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CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL
SOBER NORDESTE Dinâmicas de Desenvolvimento do Semiárido
08 a 10 de novembro de 2018
Juazeiro – BA, 08 a 10 de novembro de 2018.
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
FALHAS NO GERENCIAMENTO DE RISCOS EM PROJETOS DE PEQUENAS
VITICULTURAS
Daniela Ferraz Bacconi Campeche¹*; João Ricardo Lima1, Carlos Roberto Campos2
1 Embrapa Semiárido. Dr. Pesquisadora. Rodovia BR 428, Km 152, s/n – Zona Rural -
CEP 56302-970 - Petrolina, (PE), Brasil 2 Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” (ESALQ/USP) – Professor Associado e Especialista em Gestão de Projetos –
Rua Alexandre Herculano, 120 Sala T6 – Vila Monteiro – CEP 13418-445 - Piracicaba
(SP), Brasil
*autor correspondente: daniela.campeche@embrapa.br
Resumo
A atividade agrícola é considerada um negócio de alto risco devido a incertezas climáticas e de
mercado. Embora consciente destes fatos, o produtor agrícola costuma não exercer práticas de
gestão de riscos em seu empreendimento. Assim sendo, o objetivo deste trabalho foi identificar
as falhas no gerenciamento de riscos em projeto de pequenas viticulturas no Vale do São
Francisco, região nordeste do Brasil. Foi aplicado um questionário online de 10 perguntas para
uma amostra selecionada de produtores com até 15 hectares e que são assistidos por um
profissional técnico na viticultura. Os resultados mostraram que o fator tempo de experiência
na atividade tem mais influencia sobre o gerenciamento de risco do que o fator nível de
escolaridade. Os produtores que têm a viticultura como principal fonte de renda são mais
propensos a utilizar ferramentas de gestão de risco para tomadas de decisão no
empreendimento. Independente do perfil, os produtores sabem quantificar e qualificar os fatores
de risco na viticultura, além de ter percepção da importância destas ferramentas. A percepção
de impacto do uso das ferramentas de gestão de risco foi maior em relação à produtividade do
que em relação às vendas. Os produtores com mais tempo na atividade, tem uma percepção
maior deste impacto. Igualmente, a maioria dos produtores entende que é importante introduzir
a prática do uso destas ferramentas para alcançar seus objetivos. Caso fossem dobrar a área de
produção, a maioria utilizaria uma análise técnica sobre os riscos antes de tomar a decisão final
sobre o investimento
Palavras-chave: pequenos produtores; viticultura; gerenciamento de projetos; agricultura
Abstract
Agricultural activity is considered a high-risk business due to climatic and market uncertainties.
Although aware of these facts, the agricultural producer usually does not practice risk
management in his/hers enterprise. Therefore, the aim of this study was to identify the
shortcomings in risk management in small table grapes farms projects in the São Francisco
Valley, northeast region of Brazil. An online questionnaire of 10 questions was applied to a
selected sample of producers with up to 15 hectares and who are assisted by a technical
professional in table grape farming. Results showed that the time factor of experience in the
activity has more influence on the risk management than the educational level factor. Producers
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who have table grape farms as the main income source are more likely to use risk management
tools for decision making in the enterprise. Regardless of the profile, the producers know how
to quantify and qualify the risk factors in table grapes farms, in addition to being aware of the
importance of these tools. The impact perception of the use of risk management tools was
greater in relation to productivity than in sales. The producers with more time in the activity,
have a greater perception of this impact. Likewise, most producers believe that it is important
to introduce the practice of using these tools to achieve their objectives. If they were to double
the area of production, most would use a technical risk analysis before making the final
investment decision
Key words: small farmers; table grape farms; Project management; agriculture
1. Introdução
A gestão de riscos em projetos agrícolas é uma área de conhecimento, na qual o gerente
de um projeto deve direcionar sua atenção durante a fase de planejamento e execução. Isto
porquê a atividade agrícola é de grande risco. Dentre os principais riscos pode-se citar: preço,
mercado, financeiro, institucional, produção, resultados negativos decorrentes e imprevisíveis
nas variáveis biológicas, climáticas (Pagliuca, 2014; Pereira e Soares, 2017). Estes eventos
podem influenciar o desempenho e produtividade, afetando toda a cadeia e consumidores
(Aredes, 2013).
