cristina bruschini - novos olhares mulheres e relações de gênero no brasil

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Cristina Bruschini - Novos Olhares Mulheres e Relações de Gênero No Brasil

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Fundao Carlos ChagasTEXTOS FCCDepartamento de Pesquisas Educacionais 17/98TRABALHO DAS MULHERES NO BRASILContinuidades e Mudanas noperodo 1985-1995Maria Cristina Aranha Bruschini9 FUNDAO CARLOS CHAGAS DEPARTAMENTO DE PESQUISAS EDUCACIONAIS SO PAULO, 1998 17/98 TRABALHO DAS MULHERES NO BRASIL Continuidades e Mudanas noperodo 1985-1995 Maria Cristina Aranha Bruschini 10FUNDAO CARLOS CHAGAS DIRETORIA Rubens Murillo Marques Diretor-Presidente Gerhard Malnic Diretor Vice-Presidente Nelson Fontana Margarido Diretor Secretrio Geral Catharina Maria Wilma Brandi Diretora Secretria Magid Iunes Diretor Tesoureiro Geral Eugnio Aquarone Diretor Tesoureiro DEPARTAMENTO DE PESQUISAS EDUCACIONAIS Coordenao Bernardete Angelina Gatti11 1998 * Realizado com a colaborao da sociloga Maria Rosa Lombardi, mestranda em Educao da UNICAMP/ Universidade Estadual de Campinas, So Paulo, Brasil. TRABALHO DAS MULHERES NO BRASIL Continuidades e Mudanas noperodo 1985-1995 Relatrio elaborado para aOIT/Organizao Internacional do Trabalho* 12 Ficha Catalogrfica elaborada pela Biblioteca Ana Maria Poppovic BRUSCHINI, Maria Cristina. B924t Trabalho das mulheres e mudanas no perodo 1985 1995/Maria CristinaBruschini.So Paulo : FCC/DPE, 1998. 78P. (Textos FCC, 17) 1.Mulheres2. Trabalho3. Brasil.I Ttulo.II Srie. CDU: 396.5(81) 13NDICE INTRODUO9 1.O BRASIL DE 1980 A 199510 1.1. Mudanas demogrficas10 1.2. Mudanas polticas e econmicas12 2.FONTES DOS DADOS17 3. A PARTICIPAO DAS MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO NO PERODO 1985 1995 20 3.1. O aumento da atividade feminina20 3.2. Trabalho feminino, famlia e escolaridade: mudanas e persistncias22 3.3. Desigualdades de gnero e deslocamentos da fora de trabalho31 3.4. A qualidade do trabalho feminino41 4. FONTES DISPONVEIS PARA AVALIAR A QUALIDADE DO TRABALHO DAS MULHERES: AVALIAO E RECOMENDAES 65 CONSIDERAES FINAIS68 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS73 NDICE DAS TABELAS 1.Indicadores de participao econmica por sexo - 1985/90/9521 2.Taxas de atividade por idade e sexo24 3.Taxas femininas de atividade, segundo a posio na famlia 1985/ 93 25 4.Taxas de atividade global das mulheres de 10 anos e mais, por posio na famlia 1993 26 5.Taxas de atividade das mulheres que tiveram filhos, por idade 1993/ 95 28 6.Distribuio dos trabalhadores e taxas de atividade por sexo e escolaridade - 1995 31 7.Trabalhadores e trabalhadoras por setor de atividade 1985/90/9533 8.Trabalhadores e trabalhadoras por grupos ocupacionais 1990/ 9534 9.Distribuio de empregos masculinos e femininos no setor formal e setor de atividade econmica 1988/ 92 35 10. Distribuio dos empregos no setor formal, segundo grupos ocupacionais 1988/ 92 36 14 11. Postos de trabalho no mercado formal e variao no perodo 1988/ 92 37 12. Perda de postos de trabalho no mercado formal no perodo 1988/ 92 por setor de atividade 38 13. Empregos segundo tamanho de estabelecimento e setor de atividade econmica 1988/ 92 39 14. Perda de postos de trabalho no perodo 1988/ 92 segundo grupos ocupacionais e sexo 40 15. Ocupados e ocupadas segundo a posio na ocupao 1993/ 9542 16. Ocupados e ocupadas segundo o local de trabalho 1993/ 9543 17. Pessoas ocupadas segundo a posio na ocupao e local de estabelecimento do trabalho principal 1993 44 18. Ocupaes com maior representatividade de mulheres 1988/ 9246 19. Trabalhadores e trabalhadoras segundo faixas de rendimento mdio mensal Brasil, 1985/ 90/ 9548 20. Rendimento dos ocupados e ocupadas segundo setores de atividade 1995 49 21. Rendimento dos ocupados ocupadas, segundo grupos de horas semanais trabalhadas 1995 50 22. Ocupados e ocupadas com rendimento no trabalho principal, segundo a posio na ocupao 1995 51 23. Ocupados e ocupadas segundo anos de estudo e classes de rendimento 1995 52 24. Desigualdades salariais entre sexos em ocupaes femininas no mercado formal 1988/ 92 53 25. Ocupados e ocupadas segundo o nmero de horas trabalhadas por semana no trabalho principal 1985/ 90/ 95 55 26. Empregados e empregadas com carteira assinada 1985/ 90/ 9557 27. Distribuio dos empregados masculinos e femininos no setor formal, segundo a natureza do vnculo 1988/ 92 58 28. Empregados (as) e trabalhadores (as) domsticos (as) segundo tempo de permanncia no trabalho principal e posse de carteira de trabalho 1995. 59 29. Porcentagem de ocupados e ocupadas que contribuem para a previdncia social por setor econmico 1985/ 90/ 95 60 30. Aposentados e pensionistas, segundo o sexo e condio de atividade 1995 61 31. Ocupados e ocupadas por associao a sindicatos e setor de atividade 1995 63 32. Indicadores de insero feminina nos principais sindicatos no patronais 1992 64 15 NDICE DOS GRFICOS 1.Trabalho e idade24 2.Trabalho feminino e posio na famlia25 3.Atividade global das mulheres e posio na famlia26 4.Trabalho feminino, idade e filhos29 5.Trabalhadores/ as e escolaridade31 6.Trabalhadoras e setor de atividade34 7.Trabalhadoras e grupos ocupacionais35 NDICE DOS QUADROS 1.Nichos femininos mais desfavorecidos45 2.Algumas ocupaes nas quais as mulheres aumentaram sua representatividade no perodo 47 16INTRODUO Estetrabalhovisatraarumdiagnsticodasituaodotrabalhodasmulheresno Brasiledasprincipaisalteraesocorridasnaqualidadedoempregofeminino,no perodo transcorrido entre os anos de 1985 e 1995. O texto tem por objetivo oferecer elementosquepermitamumacomparaodasituaodastrabalhadorasbrasileiras comotrabalhodasmulheresdospasesdoMercosuledoChile,patrocinadapela OIT/Organizao Internacional do Trabalho. Fundamenta-se em uma anlise de dados oficiaisdoInstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatstica/IBGEedoMinistriodo Trabalho/MTb referentes ao pas e apresenta informaes sobre as trabalhadoras e os trabalhadores, visando uma anlise com a perspectiva de gnero. No possvelfalar sobre um pas da dimenso do Brasil 8,5 milhes de km2, 157 milhesdehabitantes,segundoaltimacontagemdapopulao(FIBGE,1996) sem levar em contasua diversidade regional. A heterogeneidade scio-econmica a marca deste pas que, segundo o Relatrio de Desenvolvimento Humano, poderia ser subdivididoemtrs:umareadeelevadonveldedesenvolvimento,constitudapor seteestadosaoSuldopas,juntamentecomoDistritoFederal;umareade desenvolvimentomdio,queincluioCentro-OesteeumapartedoNortedopase umareadereduzidonveldedesenvolvimentoqueincluiestadosdoNortee Nordeste(IPEA,1996).Aindaque,noslimitesdestetexto,asdisparidadesregionais no estejam sendo consideradas, o que constitui uma de suas limitaes, importante queoleitortenhaemmenteque,aoapresentarmosdadossobreopaseotrabalho das brasileiras, estaremos forosamente nosreferindo a um complexo e contraditrio resultado da combinao dessas diferenas regionais. Paraaelaboraodotextolevamosemconsideraoofatodeeleserdirigidoa leitores estrangeiros, eventualmente no familiarizados com a situao brasileira, seja em termos de suas transformaes demogrficas, econmicas e sociais, seja no que se referesfontesdeinformaodisponveis.Porisso,elefoiestruturadoemquatro partes. Na primeira, apresentado um retrato do pas e das principais mudanas pelas 17quaiselepassounoamploperodoqueestsendoconsiderado,de1985a1995.Na segunda,tecemosalgumasconsideraessobreasfontesdosdados,conceitos, metodologia,abrangnciaemudanas,quenospareceramfundamentaisparaa compreensodaestruturadaanlisesobreotrabalhofeminino,objetodeestudoda terceira parte, que se subdivide, por sua vez, em quatro: indicadores do crescimento da participao econmica feminina,mudanas no perfil demogrfico e familiar da fora de trabalho feminina, insero das trabalhadoras no mercado de trabalho brasileiro no perodo 85 a 95e qualidade do trabalho feminino. Uma ltima parte avalia as fontes disponveisparaanalisaraqualidadedotrabalhodasmulhereseformulaalgumas sugestes. 1. O BRASIL DE 1980 A 1995 1. 1Mudanas Demogrficas Osindicadoresdemogrficosdoperodomostramqueprosseguiuaquedada fecundidade das brasileiras, iniciada em meados da dcada de 60 e que se intensificou apartirdadcadade70.Nosquinzeanosanalisados,ataxadefecundidadetotal declinoude4,4para2,5.Osefeitosdestatransiodemogrfica,associadosqueda da mortalidade, evidenciam-se na evoluo da estrutura etria da populao do Pas. O contnuodeclnionaparticipaodascrianasdemenosde10anose,mais intensamente,dogrupodemenosde5anosdeidade,secontrapeaocrescimento observadonaparceladosidosos,acimados65anos.Atendnciadeclinante observadanotamanhodafamliaacarretada,principalmente,porestadiminuio progressiva no nmero mdio de filhos por mulher.No perodo considerado aumenta aproporodedomiclioschefiadospormulheres,queatinge20,8%dasfamlias brasileiras,bastantesuperioraos14,7%constatadosem1980.Entreasregiesdo pasoNordesteeoSudestesoaquelasquemaissedestacamnoqueserefere incidncia desse fato social 22% e 21,4%, respectivamente provocado tanto por razesdeordemeconmica,comoapersistnciadapobreza,quantoporfatores culturais,associadosaosnovospadresdecomportamentodasmulhereses estruturas familiares mais diversificadas, sobretudo nos grandes centros urbanos.18 As diferentes origens das levas migratrias, espontneas e foradas, que chegaram ao PasapartirdosculoXVI,eoconseqenteconvviodeindivduosdediferentes raas resultaram emuma grande parcela dapopulao descendente damiscigenao. poca da chegada, a intensidade e os locais de destino destas correntes migratrias tambminfluenciaramfortementenaevoluodiferenciadadascomposiesporcor ouraadasregies.Em1995osbrancosconstituam84%dapopulaodoSuleos negrosemulatosformavam67%dapopulaodoNordeste.Emtermosdofluxo migratrio interno, o histrico xodo dos nordestinos em busca de condies de vida menosadversasemoutrasreasdoPasfezcomqueaRegioNordestedetivessea maisbaixaproporodepessoasnonaturaisdoestadoderesidncia.Nasltimas dcadas, as Regies Norte e Centro-Oeste foram as que mais receberam migrantes de outras reas do territrio brasileiro. Em 1996 foram contados 157 milhes de brasileiros e a composio populacional por sexosdemonstrouamanutenodatendnciahistricadepredominnciafeminina: 97,3%dehomensparacadagrupode100mulheres.Acomposioetriada populao indica a consolidao de um processo j esboado em anos anteriores: em todas as regies do pas tem decrescido a participao dos mais jovens (at 14 anos), enquantoaumenta,lentamente,aparceladapopulaoacimade65anos.Essas alteraes,conjugadasreduodamortalidadeeaodeclniogeneralizadoda fecundidade,caracterizamoinciodoprocessodeenvelhecimentodapopulao brasileira.Corroboraessatendnciaarelaoidoso/crianaque,em1996,foida ordemde17%,bemsuperior,portanto,encontradaem1980(10,5%).A escolaridadedapopulaovemcrescendopaulatinamentee,emtodoopas,as mulheres so mais escolarizadas do que os homens. A regio Sul apresenta os ndices de escolaridade mais altos (96% no grupo de 7 a 9 anos de estudo) em contraste com a regioNordeste(86%nessegrupo).Emboraaescolaridadedascrianasde7a14 anos,correspondenteao1grau,sejaobrigatriaeatinja90%dascrianasdopas, existemaindacercade2,7milhesdecrianas,nessafaixaetria,foradaescola, enquantoataxadeanalfabetismo,napopulaode10anosemais,de14,8%e 19oscilade8,2%naregiomaisdesenvolvida,paraquase30%noNordeste.Este indicadorespelhadeformainequvocaaheterogeneidadesocialentreasregiesque compem o pas. A exemplo destas taxas, as condies de vida menos favorveis que prevalecemnoNordesteressaltamnaquasetotalidadedosindicadoresdecarter scio-econmicoeevidenciamoseusubdesenvolvimentoemrelaosdemais regies. (FIBGE/1995, 1996). 