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por uma cultura de paz e pela ecologia integral Revista Ecologia Integral Impressa em papel reciclado Ano 7 - N.º 32 - R$6,00 A vida nas cidades Limites e possibilidades do meio urbano Foto: Desirée Ruas

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Page 1: Revista Ecologia Integral · no trânsito, no trabalho, nas escolas, nas universidades, nos prédios, nos condomínios, ... ambiente e de sociedades sustentáveis. III Conferência

por uma cultura de paz e pela ecologia integral

Revista

Ecologia IntegralImpressa em papel reciclado

Ano 7 - N.º 32 - R$6,00

A vida nas cidadesLimites e possibilidades

do meio urbano

Foto

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Page 2: Revista Ecologia Integral · no trânsito, no trabalho, nas escolas, nas universidades, nos prédios, nos condomínios, ... ambiente e de sociedades sustentáveis. III Conferência

A vida nas cidadesA vida nas cidadesA vida nas cidadesA vida nas cidadesA vida nas cidades

O que é urbanoO que é urbanoO que é urbanoO que é urbanoO que é urbano

Urbanização crescenteUrbanização crescenteUrbanização crescenteUrbanização crescenteUrbanização crescente

O surgimento das cidadesO surgimento das cidadesO surgimento das cidadesO surgimento das cidadesO surgimento das cidades

A integração entre o campo e a cidadeA integração entre o campo e a cidadeA integração entre o campo e a cidadeA integração entre o campo e a cidadeA integração entre o campo e a cidade

O movimento migratór ioO movimento migratór ioO movimento migratór ioO movimento migratór ioO movimento migratór io

A expansão urbanaA expansão urbanaA expansão urbanaA expansão urbanaA expansão urbana

As conseqüências da vida urbanaAs conseqüências da vida urbanaAs conseqüências da vida urbanaAs conseqüências da vida urbanaAs conseqüências da vida urbana

Pequenas ações por uma cidade em pazPequenas ações por uma cidade em pazPequenas ações por uma cidade em pazPequenas ações por uma cidade em pazPequenas ações por uma cidade em paz

Pegada ecológicaPegada ecológicaPegada ecológicaPegada ecológicaPegada ecológica

O que propõe a Agenda 21 para as cidadesO que propõe a Agenda 21 para as cidadesO que propõe a Agenda 21 para as cidadesO que propõe a Agenda 21 para as cidadesO que propõe a Agenda 21 para as cidades

O trânsito: ruas de menos ou carros de mais?O trânsito: ruas de menos ou carros de mais?O trânsito: ruas de menos ou carros de mais?O trânsito: ruas de menos ou carros de mais?O trânsito: ruas de menos ou carros de mais?

Cenas do Dia Mundial Sem Carro em Belo HorizonteCenas do Dia Mundial Sem Carro em Belo HorizonteCenas do Dia Mundial Sem Carro em Belo HorizonteCenas do Dia Mundial Sem Carro em Belo HorizonteCenas do Dia Mundial Sem Carro em Belo Horizonte

Segurança al imentar nas cidadesSegurança al imentar nas cidadesSegurança al imentar nas cidadesSegurança al imentar nas cidadesSegurança al imentar nas cidades

A questão da moradiaA questão da moradiaA questão da moradiaA questão da moradiaA questão da moradia

Construções sustentáveisConstruções sustentáveisConstruções sustentáveisConstruções sustentáveisConstruções sustentáveis

Espaço públ ico: responsabi l idade de todosEspaço públ ico: responsabi l idade de todosEspaço públ ico: responsabi l idade de todosEspaço públ ico: responsabi l idade de todosEspaço públ ico: responsabi l idade de todos

Democracia e part ic ipaçãoDemocracia e part ic ipaçãoDemocracia e part ic ipaçãoDemocracia e part ic ipaçãoDemocracia e part ic ipação

O papel do cidadão na gestão O papel do cidadão na gestão O papel do cidadão na gestão O papel do cidadão na gestão O papel do cidadão na gestão urbanaurbanaurbanaurbanaurbana

Acessibi l idade para todosAcessibi l idade para todosAcessibi l idade para todosAcessibi l idade para todosAcessibi l idade para todos

O cuidado com a água nas cidadesO cuidado com a água nas cidadesO cuidado com a água nas cidadesO cuidado com a água nas cidadesO cuidado com a água nas cidades

O patr imônio O patr imônio O patr imônio O patr imônio O patr imônio históricohistóricohistóricohistóricohistórico das cidades das cidades das cidades das cidades das cidades

O esporte e o lazer urbanosO esporte e o lazer urbanosO esporte e o lazer urbanosO esporte e o lazer urbanosO esporte e o lazer urbanos

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Você vai ler nesta edição de n° 32...Você vai ler nesta edição de n° 32...Você vai ler nesta edição de n° 32...Você vai ler nesta edição de n° 32...Você vai ler nesta edição de n° 32...

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ObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatório 33333

Especial CidadesEspecial CidadesEspecial CidadesEspecial CidadesEspecial Cidades

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Atividades do Cei e pontos deAtividades do Cei e pontos deAtividades do Cei e pontos deAtividades do Cei e pontos deAtividades do Cei e pontos devenda da Revista Ecologia Integralvenda da Revista Ecologia Integralvenda da Revista Ecologia Integralvenda da Revista Ecologia Integralvenda da Revista Ecologia Integral3232323232

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PPPPPerguntas sobre a cidadeerguntas sobre a cidadeerguntas sobre a cidadeerguntas sobre a cidadeerguntas sobre a cidadepara as cr ianças ref let i rempara as cr ianças ref let i rempara as cr ianças ref let i rempara as cr ianças ref let i rempara as cr ianças ref let i rem

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Espaço da FlorindaEspaço da FlorindaEspaço da FlorindaEspaço da FlorindaEspaço da Florinda

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2 52 52 52 52 5 Novos usos para materiaisNovos usos para materiaisNovos usos para materiaisNovos usos para materiaisNovos usos para materiaisdescartáveis na escoladescartáveis na escoladescartáveis na escoladescartáveis na escoladescartáveis na escola

Pensar globalmente,Pensar globalmente,Pensar globalmente,Pensar globalmente,Pensar globalmente,agir localmenteagir localmenteagir localmenteagir localmenteagir localmente

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2 32 32 32 32 3 3131313131 Reflexões/Múltipla escolhaReflexões/Múltipla escolhaReflexões/Múltipla escolhaReflexões/Múltipla escolhaReflexões/Múltipla escolha

Educação ambiental urbana - uma percepção daEducação ambiental urbana - uma percepção daEducação ambiental urbana - uma percepção daEducação ambiental urbana - uma percepção daEducação ambiental urbana - uma percepção daecologia integral - ecologia integral - ecologia integral - ecologia integral - ecologia integral - por Ana Mansoldopor Ana Mansoldopor Ana Mansoldopor Ana Mansoldopor Ana Mansoldo

Educação ambientalEducação ambientalEducação ambientalEducação ambientalEducação ambiental

3 03 03 03 03 0

2 92 92 92 92 9 A ecologia dos nossos sentidos: os ouvidos e oA ecologia dos nossos sentidos: os ouvidos e oA ecologia dos nossos sentidos: os ouvidos e oA ecologia dos nossos sentidos: os ouvidos e oA ecologia dos nossos sentidos: os ouvidos e osentido da audição - sentido da audição - sentido da audição - sentido da audição - sentido da audição - por Leandro Carvalhopor Leandro Carvalhopor Leandro Carvalhopor Leandro Carvalhopor Leandro Carvalho Silva Silva Silva Silva Silva

Ecologia pessoalEcologia pessoalEcologia pessoalEcologia pessoalEcologia pessoal

2 82 82 82 82 8 Qualidade de vida: uma análise jur ídicaQualidade de vida: uma análise jur ídicaQualidade de vida: uma análise jur ídicaQualidade de vida: uma análise jur ídicaQualidade de vida: uma análise jur ídicapor Leonardo Alves Corrêapor Leonardo Alves Corrêapor Leonardo Alves Corrêapor Leonardo Alves Corrêapor Leonardo Alves Corrêa

Direito ambientalDireito ambientalDireito ambientalDireito ambientalDireito ambiental

A relação do ser humano com as árvores nasA relação do ser humano com as árvores nasA relação do ser humano com as árvores nasA relação do ser humano com as árvores nasA relação do ser humano com as árvores nascidades - cidades - cidades - cidades - cidades - Entrevista com Cynthia FrankEntrevista com Cynthia FrankEntrevista com Cynthia FrankEntrevista com Cynthia FrankEntrevista com Cynthia Frank

EntrevistaEntrevistaEntrevistaEntrevistaEntrevista

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Mobil izaçãoMobil izaçãoMobil izaçãoMobil izaçãoMobil izaçãoCampanha: Vamos plantar um milhãoCampanha: Vamos plantar um milhãoCampanha: Vamos plantar um milhãoCampanha: Vamos plantar um milhãoCampanha: Vamos plantar um milhão

de árvores - por Carlos Solanode árvores - por Carlos Solanode árvores - por Carlos Solanode árvores - por Carlos Solanode árvores - por Carlos Solano

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Para a divulgação da ecologia integral e da cultura de paz, os conteúdos aqui apresentados podem e devem serrepassados adiante. Você pode reproduzir os textos da Revista Ecologia Integral, citando o autor (caso houver)e o nome da publicação da seguinte forma: “Extraído da Revista Ecologia Integral, uma publicaçãodo Centro de Ecologia Integral. Informações no site www.ecologiaintegral.org.br”. Finezaenviar-nos cópia do material produzido para o nosso arquivo.

A Revista Ecologia Integral é uma publicação do

Centro de Ecologia Integral, associação sem fins

econômicos, que tem por finalidade trabalhar

por uma “cultura de paz” e pela “ecologiaintegral”, apoiando e desenvolvendo ações para

a defesa, elevação e manutenção da qualidade

de vida do ser humano, da sociedade e do meio

ambiente, através de atividades que promovam

a ecologia pessoal, a ecologia social e a ecologiaambiental. A Revista é um dos meios utilizados

para divulgar, informar, sensibilizar e iniciar um

processo de transformação em direção à

ecologia integral e a uma cultura de paz.

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ExpedienteExpedienteExpedienteExpedienteExpediente EditorialEditorialEditorialEditorialEditorialO povo brasileiro e o meio urbano

Revista Ecologia Integral - ISSN 1808-7256Ano 7 - N° 32 - Impressa em novembro de 2007Publicação do Centro de Ecologia Integral - CeiRegistrada no Cartório de Registro Civil dePessoas Jurídicas sob o nº 1093Diretores do Cei: Ana Maria Vidigal Ribeiro e

José Luiz Ribeiro de Carvalho

Editora: Ana Maria Vidigal Ribeiro - MG 5961 JP

Jornalista responsável: Desirée Ruas - MG 5882 JP

Projeto gráfico e editoração: Desirée Ruas

Serviços gráficos: Gráfica e Editora O Lutador

Tiragem: 2200 exemplares

Endereço para correspondência:Centro de Ecologia Integral

Rua Bernardo Guimarães, 3101 - Sala 204

Bairro Santo Agostinho - Belo Horizonte

Minas Gerais - Cep: 30.140-083

Telefone: (31) 3275-3602

[email protected]

www.ecologiaintegral.org.br

Em respeito ao meio ambiente, a Revista Ecologia Integral é impressa em papel reciclado.

Ana Maria e José LuizDiretores do Centro de Ecologia Integral

Para adquirir uma assinatura da Revista EcologiaIntegral (oito edições), envie cheque cruzado e

nominal ao Centro de Ecologia Integral no valor

de R$48,00 (preço válido até 31/12/2007). Ou

solicite boleta para pagamento que será enviada

pelo correio.

Assistimos recentemente, no CEI, o documentário “O Povo Brasileiro”, baseado no livrode Darcy Ribeiro, que nos mostra como somos um povo em processo de construção.Guardamos, em cada um de nós, as tradições e a cultura de nossos ancestrais indígenas,negros, portugueses e de muitos outros povos. Recém-chegados das florestas, dos campos,dos cerrados, das caatingas, das vilas, dos povoados, das pequenas comunidades e daspequenas cidades, agora habitamos também os grandes centros urbanos, com todas as suasdificuldades e facilidades.

Nos últimos cinqüenta anos presenciamos uma transformação radical na distribuição dapopulação brasileira. Hoje somos mais de 80 % de pessoas vivendo no meio urbano. A nossadiversidade étnica, racial e cultural, agora vivendo e convivendo concentrada nas cidades,tem características que nos torna um povo único, uma sociedade especial, que simbolizamuito bem a crise de transformações do mundo globalizado atual.

Os desafios das grandes cidades tornam-se também grandes desafios para a construçãoda nova identidade do povo brasileiro: respeitar e cuidar das nossas diversidades; encontrarsoluções para uma convivência pacífica, socialmente justa e ecologicamente correta ebuscar um modo de vida sustentável para todos.

Várias questões se apresentam, quando se trata do meio urbano. Como propiciar atodos os seus moradores o acesso à moradia, à água, aos alimentos, à mobilidade, à saúde,à educação, à cultura? Como manter espaços de participação, oportunidades, a paz e asegurança num ambiente de desigualdades sociais cada vez maiores? Como conseguir queos habitantes “pertençam” realmente àquele lugar, usufruam dos espaços públicos, ajudema cuidar da cidade como extensão das suas residências? Qual o tamanho ideal de uma cidadeque evite os desequilíbrios advindos de um crescimento exagerado e descontrolado? Comoequilibrar construções e áreas verdes, o antigo e o novo? Como assegurar o direito de todosa um ambiente saudável e seguro?

