escolas sustentáveis como proposta de política pública no brasil
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FACULDADE DE EDUCAO DA PUCRS PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO
ANAIS DO II SEMINRIO SOBRENATUREZAS
23 a 26 de abril de 2014 Porto Alegre RS - Brasil
25 Anais do II Seminrio SobreNaturezas Ambientalizao e Prticas Escolares
Escolas sustentveis como proposta de poltica pblica no Brasil1
Sandra Lilian Silveira Grohe2
Resumo
O objetivo deste artigo apresentar parte da pesquisa sobre a proposta de poltica pblica para Escolas Sustentveis (ES) do Ministrio da Educao e Cultura (MEC) no Brasil. O princpio fundamental desta proposta que as escolas de educao bsica brasileira se transformem em espaos que eduquem para a sustentabilidade. Este estudo busca identificar as razes conceituais em que esta poltica pblica se fundamenta; analisar algumas polticas que basearam a elaborao e construo desta proposta, assim como apresentar como o programa para Escolas Sustentveis vem se constituindo como poltica pblica no Brasil.
Palavras-chaves: Escolas Sustentveis; Sustentabilidade; Poltica Pblica.
Abstract
The purpose of this article is to present part of a research about the proposal of public policies for Sustainable Schools (ES) from Ministry of Education and Culture (MEC) in Brazil. The fundamental principle of this proposal is: Brazilian Elementary Schools are transfromed into spaces that educate for sustainability. This study seeks to identify the conceptual roots in which this public policy is based; analyze some policies which based the design and construction of this proposal, as well as to present how the program for sustainable schools is becoming a public policy in Brazil.
Key-words: Sustainable Schools; sustainability; Public Policy.
1.Introduo
O objetivo do presente artigo analisar como o programa para Escolas Sustentveis
est se constituindo como poltica pblica no Brasil. Este estudo partiu do interesse
pela IV Conferncia Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, iniciativa do Ministrio da
Educao e Cultura (MEC), na qual trouxe como tema Vamos Cuidar do Brasil com
1 Texto enviado para a X ANPED SUL. 2 Pedagoga (URCAMP), Psicopedagoga (IBPEX), Educadora Ambiental (FURG) e Mestranda pela Pontifcia Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Email: sandrilian@yahoo.com.br
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Escolas Sustentveis. A partir da anlise dos documentos da conferncia surgiram
as primeiras reflexes norteadoras desta pesquisa: O que uma Escola
Sustentvel? Quais os fundamentos da poltica para Escolas Sustentveis? Como o
conceito de Escolas Sustentveis est se constituindo como poltica pblica no
Brasil? Como esta poltica est se efetivando em nvel global (Nacional) e local
(Estados e Municpios)?
De acordo com Sato e Trajber (2010), o princpio fundamental da poltica para
Escolas Sustentveis que as escolas de educao bsica brasileira se
transformem em incubadoras de mudanas, onde devero encontrar possveis
solues para as dificuldades encontradas. A proposta busca, a partir de espaos
educadores sustentveis, incentivar a investigao, pesquisa, descoberta,
autonomia, sonhos e possibilidades, assim como o pensamento crtico e inovador.
uma proposta ousada que estimula a liberdade de escolhas, na qual cada instituio
decidir com sua comunidade o melhor caminho em busca da sustentabilidade.
A hiptese de que essa poltica proporcione movimentos locais de
ambientalizao, assim como atitudes ecologicamente orientadas (CARVALHO,
2002). Focalizada na educao ambiental, o conceito de ambientalizao, baseado
no discurso de Henri Acselrad (2010) e Leite Lopes (2006), entendido como
o processo de internalizao nas prticas sociais e nas orientaes individuais de valores ticos, estticos e morais em torno do cuidado com o ambiente. Estes valores se expressam na sociedade contempornea em preocupaes, tais como aquelas com a integridade, a preservao e o uso sustentvel dos bens ambientais. (CARVALHO; TONIOL, 2011)
Acredita-se que os (as) alunos (as), assim como seus (as) professores (as),
funcionrios (as) e comunidade, por estarem inseridos em uma escola que se props
a educar para a sustentabilidade, passem a se sensibilizar pelas questes
socioambientais, ampliando seu modo de ver e estar no mundo. A escola, guiada
pelos princpios do programa, estar proporcionando a internalizao das questes
ambientais, tanto dentro do espao escolar, assim como em seu entorno.