1. 2Mudanas Polticas e Econmicas Noperodofocalizadoopaspassouporagudastransformaes,deordempoltica, econmica e social. O ambiente econmico foi particularmente perturbado entre 1986 e1994,perodoemqueopasconviveucomnadamenosqueseisplanosde estabilizao econmica, a saber, Cruzado I, Cruzado II, Bresser, Vero, Brasil Novo eReal.Todosessesplanos,natentativaprimeiradeestancaracriseinflacionria, promoveramumasucessodecongelamentosdepreos,seguidosdedifceis processosdedesindexao,provocandocincoalteraesnamoedanacionalque,de cruzeiro,passou,sucessivamente,acruzado,cruzadonovo,cruzeironovoe finalmente, real. A atividade econmicaoscilou entre perodos de aquecimento e recesso, embora a tnica , principalmente nos anos 80, tenha sido de uma permanente e prolongada crise econmica. O incioda dcada de oitenta marca a interrupo de um longo perodo de crescimento da economia brasileira, com queda do produto interno bruto e retrao da indstriadetransformao,principalmentebensdeconsumodurvelebens intermedirios.Tendoancoradoseucrescimentonoendividamentoexterno,opas vinhasofrendoosefeitosdosprogramasdeestabilizaoeconmicaimplementados pelos pases industrializados desde as crises do petrleo na segunda metade da dcada de70.Desequilbriosnabalanadepagamentoslevaramogoverno,nosprimeiros anosde80,anegociarcomoFundoMonetrioInternacional,apesardeintensas resistnciaspolticas.Asmedidaseconmicasdecretadasaseguirtmprofundo impactorecessivo,provocandoodeclniodoprodutonacionalbruto(Cacciamali, apud Bruschini, 1989). 20 A intensidade da recesso econmica dos primeiros anos da dcada de 80 modifica o quadrodecrescimentoanterior,provocandoaumentosnastaxasdedesempregoe alteraonadistribuiodapopulaoeconomicamenteativa,deslocando-adosetor industrial para ocupaes no setor informal, e refletindo-se no aumento de autnomos e no subemprego. Na primeira metade de 80 e principalmente em 83, o setor tercirio teve papel fundamental no sentido de evitar maiores quedas no nvel de emprego. Os ramos que mais se destacaram na gerao de empregos foram a prestao de servios, ocomrcio,asatividadessociais,aadministraopblicaealgunsoutros,comoas instituiesfinanceiras.Nofinalde83aindstriabrasileiratinhaalteradosua composio em favor de bens de exportao, que ajudariam o pas a sair da recesso a partir da segunda metade do ano seguinte, graas recuperao da economia mundial. A retomada dos nveis de atividade porm, foi insuficiente para reestabelecer os nveis anteriores.Apartirdessemomento,aindstrianoresponderiasozinhapelacriao de empregos. Servios sociais e pessoais, bem como servios comerciais, financeiros egovernamentaisquecompemosetorterciriodaeconomiapassaramaresponder pelaretomadadocrescimentodaeconomia.Osetorpblico,apesardapolticade estabilizao, expandiu a gerao de empregos. A partir de 84, a economia brasileira retomou seu ritmo decrescimento, apoiada sobretudo no aumento das exportaes, e cresceu a uma taxa de 5,7%, que se ampliou para 8,3% no ano seguinte (Gomes, apud Bruschini, 1989). Em 1986, durante o governo Sarney, o plano Cruzado provocou um surpreendente boom no consumo, mas logo fracassou, provocando o recrudescimento da recesso. Entre 1987 e 1989 cresceu a instabilidade inflacionria e continuaram as flutuaes no nvel deproduo e emprego, sem que semanifestasse de forma clara, entretanto, retrao da atividade econmica. Do ponto de vista do emprego e da renda, adcadade80assistiuaumadeterioraodascondiesgeraisdomercadourbano, tendoemvistaocrescimentorelativamentelentodoemprego,oaumentoda proporo de assalariados sem contrato de trabalho formalizado, a reduo nos nveis de salrio real e a corroso do poder de compra dos salrios ocasionada pela inflao. Com a estagnao econmica, no foram geradasnovas oportunidades ocupacionais para absorver o aumento da populao ativa (Baltar, Dedecca, Henrique, 1996). 21Pode-se afirmar, em resumo, que a dcada de 80, mesmo tendo tido alguns momentos decrescimentodaeconomia,caracterizou-sepelarecessoeconmica,pelas altssimastaxasinflacionriasepelanodiminuiodapobreza,oquealevouaser conhecidacomoadcadaperdida(LopeseGottschalk,1990).Porm,senohouve melhoranoenfrentamentodapobrezaedaconcentraoderendanesses10anos, houve tambm nesse perodo uma diminuio da desigualdade no acesso mais amplo dapopulaomaisdesfavorecidaaserviosbsicos.Acomparaodedadosdas PNADsde1981comosltimoslevantamentosdaqueladcadairiamostrarqueos anosoitentanoforaminteiramenteperdidos,masforamtambmmarcadospor grandeexpansodoatendimentopblicorededeesgoto,saneamento,gua, eletricidade e mesmo pelo acesso dos pobres ao consumo geladeira, TV e outros itens. Essa mesma dcada, por outro lado, assistiu a um processo de reorganizao da sociedadecivil.Enquantoopascaminhavaparaaredemocratizao,apsolongo perododeregimemilitar,asociedadecivilengendrounovasprticaseformasde organizao, as quais tiveram como desdobramento o fortalecimento dos movimentos sociais e sindicais. Em1990,ogovernodeCollorprimeiropresidenteasereleitoapsaabertura democrticaimplantaoPlanoBrasilNovo,oqual,deimediato,provocaqueda bruscanainflao,retraonossetoresmaisorganizadosdaeconomiaenovociclo recessivo.Asnovasdiretrizeseconmicaspromovemumaabruptaaberturado mercado nacional aos produtos importados, a qual, associada crise econmica que se instauroueaoquadrodeincertezasnaeconomia,aceleraoritmodeintroduode mudanas tecnolgicas e organizacionais (principalmente no setor industrial), visando oaumentodospatamaresdeprodutividadeedequalidadedosprodutosnacionais, parafazerfrenteconcorrnciainternacional.Aprodutividademanteve-seemalta, mastrouxecomoefeitocolateralaquedanonveldeempregoindustriale,em cascata,nosdemaissetoreseconmicos(FIPEeCNI/DEC,apudBruschinie Lombardi,1996).Comorefreamentodacriseem1993,apsoimpeachmentde Collor e a instalao do governo Itamar Franco, houve alguma recuperao em postos de trabalho da indstria, sem retornar, entretanto, aos patamares de 1990. Em julho de 1994temincioaimplantaodoPlanoReal,projetodoatualgovernodeFernando 22Henrique Cardoso, quela poca Ministro da Fazenda, cujo objetivo central a queda da inflao e a estabilidade da moeda. Areduodainflao,quepossibilitouoaumentodopoderdecompradasfamlias, associadasfacilidadesdecrditoencontradasnosprimeirosmesesdevignciado Plano, incentivaram o aumento da produo industrial, que prosseguiu at o primeiro trimestrede1995,apesardasmedidasrestritivasqueforamsucessivamentesendo impostas.Noentanto,emdecorrnciadamudanaestruturalquejvinhase processandonaindstriadetransformao,atmesmonoaugedoreaquecimentoo aumentodopessoalocupadofoimodesto.Em1995,aparticipaodosocupadosna indstriadetransformaoperdeuterreno,ficando,emnmerosabsolutos, praticamenteiguala1993.Osetorterciriocontinuouaseroresponsvelpela absorodamaiorparceladapopulaoocupada.Nasatividadesnoagrcolas aumentaramasproporesdetrabalhadoresporconta-prpriaeempregadorescom pequenonmerodeempregadosetambmdosempregadosdosetorprivadoem pequenasunidadesprodutivas,oquepodesermaisumindciodosajustesquevm ocorrendonasempresasdemaiorporteparaenfrentaromercadoglobalizadoe competitivo (FIBGE/1995, 1996). As anlises referentes ao primeiro ano do Plano Real mostram que arpida abertura da economia para o Exterior, combinada a uma taxa de cmbio sobrevalorizada, gerou desequilbrionascontarexternasebaixonveldecrescimentodoprodutoindustrial. Ospostosdetrabalhoperdidosnaindstriatmsidosubstitudosporoutrosnos setoresdecomrcioedeservios,emgrandeparteinformais,comprodutividade relativamentemaisbaixaepagandosalriosmenoresdoqueosdaindstria.A tendnciatemsidoadereduodaqualidadedospostosdetrabalhogerados,que podemtambmdeixardecrescer,ampliandoastaxasdedesempregonosprximos anos (Camargo, 1996). importante assinalarque, desde oincio dos anos 90, os setores que geravam bons empregosjhaviampassadoaempregarmenosequeestatendnciaestariasendo 23agudizadapeloplanoReal.Destaca-se,nessemovimento,aindstria,quese reestruturaparafazerfaceconcorrnciainternacional;osetorfinanceiro,atingido pelacrescenteautomao,pelasbitaamputaodasreceitasinflacionriasque detinhamantesdoPlanoRealeporumcrescentenmerodefuseseaquisies;as estataisque,medidaquevosendoprivatizadas,soobrigadasasedesfazerde parcelassignificativasdeseupessoal;eaadministraopblica,cujareorganizao comea a se traduzir numa diminuio do nmero de servidores pblicos. Com isto, as chancesdeconseguirumempregoformalsereduziramemquase10pontos percentuaisnas principais regies metropolitanas. At aqui, a principal contrapartida desteprocessonofoiumaexplosodataxadedesemprego,emboraelatenha aumentado, mas uma crescente precarizao das relaes de trabalho e, sobretudo, um aumentodotrabalhoporcontaprpria(CONJUNTURA...,1996).Pochmann(1996) lembra-nosque,enquantooPIBcresceucercade15%entre93e95,oemprego formalregistrouaumentodeapenas2%.Ashiptesesmaisotimistasdogoverno estimam que, at o final da dcada de 90,o crescimento mdio anual do PIBser de apenas4%,oquenodevesealterarseforemmantidasaspremissasbsicasdo PlanoRealparamanteraestabilizao:manutenodastaxasdecmbio,taxasde juros elevadas,ajustamento do setor pblico, por meio de privatizaes, compresso do gasto pblico e ampliao das receitas para enfrentar o endividamento interno. No final de outubro de 1997, a crise financeira internacionaltem efeitos negativos sobre omercadobrasileiro,peemriscooRealeprovoca,comoreaodoGoverno, aumentoaindamaiornastaxasdejurosecortesoramentrios.Asperspectivas,a partir desta data, passam a ser a deaumento da recesso e do desemprego, s custas da manuteno da estabilidade da moeda e da queda da inflao. Atomomento,osestudoseaspesquisasdeopinioindicamqueosdoisprincipais objetivosdoplanoRealinflaozeroemoedaforteeestveltiveramcomo efeitospositivosumarelativaampliaodarendadasclassesmaisbaixas,que passaramateracessoaumconsumomaisdiversificado,incluindoitensde alimentao, vesturio, eletrodomsticos e outros. Por outro lado, a crise do emprego eodesempregopolarizamtodasasatenes,aomesmotempoqueapopulao, 24sempre que consultada, menciona que os inmeros problemas na rea social sade pblica,educao,pobreza,misria,violncia,criminalidade,principalmentenos grandescentrosurbanosnoestosendodevidamenteenfrentadospelogoverno. (LISTENING POST, 1997). 