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Título:
Desemprego e população qualificada
Autor:
Karina Yukie Shinzato
Coimbra, 2013
Imagem da capa: Sabakka, Fotopedia (2010)
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de Fontes de Informação Sociológica sob
orientação de Paula Abreu e Paulo Peixoto (ano letivo 2013-2014)
ÍNDICE
1. Introdução ...................................................................................................... 1
2. Conteúdos ....................................................................................................... 2
2.1 Estado das artes .................................................................................... 2
2.2 Descrição detalhada da pesquisa .......................................................... 8
3 Avaliação de sítio na Internet .......................................................................... 9
4 Ficha de leitura ................................................................................................ 11
5 Conclusão ......................................................................................................... 17
6 Referências bibliográficas ................................................................................ 18
ANEXO A
Sítio da Internet avaliado
ANEXO B
Texto de suporte da ficha de leitura
Desemprego e população qualificada
1
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho aborda o tema do desemprego da população qualificada,
que me despertou interesse por ser um assunto bastante discutido no atual momento
de crise econômica europeia e também pelo fato de estar relacionado com a área de
Negócios e Economia, na qual está inserido meu curso que é Licenciatura em Gestão.
Como objetivo desse trabalho proponho estabelecer uma relação entre as
atuais oportunidades de emprego para os trabalhadores qualificados e as estratégias
dos jovens para reagir ao fenômeno do desemprego qualificado, com enfoque em
Portugal; por meio da exposição de um estado das artes, da descrição detalhada da
pesquisa, de uma avaliação de página da Internet e de uma ficha de leitura.
A seleção das fontes de informação foi realizada com base em indicações dos
professores, em buscas em sites confiáveis da Internet (portais de notícias renomados,
bases de dados estatísticos de instituições conhecidas, bases de dados de artigos
científicos) usando expressões como desemprego e população qualificada, brain drain,
fuga de cérebros. Após a separação da informação inicial que seria usada no trabalho,
prosseguiu-se à leitura dos textos e elaboração da ficha de leitura; concomitante a essa
etapa, mais informação foi recolhida para que fosse possível a realização do estado das
artes.
A página Web escolhida para avaliação foi a do Instituto Nacional de Estatística
(INE), que tem o objetivo de oferecer informação sobre conteúdos estatísticos de
Portugal, como: Informação Estatística, Censos 2011, Informação geográfica,
Metainformação e WebInq - Inquéritos; e também dispõe Informação Institucional
sobre a organização. O site é capaz de fornecer informações bastante específicas a
respeito dessas estatísticas, inclusive através de ferramentas interativas, que permitem
criar gráficos, tabelas e mapas de acordo com as necessidades dos usuários, os quais, na
minha visão, são indivíduos com maior grau de instrução acadêmica.
A partir de todas essas etapas citadas foi construído o trabalho que se segue.
Fontes de Informação Sociológica
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2. CONTEÚDOS
2.1 ESTADO DAS ARTES
O trabalho é uma atividade muito importante para os seres humanos. Dado
que vivemos em uma sociedade em que os indivíduos necessitam de referências, o
trabalho surge como uma delas a nível econômico, psicológico, cultural e simbólico
(Castel apud Almeida e Albuquerque, 2013, p.21); representando assim “o espaço da
mais alta expressão humana” (Jordan. Gonçalves e Coimbra; Donkin, apud Almeida e
Albuquerque, 2013, p.20).
No entanto, à medida em que as relações laborais evoluíram, o cenário do
trabalho foi se precarizando, por meio de relações de trabalho mais instáveis e flexíveis
(Kovács, Casaca, Ferreira & Sousa; Edgel apud Almeida e Albuquerque, 2013, p.21). Mais
acirrada tornou-se a competitividade do mercado, crescendo assim o desemprego entre
a população, inclusive entre trabalhadores qualificados, especialmente os mais jovens.