Este artigo est dividido em trs momentos. No primeiro, apresentada a pesquisa
referente ao conceito de ES, onde foram identificadas as razes conceituais. No
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segundo, exposta a analise de algumas polticas que fundamentaram a construo
e elaborao do programa para ES. E por fim, no terceiro momento, apresentado
como o programa para ES vem se constituindo como poltica pblica no Brasil.
2.Ecodesenvolvimento, Desenvolvimento Sustentvel e Sustentabilidade
A poltica para escolas sustentveis est diretamente relacionada ao conceito de
sustentabilidade. Este conceito vem sendo formulado no decorrer das ltimas quatro
dcadas, a partir de eventos e movimentos sociais realizados para discutir questes
relacionadas aos problemas ambientais e a preservao dos recursos naturais.
O primeiro grande evento realizado foi a 1 Conferncia das Naes Unidas sobre o
Meio Ambiente, em Estocolmo, Sucia, em 1972 (ONU, 2013). Nesta poca ainda
no havia aluso ao termo sustentabilidade e sim ao ecodesenvolvimento,
apresentado por Maurice Strong3 em 1973 e, posteriormente, na dcada de 80
apropriado por Ignacy Sachs. Segundo Layrargues (1997, p.3) o conceito de
ecodesenvolvimento consistia na definio de um estilo de desenvolvimento
adaptado s reas rurais do Terceiro Mundo, baseado na utilizao criteriosa dos
recursos locais, sem comprometer o esgotamento da natureza. O
ecodesenvolvimento, mesmo sem abandonar as preocupaes econmicas,
priorizava a preservao dos recursos naturais e o respeito s individualidades
locais, culturais e ambientais.
Alguns documentos foram elaborados a partir da Conferncia de Estocolmo. Um
deles foi o relatrio Nosso Futuro Comum, tambm denominado Relatrio
Brundtland, de 1987 (BRUNDTLAND, 1991). Neste documento d-se prioridade ao
conceito denominado desenvolvimento sustentvel. Este conceito apresentado
como:
um processo de transformao no qual a explorao dos recursos, a direo dos investimentos, a orientao do desenvolvimento tecnolgico e a mudana institucional se harmonizam e reforam o potencial presente e futuro, a fim de atender s necessidades e aspiraes humanas.
3 Na poca, Diretor Executivo do PNUMA - Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente.
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Segundo o livro Desenvolvimento Sustentvel (SCOTTO, 2009, p.34), o documento
aposta no apelo ao meio ambiente como uma preocupao comum que poder
reorientar as relaes internacionais, no sentido de uma mudana global rumo a
uma economia sustentvel. De acordo com este pensamento orientado pela lgica
econmica, a natureza passa a ser um bem de capital numa economia ecologista
de mercado. (SCOTTO, 2009, p.35)
No Brasil, durante a Cpula da Terra ou ECO 92, os movimentos sociais e ONGs,
preocupados com os problemas sociais e ambientais do planeta Terra, reuniram-se
para refletir sobre os documentos existentes e propor novas polticas que se
afastassem das voltadas para o desenvolvimento econmico. Um dos documentos
produzidos durante este evento foi o Relatrio do Frum de ONGs Brasileiras para a
Conferncia da Sociedade Civil sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, na qual o
conceito de desenvolvimento sustentvel colocado em pauta e depois de inmeros
debates substitudo por sociedade democrtica, mais justa e ecologicamente
equilibrada.
Tambm foi criado o Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis
e Responsabilidade Global. Neste documento foi compartilhada a mesma ideia do
Relatrio das ONGs Brasileiras, mas a critica foi mais efervescente em relao ao
conceito de desenvolvimento sustentvel. Este documento procurou deslocar a
noo de desenvolvimento sustentvel trazida no Relatrio Brundtland para a noo
de sociedade sustentvel.