2.FONTES DOS DADOS Para a elaborao deste texto, recorremos s seguintes fontes de dados: PesquisasNacionaisporAmostradeDomiclios/PNAD,doInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica/IBGEde 1985 e 1995 APNADumapesquisadomiciliarporamostragem,realizadaanualmente,desde 1967, exceto nos anos em que realizado o Censo Demogrfico. Tem como objetivo centralolevantamentosobremo-de-obra,pormabordaoutrostemasemmaior profundidade em suplementos especiais. Desde o incio dos anos 90 a PNAD passou por uma profunda transformao, procurandoatender s demandasde vrios setores dasociedade,inclusivedasfeministasque,desdeofinaldosanos70,fizeramum srio esforo de crtica s estatsticas oficiais, acompanhando o debate terico sobre o trabalho feminino (Bruschini, 1994a; 1996). De fato, ao tomar como modelo o trabalho regular, contnuo e remunerado segundo as regras da economia de mercado predominante nos pases capitalistas mais avanados, osCensoseasPNADsnomedemadequadamenteacontribuioeconmicadas mulheres para a sociedade e tendem a invisibilizar o trabalho feminino. Este costuma sermarcadopeladescontinuidadeeintermitnciadeentradasesadasdomercado, atravsdasquaisasmulheresprocurammanteroequilbrioentreasatividades produtivaseasfunesreprodutivasquelhesosocialmenteatribudas.Opapelde donadecasa,desempenhadopelamaiorpartedasmulheresemidadeadulta, contabilizadocomoinatividadeeconmica.Nosetoragrcola,nasatividades informais,semprequenoocorreumantidaseparaoentreastarefasdomsticase as econmicas, grande a probabilidade de que as mulheres sejam classificadas como inativas.Otrabalhoadomicliodestinadoproduodealimentosouderoupas esconde-senasatividadesdomsticas,sendoomitido.Operododetempousado 25comorefernciaafetaovolumedeatividadeencontrado.Quantomaisamploo perodo,maiorserocomponenteruralfeminino,quecostumaexercermuitas atividades sazonais. As formas mediante as quais so elaboradas as perguntas podem provocarmaioroumenorocultamentodosdadoseasubestimaodotrabalho feminino. Nos anos oitenta, como resultado dessas crticas e como conseqncia de um dilogo maisestreitoentreusurioseprodutoresdedados,vriasalteraesforamsendo introduzidasnosquestionriosdoIBGE,muitasdelasfavorveisaummaior desvendamentodotrabalhofeminino.NoCensode1991foiintroduzidaa possibilidade do respondente indicar se trabalhou habitual ou eventualmente nos doze mesesanterioresaolevantamento.Essamudana,aparentementepequena,podeter levadomuitasmulheresqueexercemesporadicamenteatividadeseconmicasase declararem trabalhadoras. Acompanhandoessatendncia,foifeitaumareformulaonaPNAD,incorporando crticas e sugestes, assim como a discusso internacional sobre o tema.Em relao aotrabalhofeminino,oAnteprojetodeRevisomencionaasrecomendaesda13 ConfernciadaOITedaConfernciaInternacionaldeNairobide1985,paraque sejamelaboradasestatsticasmaisprecisassobreaparticipaoeconmicadas mulheresesejadadaatenosuacontribuionoeconmica.Entreessas recomendaesfiguratambmadeinvestigar,atravsdodomiclio,aproduoda empresafamiliar,asfontesderendaeosgastos,almdotempogastoporcada membro da famlia em diferentes atividades. No caso da mulher, o documento chama aatenoparaofatodequeaamostragemdomiciliarpermiteoestudonosda atividade,mastambmdainatividadeeconmicaedotrabalhodomstico (FIBGE/1990, apud Bruschini, 1996). Procurandoincorporaressassugestes,foifeitaumareconceituaodacategoria trabalho,afimdecompreendermaisadequadamenteasespecificidadesdarealidade scio-econmicabrasileira.Otrabalhoagrcolaseparandootrabalhofamiliardo 26assalariadopassouaserdistinguidodonoagrcola.Este,porsuavez,passoua discriminarotrabalhoassalariadonaempresacapitalista,nosetorpblicoouem pequenasorganizaes.Acategoriadosinativospassouaservistacomoum contingentedinmico,distinguindo-seafora-de-trabalhoefetivadapotencial. Segundoonovoconceito,acategoriadosempregadosagoraincluiostrabalhadores domsticosassalariados,osempregadospblicoseosempregadosnaproduoe circulao de mercadorias. A investigao dos trabalhadores por conta-prpria passa a caracterizarotrabalhoexercidonodomiclioouforadeste.Nocasodos empregadores, as informaes se tornaram mais detalhadas incluindo, por exemplo, o nmerodeempregados.Nocasodotrabalhono-remunerado,aPNADpassoua utilizarocritriodaOITdealgumtrabalho,compelomenos1horadetrabalho porsemanaenomais15horascomovinhasendofeito,oqueamplia consideravelmente o alcance desta categoria.Finalmente, passam a ser destacados os trabalhadoresno-remuneradosquetrabalhamparainstituiesreligiosasou beneficientes,bemoscomoestagirioseosaprendizes,deoutrostiposdetrabalho familiarnoremunerado,comoosdopequenocomrcioeodaproduoparao autoconsumo. Osefeitosdessarevisologopassaramasersentidos.Em1990aPNADpassoua incluirinformaessobreolocaldeestabelecimentodotrabalhoprincipal,oque tornouvisvelumoutrongulodotrabalhofeminino.Massomenteapartirda PNADde1992quepassaaserefetivamenteadotadoumnovoconceitodetrabalho,queinclui:a)ocupaesremuneradasemdinheiro,mercadoriasou benefcios(moradia,alimentao,roupas,etc.),naproduodebensouservios;b) ocupaesremuneradasemdinheirooubenefciosnoserviodomstico;c) ocupaessemremuneraonaproduodebenseservios,desenvolvidasdurante pelomenosumahoranasemana;emajudaamembrodaunidadedomiciliar,conta-prpriaouempregador;emajudaainstituioreligiosa,beneficienteoude cooperativismo; como aprendiz ou estagirio; d) ocupaes desenvolvidas pelo menos umahoraporsemananaproduodebensenaconstruodeedificaese benfeitorias para o uso prprio ou de pelo menos um membro da unidade domiciliar.27Nonovoconceitodetrabalhocaracterizam-se,portanto,ascondiesdetrabalho remunerado,semremuneraoenaproduoparaoprprioconsumo.Omaior refinamentodoconceitofavoreceamensuraomaisadequadadasatividades econmicas, porque reduz consideravelmente o nmeromnimo dehoras trabalhadas eincluiatividadesassistenciaiseparaoautoconsumo,entreoutrasalteraes.Por outro lado, introduz um vis metodolgico na comparao dos dados obtidos a partir de1992comosanteriores,namedidaemquediferentescritriosforamutilizados. Como veremos a seguir, os efeitos da nova metodologia so muito mais contundentes para o caso do trabalho feminino, sobretudo o rural (Bruschini e Lombardi, 1996). RAIS/Mtb, 1988 e 1992 RealizadoepublicadopeloMinistriodoTrabalho,oAnurioRAIS/RelaoAnual deInformaesSociaiscontminformaesfornecidaspelasempresas,referentesa registrosdeemprego,flutuaeseremunerao,emassociaoaoutrasvariveis, inclusive sexo. Trata-se de uma fonte de dados declarados pelos empregadores, que se refere, basicamente, ao segmento formal do mercado de trabalho, razo pela qual suas informaesnopodemsercomparadasquelasobtidaspormeiodafonteanterior. Apesardisso,algumasinformaesdaRAISseroanalisadasnestetexto,porque oferecemimportanteselementosparaaanlisedotrabalhofemininonosegmento formaldaeconomia.importantemencionarque,nocasodestafonte,osdados limitam-se ao ano de 1992, data do levantamento mais recente ao qual tivemos acesso. 3. A PARTICIPAO DAS MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO NO PERODO 1985-1995 3.1O aumento da atividade feminina AoanalisarocomportamentodaforadetrabalhofemininanoBrasildaltima dcada,oprimeirofatoachamaraatenoovigordoseucrescimento.Comum acrscimodecercade12milheseumaampliaodaordemde63%,asmulheres desempenharam um papel muito mais relevante do que os homens no crescimento da populaoeconomicamenteativa,nosdezanosexaminados.Enquantoastaxasde atividademasculinamantiverampatamaressemelhantes,asdasmulheresse 28ampliaramsignificativamentede85a90emaisaindanosanosseguintes,quando atingiram48%nasemanae53%noanodereferncia.Comoapontamos anteriormente,precisotercuidadoparainterpretarocrescimentodotrabalho femininoapartirde1990,umavezquepartedelefoiprovocadopelaampliaodo conceitodetrabalho,quepassou,desde1992,aincluiratividadesparao autoconsumo, a produo familiar e outras at ento no consideradas como trabalho. Comoessasatividadessempreforamrealizadaspormulheres,osefeitosdanova metodologia incidem sobretudo sobre elas, enquanto as taxas masculinas de atividade permaneceminalteradasnoperodo.Anovametodologia,noentanto,aindano avanousuficientementeapontodeincluiraatividadedomstica,realizadapelas donas-de-casa, que continua a ser classificada como inatividade econmica. Por outro lado,onovolevantamentotambmapresentainformaessobreasatividades econmicasrealizadasnos365diasanteriorespesquisa,contribuindoparaa captaodotrabalhosazonaloueventuale,nessecaso,ampliandoastaxasde atividadedeambosossexos.Agoramaisvisveiseemmaiornmero,as trabalhadoras passam a constituir, em 1995, 40,4% da fora de trabalho brasileira. Tabela 1 Indicadores de participao econmica por sexo Brasil PEA (em milhes)Variao 1985/95 Taxas de atividade (%)Proporo de mulheres entre os trabalhadores SEXO 198519901995%198519901995 198519901995 semanaano HOMENS36,641,644,220,876,075,375,378,366,564,559,6 MULHERES18,422,930,063,036,939,248,153,433,535,540,4 Fonte: FIBGE, PNADs 85 e 90 (tab. 3.1), 95 (tabs. 4.2 e 4.33) Em vrios trabalhos anteriores (Bruschini, 1989; 1994b e 1995b) procuramos mostrar queosignificativoaumentodaatividadedasmulheres,umadasmaisimportantes transformaesocorridasnopasdesdeosanos70,teriaresultadonoapenasda necessidade econmica e das oportunidades oferecidas pelo mercado, em conjunturas especficas,mastambm,emgrandeparte,dastransformaesdemogrficas, 29culturaisesociaisquevemocorrendonopasequetemafetadoasmulhereseas famliasbrasileiras.Aintensaquedadafecundidadereduziuonmerodefilhospor mulher,sobretudonascidadesenasregiesmaisdesenvolvidasdopas,liberando-a para o trabalho. A expanso da escolaridade e o acesso suniversidades viabilizaram o acesso das mulheres a novas oportunidades de trabalho. Por fim, transformaes nos padres culturais e nos valores relativos ao papel social da mulher, intensificadas pelo impactodosmovimentosfeministasdesdeosanossetentaepelapresenacadavez maisatuantedasmulheresnosespaospblicos,alteraramaconstituioda identidade feminina, cada vez mais voltada para o trabalho produtivo. A consolidao detantasmudanasumdosfatoresqueexplicariamnoapenasocrescimentoda atividadefeminina,mastambmastransformaesnoperfildaforadetrabalho desse sexo, como veremos a seguir . 3.2Trabalho feminino, famlia e escolaridade: mudanas epersistncias Nuncademaisrepetirqueamanutenodeummodelodefamliapatriarcal, segundoo qual cabem smulheres as responsabilidades domsticas e socializadoras, bem como a persistncia de uma identidade construda em torno do mundo domstico, condicionamaparticipaofemininanomercadodetrabalhoaoutrosfatoresalm daqueles que se referem sua qualificao e oferta de emprego, como no caso dos homens. Aconstantenecessidadedearticularpapisfamiliareseprofissionaislimitaa disponibilidadedasmulheresparaotrabalho,quedependedeumacomplexa combinao de caractersticas pessoais e familiares. O estado conjugal e a presena de filhos, associados idade e escolaridade da trabalhadora, as caractersticas do grupo familiar,comoociclodevidafamliasemformao,comfilhospequenos, famliasmaduras,filhosadolescentes,famliasmaisvelhasetc...eaestrutura familiarfamliaconjugal,chefiadapormulher,ampliadapelapresenadeoutros parentesetc...sofatoresqueestosemprepresentesnadecisodasmulheresde ingressar ou permanecer no mercado de trabalho, embora a necessidade econmica e a 30existnciadeempregotenhampapelfundamental.Oimportanteareterqueo trabalhodasmulheresnodependeapenasdademandadomercadoedassuas necessidades e qualificaes para atend-la,mas decorre tambm de uma articulao complexa,eempermanentetransformao,dosfatoresmencionados,osquais, preciso enfatizar, no afetam os movimentos da mo-de-obra masculina. Noperodoanalisado,nofoiapenasoaumentoquecaracterizouamo-de-obra feminina,mastambmalgumassignificativasalteraesemseuperfil.As trabalhadoras que, at o final dos anos setenta, em sua maioria, eram jovens, solteiras esemfilhos,passaramasermaisvelhas,casadasemes.Umdosindicadoresmais evidentesdessamudanaaidade.Comorevelamosdadosdatabela2,emboraa atividadefemininatenhaseampliadoemtodasasfaixasetrias,osaumentosmais relevantes ocorreram nas mais elevadas, tendncia j observada nos anos oitenta, que seintensificanadcadaseguinte.Em1995,amaisaltataxadeatividade,superiora 66%, encontrada entre mulheres de 30 a 39 anos e mais de 63% das de 40 a 49 anos tambm so ativas. A hiptese de que o aumento da atividade das mais velhas poderia ser atribudo redefinio do conceito de trabalho, namedida em que este passou a incluir a produo familiar e o autoconsumo, no foi por ns comprovada em trabalho anterior,noqualmostramosqueapenasasmulheresdemaisde60anostrabalham predominantementenessacondio,poisatmesmoasde50a59anosaindaso empregadas ou trabalham por conta prpria (Bruschini e Lombardi, 1996). Enquantoopadromasculinodeparticipaoeconmicaporidadenosofre nenhuma alterao em qualquer data ou regio analisada (Bruschini, 1989, 1995b),o mesmo no ocorre com o padro feminino, que tem sofrido um significativo processo de envelhecimento, como ilustrado pelo grfico 1. 