editorial mensagem - câmara de cultura | cultura, … lima presidente câmara de cultura editorial...

20

Upload: truongthien

Post on 06-May-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Cinelândia2

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

Men

sage

m

O Guia Cultural do Rio de Janeironão se responsabiliza pelos

conceitos e opiniões emitidos emmatérias e artigos assinados.

Novembro de 2004.

Caros Leitores,

A Cinelândia possui um significado todo especial para o Rio de Janeiroe para o País. É evidente que um espaço compartilhado pelo MuseuNacional de Belas-Artes, pelo Theatro Municipal do Rio de Janeiro,pela Biblioteca Nacional e pelo Centro Cultural da Justiça Federal possuium imenso significado cultural.

Mas, na Cinelândia, também estão o Palácio Pedro Ernesto, o Amare-linho, o Odeon, o Cordão da Bola Preta e a própria praça, importanteespaço de manifestações políticas e culturais. Lá também está o Obelisco,construído, à época, à beira-mar, para comemorar a abertura da Ave-nida Central.

Infelizmente já não temos o Palácio Monroe, cuja demolição, em 1975,continua a causar polêmica. Inaugurado em 1906, foi sede da Câmarados Deputados de 1914 até 1922 e do Senado até a sua transferênciapara Brasília.

A Cinelândia hoje mistura diversos estilos arquitetônicos, desfi-gurados de sua concepção original, mas ainda importante, signifi-cativa e bela.

Nesta edição, o Guia Cultural do Rio de Janeiro não apenas retrataa Cinelândia como a reverencia. Palco de diversos movimentos so-ciais, culturais, políticos e, porque não, da boemia carioca, aCinelândia é, definitivamente, um grande marco cultural do Rio deJaneiro.

A partir deste número, o Guia Cultural do Rio de Janeiro estarápresente em diversos vôos nacionais da VARIG com destino ao Riode Janeiro, visando motivar os visitantes a conhecer o que aambiência cultural desta cidade tem de melhor. À VARIG os nos-sos agradecimentos pelo apoio e, principalmente, pela sensibilida-de em compreender a importância de ampliar o alcance desta ini-ciativa cultural.

A PETROBRAS, ao anunciar no Guia Cultural do Rio de Janeiro,viabilizando sua edição e circulação, mais uma vez reafirma o seu com-promisso para com a cultura nacional, iniciativa que em nome de nossosleitores agradecemos. Esperamos que outras empresas realmente com-preendam a importância em apoiar iniciativas efetivamente culturais eque sejam destinadas ao grande público.

E, mais uma vez, agradecemos aos nossos leitores que acredi-tam, incentivam e apóiam o nosso trabalho, desejando a todosuma ótima leitura.

Regina LimaPresidenteCâmara de Cultura

EditorialFazer esta edição do Guia Cul-tural do Rio de Janeiro fo i t a -re fa da s ma i s prazerosas. Co-nheço a Cinelândia há muitosanos e sou admirador daquelepedaço, onde o Rio é mais ca-rioca. Tudo ali me remete a umtempo que sequer vivi. Aquelequadrilátero está impregnado dariquíssima história desta cidadeque amo tanto e que um dia jáfoi Capital da República.

Caminhar pelas quatro ruas —Passeio, Rio Branco, SenadorDantas e Almirante Barroso —é voltar no tempo. A históriaestá encravada ali. Nos prédi-os, nos bares, nos teatros ec inemas. Calçadas cheias echope gelado. Na Cinelândia,as diferenças desaparecem. Osvários credos, as diferentesor ientações sexuais e raçasconvivem harmonicamente. Lánão existem tribos. Todos sãoda mesma tribo. A tribo dos ca-riocas felizes.

Mas por trás dessa felicidadeexiste um lado que assusta e en-tristece quem passa por lá.Meninas ainda com peitinhos depitomba, como dir ia ChicoBuarque, e meninos imberbes,entregues ao deus-dará, se es-praiam por todos os cantos. Fur-tos e drogas fazem parte do dia-a-dia do bairro. Há perigos naCinelândia. Mas o que importa.A cidade inteira está cheia de-les. O carioca tem a saborosavocação de superar adversida-des com alegria. E a Cinelândiaé assim: um micro-cosmo fiel denossa cidade.

Como na letra de um funk, ali, naCinelândia, eu quero mesmo é serfeliz, andar tranqüilamente na Ci-dade em que nasci.

Carlos MonteiroEditor

O Guia Cultural do Rio de Janeiro é uma publicação da Câmara de Cultura

REGINA LIMADiretora Executiva

CARLOS MONTEIRO(MTB 3455/2001)Editor e Jornalista Responsável

EDUARDO PEIXOTO / ANDREZA CONDÉProgramação Visual

HENRIQUE CORTEZFotógrafo

ADILSON DOS SANTOSRevisor

Impressão: PRIME PRINTERS EDITORAE GRÁFICA LTDA.

Tiragem: 10.000 exemplares

Câmara de CulturaRua São José nº 90, 11º andar,Grupo 1.106, Centro, RJCEP 20-010-020Telefone (21) 2215 5515Fax (21) 2215 [email protected]

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Cinelândia 3

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

Cinelândia4

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

Câm

ara

de C

ultu

raTeatro Rival55555

66666Biblioteca Nacional

88888 Museu Nacional deBelas-Artes

Theatro Municipal

1212121212 Centro CulturalJustiça Federal

1616161616Crônicas

1818181818Agenda Cultural

...

...

...

...

