“e há tempos nem os santos têm ao certo a medida da maldade... e só o acaso estende os braços...

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“E há tempos nem os santos têm ao certo a medida da

maldade ...

  

E só o acaso estende os braços 

A quem procura abrigo e proteção” 

Prólogo

“Há Tempos”, Legião Urbana

Agosto de 2015 – Em prantos, o migrante sírio,

abraçado ao filho e à filha, desembarca na ilha de Kós, na Grécia.

Tempos desumanos, tempos desleais, onde o desespero leva ao pranto

um homem feito.

Tempos desalmados, que levam um adulto

a chorar copiosamente tal qual a criança pequenina que ele leva ao colo.

Bem sabe ele os enormes riscos que correram na travessia.

As suas lágrimas possivelmente são um misto de desesperança,

pesar, e doloroso alívio.

Uma vida inteira deixada para trás;À frente, um futuro incerto.

Possivelmente nem mesmo ele saiba descrever

o que sente. A insana condição dos que estão

no mundo sem ter nele um lugar.

Quanta dor é capaz de suportarum coração humano?

Quantos há que tentaram esta mesma travessia sem sucesso?

O pequeno Aylan, seu irmão e sua mãe não tiveram a mesma

sorte.

Tristes dias os nossos, onde “sorte” pode significar largar tudo e fugir apenas com a roupa do corpo. E

sobreviver.

As ondas, ao acariciar-lhe as pequeninas mãos e o suave

rosto, parecem pedir-lhe perdão:...

“Embora tenhas morrido no mar aberto, não somos nós os responsáveis

por este triste destino.”

A fotógrafa turca Nilüfer Demir há anos cobre o drama dos migrantes na

região. 

“Assim que vi o menino, meu sangue congelou.

Não podia fazer nada por ele, apenas fazer com que seu grito fosse escutado

pelo mundo.”

“Ao fazer as fotos, quis mostrar ao mundo a dor que senti ao vê-lo.”

“E fazer com que seu grito fosse escutado pelo mundo.”

A escritora Tati Bernardi, colunista da Folha de São Paulo, escreveu um

comovente texto que merece ser lido por todos.

A inocência interrompida, a esperança arrasada,

justo na linha entre a areia e o mar, esse lugar tão divertido e seguro para brincar quando se

tem três anos de idade.

Que mundo é este em que nos coube viver?

Na semana anterior à morte de Aylan, de seu irmão Ghalib (de 5 anos), e da sua mãe,

Rihan (de 35 anos), outra tragédia havia ceifado

inúmeras vidas.

71 migrantes morreram asfixiados num caminhão abandonado na Áustria. Entre as

vítimas estavam quatro crianças, incluindo um bebê.

A diferença é que, desta vez, o mundo foi obrigado a ver.

De todas as calamidades que acometem a humanidade na atualidade, nenhuma se

equipara ao drama sírio.

A guerra civil que perdura há quatro anos já forçou

o deslocamento de cerca de 12 milhões de pessoas.

Dentro da Síria, existem 7,6 milhões de deslocados, enquanto 4,2 milhões se viram

forçados a deixar o país.

Metade da população do país a perambular sem lar, sem perspectivas, sem destino.

Famílias estabelecidas, profissionais dos mais variados ramos (médicos, professores,

advogados), obrigados a deixar tudo para trás devido à insanidade da guerra.

Da noite para o dia, todos os pertences perdidos,

tantos sonhos, planos e projetos ceifados.

O semblante da jovem mãe,um olhar a transmitir mais do que

poderiam todas as palavras do mundo.

Para quem sabe ouvir, o silêncio é o mais eloquente dos discursos.

Dizemos guerra, dizemos refugiados, dizemos pranto e lamento.

Mas somente quem sentiu na pele tal experiência...

...conhece o oceano de dor que tais palavras encerram.

Foto tirada nos arredores de Damasco, arrasada pela guerra.

Fila para receber comida e medicamentos das Nações Unidas.

Infelizmente a ajuda não alcançará a todos.

Quantas histórias e sonhos desfeitos?