31 Tabela 2 Taxas de Atividade por Idade Brasil FAIXAS ETRIAS19851995 HomensMulheresHomensMulheres 10 a 1426,512,226,414,4 15 a 1973,341,768,844,1 20 a 2492,550,190,560,9 25 a 2997,248,595,262,7 30 a 3997,449,796,366,4 40 a 4993,943,594,563,5 50 a 5980,830,383,648,0 60 ou mais45,210,449,420,4 TOTAL76,036,975,348,1 Fonte: FIBGE, PNADs 85 (tab. 3.1), 95 (tab. 4.2) Grfico 1 Trabalho e Idade 010203040506070809010010 a1415 a1920 a2425 a2930 a3940 a4950 a5960anosoumaisHomensMulheres1995199519851985 A mudana no perfil etrio da PEA feminina, que acompanhada por um expressivo aumentodotrabalhodasesposas(categoriacnjuges,tabela3),sugerequeas responsabilidadesfamiliaresnoestariammaisconstituindoumfatorimpeditivoao trabalho feminino de mercado, como ocorria at os anos 70. Movidas pela necessidade de complementar a renda familiar ou impulsionadas pela escolaridade elevada, menor 32nmerodefilhos,mudanasnaidentidadefemininaenasrelaesfamiliares,as mulheres casadas procuram cada vez mais o mercado de trabalho. Tabela 3 Taxas Femininas de Atividade, segundo a posio na famlia Brasil POSIO NA FAMLIA19851993 Chefes50,057,3 Cnjuges32,949,7 Filhos36,839,1 Outros parentes26,231,5 Sem parentesco*84,579,1 TOTAL36,947,0 Fonte: FIBGE, PNADs 85 (tab. 4.4), 93 (tabulaes especiais) Grfico 2 Trabalho feminino e posio na famlia 0510152025303540455055601985 1993ChefesCnjugesFilhas57,3%49,7%39,1% possvelafirmar,portanto,que,nombitodaofertadetrabalhadoras,temhavidosignificativas mudanas. Restam, no entanto, algumas continuidades que dificultam a dedicaodasmulheresaotrabalhooufazemdelaumatrabalhadoradesegunda categoria,queestsempreemdesvantagemnomercadodetrabalho.Emprimeiro lugar,asmulheresseguemsendoasprincipaisresponsveispelasatividades domsticasecuidadoscomosfilhosedemaisfamiliares,oquerepresentauma sobrecarga para aquelas que tambm realizam atividades econmicas. Estando ou no 33nomercado,todasasmulheressodonas-de-casaerealizamtarefasque,mesmo sendoindispensveisparaasobrevivnciaeobem-estardetodososindivduos,so desvalorizadasedesconsideradasnasestatsticas,queasclassificacomoinativas, cuidam de afazeres domsticos. Caso fossem consideradas ativas, as taxas globais de atividade feminina seriam superiores a 90% e, no caso dasesposas,atingiriam quase 99%. Tabela 4 Taxas de atividade global das mulheres de 10 anos e mais, por posio na famlia Brasil, 1993 POSIO NA FAMLIA Total de mulheres AtivasNo ativas por afazeres domsticos Taxa de atividade global (milhes)%%% Chefes8.855.38257,340,397,6 Cnjuges28.156.59549,749,198,8 Filhas18.284.32639,151,590,6 TOTAL55.296.30346,548,995,4 Fonte: PNAD 93, (tabulao especial) OBS: excludos sem parentesco, empregadas domsticas e sem declarao Grfico 3 Atividade global das mulheres e posio na famlia - 1993 Chef esCnjugesFilhas0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100Chef esCnjugesFilhasAtivas Inativas em af azeres domsticos90,698,897,6 34O efeito da maternidade A persistncia da responsabilidade das mulheres pelos cuidados com a casa e a famlia um dos fatores determinantes da posio secundria ocupada por elas no mercado de trabalho.Mas,dentreeles,semdvidaamaternidadeaquelequemaisinterfereno trabalho feminino, sobretudo quando os filhos so pequenos. A responsabilidade pela guarda,cuidadoeeducaodosfilhosnafamlialimitaasadadamulherparao trabalhoremunerado,sobretudoseosrendimentosobtidossoinsuficientespara cobrircustoscomformasremuneradasdecuidadoinfantil.Contudo,quandoa necessidade econmica to premente que inviabiliza o exerccio da maternidade em tempo integral, como nas famlias muito pobres ou nas chefiadas por mulheres, outros arranjoscomoarededeparentesco,inclusiveosfilhosmaiores,ouredesde vizinhana podero ser acionados para olhar as crianas enquanto a me vai trabalhar. SegundopesquisadaFundaoSEADE,nacidadedeSoPaulo,em1995,30%das meninas de 10 a 14 anos estudavam, cuidavam dos irmos pequenos e ajudavam nas tarefas domsticas, em prejuzo de seu tempo de estudo e delazer (Bruschini, 1997). Ainsuficinciadeequipamentoscoletivoscomoascreches,queatendemparcela muito pequena das crianas brasileiras, contribui para aumentar o peso da maternidade sobreasmulherese,emparticular,sobreastrabalhadoras.Campos,Rosemberge Ferreira(apudBruschini,1995a)relatamque,em1985,nasreasmetropolitanas, mais de 78% das crianas de 0 a 6 anos ficavam com as mes a maior parte do tempo eapenas23%freqentavamcrechesoupr-escolas.Outrapesquisamostraque,em 1989,apenas5,1%dascrianasbrasileirasde0a3anosfreqentavamcrechese 16,9% das de 0 a 6 anos freqentavam creches ou pr-escolas (Brasil, 1994). Informaesmaisrecentesrevelamqueasmes,mesmoquandotrabalhamfora, continuamsendoasprincipaisresponsveispelocuidadocomascrianaspequenas. SegundodadosdaPesquisaNacionalsobreDemografiaeSade,23%das trabalhadorascuidamelasmesmasdosfilhosmenoresde5anos,34%soajudadas 35por parentes, 10% pelas filhas, 12% por empregadas domsticas, 4% pelos maridos e apenas 10,2% ficam em creches (BEMFAM, 1997, tab.2.17, p.37). Noperodoanalisado,comoindicamosdadosdatabela5,amaternidadecontinuaa afetar a atividade feminina, quando os filhos so pequenos1. As taxas de atividade das mulheres de mais de 15 anos que tiveram filhos caem significativamente quando elas so jovens, em relao ao conjunto de mulheres de idade semelhante. Entre as de 20 a 24 anos, 61% trabalham em 95,mas entre as que tiveram filhos, a atividade cai para 50%.Dos25aos29anos,aatividadecaide63%dasquenotemfilhospara56% entreasmes.Mesmoassim,maisdametadedasjovensmessoeconomicamente ativas,oquenodeixadeserumaimportantemudananoperfildastrabalhadoras dos anos noventa. A partir dos 30 anos, a atividade das mes se aproxima do total de mulheresnamesmafaixaetriaeassimpermanecenasfaixasetriassubseqentes, sugerindoqueocrescimentodosfilhosliberaasmulheresparaaparticipaono mercado de trabalho. Tabela 5 Taxas de atividade das mulheres que tiveram filhos, por idadeBrasil Taxas de Atividades 19931995 GRUPOS DE IDADE Do total de mulheres com 15 anos e mais Das mulheres de 15 anos e mais que tiveram filhos nascidos vivos Do total de mulheres com 15 anos e mais Das mulheres de 15 anos e mais que tiveram filhos nascidos vivos 15 a 19 anos46,036,244,138,9 20 a 24 anos59,746,76149,5 25 a 29 anos61,053,862,856,3 30 a 39 anos63,761,566,464,2 40 a 49 anos60,759,763,762,9 50 a 59 anos45,845,048,147,7 60 anos e mais21,421,320,420,2 Total52,849,954,051,9 Fonte: FIBGE,PNADs1993 e 95 (tab. 6.2)

1 Como no h dados, na PNAD, sobre filhos residentes no domiclio, bem como idade dos filhos, recorremos a uma aproximao, analisando a atividade das mulheres que tiveram filhos, segundo sua idade. 36 Grfico 4 Trabalho feminino, idade e filhos 01020304050607015 a 19 ano s 20 a 24 ano s 25 a 29 ano s 30 a 39 ano s 40 a 49 ano s 50 a 59 ano s 60 ano s e maisDo total de mulheres com 15 anos e maisDas mulheres de 15 anos e mais que tiveram f ilhos nascidos vivos61,049,566,464,2 As elevadas taxas de atividade das mes de mais de 30 anos podem indicar tanto sua permanncia nomercado de trabalho, apesardas dificuldades inerentes conciliao entre o trabalho e a maternidade, quanto uma volta ao mercado de trabalho depois que osfilhoscresceram.Nessecaso,possveldizerqueelasretornaramrelativamente cedo e ainda jovens, pois as taxas das mes aumentam significativamente a partir dos 30 anos. Segundo Wajnman e Rios-Neto (apud Bruschini, 1995a), a criao dos filhos estariaperdendooimpactosobreasadadamulherdaforadetrabalho,porqueos valores associados a um nmero elevado defilhos declinaram, enquanto aqueles que sereferemparticipaodasmulheresnomercadodetrabalhotornaram-semais fortes. A concentrao da fertilidade e dos cuidados com os filhos dos 20 aos 29 anos justificariaaocorrnciadeumaumentorelativamentepequenodaatividadenessa faixa etria. O crescimento do trabalho das casadas e mespoderia ser tomado, de um lado, como umindciodapressoeconmica,queestariaforandomulherescomessas 37caractersticasaprocuraromercadodetrabalho.Adiversificaodaspautasde consumo, gerando novas necessidades e desejos, o empobrecimento da classe mdia e a necessidade de arcar com os custos de educao e sade, devido precarizao dos sistemas pblicos de atendimento fariam parte desse processo. Contudo, esse aumento tambmfrutodeumintensoprocessodemodernizaoedemudanacultural observadosnoBrasilapartirdosanossetenta,doqualfazparteaexpansoda escolaridade, qual as mulheres vm tendo cada vez mais acesso.Efeito da escolaridade Comotemsidoreiteradopelaliteratura(verporexemplo,Miranda,1975e Rosembergetalii,1982),aassociaoentreaescolaridadeeaparticipaodas mulheresnomercadodetrabalhointensa.Asmulheresmaisinstrudasapresentam taxasmaiselevadasdeatividade,nosporqueomercadodetrabalhomais receptivo ao trabalhador mais qualificado, como ocorre com os homens, mas tambm porquepodemteratividadesmaisgratificantesebemremuneradas,quecompensam osgastoscomainfra-estruturadomsticanecessriaparasuprirsuasadadolar. Como ocorre com os homens, a atividade das mulheres aumenta entre as que tem mais de8anosdeestudo(quecorrespondeescolaridadeobrigatriadoprimeirograu), massoaquelasquetemnvelsuperiordeensino(15anosoumais)asmaisativas, comumataxademaisde80%em1995,quaseodobrodaatividadefemininaem geral.Poroutrolado,astrabalhadorastm,emmdia,maisanosdeestudodoque seus colegas. Como se verifica pelos dados da tabela seguinte, na mesma data, quase 25% das trabalhadoras, em comparao a 17% dos trabalhadores, tinhammais de11 anos de estudo.38 Tabela 6 Distribuio dos trabalhadores e taxas de atividade por sexo e escolaridade Brasil, 1995* ANOS DE ESTUDOTaxas de AtividadeDistribuio por Escolaridade HomensMulheresHomensMulheres Sem instruo e menos de 1 ano73,540,216,313,2 1 a 3 anos65,639,019,016,5 4 a 7 anos73,944,034,131,9 8 a 10 anos82,552,813,413,6 11 a 14 anos88,669,012,218,1 15 anos ou mais90,682,34,86,5 Total%75,348,1100,0100,0 (milhes) -- --[44,2][30] Fonte: PNAD 95, (tab. 4.3) * A agregao dos anos de estudo difere de 1985 para 1995, o que inviabilizou a comparao Grfico 5 Trabalhadores/as e escolaridade 05101520253035Seminstruo/menosde 1 ano1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 10 anos 11 a 14 anos 15 anos ou maisHomensMulheres 3.3Desigualdades de gnero e deslocamentos da fora detrabalho Nassociedadesocidentais,comoabrasileira,predominamrelaesdegnero assimtricasehierrquicas,queseexpressamemposiesdesiguaisocupadaspor homens e mulheres tanto na esfera da produo quanto no mbito privado das relaes 39familiares. Apesar das transformaes do mundo moderno, ainda hoje destinam-se s mulheressobretudoasatividadesreprodutivas,comooscuidadoscomacasaea famlia, enquanto aos homens cabe o papel de provedor desse grupo. Estas condies