Dada a relevância desse problema na sociedade, a problemática dessa seção se
dedica a explorar as estratégias dos jovens para reagir ao fenômeno do desemprego
qualificado.
Analisando mais especificamente o caso europeu e de Portugal, tem-se que os
países mais afetados pela crise econômica europeia foram Portugal, Espanha, Irlanda,
Grécia e Itália, marcados em vermelho no mapa abaixo:
Desemprego e população qualificada
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Figura 1 – Mapa da crise econômica européia
Fonte: O Globo (2013)
Em Portugal, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de
desemprego entre a população qualificada, a saber, com ensino superior completo,
aumentou de 2011 para 2012, em 2,7%, como pode ser constatado no gráfico abaixo
(Figura 2):
Fontes de Informação Sociológica
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Figura 2 – Gráfico da taxa de desemprego da população activa com ensino superior
completo em 2011 e 2012
Fonte: INE
Na tabela a seguir, foi analisada a variação da taxa acima por faixa etária,
evidenciando-se que as faixas etárias de 15 a 24 anos e 25 a 34 anos foram as mais
afetadas pelo desemprego da mão-de-obra qualificada, e tiveram aumento de,
respectivamente, 10,1% e 4,4% em suas taxas de desemprego. Ou seja, considerando o
agravamento em 2,7% do gráfico anterior, tem-se que os jovens foram altamente
prejudicados nesse período estudado.
Tabela 1 - Taxa de desemprego em Portugal da população com ensino Superior
completo - 2011 e 2012, por faixa etária
Grupo etário
Ano 15-24 anos 25-34 anos 35-44 anos 45-64 anos
2011 29% 12,7% 4,8% 4,5%
2012 39,1% 17,1% 7,7% 4,9%
Fonte: INE
Desemprego e população qualificada
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Nesses países citados assiste-se à intensificação do fenômeno do brain drain ou
“fuga de cérebros”, que é a mobilidade dos profissionais altamente qualificados ou
“cérebros”, caracterizado, em sua maior parte, pelos profissionais qualificados mais
jovens. Ressalta-se ainda que se trata de um fenômeno inevitável no contexto de
internacionalização de mercados e abolição de fronteiras entre os países, sendo que a
crise funcionou como um incentivo para essas migrações (Araújo e Ferreira, 2013)
Ao se tratar da emigração de profissionais qualificados, expõe-se a fragilidade
de certos governos em relação à retenção daqueles. Segundo Araújo e Ferreira (2013),
o fator econômico é o principal responsável pela mobilidade dos profissionais em
questão, que buscam em outros países melhores condições de vida e assim o
conseguem, uma vez que possuem credenciais altamente qualificadas. No entanto,
esses autores também defendem que é preciso considerar que os profissionais recém-
formados buscam oportunidades no estrangeiro não só pelo aspecto econômico, mas
também pela experiência a ser ganha ao se trabalhar fora de seu país.
Face a isso, é cada vez mais notório os esforços dos países de origem desses
profissionais em tentar retê-los, através de investimento em universidades e centros de
pesquisa e também em processos que envolvem a transferência de conhecimentos
(Araújo e Ferreira, 2013).
No decorrer do tempo, a visão da “fuga de cérebros” como um fenômeno
negativo foi se transformando, hoje sendo visto como um ganho para ambos os países
envolvidos; especialmente em virtude das multinacionais, que passaram a exigir a
mobilidade de seus empregados mais qualificados (Araújo e Ferreira, 2013). Esse
processo é capaz de acentuar outros fenômenos como “multiculturalismo”, que é o
“modo de designar as diferenças culturais num contexto transnacional e global” (Ramos,
2013, p.75) e o “trasnacionalismo”,
“conjunto de processos pelos quais os migrantes desenvolvem relações de natureza múltipla, ligando as sociedades de origem e as de acolhimento, construindo espaços sociais que atravessam as fronteiras geográficas, culturais e políticas” (Portes apud Ramos, 2013, p. 79)
Fontes de Informação Sociológica
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As migrações, quaisquer que sejam seu tipo, geram contribuições entre os
países envolvidos, tanto em termos de tranferências financeiras, como em termos de
transferências invisíveis – “capital humano e social: comportamentos econômicos,
competências e conhecimentos, ideias, valores, contactos, acesso a redes, trocais socias
e culturais.” (Ramos, 2013, p. 81).
