmente aceita como responsável pela união a este substrato
(NAKABAYASHI; KOJIMA; MASUHARA, 1992). A camada híbrida pode ser
produzida mediante diferentes técnicas adesivas. Existem sistemas em que primer e
adesivo são apresentados em um único frasco (KANCA, 1997; VARGAS; COBB;
20
DENEHY, 1997) e aplicados após o condicionamento do substrato dentário com
ácido fosfórico em concentração próxima a 37%, que remove totalmente a smear
layer e desmineraliza superficialmente a dentina. Existem também os adesivos
autocondicionantes, em que uma única substância que desempenha as funções de
ácido e primer é aplicada em apenas uma etapa (PRATI et al., 1998). Nestes
sistemas, a hibridização ocorre sem a remoção da smear layer, que fica incorporada
à camada híbrida (NAKABAYASHI; SAIMI, 1996; YOSHIYAMA et al., 1998).
Nos sistemas de frasco único, o controle da umidade do substrato é um dos
pontos críticos para obter união à dentina. O ácido deve ser removido por lavagem, e
o excesso de água por uma secagem tal que não desidrate a dentina, pois a falta de
água acarretaria o colapso das fibrilas de colágeno, comprometendo a penetração
do sistema adesivo (HANNIG; FRIEDRICHS, 2001), e o excesso de água diluiria de
modo inconveniente os monômeros (NAKABAYASHI; PASHLEY, 1998).
Os adesivos autocondicionantes simplificaram a técnica restauradora pela
diminuição de uma etapa. Porém, a principal vantagem deste sistema é a menor
dificuldade para o controle da umidade do substrato, pois o condicionamento ácido é
realizado simultaneamente à aplicação do primer. Além do mais, elimina-se um outro
inconveniente dos adesivos de frasco único, que é a eventual discrepância entre a
profundidade de substrato desmineralizado e a real penetração dos monômeros
(SANO et al., 1994). Esta discrepância pode conduzir a regiões em que a malha de
colágeno desmineralizada não chegue a ser hibridizada e, por conseguinte, fique
enfraquecida mecanicamente, além de se tornar mais permeável à infiltração
(GORACCI, 1998).
Como os adesivos autocondicionantes não removem a smear layer; levantou-
se o questionamento em relação à eventual presença e atividade de bactérias
21
remanescentes nesta camada. Apareceu então a proposta de incorporar um
monômero antibacteriano, brometo de metacriloiloxiduocecil piridina – MDPB, ao
primer de um adesivo autocondicionante experimental, denominado ABF (IMAZATO
et al., 1999; KAWASHIMA et al., 2002). O MDPB é um composto de amônia
quaternária com função de agente antibacteriano, associado a um grupo metacrilato.
O agente antibacteriano é co-polimerizado com outros monômeros presentes no
sistema adesivo, de modo que permanece imobilizado na matriz polimérica. Seu
efeito antibacteriano ocorre antes da polimerização e também após a polimerização,
dificultando o crescimento bacteriano sobre as regiões em que é aplicado. Segundo
Imazato et al. (1997), este material apresentou efeito inibitório do crescimento de
Streptococcus. Existe controvérsia sobre se a permanência de bactérias residuais
em cavidades é ou não nociva, e em que grau seria inconveniente, mas há
pesquisadores que consideram a atividade antibacteriana como uma propriedade
importante dos adesivos autocondicionantes (IMAZATO et al., 1999).
Esmalte e dentina estão justapostos em muitas situações clínicas, mas não
há estudos sobre a morfologia regional das interfaces de união em diferentes
regiões da cavidade preparada. Além do mais, há poucos estudos sobre o
desempenho do adesivo autocondicionante com MDPB (PERDIGÃO; LOPES;
GERALDELLI, 2001; DARONCH et al., 2003). Em vista disso, pareceu oportuno
analisar a micromorfologia da interface de união em diferentes regiões da cavidade
preparada, em casos com adesivos autocondicionantes, com ou sem MDPB, e
também com adesivos de frasco único.
2 REVISÃO DA LITERATURA
A pesquisa sobre os adesivos dentinários teve início em 1949, quando Oscar
Hagger desenvolveu o dimetacrilato de ácido glicerofosfórico – GPDM
(NAKABAYASHI; PASHLEY, 1998), que foi comercializado num produto
denominado Sevriton Cavity Seal, juntamente com uma resina composta de ativação
química denominada Sevriton. O sistema mostrou capacidade de promover a união
da resina acrílica ao dente. Posteriormente, em 1952, Kramer e McLean analisaram
a interface de união da dentina tratada com este produto em microscopia óptica e
observaram a difusão do monômero na dentina, utilizando hematoxilina-eosina. Esta
foi a primeira descrição de interação entre material restaurador e a dentina.
Em 1955, Buonocore mostrou que a utilização de ácido fosfórico a 85% para
o condicionamento ácido do esmalte aumentava a energia livre de superfície e o
tornava mais eficiente para a adesão. A primeira aplicação clínica do
condicionamento ácido do esmalte foi dada para a aplicação de selantes
(PERDIGÃO; RITTER, 2001). O sucesso obtido com o condicionamento ácido do
esmalte fez com que o mesmo procedimento fosse tentado em dentina. Mas o
condicionamento da dentina com ácido naquela concentração não obteve sucesso,
pois os monômeros disponíveis naquela época eram hidrófobos e não produziam
molhamento adequado do substrato.
23
Em 1979, Fusayama et al. propuseram a simplificação da técnica adesiva
através do condicionamento ácido simultâneo do esmalte e da dentina, com ácido
fosfórico a 40%. Os autores concluíram que o procedimento tinha produzido bom
condicionamento do esmalte.
Em muitas situações clínicas, as paredes de cavidades preparadas em
dentina encontram-se em contigüidade com paredes de esmalte, exigindo a
formação simultânea de interfaces de união sobre substratos diferentes. O
conhecimento das características peculiares de cada substrato e do material
restaurador são de primordial importância para a compreensão dos mecanismos de
união dente/material restaurador. O desafio para o cirurgião-dentista será o de
preparar e manter uma superfície em ambos os substratos, de modo que a aplicação
do adesivo garanta a união efetiva e a longevidade da restauração.
2.1 Adesão
Quando duas substâncias são colocadas em íntimo contato, aparecem forças
de atração entre elas (ANUSAVICE, 1996). Segundo Blunck (2000), a adesão pode
ser definida como a união entre duas estruturas diferentes, quando estas são
colocadas em íntimo contato. Para obter união entre dois sólidos, é aplicada uma
camada de adesivo entre ambos, no intuito de preencher as irregularidades das
superfícies e permitir o íntimo contato através deste “terceiro corpo”.
A molhabilidade de um substrato consiste na sua capacidade de interagir com
líquidos, para estabelecer íntimo contato com eles. O molhamento de uma superfície
24
por um líquido é geralmente caracterizado através da medida do ângulo de contato
entre uma gota do líquido e a superfície do sólido: quanto mais o líquido se espalhar
pela superfície, mais próximo de zero será o ângulo de contato e melhor será o
molhamento. O ângulo de contato será influenciado pela diferença entre a tensão
superficial do adesivo e a energia de superfície do substrato. Em 2001, Perdigão e
Ritter mostraram que a contaminação do substrato por fluidos como a saliva
diminuía a energia de superfície e comprometia a molhabilidade. Os autores também
esclareceram que, para obter um íntimo contato entre o substrato e o adesivo, a
tensão superficial do adesivo deveria ser menor que a energia de superfície do
substrato, de modo que o ângulo de contato fosse o mais próximo possível de zero e
favorecesse o molhamento da superfície.
