discriminação de género

Post on 25-Jun-2015

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1 Na minha infância

o estatuto social das mulheres da casa (visa

avó, avó e minha mãe) era subordinado ao

dos homens. Pelo simples facto de terem

nascido de sexo feminino o destino dessas

mulheres maravilhosas ficou decidido logo

de início. Nunca tiveram instrução, por isso

mesmo achavam normal não fazer perguntas nem participar nas conversas

<masculinas>. As mulheres da minha família (e não só) eram felizes por serem aquilo

para que foram educadas, isto é, mães e esposas.

Felizmente tudo mudou, a expansão dos sistemas económicos proporcionou

postos de trabalho para as mulheres, e a expansão dos sistemas de ensino, aos quais a

população feminina acedeu em massa, possibilitou a crescente integração da população

no mercado de trabalho.

A desigualdade de género ainda ficou mais evidenciada quando a mulher, por

razões económicas teve que trabalhar. Além de receber um salário mais baixo, ainda

tinha todas as tarefas domésticas que devia assumir sozinha.

Isso reflectiu-se na vida das mulheres da minha casa mas no bom sentido.

Começaram a ter um dia de descanso por semana, o domingo. O meu avozinho passou a

ser cozinheiro por um dia.

As mulheres iam à missa e perdiam-se na volta com conversas que nada tinham

a ver com a vida doméstica, simplesmente falavam…delas. Começaram a ter uma vida

própria, a olhar em volta, a ouvir, a comentar e a discordar. Simplesmente a existirem,

perceberam que homens ou mulheres todos tinham os mesmos direitos. Posso dizer que

em minha casa essa mudança fez-se notar, principiou com o domingo e a partir daí tudo

mudou.

Hoje é comum ouvirmos em conversas informais: “Os tempos mudaram;

homens e mulheres nos dias de hoje já têm os mesmos direitos”; “As mulheres fazem o

que querem”, ou frases parecidas que tornam definitivas e terminadas as conquistas das

mulheres, estabelecendo como patamar de igualdade de género o quadro actual da

condição das mulheres na nossa sociedade.

Dorinda Da Silva

No entanto, esse paraíso terrestre

das relações de género ainda está

longínquo. As condições em que vivem as

mulheres em Portugal são, ainda hoje,

preocupantes e precisam de ser tratadas

com atenção.

As desigualdades salariais continuam a

existir, os trabalhos domésticos, raros são os homens que os praticam. É verdade que a

mulher tem acesso ao ensino superior mas continua a ser difícil a sua integração no

mercado do trabalho. A razão para que isso aconteça é muita das vezes disfarçada, mas

sabemos perfeitamente que a única razão válida é porque continuamos a ser

consideradas simplesmente como esposas, mães, e donas de casa, ou mais

discriminatório ainda, porque somos mulheres.

O contexto no qual as mulheres se encontram inseridas é fundamental para se

explicar a desigualdade entre géneros. Normas sociais, costumes, direitos e leis,

moldam o relacionamento entre homens e mulheres definindo o papel de cada um na

sociedade. Estas normas e tradições são passadas de geração para geração no interior do

domicílio, causando assim uma transmissão da desigualdade.

No meu caso, as desigualdades foram-se atenuando com o passar das gerações,

uma mudança lenta mas que caminhou sempre para que a igualdade prevalecesse.

Nos dias de hoje, em minha casa, o trabalho é dividido por todos. Não há

desigualdades. Sendo a única mulher no meio de três homens, segui o ensinamento dos

mais velhos. Para os meus homens é perfeitamente normal ajudar nas tarefas

domésticas, aceitam sem discussões o facto de uma mulher ganhar mais do que um

homem (é raro, mas existe) e estão completamente aptos a serem pais a tempo inteiro.

Se lhes perguntarem o que é a discriminação de género, eles simplesmente vão

responder que estão informados sobre o assunto, mas que esse género de discriminação

não faz parte da vida deles. Isto claro, a nível pessoal, porque no meio profissional

discriminação de género (mulheres e homens confundidos) ainda vai continuar, e isso

eles também o sabem, embora não seja aceite. O facto de se aperceberem do que está

errado e frisar esses aspectos, já é um passo no caminho certo.

Dorinda Da Silva

Endereços consultados:

Imagem, 1, - www.piaui.pi.gov.br

Imagens, 2,3 - http://www.cite.gov.pt/pt/acite/comocontactar.html;

Dorinda Da Silva

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