Poucos são os trabalhos realizados para entender a relação do produtor com a gestão de
riscos no empreendimento agrícola (Pagliuca, 2014). De modo geral, o perfil dos produtores e
das propriedades, influenciam no uso de ferramentas de gestão de riscos (Carrer et al., 2013).
Em alguns casos, como identificado em cafeicultores, pequenos produtores podem ter nível
superior de escolaridade. Entretanto, se não têm a atividade como a principal fonte de renda, a
gestão de risco não é realizada e os produtores preferem usar a intuição para realizar suas vendas
(Silveira et al., 2012).
A gestão de riscos se torna essencial para evitar ou minimizar os impactos negativos
causados pela quebra da produção e inconstância no preço de comercialização. As ferramentas
contribuem para a prospecção de cenários, auxiliando nas tomadas de decisões pelo agricultor
(Aredes, 2013). Por exemplo na relação: pesquisa de preço x gerenciamento de risco na
comercialização ou planejamento das atividades e comercialização (Oliveira Neto et al., 2009).
Também para decidir sobre culturas à serem implantadas, escalonamento da produção, período
de colheita em relação à janela comercial e tamanho da área de implantação (Pagliuca, 2014).
Cooperativas agrícolas no Paraná têm gestores financeiros que usam ferramentas de
gerenciamento de riscos e entendem a importância dos resultados econômico-financeiros para
os produtores (Gimenes et al., 2019).
É consenso entre especialistas do setor que a implementação de um sistema de gestão
integrada dos riscos agropecuários é essencial para a mitigação dos efeitos dos fatores de riscos
negativos (Aredes, 2013; Arias et al., 2015). Proteção contra eventuais oscilações de preços
quando não favoráveis, melhora no planejamento das atividades, melhora na relação entre
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atores da cadeia (compra e venda), aumento da eficiência sistêmica da cadeia e maior acesso à
linhas de crédito junto a agências financiadores, estão entre os benefícios listados por Carrer et
al. (2013) para a gestão de riscos de preços em empreendimentos agropecuários.
Os maiores prejudicados, quando fatores de risco negativo acontecem, são os pequenos
produtores. Estes são, numericamente, a maioria agrícola no Brasil e têm grande importância
na fixação do homem no campo e na geração de emprego e renda em toda a cadeia produtiva
(Lopes et al., 2012). A maioria destes pequenos produtores não têm caixa de reserva em caso
de quebra na produção ou na comercialização, mas também não fazem a gestão de seus
empreendimentos de forma profissional. Entendem que por ser pequenos, não necessitam
(Silveira et al., 2012).
A vitivinicultura no Vale do São Francisco tem grande importância por ser o maior polo
de produção e exportação de uvas de mesa do Brasil. A área de produção em 2016 na região do
município de Petrolina-PE, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geográfica Estatística
(IBGE) foi de 6.376 hectares, com uma produção de 229.544 toneladas, e gerou 472.714
milhões de reais. O município tem uma população superior à 250 mil habitantes e com a
econômica baseada na agricultura. O maior distrito irrigado de Petrolina é o Nilo Coelho
(DINC). Segundo informações do DINC, a ocupação espacial atual está distribuída da seguinte
forma: 1.963 lotes de pequenos usuários (até 7,00 hectares) e 363 empresariais. Destes
empresariais há 312 classificados como pequenos e médios (entre 7,1 e 50,0 hectares) e 51
classificados como grandes (acima de 50 hectares). As informações acima citadas, evidenciam
a importância da vitivinicultura na região sobre a geração de emprego e renda, diretos e
indiretos, em decorrência da cadeia produtiva já formada.
De acordo com o comportamento identificado em outras atividades agropecuárias no
Brasil, a hipótese é de que estes pequenos viticultores não fazem gerenciamento de riscos em
seus projetos. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi investigar o uso de ferramentas de
gestão de riscos em projetos de viticultura pelo pequeno produtor, e avaliar o impacto da
aplicação ou não destas ferramentas sobre o escopo do projeto, i.e., produção e vendas. Avaliar
a efetividade do gerenciamento de riscos sobre as tomadas de decisões nos projetos.