Esmalte e dentina são substratos muito diferentes um do outro. Os protocolos
de adesão estabelecidos para cada um deles, em função de suas características,
serão descritos a seguir.
2.2 Estrutura do esmalte e fundamentos da união
Segundo Ten Cate (1988) o esmalte é o tecido mais mineralizado do corpo
humano, constituído em peso por aproximadamente 96% de mineral, 4% de material
orgânico e água. A maior parte do volume do esmalte é composta por cristais de
hidroxiapatita dispostos num padrão altamente organizado, permeados por uma fina
rede de material orgânico.
25
O prisma é a maior unidade do esmalte e se dispõe mais ou menos
perpendicularmente à superfície externa do esmalte. Os prismas são formados por
muitos cristalitos alongados que apresentam disposição paralela ou perpendicular ao
longo eixo do prisma. O produto final dos ameloblastos é uma camada de esmalte
aprismáticona qual os cristalitos estão compactados e posicionados paralelamente
entre si, com espessura variável (10 a 100µm).
Ikeda et al. (2002) observaram que a orientação dos prismas poderia
influenciar a resistência de união ao esmalte: quando a orientação era paralela à
superfície, favorecia-se a formação de microtrincas no esmalte, que se propagavam
pelos espaços interprismáticos, com a conseqüente diminuição dos valores de
resistência à tração.
Segundo Blunck (2000), o esmalte intacto, não tratado, é coberto por película
adquirida e não apresenta superfície retentiva, o que não favorece a adesão.
Nakabayashi e Pashley (1998) descreveram que o condicionamento ácido do
esmalte promove a limpeza, o aumento da rugosidade e da energia de superfície. O
condicionamento do esmalte transforma uma superfície relativamente lisa em outra
irregular, com microporosidades (LOPES et al., 2002) que podem ser preenchidas
por uma resina fluida ou adesivo. A formação de prolongamentos de resina para o
interior das porosidades produzidas pelo condicionamento ácido é o mecanismo
mais aceito para explicar a união dos materiais restauradores resinosos ao esmalte
(NAKABAYASHI; PASHLEY, 1998). Ou seja, a qualidade da união ao esmalte
dependerá das irregularidades superficiais obtidas e da capacidade de penetração
do material resinoso nelas.
O ácido fosfórico provoca desmineralização seletiva nos prismas de esmalte,
que resulta em padrões morfológicos distintos: tipo I – dissolução do centro dos
26
prismas; tipo II – dissolução da periferia dos prismas; tipo III – menos distinto, uma
mistura dos anteriores (PERDIGÃO; RITTER, 2001). Vários fatores podem
influenciar o resultado do condicionamento ácido da estrutura dental. Perdigão et al.
(1996) observaram que a forma de apresentação do ácido fosfórico, em gel ou
solução, influenciava diretamente a profundidade de desmineralização do substrato:
a adição de espessantes como a sílica coloidal, visando facilitar o controle da região
que seria condicionada pelo ácido, diminuía o poder de penetração, e
conseqüentemente a desmineralização ocorria em menor profundidade que a obtida
com a solução de ácido fosfórico. A natureza prismática ou aprismática do esmalte
também interfere no resultado do condicionamento ácido, pois a camada aprismática
produz um padrão de rugosidade superficial menos retentivo (LAMBRECHTS et al.,
2000). O tipo de dentição, decídua ou permanente, determina diferentes arranjos
entre os componentes minerais do esmalte e pode resultar em padrões de
condicionamento diferentes (DARONCH et al., 2003).
Várias concentrações de ácido fosfórico foram propostas. Em 1974,
Silverstone mostrou que a concentração de ácido fosfórico mais eficiente para o
condicionamento do esmalte situava-se entre 30 e 40%, pois nesse caso se formava
um precipitado altamente solúvel em água, denominado fosfato monocálcico
monohidratado, facilmente removido durante a lavagem subseqüente, o que
resultava numa superfície porosa. Por outro lado, concentração inferior a 30%
resultava na formação de grande quantidade de fosfato dicálcico dihidratado, um
precipitado que não era solúvel em água e prejudicava a união, por produzir
porosidades menos eficientes. Num outro extremo, concentração de ácido superior a
40% dissolvia pouco os cristalitos de hidroxiapatita e não produzia um padrão de
dissolução definido e suficientemente poroso (MANSON-RAHEMTULLA; RETIEF;
27
JAMISON, 1984). A maioria dos produtos de ácido fosfórico comercializados
atualmente possui concentração entre 32 e 37% (PERDIGÃO et al.; 1996)
Posteriormente à descoberta da concentração ideal de ácido fosfórico,
Barkmeier, Shaffer e Gwinnett (1986) demonstraram, num estudo de microscopia
eletrônica de varredura, que o tempo de condicionamento ácido de 15 segundos
resultava em um padrão de dissolução similar ao tempo de 60 segundos inicialmente
proposto. Nordenvall, Brannstrom e Malmgren (1980) já haviam encontrado
resultado semelhante em seu estudo, utilizando dentes decíduos e permanentes.
O surgimento dos adesivos autocondicionantes introduziu um novo modo de
condicionamento ácido. Para simplificar a técnica adesiva aplicada à dentina, foi
proposto o uso de substâncias ácidas que incluem monômeros resinosos (INOUE et
al., 1999). Essa substância é aplicada simultaneamente ao esmalte e à dentina e
não requer a lavagem. Estudo in vitro mostrou um padrão de condicionamento ácido
em esmalte diferente do produzido pelo ácido fosfórico, sem contudo comprometer a
qualidade da resistência de união (PERDIGÃO et al., 1997). Os valores de
resistência de união ao esmalte seriam muito próximos aos valores encontrados com
os sistemas adesivos que utilizam o ácido fosfórico numa etapa separada
(PERDIGÃO et al., 1997; GORDAN et al., 1997; BARKMEIER et al., 1995). Mandras
et al. (1997) encontraram excelente retenção do adesivo autocondicionante após um
ano de avaliação clínica. Contudo, Kubo et al. (2001) reportaram a ocorrência de
microinfiltração marginal em esmalte com o sistema adesivo Clearfil Liner Bond 2.
2.3 Estrutura da dentina e fundamentos da união
28
Segundo Marshall (1993) a dentina é uma estrutura complexa, composta
aproximadamente por 50% em volume de mineral, 30% em volume de material
orgânico (principalmente colágeno do tipo I e, em menor porcentagem, proteínas
não colagenosas) e 20% de fluidos. É um tecido naturalmente úmido, percorrido por
um sistema tubular “radial” que contém os prolongamentos odontoblásticos e fluido
tubular, sendo que a direção dos túbulos converge para a polpa. O arranjo dos
túbulos dentinários é conseqüência da atividade dos odontoblastos, e depende da
região observada.
Os túbulos apresentam uma parede irregular e muitas ramificações e
anastomoses, denominadas canalículos dentinários. A parede de cada túbulo
dentinário é constituída por um colar de dentina hipermineralizado, a dentina
peritubular. A dentina que permanece entre os túbulos é menos mineralizada,
denominada dentina intertubular. Vários estudos mostraram que, variações na
morfologia e estrutura da dentina devidas à localização, tais como a direção dos
túbulos dentinários, poderiam influenciar a resistência de união (OGATA et al., 2001;
PHRUKKANON; BURROW; TYAS, 1998). Schupbach; Krejci e Felix (1997) também
mostraram a influência da orientação dos túbulos dentinários na morfologia da
camada híbrida.