Essas são questões fundamentais que trazemos à discussão nesta edição da RevistaEcologia Integral. A nossa proposta é que cada morador das cidades faça uma reflexão sobreo seu papel como vizinho, parente, amigo, colega, cidadão, trabalhador, em casa, nas ruas,no trânsito, no trabalho, nas escolas, nas universidades, nos prédios, nos condomínios,buscando fazer a sua parte para que a vida nos centros urbanos se torne cada vez melhor emais sustentável.

Um grande abraço a todos

Revista Ecologia Integral n°32

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Centro de Ecologia Integral

de Jequitinhonha/MG

Tel.: (33) 3741-1107 (Frei Pedro)

Centro de Ecologia Integral

de Pirapora/MG

Tel.: (38) 3741-7557 (Delvane)

Amalé - Grupo de Divulgação das

Manifestações Folclóricas

Juiz de Fora/MG

www.grupoamale.org.br

Associação Cultural Nova Acrópole do Brasil

www.nova-acropole.org.br

Tel.: (31) 3227-1148

Gráfica e Editora O Lutador

Tel.: (31) 3439-8000

www.olutador.org.br

Sociedade Vegetariana Brasileira (BH)

Tel.: (31) 3313-5592 - [email protected]

www.svb.org.br/libertas

Quatro Cantos do Mundo

Tels.: (31) 3461-6851/9111-9359 (Carolina)

www.4cantosdomundo.org.br

[email protected]

Rede Mineira de Educação Ambiental

Tel.: (31) 3277-5040

[email protected]

Trilhas D’Água Passeios Ecológicos

Tels.: (31) 3295-6546/9985-3185 (Evaldo)

[email protected]

Universidade Internacional da Paz

Unipaz-MG

Tel.: (31) 3297-9026

www.unipazmg.org.br

Unipaz - Araxá

Tels.: (34) 3661-3199 (Homero)

Atuais parceirosAtuais parceirosAtuais parceirosAtuais parceirosAtuais parceiros Conheça as dimensões daConheça as dimensões daConheça as dimensões daConheça as dimensões daConheça as dimensões daecologia integralecologia integralecologia integralecologia integralecologia integral

iA ecologia pessoalvisa a saúde física, emocional, mental e espiritual do ser humano como

estratégia fundamental para o desenvolvimento da paz e da ecologia

integral.

A ecologia socialbusca a integração do ser humano com a sociedade, o exercício da

cidadania, da participação e dos direitos humanos, a justiça social, a

simplicidade voluntária e o conforto essencial, a escala humana, a

cultura de paz, a ética da diversidade, os valores universais, a

inclusividade, a multi e a transdisciplinaridade.

A ecologia ambientalobjetiva a integração do ser humano com a natureza facilitando o

processo de conscientização e sensibilização no sentido da redução do

consumo e do desperdício, do incentivo à reutilização e à reciclagem

dos recursos naturais, bem como da preservação e defesa do meio

ambiente e de sociedades sustentáveis.

III Conferência de Meio AmbienteAté maio de 2008, acontecerão simultaneamente a III Conferência

Nacional de Meio Ambiente e a III Conferência Estadual de MeioAmbiente. Nas edições anteriores, em 2003 e 2005, a Conferênciareuniu milhares de brasileiros em torno da idéia: Vamos Cuidar doBrasil.

A Comissão Organizadora Estadual, COE-MG, vem trabalhando paramobilizar a população e organizar a Conferência em Minas Gerais.Dela participam representantes de vários setores da sociedade. Atédezembro de 2007, serão realizadas Conferências Regionais em noveregiões do Estado. A participação é aberta ao público em geral. Assim,a sociedade civil, setor empresarial patronal e setor governamentalse reunirão para debater uma das maiores preocupações ambientaisdo momento: as mudanças climáticas.

Além de discutir e apresentar as propostas, Minas Gerais escolherá76 delegados, eleitos nas Conferências Regionais. Essa delegaçãodefenderá as proposições retiradas das discussões no estado que serãoencaminhadas para a Conferência Nacional. As nove ConferênciasRegionais acontecem em Monte Carmelo, João Monlevade,Diamantina, Divinópolis, Varginha, Montes Claros, Barbacena, Ribeirãodas Neves e Unaí.Mais informações sobre como participar pelos telefones:(31) 3219-5086, 3219-5084 ou pelo site www.semad.mg.gov.br

Revista Ecologia Integral n°32

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ObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatório

Camada de ozônio: metas de proteçãoO consumo e a produção de gases que destroem a camada de

ozônio serão eliminados completamente até 2030, no caso dospaíses em desenvolvimento, e até 2020 para os desenvolvidos,de acordo com a decisão tomada durante a 19ª Reunião dasPartes do Protocolo de Montreal, em setembro de 2007. Ocronograma mais rígido diminuiu os prazos anteriormenteestabelecidos para a utilização dos hidrofluorcarbonetos, HCFCs,gases usados, entre outros fins, como fluidos refrigerantes emgeladeiras e aparelhos de ar-condicionado.

Os HCFCs causam danos à camada de ozônio, que funcionacomo um escudo protetor do planeta contra as radiações solares.A maior radiação ultravioleta, UV, aumenta a incidência decâncer de pele e catarata nos olhos, pode comprometer o sistemaimunológico e ameaça o equilíbrio ecológico dos corpos d’água,dos solos e das florestas.

Segundo estatísticas das Nações Unidas, os países que maisreduziram o consumo de HCFCs foram: China, Estados Unidos,Japão, Rússia e Brasil.

Rio+15: novas discussões

A camada de ozônio serve como escudoprotetor das radiações solares que causamdanos à saúde humana e ao meio ambiente

Foto: Alice Okawara

Em setembro de 2007, quinze anos após arealização da Conferência das Nações Unidas sobreMeio Ambiente e Desenvolvimento, Rio-92,representantes de várias partes do mundodiscutiram temas ambientais de relevância paratodo o planeta na cidade do Rio de Janeiro.

O objetivo da Conferência Internacional Rio+15foi analisar questões em retrospectiva, pontuandoas iniciativas realizadas desde a Rio-92 e oProtocolo de Quioto, os limites encontrados e osseus impactos na economia, além de apresentarperspectivas e oportunidades de combate àsmudanças climáticas.

As questões levantadas pelos palestrantesdurante o encontro foram compiladas em umdocumento que será apresentado em dezembrode 2007, na província de Bali, na Indonésia,quando ministros do Meio Ambiente dos mais de180 países signatários da Convenção-Quadro dasNações Unidas Sobre Mudança do Clima vão sereunir, para definir metas de redução da emissãode gases do efeito estufa para os próximos anos.

Poluição do ar nas capitaisA poluição do ar em seis capitais brasileiras está acima dos

limites estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde, OMS.Segundo pesquisa do Laboratório de Poluição AtmosféricaExperimental da USP, São Paulo ainda é a capital mais poluídado Brasil e as medições, realizadas entre maio e julho desteano, mostram a situação desfavorável também nas cidades doRio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife.

A principal fonte de emissão do poluente material particuladofino (mistura de poeiras e fumaça) são os veículos. A OMSrecomenda que a concentração de material particulado finonão ultrapasse os 10 microgramas por metro cúbico. Porém, amédia foi de mais de 20 microgramas por metro cúbico nessascapitais. A exposição de longo prazo a esse tipo de poluiçãoestá diretamente relacionada a mortes por doençascardiovasculares e por bronquites crônicas.

Ilustração: Emidio

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ObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatório

Declaração dos Direitosdos Povos Indígenas

Após 22 anos de discussões, a Assembléia Geral daOrganização das Nações Unidas, ONU, aprovou aDeclaração das Nações Unidas sobre Direitos dos PovosIndígenas. O texto é uma síntese das reivindicaçõesatuais dos povos indígenas em todo o mundo acerca damelhoria de suas relações com os Estados nacionais eserve para estabelecer parâmetros mínimos para outrosinstrumentos internacionais e leis nacionais. Nadeclaração constam princípios como a igualdade dedireitos e a proibição de discriminação, o direito àautodeterminação e a necessidade de fazer doconsentimento e do acordo de vontades o referencialdo relacionamento entre povos indígenas e Estados.

A Declaração, em discussão desde 1985, foi adotadapela Assembléia Geral da ONU, com 143 votos a favor,onze abstenções e quatro votos contrários (EstadosUnidos, Nova Zelândia, Canadá e Austrália).

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- Fins de semana ecológicos- Fins de semana ecológicos- Fins de semana ecológicos- Fins de semana ecológicos- Fins de semana ecológicos preparados especialmente para o CEI (Parques Estaduais e Nacionais, Estrada Real - Circuito do Ouro, Cidades Mágicas do Sul de Minas, entre outros).

- T- T- T- T- Trrrrreinamenteinamenteinamenteinamenteinamento emo emo emo emo emprprprprpresaresaresaresaresarialialialialial com esportes de aventura.

- Roteiros personalizados- Roteiros personalizados- Roteiros personalizados- Roteiros personalizados- Roteiros personalizados para grupos, empresas, escolas e associações.

- Santiago de Compostela- Santiago de Compostela- Santiago de Compostela- Santiago de Compostela- Santiago de Compostela - Espanha - Uma Proposta de Autoconhecimento Saídas em grupo: abril/maio e agosto/setembro de 2008.

- Machu PicchuMachu PicchuMachu PicchuMachu PicchuMachu Picchu - A Cidade Sagrada dos Incas (consultar programação).

Pacotes, excursões e passagens aéreas nacionais e internacionaisPacotes, excursões e passagens aéreas nacionais e internacionaisPacotes, excursões e passagens aéreas nacionais e internacionaisPacotes, excursões e passagens aéreas nacionais e internacionaisPacotes, excursões e passagens aéreas nacionais e internacionais

Espécies: risco de extinçãoQuase 200 novas espécies animais e vegetais se

somaram neste ano à longa lista de espécies em riscode extinção. São 16.306 nomes na lista, segundo aUnião Internacional para a Conservação da Natureza,IUCN, na sigla original.

Segundo o relatório, um mamífero em cada grupode quatro, uma ave em oito, um terço dos anfíbios e70% das plantas estão ameaçados de desaparecimento.A principal causa do risco de extinção das espécies éa ação humana.

Agricultura orgânica no mundoA agricultura orgânica não é mais um fenômeno apenas

de países desenvolvidos, pois já é praticada comer-cialmente em 120 países, representando 31 milhões dehectares e um mercado de 40 bilhões de dólares em 2006,segundo dados da Organização das Nações Unidas para aAgricultura e a Alimentação, FAO.

O estudo, apresentado na Conferência Internacionalsobre Agricultura Orgânica e Segurança Alimentar,realizada em maio de 2007, em Roma, identifica os avan-ços e limites da agricultura orgânica, observando sua con-tribuição para a segurança alimentar, e propõe políticase ações para o seu aprimoramento em todo o mundo.

De acordo com a FAO, o modelo de produção orgânicatem o potencial para assegurar o abastecimento globalde alimentos, assim como a agricultura convencional fazhoje, com a vantagem de ter um reduzido impactoambiental.

Os alimentos produzidos de modo orgânico, sem a utilização deadubos químicos ou agrotóxicos, fazem bem para a saúde dos

produtores, dos seus consumidores e do meio ambiente

Foto: Alice Okawara

Revista Ecologia Integral n°32

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ObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatórioObservatório

Alimentação inadequadaEnquanto uma parcela da população brasileira come mal por

não ter o que comer, uma outra parte come muito e de formaerrada. Segundo pesquisa da Universidade Federal de São Paulo,Unifesp, e da Universidade de São Paulo, USP, em todas as classessociais as pessoas ingerem pouca quantidade de vitaminas eminerais e estão com sobrepeso.

Os nutrientes importantes que não estão sendo consumidos pelapopulação são: vitamina C (encontrada, por exemplo, nas frutascítricas); A (nos vegetais de pigmento amarelo); D (na gema deovo); E (nos óleos vegetais e na soja); cálcio (no leite e verdurasescuras) e magnésio (nos cereais em grãos).

Ao contrário do que muita gente imagina, o melhor remédiopara acabar com a carência de vitaminas e minerais não está nafarmácia e sim nas feiras e nos sacolões, com o consumo de frutas,legumes e verduras.

A pesquisa também mostrou que, nos entrevistados das classesA e B, o índice de sobrepeso/obesidade encontrado foi de 60%,oito pontos percentuais acima da taxa de pessoas das classes C, De E (52%).

Foram ouvidas 2.420 pessoas com mais de 40 anos, em 150municípios das cinco regiões do país e de todas as classes sociais,que relataram o que haviam comido nas 24 horas anteriores.

Campanha: doação de órgãosExistem no Brasil 71.152 pacientes em lista de espera para

transplante, sendo 42.282 para órgãos sólidos, 26.793 paracórnea e 2.063 para medula óssea. Para reduzir estes números,o governo federal iniciou nova campanha para estimular asdoações de órgãos e tecidos no país. Para que as doações possamser realizadas, além de conscientizar as famílias dos potenciaisdoadores, os profissionais de saúde também precisam estarsensibilizados para a importância da notificação de morteencefálica. Se a morte encefálica não é comunicada à centralde transplante, a retirada do órgão se inviabiliza.

O programa de transplantes do Sistema Único de Saúde, SUS,é o segundo maior do mundo, superado apenas pelo da Espanha.Entre 2001 e junho de 2007, foram realizados 87.444 transplantespelo SUS. No primeiro semestre de 2007, foram realizados 7.661transplantes, sendo 620 de medula óssea, 4.989 de córnea e2.052 de órgãos sólidos. Vinte e cinco dos 27 estados brasileirosdispõem de Centrais de Notificação, Captação e Distribuição deÓrgãos, CNDCO.