diferenciadasporgnerosoapropriadaspelomercadodetrabalho,determinamque homens e mulheres ocupem nele lugares diferentese hierarquicamente determinados efavorecemaocorrnciademecanismosdiscriminadoresemrelaosmulheres, queseexpressamtantonoacessoaotrabalho,quantonaposioocupadaena qualidade do trabalho realizado. O lugar ocupado por homens e mulheres nos setores de atividade econmica e na hierarquia das ocupaes, tem a marca do gnero. Como veremosaseguir,estamarcasemantm,apesardosdeslocamentosdaforade trabalho,nos anos examinados. Olongoperodoanalisadofoimarcadoporcriseseconmicasemomentosde expansodaeconomia,comomencionamosnaprimeirapartedotexto.De1985a 1990,apesardasdificuldades,houverelativocrescimento.Masem1990,como inciodogovernoColloreainstituiodeumnovoplanoeconmico,opas ingressouemmaisumciclorecessivo.Aabruptaaberturadomercadonacional, associadaaoquadrodeincertezasnaeconomiaenapoltica,aceleraramoritmode introduodemudanastecnolgicaseorganizacionais,principalmentenosetor industrial, visando o aumento da produtividade e da qualidade dos produtos nacionais, afimdeenfrentaraconcorrnciainternacional.Aquedadonveldeempregono setorindustrialseexpressounodeslocamento,paraoutrossetores,dostrabalhadores de ambos os sexos, tanto no mercado global , quanto em seu segmento formalizado. Mercado global Nosprimeiroscincoanosdoperodoanalisadoverifica-se,parahomensemulheres, relativaexpansodaatividadeindustrialedacomercial,enquantoostrabalhadores comeamaentrarnosetordeservios,tradicionalredutofeminino(tabela7).No perodoseguinte,aquedadonveldeempregonosetorindustrialseexpressano deslocamento,paraoutrossetores,dostrabalhadoresdeambosossexos.Osefeitos perversosparecemterincididoparticularmentesobreasmulheres,poisenquantoa 40ocupaomasculinacailigeiramentenaindstria,apresenadasmulheresnesse setor sofre declniomais acentuado at chegar a 9,3% da fora de trabalho feminina. A ampliaono setoragrcola (de 14% em 90 para 22,5% em 95) provocada pelo alargamentodoconceitodetrabalho,quepassouacaptarcommaiorprecisoa atividade econmica das mulheres no campo.As trabalhadoras continuam tendo na prestao de serviosas maiores possibilidades detrabalho,emboraestastenhamsereduzidonoperodo(de32%para29,8%), cedendolugarparaoshomens(de8,9%para12%).Areasocialvemaseguir, agregando16%daspossibilidadesdeocupaofemininaeregistrandoquedaem relaoa85,eprincipalmentea90.Segue-seocomrciodemercadorias,setorno qual tanto homens quanto mulheres tem ampliado suas chances de colocao.Apesar dos deslocamentos, ilustrados pelo grfico 6, a presena das mulheres continua sendo marcantenossetoresdeserviosesocial,almdoagrcola,pelasrazes metodolgicas j mencionadas. Tabela 7 Trabalhadores e trabalhadoras* por setor de atividade Brasil SETORES DE ATIVIDADE198519901995 HomensMulheresHomensMulheresHomensMulheres Agrcola23,618,428,114,028,422,5 Indstria27,012,429,113,726,49,3 Comrcio de Mercadoria11,210,412,312,213,312,8 Prestao de Servio8,932,110,430,912,029,8 Serv. Aux. de Ativ. Econmica2,92,33,33,03,52,9 Transporte e Comunicao5,00,85,21,05,60,8 Social3,217,13,318,63,616,3 Administrao5,03,35,14,05,13,9 Outros3,43,13,02,72,11,7 TotalMilhes35,517,840,022,141,927,8 %100,0100,0100,0100,0100,0100,0 Fonte: FIBGE,PNADs85 e 90 (tab. 3.18), 95 tab. 4.18) * ocupados 41Grfico 6 Trabalhadoras e setor de atividade Outr osA dminis tr a o Soc ialTr ans por te e Comunic a oSer v . aux . de ativ . ec onmic aPr es ta o de s er v i oComr c io de mer c ador iaInds tr iaA gr c ola0 5 10 15 20 25 30 35Outr osA dminis tr a o Soc ialTr ans por te e Comunic a oSer v . aux . de ativ . ec onmic aPr es ta o de s er v i oComr c io de mer c ador iaInds tr iaA gr c ola1985 1995 Adistribuiodostrabalhadoresdeumeoutrosexo,segundoosgrupos ocupacionais,tambmmantmopadrodegneroconstatadoempesquisas anteriores, os homens ocupando mais a indstria e as mulheres os servios. Nos anos analisados, as principais alteraes dizem respeito ao contingente feminino, que sofre reduonaindstriaeampliaonasatividadesagrcolas,emrazodamaior visibilizao da presena feminina nessas atividades. Nas ocupaes administrativas e nastcnicasecientficas,tradicionaisredutosfemininos,areduofoisignificativa. Embora ainda abrigando cerca de um quarto das trabalhadoras, as ocupaes ligadas prestao de serviostambm diminuram o espao delegado s mulheres. Tabela 8 Trabalhadores e trabalhadoras por grupos ocupacionais Brasil, 1990/1995 GRUPOS OCUPACIONAIS19901995 HomensMulheresHomensMulheres Ocupaes tcnicas, cientficas e assemelhadas4,413,34,612,0 Ocupaes administrativas14,714,912,012,4 Agropecuria, produo extrativa e mineral25,513,226,722,1 Indstria de transformao e constr. Civil23,512,724,19,7 Comrcio e atividades auxiliares 9,912,211,412,8 Transportes e comunicaes5,90,75,90,6 Prestao de servios2,624,12,523,8 Ocupaes mal definidas/no declaradas13,68,912,86,6 Total(milhes)40,022,041,927,8 %100,0100,0100,0100,0 Fonte: FIBGE, PNADs 1990 (tabulaes especiais), 1995 (tab. 4.26) 42Grfico 7 Trabalhadoras e grupos ocupacionais O c u pa e sm ald ef in id a s / n od e c l ar a d asP r e s t a od es e rv i o sT r an s p o r t esec o m u n ic a esC o m r c ioea t iv ida d e sa uxilia r esIn d s t r iad et r a n s f o rm a oe c o n s t .c i v i lA g r o p e c u r ia , p ro d u oext r a t i v aem in e ra lO c u p a e sa dm in is t r a t iv asO c u pa e st c n ic a s , c ie n t f ic aseas s e m e lh a d as0 5 1 0 1 5 2 0 2 5O c u pa e sm ald ef in id a s / n od e c l ar a d asP r e s t a od es e rv i o sT r an s p o r t esec o m u n ic a esC o m r c ioea t iv ida d e sa uxilia r esIn d s t r iad et r a n s f o rm a oe c o n s t .c i v i lA g r o p e c u r ia , p ro d u oext r a t i v aem in e ra lO c u p a e sa dm in is t r a t iv asO c u pa e st c n ic a s , c ie n t f ic aseas s e m e lh a d as1990 1995 O mercado formal Segundo dados oficiais do Ministrio do Trabalho, asmulheres ocupavam, em 1992, 36%dosempregosformais,concentrados,principalmente,naadministraopblica, seguidapelossetoresdeservioseindstria.Enquantoisso,oempregoformal masculino mostrava maior concentrao na indstria e nos servios. Tabela 9 Distribuio de empregos masculinos e femininos no setor formale setores de atividade econmica Brasil, 1988/1992 SETORES DE ATIVIDADE ECONMICASEXO EANO TOTALExtrat. Mineral Indust. Transfor. Const. Civil Servios Indust. ComrcioServiosAdm. Pblica Agropec.Outros TOTAL 198823.661.1390.624.24.31.312.629.421.71.54.4 199222.292.1100.520.83.91.511.727.820.61.711.6 MASCULINO 198815.643.0340.927.06.11.612.629.115.61.95.1 199214.296.5720.723.85.62.012.027.414.52.211.8 FEMININO 19888.018.1050.118.80.70.612.530.033.60.73.0 19927.995.5380.115.40.80.611.228.431.60.711.1 Fonte: RAIS, 1988 e 1992. (tab. I.1) 43Namesmadata,aestruturadadistribuiodosempregosmasculinosefemininos, segundogruposocupacionais,nosealterouUmpoucomenosde1/4doshomens trabalhavamnasindstriasdoplsticoedaconstruocivil,outros10%estavam vinculadossindstriasmecnica,eltrica,damadeiraemobilirioedecalados, cerca de 19% desempenhavam servios administrativose 12% eram trabalhadores emprestaodeservios.Quantosmulheres,em1992,2/3delascontinuavama exercer,basicamente,trsgruposdeocupaes:administrativas(31%dasmulheres formalmenteempregadas),professoras(17%)eocupaesdosetordeservios (16,3%) . Tabela 10 Distribuio dos empregosno setor formal , segundo grupos ocupacionais Brasil, 1988/1992 GRUPOS OCUPACIONAIS19881992 HomensMulheresHomensMulheres 0. Profisses, tcnicas, cientficas e artsticas6,17,36,05,4 1. Professores3,016,63,017,1 2. Funcionrios pblicos de nvel superior, gerentes e diretores de empresas 2,53,23,13,7 3. Trabalhadores em servios administrativos17,729,718,530,9 4. Trabalhadores no comrcio6,16,66,66,7 5. Trabalhadores em prestao de servios9,612,011,516,3 6. Trab. Agropecurios, florestais etc4,21,15,61,3 7. Trab. inds. Txtil, vesturio e alimentao7,17,46,96,3 8. Trab. inds. Mecnica, eltrica, mob. e calado10,93,110,12,6 9. Trab. inds. Plstico, constr. civil e condutores de veculos24,36,022,66,2 10. Ocupaes no declaradas e/ou mal definidas8,67,06,03,4 Total (milhes) 15.643.0348.018.10514.296.5727.995.538 %100,0100,0100,0100,0 Fonte: MTb, Anurio Estatstico RAIS - Brasil, 1988 e 1992, (tab. 1.13) No perodo analisado, marcado pelo incio de umprocesso de desregulamentao do mercado de trabalho e de deslocamento dos trabalhadores dos empregos formais para atividadesinformais,queprossegueatosdiasatuais,omercadoformalsofreuuma retraodaordemde5,8%,resultandoemumaperdaabsolutade1,3milhesde postos de trabalho. Nesses anos, as perdas mais significativas ocorreram em postos de trabalhoocupadosporhomens,enquantoentreasmulheresasoportunidadesde colocaonomercadoformaldecresceramapenas0,3%,significandoo 44desaparecimento de pouco mais de 22 milempregos, no conjunto dos postos formais de trabalho ocupados por mulheres. As informaes referentes ao mercado global e ao formal podem sugerir uma aparente contradio,poisosdadosdaTabela7indicamperdasmaisimportantesnonvelfeminino de ocupao, quando comparado ao masculino, enquanto as informaes da RAIS deixam claro que, no mercado formal, os maiores perdedores foram os homens. Entretanto,hqueseconsiderarqueasmulheres,cujamaiorinserosed, tradicionalmente,nosetorinformal,parecemtersidosegundosugestodos prpriosdadosasquemaissofreramcomadiminuiodasoportunidadesde colocaonomercadodetrabalho.Issoporqueoprpriotamanhodomercado informal parece estar se restringindo para elas, porque os homens, expulsos do formal, esto adentrando esse espao. Tabela 11 Postos de trabalho no mercado formal e variao no perodo 1988/1992 Brasil Diferena Sexo/Anos19881992NAVariao no perodo TOTAL23.661.13922.292.1101.369.029-5,8 HOMENS15.643.03414.296.5721.346.462-8,6 MULHERES8.018.1057.995.53822.567-0,3 Fonte: MTb, Anurio RAIS, 1988 e 1992, (tab.1.12) Mas a perda de empregos formais ocorreu de maneira diferenciada segundo os setores deatividadeeconmica,emboratenhaatingidoparticularmenteaindstria,setorno qualoshomensperderammaisdeummilhodeempregos(variaode-18%)eas mulheresmaisde260mil(-16%).Aperdadeempregosfemininosocorreutambm no comrcio (-11%), nos servios (- 5,6%) e na administrao pblica (- 6,4%).45 Tabela 12 Perda de postos de trabalho no mercado formal no perodo 1988/1992 por setor de atividade e sexo Brasil Variao no perodo SETORES DE ATIVIDADE ECONMICATotalHomensMulheres %%% Total-5,8-8,6-0,3 Indstria-17,7-18,0-16,3 Comrcio-12,2-13,0-10,7 Servios-11,1-14,0-5,6 Adm. Pblica-10,4-14,8-6,4 Agropecuria9,19,85,4 Fonte: MTb, Anurio RAIS, 1988 e 1992, (tab. I.1) A perda de postos de trabalho nos setores mais dinmicos e protegidos da economia, comoaindstria,reflete-senodeslocamentodaforadetrabalhodasgrandes empresasparaospequenosestabelecimentosindustriais,deprestaodeserviose, principalmente,nocomrcio,comorevelamosdadosdatabelaseguinte.Neste processodestaca-se,comomarcadasdesigualdadesdegnero,opercentualmais elevadodeempregosfemininos,nospequenosestabelecimentoscomerciais,com menos de 5 empregados. Tabela 13 Empregos segundo tamanho de estabelecimento e setor de atividade econmica Brasil Empregos segundo tamanho de estabelecimentos (%) SETORES ECONMICOS TOTAL 1988 TOTAL 1992 (milhes)at 45 a 4950 a 99 100 a 499 500 e mais (milhes)at 45 a 49 50 a 99 100 a 499 500 e mais Homens Indstria5.581.0292,216,79,030,042,14.573.8583,219,210,030,736,9 Comrcio1.976.37316,250,911,716,84,31.720.00418,153,310,814,53,3 