Por causa da divergência do sistema radial, o número de túbulos por unidade
de área difere entre dentina superficial e profunda; também é diferente a área
relativa ocupada pela dentina intertubular (PERDIGÃO; RITTER, 2001): ocorre uma
diminuição de 45.000 túbulos por mm2 na proximidade da polpa dental para 20.000
túbulos por mm2 na junção amelo-dentinária - JAD; e a área ocupada pela dentina
intertubular decresce de 96% JAD para 12% junto à polpa. Um dos motivos para
29
esta drástica diminuição é que também o diâmetro dos túbulos varia com a
profundidade, sendo maior na região próxima à polpa. Todas estas características
exercem influência sobre a permeabilidade da dentina (PASHLEY; CARVALHO,
1997). Tanto a permeabilidade como a heterogeneidade do substrato dentinário
tornam crítica a obtenção da adesão.
Além das características morfológicas desfavoráveis, é preciso considerar
ainda que qualquer superfície de dentina cortada (não fraturada) fica recoberta por
smear layer. A principal desvantagem da manutenção da integridade desta camada
é a sua baixa resistência de união à dentina subjacente (MARSHALL, 1993). Por
isto, os sistemas adesivos preconizam a remoção ou a modificação desta camada,
no intuito de obter adesão eficaz em dentina.
Segundo Nakabayashi e Pashley (1998), o condicionamento ácido da dentina
seria necessário para aumentar a porosidade da dentina intertubular: a
hidroxiapatita, um componente com alta energia de superfície, é facilmente removida
pelo ácido, permanecendo o colágeno, que possui baixa energia de superfície. O
resultado seria um substrato de maior porosidade e baixa energia de superfície
(ELIADES, 1994). Haveria então a necessidade de aplicar uma substância que
restaurasse a energia superficial perdida e facilitasse a infiltração dos monômeros
resinosos: estas seriam as funções do primer.
O primer consiste numa solução de monômeros em solventes orgânicos,
geralmente etanol ou acetona, e deve ser aplicado após o condicionamento ácido,
lavagem e secagem não desidratante (PERDIGÃO; RITTER, 2001). O solvente deve
ter a capacidade de se misturar com a água, o que equivale a ter o poder de
deslocar e substituir a água ainda presente entre as fibrilas de colágeno da camada
desmineralizada. É assim que se produz a infiltração dos monômeros entre as
30
fibrilas de colágeno: se não houvesse água entre as fibrilas, os monômeros
penetrariam com dificuldade ou não penetrariam. Após a evaporação do solvente do
primer e a polimerização dos monômeros, teremos a camada híbrida formada; este é
o mecanismo para explicar a união à dentina mais aceito atualmente
(NAKABAYASHI; KOJIMA; MASUHARA., 1982).
Como vimos, o mecanismo de união à dentina considera como fundamental a
manutenção de espaços entre as fibrilas de colágeno, o que pode ser conseguido
com a técnica da adesão úmida (KANCA, 1997). Porém, o controle da umidade
dentinária é um dos pontos críticos para o sucesso da adesão, quando se trabalha
com adesivos que preconizam o condicionamento ácido em uma etapa separada do
procedimento adesivo (REIS et al., 2001).
2.4 Sistemas adesivos
A tendência observada na evolução dos sistemas adesivos tem sido a de
simplificar a técnica e não dar ocasião de erro no que se refere ao controle da
umidade da dentina.
O protocolo tradicional para a aplicação de adesivos de frasco único inclui as
seguintes etapas: condicionamento ácido do substrato, lavagem e secagem não
desidratante, aplicação do primer, evaporação do solvente do primer, aplicação e
polimerização do adesivo (HALLER, 2000). O advento dos adesivos
autocondicionantes modificou este protocolo, diminuindo o número de etapas
clínicas. Alguns adesivos autocondicionantes obedecem a seguinte seqüência de
31
aplicação: condicionamento da estrutura dentária com primer acídico, que dissolve
parcialmente a smear layer e permite a infiltração simultânea dos monômeros
presentes, evaporação do solvente pela aplicação de leve jato de ar, aplicação do
adesivo e remoção dos excessos com jato de ar, e fotoativação do mesmo. A
eliminação da etapa de lavagem faz com que a smear layer fique incorporada na
camada híbrida (IMAZATO et al., 1999). Como não se requer a etapa de lavagem e
secagem, elimina-se a possibilidade de erro no controle da umidade.
Numa revisão de literatura, Van Meerbeek et al. (2001) descreveu os
adesivos que preconizam o condicionamento ácido simultâneo do esmalte e da
dentina numa primeira etapa. Nas primeiras formulações, estes adesivos eram
apresentados em 3 frascos e eram aplicados em três etapas: ácido, primer e
adesivo. Posteriormente, foram aperfeiçoados para a apresentação em dois frascos
e aplicação em duas etapas: primer e adesivo aplicados simultaneamente, após
condicionamento ácido, lavagem e secagem. Além do critério para o controle da
umidade dentinária, outro inconveniente desta técnica consiste numa eventual
discrepância entre a profundidade de substrato desmineralizado pelo
condicionamento e a real infiltração de monômeros (SANO et al., 1994;
PHRUKKANON; BURROW; TYAS, 1998), que pode resultar em regiões de dentina
que, por não chegarem a ser hibridizadas, fiquem enfraquecidas mecanicamente e
sujeitas à infiltração (GORACCI et al., 1998).
Com o uso dos adesivos autocondicionantes, a hidridização ocorre sem a
remoção da smear layer (PRATI et al., 1998; NAKABAYASHI; SAIMI, 1996;
YOSHIYAMA et al., 1998), que permanece incorporada na camada híbrida. Por este
motivo, levantou-se o questionamento em relação à eventual presença e atividade
de bactérias remanescentes na camada híbrida Então apareceu a proposta de
32
incorporar um monômero antibacteriano, MDPB (brometo de metacriloiloxiduocecil
piridina), ao primer de um adesivo autocondicionante experimental, denominado ABF
(IMAZATO et al.; 1997; KAWASHIMA et al.; 2002). Este monômero é um composto
de amônia quaternária que se co-polimeriza com monômeros presentes no material,
e permanece imobilizado dentro da matriz polimérica. O efeito antibacteriano
ocorreria por ação do contato com as bactérias (IMAZATO et al., 1997) antes da
polimerização (ação bactericida) e após a polimerização, dificultando o crescimento
bacteriano sobre o material.
O efeito antibacteriano do primer contendo MDPB foi avaliado in vitro,
comparativamente ao efeito de um primer sem MDPB (IMAZATO et al., 1997).
Foram preparados primers experimentais contendo MDPB em concentrações de 1, 2
ou 5%. Estas soluções foram aplicadas em discos de papel absorvente esterilizados,
que foram colocados em uma placa de Petri contendo ágar e cepas de diferentes
bactérias (Streptococcus mutans, Actinomyces viscosus, Lactobacillus casei). Foi
observado um maior halo de inibição do crescimento bacteriano em função do
aumento do conteúdo de MDPB. O estudo também avaliou a atividade bactericida
do primer com MDPB pela contagem de células viáveis após contato de 100µL de
primer com 900µL de culturas bacterianas padronizadas. A concentração de 5% de
MDPB produziu ação bactericida após 30 segundos de contato com as bactérias.