1010101010...

...

Caros Leitores,

Se Ipanema e Leblon têm o metro quadrado mais caro do Rio, a Cinelândia,sem dúvida, tem o metro quadrado mais culto da cidade. No quadriláteroformado pelas ruas do Passeio, Almirante Barroso, Rio Branco e SenadorDantas o carioca respira arte. Dos suntuosos prédios do Theatro Munici-pal, da Biblioteca Nacional e do Museu Nacional de Belas-Artes, passan-do pelo descontraído salão da Cordão da Bola Preta, até a efervescênciapolítica, e os bares lotados, tudo está ali.

Essa vocação cultural vem de muito longe. Ainda na época dos bondes, opovo vinha de toda parte da cidade para se encontrar na Cinelândia. Lu-gar dos melhores e mais modernos cinemas do Rio, que acabou por darnome ao bairro. Mas, durante o século XIX, quem dava as cartas da cultu-ra era a Rua do Ouvidor. Somente no começo do século passado é que ofamoso quadrilátero começou a ocupar o posto de capital cultural da cida-de. Isso graças à visão empreendedora de Francisco Serrador, que transfe-riu para lá os principais cafés e confeitarias da cidade.

A integração dos símbolos culturais republicanos da época de PereiraPassos, como o Theatro Municipal, a Biblioteca Nacional e o MuseuNacional de Belas-Artes, com os empreendimentos de Serrador, foifundamental para transformar a Cinelândia no coração cultural doRio de Janeiro. Ela passou, então, a ser o principal palco de toda equalquer manifestação político-cultural. Tudo que ocorria e ocorre nestelugar ganha outra dimensão.

As escolas de samba, por exemplo, surgem para o grande público noinício da década de 30, desfilando na Praça XI. Mas elas almejavammesmo era alcançar o altar-mor do carnaval carioca: a Cinelândia, ondeos Ranchos e as Grandes Sociedades já marcavam época, desde ainauguração da Avenida Central, hoje Rio Branco. Só em 1957 é queas escolas conseguiram seu intento. E, nos primeiros quatro anos dedesfile, deu águia na cabeça. A Portela foi tetracampeã. Depois, sóvoltou a conquistar um título em 62, no último desfile feito na Cinelândia.E foi no quadrilátero mais famoso do Rio que as escolas de samba seconsolidaram como a maior atração do carnaval carioca.

Seis anos mais tarde, a praça entraria definitivamente para a históriapolítica do País. Em 1968, artistas, jovens universitários e a intelectualidadecarioca se uniram em uma manifestação que seria o marco da luta contraa ditadura militar: a Passeata dos Cem Mil. Depois de percorrer toda aAvenida Rio Branco, a manifestação terminou na Cinelândia, com discursosinflamados. Mas, antes disso, o local já havia sido palco de inúmerasatividades políticas. O que o transformou em uma espécie de territóriolivre da luta pela democracia. Foi assim durante a campanha por eleiçõesdiretas e pelo impeachment do ex-Presidente Fernando Collor, só paracitar dois exemplos da nossa história recente.

A Cinelândia também abrigou, e ainda abriga, atores de suma importânciapara a vida política brasileira. De 1924 a 1927 a Câmara dos Deputadosfuncionava dentro da Biblioteca Nacional. Entre 1925 e 1960, o PalácioMonroe, já demolido, foi sede do Senado Federal. E, desde 1922, aCâmara dos Vereadores ocupa o Palácio Pedro Ernesto, também, comoos anteriores, localizado na Cinelândia.

Tradição, democracia, arte, cultura e irreverência. Essas quatro palavrasdefinem muito bem a Cinelândia, patrimônio do povo brasileiro edo carioca em particular.

Carlos MonteiroVice-PresidenteCâmara de Cultura

Índ ice

Cinelândia 5

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

Rival

O Teatro Rival, que no dia 22 de março deste ano

completou 70, nasceu destina-do ao sucesso. Em 1934, eleabria suas portas pela primei-ra vez ao público. Em cartaz,Amor, de Oduvaldo Vianna,encenada pela própria compa-nhia do dramaturgo. A obra fi-cou três meses em cartaz, pro-vando que a escolha havia sidocerteira. Foram nada mais,nada menos, do que 200 apre-sentações, com elogios da crí-tica especializada.

Daí em diante, o Rival passoua ser uma espécie de bastiãoda resistência cultural brasi-leira, e carioca em especial.De 1936 a 1953, grandes com-panhias fizeram temporadasinesquecíveis em seus palcos.Desde então, tudo o que demelhor se produzia em maté-ria de teatro tinha de passarpor aquele palco.

Desgastado pelo decorrer dosanos, o Rival passou por umaprofunda reforma, reabrindoas suas portas em 1975. Só

que, agora, fora transforma-do em Café Concerto, commesas e capacidade para 450pessoas. Em 1992, a atrizÂngela Leal, então presidenteda Associação dos Amigos daCinelândia, passa a dirigir acasa de espetáculos. Manten-do a tradição de ser porta-vozda resistência da cultura na-cional, o teatro envereda nocampo da música. Nesses 12anos, quase todos os intérpre-tes da MPB, assim como osnovos valores da nossa músi-ca, por lá passaram.

Como se não bastassem osshows memoráveis de nossosastros, muitos desses artistasgravaram ao vivo ou lançaramseus CDs no palco do Rival. Nasnoites de shows a Rua AlcindoGuanabara, onde está locali-zado, transforma-se em umaautêntica passarela. Não énada incomum ver as estre-las dos espetáculos saborean-do uma deliciosa batida ou umchope geladinho no Bar e Bo-tequim Carlitos, que fica emfrente ao teatro.