A taxa de emigração qualificada em Portugal é de 20% de acordo com dados da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o que representa
uma perda de investimento público do país caso esses jovens não retornem a seu país,
constituindo benefícios apenas para os países acolhedores (Lusa apud Notícias ao
Minuto, 2013). Por outro lado, para Raposo (2013), apesar de a crise interferir na taxa
de brain drain, ela por si só não o causa, uma vez que a principal motivação dos jovens
qualificados que saem do país é obter experiência no exterior, ganhando melhores
salários.
Frente a essa “fuga de cérebros”, os autores Araújo e Pereira (2013) defendem
que da forma como é exposto pelas mídias portuguesas e internacionais, esse fenômeno
interfere na construção da identidade coletiva em Portugal: o discurso entre as duas
mídias – portuguesa e internacional – se apresenta de maneira contrária, a primeira
adotando uma postura de autopromoção de Portugal e a segunda, de desvalorização
em virtude do brain drain. Em um momento de fragilidade, como o da atual crise
econômica, a imagem do país no olhar da população é um elemento-chave. A mídia
internacional constata a saída dos profissionais qualificados por meio da política de
austeridade, que gera a relação desemprego-emigração e também pelo fato de
atualmente as ex-colônias portuguesas serem pólos de atração desses profissionais; por
outro lado, as mídias portuguesas tentam se defender de tais “ataques”, elegendo uma
perspectiva de negação do fenômeno estudado ou mostrando-se proativas frente às
vantagens que ele pode oferecer (Araújo e Pereira, 2013).
Ramos (2013) defende que há uma tentativa de Portugal em atrair mão-de-
obra altamente qualificada a fim de suprir as necessidades existentes no país, esse
processo se dá por políticas que facilitam a entrada de tais profissionais. Como é o caso
da lei nº23/2007, que no seu artigo 61º - Visto de residência para actividade de
Desemprego e população qualificada
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investigação ou altamente qualificada (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, 2013) prevê
que
1—É concedido visto de residência para efeitos de realização de investigação científica a nacionais de Estados terceiros que tenham sido admitidos a colaborar como investigadores num centro de investigação, reconhecido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino contrato de trabalho, de uma proposta escrita ou contrato de prestação de serviços ou de uma bolsa de investigação científica. (sublinhado meu)
2—É igualmente concedido visto de residência para o exercício de uma actividade docente num estabelecimento de ensino superior ou uma actividade altamente qualificada a nacionais de Estados terceiros que disponham de adequada promessa ou contrato de trabalho, de proposta escrita ou de contrato de prestação de serviços. (sublinhado meu)
Por outro lado, não só as migrações são uma das alternativas encontradas pelos
jovens profissionais que não encontram boas oportunidades de emprego em seus
países. Segundo Almeida e Albuquerque (2013), o empreendedorismo surge também
como uma resposta motivada pela falta de emprego, envolvendo fatores individuais e
contextos sociais. “O empreendedorismo passou a ser descrito como um meio de
introdução de novos produtos, de modos de produção, de mercados, e de formas de
organização” (Almeida e Albuquerque, 2013, p. 29).
O empreendedorismo é motivado pela natureza econômica, porém, há dois
processos motivadores distintos: a oportunidade cria os empreendedores
schumpeterianos, em geral providos de maior capital pessoal; e a necessidade de
contornar o desemprego no mercado de trabalho produz os empreendedores movidos
pela necessidade. (Ferrão, Conceição e Baptista apud Almeida e Albuquerque, 2013, p.