Servios4.556.8814,926,511,127,330,13.919.5695,928,010,525,630,0 Adm. Pblica2.432.5710,11,22,215,581,02.071.6150,10,91,615,082,3 Agropecuria290.8162,722,811,427,635,4319.4446,126,611,424,231,6 Total15.643.0345,922,88,824,338,214.296.5727,224,58,823,336,2 Mulheres Indstria1.622.0132,619,99,831,636,21.356.9684,022,710,832,130,3 Comrcio1.000.60618,249,211,216,94,5893.15623,252,59,412,22,8 Servios2.406.2456,129,211,826,026,82.272.5367,630,611,323,926,6 Adm. Pblica2.697.9060,10,71,412,885,02.525.4630,10,51,013,385,0 Agropecuria54.1131,816,210,530,840,757.0217,120,110,627,135,2 Total8.018.1055,720,17,621,145,37.995.5386,721,27,320,144,6 Fonte: MTb, RAIS 88 e 92, (tab. I.3) 46Aretraonoempregoformalizadotambmatingiudiferentementeoshomenseas mulheres,segundoosdiversosgruposocupacionais.Consideradooconjuntodos postosdetrabalho,aperdaatingiu,deformamaisexpressiva,pelaordem,as profisses cientficas,tcnicas e artsticas , os trabalhadoresnas indstriasmecnica, eltrica,damadeiraemobilirioedecalados,ostrabalhadoresnasindstriasdo plstico,construocivilecondutoresdeveculos,ostrabalhadoresnasindstrias txtiledeconfecoedealimentoseostrabalhadoresemserviosadministrativos2. Orecorteanalticodesexoesclareceessequadro.Assim,adiminuiodeempregos decartercientfico,tcnicoeartstico3atingiuparticularmenteasmulheres, representando o desaparecimento dedos postos de trabalho ocupados por elas em 1988, enquanto que, para os homens, o decrscimo nesse grupo foi da ordem de 10%. Nasocupaesdosetorindustrial,nasquaisapresenafemininanumericamente inferiormasculina,comexceodostrabalhadoresdasindstriasdoplstico, construo civil e condutores de veculos, grupo ocupacional em que ocorreram cortes decercade15%paraoshomenseaumentode2%naschancesparamulheres,nos demais ramos, proporcionalmente, as mulheres saram perdendo mais que os homens, inclusive nos ramos que tradicionalmente absorvem a mo de obra feminina, como no txtil e confeces e alimentos (perda de quase 15% de empregos femininos e 10% de masculinos).Omesmopadro,desfavorvelsmulheres,repete-seemramos industriaisconsideradosmaisdinmicos,comoaindstriamecnicaeaeltrica,nos quais, alm deencontrar um nmero significativamente menorde empregos do que oshomens,asmulherespassamatersuapresenaaindamaisrestringidadevido perda de 16% dos postos de trabalho. O que compensou a queda no emprego feminino, refletindo-senas perdas globais do segmento formal da economia,foi a expanso, superior a 1/3 em relao a 1988, das oportunidadesdecolocaoemocupaesdosetordeservioseemprofissesda

2A Classificao Brasileira de Ocupaes (CBO)organiza a estrutura ocupacional, segmentando-a em vrios nveis,sendoomaisagregadodelesodosGrandesGrupos.Ascategoriasocupacionaisaquidiscriminadas correspondem, respectivamente, aos Grandes Grupos de nmero0, 8, 9, 7 e 3. 3Algumasdasocupaesaquiincludasso:engenheiros,qumicos,desenhistas,biologistas,mdicos, economistas, estatsticos, tcnicos em administrao. 47administraopblica,categoriaquetambmincluicargosdedireoegernciade empresas. Neste grupo, os postos de trabalho ocupados por mulherescresceram 16%. Tabela 14 Perda de postos de trabalho no perodo 1988/1992 segundo grupos ocupacionais e sexo Brasil Variao no perodo GRUPOS OCUPACIONAISTotalHomensMulheres %%% Total-5,8-8,6-0,3 0. Profisses cientficas, tcnicas, artsticas e assemelhadas-16,1-10,1-25,9 1. Professores-0,1-8,22,8 2. Funcionrios pblicos superiores, gerentes e diretores de empresa14,913,916,3 3. Trabalhadores em servios administrativos-5,5-4,43,9 4. Trabalhadores no comrcio0,3-0,92,3 5. Trabalhadores em servios 19,99,735,7 6. Trabalhadores agropecurios, florestais, pesca e assemelhados20,721,912,2 7. Trabalhadores nas indstrias txtil e de confeco e de alimentos -12,0-10,5-14,7 8. Trabalhadores nas indstrias mecnica, eltrica, madeira e mobilirio e calados -14,8-14,6-16,3 9. Trabalhadores nas indstrias do plstico, construo civil, condutores de veculos -13,3-15,21,6 Fonte: MTb, Anurio Rais, 1988 e 1992, (tab.I.12) Emsuma,osmovimentosocorridosnomercadodetrabalhobrasileiroeemseu segmentoformalindicamqueosimpactosdacriseeconmicadosprimeirosanos destadcadavemempurrandoastrabalhadorasparaforadaindstriaedealguns setores da economia tradicionalmente ocupados por elas comoservios e social, bem como diminuindo a presena feminina nas ocupaes administrativas e nas tcnicas e cientficas, nas quais sua presena mais marcante do que a masculina. No segmento formal, se verdade que a perda total de empregos foi menos aguda para as mulheres do que para os homens, ela no deixou de ser significativa para o sexo feminino, que perdeupostosnaindstria,nocomrcio,emserviosenaadministraopblica,os dois ltimos, setores nos quais as mulheres sempre tiveram presena marcante, assim comonasocupaescientficaseassemelhadas,outrotradicionalredutofeminino. Vejamos,aseguir,comoessesmovimentosserefletiramnaqualidadedotrabalho feminino. 483.4A qualidade do trabalho feminino Aliteraturareferenteaotrabalhofemininotemmostradoque,apesardasconquistas das ltimas dcadas, as mulheres ainda enfrentam barreiras, ocupam os lugares menos privilegiadosnaeconomia,ganhammenosdoqueoshomensetemcondiesde trabalho mais precrias. Alguns indicadores como posio na ocupao, rendimentos, horastrabalhadas,registroemcarteiraecontribuioPrevidnciaSocialtmsido utilizadosparamostraramaiorfragilidadedotrabalhofemininoemrelaoao masculino(Abreu,JorgeeSorj,1994,Bruschini1994b).Outrosindicadores,como acidentesdetrabalho,doenasocupacionaiseacessocapacitaonoesto disponveisnoslevantamentosdoIBGEoudoMinistriodoTrabalhoeapenaseventualmentepodemserencontradosempesquisasqualitativas,umavezqueso temasaindapoucoexploradospelaliteraturasobreotrabalhofeminino.Segundo algumas pesquisas recentes, a introduo de inovaes tecnolgicas nos processos de trabalho, em diversos setores econmicos, tem acentuado o ritmo de trabalho, levando aoaumentodaincidnciadedoenasprofissionais,comotendinites,LER/lesopor esfororepetitivo,stressecansaofsico.Istotemocorrido,principalmente,nos trabalhosmaisrotineiroserepetitivos,ocupadosabundantementepormulheres.Na indstria,particularmentenaslinhasdemontagem,temsemultiplicadoonmerode afastamentosporcausadaLER.Pesquisarecentementeconcludaemumaindstria de fabricao de lpis, no interior do Estado de So Paulo, revela que, de um total de 1051 operrias da rea de produo, pelo menos 150 casos de afastamento por motivo deLERhaviamsidonotificados(Cunha,1997).Tambmnosbancos,afacilitao ocorridacomaintroduodainformticainduzmaiorrapideznodesempenhoda funo e maior incidncia de tendinite, stress fsico e mental.Segnini (1997) relata que, na rea bancria, as mulheres, muito mais do que os homens, tm sido vtimas da tenossinovite,maldodigitadoroulesoporesfororepetitivo/LER,doenaque estsendoconsideradaacidentedetrabalhoinformtico.Entreos408funcionrios afastados por LER, no banco estatal por ela pesquisado em 1993, 80% eram mulheres queocupavamafunodeescriturriaecaixa.Severdadequeessasdoenas tambm ocorrem entre os trabalhadores, sua maiorincidncia entre as mulheres vem sendoatribudanossatividadesrepetitivasqueelasrealizam,mastambm 49sobreposiodessasatividadessdomsticasqueso,igualmente,propciasao surgimento desses males. A nova metodologia adotada pelasPNADs desde 1992 tem como um de seus efeitos maispositivosconhecercommuitomaisclarezaaqualidadedotrabalhorealizado pelasmulheres,emcomparaoaodoshomens,sejapelaintroduodenovas categorias,comonocasodaposioocupada,sejapelaapreensodotrabalhoem relao a novos indicadores at ento no utilizados, como o local em que realizada aatividade.Infelizmente,ainexistnciadedadoscomparveis,paraosanos anteriores, impede uma anlise longitudinal, em vrios desses casos. Informaes sobrea posio ocupada pelos trabalhadores revela que, embora quase 60% das mulheres sejam empregadas ou trabalhadoras por conta prpria, como ocorre com 84% dos trabalhadores, um percentual expressivo de trabalhadoras (40%)e no detrabalhadoresocupaposiesprecriasnomercadodetrabalho,sejacomo trabalhadoras domsticas4,seja como no-remuneradas e comotrabalhadoras para o autoconsumo.Tabela 15 Ocupados e ocupadas segundo aposio na ocupao Brasil POSIO NA OCUPAO19931995 HomensMulheresHomens Mulheres Empregados58,642,757,441,9 Trabalhadores domsticos0,716,60,817,2 Contas-Prprias25,415,826,516,6 Empregadores4,91,55,31,9 No remunerados8,613,58,013,1 Consumo prprio*1,910,01,99,3 Total (milhes)40,626,041,927,8 %100,0100,0100,0100,0 Fonte: PNAD 1993 e 95, (tab. 4.19) OBS.: Excludos os sem declarao Dados no desagregados por sexo para anos anteriores * Inclui consumo prprio e construo para o auto-consumo

4AcategoriatrabalhodomsticointroduzidanaPNADapartirde1992,refere-seaoempregodomstico remuneradoenoaotrabalhodomsticorealizadopelasdonas-de-casa,aindacomputadocomoinatividade econmica. 50Outraevidnciadafragilidadedotrabalhofeminino,emcomparaoaomasculino,podeserencontradanasinformaessobeolocalnoqualostrabalhadores desempenhamsuasatividades.Nestecasotambm,emboramaisdametadedas trabalhadoras,comoocorrecomseuscolegas,trabalhememlojas,oficinasou escritrios,umpercentualconsiderveldelastrabalhanoprpriodomiclio(quase 13%) ou no domiclio do patro (quase 19%), cifras bem mais elevadas do que a dos trabalhadores que se encontram na mesma situao. Tabela 16 Ocupados e ocupadas segundo o local de trabalho Brasil LOCAL DE ESTABELECIMENTO DO TRABALHO PRINCIPAL 19931995 HOMENSMULHERESHOMENSMULHERES Fazenda, stio, granja etc27,615,426,314,2 Loja, galpo, oficina, escritrio57,051,756,952,1 Veculo1,50,02,00,1 No domiclio em que moravam2,013,72,112,7 Outro(s) domiclios8,517,59,118,6 Via pblica2,51,72,82,1 Outro0,50,20,90,3 TOTAL (milhes)40,626,041,125,2 %100,0100,0100,0100,0 Fonte: PNAD 93 e 95 (tab. 4.20) Noprimeirocaso,comoseobservanatabelaseguinte,agrandemaioriacomposta porautnomas(maisde65%,em1993),quetrabalhamporcontaprpriano domiclio, seja porqueno conseguem emprego nomercado de trabalho, sejaporque preferem a atividade domiciliar como estratgia conveniente para conciliar a atividade econmica com as domsticas. Na mesma situao, 23% so trabalhadoras domsticas que moram com a famlia para a qual trabalham e apenas 3,3% ocupam a posio deempregadas.Aoquetudoindica,contrariandopartedaliteraturasobreotrabalho feminino(AbreueSorj,1993),enquantootrabalhoporcontaprpriaocupaparcela significativadastrabalhadorasdomiciliares,omesmonoocorrecomotrabalho subcontratado, que ocupa percentual muito pequeno das trabalhadoras domiciliares. O segundocaso,dosquetrabalhamnodomicliodopatro,compostoporuma 51esmagadoramaioriadetrabalhadorasdomsticas(maisde92%dasmulheresque trabalham nesse local ). Tabela 17 Pessoas ocupadas segundo posio na ocupao e local de estabelecimento do trabalho principal Brasil, 1993 POSIO NA OCUPAO LOCAL DE ESTABELECIMENTO DO TRABALHO PRINCIPAL TOTALEmpregados Trabalhadores domsticos Contas prprias Empregadores No remunerados Total (milhes)%%%%%% MULHERES23,447,418,417,61,714,9100 - loja, oficina, fbrica, escola, escritrio, repartio pblica, galpo, etc 12,185,2 --6,42,65,7100 - fazenda, stio, chcara, granja, etc3,616,0 --13,91,069,0100 - no domiclio em que moravam3,23,323,065,30,77,6100 - em outro domiclio (empregador, patro, scio ou fregus) 3,91,192,46,2 --0,1100 - em local designado pelo cliente, empregador ou fregus 0,211,0 -- 85,1 --3,8100 - em veculo automotor0,0122,8 --42,32,931,9100 - em via ou rea pblica0,47,2 --73,60,818,4100 - outro0,040,9 --74,7 --24,4100 HOMENS39,859,70,725,95,08,7100 - loja, oficina, fbrica, escola, escritrio, repartio pblica, galpo, etc 22,780,1 --11,75,92,4100 - fazenda, stio, chcara, granja, etc11,038,8 --32,84,524,0100 - no domiclio em que moravam0,85,25,873,92,612,5100 - em outro domiclio (empregador, patro, scio ou fregus) 0,511,650,336,30,21,6100 - em local designado pelo cliente, empregador ou fregus 2,929,0 --65,53,32,1100 - em veculo automotor0,624,8 --69,03,23,1100 - em via ou rea pblica1,014,2 --76,21,58,0100 - outro0,222,0 --67,91,48,6100 Fonte: FIBGE, PNAD 1993, (tab. 4.20) Algumascaractersticasdaocupaofemininanessesnichosmaisdesfavorecidos, como exibido no quadro a seguir,ilustram a precariedade de parcela expressiva da mo-de-obrafeminina.Maisde90%dasempregadasdomsticastrabalhamno domicliodopatro,comoseriadeesperar,maisdametadedelasmuitojoveme maisde80%notemregistroemcarteira.Trata-se,semdvida,deumdosnichos mais desfavorecidos de trabalho, que abriga 17,2% da mo-de-obra feminina. Entre as no remuneradas, categoria que abriga mais de 22% das trabalhadoras, a esmagadora maioriatrabalhanosetoragrcola,predominammeninasemulheresidosas,queno 52temnenhumagarantiaouproteo,vistoqueapenas3%contribuemparaa PrevidnciaSociale,comotrabalhamnombitodasfamlias,notemacessoa nenhum tipo de registro de trabalho. Quadro 1 Nichos Femininos Mais Desfavorecidos Brasil, 1995 Sexo POSIO NA OCUPAOMasculinoFemininoAlgumas caractersticas da ocupao feminina %% TRABALHADORES DOMSTICOS0,817,2 - 92% trabalham em outro domiclio e 23%, no domiclio - 58% trabalham no setor de prestao de servios - 55% tm at 19 anos - 84% no tem carteira assinada NO REMUNERADOS E OCUPADOS EM ATIVIDADES PARA CONSUMO PRPRIO E/OU DE ALGUM MEMBRO DA FAMLIA 9,9 22,4

- 80% das que trabalham no setor agrcola (e apenas 29% dos homens) - predominammeninas entre 10 e 14 anos e mulheres com 60 e mais - apenas 3% das mulheres ocupadas nesse setor contribuem para o INSS Fonte: FIBGE, PNAD 1995, tabs. 4.18, 4.19, 4.20, 4.21, 4.23 Nosaprecariedadequecaracterizaotrabalhofeminino,mastambma segregaoocupacionaleadiscriminaosalarial.Noquesereferesegregao, denunciadapelosestudossobreotrabalhodasmulheresdesdeosanossetenta(ver, por exemplo, Bruschini, 1979) , possvel afirmar que os chamados guetos femininos ,ocupaescommaisde50%demulheres,permanecerampraticamenteiguaisno perodo1988a19925,segundoinformaesdoMinistriodoTrabalho.So eminentementefemininascompercentagensvariandoentre94%e70%as ocupaesdecostureira,professoradepr-escolaede1grau,secretria,

5Lamentavelmente,nohdadosdesagregadosporocupaonasPNADseasinformaesdoCenso Demogrfico de 1991 referentes ao tema mo-de-obra, para o pas como um todo, no foram publicadas. 53telefonista/telegrafista,enfermeiradenvelsuperiorepessoaldeenfermagemem geral, recepcionista, lavadeira/tintureira, professora de 2 grau. Todas elas, de alguma forma, soocupaes que reproduzem atividades realizadas pelas mulheres na esfera reprodutiva,comocuidar,lavar,passar,cozinhar,ensinar.Olequemaisestreitode oportunidadesdetrabalhoeasegregaodasmulheresemocupaes tradicionalmente femininas contribuem para a baixa qualidade do empregofeminino. Tabela 18 Ocupaes com maior representatividade de mulheres * Brasil, 1988/1992 Grupo ocupacional19921988 %% Costureiro93,893,7 Professor pr-escola93,6 -- Professor 1o. grau89,089,6 Secretrio88,789,2 Telefonista/telegrafista87,786,3 Enfermeiro**86,6 -- Pessoal de enfermagem85,584,3 Recepcionista81,380,6 Lavadeiro/tintureiro72,8 -- Professor 2o. grau70,472,4 Datilografia/estenografia --67,9 Cozinheiro68,465,9 Trabalhador serventia***66,565,2 Auxiliar contabilidadade/caixa62,258,6 Trabalhador conservao edifcios60,559,5 Agente administrativo58,654,8 Funcionrio pblico superior58,363,0 Fiandeiro57,759,1 Auxiliar de escritrio53,451,0 Trabalhador em calados49,949,2 Fonte: MTb, Anurio Rais, 1988 e 1992, tab. 1.12 * Ocupaes com mais de 50% de mulheres, ordenadas a partir de 1992 ** Nvel superior verdade,poroutrolado,que,comomostramalgumaspesquisas,asmulheres tambmvemabrindonovosespaosdetrabalhonasltimasdcadas,comonarea financeiraebancria,empostosdecomandoemempresasestatais(Segnini,1994e Puppin, 1994) e em algumas profisses de prestgio, como na magistratura (Junqueira, noprelo)enamedicina(AnurioRAIS,1992).Tambmaumentaramasua representatividade, como revela o quadro a seguir,em algumas ocupaes cientficas e de superviso e chefia, como nas chefias financeira e administrativa, na superviso de vendas, ocupaes que apresentaram um acrscimo de 3 e 5pontos percentuais na participao feminina entre 88 e 92.54 Quadro 2 Algumas ocupaes nas quais as mulheres aumentaram suarepresentatividade no perodo OCUPAES 1992 1988 Chefe intermedirio financeiro34,629,4 Mdico34,229,3 Tcnico biologia agronomia32,9_ Supervisor de vendas31,528,4 Chefe intermedirio administrativo30,325,8 Fonte: MTb, Anurio RAIS, 1988 e 1992, (tab. 1.12) Asegregaoocupacionalresponsvelpelapreservaodeumacaracterstica identificadacomofeminina,anocompetio,quecontribuparaamanutenoda hierarquia entre os sexos. Mas talvez seu efeito mais perverso seja aquele que acarreta sobre os rendimentos das trabalhadoras. Como a demanda de mo-de-obra feminina pouco diversificada e a oferta de trabalhadoras ampla e est em expanso, no de admirar que essa relao entre oferta e procura provoque achatamento salarial sobre a foradetrabalhofeminina.Comoveremosaseguir,osbaixosrendimentosobtidos pelastrabalhadoraseasdesigualdadesentreossexossoalgunsdosmaismarcantes indicadores da m qualidade do trabalho feminino Noperodoanalisado,essasduascaractersticasbaixosrendimentose desigualdadesdegneronosofreramqualqueralterao.importanteassinalar, contudo,quehouvealgumprogressonosentidodadiminuiodaconcentraode trabalhadores nas faixas mais baixas de renda, entre 1985 e 1995. Os resultados mais positivos, porm, ocorreram no perodo 85-90, em que aumentaram os percentuais de trabalhadores de ambos os sexos nas faixas superiores a 2 salrios mnimos, ao que se seguiu, no perodo posterior, nova queda. Nenhum desses movimentos, no entanto, foi suficienteparaeliminarasdesigualdadesderendimentoentreossexos.Como demonstraatabela19,aindaqueaparceladapopulaoocupadaqueauferiaat2 55salrios-mnimos(SM)6mensaistenhadecrescidonoperodo,em95ainda substantivamentemaioronmerodemulheresqueseenquadramnessafaixade rendimentos (36,5% dos homens e 45% das mulheres). Ressalte-se que em95das ocupadas ainda recebia apenas 1 SM como rendimento mensal pelo seu trabalho (em comparao a apenas 16% dos homens). importante assinalar tambm que, em 95, aumentou em quase 10 pontos percentuais (de 15,5% para 24%) a parcela de mulheres que declararamtrabalhar sem nenhum rendimento. Muito provavelmente, parte desse aumentodeve-seampliaodoconceitodetrabalhoapartirde1992,quando passaramaserconsideradasocupadasaquelaspessoas,majoritariamentemulheres, quetrabalhavam,nomnimo,umahoraporsemana,mesmoquedesenvolvessem atividades de produo e construo destinadas manuteno da prpria subsistncia ou da subsistncia do seu grupo familiar. Tabela 19 Trabalhadores e trabalhadoras segundo faixas de rendimento mdio mensal Brasil, 1985/1990/1995 CLASSES DE198519901995 RENDIMENTOHOMENSMULHERESHOMENSMULHERESHOMENSMULHERES at 1 s. m.23,141,017.529.316,4 26,0mais de 1 a 2 s.m.24,420,419,7 20,9 20,1 19,1mais de 2 a 5 s.m.25,215,528,4 22,0 27,5 18,6mais de 5 a 10 s.m.9,95,013,2 8,4 12,1 7,1mais de 10 s.m.6,72,410,5 5,5 9,3 4,2sem rendimento10,315,510,0 13,3 13,3 24,1sem declarao0,40,30,8 0,6 1,4 0,9Total (milhes)36,718,541,6 22,9 44,2 29,9%100,0100,0100,0 100,0 100,0 100,0FONTE: FIBGE. PNADs 85 e 90 (tab 3.5); 95 (tab 4.6) Adistribuiodosrendimentossegundoosexoeossetoresdeatividadeeconmica (tabela 20) vem demonstrar que nada menos que 82% das mulheres ocupadas no setor agrcolanorecebiamqualquerrendimentopeloseutrabalho,enquantoqueos homens nas mesmas condies representavam pouco mais de dos ocupados naquele setor.Atendnciadasmulheresserempiorremuneradas,qualquerquesejaosetor econmiconoqualtrabalham,jtemsidobastanteevidenciadaecomentadapela literatura.Osdadoslevantadosparaestetrabalhorevelamquenohouvemudanas.

6O salrio-mnimo de novembro de 1997 corresponde a R$ 120,00. 56Naindstria,setoreconmiconoqualasrelaesdetrabalhocostumamserasmais formalizadas,49%dasmulheresecercade33%doshomensganhamat2SM.No comrcioso 47% das mulheres e 38% dos homens que se enquadram nessa faixa de rendimentos.Nosetorservios,aparceladasmulheresqueganhamatR$240,00 por ms atinge a absurda proporo de 78% , enquanto 43% dos homens esto nessa situao.Mesmonosetorsocial,noqualsesituamatividadestipicamentefemininas como omagistrio e a enfermagem, a balana pende a favor dos homens: 29% delesganham at 2 SM,em comparao a45% das mulheres ali ocupadas. Nas atividades da administrao pblica, outro reduto feminino, a mesma desigualdade se manifesta: 38%dasmulheresquealitrabalhamseenquadramnessafaixaderendimentos,e apenas 29% dos homens.Tabela 20 Rendimento dos ocupados e ocupadas segundo setores de atividade Brasil, 1995 Classes de rendimento mensal (salrios mnimos) SEXO E RAMOS DE ATIVIDADE ECONMICA Total at 2 SM mais de 2 a 5 SM mais de 5 a 10 SM mais de 10 SM semren- dimento semdecla- rao (milhes)% HOMENS41.863.3091004028,1128,310,31,2 Agrcola11.907.6651005511,22,61,727,91,5 Indstria11.055.80310033,438,414,78,730,9 Comrcio de Mercadorias5.552.82810038,431,513,39,95,71,1 Prestao de Servios5.023.23410042,534,112,65,14,80,9 Serv. Auxil. da ativ. econmica1.468.00110023,725,819,627,51,12,4 Transporte e comunicaes2.327.13710022,244,720,910,60,90,8 Social1.516.90610028,928,519,419,62,31,4 Administrao pblica2.140.04610028,934,819,815,30,21 Outras ativid., ativid. mal definidas ou no declaradas 871.68910026,517,324,128,90,62,5 MULHERES27.765.29910047,918,56,63,522,70,8 Agrcola6.246.577100161,20,20,181,90,6 Indstria2.584.60110049,130,77,54,57,21 Comrcio de Mercadorias3.563.81210047,425,87,93,514,21,1 Prestao de Servios8.283.12610077,913,72,50,84,50,6 Serv. auxil. da ativ. econmica812.03210034,329,218,112,23,72,3 Transporte e comunicaes215.65310026,736,720,911,92,51,2 Social4.527.09410045,232,813,56,21,50,7 Administrao pblica1.070.12010037,727,519,313,90,21,5 Outras ativid., ativid. mal definidas ou no declaradas 462.28410019,627,226,822,21,52,6 Fonte: FIBGE, PNAD 1995, (tab. 4.18) Argumenta-sequeexistiriamalgumasrazespelasquaisasmulheresreceberiamremuneraesmaisbaixasdoqueoshomens.Umadelasresidirianomenornmero 57dehorasporelastrabalhadas,quandocomparadasaoshomens.Esseargumento facilmentederrubadopelosindciostrazidospelatabela21.Nafaixade40a44 horassemanais,quecorrespondeaoperodoregulardetrabalhonosetorformalda economia, 46% das mulheres e 39% dos homens ganham at 2 SM, o que demonstra maisumavezadesigualdadederemuneraofemininafrenteaoshomens.Nafaixa de15a39horas,naqualestariaincludootrabalhoemtempoparcialoumeio perodo,adesigualdadepermanece:quasemetadedasmulheresquetrabalhampor esseperododetempoganhavamat2SMem1995eapenas40%doshomens.A tabelaindicaaindaqueparcelasignificativadaspessoasdeambosossexosque trabalhamat14horassemanaistendeafaz-losemremunerao.Note-se, entretanto,queocontingentedemulheresclassificadonestacategoriatrsvezes maior que o dos homens (3,4 milhes de mulheres e 1,0 milho de homens) e que 2/3 delas