RivalTEATRO

Cinelândia6

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

O prédio que hoje abriga a Biblioteca Nacional, que

mistura elementos neoclás-sicos e art-nouveau, projeta-do pelo engenheiro FranciscoMarcelino de Souza Aguiar, foiinaugurado em 29 de outubrode 1910. Porém, sua históriacomeçou bem antes. O ponto

Imagem parcial da fachada daBiblioteca Nacional, comclara inspiração neoclássica

Biblioteca Nacional

Cinelândia 7

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

de partida da oitava maior bi-blioteca do mundo data de pri-meiro de novembro de 1755,quando Lisboa foi sacudida porum violento terremoto, queacabou destruindo a Real Bibli-oteca, também conhecidacomo Real Livraria.

Como era grande o interessedos soberanos da Terrinha pe-los livros, a corte determinoua recomposição imediata daReal Biblioteca como uma ta-refa emergencial, após o ter-rível abalo sísmico. Embora

poucos, os livros que sobrarameram preciosos. Por isso, umanova biblioteca passou a ser or-ganizada na Rua da Ajuda, nacapital portuguesa. Em 1807,a Real Biblioteca da Ajuda reu-nia aproximadamente umas 60mil peças, entre livros, manus-critos, gravuras, mapas, mo-edas e medalhas. A partir de

1808, todo este acervo come-çaria a ser trazido para o Bra-sil, com a transferência daFamília Real para cá, que fugiadas tropas de Napoleão.

Inicialmente, a biblioteca foiacomodada no Hospital da Or-dem Terceira do Carmo, loca-lizado na rua de mesmo nome.O local foi considerado inade-quado para abrigar tão valio-so tesouro e, no dia 29 deoutubro de 1810, data atribu-ída à fundação oficial da Bi-blioteca Nacional, o prínciperegente determinou a constru-ção de um novo prédio paraacomodá-la no local que ha-via servido de catacumba paraos religiosos do Carmo. Masa transferência do acervo sóse concretizaria em 1813. Umano depois foi que, finalmen-te, o povo pôde ter acesso atão importante material artís-tico e cultural.

O acervo da biblioteca não pa-rava de crescer. Tanto que em1822, após a independência,o Império do Brasil pagou 800contos de réis para que elacontinuasse por aqui. Ela pas-sou a se chamar, então, Bibli-oteca Imperial e Pública daCorte. De tão grande em vo-lume de itens, a biblioteca foitransferida mais uma vez e foiocupar o número 60 da Rua doPasseio, no mesmo prédioonde hoje funciona a escolade música da UFRJ.

O crescimento contínuo exigiua construção de um novo pré-dio para melhor abrigar as co-leções da BN. O PresidenteRodrigues Alves assim o fez.No dia 15 de agosto de 1905ele lançou a pedra fundamen-tal do projeto idealizado peloengenheiro Francisco Marce-lino de Souza Aguiar. Misturan-do ornamentos de artistascomo Visconti, Henrique eRodolfo Benardelli, ModestoBrocos e Rodolfo Amoedo, oprojeto só foi concluído cincoanos depois, no governo deNilo Peçanha. Assim, no dia 29de outubro de 1910 foi inau-gurado o prédio da BibliotecaNacional, que até hoje enchede orgulho a todos que pas-sam na Cinelândia.

Em 1990 a BN foi transforma-da em fundação de direito pú-blico, vinculada ao Ministérioda Cultura, e absorveu partedas atribuições do Instituto Na-cional do Livro, extinto naque-le ano. Como centro de infor-mações bibliográficas e docu-mentais, atua como bibliote-ca sem fronteiras, tornandoseu acervo disponível a pes-quisadores do Brasil e do ex-terior. Em seu prédio-sede,atende a cerca de 15 mil usu-ários por mês.

Sem dúvida, mais do que mo-tivo de orgulho, a BibliotecaNacional é um patrimônio dahumanidade. Vida longa à BN.

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

Cinelândia8

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

Fachada do Museu Nacional de Belas-Artes,em processo de restauração e modernização com apoiodo BNDES, da CEF e da PETROBRAS

A Cinelândia, definitivamente, sabe misturar o

clássico e o popular. E a par-cela erudita deste lugar estámuito bem representada peloMuseu Nacional de Belas-Artes.Criado pela Lei nº 378 de ja-neiro de 1937 e inaugurado nodia 19 de agosto do ano seguin-te, o MNBA possuiu a maior co-leção de arte do século XIX. Ele,desde sua criação, instalou-seno prédio da Escola Nacional deBelas-Artes. De estilo fin-de-

Museu Nacionalde Belas-Artes

Cinelândia8

Cinelândia 9

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

siècle, com algumas caracte-rísticas neoclássicas, este pré-dio, localizado na Avenida RioBranco, 199, foi projetado porAdolfo Morales de Los Rios,um dos mestres da Escola Na-cional de Belas-Artes.