36), tal empreendedorismo pela necessidade gera o refugee effect, no qual tem-se o
desemprego estimulando a atividade empreendedora (Almeida e Albuquerque, 2013).
Dessa forma, é possível inferir que o estudo do desemprego da população
qualificada é relevante pois aborda questões relativas ao desemprego, crise econômica
europeia, brain drain, migrações, identidade coletiva em Portugal, mudanças na
legislação e empreendedorismo, ou seja, temas muito presentes na nossa atualidade.
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2.2 DESCRIÇÃO DETALHADA DA PESQUISA
Dentre os três temas disponíveis – Desemprego e População Qualificada; A
crise do Estado democrático; e Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento - para o
desenvolvimento do trabalho de avaliação contínua da disciplina de Fontes de
Informação Sociológica escolhi o primeiro tema, por acreditar que se trata de um
assunto muito presente na atualidade e, sendo o meu curso Gestão, despertou-me
interesse este tópico relacionado à área de Negócios e Economia.
Para a elaboração desse trabalho foram utilizadas, majoritariamente, fontes de
informação eletrônicas, a saber, artigos de revistas científicas e portais de notícias. A
seleção de material deu-se com base em artigos indicados pelos próprios professores
no site da disciplina, bem como em pesquisas, principalmente em busca de notícias,
sobre o tema através do motor de busca Google, usando expressões como desemprego
e população qualificada, brain drain, fuga de cérebros, entre outros, porém sempre me
atentando em retirar informações de sites confiáveis. Também julguei importante trazer
dados estatísticos sobre o assunto, então utilizei a base de dados do Instituto Nacional
de Estatística (INE); por possuir certa familiaridade para realizar as pesquisas, uma vez
que atividades de busca de informação no site foram realizadas durante as aulas da
disciplina. Ademais, essa foi a página Web escolhida para ser avaliada no presente
trabalho.
Por fim, o texto que julguei mais interessante para a elaboração da ficha de
leitura foi o “A ‘Fuga de Cérebros’: um discurso multidimensional”, de autoria de Emília
Araújo e Filipe Ferreira, porque aborda um fenômeno que ganhou espaço de discussão
na sociedade em virtude da crise econômica.
Ao final da elaboração dos principais conteúdos do trabalho, redigi uma
introdução e uma conclusão com base nas informações que obtive e na experiência de
realizar o trabalho.
Desemprego e população qualificada
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3. AVALIAÇÃO DE UM SÍTIO DA INTERNET
Dentre as opções de sítios na Internet que eu havia previamente selecionado,
como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Jornal O Globo e Instituto
Nacional de Estatística (INE) para realizar a análise nessa seção, selecionei o site do
Instituto Nacional de Estatística (INE), pois utilizei informações estatísticas deste site
para o Estado das Artes e também por se tratar de site com melhor navegação em
função de ser certificado pela Acessibilidade à Web.
O site do INE tem como objetivo fornecer informações gratuitas – dados
estatísticos, estudos, publicações, informações geográficas, entre outros - sobre
Portugal numa amplitude muito grande, ou seja, cobre diversas dimensões de diversos
temas relacionados ao país; mas também com um grau de profundidade da informação
alto. A meu ver, o público-alvo do site é mais específico, direcionado para pessoas com
mais instrução, como pesquisadores e estudantes; sendo sua linguagem adequada para
transmitir a informação aos usuários. Caso seja necessário, o INE disponibiliza uma seção
de Perguntas Frequentes e canais de contato para receber dúvidas, sugestões e
reclamações.