Material e Métodos
O trabalho de pesquisa foi realizado com um grupo de produtores de uva de mesa, ou
seja, viticultores, da região do Vale do Submédio São Francisco. Estes produtores estão
principalmente localizados no município de Petrolina – PE e municípios adjacentes.
A partir do conhecimento adquirido nos trabalhos lidos para a estruturação desta
pesquisa, entende-se que gestão de riscos em projetos é uma área de conhecimento em projetos
aplicada por gestores que possuem alto nível de maturidade gerencial. Desta forma, a
amostragem desta pesquisa foi restrita a produtores que são assistidos periodicamente por um
consultor técnico na região. A realidade de pequenos produtores que não têm um consultor
técnico é de falta de conhecimento e prática de processos de gestão. O n (número total da
amostra) amostral foi de 38 produtores. Para atender a um dos objetivos da pesquisa, para que
um produtor fosse selecionado como amostra, teria que ter uma área máxima de cultivo de 15
hectares. Portanto a amostra utilizada é caracterizada como não probabilística, ou seja, foi
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escolhida propositalmente sendo formada por uma população pré-selecionada a partir das
características desejadas.
A ferramenta utilizada para conseguir as informações almejadas foi a aplicação de um
questionário online. Antes de ser enviado para os produtores, o questionário foi mostrado ao
consultor técnico, que assiste aos produtores selecionados como amostra. O propósito foi para
que o mesmo verificasse se as questões elaboradas estavam de acordo com a realidade dos
produtores. Também para saber se os mesmos teriam capacidade de entender as questões de
forma clara.
O questionário foi montado no site www.onlinepesquisa.com e então distribuído por e-
mail para os produtores de janeiro a março de 2018. No mesmo foi inserido, previamente à área
de resposta, um parágrafo sobre o termo de consentimento livre e esclarecido. Pensando na
disponibilidade do produtor em se sentir à vontade para responder às questões, o questionário
foi elaborado de forma enxuta. Perguntas e respostas foram estruturadas para ter fácil
entendimento e serem respondidas de forma rápida. O anonimato dos produtores foi garantido
na aplicação do questionário. Foram estruturadas somente 10 questões cujas respostas
conseguissem atender aos propósitos desta pesquisa. O questionário encontra-se no Apêndice
1 deste trabalho e ficou disponível por 60 dias para respostas.
Pensando em facilitar o modo de respostas para os produtores, as questões foram
elaboradas no modo de múltiplas escolhas. A estruturação e escolha de cada uma das respostas
foi feita de acordo com a realidade histórica da amostragem. Estas informações foram obtidas
em duas reuniões realizadas com o consultor técnico que apoiou o trabalho.
Com posse dos resultados da pesquisa, os dados foram tabulados usando o Excel, onde
também foi feita a análise estatística descritiva das informações obtidas. Foi realizada uma
análise bidimensional das respostas, dado que as variáveis utilizadas no estudo são todas
qualitativas. Para isso foram feitas tabelas de contingência usando o software R.
Resultados e Discussão
Dos 38 viticultores (produtores) que receberam o questionário, 17 responderam. Isto
representa 44% da amostra selecionada.
A primeira pergunta foi feita com o intuito de conhecer o perfil do produtor com relação
à experiência na atividade e o nível de escolaridade. Assim se pode correlacionar estes fatores
com a gestão de riscos nos projetos. A maioria dos produtores (88%) que responderam o
questionário, produzem uva de mesa há mais de 5 anos, conforme a Figura 1. Este fato significa
experiência na atividade e na tomada de decisões durante muitos ciclos de cultivo (Borges,
2010). Há pouca diferença entre nível de escolaridade entre os produtores, sendo que 52% têm
nível superior e 48% não tem.