Assim como a da BibliotecaNacional, a história do MNBAcomeçou bem antes de suafundação. Ela teve origem em1816, quando Joachim Lebre-ton, chefe da Missão Artísti-ca Francesa, chegou ao Bra-sil. Na bagagem, trouxe suapequena coleção de quadrose resolveu doá-la ao Impériodo Brasil. Esse acervo cres-ceu, e muito. Entre pinturas,esculturas, arte sobre papele mobiliário, o Museu Nacio-nal de Belas-Artes possui 15mil peças, dispondo da histó-ria completa das artes plás-ticas do Brasil, desde quan-do ainda engatinhávamosnessa manifestação artísticaaté os d ias atuais. V itorMeirelles, Pedro Américo,Almeida Júnior, Rodolfo Amo-edo, Zefer ino da Cos ta ,Rodolfo Bernardelli e EliseuVisconti, entre outros gran-des nomes da pintura brasi-leira do século passado, es-tão eternizados nas galeri-as do museu.

Mas nem só de Brasil é feita aexuberância artística do acer-vo do Museu Nacional de Be-las-Artes. Valiosos artistas es-trangeiros se fazem presente.As 20 paisagens do pintor pré-

impressionista francês Louis-Eugène Boudin, as oito exube-rantes paisagens de Pernam-buco do pintor holandês doséculo XIX Frans Post tambémestão lá. Além delas, inúme-ros trabalhos de mestres fran-ceses e italianos dos séculosXVII, XVIII e XIX fazem partedo acervo do MNBA.

Juntamente com os estrangei-ros, grandes nomes da pintu-ra moderna brasileira têm seustrabalhos expostos nos gran-des salões do museu. Quemquiser ver quadros de Portinari,Di Cavalcanti, Djanira, Tarsilado Amaral, Goeldi, CíceroDias, Iberê Camargo e mui-tos outros basta dar umachega-dinha até a Cinelândia.

A Galeria Nacional do séculoXIX tem dois mil metros qua-drados de área e oito metrosde pé- direito. É justamenteeste espaço que abriga umdos orgulhos do Museu Naci-onal de Belas-Artes: acervobrasileiro dos séculos XVII,XVIII e XIX. É exatamentenesta galeria que se encon-tram os monumentais Bata-lha do Ava í , de PedroAmérico, e Batalha dos Gua-rarapes, de Vitor Meireles.Com 50 metros de área cadaum deles, as obras estão in-cluídas entre as quatro mai-ores pinturas de cavalete domundo. Quem visitar a Ga-leria Nacional do Século XIX,que conta com cerca de 200trabalhos, entre pinturas e

esculturas, fará uma viagempor toda história da produ-ção artística brasileira.

No andar térreo do museu, ojardim do pátio externo comassinatura de Burle Marx e ogrande painel de azulejos deDjanira dão um toque todo es-pecial ao local, que esbanjabrasilidade. É lá que estão aarte indígena, feita antes dodescobrimento, e a africana.Já no segundo andar, barrocoitaliano e sala para exposiçõestemporárias. Mas é no tercei-ro piso que está a maior partedo acervo do MNBA. Dividindoeste pavimento com a GaleriaNacional do Século XIX está aGaleria Nacional do Século XX,com as produções dos artistasplásticos modernos. Um andaracima, no quarto pavimento,a Galeria do Século XXI, com aprodução contemporânea.

Além de quadros, esculturas egravuras, o Museu Nacional deBelas-Artes também conta comuma biblioteca. Com cerca de13 mil títulos, ela se restrin-ge basicamente a assuntoscomo artes plásticas, arquite-tura, museologia, história doBrasil e da Cidade do Rio deJaneiro e também tem um bomnúmero de biografia de artis-tas plásticos brasileiros. Aparte au-diovisual tem apro-ximadamente 12 mil slides, 50vídeos e umas 500 fitas cas-setes com a gravação de pa-lestras e depoimentos.

9Cinelândia

Cinelândia1 0

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

Se for feita uma lista com osdez mais bonitos prédios da

cidade, entre os cariocas, comcerteza, em praticamente toda ela,constará o nome do Theatro Mu-nicipal — assim mesmo, com h,bem de acordo com o portuguêsda época de sua inauguração. En-tregue ao público em 14 de julhode 1909, o teatro é a principal casade espetáculos do Brasil.

Inspirado na Ópera de Paris, oprojeto arquitetônico foi con-cebido por Francisco Oliveira

Passos com a colaboração deAlbert Guilbert. A idéia da cons-trução do Theatro Municipalpartiu de Pereira Passos, en-tão prefeito da Cidade do Riode Janeiro. Passos pensou emcriar um teatro que fosse a jóiarara do processo de transfor-mação urbanística a que foisubmetido o Rio, no início doséculo passado.

Para se ter uma idéia do re-quinte da construção, todo omaterial nela utilizado foi im-portado da Europa. Exuberan-te, o Municipal, como é cha-mado pelo povo do Rio de Ja-neiro, conta, na sua estrutu-ra, com mármore de carrara,ônix, bronze, cristais, espelhostambém de cristais, mosaicos

e vitrais, entre outros mate-riais. Assim como estes ele-mentos, toda a maquinaria depalco também foi importada doVelho Continente. A exemplo doque ocorreu na Biblioteca Na-cional, os artistas El iseuVisconti, Rodolfo Amoedo eRodolfo Bernardelli tambémcriaram as esculturas e pintu-ras que ornamentam a sala deespetáculos, a fachada e asáreas de circulação do teatro.

Nas duas primeiras décadas, oMunicipal era um teatro des-tinado quase que exclusiva-mente a companhias estrangei-ras, vindas, principalmente, daItália e da França. Somente apartir de 1930 é que ele come-çou a ter seus próprios corpos

TheatroMunicipal

Cinelândia1 0

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

Cinelândia 1 1

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

Acima, detalhe da fachada do Theatro Municipal doRio de Janeiro.Abaixo, Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

artísticos. A orquestra, o coroe o balé passaram a ser forma-dos por brasileiros. Motivo deorgulho, o Municipal é a únicainstituição cultural brasileira amanter simultaneamente umcoro, uma orquestra sinfônicae uma companhia de balé.