Pesquisa britânica sobre o consumo naAmérica Latina mostrou que cerca de 80% dasmães permitem que seus filhos escolham asbolachas e os chocolates preferidos; 70% delastambém aceitam a decisão na compra deiogurtes, e 61% ampliam a permissão parabebidas e sucos. Os dados da pesquisa revelamo comportamento de famílias em países comoArgentina, Brasil, Chile, Guatemala e México.

Como as crianças brasileiras passam, emmédia, 35 horas semanais em frente àtelevisão, elas são muito influenciadas pelapublicidade que incentiva o consumo dealimentos pouco saudáveis. Quase metade daspublicidades veiculadas nas duas maioresemissoras de TV do país, durante o horárioinfantil, é de guloseimas. Do restante, cercade 20% são bebidas não-lácteas, comorefrigerantes. Todas tentam agregar valoresemocionais ao produto e conseguem chamar aatenção usando personagens infantis,apresentadores de TV famosos, cores fortes,objetos para colecionar e brindes.

Crianças e consumo

Ilustração: Emidio

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Limites e possibilidades do meio urbanoA vida nas cidades

O que é viver em uma cidade? Primeiramente, devemospensar que o termo cidade envolve vários tipos deaglomerações de pessoas. Há cidades do interior, cidadesmédias, capitais e as grandes metrópoles, conforme o númerode habitantes. Cidades com pequena população costumamter um modo de vida bem diferente daquelas que reúnemmilhões de pessoas. Dentro de uma mesma cidade,encontramos também vários modos de vida conforme asregiões mais centrais, da periferia, áreas nobres, vilas e favelas.A questão da infra-estrutura é outro fator que define o tipode cidade e a forma como a sua população vive.

Se há algumas décadas a população era maior no meiorural, hoje, em todo o mundo, a população urbana temcrescido enormemente. A relação com a natureza e com asoutras pessoas mudou muito com esta transição. Em muitoscasos, o ser humano passou a ser mais solitário, mesmovivendo em meio a tantas outras pessoas nas áreas urbanas.Nas cidades, diferentemente do campo, temos um modo deviver mais materialista com maior ênfase nas trocas comerciais.Afinal, não produzimos mais o nosso próprio alimento eprecisamos trabalhar para conseguir o dinheiro que nospossibilita viver nos centros urbanos, pagando para oatendimento das nossas necessidades básicas como o alimento,a moradia, a saúde, a educação.

Nas grandes metrópoles, a paisagem costuma ser maiscinzenta, preenchida por edifícios, shoppings, lojas, viadutos,largas avenidas, milhares de automóveis e pessoas e maispessoas, muitas delas mal tendo tempo para olhar o céu econtemplar um pôr-do-sol. Por outro lado, é nos centrosurbanos que temos mais acesso à informação, à educação,ao lazer, à cultura, ao comércio, aos serviços de saúde e aotrabalho. Apesar dos inconvenientes da cidade, é nela queum número cada vez maior de pessoas vive - por opção oupor falta de outras opções - por gostar do modo de vidaurbano ou por estar ligado aos benefícios que eleproporciona.

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Podemos chamar de urbanas as pessoas quevivem na cidade, têm ocupação e hábitos típicosda vida da cidade.

Na cidade, encontramos maior aglomeraçãohumana, localizada numa área geográficacircunscrita, com numerosas edificações, próximasentre si, destinadas à moradia ou atividadesculturais, mercantis, industriais, financeiras eoutras não relacionadas com a exploração diretada natureza.

O Censo Demográfico elaborado pelo InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, distingueos domicílios em função da situação rural ouurbana. De acordo com a legislação brasileira,quem habita nas sedes urbanas dos municípios éurbano, independentemente das profissõesdesempenhadas. Desta forma, o agricultor quetrabalha diariamente em seu roçado, mas morana cidade, é um urbano. O IBGE aponta comourbanos “todos os cidadãos que residem nosdistritos-sedes dos municípios ou nas sedes dosdemais distritos, independentemente do porte dacidade”

Em junho de 2007, foi lançado pelo Fundo de Populaçãoda Organização das Nações Unidas, ONU, o 30º Relatório sobrea Situação da População Mundial. Segundo o estudo, queaborda o tema da urbanização da população, neste ano, pelaprimeira vez na história, 50% da população mundial é urbanae, a partir de agora, ela será cada vez mais predominante.

Para o relatório da ONU, o processo de urbanização éinevitável mas é positivo na medida em que as cidadesrepresentam a melhor oportunidade de escapar da pobreza,apesar de concentrá-la. Mas o texto alerta que os benefíciosda urbanização dependem de uma mudança das políticaspúblicas. Segundo ele, quase todas as tentativas para contera migração rural-urbana no mundo não funcionaram e tiveramresultados temporários, com exceção daquelas que fizeramuso de métodos autoritários, como no Vietnã e na China.

Em busca de melhores condições de vida, foi grande oêxodo rural, a saída do campo para as cidades, em todo omundo. Nos centros urbanos, estão localizadas indústrias,serviços e comércio, além de maior concentração de serviçosde saúde e educação.

No Brasil e no mundo, a população urbana vem crescendorapidamente devido ao atual modelo de desenvolvimento. Aagricultura deixou de ser a principal atividade produtiva epassou a necessitar de menos trabalhadores devido àmecanização, apesar da necessidade de alimentos continuarcrescendo. Em 1950, eram 36% da população brasileira vivendonas cidades, em 2000 esse número passou para 81%. O fatode mais pessoas estarem vivendo nas áreas urbanas criou umasérie de desafios para governos e sociedade como a crescentenecessidade de postos de trabalho, serviços de saúde,educação, lazer, moradia. Grande parte desta população quemigrou das áreas rurais para as áreas urbanas foi morar emregiões sem infra-estrutura adequada como nas favelas.

Urbanização crescente

O que é urbano?

Foto: Desirée Ruas

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Os centros urbanos crescem verticalmentecom a multiplicação de prédios e edifícios

A vegetação cede lugar a novos bairros e aos condomíniosfechados, uma forma de crescimento horizontal das cidades

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O surgimento das cidades

Mas a mudança para as cidades feztambém a população brasileira diminuir oseu ritmo de crescimento, com as famíliasurbanas passando a ter menos filhos do queas das zonas rurais.

A urbanização no mundoA primeira onda de urbanização no

mundo começou na Europa e na Américado Norte durante a Revolução Industrial edurou dois séculos (1750 a 1950). A segundaonda teve início na segunda metade doséculo passado e está caminhando emritmo acelerado na América Latina - ondeas taxas de urbanização já superam aseuropéias - e principalmente na Ásia e naÁfrica. A urbanização da populaçãomundial não representa necessariamente a diminuiçãoda população rural, em termos absolutos. Na verdade, ocrescimento da população do campo é que está sendomenor. Em 1950, era aproximadamente de 1,77 bilhõese em 2007 corresponde a 3,30 bilhões, enquanto a urbana,no mesmo período, saltou de 0,73 bilhão para 3,30bilhões de pessoas.

Em boa parte do processo de urbanização de inúmerospaíses, inclusive do Brasil, o êxodo rural foi a principal

As primeiras cidades conhecidas apareceram naMesopotâmia, atual Iraque, tais como Ur e Babilônia, noVale do Rio Nilo; na Civilização do Vale do Rio Indo,atual Índia e Paquistão, e na China, entre aproxi-madamente sete a cinco mil anos atrás, geralmenteresultante do crescimento de pequenos vilarejos ou dafusão de pequenos assentamentos entre si.

As populações se concentravam ao longo dos riosdevido à necessidade dos habitantes em conseguir terrasirrigadas e férteis para o plantio e abastecimento dapopulação.

Com a Revolução Agrícola, o ser humano começou aaplicar outros processos de agricultura: irrigando,arando, selecionando sementes, observando épocaspropícias ao plantio de alguns vegetais e conhecendo asestações do ano. Com estas novas práticas, as sociedades

passaram a colher excedente agrícola, propiciando, comisso, a sua sedentarização. Com a separação entre aagricultura e o pastoreio, e a diferenciação dos tipos detrabalhos, cada grupo passou a ter suas necessidades. Opastor precisava dos produtos agrícolas do agricultor eeste, por outro lado, precisava dos produtos animaisdaquele. Começa então a aparecer postos de troca, ondepastores e agricultores permutavam seus produtos.

Junto com as trocas, passaram a surgir aglomeraçõesde pessoas e com elas as primeiras especializaçõesprofissionais, como sacerdotes, soldados e artesãos, oque, para alguns historiadores, seria uma das principaishipóteses para o surgimento das cidades.

No início do século XIII, as cidades foram novamentepovoadas, graças à retomada do comércio e à decadênciado feudalismo. No século XIV, novas cidades foram ergui-

causa. No entanto, o relatório alerta que, quanto maisurbano fica um país, menor será o número de potenciaismigrantes rurais-urbanos disponíveis, o que aumenta aparticipação do crescimento vegetativo. Atualmente, amaior parte do crescimento populacional urbano resultado crescimento vegetativo das cidades, que é a diferençaentre a taxa de natalidade e a de mortalidade.

A população rural passou de 1,77 bilhões, em 1950, para 3,30bilhões, em 2007, e a urbana, no mesmo período, saltou de

0,73 bilhão para 3,30 bilhões de pessoas

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A integração entre o campo e a cidadeSe há algumas décadas a distinção entre campo e cidade era indiscutível, hoje estas delimitações já

são incertas. Apesar das diferenças, estas duas regiões não são tão opostas como se pensava. O que mantémestas duas regiões ligadas é mais forte do que as diferenças que as separam. Afinal, o campo e as cidadessão interdependentes. O campo produz alimentos que são consumidos no meio urbano, que por sua vezproduz conhecimento, tecnologia e insumos que são empregados no campo. O desenvolvimento do capitalismona agricultura, a introdução das indústrias no interior e a modernização das sociedades urbana e ruralmudaram a visão dualista que opunha o rural ao urbano. O rural, que antes era sinônimo de agrícola eatrasado, e o urbano, de industrial e moderno, é questionada.

O crescente aumento dos meios de transporte e a multiplicação de estradas, ligando o campo àscidades, contribuiu definitivamente para pôr fim ao isolamento que, durante décadas, manteve a populaçãorural e os centros urbanos distantes.

das com grande intensidade. O capitalismo começou anascer ainda com frágeis traços, mas provocando firmese fortes alterações na política, na cultura e na sociedade.

Durante o capitalismo as cidades se tornaram cadavez mais importantes, já que nelas se concentravam ocomércio que objetivava a troca de mercadorias e oacúmulo de capitais.

No século XVIII, com a Revolução Industrial, houveum grande impulso na urbanização das cidades. Aspessoas que ali viviam ocupavam cargos na administração

pública, na segurança, no turismo, no portos, na indústriae em outras áreas.

Com o passar do tempo, algumas cidades ganharamproporções gigantescas com população que ultrapassadez milhões de pessoas. Hoje, no Brasil, as metrópolesconcentram mais de 2,4 milhões de habitantes, como éo caso de Belo Horizonte; 2,8 milhões como em Salvador;6 milhões no Rio de Janeiro e até 10,8 milhões, comoem São Paulo, a cidade mais populosa do país e a terceirado mundo, ficando atrás apenas de Nova Iorque e Tóquio.

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Foto: Alice Okawara Foto: Desirée Ruas

A ampliação das estradas e odesenvolvimento da tecnologiacontribuíram para aumentar a

interação entre o campo e a cidade

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Os processos de ocupação e crescimento urbanoacontecem de forma desordenada na maioria das cidades.O movimento das populações urbanas acontece emdireção às periferias - para o assentamento da populaçãode baixa renda - e em direção a novas áreas de expansãoimobiliária para assentar os setores de atividadesrelacionadas à classe alta.

Nas vilas e favelas, para onde se desloca grande partedos migrantes, são precárias as condições de moradia,saneamento básico, educação, lazer e saúde.

Nas regiões centrais das cidades,os grandes edifícios tomam o lugarde antigos casarões, acabando comparte da história da cidade, numatendência à verticalização.

Uma outra forma de ocupaçãourbana são os condomínios fechados

A expansão urbana

Estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas,Ipea, analisando dados da Pesquisa Nacional deAmostragem Domiciliar, Pnad 2006, divulgado em setem-bro de 2007, mostra que o fluxo populacional consolidauma tendência importante: a reversão do movimentomigratório tradicional. O estado de São Paulo, tido comolocal de atração de pessoas, viu a entrada líquida denovos moradores cair de um superávit de 400 milhabitantes, durante a década de 1990, para uma saída

líquida igual a 207 mil só em 2006.Brasília, na década de 1990,

mantinha um saldo de 63 milnovos habitantes por ano. Em2006, observou uma saídalíquida de 13 mil. Bahia, queperdia uma população igual a221 mil habitantes na década1990, teve uma entradalíquida de 33 mil, em 2006.

Um dos destaques doestudo é a transição demográ-fica pela qual passa o país

O movimento migratório(aumento do envelhecimento e queda da fecundidade);a maior homogeneidade do padrão familiar (famíliasmenores); o crescimento do número de domicíliosunipessoais; o aumento da participação da mulher nomercado de trabalho; a mudança no padrão migratório(os que migram têm maior escolaridade e se mudam deárea urbana para área urbana), dentre outros aspectos.

Na cidade, as possibilidades de trabalho são maiorese mais diversificadas, o que atrai principalmente aspopulações mais jovens. Mas a falta de qualificação eexcesso de pessoas disputando as vagas de empregoimpedem que todas elas sejam absorvidas pelo mercadoformal. Com isso grande parte das pessoas são forçadasa assumir subempregos.

Em Minas GeraisA população de Minas Gerais é atualmente de

18.865.785 habitantes. Em 2000, quando o último censodo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, IBGE,foi realizado sua população era de 17.891.494 pessoas.

Mas nem todas as 853 cidades mineiras cresceram, onúmero de moradores diminuiu em 371 municípios.