O conceito da adequabilidade pode ser aplicado ao formato da página , porque
é fácil de visualizar, ler e inclusive tem um bom ajuste caso seja necessário imprimí-la. A
respeito do conteúdo exibido pode-se dizer que é de qualidade e fidedigna, produzido
pelo próprio Instituto Nacional de Estatística, por meio de recenseamentos, inquéritos
por amostragem e fontes administrativas; logo, em minha opinião, a informação
disponível no site é neutra. Para buscar a informação desejada, é possível utilizar-se do
mapa do site, da barra de pesquisa ou da pesquisa avançada, bem como usar os menus
do lado esquerdo, que são muito intuitivos e bem separados em categorias.
O desenho gráfico do site é comum, sem muitos atrativos ou elementos
interativos, acredito que assim seja por se tratar de um local de busca de informação,
em que quanto mais simples a navegação melhor para o usuário. No tocante aos
elementos gráficos que podem ser criados por meio de ferramentas do site, como
gráficos, tabelas e mapas, o site permite que seja feito download dos mesmos.
Fontes de Informação Sociológica
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O site possui ligações com outros sites no rodapé de sua página: Conselho
Superior de Estatística (CSE), Acção Local de Estatística Aplicada (ALEA), Sistema de
Informação da Classificação Portuguesa de Actividades Económicas (SICAE), The
International Year of Statistics (Statistics2013), Recenseamento Agrícola 2009 e Sistema
Estatístico Europeu.
Por fim, como já mencionado, no que diz respeito à questão das
acessibilidades, o site do INE cumpre com os requisitos de acessibilidade à Web,
possuindo no seu canto inferior direito o símbolo da Acessibilidade à Web que certifica
isso.
Desemprego e população qualificada
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4. FICHA DE LEITURA
Título do artigo: A “Fuga de Cérebros”: um discurso multidimensional
Autor: Emília Araújo e Filipe Ferreira
Local:
http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/cecs_ebooks/article/download/1578/149
4
Data da publicação: 2013
Local e Editora: Braga: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Universidade
do Minho
Número de páginas: 25 (58 -82)
Assunto: mobilidade e fuga de cérebros
Palavras-chave: fuga de cérebros, mobilidade de cérebros, discurso mediático.
Data: Outubro de 2013
Resumo:
A mobilidade dos profissionais altamente qualificados ou “cérebros” é um fenômeno
inevitável no contexto de internacionalização de mercados e abolição de fronteiras
entre os países. A autora, seguindo sua nova linha de pesquisa – mobilidade científica e
circulação do conhecimento – desenvolveu esse estudo de modo a conhecer os tipos de
variáveis envolvidas na trajetória internacional de pesquisadores portugueses. O tema
da “fuga de cérebros” ou brain drain, da forma como é exposto pelas mídias portuguesas
e internacionais, interfere na construção da identidade coletiva em Portugal. A
inexistência de um consenso entre os conteúdos expostos por cada uma dessas mídias
se dá em um contexto que os discursos portugueses adotam uma posição pró-ativa
frente a essa mobilidade, procurando também se defender do ataque das mídias
Fontes de Informação Sociológica
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internacionais, que por sua vez relacionam esse fenômeno à crise econômica estrutural
do país.
Introdução
Dada a relevância política que o tema da emigração possui, ao se tratar da emigração
de profissionais qualificados há maior interesse ainda, uma vez que evidencia-se a partir
dela a fragilidade de certos governos em relação à retenção desses profissionais. Nesse
sentido, os autores se propuseram a estudar o efeito das mídias nacionais e
internacionais sobre esse fenômeno, no que diz respeito à componente discursiva
estrutural da política interna e à imagem de Portugal no estrangeiro . Para isso,
definiram como problemática “relacionar a mobilidade e a emigração de profissionais
qualificados juntamente com seus efeitos sobre a identidade coletiva de Portugal.”
(Ferreira, 2013, p. 58) e adotaram o Google como principal motor de busca, sem no
entanto deixar de consultar materiais impressos sobre as mídias.