Tran s fo rmadoem fundação, oTheatro Munici-pal, hoje admi-nistrado pelo go-verno do Estadodo Rio de J a -ne i ro, já pas-sou por diver-sas reformase r e s t au r a -ções. A princi-pa l de las o -c o r r eu e m

1934. Com o crescimentopopulacional da cidade, a ca-pacidade da casa de espetácu-los precisou ser ampliada. Foientão que o Prefeito PedroErnesto convocou Roberto DoyleMaia para executá-la. Além daampliação da boca de cena,mais 466 lugares foram cria-dos. Além disso, 23 telefonesforam instalados, assim comoum novo sistema de ar-condi-cionado e uma nova instalaçãode combate a incêndio.

Em 1941, uma nova reforma.Embora menor, ela também foide grande importância para apreservação deste monumen-to histórico e arquitetônico.Ele ganhou uma nova pinturae poltronas, dois elevadores eum novo assoalho para a ins-talação de frisas e foyer. As

baterias elétricas e as insta-lações de luz e força tambémforam substituídas.

A primeira obra de restaura-ção do teatro ocorreu de 1976a 1978. Com a intenção detorná-lo mais moderno, semperder as suas característicashistóricas e arquitetônicas deseu projeto original, todas asesquadrias, portas e janelasforam restauradas. A parte ex-terna do teatro foi lavada comprodutos químicos neutros, quelhe devolveram a coloração ori-ginal, desbotada pelo efeitodos anos e da poluição. Aindadurante este processo de res-tauração, o palco ganhou umelevador monta-cargas para ce-nários, uma sala de afinaçãoe aquecimento, e um sistemade isolamento acústico.

Cinelândia 1 1

Cinelândia1 2

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

Autor de 21 projetos para aAvenida Central, a atual

Avenida Rio Branco, foi AdolfoMorales de Los Rios quem ide-alizou o prédio que por 50 anosfoi a sede do Supremo Tribunal.De estilo eclético, o edifício, quehoje abriga o Centro CulturalJustiça Federal, foi um dosmarcos das obras do PrefeitoPereira Passos. Inaugurado em1909, depois da transferênciada capital federal para Brasília,ele passou a ser a sede do Tri-bunal de Alçada do Rio de Ja-neiro. Em 1973, é ocupado pelaJustiça Federal e pela Procura-doria da República.

Interditado em 1988, sob ris-co de desabamento, uma vezque as estruturas de madeiraestavam infestadas de cupins,só em 1994 é que foram inici-adas as obras de restauraçãodo edifício. Isso porque haviaduas correntes de pensamentoentre os magistrados. A primei-ra defendia a demolição do pré-dio histórico para erguer umnovo em seu lugar, já que a Jus-tiça Federal precisava de no-vas acomodações. A segundacorrente preferia a restauraçãopara transformar o prédio emmuseu do Judiciário. Após in-tenso debate, a idéia da res-tauração venceu e, em vez de

museu, a construção passou aabrigar o Centro Cultural Jus-tiça Federal, inaugurado em 4de abril de 2001. E a emprei-tada não foi nada fácil, umavez que este projeto é consi-derado a maior obra de res-tauração da América Latina.

Mas valeu esperar tanto tem-po. Importante representan-te da arquitetura eclética,predominante no Brasil doséculo passado, o prédio en-canta os visitantes com suasportas talhadas em madeirapelo português Manoel Ferreira

Centro CulturalJustiça Federal

Tunes, um dos principais artis-tas da época, com a escadariaem mármore de carrara e ferrotrabalhado, vindos da Escócia,com os dois torreões gêmeos notelhado, com os alto-relevos,com os vitrais e com as pintu-ras decorativas.

A sala de sessões é um capítu-lo à parte. Os vitrais retratama deusa grega Têmis, que per-sonifica a Lei Eterna ou Divi-

Visão parcial da fachada doCentro Cultural Justiça Federal,em foto de João Coelho

Cinelândia 1 3

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

Paraense de Belém, o desembargador Paulo Freitas Barata é odiretor geral do Centro Cultural da Justiça Federal. Magistradodesde 1974, ele foi um dos mais atuantes na discussão sobre oque seria feito com o prédio da Justiça Federal, inter-ditado em 1988. Juntamente com outros companhei-ros de magistratura, acabou por vencer a disputa in-terna e, em vez da demolição do prédio nº 241 da AvenidaRio Branco, transformou o suntuoso edifício em cen-tro cultural. “Nossa intenção é integrar ainda mais oPoder Judiciário à sociedade, através da cultura”, revelao desembargador, em entrevista exclusiva ao Guia Cul-tural do Rio de Janeiro.

Além de abrir as portas do Judiciário para o povo, PauloFreitas Barata busca também atuar de forma integrada com“os vizinhos ilustres” — Theatro Municipal, Biblioteca Na-cional e Museu Nacional de Belas-Artes. Preocupado com adegradação social e urbanística da Cinelândia, espera con-tar com a colaboração do poder público para que ocorra umprocesso de revitalização do local. Além disso, acabou defechar uma parceria com a UniverCidade e a ONG Círculodos Amigos do Menino Patrulheiro, cujo objetivo é transfor-mar meninos de rua em guias culturais.