Este estudo também avaliou a resistência de união e o grau de polimerização, e não
encontrou diminuição dos valores de resistência de união nem do grau de
polimerização do sistema adesivo que continha MDPB.
A adição de MDPB a uma resina à base de Bis-GMA experimental já foi feita
experimentada, e avaliado seu efeito antibacteriano (IMAZATO; RUSSELL;
McCABE, 1995) e a influência sobre a aderência bacteriana à superfície da resina
33
endurecida. Após a polimerização, foi possível constatar pequena atividade
bactericida, mas a aderência de Streptococcus foi significantemente menor às
superfícies de resinas contendo MDPB.
Perdigão, Lopes e Geraldelli (2001) estudaram o adesivo experimental ABF,
comparativamente ao Clearfil SE Bond, quanto à resistência de união à dentina por
microtração e a morfologia da interface de união, em microscópio eletrônica de
transmissão - MET e microscopia de fluorescência confocal de varredura a laser -
EC-MEV. Foram utilizados discos de dentina obtidos do terço médio da coroa de
molares humanos. Não foram observadas diferenças de resistência de união entre
os dois adesivos estudados. A EC-MEV revelou a formação de camada híbrida de
0,6 a 1,2µm de espessura e prolongamentos de resina no interior dos túbulos
dentinários. A MET mostrou smear plugs impregnados pelo ABF. Os autores
concluíram que o ABF experimental comportou-se semelhantemente ao Clearfil SE
Bond.
Daronch et al. (2003) estudaram a morfologia da interface em esmalte
decíduo intacto/resina, formada por adesivos autocondicionantes com ou sem
MDPB, e não observaram diferença entre elas.
2.5 Estudos sobre a interface de união
No intuito de avaliar a adaptação ao substrato de sistemas adesivos
hidrofílicos, Nakabayashi, Ashizawa e Nakamura (1992) e Gwinnett e Kanca (1992)
estudaram a morfologia da interface de união formada in vivo e em dentes vitais e
34
observaram perfeita contigüidade dente/resina, atribuída à formação de camada
híbrida e prolongamentos de resina. A camada híbrida, os prolongamentos de resina
e suas ramificações foram observados em outros estudos in vivo, utilizando adesivos
de frasco único (NAKABAYASHI; SAIMI, 1996; TAY et al., 1995). O mecanismo de
união à dentina foi atribuído à formação destas estruturas..
Em 1996, Kanca notou a formação de camada híbrida e de prolongamentos
resinosos tanto em estudos in vivo como em espécimes preparados in vitro,
utilizando adesivos de frasco único, desde que o substrato dentinário estivesse
úmido. A morfologia da camada híbrida, o comprimento e morfologia dos
prolongamentos de resina e a adaptação entre material e dente estariam
relacionados principalmente à condição de umidade encontrada no momento da
aplicação dos primers hidrofílicos. Num outro estudo, a formação da camada híbrida
e dos prolongamentos de resina foi responsabilizada pelo selamento da dentina
intertubular e peritubular previamente desmineralizadas pelo ácido, que teria
eliminado a sensibilidade pós-operatória e reduzido a microinfiltração (TITLEY et al.,
1995).
A influência da variabilidade do substrato na morfologia e na resistência da
interface de união foi abordada em várias pesquisas. Em 1997, Schupbach, Krejci e
Felix realizaram um estudo in vitro da interface dentina/resina em função da
orientação dos túbulos dentinários em cavidades Classe V simulando pressão
intrapulpar, através de MET e EC-MEV, e usando um adesivo autocondicionante
A.R.T. Os autores verificaram as seguintes diferenças morfológicas: nas regiões
onde os túbulos estavam dispostos perpendicularmente à superfície, a espessura da
camada foi maior e a formação de prolongamentos de resina foi evidente; quando a
orientação dos túbulos era paralela à superfície, a espessura da camada era menor
35
e os prolongamentos de resina estavam ausentes; a orientação perpendicular dos
túbulos também favorecia a difusão do primer pela parede lateral dos túbulos para a
região intertubular descalcificada.
Posteriormente, Phrukkanon et al. (1998) estudaram a resistência de união e
a morfologia da interface resina/dentina em função da orientação dos túbulos
dentinários, paralela ou perpendicular à superfície, utilizando EC-MEV. A orientação
dos túbulos foi alterada variando os planos de corte da coroa dentária. Foram
utilizados o adesivo Single Bond (3M Dental Products, St Paul, MN) e um adesivo
autocondicionante experimental. A morfologia da camada híbrida formada pelo
adesivo de frasco único variou em função da orientação dos túbulos, sendo que a
maior espessura e a presença de prolongamentos de resina foi favorecida quando
os túbulos apresentavam orientação perpendicular à superfície. Foram observadas
regiões de discrepância entre a profundidade de desmineralização e a infiltração, e
isto parece ter influenciado a resistência de união. Para o adesivo
autocondicionante, foi observada camada híbrida muito fina, independentemente da
orientação dos túbulos ser perpendicular ou paralela à superfície, e a resistência de
união foi uniforme em todas as regiões.
Em 2001, Ogata et al. também estudaram a influência da direção dos túbulos
dentinários na resistência de união à dentina e na morfologia da interface
dentina/resina, em casos com adesivos de frasco único ou autocondicionantes,
através de MEV. Obtiveram os mesmos resultados que Prukannon et al. (1998)
quanto à morfologia, mas verificaram maior resistência de união nas regiões em que
os túbulos dentinários apresentavam disposição paralela à superfície. A justificativa
para os maiores valores de resistência encontrados na direção paralela foi explicada
pela difusão do agente condicionante pela dentina intertubular, que fica disponível
36
em maior proporção quando da orientação paralela. Além disto, os autores relataram
menor influência da umidade do substrato na adesão quando a orientação dos
túbulos era paralela.
Ferrari, Cagidiaco e Davidson (1999) estudaram a morfologia da interface
dentina/cemento/resina nas margens cervicais de cavidades Classe II e Classe V e
observaram ausência de prolongamentos de resina naquelas regiões, devido à
presença de uma camada intermediária de cemento entre a margem da cavidade e a
dentina propriamente dita, que correspondia a até 200µm, e não apresentava a
estrutura tubular característica da dentina. Os autores relacionaram este achado
morfológico com o alto índice de infiltração marginal observado em restaurações
terminadas apicalmente à JAD e fizeram a hipótese de que a resistência de união
provavelmente estaria comprometida nesta região.
A morfologia da interface dentina/resina também é determinada pelo tipo de
adesivo. Arrais e Gianinni (2002); Ogata et al. (2001) e Phrukannon, Burrow e Tyas
(1999) observaram menor espessura de camada híbrida produzida por adesivos
autocondicionantes, quando comparada a dos adesivos de frasco único, fato este
relacionado com a maneira como cada sistema interage com o substrato e com a
capacidade de desmineralização oferecida pelo ácido fosfórico, superior à oferecida
pelos primers autocondicionantes. Alguns autores explicam a menor espessura da
camada híbrida dos autocondicionantes pela diminuição gradual do poder de
dissolução do monômero acídico, à medida que ele infiltra a dentina e entra em
contato com a umidade (GREGOIRE et al., 2002).