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Figura 1: Perfil dos produtores em relação ao tempo de atuação na viticultura e nível de
escolaridade
O perfil de nível de escolaridade também foi feito em um trabalho onde se avaliou a
percepção de riscos e mecanismos de gestão de riscos entre produtores de commodities
agrícolas do Rio Grande do Sul. Foi identificado que 37,50% dos entrevistados, têm nível
superior. No entanto, a conclusão do trabalho foi de que as percepções de riscos e de
mecanismos para gerencia-los dependem do perfil do agricultor e não do nível de escolaridade
do mesmo (Borges, 2010).
A área de viticultura é a principal fonte de renda para 58,82% dos produtores que
participaram da pesquisa, 23,52% trabalham para que a atividade seja a principal fonte de renda
e 17,64% declararam que a viticultura não é a principal fonte de renda (Figura 2). Este fator foi
indicado como um dos responsáveis pela percepção de riscos e mecanismos para gerencia-los
entre produtores de commodities agrícolas do Rio Grande do Sul (Borges, 2010). Quando a
atividade agrícola é a fonte principal de renda, o produtor pode tender a tomar decisões onde
há menos risco de perda ou prejuízo (Silveira et al., 2002).
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Figura 2. Declaração da viticultura como fonte de renda para os produtores
Fatores como experiência no gerenciamento da atividade, atividade geradora de renda,
nível educacional, área da propriedade e participação em organizações foram identificados
como influenciadores na gestão de riscos em atividades agrícolas de produtores do Rio Grande
do Sul (Borges, 2010). Semelhantemente ao observado neste trabalho, quando a atividade em
questão é a fonte de renda principal do produtor, há uma atenção maior do produtor com a
gestão dos riscos nos projetos agrícolas. A maioria dos produtores que responderam o
questionário do presente trabalho tem a viticultura como principal fonte de renda, ou trabalham
para que isto se realize.
Após um breve diagnóstico sobre o perfil dos produtores, foram feitas perguntas
diretamente relacionadas com gestão de riscos em projetos. Quando perguntado se o produtor
sabe quantificar e qualificar os fatores de riscos no seu projeto (Figura 3), 52,94% respondeu
que sim, 11,76% que não e 35,29% declararam ter uma noção de como se faz.
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fonte principal de renda não é a fonte principalde renda
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Figura 3. Declaração pelos produtores sobre a própria capacidade de quantificar e qualificar os
fatores de riscos em projetos de viticultura
Estudos avaliando a percepção de agricultores sobre identificação de riscos e capacidade
de gestão dos mesmos aponta que de modo geral, a maioria de pequenos ou grandes agricultores
e independente do que cultivam, têm capacidade de quantificar e qualificar os riscos (Borges,
2010). Isto, principalmente, devido ao tempo que exercem a atividade agrícola. Viticultores do
Vale do São Francisco souberam qualificar fatores de riscos no processo de exportação de uvas
em uma pesquisa realizada para identificar os riscos (Lima, 2013).
Quando foi perguntado se o produtor tem conhecimento sobre ferramentas de gestão de
risco em projetos, 35,29% responderam que sim, conhecem as ferramentas, 23,52% que fazem
do próprio jeito. Contrariamente, 47,05% afirmaram não ter conhecimento sobre ferramentas
para realizar gestão de risco em projetos (Figura 4).
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Figura 4. Conhecimento sobre gestão de riscos em projetos pelos produtores
Viticultores do Vale do São Francisco, 40% dos entrevistados, afirmaram sempre fazer
gerenciamento de riscos operacionais em suas produções a fim de evitar prejuízos em processos
de exportação das uvas (Lima, 2013). Este grupo de produtores avaliados tem na viticultura a
principal fonte de renda e estão na atividade há mais de 10 anos.
Quando perguntado aos produtores quais ferramentas eles utilizam em seus projetos, a
maioria deles, 58, 82%, responderam que não usam nenhuma ferramenta (Figura 5). Do
restante, 29,41% afirma usar “monitoramento dos riscos”, sendo que somente um produtor
deste grupo não tem a viticultura como fonte de renda principal. Outra alternativa apontada foi
o uso de “plano de respostas aos riscos” por 11,76%. Dos que têm a viticultura como renda
principal, 50% não usam nenhuma ferramenta de gestão de riscos.