EntrevistaDr. Paulo Freitas BarataDIRETOR GERAL DO CCJF

na. A ela é atribuída a invenção dos oráculos, dos ritos e das leis. Outrosvitrais que deixam os visitantes boquiabertos por sua riqueza de detalhessão os de Justiniano e de John Marshall. Imperador da Roma Oriental, em395 d.C., Justiniano é o pai do que se pode chamar de o Direito Romanopropriamente dito. Já Marshall, que aos 20 anos ingressou no exército deGeorge Washington, para lutar como tenente na guerra da independênciaamericana, estabeleceu os princípios básicos do direito constitucional ame-ricano, como o da separação dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Além de tamanha suntuosidade, o Centro Cultural Justiça Federal prima pelaexcelência em sua programação. Quem estiver ali pelas bandas da Cinelândianão pode deixar de dar uma passadinha por lá. Nem que seja para conferirapenas a beleza do local e, de quebra, conhecer um pouquinho mais da his-tória de nossa arquitetura eclética, tão comum no século passado.

Dr. Paulo Barata, Diretor Geral doCentro Cultural Justiça Federal,

em foto de Glória Horta

Cinelândia 1 3

Cinelândia1 4

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

Entr

novo centro cultural. Foi di-fícil torná-lo presente namídia e nas rodas de cultu-ra. Tínhamos de deixar cla-ro que não se tratava de umaaventura. Felizmente, hoje,acreditamos que já estamosinseridos no contexto da vidacultural da cidade.

GC — Como o senhor vê a atu-al cena cultural brasileira?

PB — Vejo que existe um inte-resse muito grande da socie-dade nas atividades artísticase culturais. Muitas pessoas nosprocuram querendo executar osseus projetos. Só que nós nãopodemos atender a todas elas.Além da falta de recursos, fal-ta também espaço. A nossaagenda, felizmente, estálotada.

GC — Já que não há recur-sos e nem espaço, de quemaneira o Centro CulturalJustiça Federal pode ajudaressas pessoas?

PB — Na semana passada, re-alizamos aqui um seminário so-bre as leis de incentivo à cul-tura. Foi a maneira que encon-

Guia Cultural — Como surgiua idéia e quais as dificuldadesencontradas para transformaro prédio da Justiça Federal emum centro cultural?

Paulo Barata — Primeiro, de-moramos um tempo para de-cidir o que seria feito com oprédio, que estava totalmen-te deteriorado. Um grupo demagistrados queria a demoli-ção para construir um prédionovo, com o intuito de abri-gar a Justiça. Outro grupo, noqual me incluía, optava pelarestauração. Inicialmente,pensávamos em criar um mu-seu neste espaço. Com o pas-sar do tempo amadurecemosa idéia de transformá-lo emum centro cultural, vivo e di-nâmico, buscando a inclusãosocial e integrar o Poder Ju-diciário com a sociedade.

GC — Como se chegou a esteformato de centro cultural?

PB — Eu ainda era presidentedo tribunal quando apresen-tei os primeiros projetos,através do Conselho da Jus-tiça Federal, em Brasília. Foiaí que fixamos a idéia da res-

tauração. Depois, na gestão dadoutora Julieta Lídia Lunz, foiconseguido o patrocínio daCaixa Econômica Federal, queentrou com os recursos. Já acoordenação do processo derestauração ficou a cargo daFundação Herbert Lévy. Naterceira fase, já com a restau-ração quase toda pronta, é queo prédio foi inaugurado.

GC — Como assim com a res-tauração quase concluída? Oprédio ainda não está pronto?

PB — A grande parte da res-tauração, é claro, já foi todaterminada. Mas ainda faltampequenos detalhes, alguns re-toques, digamos.

GC — Qual foi a maior dificul-dade encontrada pelo senhorpara concluir o projeto do Cen-tro Cultural Justiça Federal?

PB — Primeiro, o projeto ain-da não está conc lu ído.Estamos satisfeitos com osresultados obtidos até agora,mas ainda estamos buscandoo melhor caminho. Mas, semdúvida, a maior dificuldade foifixar a idéia de que havia um

Cinelândia 1 5

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

revista

tramos para ajudá-las. As pes-soas precisam saber onde ecomo conseguir recursos, jáque as leis brasileiras lhes dãoessa possibilidade.

GC — Na sua opinião, quais ospontos positivos e negativos daCinelândia?

PB — A Cinelândia é um lugarótimo, com tradição boêmia ecultural. É o coração do cen-tro da Cidade do Rio de Janei-ro. E, além de perto da saídado Metrô, estamos cercados devizinhos ilustres, como oTheatro Municipal, a Bibliote-ca Nacional e o Museu Nacio-nal de Belas-Artes. Mas o lo-cal precisa ser revitalizado.Aqui, temos um sério proble-ma de segurança pública. Apraça está cheia de menoresabandonados, cheirando cola.A praça está feia.

GC — Mas com tantos vizi-nhos ilustres, como o senhormesmo disse, não era paraser diferente?

PB — A idéia que ainda estamostentando viabilizar é a de atu-armos conjuntamente com as

outras instituições culturaisaqui da Cinelândia. Queremosrealizar atividades coordena-das, ações conjuntas, comhorários compatíveis para quea pessoa venha para cá e pos-sa passar o dia inteiro. Mas,para isso, precisamos que obairro seja revitalizado, comrestaurantes requintados enova urbanização. A Cinelândiatem um aspecto parisiense quepoderia ser mais bem explo-rado. Isso seria maravilhosopara a cidade. Temos de trans-formar esse espaço em umorganismo vivo.