Os debates da sociedade civil, aps criticarem o acento ainda desenvolvimentista do conceito, buscaram diferenciar sua posio, demarcando uma nova preocupao que com a sustentabilidade da sociedade, mais do que com o desenvolvimento. Desta forma, buscam apontar para o sujeito social da sustentabilidade e no apenas para o desejo de durao de um modelo de desenvolvimento. (SCOTTO, 2009, p.48)
A inteno dos movimentos sociais foi a de demarcar um novo posicionamento e a
constituio de um novo modelo de sociedade e no de desenvolvimento. O
conceito de desenvolvimento sustentvel pensado dentro de uma lgica de mercado
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foi apontado como insustentvel. Na introduo do Tratado reconhecido o papel
central da educao na formao de valores e na ao social e firmado um
compromisso com o processo educativo transformador atravs de envolvimento
pessoal, das comunidades e naes para criar sociedades sustentveis e
equitativas.4
A partir de ento, o conceito de sustentabilidade e o conceito de desenvolvimento
sustentvel passaram a ser vistos como conceitos em disputa pelo modelo
econmico vigente. O intuito dos movimentos sociais foi de incluir outra lgica aos
documentos de Educao Ambiental, mas infelizmente o conceito de
sustentabilidade tambm no conseguiu escapar da armadilha do capitalismo que o
utiliza ou incorpora para legitimar suas aes. A sustentabilidade atualmente
percebida como um conceito polissmico que por si mesmo no define um nico
marco interpretativo e ideolgico, mas transita entre diferentes matrizes discursivas
sendo disputado ideolgica e semanticamente. (CARVALHO, 2007.p.5).
Acselrad (2013, p. 6), um dos grandes crticos sobre a temtica, ressalta que o
sentido do termo sustentabilidade foi deslizando, tornando-se cada vez menos
explcito e mais ambguo. Para ele a palavra sustentabilidade [...] passou a servir
para apresentar como durveis e sustentveis justamente as prticas mais suspeitas
de serem no durveis. Acselrad chama a ateno para a formulao do conceito
apenas como retrico e como definio genrica, referindo-se ao Relatrio
Brundtland, colocando em jogo a concentrao do poder sobre os recursos por um
pequeno nmero de grandes corporaes. O que se percebe o predomnio do
discurso esvaziado com o objetivo de beneficiar apenas o mundo dos negcios.
3.Poltica para escolas sustentveis
Na esfera das disputas pelo conceito de sustentabilidade foi identificado o contexto
particular onde a poltica para Escolas Sustentveis se localiza: a poltica para a
4Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis e Responsabilidade Global. Ver em: . Acesso em: 15 ago 2013.
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sustentabilidade. Gestores que contriburam para sua criao, como parte dos
representantes de movimentos sociais, ONGs, Relatrio das ONGs, Tratado da
Educao Ambiental, entre outros; foram firmes nesta posio.
Essa poltica foi fundamentada em documentos e polticas pblicas de educao
ambiental, principalmente brasileira. Como vimos no tpico anterior, um dos
documentos importantes, criado na dcada de 1990, foi o Tratado de Educao
Ambiental para Sociedades Sustentveis e Responsabilidade Global. Outro
documento, que cabe aqui ressaltar, a Agenda 21. Este documento foi um dos
acordos importantes que foi definido pelo Ministrio do Meio Ambiente (2013) como
um instrumento de planejamento para a construo de sociedades sustentveis, em
diferentes bases geogrficas, que concilia mtodos de proteo ambiental, justia
social e eficincia econmica. Mesmo que em seu documento seja dado maior
respaldo ao termo desenvolvimento sustentvel, em sua apresentao explicitado
que a Agenda 21 o mapa e o roteiro para a construo de uma sociedade
sustentvel. 5
A partir da Agenda 21 criado pelo governo federal o Programa Nacional de
Educao Ambiental ProNEA, que ressalta a importncia de uma educao
voltada para a sustentabilidade. Um de seus objetivos o de promover processos
de educao ambiental voltados para valores humanistas, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competncias que contribuam para a participao cidad na
construo de sociedades sustentveis. (BRASIL, 2005)