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Figura 5. Utilização de ferramentas de gestão de riscos em projetos pelos produtores
No final da década de 80, foi notificado que produtores de leite do estado norte
americano do Arizona, tomavam decisões nas fazendas baseados em percepções e
entendimentos dos ambientes econômicos e sociais (Wilson et al., 1988). Embora haja 30 anos
entre uma pesquisa e outra, comportamento semelhante foi observado neste trabalho com
viticultores. O presente trabalho foi realizado com um grupo restrito de viticultores que tem
assistência técnica de um consultor, ou seja, tem acesso a informações. No entanto o alto índice
de não utilização de ferramentas de gestão de risco se assemelha à de pequenos agricultores que
não têm acesso a informações (Ullah et al., 2017). A não utilização de ferramentas formais na
gestão de risco na agricultura também foi detectada em produtores de commodities agrícolas
no estado do Rio Grande do Sul (Borges, 2010) e por exportadores de uva do Vale do São
Francisco (Lima, 2013).
Monitoramento de riscos também é uma das ferramentas mais utilizadas por pequenos
vitivinicultores (produtores de uva para vinho) da Croácia, como forma de mitigar prejuízos na
produção. Principalmente sobre o risco relativo de mercado e de clima, já que os produtores
não possuem conhecimentos de outras ferramentas para fazer a gestão dos riscos (Smrkulj e
Njavro, 2016). A maioria dos trabalhos encontrados na literatura citam ferramentas de gestão
de risco financeiro como o aplicado à atividade agrícola e também mecanismos da gestão
(Borges, 2010; Smrkulj e Njavro, 2016). Não foi encontrado na literatura trabalhos que citam a
avaliação e/ou uso de ferramentas de gestão de risco em projetos no setor agropecuário segundo
o PMBOK (PMI, 2013).
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Na sequência, foi perguntado aos produtores se pela experiência de cada um, o uso das
ferramentas de gestão de riscos é essencial para atingir os resultados desejados no próprio
projeto. Afirmaram positivamente, 58, 82% dos produtores (Figura 6). Enquanto que 29,41%
afirmaram que o uso depende do mercado atual e 11,76% declararam não achar o uso essencial.
Todos que declararam não achar o uso essencial tem a viticultura como fonte de renda principal.
Figura 6. Percepção da essencialidade do uso de ferramentas de gestão de riscos pelos
produtores
De modo contrário, produtores de leite dos Estados Unidos têm o entendimento da
eficácia do uso de ferramentas de gestão de riscos para diminuir o prejuízo na produção. No
entanto, este nível de conscientização só foi alcançado após esforço do governo federal
americano em investimento em um programa educacional em uso de ferramentas de gestão de
riscos para produtores de leite (Hadrich e Johnson, 2015).
Em relação à percepção do produtor sobre alguma experiência na qual a prática da
gestão de risco no projeto teve impacto (positivo ou negativo) sobre a produtividade esperada,
52,96% afirmaram nunca ter tido e 47,04% afirmaram ter tido. Quando a mesma pergunta foi
feita, mas com impacto sobre as vendas, 52,96% afirmaram ter tido e 47,04% afirmaram nunca
ter tido (Figura 7).
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Figura 7: Experiência do produtor relativa ao impacto da gestão de riscos nos projetos de
viticultura sobre a produtividade (a) e as vendas (b)
Embora 47,04% dos produtores afirmaram nunca ter tido experiência de gestão de riscos
e impacto nas vendas, o risco de preço é um fator crítico já determinado na agricultura de forma
geral. Agricultores da Alemanha que tem aversão a assumir riscos nas vendas de seus produtos,
utilizam ferramentas de gestão de riscos para minimizar chances de perdas (Broll et al, 2013).
