discriminação de género
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1 Na minha infância
o estatuto social das mulheres da casa (visa
avó, avó e minha mãe) era subordinado ao
dos homens. Pelo simples facto de terem
nascido de sexo feminino o destino dessas
mulheres maravilhosas ficou decidido logo
de início. Nunca tiveram instrução, por isso
mesmo achavam normal não fazer perguntas nem participar nas conversas
<masculinas>. As mulheres da minha família (e não só) eram felizes por serem aquilo
para que foram educadas, isto é, mães e esposas.
Felizmente tudo mudou, a expansão dos sistemas económicos proporcionou
postos de trabalho para as mulheres, e a expansão dos sistemas de ensino, aos quais a
população feminina acedeu em massa, possibilitou a crescente integração da população
no mercado de trabalho.
A desigualdade de género ainda ficou mais evidenciada quando a mulher, por
razões económicas teve que trabalhar. Além de receber um salário mais baixo, ainda
tinha todas as tarefas domésticas que devia assumir sozinha.
Isso reflectiu-se na vida das mulheres da minha casa mas no bom sentido.
Começaram a ter um dia de descanso por semana, o domingo. O meu avozinho passou a
ser cozinheiro por um dia.
As mulheres iam à missa e perdiam-se na volta com conversas que nada tinham
a ver com a vida doméstica, simplesmente falavam…delas. Começaram a ter uma vida
própria, a olhar em volta, a ouvir, a comentar e a discordar. Simplesmente a existirem,
perceberam que homens ou mulheres todos tinham os mesmos direitos. Posso dizer que
em minha casa essa mudança fez-se notar, principiou com o domingo e a partir daí tudo
mudou.
Hoje é comum ouvirmos em conversas informais: “Os tempos mudaram;
homens e mulheres nos dias de hoje já têm os mesmos direitos”; “As mulheres fazem o
que querem”, ou frases parecidas que tornam definitivas e terminadas as conquistas das
mulheres, estabelecendo como patamar de igualdade de género o quadro actual da
condição das mulheres na nossa sociedade.
Dorinda Da Silva
No entanto, esse paraíso terrestre
das relações de género ainda está
longínquo. As condições em que vivem as
mulheres em Portugal são, ainda hoje,
preocupantes e precisam de ser tratadas
com atenção.
As desigualdades salariais continuam a
existir, os trabalhos domésticos, raros são os homens que os praticam. É verdade que a
mulher tem acesso ao ensino superior mas continua a ser difícil a sua integração no
mercado do trabalho. A razão para que isso aconteça é muita das vezes disfarçada, mas
sabemos perfeitamente que a única razão válida é porque continuamos a ser
consideradas simplesmente como esposas, mães, e donas de casa, ou mais
discriminatório ainda, porque somos mulheres.
O contexto no qual as mulheres se encontram inseridas é fundamental para se
explicar a desigualdade entre géneros. Normas sociais, costumes, direitos e leis,
moldam o relacionamento entre homens e mulheres definindo o papel de cada um na
sociedade. Estas normas e tradições são passadas de geração para geração no interior do
domicílio, causando assim uma transmissão da desigualdade.
No meu caso, as desigualdades foram-se atenuando com o passar das gerações,
uma mudança lenta mas que caminhou sempre para que a igualdade prevalecesse.
Nos dias de hoje, em minha casa, o trabalho é dividido por todos. Não há
desigualdades. Sendo a única mulher no meio de três homens, segui o ensinamento dos
mais velhos. Para os meus homens é perfeitamente normal ajudar nas tarefas
domésticas, aceitam sem discussões o facto de uma mulher ganhar mais do que um
homem (é raro, mas existe) e estão completamente aptos a serem pais a tempo inteiro.
Se lhes perguntarem o que é a discriminação de género, eles simplesmente vão
responder que estão informados sobre o assunto, mas que esse género de discriminação
não faz parte da vida deles. Isto claro, a nível pessoal, porque no meio profissional
discriminação de género (mulheres e homens confundidos) ainda vai continuar, e isso
eles também o sabem, embora não seja aceite. O facto de se aperceberem do que está
errado e frisar esses aspectos, já é um passo no caminho certo.
Dorinda Da Silva
Endereços consultados:
Imagem, 1, - www.piaui.pi.gov.br
Imagens, 2,3 - http://www.cite.gov.pt/pt/acite/comocontactar.html;
Dorinda Da Silva
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