O trabalho de uma vida inteira,...

...lares, comércios, negócios, patrimônios,...

...reduzidos a ruínas e escombros num piscar de olhos.

“Era aqui que eu morava”, afirmou o jovem sírio.

“Hoje não moro em lugar algum.”

E com a guerra, a escassez de alimentos: ração que seria destinada aos animais

a alimentar crianças. E quando isto também falta,

recorre-se às plantas disponíveis, não raro ao mato.

A dor daqueles que, da noite para o dia, se veem desterrados,

à própria sorte abandonados.

Olhares que dizem mais do que tratados.

“Nós não somos mendigos”, diz a refugiada que se vê obrigada a implorar por ajuda.

“Tínhamos um trabalho, tínhamos uma vida,

tínhamos um lar, tínhamos dignidade.”

Hasna, ao lado de suas sobrinhas.

Em 2011, uma bomba matou seu marido e filhos;Injuriou-lhe as pernas, que tiveram que ser

amputadas.

Diante da perda dos filhos, do marido, das pernas,

onde Hasna encontra forças para seguir adiante?

Ela afirma que, apesar de todas as durezas e dificuldades,

tenta focar nas coisas positivas da vida.

Afinal, aos que sobrevivem é preciso seguir adiante.

Mohammed, de 07 anos de idade, sofreu graves queimaduras há dois anos, durante um dos

ataques aéreos.

Apesar das repetidas cirurgias e enxertos de pele, os seus

movimentos não foram recuperados. Ele raramente sorri.

Quão pesado o fardo destinado a algumas almas.

Ainda na primeira infância, e por certo já vivenciou dores maiores daquelas que haveremos de

experimentar a vida toda.

Que mundo é este em que nos coube viver?

Em se havendo anjos, o que pensam, o que sentem

ao lançar o olhar para Hasna e Mohammed?

Que este nosso mundo ao avesso é um lugar desumano e desalmado não há a menor

dúvida,– basta assistir a cinco minutos de noticiário,

basta olhar para os lados.

No entanto, a pergunta que devemos nos fazer é:

“Num mundo desumano e desalmado, como posso preservar a minha humanidade?”

“Em que o drama dos refugiados me diz respeito?”

“Como posso ajudá-los?”

Parte 2 – O Recomeço

“A compaixão é que nos torna verdadeiramente humanos e impede que nos transformemos em pedra.”

Anatole France

“A compaixão é que nos torna verdadeiramente humanos e impede que nos transformemos em pedra.”

Diversas famílias sírias têm chegado ao Brasil

em busca de abrigo.

Do total de 8,4 mil refugiados

que hoje vivem no Brasil,2.007 são sírios.

E diante da guerra insana que não dá sinais de

trégua, este número deve aumentar nos próximos

anos.

Há duas formas de encarar o drama destas famílias:Ignorá-las, ou ajudá-las.

Para quem deixou tudo para trás

e procura recomeçar a vida do zero,

qualquer ajuda é significativa.

Para ajudar, há diversas formas.

Seja por meio de doações materiais, seja como

professor voluntário de português, ou simples

acolhimento para orientar e auxiliar nos afazeres do dia-

a-dia.

Para informações sobre como ajudar, basta acessar

o site:Caminhos do Refúgio

(caminhosdorefugio.com.br)

O caminho para o auxílio é simples, basta querer

ajudar.

O caminho para o auxílio é simples, basta ser

humano.

“Eu tive fome e me destes de comer; Tive sede e me destes de beber; Eu era estrangeiro e me acolhestes; Estava nu, e me vestistes; Doente, e me visitastes...”

Mateus, 25-35

Aquele que ama, aquele que acolhe, aquele que partilha,aquele que abrigaé a sua própria alma que fortalece.

“Eu era estrangeiro

e me acolhestes...”

Tema musical: Parte 1 – “Ballad for violin and orchestra”, Ciprian Porumbescu Parte 2 – “One Man’s Dream”, Yanni

um_peregrino@hotmail.com

caminhosdorefugio.com.br

Apresentação dedicada a Aylan e Ghalib.

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