trabalham sem remunerao.Tabela 21 Rendimento dos ocupados e ocupadas, segundo grupos de horas semanais trabalhadasBrasil, 1995 Grupos de horas semanais trabalhadas Total CLASSES DE RENDIMENTO no trabalho principalmilhes%at 2 SM mais de 2 a 5 SM mais de 5 a 10 SM mais de 10 SM sem rendimento sem declarao HOMENS 41.863.309100,040,228,112,08,310,31,2 at 14 horas1.001.056100,031,58,53,02,752,51,7 15 a 39 horas6.546.326100,039,914,27,25,631,71,4 40 a 44 horas14.882.407100,039,330,513,710,15,31,2 45 a 48 horas8.774.228100,044,533,311,55,74,10,9 49 ou mais horas10.645.768100,038,331,113,810,45,21,3 MULHERES 27.765.299100,047,918,56,63,522,70,8 at 14 horas3.414.902100,029,42,50,70,466,30,7 15 a 39 horas9.620.116100,048,215,04,92,528,50,9 40 a 44 horas7.760.331100,046,228,211,86,26,70,9 45 a 48 horas3.273.359100,059,524,75,52,57,20,6 49 ou mais horas3.689.793100,057,616,76,44,214,30,8 Fonte: FIBGE, PNAD 1995, (tab. 4.27) Um outro motivo aventado para justificar o diferencial de remunerao femininaseria otipodevnculodetrabalho,ouposionaocupao.Nota-se,contudo,queessa argumentaotambmnoencontrasustentaonosdados,conformeesclarecea tabela22.Ospatamaresderendimentofemininososempreinferiores,sejamas mulheresempregadas,trabalhadorasdomsticas,trabalhadorasporconta-prpriaou empregadoras.Entreostrabalhadoresdomsticoscategorianaqualamulher 58maioria,se80%doshomensumcontingentedeapenas300miltrabalhadores ganhamat2SM,entreastrabalhadorasdomsticas4,7milhesaproporo atinge90%.Entreostrabalhadoresporconta-prpriaadisparidadepermanece:70% delas e 50% deles se enquadram naquela faixa de renda. Nas categorias empregados e empregadoresorendimentofemininoseaproximamaisdomasculino-17%das empregadase20%dosempregadostemrendimentossuperioresa5SM.Ouniverso dosempregadores,contudo,eminentementemasculinopois,deumtotalde2,6 milhes,apenas 500 mil eram do sexo feminino em 1995. Tabela 22 Ocupados e ocupadas com rendimento no trabalho principal, segundo a posio na ocupao Brasil, 1995 POSIO NA OCUPAO E CLASSES DE RENDIMENTO MENSAL DO TRABALHO PRINCIPAL 1993 1995 HomensMulheresHomensMulheres EMPREGADOS (milhes)23,711,123,811,5 %100,0100,0100,0100,0 at 2 salrios mnimos56,562,845,750,5 mais de 2 a 5 salrios mnimos28,225,533,932,3 mais de 5 salrios mnimos14,611,020,517,2 sem declarao0,70,6 -- -- TRABALHADORES DOMSTICOS (milhes)0,294,20,304,7 %100,0100,0100,0100,0 at 2 salrios mnimos89,496,679,590,4 mais de 2 a 5 salrios mnimos9,52,817,38,9 mais de 5 salrios mnimos0,30,13,20,6 sem declarao0,80,6 ---- CONTAS-PRPRIAS(milhes)10,24,110,84,5 %100,0100,0100,0100,0 at 2 salrios mnimos53,374,950,470,1 mais de 2 a 5 salrios mnimos28,915,529,619,5 mais de 5 salrios mnimos14,76,920,010,3 sem declarao3,42,8 -- -- EMPREGADORES(milhes)2,00,42,10,5 %100,0100,0100,0100,0 at 2 salrios mnimos13,418,99,710,5 mais de 2 a 5 salrios mnimos26,833,922,024,8 mais de 5 salrios mnimos57,643,768,464,6 sem declarao2,33,4 -- -- Fonte: FIBGE, PNAD 1993 e 1995, (tab. 4.22) Obs.: Os totais no incluem "sem rendimento" Umaterceiralinhadeargumentaotentaencontrarmotivosparaadesigualdadede ganhosnofatodeamulhernoestardevidamentepreparadaparaodesempenhode funes de maior qualificao. Certamente, os que defendem esta tese desconhecem o 59fato,jdemonstradonestetexto,dequeastrabalhadorasdispemdecredenciaisde escolaridadesuperioressdeseuscolegas,oquenoevitaapermannciada defasagemdeganhosentreossexos.Aorigemdasdesigualdadessalariaisentreos sexos tambm no reside no nmero de anos de estudo. Ao contrrio, como os dados contidos na tabela 23 deixam claro, homens e mulheres com igual escolaridade obtm rendimentosdiferentes.Enquantometadedostrabalhadorescom11a14anosde estudoganhammaisde5salrios,apenas23,5%dastrabalhadoras,nasmesmas condies,ofazem.Essadisparidadetorna-semaisagudaentreaspessoasdemaior escolaridade:se2/3doshomenscom15anosemaisdeestudoganhammaisde10 salrios-mnimos,apenas1/3dasmulherescomomesmonveldeescolaridadetm rendimentos equivalentes. Tabela 23 Ocupados e ocupadas segundo anos de estudo e classes de rendimento Brasil, 1995

ANOS DE ESTUDO E SEXO Total CLASSES DE RENDIMENTO milhes % at 2 sm mais de 2 a 5 SM mais de 5 a 10 SM mais de 10 SM sem rendimento sem declarao HOMENS41.863.309100,039,328,212,28,810,11,4 sem instruo/menos de 1ano 6.975.099100,065,114,62,70,815,21,7 1 a 3 anos8.026.835100,050,124,45,31,817,21,2 4 a 7 anos14.110.808100,039,834,611,33,89,50,8 8 a 10 anos5.439.941100,027,839,218,28,35,41,0 11 a 14 anos5.157.903100,013,131,728,622,32,51,8 15 anos e mais2.081.584100,02,17,919,665,10,94,5 MULHERES27.765.299100,047,318,47,03,922,50,9 sem instruo/menos de 1ano 3.807.176100,049,24,10,50,145,20,9 1 a 3 anos4.673.756100,053,07,50,70,238,10,6 4 a 7 anos8.745.125100,057,914,82,30,623,90,5 8 a 10 anos3.575.235100,053,427,26,41,510,70,9 11 a 14 anos5.029.047100,033,137,216,86,75,01,2 15 anos e mais1.881.611100,05,923,532,833,41,43,0 Fonte: FIBGE, PNAD 1995, (tab. 4.10) Obs.: Excludos no determinados e sem declarao Aindaqueasegregaoocupacionalporsexocontribuaparaoachatamentodos salriosfemininos,comocomentamosanteriormente,oargumentodequeotipode ocupaocomumentedesempenhadopelasmulheresseriaoresponsvelpela 60desigualdade de renda entre os sexos tambm no apresenta consistncia, pois mesmo nosguetosfemininosaremuneraomdiamensalmostra,namaioriadoscasos, vantagensparaoshomens.Algunsexemploscontidosnatabela24falamporsi:em 1992, os telefonistas e telegrafistas do sexo masculino ganhavam 7,1 salrios-mnimos e os do sexo feminino, apenas 4,2. Na mesma data, a mdia salarial dos auxiliares de contabilidade e caixas era de 7,2 SM para os homens e de 4,3 SM para as mulheres e enquantoasfuncionriaspblicasdenvelsuperiorganhavamemmdia,6,1SM, seus colegasganhavam 9,1 SM. No perodo considerado, no houve alteraonesse padro desigual de remunerao, o que ainda mais grave. Tabela 24 Desigualdades salariais entre os sexos em ocupaes femininas no mercado formal Brasil, 1988/92 Mdia dos rendimentos mensais (em salrios mnimos) OCUPAO19921988 HomensMulheresHomens Mulheres Costureiro(a)2,32,12,11,8 Professor(a) Pr-escola3,43,7 ---- Professor(a) 1 Grau4,13,73,43,0 Secretrio(a)5,65,74,65,0 Telefonista/telegrafista7,14,25,93,4 Enfermeiro(a)6,36,0 -- -- Pessoal de enfermagem3,83,43,42,9 Recepcionista3,62,83,22,4 Lavadeiro(a)/Tintureiro(a)2,52,1 -- -- Professor(a) 2 Grau4,64,74,94,3 Datilgrafo(a)/Estengrafo(a) -- --3,73,3 Cozinheiro(a)3,12,12,61,6 Trabalhador(a) serventia2,52,12,11,6 Auxiliar contabilidade/caixa7,24,36,63,8 Trabalhador(a) conserv. edif.2,41,81,91,5 Agente administrativo6,24,76,15,0 Funcionrio(a) pblico superior9,16,17,14,7 Fiandeiro(a)4,12,83,32,3 Auxiliar de escritrio6,34,95,03,9 Trabalhador de calados2,92,3 -- -- Fonte: MTb, RAIS - Anurios 1988 e 1992, (tab. 1.13) Portanto,adiscriminaocontraasmulheres,emrelaoaosganhosobtidosno mercado de trabalho, no devida nem aos setores econmicos nos quais se inserem, nem ao nmero de horas trabalhadas, nem ao tipo de posio ou vnculo que elas tm com o trabalho, nem s ocupaes comumente desempenhadas e nem ao seu nvel de escolaridade.Mesmoaquelasmulheresqueconseguemascendernaestrutura hierrquica das empresas, assumindo posies de maior responsabilidade e de maiores ganhosestosujeitasaganharmenosqueseuscolegas,oquevemconfirmarqueas 61relaesdegneroperpassamtodomercadodetrabalho,determinandoposies desiguais entre os sexos e hierarquicamente inferiores para as trabalhadoras. Regulao do emprego e proteo social Entreosindicadoresdaqualidadedotrabalho,onmerodehorastrabalhadas,o registroemcarteira,otempodepermanncianoempregoeacontribuio PrevidnciaSocialsoalgunsdosmaisimportantesearespeitodosquaisdispomos de dados. Veremos a seguir como se comporta o trabalho feminino em relao a essas questes. Oempregoemtempoparcialtemsidoumaestratgiamuitoutilizadanospasesda Europa para o enfrentamento do problema do desemprego e, ainda que no Brasil no exista uma poltica explcita nessa direo, no perodo analisado, mas principalmente noscincoprimeirosanosdestadcada,verificou-seumaumentosignificativona proporodepessoasquetrabalhamat39horassemanais.Aadesoaummenor perododetrabalhosemanalmuitomaisexpressivaentreasmulhereseteveum crescimentoda ordem de 10% na dcada em anlise, passandode37% para 47% a parceladasocupadasat39horassemanais.precisoreiterarqueestaltimacifra podeestarsuperestimadapelamaiorabrangnciadoquesitotrabalhonos levantamentosdomiciliaresapartirde92,comomencionamosvriasvezesneste texto. Mas, mesmo nos detendo nas informaes dos anos anteriores, fcil perceber queumaparcelaconsiderveldastrabalhadoras(37%em85e39%em90)tinhajornada parcial de trabalho, ao mesmo tempo que menos da metade das trabalhadoras, nessasdatas,trabalhavaajornadaregulamentarde40a48horas.possvelque muitastrabalhadorastenhamcomoopoajornadaparcialcomoestratgiade conciliaocomastarefasdomsticas.Mas,podesertambmquemuitasmulheres simplesmente no consigamter acesso aos melhores empregos, que so os de tempo integral,protegidospelalegislaotrabalhistaeganhandobonssalrios.Como veremos a seguir, isto o que efetivamente ocorre. 62 Tabela 25 Ocupados e ocupadas segundo o nmero de horas trabalhadas por semana no trabalho principal Brasil 1985/1990/1995 Total SEXO E ANOS(N)%at 39 horas40 a 48 horas49 e maissem declarao TOTAL 198553.236.936100,020,152,527,30,1 199062.100.499100,022,755,022,3 -- 199569.628.608100,029,649,820,6 -- HOMENS 198535.462.932100,011,956,731,40,1 199040.017.504100,013,959,626,5 -- 199541.863.309100,01856,425,4 -- MULHERES 198517.774.004100,036,644,319,10,1 199022.082.995100,038,746,614,6 -- 199527.765.299100,046,939,713,3 -- Fonte: FIBGE, PNADs 85 e 90 (tab. 3.11), 95 (tab. 4.27) Apossedecarteiraassinadapeloempregadorumdosprincipaisindicadoresde formalizaodoempregoetambmderegulaodotrabalho,namedidaemqueo trabalhadorquepossuiesseregistroestmenosexpostospossveisarbitrariedades dosempregadoresquantoanvelsalarialegozodedireitostrabalhistasadquiridos pela legislao. A legislao trabalhista de 1943 e a Constituio de 1988 Datadadosanosquarenta,alegislaotrabalhistabrasileira(CLT/Consolidaodas LeisTrabalhistas)garanteaostrabalhadorescomvnculoformalnoemprego,ou registradosemcarteira,inmerosdireitos.AConstituiode1988ratificouamaior partedessesdireitos,modificoualgunseincluiuoutros.Atualmente,deacordocom seu Captulo II,Dos Direitos Sociais, so direitos dos trabalhadores: proteo contra dispensaarbitrriaousemjustacausa,seguro-desemprego,fundodegarantiapor tempo de servio, salrio mnimo, irredutibilidade do salrio, dcimo terceiro salrio, combasenaremuneraointegral,jornadadiriade8horas,repousosemanal remunerado, frias anuais remuneradas com 1/3 a mais do que o salrio normal, aviso-prviodepelomenosumms,emcasodedemisso,reduoderiscosnotrabalho, pormeiodenormasdehigiene,seguranaesade,segurocontraacidentesde 63trabalho,aposentadoria,reconhecimentodeconveneseacordoscoletivosde trabalho e outros. Emrelaostrabalhadoras,aCLTadotou,desdesuaformulao,umaposio protecionista.Baseadaemprincpioscomoafragilidadefeminina,adefesada moralidade,aproteoprole,anaturalvocaodamulherparaolareocarter complementar do salrio feminino, fundamentou-se em um ideal de famlia patriarcal encabeada pelo homem e teve por objetivoproteger a trabalhadora em seu papel de me. Imps, com isso, uma srie de restries ao trabalho feminino. A reviso crti

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