consumidores sentem-se impostos mascarados naáguaeluz · também o que me interessa é o valor...

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CONSUMIDORES SENTEM-SE "ROUBADOS"

Os impostosmascaradosnaáguaeluz

O que se paga nas faturas mensais? Para onde vai odinheiro das taxas? E que taxas são? Maioria não sabe GRANDETEMA

CONSUMO ? AGUA E ELETRICIDADE

Consumidoresdesconhecem taxasaplicadas nas faturas¦ Sabe o que paga nas faturas da EDP e da água? A maioria dosconsumidores não sabe. Olha apenas para o valor final e data de pagamento ;

ignorando o resto. Também há discrepâncias enormes entre concelhos na regiãoLuís Nave, Lúcia Reis e FilipeSanches -JF

ANA Maria, 49 anos, casada, doisfilhos, é quem todos os meses se

preocupa com o pagamento das fa-turas lá em casa. No final do mês o

mesmo ritual. As faturas que vão

chegando durante o mês são coloca-das na porta do frigorífico, segurascom um íman, "para não me esque-cer de as pagar. Todos os dias vouver se há alguma para pagar", contaao JF. E tal como tantas outras pes-soas, o que a preocupa é apenas o va-lor e a data limite de pagamento."Sim, é só para esses dois itens queeu costumo olhar. Éo que me inte-ressa", refere. E nunca se preocupouem saber o que paga de verdade?

Que valores são cobrados nas fatu-ras da água, gás e eletricidade?, per-guntámos. "Sim, já olhei vezes semconta mas confesso que percebopouco (risos). Há valores associados

a taxas que dá para perceber mas ou-tros não sei... não os percebo. Mastambém o que me interessa é o valorfinal que tenho de pagar nesse mês",esclarece.

Mas há muita gente que não pen-sa assim e gosta de esmiuçar as fa-turas e saber o que paga. Por exem-plo a fatura da EDP. Até nem é dasmais complicadas de perceber, ain-da assim há dúvidas sobretudo no

que diz respeito ao consumo (vazio/fora vazio). Mas afinal o que é isto?Este tipo de tarifa aplica-se a con-tratos bi-horários. A hora vazia é amais barata que vai das 22 às 8 damanhã. Fora do vazio são todas as

outras horas, obviamente a tarifassuperiores. A potência contratadadiz respeito ao tipo de potência quese contrata e que vai de 1 . 1 5 kVA a41 .4 kVA para clientes domésticos.A Taxa Exploração DGEG é um im-posto cobrado pelo Estado a todosos consumidores domésticos no va-lor de 7 cêntimos. Para os consumi-dores não domésticos esse valor é

de 35 cêntimos. Mas ainda há mais.Todos os consumidores domésticos

pagam a Contribuição Audiovisualno valor de 2,25 euros mais IVA a6%. Mas ainda há mais impostos.Desdejaneirode2ol2 que os con-sumidores pagam o Imposto Sobreo Consumo de Eletricidade. Por

cada mil kWh consumidos paga-se1 curo.

Resta ainda esclarecer que há três

tipos de tarifas que se podem con-tratar: simples (diária); dupla (bi-horária) e tripla (vazio, fora vazioe de ponta).

Preços contestadosA vida de comerciante familiari-

zou José António Santos Marques,agora reformado, com faturas e do-cumentos afins, mas não com os

preços "incomportáveis" que osconsumidores estão apagar pelaprestação de serviços básicos comoo fornecimento de água, de energiaelétrica, ou de gás. "Este país estácada vez pior", afirmou, indignado,ao JF, o comerciante fundanense,criticando os valores "galopantes"que estão a ser cobrados pela ener-gia e pela água. "De Dezembro a

Fevereiro, paguei uma média de100 euros de energia elétrica pormês. Decidi acabar com o sistemabi-horário e aderir ao regime nor-mal e foi o melhor que fiz. No mês

passado, paguei 31 euros de luz",contou ao JF, aconselhando os con-sumidores a "olhar com olhos dever" para as faturas que chegam a

casa. As queixas de José AntónioSantos Marques estendem-se tam-bém à fatura da água. "Pago a fatu-ra através do banco e como tiveaquele problema com a EDP, fui verdetalhadamente a fatura da água.Cheguei à triste conclusão de queconsumi dois euros e alguns cênti-mos de água, mas que a fatura a pa-gar atingia os 13 euros. Onde é queisto vai parar?", questiona o comer-ciante reformado, criticando as ta-xas que o consumidor é obrigado a

pagar, sem ser devidamente escla-recido sobre as mesmas, como,aliás, facilmente se constata olhan-do para as faturas que os diversos

serviços fazem chegar a casa dos"clientes".Pagar o triplo noutro concelho

Como se sabe, os valores das fatu-ras variam bastante de concelho paraconcelho, mesmo que façam frontei-

ra, sobretudo no que à água diz res-peito. É isso que nos mostra um co-merciante da região, com vários ne-gócios em diferentes municípios. Osenhor L. pede anonimato, por temer

algumas represálias em termos de fis-

calizações. "Bem sabemos que se

eles quiserem vêm fazer-nos a vida

negra. Não dou o nome, mas mostro-lhe aqui diversas faturas de água,com aquilo que pago, por exemplo,em Belmonte e na Covilhã."