A Lei n 9.795, que institui a Poltica Nacional de Educao Ambiental (PNEA), foi
outro documento importante. Trouxe como um de seus princpios bsicos para a
educao ambiental: a concepo do meio ambiente em sua totalidade,
considerando a interdependncia entre o meio natural, o scio-econmico e o
cultural, sob o enfoque da sustentabilidade. Assim como um de seus objetivos
fundamentais o estmulo cooperao entre as diversas regies do Pas, em
nveis micro e macrorregionais, com vistas construo de uma sociedade
5 Ver em: Agenda 21. . Acesso em: 20 fev 2014. Pag.8.
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ambientalmente equilibrada, fundada nos princpios da liberdade, igualdade,
solidariedade, democracia, justia social, responsabilidade e sustentabilidade.
(BRASIL, 1999).
Outras resolues foram firmadas como a Implementao do Programa Parmetros
em Ao: meio ambiente na escola, pelo MEC no ano de 2001, na qual se
fundamentou na Poltica Nacional de Educao Ambiental (PNEA), retomando os
princpios e objetivos da educao ambiental para a sustentabilidade. Assim como
houve a Regulamentao da Poltica Nacional de Educao Ambiental (Lei n. 9.795)
no ano de 2002, na qual criado o rgo Gestor da Poltica Nacional de Educao
Ambiental, que compartilha da mesma misso do Programa Nacional de Educao
Ambiental e do Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis e
Responsabilidade Global: a construo de sociedades sustentveis.
4.Escolas sustentveis como proposta de poltica pblica no Brasil
A primeira manifestao para a poltica para Escolas Sustentveis ocorreu aps a
participao de especialistas no colquio denominado Sustentabilidade, Educao
Ambiental e Eficincia Energtica: um Desafio para as Instituies de Ensino e para
a Sociedade", realizado no dia 26 de junho de 2009, em Braslia (TRAJBER; SATO,
2010). Neste encontro, promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econmico e
Social (CDES), discutiu-se sobre os rumos da educao, especificamente, os rumos
da educao ambiental.
Os temas apresentados foram to profundos e tocantes que geraram as primeiras
reflexes para a construo da proposta que hoje se denomina Escolas
Sustentveis. Segundo Trajber e Sato (2010), os temas abordados no primeiro
momento do evento foram os mais instigantes. Estavam entre os conferencistas
Moacir Gadotti, representado o Instituto Paulo Freire, na qual abordou os temas
sustentabilidade, educao ambiental e construes sustentveis; Roberto Lamberts
da Universidade Federal de Santa Catarina que apresentou modelos de construes
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de casas solares e Marco Antonio Saidel da Universidade de So Paulo, que trouxe
alternativas para o uso eficiente de energia. (CDES, 2014).
Aps o colquio os representantes da Coordenao Geral de Educao Ambiental
(CGEA) do Ministrio da Educao (MEC), Universidades Federal de Ouro Preto
(UFOP), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT)6 passaram a pensar em uma proposta de educao
que contemplasse o que acreditavam e sonhavam, e que viesse ao encontro das
polticas j existentes.
A proposta inicial, alm de receber o incentivo do evento, necessitou de um rduo
estudo e pesquisa. O Plano Nacional sobre Mudana do Clima foi uma das leituras
essenciais dando suporte ao projeto, na qual prope a implementao de
programas de espaos educadores sustentveis com readequao de prdios
(escolares e universitrios) e da gesto, alm da formao de professores e da
insero da temtica nos currculos e materiais didticos. (BRASIL, 2008).
Tambm contribui para a proposta da poltica para Escolas Sustentveis o Decreto
n 7.083/2010. Este decreto prope a ampliao do tempo de permanncia dos
alunos (as) na escola, atravs do Programa Mais Educao e tambm determina, no
inciso V, o incentivo criao de espaos educadores sustentveis (BRASIL,
2010).