GC — O senhor tocou em umtema que aflige a todos os bra-sileiros, que é a questão dosmenores abandonados. Existealgum projeto do Centro Cul-tural Justiça Federal para ten-tar contribuir com a melhoriadas condições de vida dessascrianças e adolescentes?

PB — Quando pensamos emcriar o centro cultural, ide-alizamos que ele seria pau-tado, também, em ações so-ciais. Por isso, f irmamosuma parceria com a Vara daInfância e da Juventude,

Uni-verCidade e a ONG Cír-culo dos Amigos do MeninoPatrulheiro (Camp). A idéiaé transformar, a partir doano que vem, menores emguias culturais. Eles serãoresponsáveis por acompa-nhar os nossos visitantes,contando a história do pré-dio. Depois, a nossa idéiaé entrar em contato com osnossos vizinhos ilustres eestender este trabalho so-cial até eles.

GC — De que maneira esses me-ninos serão retirados das ruas?

PB — Da seguinte forma: aVara da Infância e da Juven-tude encaminha esses meno-res até o Camp, que dá otreinamento necessário. De-pois, eles serão conduzidosaqui para o centro cultural ecomeçarão a desenvolver aatividade de guias. Os quedemonstrarem interesse aUniverCidade se comprometea dar bolsas de estudo. Pos-teriormente, queremos darcursos de profissões ligadasà arte, como técnico de ilu-minação, por exemplo, aquimesmo no Centro Cultural.

Cinelândia1 6

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

C

CinelândiaCRÔNICAS

Cinelândia1 6

A década de 80 mal come çara e eu, saindo da adolescência, fi-

cava encantado com a conversa domeu pai com meus tios, sobre asnoites de alegria que eles passaramna Cinelândia. Imaginava ser um lu-gar repleto de cinemas, é lógico, emais nada. Aos poucos, fui descobrin-do que aquele lugar era mais. Tinhaum encanto, uma certa magia, quetranscendia o mundo dos pobres mor-tais. “Os bares na Cinelândia não fe-chavam”, dizia um velho tio, na ver-dade tio de meu pai, com aquelebigodinho fininho, bem comum aos ma-

Cinelândia 1 7

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

Cinelândia

Monumento ao Marechal Floriano Peixoto,com o Theatro Municipal ao fundo

pouca violência. As mães po-diam dormir tranqüilas enquan-to seus filhos descobriam omundo, a noite e seus misté-rios. Antes de entrar no ôni-bus, um cachorro-quente. Odinheiro era curto e mal davapara dividir uma pizza. Jo-vens, economizávamos na co-mida para tomar uns goles amais. Dentro do ônibus, a ca-beça era só sonhos e maisnada. O medo era apenas o deacabar por não conseguir mu-dar o mundo.

Veio a luta por eleições dire-tas e aí a Cinelândia entrou de-finitivamente para o meu ima-ginário, como o lugar de ondeseria deflagrada a mudançapolítica do país. Pelo menos da-quele pequeno país existenteem minha cabeça. Um país ima-ginário, sem miséria, cheio desonhos e liberdade. Continueia freqüentar aquela velha e boapraça por mais uns bons anos,com alguns amores.

Hoje muita coisa mudou. Alémdo Amarelinho, tem o Verdinho,o Vermelinho e seus pares. Vá-rios cinemas desapareceram.Viraram igrejas, sei lá. OTanagrá, campeão das batidas,também foi para o espaço. Maso velho Carlitos continua a re-gar o sonho de muita gente

com um chope bem tirado e ge-lado. O ônibus que me levavade volta ao subúrbio tambémestá lá. Mas quem se atreve acruzar a Avenida Brasil emtransporte coletivo, de madru-gada? Verdadeiramente muitacoisa mudou.

Quando comecei a freqüentara Cinelândia, meu pai e meustios diziam que ela já não eramais a mesma. O PalácioMonroe, demolido em 1975, jánão estava mais lá, é verda-de. Mas o encanto permane-cia. Ela hoje também não émais igual a quando davameus primeiros goles, longe dabarra da saia da minha mãe.A violência aumentou, e odinheiro continua escasso.Mas os teatros Rival e Dulcinaestão lá, firmes e fortes.

Eu também mudei é verdade,como meus amigos também. Acidade inteira mudou. Mas elasobrevive. A Cinelândia conti-nua encantando. Basta dar umapassadinha por lá nas noites desexta-feira. Gente nos bares,saindo do Municipal. Gentebem vestida e outras nem tan-to. Gente, gente, gente. Mui-ta coisa mudou, é verdade, maso encanto permanece. A Cine-lândia nunca mais deixará deser a velha e boa Cinelândia.

landros das décadas de 40 e 50.

Eu, garoto curioso, cheio deidéias e ideais, ansiava pelodia de poder conhecer aque-le lugar com jeito de paraí-so. Lembro direitinho a pri-meira vez que ali cheguei.Tinha eu uns 19, 20 anos. Odestino foi o bar Amarelinho.Começava a dar os primeirospassos na política. Um ami-go, mais experiente — já davaaté aulas particulares paraalunos do Segundo Grau,como era chamado o EnsinoMédio naquela época —,foilogo se apressando em dizer:“é aqui que fazemos a ver-dadeira política”.