Os autores têm como objetivo analisar a maneira como as mídias constróem cenários
frente ao tema da fuga de cérebros, em contexto nacional e internacional e entre os
anos de 2010 a 2012. A unidade de análise é constituída por uma parte teórica, que trata
do contexto histórico e conceitual, de estudos sobre a mobilidade e por fim uma
introdução – que aborda a questão identitária - à parte empírica, a qual analisa diversos
meios de comunicação, tanto portugueses quanto internacionais, dentre eles revistas,
jornais e televisão.
Contexto histórico e conceitual
O fator econômico é o principal responsável pela mobilidade dos profissionais em
questão, que buscam em outros países melhores condições de vida e assim o
conseguem, uma vez que possuem credenciais altamente qualificadas. Assim, é cada vez
mais notório os esforços dos países de origem desses profissionais em tentar retê-los,
através de investimento em universidades e centros de pesquisa e também em
processos que envolvem a transferência de conhecimentos, a exemplo do Reino Unido,
Desemprego e população qualificada
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Brasil e Austrália. No decorrer do tempo, a visão da “fuga de cérebros” como um
fenômeno negativo foi se transformando, hoje sendo visto como um ganho para ambos
os países envolvidos; especialmente em virtude das multinacionais, que passaram a
exigir a mobilidade de seus empregados mais qualificados.
Estudos atuais e questão identitária
Os autores buscam outros estudos anteriores, no entanto atuais, sobre a migração do
cérebros, ressaltando que a maioria das investigações aborda as migrações dos
profissionais não-qualificados. Essa mobilidade envolve dimensões acadêmicas, sociais
e políticas, gerando implicações para os países, a saber: fluxo de capital, conhecimentos,
riqueza, costumes, valores e modos de vida, podendo inclusive alterar assuntos de nível
legal. Um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
(OCDE) constatou que a mobilidade dos cérebros ocorre em nível mundial, porém sua
ocorrência é mais expressiva na África e na Ásia. Já os pesquisadores Franzoni, Scellato
e Stephan (2012) estudaram a circulação de investigadores e cientistas, concluindo que
os Estados Unidos são o principal destino deles e que a Índia é a que mais perde recursos
qualificados nesse processo.
Mídia portuguesa e internacional
Na análise sobre as mídias, o termo “fuga de cérebros” se restringe a uma questão
política e não de interesse individual desses profissionais. O discurso entre as duas
mídias – portuguesa e internacional – se apresenta de maneira contrária, a primeira
adotando uma postura de autopromoção de Portugal e a segunda, de desvalorização
em virtude do brain drain. A mídia internacional constata a saída dos profissionais
qualificados por meio da política de austeridade, que gera a relação desemprego-
emigração e também pelo fato de atualmente as ex-colônias portuguesas serem pólos
de atração desses profissionais. Por outro lado, as mídias portuguesas tentam se
defender de tais “ataques”, elegendo uma perspectiva de negação do fenômeno
estudado ou mostrando-se proativas frente às vantagens que ele pode oferecer.
Fontes de Informação Sociológica
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Análise do texto e conclusão
O principal termo usado pelos autores é “cérebros”, que se refere aos profissionais que
se realçam devido ao seu alto nível de formação, qualificação e desempenho
profissional, sendo assim altamente reconhecidos dentro do mercado trabalho em que
atua; ademais, é uma tendência eles não se fixarem no mesmo espaço. A adoção das
expressões “mobilidade de cérebros” e “circulação de cérebros” é considerada mais
adequada para substituir o termo “fuga de cérebros”.
Em relação às referências bibliográficas utilizadas, pode-se dizer que estão atualizadas
– a maioria é dos anos 2011 e 2012 – de forma a condizer com o objetivo do estudo, que
é analisar a maneira como as mídias constróem cenários frente ao tema da fuga de
cérebros, em contexto nacional e internacional e entre os anos de 2010 a 2012.