Segundo o blog do Grupo Pesquisador em Educao Ambiental, Comunicao e
Arte (GPEA), o programa tambm buscou inspirao em outras propostas
existentes. Seguindo as pistas deixadas no artigo de TRAJBER e SATO (2010), a
proposta inglesa a que o blog se refere a desenvolvida pelo Projeto Escola
Sustentvel7. O projeto tem como filosofia a educao para a sustentabilidade,
integrando currculo, comunidade e prticas. Tambm citado o trabalho realizado
pelo EcoCentro IPEC - Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado e o livro
6 Entre eles Rachel Trajber(CGEA); Iclia Albuquerque de Vargas (UFMS), Glauce Viana de Souza e Michle Sato (UFMT), Dulce Maria Pereira e Jorge Luiz Brescia (UFOP). 7 Ver em: http://www.sustainableschoolsproject.org./
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produzido pelo instituto denominado Criando Habitats na Escola Sustentvel, tendo
como autoria Lucy Legan (LEGAN, 2009).
Aps um perodo de estudos, pesquisas, construes, desconstrues e acatando
as orientaes do Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis e
Responsabilidade Global e a Avaliao Ecossistmica do Milnio8, entre outros
documentos (TRAJBER; SATO, p.72, 2010), lanado em agosto de 2010, no Sesc
Pantanal, em Pocon (MT), o Programa Escolas Sustentveis. Ocorreu atravs do
processo formativo em Educao Ambiental denominado Escolas Sustentveis e
Com-Vida, vinculado a Universidade Aberta do Brasil (UAB). Este curso9 foi
oferecido para representantes de 180 escolas, destinado a 2800 cursistas (alunos,
professores e gestores) e envolveu dezoito Secretarias de Educao (SEDUC) de
dezoito estados. Contou com o apoio do MEC e de algumas universidades, entre
elas Universidade Federal de Ouro Preto, Universidade Federal de Mato Grosso,
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, assim como contou com o apoio da
Coordenao Geral de Educao Ambiental. O objetivo inicial foi o de implementar
o projeto em escolas de Ensino Mdio, juntamente com o Programa Mais Educao.
O programa se vinculou a trs pressupostos pedaggicos: cuidado, integridade e
dilogo. Esses pressupostos articulados a trs elos: espao, currculo e gesto.
Segundo TRAJBER e SATO (2010),
[] as escolas sustentveis querem envolver escola e comunidade em pequenos projetos ambientais escolares comunitrios, considerando o sujeito [estudante] percebido no mundo, suas relaes no mosaico social da escola e seu entorno [comunidade] e no desenvolvimento de atividades, projetos e planos que se entrelacem com o local [bairro, municpio educador sustentvel], promovendo dilogos entre os conhecimentos cientficos, culturais e saberes locais.
8 O documento teve por objetivo avaliar as consequncias que as mudanas nos ecossistemas trazem para o bem-estar humano e as bases cientficas das aes necessrias para melhorar a preservao e uso sustentvel desses ecossistemas e sua contribuio ao bem-estar humano. Disponvel em: http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/content/avaliacao-ecossistemica-do-milenio. Acesso em: 20 fev 2014. 9 Curso oferecido at o ano de 2014, nos estados de Alagoas, Amap, Bahia, Esprito Santo, Minas Gerais, Par, Rio de Janeiro e So Paulo. Um exemplo o caso da Universidade Federal de Ouro Preto. Ver em: . Acesso em: 10 fev 2014.