Passa-nos então para as mãos trêsfaturas de cada município. Começa-mos por olhar para as de um comér-cio em Belmonte. Uma fatura de 37euros (relativa ao consumo de águadurante 53 dias, entre Setembro e

Novembro de 201 1 ; outra de 63 eu-ros (consumo de 66 dias, entre No-vembro de 201 1 e Janeiro de 2012);e a mais cara de 66 euros (consumosde 63 dias, entre Julho e Setembro de

2011). Somando os consumos, dáum total de 144 metros cúbicos de

água consumidos, entre julho do ano

passado e janeiro deste ano. Ou seja,em cerca de seis meses o sr. L. pagou166 euros.

"Para quem tem um negócio, esteé um valor aceitável, pois dá uma mé-dia que não chega a 30 euros por mês.O problema é quando olhamos paraos papéis da empresa que tenho noconcelho da Covilhã. Olhe, posso di-zer-lhe que quando abri o negócioneste município e recebi a primeirafatura da água, pensei que havia um

engano. Isto é um escândalo e algoque eu não consigo entender, pormuito que procure justificações", dizo comerciante.

Vejamos então os documentoscom o carimbo da ADC - Águas daCovilhã. Uma fatura de 185 euros

paga no final de dezembro de 201 1

(relativa a consumos de 32 dias); ou-tra de 165 euros paga no final de fe-vereiro de 2012 (consumos de 30dias); e a mais barata de 80 euros(mês de acertos) paga no final de ja-neiro de 2012 (consumos de 28 dias).

Consultar o documento não é ta-refa fácil, porque há regularmente

acertos que podem baralhar os ci-dadãos (isto acontece porque aADC só faz leituras de dois em dois

meses, ver texto em baixo). Sejacomo for, o senhorL., pela água queconsumiu entre 10 de novembro de201 1 e 8 de fevereiro de 2012, pa-gou 430 euros.

A comparação revela-nos discre-

pâncias assustadoras. Em Belmon-te este comerciante pagou 166 eu-ros em seis meses; na Covilhã tevede desembolsar 430 euros apenasem três meses. Mesmo que um acer-to na próxima fatura baixe o valor,conclui-se que abrir uma torneirade água na Covilhã custa segura-mente cerca de cinco vezes mais do

que em Belmonte.As tarifas de saneamento e resí-

duos constituem a grande diferen-

ça. Na Covilhã essas alíneas repre-sentam mais de cinquenta por cen-to do valor final da fatura, enquan-to em Belmonte nem sequer se pa-gam, porque a Câmara Municipalde Belmonte prescinde delas.

"Já ouvi dizer o presidente da Câ-mara de Belmonte que enquanto eleestiver na Câmara ninguém vai pa-gar essas tarifas, porque são injus-tas", diz o sr. L., alertando também

para os valores inaceitáveis que a

EDP está a cobrar."Posso dizer-lhe que em 201 1

paguei cerca de 30 mil euros deeletricidade. Assim não admira

que a EDP chegue ao fim do anocom milhões e milhões de euros delucro. As empresas que dão em-prego real deviam pagar muitomenos. Se me tirassem metadedesses 30 mil euros, podia utilizaros 1 5 mil para contratar, pelo me-nos, mais 20 pessoas. Isso não se-ria benéfico para a economia?",pergunta o comerciante. Seria sim,garantimos nós.

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RECOMENDAÇÃO EUROPEIA

Está a caminho a uniformizaçãodas faturas para facilitar a leituraLÚCIA REIS

INTERPRETAR a maioria das fatu-ras de água é um verdadeiro "quebra-cabeças" para a generalidade dos con-sumidores. Cada município possui sis-

temas de cobrança distintos e que, namaioria dos casos, resultam em docu-mentos "indecifráveis" para o cidadãocomum. A situação no país é de tal for-ma anárquica que está para breve

(Agosto deste ano) a uniformizaçãodos sistemas de cobrança, nos termos,aliás, de uma recomendação europeia.

No caso do município do Fundão,a fatura (da aqualia, empresa a quemfoi concessionada a exploração e ges-tão dos sistemas de distribuição de

água para consumo público e recolhade efluentes) apresenta várias infor-

mações de interpretação difícil, em-bora contenha também informaçõesque não suscitam quaisquer dúvidas.