Ilustração: Emidio

que surgem nos arredores das grandes metrópoles. A buscapor mais tranqüilidade é a principalrazão pela qual as famílias estãobuscando residências fora doscentros urbanos.

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As cidades concentram muitos dos problemasambientais da Terra: crescimento populacional, poluição,degradação de recursos, geração de resíduos, dentre tantosoutros, devidos principalmente a padrões insustentáveisde produção e consumo e gestão urbana inadequada,segundo o Relatório Situação da População Mundial 2007,da Organização das Nações Unidas, ONU. As áreas urbanastanto contribuem para as mudanças ambientais globais,por meio do consumo de recursos, do uso da terra, e daprodução de resíduos, quanto sofrem seus impactos.

As pegadas ecológicas das cidades (veja matéria napágina 12) espalham-se muito além da sua vizinhançaimediata, especialmente nos países desenvolvidos. Oaumento da renda e do consumo em áreas urbanas conduza uma crescente pressão sobre os recursos naturais,provocando mudanças no uso e na cobertura vegetal emvastas áreas.

O relatório cita como exemplo a destruição dasflorestas tropicais existentes no estado mexicano deTabasco, para dar lugar à criação de gado para atender àcrescente demanda por carne da Cidade do México, a 400quilômetros de distância. O aumento da demanda de sojae carne em áreas urbanas na China, acrescida à demandado Japão, dos Estados Unidos e da Europa, está acelerandoo desmatamento na Amazônia brasileira. Mais um exemploda importância de encarar as questões regionais de formaabrangente, pensando globalmente e agindo localmente.

A questão da água é um ponto fundamental quando oassunto é urbanização, pois as cidades dependem de uma

fonte garantida de água. Apesar de depender deles, ascidades afetam os recursos hídricos de várias formas: oaumento das áreas impermeáveis nos centros urbanospoluem o escoamento superficial, reduzem a absorção deáguas pluviais e o reabastecimento de aqüíferos. Alémdisso, há também a necessidade de usinas hidrelétricas,que são construídas para o abastecimento urbano deenergia, e de estações para tratamento de águas (ETAs) epara tratamento de esgotos (ETEs).

Crescimento das cidadesSegundo dados do Ministério das Cidades, as cidades

brasileiras abrigavam, há menos de um século, 10% dapopulação nacional. Atualmente são 82%. Incharam, numprocesso perverso de exclusão e de desigualdade. Comoresultado, 6,6 milhões de famílias não possuem moradia,11% dos domicílios urbanos não têm acesso ao sistema deabastecimento de água potável e quase 50% não estãoligados às redes coletoras de esgotamento sanitário. Emmunicípios de todos os portes, multiplicam-se as favelasdentre outros problemas socioambientais.

Como o processo da urbanização é cada vez mais intensoe desafiador, é necessário buscar de formas paratransformar esta realidade, reduzindo os impactosnegativos sobre o ser humano e o meio ambiente. Dependeda ação da sociedade, das instituições e dos governos, amelhoria da qualidade de vida de um número crescentede pessoas nas cidades do país, integrando aspectoseconômicos, sociais e ambientais.

Conseqüências da vida urbana

26 a 28/10- Ecologia profunda (Carlos Cardoso Aveline)

23 a 25/11 - E a vida continua (Pierre Weil)

Pequenas ações por uma cidade em pazPequenas ações por uma cidade em pazPequenas ações por uma cidade em pazPequenas ações por uma cidade em pazPequenas ações por uma cidade em paz

Ajude a sua cidade a ter um ambiente maisacolhedor e alegre. Cuidados com os resíduos,com as plantas, com os animais urbanos e comas pessoas podem fazer a diferença.

No trânsito, reconheça que todos os seres humanos são passíveis deerro. Isto facilita o exercício da paciência e da compreensão diante dasnossas falhas e das dos outros.Quando somos cordiais com osoutros, o trânsito flui com maissegurança e paz, beneficiando atodos. E lembre-se que os motoristasestão em situação de vantagemfrente aos pedestres devendocontribuir para a segurança de quemanda pela rua.

Reflita sobre as desigualdades sociais queexistem na cidade. Busque ajudar as pessoasque vivem em situação degradante ou entre emcontato com os órgãos de assistência social,contribuindo assim para a promoção dadignidade humana.

O que temos feito pela paz em nossa cidade?

Foto: Irma Reis

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O que propõe a Agenda 21 para as cidadesAgenda 21, em seu capítulo 5 (Dinâmica demográfica

e sustentabilidade) aborda a questão do aumento dapopulação e o crescimento das cidades. “O crescimentoda população mundial e da produção, associado a padrõesnão-sustentáveis de consumo, aplica uma pressão cadavez mais intensa sobre as condições que tem nosso planetade sustentar a vida. Esses processos interativos afetam ouso da terra, a água, o ar, a energia e outros recursos. Ascidades em rápido crescimento, caso mal administradas,deparam-se com problemas ambientais gravíssimos. Oaumento do número e da dimensão das cidades exigemaior atenção para questões de governo local egerenciamento municipal. Os fatores humanos sãoelementos fundamentais a considerar nesse intricadoconjunto de vínculos; eles devem ser adequadamentelevados em consideração na formulação de políticasabrangentes para o desenvolvimento sustentável.”

O capítulo 7 do documento Agenda 21, “Promoção dodesenvolvimento sustentável nos assentamentos humanos”apresenta estratégias para melhorar a qualidade social,

econômica e ambiental dos assentamentos humanos e ascondições de vida e de trabalho de todas as pessoas, emespecial dos pobres de áreas urbanas e rurais. Segundo odocumento, essas melhorias deverão basear-se ematividades de cooperação técnica, na cooperação entreos setores público, privado e comunitário, na parti-cipação e no processo de tomada de decisões de gruposda comunidade e de grupos com interesses específicos,como mulheres, populações indígenas, idosos e portadoresde deficiência.

As áreas de programas incluídas neste capítuloreferem-se à promoção de: habitação adequada paratodos e aperfeiçoamento dos assentamentos humanos;planejamento e manejo sustentáveis do uso da terra edos assentamentos humanos localizados em áreas sujeitasa desastres; infra-estrutura ambiental integrada: água,saneamento, drenagem e manejo de resíduos sólidos;sistemas sustentáveis de energia e transporte nosassentamentos humanos; atividades sustentáveis naindústria da construção, dentre outros.

A paisagem urbanatambém mostra a

desigualdade nadistribuição de renda no

país

Pegada ecológicaÉ possível calcular o nível da pressão exercida pelos

padrões de consumo e estilos de vida urbanos sobre omeio ambiente. A chamada pegada ecológica é umindicador de sustentabilidade, ou seja, avalia o nível depressão exercida por uma cidade, estado ou país sobre oambiente. Dependendo dos hábitos de consumo e geraçãode resíduos, podemos saber se a relação de umadeterminada população com o meio ambiente é mais oumenos sustentável.

O cálculo também pode ser feito de formaindividualizada, levando em consideração os hábitos devida cotidianos na habitação, na alimentação, na geraçãode resíduos, nos modos de transporte, no consumo debens e serviços e, especialmente, no consumo de energiade cada pessoa.

A pegada ecológica dos países foi calculada noRelatório Planeta Vivo, do Fundo Mundial para a VidaSelvagem, WWF, que mostra o estado do ambiente naturale o impacto exercido por atividades humanas. O PlanetaVivo 2006 com os últimos dados disponíveis (relativos a

Pegada ecológica:(hectares por pessoa)Emirados Árabes - 11,9Estados Unidos - 9,6Austrália - 6,6Suécia - 6,1Alemanha - 4,5Japão - 4,4Portugal - 4,2México - 2,6Argentina - 2,3Brasil - 2,1China - 1,6Índia - 0,8Etiópia - 0,8

2003) indicam que a pegada ecológica da humanidadesupera a capacidade de regeneração do mundo emaproximadamente 25%. Segundo o relatório, a pegadaecológica global da humanidade quase que quadruplicouentre 1961 e 2003,aumentando assim maisrapidamente que apopulação, que quaseduplicou durante omesmo período. As in-formações mostramuma grande diferençaentre países desen-volvidos e em desen-volvimento. A média é de2,2 hectares por pessoa.Veja dados do RelatórioPlaneta Vivo 2006, doWWF, no quadro aolado:

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Repensar o espaço urbano

Para ir diariamente de casa para o trabalho e voltardepois do expediente, os moradores das grandes cidadesprecisam muito mais do que um meio de transporte: elesprecisam de paciência. O sistema viário não suporta ovolume de veículos e um trajeto que poderia ser feito em20 minutos passa a precisar de um hora para ser percorrido.O tempo que é gasto no trânsito significa menos tempopara o trabalho, descanso, lazer, etc. o que repercute nasaúde, na disposição e nos relacionamentos interpessoais.

Mesmo os projetos de engenharia de trânsito nãoconseguem resolver o problema dos congestionamentosnos grandes centros urbanos. Dados do DepartamentoNacional de Trânsito, Denatran, mostram que, em agostode 2007, a frota brasileira de automóveis ultrapassou 29milhões de unidades. Uma média de 6,52 habitantes porcarro, ou seja, 0,15 carro por habitante. A cidade de SãoPaulo, líder do ranking nacional, é detentora da perigosaestatística de um carro para cada dois habitantes. Emoutros países, os índices são ainda mais alarmantes (vejaabaixo).Número de habitantes por automóvelEstados Unidos: 1 carro para cada 1,3 habitante(1º no ranking mundial)Itália: 1 carro para cada 1,5 habitanteAustrália: 1 carro para cada 1,6 habitanteJapão, Canadá, Espanha e Alemanha:1 carro para cada 1,7 habitanteBrasil: 1 carro para cada 6,52 habitantesSão Paulo: 1 carro para cada 2 habitantes

O trânsito: ruas de menos ou carros de mais?

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Foto: Desirée Ruas

Cultura do automóvelNas cidades, o uso dos veículos particulares é cada

vez maior e mesmo em curtas distâncias. Com o excessode automóveis nas ruas, aumenta a poluição sonora eatmosférica; o estresse entre motoristas; o número deacidentes e reduz-se o espaço antes dedicado aospedestres ou ao lazer.

A emissão de gases de efeito estufa, causadores doaquecimento global, é um dos fatores que mais pesacontra os veículos. Estima-se que 40% da poluição do aré gerada por transportes movidos a combustível fóssil.

Mais do que um meio de locomoção, o automóvel éhoje símbolo de poder e status, e a publicidade contribui

para incentivar o consumismo e a trocaconstante de veículos.

Para afastar ainda mais as pessoas, osautomóveis contam agora com vidros escurosque não permitem o contato visual entre osmotoristas e entre os pedestre e motoristas.Assim, o trânsito torna-se cada vez maisdesumano.

Segundo dados de novembro de 2007 do Departamentode Trânsito de Minas Gerais, Belo Horizonte tem hojemais de um milhão de veículos em circulação. Seconsiderarmos somente os automóveis, a relação é deum carro para cada três habitantes

Foto: Desirée Ruas

Por causa das limitações do transporte coletivo e porcostume, grande parte da população urbana utiliza veículosparticulares para se locomover diariamente, na maioria dasvezes com apenas uma pessoa no carro

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Todos os anos, no dia 22 de setembro, écomemorado o Dia Mundial Sem Carro. Em todo mundo,1.800 cidades realizam a campanha, com a interdiçãode ruas e a realização de atividades que estimulem apopulação a deixar o carro em casa e procurar outrasformas de transporte, principalmente a bicicleta. Oobjetivo principal da campanha é melhorar a qualidadedo ar nos municípios e, com isso, a qualidade de vidada população.

Para incentivar os municípios a criarem políticaspúblicas, o Ministério das Cidades lançou o Cadernode Referência para Elaboração de Plano de Mobilidadepor Bicicleta nas Cidades. A publicação trazorientações técnicas para as prefeituras integrarema bicicleta ao sistema viário de suas cidades. Ocaderno reúne dados sobre o uso da bicicleta no Brasil,como a produção e frota, extensão das ciclovias eciclofaixas.

Para saber mais sobre este tema e as atividades doInstituto da Mobilidade Sustentável Ruaviva, quepromove o evento, acesse www.ruaviva.org.br.

- Compreendendo e respeitando os deveres e direitosde motoristas e pedestres.- Planejando seus deslocamentos, percorrendodistâncias curtas a pé ou de bicicleta.- Utilizando, sempre que possível, transporte coletivopara ir ao trabalho.- Preferindo meios de transportes menos poluentes.- Praticando a carona solidária.Podemos ainda pedir ao poder público:- A renovação e a expansão da frota e a ampliaçãodos sistemas de transportes coletivos (como ônibus,metrô e trem).- A criação e a expansão de ciclovias nas cidades.- O aluguel de bicicletas públicas e a criação debicicletários (estacionamentos públicos de bicicletas)em pontos estratégicos.- O rodízio de veículos.- Um sistema especial de trânsito nas áreas centraisdas cidades (por exemplo, só permitindo a circulaçãode veículos menos poluentes).

Cenas do Dia Mundial Sem Carro em Belo Horizonte

Você pode ajudar...

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O movimento Dia Sem Carro propõe repensar o uso do automóvel...

...o uso do espaço urbano

...e uma nova relação das pessoas com a cidade.

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Segurança alimentar nas cidadesNo lugar de um quintal cimentado, um pomar

e uma horta que contribuem para uma ali-mentação saudável da família. A maioria dosimóveis residenciais urbanos possui um mínimode área onde se poderia fazer pequenasplantações.

O cultivo de plantas, seja nos quintais decasas ou varandas de apartamentos, é muitobenéfico para as pessoas em vários aspectos. Éuma terapia que acalma a mente, melhora aqualidade do ar, dá mais vida aos ambientes eainda pode contribuir para uma alimentação demais qualidade.