Estranhei que coisa tão sériase fizesse assim, na calçada,entre goles de chope e petis-cos. A ditadura ainda dava oar de sua (des) graça. E as-sim a noite foi passando, comar de morena marota, que en-canta. A madrugada chegou.“Como voltar para casa, nolongínquo subúrbio?”, pergun-tei. “É fácil”, respondeu debate-pronto um outro amigo,vizinho de bairro. “Tem umônibus que faz ponto finalaqui pertinho, logo ali, na Ruado Passeio.”

Os tempos eram outros, de

Cinelândia1 8

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

○ ○ ○ ○ ○

22222 33333

44444

AAAAAGENDAGENDAGENDAGENDAGENDA CCCCCULTURALULTURALULTURALULTURALULTURAL

Biblioteca NacionalBiblioteca NacionalBiblioteca NacionalBiblioteca NacionalBiblioteca NacionalOitava maior biblioteca do mundo

e maior biblioteca da América Lati-na, o

riquíssimo acervo da Biblio-teca Nacional

tem como origem

a Real Biblioteca, trazida por D. João VI

durante a vinda da Corte de Portugal para

o Brasil, em 1808. O acervo primitivo

era composto de 60 mil peças, entre

livros, manuscritos, estampas, mapas,

moedas e medalhas.

Av. Rio Branco, 219 — Tel.: 2262-8255Funcionamento: de segunda-feira asexta-feira, das 9h às 22h,e sábados, das 9h às 15h.

Centro Cultural Justiça FederalCentro Cultural Justiça FederalCentro Cultural Justiça FederalCentro Cultural Justiça FederalCentro Cultural Justiça FederalTambém projetado por Adolfo

Morales de Los Rios o prédio era

para ser o Palácio Arquiepiscopal

da cidade. Mas o clero preferiu

se instalar na Glória, e a bela

construção, inspirada numa igreja

parisiense, acabou sendo uti l izada

11111Teatro MunicipalTeatro MunicipalTeatro MunicipalTeatro MunicipalTeatro MunicipalInaugurado em 14 de julho de 1909, o Theatro

Municipal é considerado a segunda principal

casa de espetáculos da América do Sul.

A primeira é o Colón, de Buenos Aires.

Praça Marechal Floriano, s/nºTel.: 2220-3648

como sede do Superior Tribunal

Federal, que lá permaneceu até

a transferência da capital para

Brasíl ia, em 1960.

Avenida Rio Branco, 241Tels.: 2510-8848/2510-8846Funcionamento: de terça-feiraa domingo, das 12h às 19h.

M N B AM N B AM N B AM N B AM N B AMuseu Nacional de Belas-ArtesMuseu Nacional de Belas-ArtesMuseu Nacional de Belas-ArtesMuseu Nacional de Belas-ArtesMuseu Nacional de Belas-ArtesProjetado por Adolfo Morales de

Los Rios, o prédio renascentista,

criado em 1937, foi inspirado na

ala Visconti do Museu do Louvre,

de Paris. Inicialmente, foi ocupado

pela Escola Nacional de Belas-Artes.

Av. Rio Branco, 199Tel.: 2240-0068Funcionamento: de terça-feiraa sexta-feira, das 10h às 18h, esábados e domingos, das 14h às 18h.

Cinelândia 1 9

CÂMARA DE CULTURA GUIA CULTURAL DO RIO DE JANEIRO

77777

88888

99999

55555 66666Teatro RivalTeatro RivalTeatro RivalTeatro RivalTeatro RivalUm dos principais centros de resistência

cultural da cidade do Rio de Janeiro, o Teatro

Rival foi inaugurado em 1934. Estima-se que

a casa de espetáculos receba anualmente

um público aproximado de 120.000 pessoas.

Rua Álvaro Alvim, 33 — Tel.: 2532-4192

Cordão da Bola PretaCordão da Bola PretaCordão da Bola PretaCordão da Bola PretaCordão da Bola PretaUma das mais tradicionais entidades

carnavalescas da cidade, o Cordão da Bola

Preta teve sua sede carinhosamente chamada

de Quartel-General do Carnaval. Nas festividades

de Momo, o Bola, como é conhecido, toma conta

das ruas da cidade nas manhãs, arrastando uma

multidão de fiéis foliões.

Av. Treze de Maio, 13/3º andar — Tel.: 2240-8049

Palácio Pedro ErnestoPalácio Pedro ErnestoPalácio Pedro ErnestoPalácio Pedro ErnestoPalácio Pedro ErnestoConhecido como

Gaiola de Ouro, o

Palácio Pedro Ernesto,

sede da Câmara de

Vere-adores da cidade

do Rio de Janeiro, foi

construído em 1922,

no mesmo local onde

ficava a antiga sede

da câmara, incendiada

na década de 10.

Praça Floriano, s/nºTel.: 3814-2121

Cine Odeon BRCine Odeon BRCine Odeon BRCine Odeon BRCine Odeon BRInaugurado em 3 de

abril de 1926, o Odeon

foi o último dos quatro

primeiros cinemas do

“Quarteirão Serrador”.

O Cine Odeon tem

duas salas de exibição,

recentemente refor-

madas, graças a uma

bem sucedida parceria.

Praça MahatmaGandhi, 2Tel.: 2262-5089

Cinema PalácioCinema PalácioCinema PalácioCinema PalácioCinema PalácioCom duas salas de

exposição, o Palácio,

assim como o Odeon,

é um dos poucos

remanescentes do

passado glorioso

da Cinelândia.

Rua do Passeio, 38/40Tel.: 2529-4848