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Em 2012, para fortalecer a implementao do programa, foi assinada pelos ministros
de Estado da Educao e ministra de Estado do Meio Ambiente a PORTARIA
INTERMINISTERIAL N 883, DE 5 DE JULHO DE 2012. Com os objetivos de:
Propiciar atitude responsvel e comprometida da comunidade escolar com as questes socioambientais locais e globais, com nfase na participao social e nos processos de melhoria da relao ensinoaprendizagem, em uma viso de educao para a sustentabilidade e o respeito diversidade de modo a:
Fortalecer a educao ambiental nos sistemas de ensino;
Fortalecer a participao da comunidade escolar na construo de polticas pblicas de educao e de meio ambiente;
Apoiar as escolas na transio para a sustentabilidade, contribuindo para que se constituam em espaos educadores sustentveis a partir da articulao de trs eixos: gesto, currculo e espao fsico;
Estimular a incluso de propostas de sustentabilidade socioambiental no Projeto Poltico Pedaggico (PPP) a partir da gesto, currculo e espao fsico;
Criar e fortalecer as COM-VIDAS - Comisso de Meio Ambiente e Qualidade de Vida10 nas escolas, como espaos de debate sobre questes sociais e ambientais na escola e na comunidade e perceber como eles se relacionam com a sade, a qualidade de vida, os direitos humanos e preveno de riscos e emergncias ambientais;
Contribuir para a Dcada da Educao para o Desenvolvimento Sustentvel11 e para a consecuo das Metas do Milnio12, ambas iniciativas das Organizaes das Naes Unidas, em uma perspectiva da Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis;
Fortalecer a participao da juventude na implementao da Poltica Nacional de Educao Ambiental e incentiv-la a contribuir com a soluo dos problemas socioambientais.
Desde 2003, a juventude brasileira vem recebendo o incentivo, atravs dos
Ministrios da Educao e Meio Ambiente, para a participao nas decises polticas
relacionadas educao ambiental. Atravs de conferencias com os coletivos
10 A Comisso de Meio Ambiente e Qualidade de Vida - Com-Vida - uma nova forma de organizao na escola, que cria conselhos de meio ambiente, articulado aos Crculos de Aprendizagem e Cultura (Conforme definio de Paulo Freire). Os principais articuladores da Com-Vida so os estudantes, assim como pessoas da comunidade escolar e representantes de outras organizaes interessados na proposta. Disponvel em: . Acesso em: 15 fev 2014. 11 De 2005 a 2014. tambm uma rede de responsabilidades pela qual os governos, organizaes internacionais, sociedade civil, setor privado e comunidades locais ao redor do mundo podem demonstrar seu compromisso prtico de aprender a viver sustentavelmente. 12 Um de seus objetivos o de garantir a sustentabilidade ambiental.
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(alunos, professores, funcionrios, pais, representantes da comunidade, enfim todos
os envolvidos direta ou indiretamente com a escola), dedica-se tempos a refletir
sobre os problemas encontrados na escola/comunidade e buscam-se possveis
solues atravs da construo de projetos.
A ltima Conferncia Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, em 2013, envolveu
muitos jovens de diversos estados e municpios. O tema desta conferncia foi
Vamos Cuidar do Brasil com Escolas Sustentveis. O livreto referente a est
conferncia retoma o conceito de Escola Sustentvel, referindo-se a ela como
um local onde se desenvolvem processos educativos permanentes e continuados, capazes de sensibilizar o indivduo e a coletividade para a construo de conhecimentos, valores, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a construo de uma sociedade de direitos, ambientalmente justa e sustentvel. (BRASIL,2012)
Tambm foram disponibilizadas no site do MEC, as Webs Conferncias, na qual em
seu 2 encontro, Jos Vicente de Freitas, coordenador Geral de Educao
Ambiental, define Escola Sustentvel como uma proposta que incentiva a
possibilidade de reflexo sobre outra forma de sermos no mundo. Assim como
Neusa Helena Rocha Barbosa, assessora tcnica do Ministrio da Educao (MEC),
no mesmo espao refora que uma escola sustentvel precisa ser sustentvel
tambm nas relaes com as pessoas.13. Uma escola sustentvel no pode ser
reduzida as atividades prticas, ela precisa ter um olhar holstico. As prticas so
importantes, podendo muitos projetos partir delas, mas devero ir alm, provocando
e proporcionando a transformao do sujeito e seu meio.
Para fortalecer essa poltica, no ano de 2013 foi lanado o Programa Dinheiro Direto
na Escola (PDDE)14 Escola Sustentvel, com o propsito de garantir recursos para
que as escolas desenvolvam projetos de aes voltados para a sustentabilidade.
