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Convivialidade
Janaína Alves da Silveira Hallais
Doutoranda em Saúde Coletiva - UNICAMP
Pesquisadora do LAPACIS
Em Campinas, as práticas corporais estão institucionalizadas na
atenção básica para a prevenção e tratamento de dores e
patologias, ampliando as abordagens terapêuticas e colocando o
indivíduo no centro do cuidado.
Inseridos no campo da saúde, os grupos de práticas corporais
apresentam um caráter coletivo que estimula a interação e
incentiva a convivência entre os praticantes, transformando o
momento da atividade de saúde em um momento de encontro e
sociabilidade.
De acordo com Yara Carvalho, essas práticas:
“podem ter na Atenção Básica e na Estratégia Saúde da Família
um espaço interessante para compor com o cuidado e a atenção
em saúde. Elas ampliam as possibilidades de encontrar, escutar,
observar e mobilizar as pessoas [adoecidas ou não] para que, no
processo de cuidar do corpo, elas efetivamente construam
relações de vínculo, de co-responsabilidade, autônomas,
inovadoras e socialmente inclusivas (...).” (Carvalho YM.
Promoção da saúde, práticas corporais e atenção básica. Rev.
Bras. Saúde Família. 2006).
Deste modo, ao compreender as práticas corporais em uma
perspectiva de interação e coletividade, e de valorização da
autonomia e das subjetividades (ou singularidades), é possível
acrescentar ao debate a questão da convivialidade, um conceito
desenvolvido pelo teórico austríaco Ivan Illich.
“uma sociedade convivencial é uma sociedade que oferece ao
homem a possibilidade de exercer uma ação mais autônoma e
mais criativa, com auxílio das ferramentas menos controláveis
pelos outros” (ILLICH, 1976:37).
Mas então, onde está a convivialidade neste caso?
Além de desenvolver consciência corporal, participar de um
grupo de Lian Gong ou de Movimento Vital Expressivo, por
exemplo, contribui também para o estabelecimento de relações
horizontais, não hierárquicas, entre os profissionais de saúde e os
praticantes, favorecendo vínculos de confiança, o acolhimento e a
escuta qualificada.
Dessa forma, os grupos de educação em saúde (de vivência, de
artesanato, de práticas corporais, da horta comunitária) são uma
potente ferramenta para combater a impessoalidade nas relações
em saúde e a lógica prescritiva de intervenção em fatores de risco,
que tendem a classificar as pessoas de acordo com critérios de
saúde (o diabético, o hipertenso) e instrumentalizar o cuidado.
Assim, é importante valorizar as experiências vivenciadas em
grupo, como os encontros, as amizades, as trocas, os passeios, as
viagens, as festinhas de aniversário, as conversas e os afetos,
compreendendo-as enquanto elementos constitutivos do processo
de produção de saúde (individual e coletiva) e de cuidado
(consigo e com o outro).
“o [Carlos] é uma pessoa muito gente boa, então você curte a
fazer. Eu acho que você tem que ser bem acolhida num lugar que
você está frequentando. Você vai fazer um exercício com uma
pessoa mal humorada? Não dá, aí fica chato, você acaba ficando
estressada”. (Val, praticante de MVE).
“Ah, eu tinha muita timidez, baixa-estima, autoestima baixa, essa
coisas assim, as pessoas parece que não valorizavam a gente
assim, né? E aqui não. E eu mesmo descobri a beleza dentro de
mim, que eu mesma desconhecia. ‘Mas eu sou tudo isso?’. (...). E
os amigos né? É gostoso, se um tá caindo o outro levanta, então a
gente tem essa solidariedade, né?” (Dona Heloísa, praticante de
MVE e LG)
“[o instrutor] acaba conhecendo o outro, no aspecto do ser
humano, às vezes uma dor no Lian Gong às vezes nem é tanto
física né, às vezes se mistura muito com a dor mental, não física.
Então acho importante por causa disso”. (Claudia, coordenadora
do CS II).
“[O propósito desses passeios é] passar happy days e são
sucesso, sucesso total. Por quê? As pessoas vem pra falar, para
jogar o bingo, socializar, enfim, para brincar. (...) Então faz muito
sucesso por conta dessa convivência que é fundamental.”.
(Milton, instrutor de MVE).
“Eu senti mudança no meu corpo, a gente fica melhor para fazer
o serviço e as atividades da gente. Na mente também a gente
sente melhor porque a gente faz amizade, chega em casa mais
alegre até para conversar com o marido porque a gente fica mais
extrovertida”. (Dona Olímpia, praticante de LG).
A missão-desafio que se segue é que as práticas corporais não
sejam institucionalizadas nos serviços de saúde de acordo com
protocolos e prescrições, mas que sejam, de fato, compreendidas
pelos profissionais de saúde em sua potência integrativa e
enquanto práticas de cuidado, promotoras de saúde, encontros e
de bem-estar.
Referências bibliográficas:
• Carvalho YM. Promoção da saúde, práticas corporais e atenção
básica. Rev Bras Saúde Família. 2006;7:33-45;
• Illich I. A convivencialidade. Lisboa: Publicações Europa-
América; 1976;
• Hallais JAS. Sociabilizando na prática: as formas de sociabilidade nos
grupos de práticas corporais na Atenção Primária em Campinas/SP
[dissertação]. Campinas - SP: Universidade Estadual de Campinas -
Faculdade de Ciências Médicas; 2016.
• Luz MT. Novos saberes e práticas em saúde coletiva: estudo
sobre as racionalidades médicas e atividades corporais. Rev Bras
Saúde Família. 2006;7:8-19;
• Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 154, de 24 de Janeiro de
2008: Cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família - NASF.
Brasília: Ministério da Saúde, 2008.
Muito obrigada!!!
Laboratório de Práticas Alternativas, Complementares e
Integrativas em Saúde - DSC/FCM/UNICAMP
http://www.fcm.unicamp.br/laboratorios/lapacis/
jhallais@gmail.com
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