Diferenças na umidade do substrato e na composição do primer dos adesivos
de frasco único também podem influenciar a morfologia da camada híbrida.
Hashimoto et al. (2002) avaliaram a morfologia e a resistência de união da interface
37
dentina/resina em substrato seco ou úmido, utilizando adesivos de frasco único que
continham água ou água e etanol como solventes do primer. Os autores observaram
maior resistência de união na condição de substrato úmido. Explicaram que, quando
o substrato estava muito seco, as fibrilas de colágeno teriam colabado e impedido a
infiltração do adesivo. Neste mesmo estudo, foi levantada a hipótese de que a
presença de água no primer do adesivo Single Bond poderia ter contribuído para a
re-hidratação das fibrilas de colágeno, e que os adesivos que contém água na
composição do primer, seriam menos críticos no que se refere ao controle da
umidade.
Gregoire et al. (2002) estudaram a morfologia da camada híbrida produzida
por adesivos cujos primers apresentavam acetona (Prime & Bond NT) ou água
(Syntac Single Component) na composição. Observaram que a presença de acetona
no primer favoreceu a formação de uma camada híbrida espessa e sem porosidade,
bem adaptada ao substrato, além da formação de prolongamentos de resina com
formato de cone invertido e ramificações laterais. Nos adesivos que continham
apenas água no primer, a adaptação resina/dentina não teria sido tão
uniformemente perfeita, além de apresentar menor espessura de camada híbrida e
prolongamentos menos evidentes. Embora estes estudos tenham constatado
diferenças na espessura da camada híbrida produzida por diferentes adesivos, ainda
não foi demonstrada a correlação entre espessura de camada híbrida e resistência
de união.
Em 2001, Zheng et al. estudaram a influência da espessura do adesivo na
resistência de união de um adesivo de frasco único (Single Bond) e de um
autocondicionante (Clearfil Liner Bond 2V). Os autores observaram que a maior
espessura do adesivo autocondicionante resultou em maiores valores de resistência
38
de união, mas para o adesivo de frasco único o aumento da espessura do adesivo
resultou em trincas e fratura coesiva no material, o que foi atribuído à possibilidade
de que a evaporação solvente não teria sido completa, enfraquecendo o material.
Segundo os autores, a água e o etanol são solventes que apresentam diferentes
volatilidades, sendo que o etanol, apesar de estar presente em maior porcentagem
(35%) que a água (5%), evaporaria mais rápido que ela, principalmente em
espessuras maiores.
O controle da umidade do substrato parece ser menos crítico para os
adesivos autocondicionantes (JACQUES et al, 2001). Pereira et al. (1999)
estudaram a influência regional da umidade do substrato na resistência de união
produzida por um adesivo autocondicionante e outro de frasco único, em diferentes
regiões da coroa dentária, simulando a pressão intrapulpar. Para o adesivo de frasco
único, os autores encontraram menor resistência de união nas regiões próximas ao
corno pulpar. Como o condicionamento com ácido fosfórico remove a smear layer, o
excesso de água que flui dos túbulos pode ter diluído o monômero. A mesma
“diluição” também ocorreria nos sistemas adesivos contendo apenas água na
composição, caso esta não seja removida. Já para os adesivos autocondicionantes,
não houve diferença significante da resistência de união obtida pelas diferentes
condições de umidade do substrato. Explicou-se este fato considerando que os
adesivos autocondicionantes deixam permanecer os smear plugs que obliteram os
túbulos dentinários durante o procedimento de aplicação, condição que diminui a
permeabilidade dentinária e a diluição do primer. Conseqüentemente, seria menor a
variabilidade da resistência de união.
A resistência de união dente/resina foi bastante estudada, mas não
encontramos tantos trabalhos sobre a morfologia regional da interface de união em
39
cavidades, que apresentam variações regionais indiscutíveis do substrato e, ao
serem submetidas ao procedimento adesivo e restaurador, podem surgir solicitações
mecânicas diferenciadas nas diferentes regiões da cavidade. Além disso,
considerando os adesivos autocondicionantes, a recente proposta de incorporar um
agente antimicrobiano (MDPB) ao primer do adesivo autocondicionante ABF merece
atenção especial, visto que ainda há poucos estudos sobre o desempenho deste
novo material.
3 PROPOSIÇÃO
Este trabalho propôs estudar comparativamente a micro-morfologia da
interface de união dente/material restaurador em diferentes regiões de cavidades
MOD preparadas em molares humanos, com dois sistemas adesivos de frasco único
e dois autocondicionantes, um deles contendo MDPB como agente antibacteriano.
4 MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados dezesseis terceiros molares humanos hígidos,
armazenados em solução de cloramina a 0,5% e 4ºC até a confecção das
cavidades.
As raízes dos dentes foram embutidas em resina acrílica com o auxílio de
anéis de plástico (13mm de diâmetro X 6mm de altura X 1mm de espessura) e
foram preparadas cavidades Classe II MOD com pontas diamantadas 4138 KG
Sorensen e turbina de alta rotação Kavo sob refrigeração, nas seguintes
dimensões: 3mm de largura vestíbulo-lingual por 2mm de profundidade para a
caixa oclusal; 3mm de largura vestíbulo-lingual, 3mm de altura ocluso-cervical e
1,5mm de profundidade em direção à polpa para as caixas mesial e distal, com
margem situada apicalmente à junção amelocementária. O esmalte cavo-
superficial foi biselado em aproximadamente 1mm com instrumento 4138F em
baixa rotação, em toda a extensão da cavidade. O tamanho das cavidades foi
ajustado durante o acabamento, realizado com instrumento cortante rotatório
4138F (KG Sorensen) em baixa rotação, e o auxílio de um paquímetro digital
(Starret; São Paulo, Brasil).
Em seguida, os dentes foram identificados e distribuídos aleatoriamente em
um dos quatro grupos experimentais (n=4). A ordem de restauração dos dentes e
42
dos grupos foi determinada por sorteio. As características distintivas de cada
grupo estão resumidas na Tabela 4.1.
Tabela 4.1 – Sistemas adesivos: informações técnicas e seqüência de aplicação
ADESIVOMARCA
(FABRICANTE/LOTE)
COMPOSIÇÃOSeqüência deaplicação (*)
Ácido: H3PO4 35% gel
Single Bond(3M-ESPE / 1FL) Adesivo: Bis-GMA,HEMA,etanol,
água,dimetacrilatos, CQ, PAA
abcdef
Ácido: H3PO4 34% gel
FR
AS
CO
ÚN
ICO
Prime & Bond NT(Dentsply de Trey/
015001127)
Adesivo: PENTA,acetona, sílica coloidalnanométrica, CQ, resinas de di e
trimetacrilatos, hidrofluoreto de cetilamina
abcghef
Primer: MDP,HEMA, água, CQ, dimetacrilatohidrofílico, N,N-dietanol-p-toluidina
Clearfil SE Bond(Kuraray Co/
051B;00127A)Bond: MDP,HEMA, Bis-GMA, CQ,
dimetacrilato hidrofóbico, N,N-dietanol-p-toluidina, sílica coloidal silanizada
ihejef
ABF Primer: MDPB, MDP, HEMA, agua,fotoiniciador
AU
TO
CO
ND
ICIO
NA
NT
ES
ABF(Kuraray Co/
00411;000911)
ABF Bond: MDP, HEMA, Bis-GMA,dimetacrilatos, sílica coloidal, partículas
tratadas com NaF, fotoiniciador
ihejef
(*) Os códigos utilizados nesta coluna são os seguintes:
a:
Condicionamento ácido (15s) f: Fotoativação (10s)
b:
Lavagem com água (15s) g: Aplicação de uma camada deprimer + adesivo
c:
Remoção do excesso de água compapel absorvente
h: Espera de 20s
d:
Aplicação de 2 camadas de primer+adesivo
i: Aplicação do primer durante 20s
e:
Secagem com jato de ar (5s) j: Aplicação do bond
43
Os adesivos permaneceram armazenados segundo instruções dos
fabricantes, com os recipientes hermeticamente fechados, até a sua utilização na
etapa restauradora.