Este recurso, num total de R$100 milhes, disponibilizado pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educao (FNDE), com o objetivo de dar assistncia financeira
s escolas da rede pblica de ensino. A meta para o ano de 2013 foi de atingir
13Disponvel em:http://www.youtube.com/watch?v=a0npUJ06PQU 14PDDE Disponvel em: . Acesso em: 15 jan 2014.
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10.000 escolas de educao infantil, ensino fundamental e mdio. O Objetivo da
Resoluo CD/FNDE n 18, de 21 de maio de 2013 consiste:
no repasse financeiro, por meio de transferncia de recursos de custeio e de capital, para promover aes voltadas melhoria da qualidade de ensino e apoiar as escolas pblicas das redes distrital, municipais e estaduais na adoo de critrios de sustentabilidade socioambiental, considerando o currculo, a gesto e o espao fsico, de forma a torn-las espaos educadores sustentveis.
Tambm, durante a IV Conferncia Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, a
presidenta Dilma Rousseff declarou que "O Ministrio da Educao (MEC) est se
empenhado em assegurar um apoio crescente a essa questo das escolas
ecolgicas e escolas sustentveis. Ns teremos uma meta de chegar a 10 mil
escolas ainda em 2014. (PORTAL BRASIL, 2013).
A partir da CD/FNDE n 18, algumas escolas que j haviam participado da III
CNIJMA e que apresentaram toda a documentao necessria, passaram a receber
a verba do PDDE- Escolas Sustentveis. Um ganho positivo para a educao
ambiental brasileira e fortalecimento da proposta da poltica para Escolas
Sustentveis.
5.Consideraes Finais
Foi possvel constatar que o programa para Escolas Sustentveis est
fundamentado em polticas e documentos que tentam se afastar do modelo de
desenvolvimento vigente. uma proposta que refora as polticas existentes sobre
educao ambiental caminhando em direo sustentabilidade socioambiental.
O processo de ambientalizao, como a promoo da internalizao de valores
ticos, estticos e morais em torno do cuidado com meio ambiente, um dos fins
intrnsecos da poltica para ES, pois busca contribuir para a construo de espaos
educadores sustentveis, atravs do incentivo a ambientalizao do currculo, a
gesto democrtica e o espao fsico repensado com a comunidade escolar, assim
como, um programa que incentiva a prxis reflexiva e prioriza o dilogo entre os
conhecimentos cientficos, culturais e saberes locais.
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O processo formativo Escolas Sustentveis e Com-Vida foi identificado como
essencial para o fortalecimento da poltica para ES. Infelizmente esta formao no
est presente em todos os estados do Brasil. No ano de 2014, apenas os estados de
Alagoas, Amap, Bahia, Esprito Santo, Minas Gerais, Par, Rio de Janeiro e So
Paulo, aderiram. Um nmero muito significativo, mas ainda pouco, se relacionado ao
nmero de estados brasileiros.
A CNIJMA, principalmente a ltima edio, foi apresentada como o elo entre a
poltica para ES e as escolas de educao bsica brasileira. Cada estado teve um
nmero expressivo de escolas participantes, sendo que na primeira etapa
(conferncias nas escolas), 16.945 enviaram seus projetos para o MEC.
A poltica para Escolas Sustentveis est aos poucos sendo difundida no Brasil com
a proposta de transformar as escolas em espaos educadores sustentveis. O que
se espera que esta prtica seja sistmica, fortalecida pelos processos formativos,
legislaes, conferncias, assim como outros movimentos e, com isso, provocadora
de mudanas locais (escola e comunidade) e, consequentemente, globais
(educao brasileira).
Referncias
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FACULDADE DE EDUCAO DA PUCRS PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO
ANAIS DO II SEMINRIO SOBRENATUREZAS
23 a 26 de abril de 2014 Porto Alegre RS - Brasil
38 Anais do II Seminrio SobreNaturezas Ambientalizao e Prticas Escolares
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