A obtenção de alimentos saudáveis comofrutas e verduras pode ser feita dentro de casaou em hortas comunitárias, em centroscomunitários, igrejas ou escolas. Locais queatendam ou recebam com freqüência criançase população de baixa renda são pontosimportantes para o cultivo e a distribuição destesalimentos. A implantação de um programa depomares caseiros pode se realizar, também,junto com programas de educação ambiental,envolvendo crianças na conservação e manejodas mudas. Nesses casos, as escolas têmimportância fundamental: os alunos podemreceber na própria escola as mudas e otreinamento necessário para manejá-las.

Programas de segurança alimentar em Belo HorizonteCentros de Vivência Agroecológica - CEVAEs: são equipamentospúblicos comunitários de política de meio ambiente e segurançaalimentar com atuação específica em programas de intervençãosocioambiental. Atuam nas áreas de educação ambiental, segurançaalimentar e saúde, agroecologia e geração alternativa de renda.Informações pelo telefone (31) 3277-5040.Banco de Alimentos: Frutas, verduras e legumes que, devido à suaaparência, não podem ser comercializados mas ainda estão bonspara o consumo são doados por sacolões e supermercados para esteprograma alimentar da Prefeitura de Belo Horizonte. Estes alimentos,considerados resíduos pelos estabelecimentos, são selecionados,sanitizados, processados e embalados a vácuo e armazenados emcâmara frigorífica. Depois são distribuídos por meio do Banco deAlimentos para entidades beneficentes como creches, asilos e outrasentidades sociais. Para doar alimentos ou obter informações, ligue(31) 3277-5713.Restaurantes populares: com quatro unidades funcionando em BeloHorizonte, os restaurantes populares fornecem refeiçõesnutricionalmente balanceadas, comercializadas a preços acessíveis,atendendo pessoas que fazem suas refeições fora do domicílio. APrefeitura Municipal de Belo Horizonte subsidia parte do custo dasrefeições, cobrando o valor de R$ 1,00 o almoço, R$0,50 o jantar eR$0,25 o café da manhã.Mais informações: Secretaria Municipal de Política de Abastecimentoda Prefeitura de Belo Horizonte - telefone: (31) 3277-4747.

Por uma alimentação saudável e de baixo custo nos centros urbanosFoto: Irma Reis

É possível produzir alimentos dentro dos centros urbanos, nos quintaisde forma individualizada, ou em terrenos baldios de forma comunitária

Agricultura urbanaÉ a produção de alimentos dentro da áreaurbana. Em geral, caracteriza-se pelaocupação sistemática e ampliada de terrenosbaldios, com a implantação de hortas e pomarescomunitários. Um programa municipal deagricultura urbana permite aumentar a ofertade alimentos frescos, facilitar o acesso dapopulação mais pobre a alimentos saudáveis ea baixo custo e ocupar áreas baldias diminuindoas regiões abandonadas da cidade.

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A questão da moradiaEstudos mostram o déficit habitacional e a inadequação dos domicílios no Brasil

O estudo Déficit Habitacional no Brasil 2005, realizadopelo Ministério das Cidades, pelo Banco Interamericanode Desenvolvimento (BID) e pelo Programa das NaçõesUnidas para o Desenvolvimento (PNUD), mostra umdiagnóstico da habitação no país. O estudo utiliza comobase de dados a Pesquisa Nacional por Amostra deDomicílios, PNAD, do ano de 2005, do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística, IBGE.

Segundo o documento, o déficit habitacional brasileirofoi estimado em 7,903 milhões de novas moradias em2005, com incidência notadamente urbana,correspondendo a 81,2% do montante brasileiro (6,414milhões).

A região sudeste lidera a demanda nacional, comnecessidades estimadas em 2,899 milhões de unidades,vindo a seguir a nordeste, com 2,743 milhões deunidades, sendo que nesta última há parcela expressivado problema a ser equacionada em áreas rurais.

As áreas metropolitanas participam com 28,9% dademanda total, correspondendo a 2,285 milhões demoradias, concentradas nas regiões metropolitanas deSão Paulo (738 mil unidades) e Rio de Janeiro (442 milunidades), que representam mais da metade do totalmetropolitano.

Nas áreas rurais as habitações precárias assumemposição de destaque, enquanto nas áreas urbanas, alémda coabitação familiar - quando várias pessoas, com graude parentesco ou não, dividem a mesma residência - oônus excessivo com aluguel tem também presençasignificativa.

InadequaçãoA carência de infra-estrutura, definida como o não

atendimento adequado de um ou mais dos serviços básicosconsiderados (iluminação elétrica, rede geral de abas-tecimento de água, rede geral de esgotamento sanitárioou fossa séptica e coleta de lixo) é o fator que maiscontribui para a que o domicílio seja classificado comoinadequado. Observa-se que mais de 11 milhões demoradias apresentam deficiência nos serviços de infra-estrutura, sendo que a maior concentração em númerosabsolutos ocorre na região nordeste (4,190 milhões dedomicílios).

A maioria dos domicílios carentes em serviços de infra-estrutura apresenta ausência de rede coletora de esgotoou fossa séptica (6,684 milhões) e falta de abastecimentode água (1,747 milhões) no total de 8,685 milhões dedomicílios que declararam não ter acesso a apenas umdos serviços essenciais.

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Uma das atividades que mais provoca impacto no meioambiente, a construção civil, vem encontrando formas depromover a sustentabilidade de seus empreendimentos.Estima-se que o setor seja responsável pelo consumo de40% da energia produzida no planeta, de 25% de toda amadeira retirada das florestas e de 16% da água do mundo.Construções e reformas respondem ainda por 40% dosresíduos produzidos mundialmente.

A redução dos resíduos sólidos gerados e a diminuiçãodo consumo de energia elétrica e de água são alguns dosfatores que podem tornar uma construção mais sustentável.Edificações ecologicamente corretas são aquelas quepriorizam a iluminação e a ventilação naturais, o uso deenergias renováveis, o reaproveitamento da água, entreoutros.

É cada vez maior o número de investimentos em pesquisapara o desenvolvimento e aplicação de sistemas construtivosmais limpos; a seleção mais criteriosa de fornecedores,privilegiando fabricantes de produtos recicláveis e menospoluentes; e o uso de tecnologia para reduzir o consumo epromover o reaproveitamento dos recursos naturais naconstrução civil.

Redução, reutilização e reciclagemA redução do desperdício de materiais é uma das

principais metas das construções que pretendem sersustentáveis. Os grandes volumes de entulho geradossignificam perda de matéria-prima, de energia, sendo ummau negócio para o empreendedor e para o meio ambiente.

Além de evitar o desperdício, é possível reaproveitarmateriais. Em Belo Horizonte, o entulho da construção civilpode ser levado às unidades de reaproveitamento instaladaspela Prefeitura, as chamadas Unidades de Recepção dePequenos Volumes, URPV, onde este entulho será

reprocessado para outras utilizações.

Construções sustentáveisProjetos ecologicamente corretos economizam água, energia e materiais

Prédio público e condomínio ecologicamente corretosA Superintendência Regional da Polícia Federal

ganhará uma nova sede em Minas Gerais que será oprimeiro prédio público ecologicamente correto do país.Projetado por uma equipe da Escola de Arquitetura daUniversidade Federal de Minas Gerais, UFMG, o projetoprivilegia a eficiência energética e o conforto ambiental.A obra contará com sistema integrado de ventilação eiluminação natural e artificial, que dispensará o uso dear-condicionado em grande parte do prédio. Além disso,está previsto o aproveitamento de águas pluviais paradescarga sanitária e lavagem de pisos.

A mesma equipe da UFMG projetou o primeirocondomínio auto-sustentável do país, a ser construídoem Formiga, Minas Gerais. O projeto de casas populares“ecológicas”conta com 20 unidades, cada uma comquatro cômodos e duas varandas. Cada casa custará cercade R$ 20 mil. As unidades contarão com sistema de energiavoltaica, coletores solares, tratamento de águas pluviaise sistema inteligente de segurança e iluminação.

O cuidado com o uso da água é uma outra característicafundamental em construções ecologicamente corretas.Através de projetos que mapeiam o ciclo da água dentrodas construções, é possível o reaproveitamento da água jáutilizada, em um primeiro momento, para lavar louças ehigiene pessoal, em usos como descarga e limpeza decalçadas. O armazenamento de água de chuva tambémpermite o seu uso em limpeza de ambientes e irrigação deplantas, contribuindo também para a diminuição da demandada água tratada.

A instalação de painéis de coletores solares, queaproveitam a radiação solar para aquecimento da água, edos sistemas fotovoltaicos, que convertem energia solar emenergia elétrica, faz com que os edifícios dependam cadavez menos da energia elétrica convencional e até mesmose tornem auto-suficientes energeticamente.

A vegetação também pode contribuir para umidificar oar e tornar as temperaturas mais amenas nas edificações.As propriedades térmicas dos vegetais podem ser usadasem coberturas e paredes dos edifícios.

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Espaço público: responsabilidade de todosAções para melhorar a qualidade de vida nas cidades

Resíduos urbanos: O acúmulo de lixo nas ruas provocapoluição ambiental, transmissão de doenças e alagamentosque contribuem decisivamente para degradar as condiçõesde vida na cidade.

Nós podemos diminuir a quantidade de resíduos geradosem nossas casas praticando os 3Rs: reduzindo, reutilizandoe destinando-os para a reciclagem. Podemos também fazera compostagem com os resíduos orgânicos para ser utilizadaem hortas, jardins e vasos de plantas. O lixo restante deveráser encaminhado para a coleta domiciliar. Em BeloHorizonte, disque-limpeza (31)3277-9388 e disque-carroça(para a coleta de entulho) (31)3277-8270.

Calçadas e ruas: As condições de conservação dascalçadas e ruas são um dos melhores indicadores daqualidade do espaço público.

Podemos manter as calçadas em frente às nossasresidências limpas e em boas condições. Podemos tambémcolaborar com a limpeza da cidade, não jogando lixo nasruas e incentivando as demais pessoas a fazerem o mesmo.Em Belo Horizonte, o telefone do disque tapa-buracos é(31)3277-8000.

Iluminação pública: Podemos pedir aos órgãosresponsáveis que mantenham uma boa iluminação pública,imprescindível para a segurança dos cidadãos. Em MinasGerais, a Cemig atende pelo telefone 0800-7210 116 ou116, dependendo do município.

Áreas verdes e jardins: Em meio ao concreto dasconstruções, áreas verdes tornam a paisagem urbana maisalegre, amenizam o calor e permitem a permeabilidade dosolo. Podemos manter jardins e árvores nas nossas casas eajudar a cuidar de canteiros e praças. Todas as pessoas físicasou jurídicas podem firmar parcerias com a PrefeituraMunicipal de Belo Horizonte no Programa Adote o Verde.Informações pelo telefone (31)3277-5181.

Obras e tapumes: Construções e reformas podemprejudicar pedestres e veículos que circulam emdeterminada área, além do seu patrimônio histórico eartístico. Sempre que alguma obra representar risco parasegurança das pessoas, a administração pública deve sercomunicada.

Mobiliário urbano: Lixeiras, telefones públicos, bancasde jornais, caixas de correio, bancos de jardins, cabines desegurança são alguns dos equipamentos que fazem parte domobiliário urbano.

Podemos zelar pelo bom estado de conservação dessemobiliário e comunicar ao poder público quando estesapresentarem danos ou prejudicarem a circulação depedestres.

Transporte e trânsito: Um transporte público de qualidadecontribui para reduzir a necessidade dos veículos particularese os conseqüentes congestionamentos, além de reduzir apoluição do ar e a sonora. O cumprimento das regras decirculação e a manutenção da sinalização das vias tambémé um outra questão importante para a qualidade dosdeslocamentos de motoristas e pedestres.

Podemos encaminhar reclamações e sugestões ao órgãocompetente no município, relatando problemas nasinalização, falta ou a má qualidade dos serviços detransporte de nosso município. Em Belo Horizonte, a centralde atendimento ao usuário da BHTrans atende pelo telefone(31)3277-6500.

Promoção social: A rua deve ser um espaço de convíviosocial, agradável e seguro para todos. A interação entre osmoradores de uma região contribui para agregar forças paraa busca de melhorias para a coletividade.

Podemos contribuir para a organização e promoção deatividades culturais e sociais na nossa região, juntamentecom o poder público e as associações que já desenvolvemtrabalhos nestas áreas. Além de serem opções de lazer, essasatividades podem promover também a cidadania.

Foto: Desirée Ruas

Bancos e lixeiras fazem parte do mobiliário urbano

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Poluição visual: Pichações, cartazes, painéis, faixas eluminosos, dispostos de maneira caótica, agridem os olhos,degradam a paisagem urbana e colocam em risco apopulação. Placas de lojas obstruindo saídas de emergênciados prédios, luminosos sobre o passeio e propagandas quedistraem a atenção de motoristas são situações que podemprovocar acidentes. A poluição visual esconde também aarquitetura típica das cidades. Podemos pedir à Prefeiturauma legislação mais rigorosa para conter a poluição visual.

Poluição atmosférica de veículos: Os veículos emcirculação pelos grandes centros urbanos são grandesresponsáveis pela má qualidade do ar. A fuligem e os gasestóxicos emitidos pelos automóveis, ônibus, caminhões emotocicletas acarretam danos à saúde bem como aopatrimônio histórico e aos edifícios em geral. Podemoscontribuir mantendo o carro regulado e solicitando ao poderpúblico um maior controle da poluição atmosférica. AFundação Estadual do Meio Ambiente, Feam, é responsávelpelo monitoramento da qualidade do ar no estado e atendepelo telefone (31)3219-5723.