Quando perguntado se caso não haja prática de gestão de riscos no projeto, o produtor
consideraria introduzir este processo com base nas experiências já vivenciadas, 76,47%
afirmaram que sim. No entanto, 23,52% afirmaram ter que avaliar a possibilidade e nenhum
produtor respondeu negativamente (Figura 8). Especificando dentro do grupo dos que estão há
mais de 5 anos atuando na viticultura, ou seja, já têm muita experiência na atividade, 73,33%
afirmam que consideraria introduzir a gestão de riscos como um processo na atividade e 23,33%
afirmaram que têm de avaliar a possibilidade.
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Figura 8. Entendimento do produtor sobre a introdução de práticas de gestão de riscos em
projetos de viticultura
Finalizando, foi colocada ao produtor uma situação hipotética relacionada a uma
disponibilidade de recurso financeiro para dobrar a área atual de produção e introduzir novas
variedades de uva. Então foi perguntado ao produtor se para uma decisão final ele analisaria os
riscos deste novo projeto de forma mais técnica, utilizando ferramentas que lhe trarão maior
segurança na tomada de decisão. Dentre os produtores, 64,70% responderam que sim, sendo
que deste grupo 73,33% têm a viticultura como fonte de renda principal. Do restante, 35,29%
responderam que tomariam a decisão com base nas experiências já vivenciadas, sem fazer uma
análise de riscos (Figura 9).
Figura 9. Percepção dos produtores em relação à necessidade do uso de ferramentas de análise
de riscos em projetos para a implantação de um novo projeto de viticultura
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Tomar decisões em experiências já vividas parece ser comum entre agricultores. A
maioria de vitivinicultores da Croácia tomam decisões nos negócios com base em experiência
já vividas e também com conselhos de membros de associações de produtores (Smrkulj e
Njavro, 2016). O registro destas experiências é essencial para qualificar e quantificar fatores no
uso de ferramentas de gestão de riscos.
Os resultados da análise bidimensional foram mais focados para as variáveis “tempo na
atividade/escolaridade” e “fonte de renda principal”, visto que de acordo com estudos citados
acima, estes são os fatores que mais influenciam nas tomadas de decisões relacionadas aos
riscos em projeto de produção. Este fato pode indicar maior nível de conhecimento e capacidade
de tomar decisões complexas relacionadas à gestão dos riscos na atividade (Borges, 2010).
O tempo de atuação na viticultura influencia a percepção do próprio produtor em saber
quantificar e qualificar os riscos na atividade. Dos que responderam o questionário, 71,4% dos
atuam há mais de 5 anos e não têm ensino superior disseram saber quantificar e qualificar os
riscos de seus projetos de viticultura. Contudo este índice foi menor entre os produtores que
atuam há mais de cinco anos e têm ensino superior, 28,6% (Tabela 2).
Tabela 1. Frequência (%) entre tempo de atuação na viticultura/nível de escolaridade x a
percepção do produtor em realizar análises quantitativas e qualitativas de risco de um projeto de
viticultura
Percepção do produtor em realizar análises quanti/qualitativas
Tempo na atividade Não sabe Sabe realizar Tem noção de como fazer
< 5 anos, sem ensino
superior
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> 5 anos, sem ensino
superior
0 71,4 28,6
< 5 anos, com ensino
superior
0 50,0 50,0
> 5 anos, com ensino
superior
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De modo geral é observado que os produtores sabem qualificar os riscos das suas
atividades (Borges, 2010; Lima, 2012, Pagliuca 2014, Ullah, 2017). No entanto não há trabalhos
que citam especificamente resultados sobre a percepção do produtor rural em quantificar os
riscos.
Do grupo de produtores que atuam há mais de 5 anos e não tem ensino superior, 42,90%
não usam nenhuma ferramenta de gestão de risco em seus projetos e 42,90% usam o
monitoramento. Do grupo de produtores que atuam há mais de 5 anos e tem ensino superior,
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71,40% declararam não usar nenhuma ferramenta de gestão de risco em seus projetos (Tabela
3).
Não foi encontrado na literatura algum trabalho de pesquisa onde buscou identificar a
percepção do produtor rural em relação ao conhecimento das ferramentas de gestão de risco na
atividade. Entende-se, portanto, que não há alto nível de maturidade em projetos agropecuários
de pequeno e médio porte.