Os autores selecionaram o critério de “público atingido” para a seleção das mídias
portuguesas: a revista Visão, que segundo dados da Associação Portuguesa para
Controlo de Tiragem e Circulação (APCT) é a newsmagazine mais vendida em Portugal
no ano de 2013; e o Jornal de Notícias, terceiro jornal mais vendido em Portugal. As
notícias veiculadas nesses meios exibem o desemprego como um dos fatores para a
mobilidade de cérebros, não obstante destacam também o interesse e trabalho
individual desses profissionais como outro possível fator. Já na avaliação das mídias
internacionais os autores elegeram diversas fontes, tanto em termos de meios de
comunicação quanto aos países de origem de cada um deles.
Frente à problemática que embora Portugal seja um país que sempre fora marcado pela
imigração de pessoas com baixa qualificação, no cenário atual o país se destaca pela
grande quantidade de “cérebros” que imigram para outros países, pode-se discutir
como a mídia expõe sua opinião a respeito de tal fenômeno e se há alguma relação de
dependência em relação àquele padrão anterior.
As migrações, quaisquer que sejam seu tipo, geram contribuições entre os países
envolvidos, tanto em termos de tranferências financeiras, como em termos de
transferências invisíveis – “capital humano e social: comportamentos econômicos,
Desemprego e população qualificada
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competências e conhecimentos, ideias, valores, contactos, acesso a redes, trocais socias
e culturais.” (Ramos, 2013, p. 81).
Ao buscar-se notícias sobre o brain drain em Portugal no Google, depara-se com muitos
artigos como: existe uma “fuga de cérebros” dos jovens qualificados de Portugal para
outros países, no entanto, esse fenômeno nem sempre se encontra relacionado com a
crise econômica. Tal taxa de emigração qualificada é de 20% de acordo com dados da
OCDE, o que representa uma perda de investimento público do país caso esses jovens
não retornem a seu país, constituindo benefícios apenas para os países acolhedores.
(Lusa, 2013).
Há também em menor grau uma tentativa de mudar essa visão predominante: Raposo
(2013) desconstrói dois “mitos” criados pela sociedade em relação às emigrações em
Portugal: nas palavras do autor, (I) “Portugal é um país que só exporta ‘jovens cérebros’”
e (II) “os ‘jovens cérebros’ estão a ser escorraçados só pela crise econômica”. Relativo
ao mito I, Raposo (2013) explica que em Portugal, na verdade, a “exportação” de mão-
de-obra com baixa qualificação supera a de trabalhadores qualificados. Diferente do
tratamento concedido aos profissionais mais qualificados – que inclusive têm incentivos
legais para migrar, como será abordado posteriormente - tem-se que há discriminação
dos grupos com menor qualificação no país de destino por meio de tráfico de mão-de-
obra, raça, cor, origem étnica, diferenciação de salário, vulnerabilidade contratual,
precarização do trabalho, entre outros, o que gera situação de pobreza e exclusão social
(Ramos, 2013). Já sobre o mito II, o autor se justifica dizendo que apesar da crise
interferir na taxa de brain drain, ela por si só não o causa, uma vez que a principal
motivação dos jovens qualificados que saem do país é obter experiência no exterior,
ganhando melhores salários.
Por outro lado, Ramos (2013) defende que há uma tentativa de Portugal em atrair mão-
de-obra altamente qualificada a fim de suprir as necessidades existentes no país, esse
processo se dá por políticas que facilitam a entrada de tais profissionais. Como é o caso
da lei nº23/2007, que no seu artigo 61º - Visto de residência para actividade de
investigação ou altamente qualificada (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, 2013).