Poluição sonora: Bares, boates, restaurantes, lojas dediscos, veículos pesados e leves (caso das motocicletas) ecomércio em geral são as principais fontes de poluiçãosonora. No caso dos estabelecimentos comerciais, osresponsáveis pelo controle da poluição sonora são osproprietários. O uso inadequado das buzinas nos automóveistambém aumenta a poluição sonora nas ruas. Podemosajudar mantendo níveis adequados de barulho. Em BeloHorizonte, os cidadãos podem reclamar do excesso de ruídono disque-sossego pelo telefone (31)3277-8100.

Segurança: A Polícia Militar é responsável pelopoliciamento ostensivo e preventivo. Faz rondas regulares,atende a ocorrências, executa mandados de prisão eapreensão e efetua prisões em flagrante delito. Para estreitarvínculos entre polícia e comunidade, a fim de melhorar asações de segurança, foram criados os Conselhos Comunitáriosde Segurança Pública que se reúnem periodicamente paradiscutir os problemas de segurança que afetam aqueladeterminada região. Informe-se sobre o Consep de sua regiãoou cidade junto à Polícia Militar. Em Minas Gerais, o telefoneé o 190.

Defesa Civil: As ações preventivas podem evitar tragédiase calamidades públicas ou mesmo acidentes. Em geral, acomunidade só reconhece o trabalho da Defesa Civil nosmomentos de tragédia e calamidade. Mas sua atuação não

se limita a atender urgências. Os trabalhos de prevenção epreparação da população por meio de cursos e palestrasespecializados, a participação em ações comunitárias e aorientação permanente à população para qualquer tipo deocorrência tornam esse serviço indispensável à metrópole.Em Belo Horizonte, a Defesa Civil atende pelo telefone (31)3277-6409.

Antenas de celulares: As radiações eletromagnéticas sãoproduzidas pelas linhas de transmissão de corrente elétrica,pelas antenas de emissoras de rádio e televisão que enviamos sinais aos aparelhos receptores, pelo forno doméstico demicroondas e pelas antenas de transmissão e recepção detelefonia celular.

No Brasil, os níveis máximos de radiação eletromagnéticaemitidos pelas estações de rádio base, ERBs, são definidospela Agência Nacional de Telecomunicações, Anatel,baseados nas diretrizes da Comissão Internacional paraProteção Contra Radiações Não Ionizantes.

Devemos verificar se as ERBs têm licença da Prefeiturapara a sua instalação num determinado local, bem comocobrar maior rigor na fiscalização da radiação eletro-magnética emitida por elas.

Em Belo Horizonte, a Secretaria Municipal Adjunta deMeio Ambiente, SMAMA, responsável por conceder as licençasambientais às operadoras para a instalação das antenas,tem também o papel de monitorar sistematicamente os níveisda radiação eletromagnética emitidas pelas ERBs em todasas regiões da cidade. O telefone da SMAMA é (31)3277-5181 ou 3277-5208.

Foto: Desirée Ruas

O trânsito é responsável por grande parte da poluiçãosonora e atmosférica nas cidades

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Estatuto da CidadeApós mais de dez anos, foi aprovado no Congresso o

Estatuto da Cidade, lei que regulamenta o capítulo depolítica urbana da Constituição de 1988 (artigos 182 e183).

O Estatuto da Cidade dá respaldo constitucional auma nova maneira de realizar o planejamento urbano.Sua função é garantir o cumprimento da função socialda cidade e da propriedade urbana, o que significa oestabelecimento de “normas de ordem pública einteresse social que regulam o uso da propriedadeurbana em prol do bem coletivo, da segurança e dobem-estar dos cidadãos” (Art. 1o).

Para isso, o Estatuto da Cidade coloca à disposiçãodos municípios uma série de instrumentos que podemintervir no mercado de terras e nos mecanismos deprodução da exclusão.

Os instrumentos que fazem parte do Estatuto situam-se em três campos: um conjunto de novos instrumentosde natureza urbanística voltados para induzir – maisdo que normatizar – as formas de uso e ocupação dosolo; uma nova estratégia de gestão que incorpora aidéia de participação direta do cidadão em processosdecisórios sobre o destino da cidade; e a ampliaçãodas possibilidades de regularização das posses urbanas.

Os instrumentos jurídicos que ordenam a vida nas cidadesDemocracia e participação

A gestão cotidiana dos processos de ocupação ecrescimento urbano não é uma tarefa simples para osmunicípios. Conflitos relativos à convivência de usos,como indústrias poluentes e bairros residenciais, até aproliferação de ocupações em situação de risco sãoquestões enfrentadas pelo poder público. Para ordenaros problemas rotineiros dos municípios existem algunsinstrumentos como o Plano Diretor; a Lei deParcelamento, Uso e Ocupação do Solo e o Código dePosturas.

O Plano Diretor é uma lei municipal e corresponde aum conjunto de regras básicas de uso e ocupação do solo.Ele tem o papel de organizar e estruturar a expansãourbana, o desenvolvimento das cidades e definir como apropriedade privada e pública cumprem a sua funçãosocial. O município deve definir, de maneira participativa,a aprovação de seu Plano Diretor, e posteriormentepromover políticas de habitação, de transportes, desaneamento, coerentes com o Plano que foi discutidocom toda a comunidade. Atualmente, dos 5.561municípios brasileiros, apenas 1.500 têm planos diretores.

A Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Soloconcentra-se em normas técnicas de edificações queprocura estabelecer parâmetros detalhados sobre todosos aspectos das construções. Ela também estabelece ozoneamento que é uma concepção da gestão do espaçourbano baseada na idéia de eleger os usos possíveis paradeterminadas áreas da cidade. Com isso, o que se pretendeé evitar convivências desagradáveis entre os usos. A cidadeé dividida em zonas industriais, comerciais, residenciais,institucionais e em zonas mistas, que combinam tipologiasdiferentes de uso. Em alguns casos, esse zoneamento dacidade inclui várias categorias para cada um dos tiposde zonas.

O Código de Posturas reúne o conjunto de normas queregulam a utilização do espaço urbano pelos cidadãos. Autilização de passeios públicos, a instalação de mobiliáriourbano, o exercício de atividades profissionais ao ar livree a instalação de faixas e cartazes de publicidade emlocais públicos são alguns dos itens contemplados peloregulamento municipal.

Todos os cidadãos podem colaborar para a resolução dosproblemas urbanos através dos instrumentos de participação

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O papel do cidadão na gestão urbanaA Constituição Federal de 1988 estabelece sistemas de

gestão democrática em várias áreas da administraçãopública. Dentre elas, o planejamento participativo firmaa cooperação no planejamento local das associaçõesrepresentativas como um preceito a ser observado pelosmunicípios (Art. 29, XII).

A audiência pública é um dos instrumentos depromoção da participação popular nos municípios. Consistenuma sessão de discussão aberta a toda a população paratratar de qualquer tema de importância para o município,tanto para coleta de opinião no momento de formulaçãode uma política pública, quanto para debate em umatomada de decisão. Nas audiências, a prefeitura escuta amanifestação e opinião dos diversos atores sociais e sedispõe a esclarecer dúvidas. Na medida em que aparticipação é aberta a todos os cidadãos, torna-se umaoportunidade para se expor e discutir os diversos interessesda sociedade num processo democrático.

As audiências estão previstas pela Constituição Federal,Leis Federais e as Leis Orgânicas. Embora algumas sejamobrigatórias, como na elaboração do Plano Diretor ou emprocesso de licenciamento ambiental, a prefeitura podeaproveitar sua potencialidade, enquanto espaço de coletade opinião e debate público, sempre que consideraroportuno para a comunidade.

As conferências de políticas públicas são espaçosamplos e democráticos de discussão das políticas, gestão

e participação. Sua principal característica é reunirgoverno e sociedade civil organizada para debater e decidiras prioridades nas políticas públicas nos próximos anos.Na medida em que os diversos segmentos envolvidos como assunto em questão participam do debate promovido narealização de uma conferência, pode-se estabelecer umpacto para alcançar determinadas metas e prioridades,além de abrir um espaço importante de troca deexperiências. Podem ser realizadas conferências em âmbitomunicipal, estadual e federal.

As conferências podem subsidiar o planejamento dediferentes áreas como política de desenvolvimento urbano,saúde, desenvolvimento econômico, meio ambiente,educação, assistência social, dentre outras, ou, ainda,para desenvolver o Plano Plurianual. (Veja na página 2informações sobre a III Conferência de Meio Ambiente)

Orçamento ParticipativoO processo em que os cidadãos discutem e deliberam

sobre a destinação de recursos públicos recebeu o nomede Orçamento Participativo, OP. Para além do exercíciopleno da cidadania, o Orçamento Participativo envolve apopulação nas decisões dos governos, com a criação efortalecimento de canais de participação. Em BeloHorizonte, o OP existe desde 1993 e desde 2006 a populaçãopassou a votar também pela internet, escolhendo obrasem toda a cidade.

Acessibilidade para todosDados do Censo Demográfico de 2000, do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, mostram quecerca de 15% da população brasileira têm algumadeficiência ou incapacidade. Além destas, há pessoasidosas, pessoas com mobilidade temporariamentereduzida, como grávidas, há pessoas obesas, pessoasbaixas, pessoas muito altas. Ou seja, em função da idade,estado de saúde, estatura e outros condicionantes,diversas pessoas têm necessidades especiais para receberinformações, chegar até pontos de parada, entrar emveículos ou realizar seus deslocamentos em espaçospúblicos.

O conceito de acessibilidade significa permitir que todosTodas as pessoas têm direito à movimentação e à

informação nos espaços públicos urbanos

Foto: Desirée Ruas

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O cuidado com a água nas cidadesGrande parte das cidades nasceu às margens de algum

rio, que servia para o abastecimento de água e irrigaçãodas lavouras, além de ser meio de transporte. Apesar desua grande importância para o surgimento edesenvolvimento dos centros urbanos, os cursos d’água nãoforam poupados da poluição doméstica nem da poluiçãoindustrial.

A despoluição de rios depende, primeiramente, desistemas de tratamento dos esgotos industriais e residenciaislançados nos cursos d’água, e da proteção de suas margense das suas áreas de recarga. O tratamento dos esgotosdepende de recursos financeiros e do comprometimento dosgovernos municipais e estaduais, já que os rios muitas vezesatravessam vários municípios.

A despoluição de um rio é um processo longo e seusresultados não serão duradouros se a relação da populaçãoe dos empreendimentos com o curso d’água não formodificada. A sua recuperação depende também do cuidadocom seus afluentes desde as nascentes.

Uma bacia hidrográfica é composta por vários cursosd’água, que definem as microbacias hidrográficas (ousistemas naturais de drenagem). A partir do mapa topográficoda cidade, é possível identificar os pontos de cabeceiras,ou seja, as partes altas de bacia. São nestes pontos que sepode encontrar as nascentes de rios.

Com a identificação das áreas de nascente, a prefeiturapode criar, em seu entorno, uma área verde. É fundamental

priorizar a arborização das áreas de cabeceira dos rios, umavez que a vegetação tem grande capacidade de regular oimpacto das chuvas. Parques lineares também podem sercriados ao longo dos cursos d’água.

As cidades e a chuvaA falta de cobertura vegetal faz com que o impacto da

água da chuva cause deslocamentos superficiais no solo.Nas grandes cidades, a impermeabilização do solo é umadas causas de enchentes. Sem absorção da água das chuvaspelo solo por causa do asfalto e cimento das vias, a água seacumula. A elevada taxa de impermeabilização do solourbano é um dos fatores que amplia o volume de água a serescoado pelo sistema de captação da cidade.

O hábito de jogar lixo nas ruas, deixar restos de materiaisde obras nas calçadas ou depositar com muito antecedênciaem frente à casa o lixo a ser coletado faz com que estesresíduos acabem por serem arrastados pela chuva para osbueiros, entupindo-os, o que acaba provocando o alagamentode ruas e calçadas.

desfrutem dos espaços e serviços que a sociedade oferece,independentemente da capacidade de cada um. A cidadedeve tornar-se acessível a todos, sejam os espaços públicosou os privados, observando as especificações técnicas paramobiliário urbano ou habitações, até ações específicasem todas as áreas, como saúde, transporte, trabalho, lazere educação, passando pelo atendimento ao público.

Outras ações que podem ser executadas são aconstrução de calçadas rebaixadas com rampa cominclinação de acordo com a Norma Técnica da AssociaçãoBrasileira de Normas Técnicas, ABNT, instalação de cabines

telefônicas adaptadas, portas amplas para passagem decadeiras de rodas, instalação de rampas ou elevadores paraacesso a edifícios, espaços especiais para as cadeiras derodas, como nos cinemas ou auditórios, sinalização visuale tátil para pessoas com deficiência auditiva e visual.

Desde 2004, há uma lei federal que estabelece normasgerais para a promoção da acessibilidade para as pessoasportadoras de deficiência. O decreto 5.296 estabelece umasérie de critérios básicos, em diversas áreas, que devemser observados e implementados por todos os municípios eestados do Brasil.

Para manter os cursos d’água é necessário proteger as suasnacentes, margens e áreas de recarga, não lançar neles o

esgoto e mantê-los também livres dos resíduos sólidos

Foto: Alice Okawara

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Esporte e lazerParques, praças, ruas e avenidas são espaços públicos

urbanos que desempenham um papel importante na vidadas pessoas: são fundamentais para o desenvolvimentoda sociabilidade e das relações interpessoais, permitindoa prática do esporte e o lazer.

As crianças e os jovens dos centros urbanos,principalmente as de baixa renda, dependem de espaçospúblicos de lazer, como praças e parques. As mudançasno uso e na ocupação do solo urbano, a expansão daviolência e as alterações nas relações sociais reduziramo espaço físico disponível para as crianças, especialmentenas cidades de maior porte. As áreas verdes da cidadecontribuem para o processo de socialização das crianças,oferecendo-lhes oportunidades de realizar atividadescoletivas livremente.