Após a aplicação de cada sistema adesivo, os dentes foram encaixados no
dispositivo ilustrado na Figura 4.1 e a ele adaptados porta matriz, matriz de aço e
cunha de madeira. A inserção da resina composta (Z250 – 3MESPE / Lote 1LG)
foi feita em incrementos oblíquos de aproximadamente 2mm de espessura,
fotoativados durante 20 segundos cada (Optilux 500 – Demetron / 700 mw/cm2)
pela face oclusal.
A B C
Figura 4.1 - Dispositivo utilizado na etapa restauradora: A – partes do dispositivoe dentes de resina; B – dispositivo montado e preparado para receber ocorpo de prova; C – corpo de prova posicionado no dispositivo
Após 24 horas de armazenamento em água destilada a 37oC, cada dente
foi seccionado em 3 planos (Figura 4.2: A – plano paralelo ao eixo longitudinal do
dente, em direção mésio-distal; B – plano paralelo ao eixo longitudinal do dente,
em direção vestíbulo-lingual; C – plano transversal ao eixo longitudinal do dente,
na altura do terço médio), com disco de diamante em baixa rotação e refrigeração
(Blade XL 12235; Extec Labcut 1010). Foram obtidos 3 fragmentos de cada dente,
44
cada um para observação de um dos planos de corte específicos, identificados na
figura 4.2.
A B C
Figura 4.2 - Desenhos dos planos de corte obtidos após os cortes: A – planoparalelo ao eixo longitudinal do dente, em direção mésio-distal, obtidoapós o primeiro corte; B – plano paralelo ao eixo longitudinal do dente,em direção vestíbulo-lingual, obtido após o segundo corte; C – planotransversal ao eixo longitudinal do dente, na altura do terço médio,obtido após o terceiro corte
O preparo dos corpos de prova para MEV seguiu o padrão descrito por
Montes et al. (2001). Foi feito lixamento manual, com lixa de carbeto de silício
1200 (Buhler, Lake Bluff, IL), e polimento também manual, com pastas
diamantadas de 6, 3, 1 e 0,25µm (METADI II; Buhler, Lake Bluff, IL) em discos de
feltro embebidos em água. Foi realizada limpeza em água destilada e ultra-som,
durante 10 minutos, depois de cada etapa. As fatias para observação das
interfaces de união em dentina receberam tratamento superficial para
desmineralização com solução de ácido fosfórico a 50% durante 4 segundos;
metade das fatias para a observação das interfaces de união em esmalte recebeu
tratamento superficial com solução de ácido fosfórico a 37% durante 3 segundos;
a outra metade com solução de ácido fosfórico a 50% durante 3 segundos. Em
seguida a este tratamento, foi feita lavagem em banho de ultra-som com água
destilada por 10 minutos. Na seqüência, todos os espécimes foram imersos em
solução de hipoclorito de sódio a 1% durante 10 minutos, lavados novamente em
banho de ultra-som com água destilada por 10 minutos; o excesso de água foi
45
removido com lenço de papel. Após armazenamento em dessecador contendo
sílica gel durante 12 horas, foi feito o recobrimento dos espécimes com ouro
(BALZERS SCD50 Sputter Coater; Bal-Tec, Germany, 120s e 50mA).
Metade dos dentes foi destinado para a obtenção de réplicas (EICK et al.,
1997; HANNIG; FRIEDRICHS, 2001; HANNIG; FU, 2001), no intuito de conferir se
ocorriam artefatos de preparação: foram feitas moldagens dos planos de corte
correspondentes com silicone de adição fluida (Splash; Discus Dental, São Paulo,
Brazil) no estágio final do preparo, imediatamente à introdução no dessecador.
Após 1 hora da moldagem, os moldes foram preenchidos com resina epóxica
(Epoxide; Buhler, Lake Bluff, IL) e as réplicas obtidas cobertas com ouro
(BALZERS SCD50 Sputter Coater; Bal-Tec, Germany, 120s e 50mA). As
micrografias eletrônicas foram feitas no Laboratório de Microscopia Eletrônica de
Varredura e Microanálise (PHIPLIPS XL30, England; 20 KV, distância de trabalho
de aproximadamente 10mm), do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de
Materiais, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - USP.
5 RESULTADOS
A morfologia da interface dentina/resina variou em função da região da
cavidade e do sistema adesivo estudado.
No que se refere às interfaces dentina/resina, foram observadas as mesmas
estruturas morfológicas em todas as regiões, com as seguintes particularidades:
• de modo geral, os adesivos de frasco único produziram camada híbrida mais
espessa, geralmente entre 3 e 6µm (Figura 5.2A, Figura 5.9A, Figura 5.11A,
Figura 5.13A) que os autocondicionantes, geralmente entre 0,6 e 2µm
(Figura 5.3B, Figura 5.7A, Figura 5.10A);
• ocorreu acúmulo de adesivo no diedro áxio-gengival, tanto para os adesivos
de frasco único quanto para os autocondicionantes (Figura 5.12B, Figura
5.14B, Figura 5.15D);
• os tags foram mais evidentes, numerosos e longos para os adesivos de frasco
único (Figura 5.1B, Figura 5.2B, Figura 5.5A, Figura 5.9A, Figura 5.11A,
Figura 5.12A, Figura 5.13A, Figura 5.13F);
• para os adesivos autocondicionantes foi possível observar uma camada
diferenciada que provavelmente possa corresponder à camada de esfregaço
modificada (Figura 5.3B, Figura 5.4B, Figura 5.10A, Figura 5.14A e B, Figura
5.15 B e D);
47
foi possível observar prolongamentos de resina mesmo na parede gengival,
quando a orientação dos túbulos não era demasiadamente paralela à superfície
cortada. Nesta região predominou a camada híbrida, independentemente do sistema
adesivo utilizado (Figura 5.13A e B);
• foi possível observar o descolamento e a formação de fendas, tanto nas
réplicas (Figura 5.8C, Figura 5.9C, Figura 5.10C, Figura 5.13C) quanto nos
espécimes originais (Figura 5.4A, Figura 5.5A, Figura 5.7A, Figura 5.8A e B,
Figura 5.9B, Figura 5.10A);
• o descolamento foi observado em todas as regiões, exceto nas interfaces
esmalte/resina (Figura 5.16 A-D);
• o descolamento pode ocorrer indistintamente entre camada híbrida/adesivo,
entre adesivo/compósito (Figura 5.6B, Figura 5.7A, Figura 5.8A e B, Figura
5.9A e B, Figura 5.10A, Figura 5.13A e B, Figura 5.14A). Nos
autocondicionantes foi observado deslocamento no esfregaço modificado
(Figura 5.4A e B);
• foram observadas formações filamentosas freqüentes em todos os adesivos,
partindo dos prolongamentos resinosos. Pelo tamanho e localização destas
estruturas, foi feita a hipótese de corresponderem a restos de colágeno não
removido pelo tratamento final dos espécimes em hipoclorito de sódio (Figura
5.1D, Figura 5.5B, Figura 5.12C).