Fontes de Informação Sociológica
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Nota-se que nos discursos midiáticos portugueses presentes no trabalho de Ferreira
(2013) existe uma clara crítica de ordem política em relação às ações do governo frente
à saída de profissionais de Portugal, expondo variáveis como desemprego e falta de
investimentos governamentais; em menor importância é citado o interesse individual
do profissional altamente qualificado em buscar experiências enriquecedoras fora de
seu país. Apesar do maior enfoque dado à questão da “fuga de cérebros”, no excerto do
Jornal Visão (2011) apud Ferreira (2013, p. 69) realiza-se um paralelo com a situação dos
emigrantes portugueses menos qualificados, demonstrando a influência de um padrão
anterior para efeitos de comparação de fenômenos:
“Se nos anos 1960 milhares de portugueses deixaram o País para procurar noutros destinos (sobretudo europeus) melhores condições de vida, é de crer, embora faltem dados estatísticos credíveis que descrevam o fenómeno, que na atualidade se estejam a replicar outros êxodos históricos nacionais, agora também de gente mais qualificada. “
Porém, são mais expressivas as reportagens com enfoque apenas na questão atual da
migração de profissionais altamente qualificados, procurando expor de maneira
alarmante a saída de jovens profissionais do país, que levam consigo uma enorme
bagagem de conhecimento e que provavelmente não regressarão ao seu país,
descontinuando a ideia de “circulação de cérebros”.
Desemprego e população qualificada
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5. CONCLUSÃO
No que diz respeito ao tema do desemprego na população qualificada conclui-
se que ele está muito presente na atualidade e muito em foco na mídia portuguesa e
internacional, especialmente devido à crise econômica.
Os profissionais recém-formados são os principais afetados por esse fenômeno,
sendo que os dados do INE comprovam esse aumento do desemprego entre os jovens
qualificados nos últimos anos em Portugal, buscando alternativas como a migração
(Brain drain) para países que oferecem melhores oportunidades de emprego ou
iniciando seus próprios negócios (empreendedorismo).
Frente a isso, alguns dos países mais afetados pelo brain drain, inclusive
Portugal, vêm trabalhando no sentido de reter seus talentos através, por exemplo, de
mudanças na legislação; afinal esse fenômeno acarreta grandes prejuízos econômicos
para esses países, tendo em vista que o investimento feito na formação dos jovens
qualificados está sendo de certa forma aproveitado por outros países que oferecem
melhores condições de trabalho.
Já em relação à elaboração do trabalho, posso relatar que se tratou de uma
excelente oportunidade para aprender a buscar boas fontes de informação, como
também a informação em si, para futuros trabalhos, bem como esclareceu diversos
pontos sobre como realizar um trabalho. Por último, acredito que os conhecimentos
adquiridos no âmbito da disciplina serão importantes quando eu tiver de fazer meu
trabalho de conclusão de curso na minha universidade no Brasil.
Fontes de Informação Sociológica
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Almeida, Joana Gomes e Albuquerque, Cristina (2013), De Desempregados a
Empreendedores - Percursos e Experiências. PsicoSoma: Viseu, 19-48
Araújo, Emília e Ferreira Filipe (2013), "A «fuga de cérebros»: um discurso
multidimensional", in Araújo, E.; Fontes, M. e Bento, S. (orgs), Para um debate sobre a
mobilidade e Fuga de cérebros. Braga: Centro de estudos de Comunicação e Sociedade,
58-82.
IG Economia (2013), “Europa busca caminhos para amenizar desemprego recorde entre
jovens”. Acedido em 21 de Novembro de 2013, disponível em
<http://economia.ig.com.br/criseeconomica/2013-06-14/europa-busca-caminhos-
para-amenizar-desemprego-recorde-entre-jovens.html>.
Instituto Nacional de Estatística (2013) Instituto Nacional de Estatística Statistics
Portugal. Acedido em 21 de Novembro de 2013, disponível em <http://www.ine.pt/>.
Notícias ao Minuto (2013), “’Fuga de cérebros’ leva a perdas de 46 mil euros por aluno”.
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<http://www.sef.pt/documentos/56/NOVA%20LEI%20ESTRANGEIROS.pdf>
ANEXO A
Sítio da Internet avaliado: http://www.ine.pt
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