A identidade de uma cidade depende de suas carac-terísticas físicas e simbólicas, como edificações, paisa-gismo, manifestações culturais e costumes, socialmenteproduzidos ao longo do tempo no espaço urbano. Seja nocampo das artes, no modo de viver ou na imagem daprópria cidade, os seus atributos naturais e edificadosformam o patrimônio histórico. A paisagem urbana temum valor histórico e também simbólico e afetivo para oscidadãos que ali vivem ou viveram. Preservar o patrimônio

Memória e beleza: detalhe do prédio da Praça daEstação, no centro da capital mineira

Construções antigas guardam um pouco da história dos centros urbanos

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O patrimônio histórico das cidades

Ilustração: Emidio

histórico de uma cidade é manter as marcas de suahistória ao longo do tempo e, assim, assegurar a possi-bilidade da construção da identidade da comunidade.

Edificações com valor histórico e bens culturaisrepresentativos da memória da cidade são tombados paraserem preservadas ao longo do tempo. Os tombamentossão o reconhecimento da importância de determinadosbens culturais dentro do contexto histórico da cidade,sendo eles, em geral, fortes referências para a comuni-dade que se destacam na paisagem.

Em Belo Horizonte, nos anos 80, iniciou-se o movi-mento de consolidação da política de proteção de bensculturais da cidade, desencadeada pela reação àdemolição do Cine Metrópole, uma edificação históricaque culminou com a aprovação da Lei 3.802/84 queinstituiu o Conselho Deliberativo do Patrimônio Culturaldo Município de Belo Horizonte - CDPCM-BH. Poste-riormente foi criado um órgão municipal responsável pelagestão e monitoramento da memória urbana de BH,atualmente representado pela Gerência de PatrimônioHistórico Urbano - GEPH, vinculada à Secretaria Munici-pal Adjunta de Regulação Urbana - SMARU.

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EEEEEspaço dspaço dspaço dspaço dspaço da Floa Floa Floa Floa FlorindrindrindrindrindaaaaaPara você pensar e responder:Para você pensar e responder:Para você pensar e responder:Para você pensar e responder:Para você pensar e responder:O que quero para a minha cidade? O que você acha que a sua cidade tem de bom e oque precisa mudar? Como as pessoas cuidam da sua cidade? Os órgãos públicos fazema sua parte? Como estão as ruas, as árvores, as casas e as pessoas da sua cidade? Oque você se propóe a fazer pelo bem do seu município?

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vida na suavida na suavida na suavida na suavida na suac i d a d e .c i d a d e .c i d a d e .c i d a d e .c i d a d e .

Ilustração: Emidio

A vida na cidadeconcentra muitos

desafios como adefinição de

direitos e deverespara todas as

pessoas, amanutenção dos

espaços públicos ea participação da

população nosprocessos de

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Novos usos para materiaisdescartáveis na escola

Se a sua escola também tem bons exemplos emeducação ambiental, escreva para a Revista EcologiaIntegral e conte-nos a sua experiência.

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Mais um exemplo de educação ambiental que mostra acriatividade de educadores e alunos na confecção de materiaisdidáticos com resíduos aconteceu na Escola Municipal JoãoMonlevade, localizada na cidade de Caeté, em Minas Gerais.

O tema meio ambiente tem um destaque especial no ProjetoPolítico Pedagógico da Escola Municipal João Monlevade e poreste motivo eventos como a feira cultural sempre trabalhamtemas como reutilização de resíduos, dentre outros, que buscamdespertar a consciência ecológica nos alunos.

No último mês de agosto de 2007, a feira cultural realizadana escola reuniu as peças produzidas pelas crianças como jogose brinquedos feitos com papel, garrafas plásticas, latinhas dealumínio, dentre outros materiais. As turmas da 1ª, 2ª e 4ª sérieforam estimuladas a transformar o lixo seco (papel, vidro, metale plástico) em peças úteis no dia-a-dia da escola. Os alunos da4ª série trabalharam a questão dos 3 Rs (reduzir, reutilizar ereciclar), os alunos da 2º série criaram jogos educativos com asucata, enquanto os da 1ª série produziram brinquedos.

“Com a iniciativa, hoje temos um acervo de jogos didáticosconfeccionados pelos alunos para uso nas aulas de reforçoescolar. A feira foi realizada para fazer uma mostra concreta dotrabalho desenvolvido na escola e tivemos a participação de todaa comunidade escolar”, ressalta a pedagoga Andréa CristinaFranco que trabalhou conjuntamente com as professoras Cíntia,Marlene e Claudilene.

Pensar globalmente, agir localmentePensar globalmente, agir localmentePensar globalmente, agir localmentePensar globalmente, agir localmentePensar globalmente, agir localmente

Acima, alunos da Escola Municipal João Monlevade,localizada na cidade de Caeté, em Minas Gerais.

Abaixo, alguns dos jogos educativos feitos com resíduos

Fotos: Arquivo E. M. João Monlevade

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Como começou o seu trabalho com árvores e plantas?Sempre adorei o verde, embora não o soubesse. Há algunsanos fui convidada a cuidar de um jardim comunitário emum local agradável e acolhedor no interior de São Paulo.Estando perto de flores e ervas, fui descobrindo meu amorpela natureza e as árvores foram um prolongamento disso.Interessei-me tanto por elas que fui pesquisar sua vida, suasespécies, suas funções nobres como, por exemplo, o trabalhoininterrupto de transformar CO2 em oxigênio. Além disso,de tanto ver árvores mal tratadas pelas ruas e áreas rurais,árvores mal podadas, doentes, etc., passei a pesquisar sobreos tratamentos fitossanitários que podem curar árvoresenfermas, como realizar podas corretamente e como estarna presença de uma árvore com o coração aberto paraaprender. Dizem que a gente ama mais aquilo que a genteconhece. Quem passa a conhecer as árvores ama-asardentemente e reconhece seu papel tão necessário para obem-estar da Terra.Quais os principais problemas sofridos pelas árvores nograndes centros urbanos?O principal é a falta de interesse. As árvores são tratadascomo uma “coisa” que está ali em pé. Há uma indiferença,uma falta de atenção. Outro dia o faxineiro do meu prédiosugeriu que cortássemos o belo jacarandá-mimoso que,graças a Deus, está na porta do edifício, pois suas flores, aocaírem na calçada, estavam dando mais trabalho para elevarrer. Disse que tinha certeza que ele conhecia um pouco

de biologia e que sabia da importância que uma árvore temnas grandes cidades no sentido de ajudar a “despolui-la”.Que ele sabia que uma flor se transforma em semente eque sem sementes não temos mais árvores no mundo.Perguntei se preferia áreas totalmente cimentadas ou segostava de ouvir os pássaros, sentir o aroma de uma flor esentar-se sob uma sombra refrescante em dia de calorintenso? Ele parou, pensou e ficou tão orgulhoso por sesentir inteligente que esqueceu um pouco da vassoura.As calçadas também prejudicam as árvores?Sim. Este é um outro problema também relativo a essaindiferença. As pavimentações chegam a tocar o troncodas árvores não deixando um espacinho de terra em voltadelas. Isso é cruel. A árvore tem um sistema radicular queprecisa respirar e que adora receber a água das chuvas.Além disso, o solo por baixo do cimento torna-se compactadoe vai ficando impermeável. Essa falta de respeito com asárvores é considerada crime ambiental por dano à flora e,nestes casos, as pessoas podem acionar a secretaria domeio ambiente de sua cidade.Como as pessoas podem cultivar árvores em apartamentos?Você pode ter uma árvore em vaso de barro, grande, bemdrenado, com pedrinhas ao fundo. Precisa ser uma espécieprópria para vasos. Ela vai precisar de muita luz, devendoficar próxima a uma janela ensolarada ou em uma varanda.Outra forma de cultivar árvores em casa é semeá-las. Bastater as sementes. Se for muito dura, como a do jatobá, épreciso lixá-la antes de colocar na terra para que se tornereceptiva à água. Duras ou semi-duras, todas devem ficarsubmersas em água por 24 horas antes do plantio nossaquinhos próprios para mudas. Depois é regar constante-mente e aguardar. Em geral, levam cerca de um mês parabrotar. Quando a mudinha atingir cerca de 30 cm de alturavai precisar de um local mais ensolarado para permaneceraté o ponto do plantio definitivo, que deverá ocorrer quandoestiver com mais ou menos 80 cm. Aí a pessoa poderáprovidenciar um local próprio para plantá-la. Importante éacompanhar o seu crescimento por um ano pelo menos elembrar que estamos adotando um ser vivo.

A relação do ser humano com as árvores nas cidadesEntrevista com Cynthia de Oliveira Frank (Chara)

Publicitária, jornalista e ambientalista - [email protected]

As calçadas podem prejudicar as árvores no meio urbano

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Vamos plantar um milhão de árvores

Lançada neste ano de 2007, a campanha “Vamosplantar um milhão de árvores para salvar o mundo”estimula, além do plantio de árvores, o cultivo de atitudespositivas e de consciência. O objetivo é que cada pessoaplante a sua árvore e perceba que as pequenas atitudesdo dia-a-dia, quando multiplicadas por milhares depessoas, fazem uma grande diferença no contextoplanetário. Depois de plantar, é só acessar o sitewww.ummilhaodearvores.org.br e indicar no contador onúmero de árvores plantadas. Pode-se ainda deixar umdepoimento, enviar uma foto e inspirar outras pessoascom o próprio exemplo. Conseguimos, em três meses,25.000 árvores. No site existe um item “A idéia”, quefala do Chamado das Árvores e conta como tudo começou.

A degradação do meio ambiente e a degradação dasociedade humana. Esta é uma idéia lançada peloarquiteto austríaco Friedensreich Hundertwasser (1928-2000). Na visão dele, o meio ambiente nos envolve epermeia, não só física, mas psiquicamente. As imagensque vemos (propagandas, edifícios, fios elétricos,concreto, árvores, montanhas, carros...), o ar que respira-mos, os lugares que atravessamos ou vivemos dialogamconosco ininterruptamente. Daí a idéia de que o feio, opoluído e o degradado corrompem a alma humana e queo belo pode resgatar a saúde integral do ser. O belo éentendido como a presença da natureza viva. Nas cidades,seriam os grandes parques e praças, as ruas bem

arborizadas, os prédios, as casas e os apartamentosajardinados, os rios e lagos limpos, as montanhaspreservadas. Outros pensadores compartilham dessa visãocomo, por exemplo, o também austríaco Rudolf Steiner,criador da Antroposofia.

As árvores são purificadores naturais do ar, o que émuito útil nas cidades. Uma rua arborizada costuma ter30% a menos de poluição. As plantas também absorvem apoluição caseira. Além disso, as plantas em casa tambémdiminuem o efeito das ondas eletromagnéticas emitidaspor aparelhos elétricos e eletrônicos, por torres de altatensão, que, segundos estudos recentes, também afetama saúde.

Para plantar não é preciso muito espaço. Muitas árvoresse dão bem em vasos e embelezam os ambientes, comoas jabuticabeiras, as pitangueiras, o fícus, a árvore dafelicidade, a laranjinha kin kan... Neste caso, prefira osvasos de barro porque, assim, as raízes respiram. Coloquebrita no fundo para ajudar a saída da água. Misture areia(1/3) a uma boa terra adubada (2/3). A areia vai impedirque a terra vire um tijolo, dificultando a vida da planta.Deixe o vaso receber sol ou muita luz.

O arquiteto Hundertwasser conseguiu, no séculopassado, o plantio de 60.000 árvores “locatárias” que,em vasos, se “hospedavam” nos apartamentos. Se eleconseguiu isso sozinho, o quanto podemos tambémconseguir, juntos, numa iniciativa em comum?

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O artigo 225 da Constituição da República Fede-rativa do Brasil estabelece que todo cidadão temdireito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.O meio ambiente, segundo o próprio texto consti-tucional, é um bem de uso comum e imprescindível àsadia qualidade de vida da população. A Constituiçãoé taxativa ao vincular a qualidade de vida da popu-lação à proteção e conservação ambiental, sendo,portanto, impossível garantir a manutenção de umavida saudável em um ambiente degradado, poluído edesequilibrado.

A questão torna-se menos clara, entretanto, nomomento em que o jurista busca a construção dosignificado da expressão “qualidade de vida”. Afinal,o que vem a ser exatamente o termo “qualidade devida” descrito pela Constituição? Existe um únicosignificado para “qualidade de vida”? Poderíamos dizerque essa expressão possui o mesmo sentido para oribeirinho do rio São Francisco, o morador de umacidade média do interior mineiro e o habitante de umametrópole como São Paulo? Um juiz, ao proferir umasentença em uma ação civil pública ambiental, poderádecidir de acordo com sua própria concepção de“qualidade de vida”?

A plurisignificância da expressão “qualidade devida” ganha contornos ainda mais flexíveis na atualsociedade contemporânea ou pós-industrial. Talsociedade é também denominada de “sociedadecomplexa”, pois é fortemente caracterizada pelo indi-vidualismo, e conseqüentemente, por uma noçãoprópria de “bem” para cada indivíduo. Em outraspalavras: cada grupo social possui uma concepção pró-pria e, portanto, diferenciada do que seja “qualidadede vida”.

Para alguns, ela está relacionada à aquisição debens de consumo modernos e de alta tecnologia. Paraoutros, é viver em um local com muita área verde e

desprovido de tráfego intenso, ruído ou qualquer nívelde poluição. Existem ainda aqueles em que o conceitode “qualidade de vida” vincula-se ao dia-a-dia de umagrande metrópole? Ora, quem nunca ouviu um amigoou um parente relatar – após um período de férias emum local bucólico – a seguinte frase: “estava com umasaudade da agitação da cidade...”.