No que se refere às interfaces esmalte/resina, o tratamento final dos espécimes com
solução de ácido fosfórico em concentrações de 37 ou 50% permitiu observar:
• perfeita adaptação ao substrato em todos os adesivos estudados (Figura
5.17);
48
as imagens correspondentes ao tratamento com H3PO4 a 37% evidenciaram
melhor a interação entre resina e esmalte (Figura 5.16);
• Os adesivos de frasco único produziram camada de interação aparentemente
mais espessa e com prolongamentos resinosos definidos (Figura 5.16);
• para os adesivos autocondicionantes foi possível observar camada de
interação aparentemente mais fina e amorfa, sem presença de
prolongamentos resinosos evidentes (Figura 5.16C e D). Em geral, a camada
híbrida do Clearfil SE Bond foi semelhante à do ABF.
6 DISCUSSÃO
No presente estudo foi analisada a morfologia das interfaces dente/resina, em
diferentes regiões da cavidade MOD. Foi observado que a morfologia das interfaces
de união diferiu em função da região da cavidade observada e do sistema adesivo
estudado. Isto era de se esperar pois, dependendo da região da cavidade, existem
variações morfológicas do substrato exposto: a morfologia da interface de união é
reflexo da morfologia do substrato.
Por outro lado, não foi possível associar a maior freqüência de fendas a uma
região específica da interface dentina/resina observada. Esperava-se encontrar
maior freqüência de fendas nas regiões em que houvesse tendência para a
concentração de tensões ou naquelas em que o substrato apresentasse
características mais desfavoráveis para a união. Como as fendas só não foram
observadas na interface esmalte/resina, pode-se deduzir que, qualquer que seja a
orientação do plano de corte ou a profundidade de dentina exposta numa cavidade
como do tipo MOD, a qualidade da união possa não ser suficiente para resistir aos
esforços gerados durante a confecção da restauração adesiva. Os achados deste
estudo confirmam a superioridade do esmalte sobre a dentina como substrato
61
disponível para a união, frente aos adesivos dentários atualmente disponíveis no
mercado.
A análise da interface dentina/resina mostrou que a presença de
prolongamentos de resina e ramificações laterais não foi predominante na parede
gengival da cavidade MOD, independentemente do adesivo estudado. Isto se
explica pela direção dos túbulos dentinários ser predominantemente paralela, fato
que impede a penetração do adesivo. Nesta região prevaleceu a formação da
camada híbrida. Contudo, à medida que a direção dos túbulos tornava-se oblíqua,
os orifícios dos túbulos ficaram abertos para a superfície e permitiram a formação de
alguns prolongamentos de resina, tanto nos adesivos de frasco único como nos
autocondicionantes. Esta morfologia se repetiu nas demais regiões da cavidade
MOD (parede axial, diedro áxio-pulpar, parede pulpar), onde a direção dos túbulos
se apresentava perpendicular ou oblíqua à superfície.
Resultados semelhantes foram encontrados por Schupbach, Krejci e Felix
(1997), que observaram influência da orientação dos túbulos dentinários na
morfologia da camada híbrida. Foi observada camada híbrida de pequena espessura
e ausência de prolongamentos de resina nas regiões que apresentavam túbulos
orientados paralelamente à superfície.
Ogata et al. (2001) também observaram que a morfologia da camada híbrida
é influenciada pela direção dos túbulos dentinários. Curiosamente encontraram
maior resistência de união nas regiões em que os túbulos dentinários apresentavam
disposição paralela à superfície; fato explicado pela difusão do agente condicionante
pela dentina intertubular que, conseqüentemente, estava disponível em maior
proporção. Apesar da ausência de prolongamentos de resina, ocorreu a
hibridização, fato também observado no presente estudo. Ferrari et al. (1999)
62
mostraram que as margens cervicais das cavidades seriam regiões críticas para a
ocorrência de microinfiltração, pois o selamento da interface estaria prejudicado pela
presença de uma estrutura amorfa denominada camada intermediária de cemento,
que não apresenta túbulos. Por este motivo, o autor levantou a hipótese de que a
resistência de união pudesse ser baixa nesta região, mas Ogata et al. (2001)
mostraram o contrário.
Também foi observado que a espessura da camada híbrida produzida pelos
adesivos autocondicionantes foi aparentemente menor que a produzida pelos
adesivos de frasco único, embora a mensuração da camada não tenha sido objetivo
deste estudo. Estes achados são confirmações dos relatos encontrados na literatura
(ARRAIS & GIANNINI, 2002; OGATA et al., 2001; PHRUKANNON; BURROW;
TYAS, 1998; HANNIG; REINHARDT; BOTT, 2001). Cada sistema adesivo interage
de modo específico com a dentina para formar a camada híbrida. Nos adesivos
autocondicionantes é possível notar a existência de uma camada diferenciada entre
o compósito e a camada híbrida, provavelmente decorrente da infiltração da camada
esfregaço pelo primer autocondicionante.
O mecanismo de união do Single Bond e do Prime & Bond NT requer o
condicionamento ácido simultâneo do esmalte e da dentina em uma etapa prévia.
Segundo Arrais e Giannini (2002), o ácido fosfórico entre 32 e 37% remove a
hidroxiapatita e desmineraliza a dentina numa profundidade de 3 a 5µm e favorece a
formação de uma camada híbrida mais espessa. A maior desmineralização
produzida pelo ácido fosfórico em relação aos primers autocondicionantes também
explica a diferença de espessura de camada híbrida produzida pelos diferentes
sistemas. A capacidade de desmineralização também está relacionada com o pH
dos adesivos: enquanto o gel de ácido fosfórico apresenta pH=0,6 (ARRAIS;
63
GIANINNI, 2002; OGATA et al., 2001), o Clearfil SE Bond apresenta pH próximo de
2,0 (ARRAIS; GIANINNI, 2002; OGATA et al., 2001; OLIVEIRA et al., 2002;
PASHLEY; TAY, 2001). A espessura da camada híbrida produzida pelo ABF foi
aparentemente semelhante à do Clearfil SE Bond, o que sugere que o pH do primer
autocondicionante seja semelhante ao do Clearfil SE Bond. Estes adesivos diferem
em sua composição apenas pela presença de MDPB e partículas de NaF no ABF.
Para o Single Bond, a literatura descreve a formação de camada híbrida de 3
a 5µm de espessura (ARRAIS; GIANNINI, 2002; MONTES et al., 2001) e para o
Prime & Bond NT, esta espessura seria de aproximadamente 4 a 6µm
(FRANKENBERGER et al., 2001). A pequena espessura da camada híbrida
observada neste estudo para o Clearfil SE Bond foi confirmada por outros estudos
(OLIVEIRA et al., 2002; PASHLEY; TAY, 2001; TAY; PASHLEY, 2001).