São os casos das informações sobre ohorário de atendimento, os númerosdo piquete e do atendimento a clien-tes, ou a data limite de pagamento. Onome da concessionária e do titulardo contrato, bem como o quadro so-

bre o pagamento por multibanco sãotambém bastante claros, no conjuntode informações disponibilizadas aos"clientes".

O mesmo não se pode dizer, no en-tanto, relativamente à leitura de algu-mas siglas e à interpretação dos nú-meros. No tocante ao consumo de

água, a fatura apresenta colunas dis-tintas para a leitura, o limite de esca-lões (no Fundão há meia dúzia de es-calões a preços diferenciados), valorlimite de escalões, metros cúbicos e

respetivos valores. Seguem-se os qua-dros para o saneamento variável com

as mesmas colunas do anterior e paraos resíduos sólidos (variável (isentode IVA), também com igual númerode colunas.

De uma breve leitura da fatura de

água, concluiu-se, por exemplo, quetodos os consumidores pagam, bas-tante mais de taxas do que propria-mente da água que consomem. Os

protestos fazem-se, aliás, ouvir comalguma regularidade. Tarifas como ade disponibilidade (aluguer do conta-

dor), e taxas, algumas das quais estra-

nhas ao próprio município, inflacio-nam de forma significativa a conta

que chega a casa do consumidor. E,claro, quanto maior for o consumo de

água, maior será a conta porque amaioria das taxas e tarifas estão inde-xadas ao consumo. Até mesmo aque-las taxas que nada têm a ver com o

município, como são os casos daARH- (Administração da Região Hi-drográfica - por decifrar na fatura), e

de uma outra para a Agência Portu-

guesa de Ambiente, que surge na fa-tura apenas com as iniciais de APA.Até mesmo o consumidor mais aten-to se confrontará com dificuldades

para "ler" convenientemente a fatura.Dificuldades que muitos consumido-res não tentam sequer ultrapassar, li-mitando-se a procurar a data limite de

pagamento (essa sim, devidamente

percetível) e o montante que vai ter

que desembolsar. Os protestos come-

çam e acabam, quase sempre, lá emcasa, no momento em que se "pas-sam" os olhos pelo total da fatura. De-pois, paga-se a conta e "esquece-se"oassunto até à fatura seguinte.

COVILHÃ

Aguas da Covilhã diz quequeixas são relativas às taxas

ROMÃO VIEIRA

NA empresa Águas da Covilhã(ADC), a fatura da água, saneamentoe resíduos obedece a escalões. Os pri-meiros metros cúbicos (m3) são pagosa um preço, os cinco seguintes a outro,e só acima dos 20 m 3mensais o valoré uniforme. A empresa efetua leiturasbimestrais e no mês em que não há con-

tagens é aplicada uma estimativa quetem por base a média do consumo decada cliente. "A ADC faz acertos ten-do sempre em conta não prejudicar os

utentes", referem os serviços da em-

presa contactados pelo JF.A Tarifa de Disponibilidade de

Água-TDA, está relacionada com a

construção, manutenção e ampliaçãodas infraestruturas. Segundo a ADC,resulta de uma "recomendação" daERSAR-Entidade Reguladora dos

Serviços de Água e Resíduos.A título de exemplo, a empresa ex-

plica que, no caso dos emigrantes que"só em determinados períodos conso-mem água ou fazem lixo, temos de tertodas as condições para eles em qual-quer altura utilizarem estes serviços".

A ERS AR não aponta valores fixosna TD A mas a legislação "exige estu-dos económico/financeiros para queas entidades gestoras sejam autossus-

tentáveis", ou seja não devem viver desubsídios do Estado. "E sendo autos-sustentáveis têm de fazer face às des-

pesas", sublinha a ADC.Às queixas, de resto frequentes, de

que no principais centros urbanos a

taxa é mais barata, como, por exem-plo, em Lisboa, a ADC argumenta queali ' 'existe maior densidade populacio-nal, sendo, por isso, muito mais fácil

repartir as despesas por maior núme-

ro de pessoas".Quanto ao saneamento e resíduos,

sustenta que são serviços que ficammais caros à empresa que captar e dis-tribuir água para consumo. "É um tipode serviço que as pessoas não valori-zam". Tanto o lixo como o saneamen-to são medidos em função dos metroscúbicos de água consumidos por cadacliente. Mais uma vez é a ERS AR querecomenda a anexação tendo por base

a água consumida.

Na fatura da água surgem ainda ta-xas de RH-Recursos Hídricos; CQA-Controlo da Qualidade da Água; eRSU-Gestão de Resíduos. "Cobramos

para entregar ao Ministério do Am-biente", esclarece a ADC. "Não há ou-tra maneira senão cobrar aos nossos

clientes", concluiu Tanto a água, comoo saneamento e os resíduos têm tari-fas variáveis por escalões e ambos têma mesma distribuição.

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