Apesar de todos defendermos um nível mínimo dequalidade ambiental (rio não poluído, ar limpo,proteção da fauna e flora), em última análise não épossível (ou melhor, não é democrático) pretendermosuniversalizar o nosso conceito individual de “qualidadede vida”. Os diferentes projetos ou concepções de vidasão, em um primeiro momento, legítimos e defensáveisdesde que sua implementação não signifique aeliminação dos demais.

Os parlamentares (senadores, deputados federais,estaduais e vereadores) - ao elaborarem uma lei - ouo magistrado - ao decidir uma lide que verse sobre agarantia da “qualidade de vida” da população – nãopodem impor uma concepção individualista do queseja, pois conforme descrevemos acima, os diferentesgrupos sociais (ongs, iniciativa privada, movimentossociais) possuem diferentes projetos de vida, eportanto, noções próprias da expressão “qualidade devida”.

Em um Estado Democrático de Direito, o PoderPúblico (Judiciário, Legislativo, Executivo) deve criarcanais de participação nos espaços públicos dedeliberação das políticas públicas, de forma que adecisão política tomada seja fruto de uma ampladiscussão entre os diferentes atores sociais. A aberturapara essa discussão participativa não tem comoobjetivo a homogeneização do conceito, mas sim pro-mover - a partir de um conflito ideológico – a cons-trução conceitual democrática da noção de “quali-dade de vida” nos termos da Constituição Federal.

Direito ambientalDireito ambientalDireito ambientalDireito ambientalDireito ambiental

Qualidade de vida: uma análise jurídicaLeonardo Alves Corrêa

Advogado, consultor em Direito Ambiental e colaboradordo Centro de Ecologia Integral - [email protected]

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A ecologia dos nossos sentidos

Leandro Carvalho SilvaBacharel-licenciado em Filosofia pela PUC-Minas e especialista em Educação Ambiental, Agenda 21 e

Sustentabilidade pela Faculdade Metropolitana de Belo Horizonte e Centro de Ecologia Integral

Os ouvidos e o sentido da audição

Ecologia pessoalEcologia pessoalEcologia pessoalEcologia pessoalEcologia pessoal

“Não existiria som se não houvesse o silêncio...Tudo quecala fala mais alto ao coração. Nós somos medo e desejo,somos feitos de silêncio e som...” (Lulu Santos/Nelson Mota)

Em 1794, Ludwig van Beethoven começou a sofrer osprimeiros sintomas da surdez. Tinha 24 anos de idade. Oproblema foi aumentando durante sua vida, e após os 45anos, sua capacidade auditiva era quase nula. Parece umparadoxo difícil de resolver que um dos maiores compositoresclássicos de todos os tempos tenha passado a maior parteda vida com problemas auditivos sérios, e após um estadode surdez quase completa, composto mais de 40 obras.

Nos artigos anteriores, tratamos de como a pele e osolhos tornam-se janelas de comunicação entre nós, sereshumanos, e o mundo em que nos hospedamos. É hora deapreciarmos a magia da audição, enquanto ainda há tempode cuidar deste sentido tão precioso.

O aparelho auditivo é outra das invenções da Vida quedeu tão certo, que foi multiplicado por quase todos os seresvivos. No ser humano a capacidade de perceber sinaisauditivos não é mais meramente um mecanismo de defesacontra os predadores naturais ou as intempéries. Para nós,o sentido da audição coloca uma especificidade: nos tornacapazes de interpretar conscientemente o que nos rodeia.Aqui já não estamos falando de ouvidos, mas de audição.Beethoven já não ouvia, mas havia preservado a capacidadede escutar.

O ritmo urbano, que a maioria de nós adotou como formade vida, traz algumas conseqüências perigosas para o sentidoda audição. Ele nos faz perder contato com o silêncio, nosleva a preferir o ruído ao invés do som, e oferece-nos algoapenas transitório para tentar suprir o que a ausência doSagrado nos causa.

O som mantém uma relação direta com o silêncio. Eledepende (é isto mesmo: de-pende, está pendurado) dosilêncio. No entanto, a vida urbana não admite a quietude:São Paulo é a cidade que “não dorme”; acordamos ao som

do despertador, e quando o desligamos, é pra ligar o rádio,ou a TV. Achamos um assunto atrás do outro. Acontece quequando não damos chance para o silêncio, o que produzimossão ruídos, e não sons. A diferença é que, enquanto o som édefinido como a propagação de ondas dotadas de significado,um ruído define-se como a propagação de ondas com afinalidade de desproduzir significados.

O som (intercalado com silêncio) tem sentido; o ruído,não.

Paula Toller escreveu uma música que diz: “Vamos falarmais baixo, vamos parar pra escutar o bum-bum do tambor,um abacateiro em flor...”. Um momento: como podemosouvir um abacateiro? Usando esta metáfora, a cantora quernos dizer: vamos deixar de lado o medo que temos do silêncio,e dar voz e vez a outras coisas que, na nossa opinião, estãocaladas, mas que na verdade têm muito a nos dizer e a nospreencher.

Há uma relação direta entre a espiritualidade e osilêncio, assim como há uma relação direta entre a ausênciade espiritualidade e a perda dos valores e do “rumo” danossa vida. Todas as tradições religiosas (as pequenas, asmédias, as grandes, todas elas) afirmam o silêncio comoum dos caminhos mais seguros para o encontro da pessoacom o Transcendente, consigo mesma e com seus pares. Osilêncio traz centralidade, faz recuperar valores, ajuda arefletir, a pensar, a agir de forma mais coerente e eficiente.Nos leva a Deus, seja qual for o nome que damos a Ele.

Fomos contemplados pelo benefício de podermos escutar,ao invés de simplesmente ouvir, como os outros animais. Senos negamos a escutar, exageramos na medida do som queproduzimos, e ele se torna barulho, ruído. No fim das contas,acabamos culturalmente surdos, imersos numa atmosferainquieta(nte), sem escutarmos nada: nem buzinas, nemtambores, nem abacateiros, nem seres humanos, nem oSagrado. Parece paradoxal que estejamos ficando surdosjustamente quando nossa capacidade de gerar sons aumentaa cada dia. É... a vida tem desses paradoxos aos montes!

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Educação ambientalEducação ambientalEducação ambientalEducação ambientalEducação ambientalEducação ambiental urbana: uma percepçãoda ecologia integral

Ana MansoldoPsicóloga, pós-graduada em Educação Ambiental e colaboradora do Centro de Ecologia Integral.

Autora do livro Educação Ambiental Urbana

Recentemente, quando do alerta sobre a perigosadevastação dos recursos naturais, ainda era comum osestudos de percepção ambiental indicarem que o cidadãourbano não se implicava nesta questão. A natureza seriaapenas os campos, as fazendas ou sítios distantes.Resultado de uma visão de mundo segmentado, como seos elementos da natureza não estivessem integrados àvida urbana.

Nos acostumamos tanto com os produtos manu-faturados, que perdemos esta conexão. A água potávelem casa parece brotar das paredes e não ser provenientede rios distantes e transportada até as cidades; osalimentos, é como se já surgissem prontos nos super-mercados e nunca tivessem sido plantados, regados,colhidos e transportados até a nossa mesa. Esquecemosque desde o menor objeto doméstico até as paredes dosgrandes edifícios foram construídos com elementos danatureza: argila, madeira, água. Até o plástico, tãocomum em nosso cotidiano, causa espanto lembrar queé oriundo do petróleo e que o petróleo é resíduo dematérias fósseis, orgânicas, portanto, um ser vivo emoutra época.

Outro equívoco é desconsiderar a situação sócio-econômica na equação ambiental urbana. O cidadão daperiferia, por sua falta de opção, vive das sobras,ocupando as áreas consideradas menos nobres, os fundosde vale, os topos de morros e com isso contribui aindamais para a devastação do que deveria ser o cinturão deproteção da atmosfera, das águas, da vegetação e dafauna urbanas. Em contrapartida, o cidadão mais

abastado, por consumir mais, produz mais lixo, que élançado nas ruas, nos rios, rumo à periferia. Uns não sesentem donos de nada e se acostumam à miséria, outrosse acham donos de tudo e acreditam que os recursosfinanceiros podem garantir seu bem-estar. E ambos nãose responsabilizam pelo coletivo urbano: depredam,poluem, extorquem e a natureza paga o ônus.

Então, estamos diante de uma enorme falha depercepção. Considerando que hoje aproximadamente 50%da população mundial ocupam as áreas urbanas, é estecidadão que precisa se reconhecer pertencente a umabacia hidrográfica, a um sistema econômico excludente,a um mundo interconectado, onde tudo tem a ver comtudo.

Caminhamos para isto, mas ainda nem tão próximo,principalmente no que tange às leis ambientais. Porexemplo, as políticas de recursos hídricos não dizemrespeito à vegetação, nem ao solo, muito menos ao serhumano. Como se fosse possível preservar os rios,destruindo matas ciliares e vegetações de topo de morro,ou sobrecarregando o solo com monoculturas e defensivosagrícolas, ou detonando as montanhas com excessivasextrações de minérios, ou ignorando a vida miseráveldos milhares de habitantes ribeirinhos.

É função do educador ambiental despertar no cidadãourbano a consciência da ecologia integral, a percepçãoda natureza, não como um enorme supermercado parasatisfação de necessidades materiais, mas como umsistema de elementos integrados que, se desfalcado numaponta, desestrutura todas as demais.

Considerando que hoje aproximadamente 50% da população mundial ocupamas áreas urbanas, é este cidadão que precisa se reconhecer pertencente a umabacia hidrográfica, a um sistema econômico excludente, a um mundointerconectado, onde tudo tem a ver com tudo.

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Múltipla escolhaMúltipla escolhaMúltipla escolhaMúltipla escolhaMúltipla escolha

Manual de Ecologia - Do jardimao poder, do ambientalistaJosé Lutzenberger. Livro debolso que reúne artigos com al-ternativas e resultados práticossobre temas como resíduos,jardinagem e agrotóxicos.(Coleção L&PM Pocket)

Novos instrumentos de gestãoambiental urbana, das orga-nizadoras Heliana Comin Vargase Helena Ribeiro, discute aeducação, a negociação, acomunicação e o marketingrelacionados à busca daqualidade ambiental urbana.(Editora Edusp)

Princípios do Ecoedifício - Interação entreEcologia, Consciência e Edifício, do autorRoberto Sabatella Adam, apresenta ainterdependência entre áreas comoecologia, arquitetura, psicologia ebiologia na busca da humanização dosespaços. (Editora Aquariana)

Estatuto da Cidade - Guia paraimplementação pelos municípios ecidadãos, é um instrumento para aaplicação da Lei n°10.257/2001, queregulamenta o capítulo de políticaurbana da Constituição Federal, embusca de cidades sustentáveis. Otexto conta com a colaboração doInstituto Pólis de São Paulo.(Publicação da Câmara dosDeputados)

ReflexõesReflexõesReflexõesReflexõesReflexões

Aprender a conviverComo é possível viver sozinho?Possível é vivermos juntos.Mas para convivermos é preciso aprendermos a entender o outro, a terpaciência, compreensão, amizade, respeito e cordialidade.É preciso ter cuidado com as crianças, com os adultos, com os idosos, com oambiente, com as palavras e com as atitudes.É preciso entender a importância dos direitos e deveres e das regras deconvivência. Regras que não foram feitas para nos aprisionar mas parapermitir que a vida em grupo seja possível e que todos tenham liberdade,tenham seu espaço, sua individualidade, seu jeito.Conhecidos, desconhecidos, parentes, vizinhos, colegas, na rua, no trânsito,no trabalho, no prédio, em casa, cada um de nós pode fazer a sua parte paraque a vida nas cidades seja melhor para todos.

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Centro de Ecologia Integral - R. Bernardo Guimarães, 3101 - Sala 204 - B. Santo Agostinho - Belo Horizonte/MGBrasil - Cep: 30.140-083 - Tel.: (31) 3275-3602 - E-mail: [email protected] - www.ecologiaintegral.org.br

O Centro de Ecologia Integral, Cei, é uma associação sem fins econômicosreconhecida de utilidade pública municipal e estadual. É registrado no CadastroNacional de Entidades Ambientalistas, CNEA, do Ministério do Meio Ambientee no Cadastro Estadual de Entidades Ambientalistas, CEEA, da Secretaria deEstado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Semad.

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Augusto de Lima, 403); Restaurante Vegetariano Naturalmente (R. Rio de Janeiro, 1197); Livraria Usina das Letras 2 (Av. Afonso Pena, 1537 - Palácio das Artes)

Floresta: Farmácia Homeopática Digitalis (Rua Curvelo, 130) Lourdes: Farmácia Weleda (Av. Olegário Maciel, 1358) Santo Agostinho: Livraria Usina das

Letras 1 (R. Aimorés, 2424 - Usina Unibanco); Farmácia Atma (R. Rodrigues Caldas, 766) Savassi: Homeopatia Germinare (R. Paraíba, 966 - Loja 2);

Homeopatia Vitae (R. Cláudio Manoel, 170); Mandala Restaurante Natural (R. Fernandes Tourinho, 290) Serra: Farmácia Amaryllis (R. do Ouro, 1582) Sion:

Restaurante Natural Nascente (R. Paraguai, 86); Homeopatia Magna Mater (R. Montes Claros, 509)

No interior de Minas Gerais:Caeté: Livraria e Papelaria Universo (Rua Israel Pinheiro, 305); Papelaria Pergaminho (Rua Jair Dantas, 402); Loja do Cabral (Av. João Pinheiro, 3654)

Pompéu: Jacson Afonso de Sousa - Tel. (37) 3523-1107

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