A menor espessura observada nos adesivos autocondicionantes foi explicada
pelo baixo volume de primer normalmente usado. Como o primer não é lavado, os
íons cálcio e fosfato resultantes da desmineralização permanecem na solução,
saturando o primer e limitando a profundidade de desmineralização (HANNIG et al.,
2001; OLIVEIRA et al., 2002). Gregoire et al. (2002) também observaram a
diminuição gradual do poder de dissolução do primer autocondicionante à medida
que ele infiltrava pela dentina úmida; talvez o motivo fosse o mesmo: o pequeno
volume usado permite que a interação com o substrato modifique substancialmente
a composição do primer à medida em que a reação se propaga.
Também foi observado em alguns estudos que a presença da smear layer
poderia limitar a ação do primer autocondicionante (KOIBUCHI et al, 2002); OGATA
et al., 2001). Ogata et al. (2001) sugeriram que o acabamento dos preparos
cavitários realizados com pontas diamantadas deveria ser feito com instrumentos
64
cortantes rotatórios em baixa rotação, para remover parte da smear layer e não
comprometer a resistência de união. Contudo, Tay e Pashley (2001) observaram a
formação de camada híbrida com os adesivos autocondicionantes estudados,
independentemente da espessura da smear layer. Neste estudo os autores
classificaram os adesivos autocondicionantes em três categorias, quanto ao poder
de atravessar a camada de esfregaço e atingir a dentina subjacente: superficiais,
moderados e severos. O Clearfil SE Bond foi classificado como superficial, mesmo
assim, produziu hibridização da estrutura dentária. O pH do MDP no primer
explicaria o poder de desmineralização observado. Oliveira et al. 2002 chamaram a
atenção para a maior viscosidade dos adesivos autocondicionantes em relação à
solução de ácido fosfórico, que poderia explicar o padrão horizontal de
desmineralização da dentina, com conseqüente diminuição da espessura da camada
híbrida.
No presente estudo, a formação de prolongamentos de resina para o interior
dos túbulos dentinários e suas ramificações foi observada com maior freqüência e
comprimento nos adesivos de frasco único. Esta diferença foi mais evidente na
parede pulpar do preparo, que é onde a abertura dos túbulos dentinários se
apresenta mais exposta para a infiltração do adesivo. A morfologia dos
prolongamentos de resina produzidos pelo Single Bond e Prime & Bond NT é o
resultado da desmineralização e remoção da dentina peritubular pelo ácido fosfórico,
resultando no formato de cone invertido. Já o Clearfil SE Bond e o ABF contém
monômeros acídicos, MDP e MDPB, dissolvidos em água (Tabela 4.1), enquanto
que os solventes etanol e acetona estão presentes nos adesivos de frasco único;
talvez isto ajude a explicar a menor freqüência de tags nos adesivos
65
autocondicionantes, pois os solventes podem atuar como carreadores dos
monômeros (HASHIMOTO et al., 2002; ZHENG et al., 2001).
No que se refere às interfaces de união ao esmalte, foi observada perfeita
adaptação ao substrato em todos os sistemas adesivos estudados. Kubo et al., 2001
observaram microinfiltração nas margens cervicais de esmalte tratado com Clearfil
Liner Bond 2, explicada pelo conteúdo de Phenyl-P em substituição ao MDP, que é o
monômero acídico, resultando num pH maior que o do Clearfil SE Bond, o que
justificaria seu baixo poder condicionante em relação ao Clearfil SE Bond.
A orientação dos prismas no nosso estudo foi aproximadamente paralela à
superfície de união (Figura 4.2B e 4.2C). Apesar disso, observamos a perfeita
adaptação do material ao esmalte. A morfologia das interfaces dos adesivos
autocondicionantes em esmalte foi diferente da produzida pelos adesivos de frasco
único, mostrando-se mais amorfa e sem prolongamentos definidos. Segundo
Perdigão et al. (1997), a diferença de padrão não teria comprometido a resistência
de união.
No presente estudo também ficou evidente que a região dos diedros favorece
o acúmulo de adesivo. Isto teria efeitos adversos sobre a resistência de união,
quando se trabalha com adesivos de frasco único, pois a espessura aumentada de
adesivo dificultaria a evaporação do solvente (ZHENG et al., 2001).
A morfologia das interfaces de união produzidas pelo ABF foi muito
semelhante à morfologia das interfaces de união produzidas pelo Clearfil SE Bond;
apenas constatou-se uma espessura ligeiramente maior em alguns casos para o
adesivo com MDPB. Isto sugere que o MDPB não altera substancialmente o
comportamento dos adesivos autocondicionantes. Daronch et al. (2003), trabalhando
em esmalte de dentes decíduos intactos, encontraram semelhança na interface de
66
união produzida por adesivos autocondicionantes com ou sem agente antibacteriano
(ABF vs Clearfil SE Bond). Perdigão e Ritter (2001) estudaram a morfologia e a
resistência de união do ABF comparando-o com a do Clearfil SE Bond e
encontraram comportamento semelhante entre os dois adesivos autocondicionantes,
o que sugere que a presença de MDPB também não interfira na resistência de
união. Segundo este estudo, a morfologia das interfaces de união dos dois adesivos
foi em tudo semelhante, o que concorda com os resultados encontrados em nosso
estudo.
Apesar de aparentemente a presença de MDPB não interferir na morfologia
da interface de união nem na resistência adesiva, ainda não há estudos que avaliem
a utilidade clínica do efeito antibacteriano conferido pelo MDPB ou pelas partículas
de NaF presentes no ABF. Apesar de alguns autores considerarem importante a
incorporação de monômeros antibacterianos no primer (IMAZATO et al., 1997,
IMAZATO; RUSSELL; McCABE, 1995), visando a inativação das bactérias residuais
na smear layer, é preciso considerar se a inclusão e incorporação das bactérias na
camada híbrida não seria suficiente, na prática, para impedir a atividade de bactérias
residuais.
7 CONCLUSÕES
7.1 – A ruptura da união adesiva foi encontrada indistintamente em todas as regiões
do substrato dentinário observadas e para todas as marcas de adesivo estudados,
podendo ocorrer tanto entre o adesivo e a camada híbrida como na própria camada
híbrida e, para os adesivos autocondicionantes, na camada de esfregaço
modificada.
7.2 – A morfologia da interface de união compósito-dentina varia em função da
região da cavidade, refltetindo as características anatômicas do tecido cortado:
7.2.1 – na parede pulpar são observados prolongamentos resinosos mais
freqüentes, longos e ramificados.
7.2.2 – na parede gengival são raros ou até ausentes os prolongamentos,
predominando a camada híbrida.
7.2.3 – é freqüente o acúmulo de adesivo no diedro áxio-pulpar.
7.3 – A morfologia da interface de união compósito-dentina varia em função do tipo
de adesivo utilizado: quando comparados com os de frasco único, os adesivos
autocondicionantes apresentaram camada híbrida mais fina, menor freqüência e
comprimento de prolongamentos resinosos e uma camada diferenciada, que parece
incluir a camada de esfregaço.
68
7.4 – A morfologia dos adesivos autocondicionantes, com ou sem MDPB, foi
semelhante em todos os aspectos observados.
7.5 – As interfaces de união ao esmalte apresentaram excelente adaptação, sem
rupturas. Nos adesivos autocondicionantes foi possível observar uma camada
intermediária uniforme de aspecto amorfo, em contraste com os adesivos de frasco
único, com os quais foi possível notar alguma organização com formas filamentosas
penetrando no esmalte.
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