O tempo de experiência como viticultor influencia na percepção do produtor sobre a
importância do uso de ferramentas de gestão de risco para atingir os resultados desejados nos
projetos. Dentre os produtores com mais de 5 anos na atividade e sem ensino superior, 85,7%
declararam que o uso de ferramentas de gestão de riscos é essencial para atingir os resultados
nos projetos. Dentre os produtores com mais de 5 anos na atividade e com ensino superior,
57,1% declararam da mesma forma (Tabela 4).
Tabela 4. Frequência (%) entre tempo de atuação na viticultura/nível de escolaridade x percepção
da necessidade do uso de ferramentas para alcançar os objetivos desejados no projeto
Percepção da necessidade do uso de ferramentas
Tempo na atividade Não é necessário É necessário Depende do mercado
atual
< 5 anos, sem ensino
superior
0 0 100
> 5 anos, sem ensino
superior
0 85,7 14,3
< 5 anos, com ensino
superior
50 0 50
> 5 anos, com ensino
superior
14,3 57,1 28,6
A experiência relacionada ao tempo na atividade e o tempo de experiência na atividade,
parece influenciar produtores agropecuários brasileiros de modo geral. Quando expostos a
situações hipotéticas, com riscos já mapeados, produtores agropecuários do estado do Paraná,
pertencentes a cooperativas sólidas, conseguiram facilmente responder a questionários
relacionados a tomadas de decisão sobre investimentos futuros (Moreira, 2009).
A correlação entre tempo de atuação na viticultura e a percepção de experiência na qual
a prática da gestão de risco em um projeto teve impacto sobre a produtividade foi maior entre
o grupo com mais de 5 anos de atuação. Dos que não tem ensino superior, 57,1% afirmaram ter
a experiência e 51,1% dos que têm ensino superior afirmaram não ter tido a experiência (Tabela
5).
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Tabela 5. Frequência (%) entre tempo de atuação na viticultura/nível de escolaridade x
experiência de impacto da gestão de riscos sobre a produtividade esperada
Experiência da gestão de riscos sobre a produtividade
Tempo na atividade Não teve Teve
< 5 anos, sem ensino
superior
0 100
> 5 anos, sem ensino
superior
42,9 57,1
< 5 anos, com ensino
superior
100 0
> 5 anos, com ensino
superior
57,1 42,9
Foi observado quando a questão foi relacionada a experiências com vendas, onde 71,4%
dos que tem mais de 5 anos, mas não têm ensino superior manifestaram ter tido experiência e
57,1% dos que tem mais de 5 anos e ensino superior manifestaram não ter tido experiência
(Tabela 6). Igualmente, produtores experientes de alho na região Sul do país vivenciaram
experiências impactantes na atividade, decorrente da importação de alho da China (Kreuz e
Souza, 2006). No trabalho citado não relata se os produtores praticam gestão de risco em seus
empreendimentos. Nos dois grupos de produtores com mais de 5 anos na viticultura, 71,4%
afirmaram que consideram introduzir práticas de processos de gerenciamento de riscos em seus
projetos, com base nas experiências já vivenciadas (Tabela 7).
Tabela 7. Frequência (%) entre tempo de atuação na viticultura/nível de escolaridade x considera
introduzir a gestão de risco com base nas experiências já vividas
Introduzir a gestão de risco com base nas experiências já vividas
Tempo na atividade Sim Não
< 5 anos, sem ensino
superior
100 0
> 5 anos, sem ensino
superior
71,4 28,6
< 5 anos, com ensino
superior
100 0
> 5 anos, com ensino
superior
71,4 28,6
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O tempo de experiência em uma atividade faz com que o empreendedor entenda melhor
a necessidade de uma gestão eficiente. O grupo de produtores que atua há menos de 5 anos na
viticultura, pode ter vivenciado ao menos 10 ciclos de produção, o que garante alguma
experiência. O comportamento observado na presente pesquisa é similar ao observado entre
produtores de alho da região Sul (Kreuz e Souza, 2006).
A maioria do grupo de produtores cuja renda principal é a viticultura, afirmou utilizar
alguma ferramenta de gestão de ricos em projetos. O monitoramento aos riscos é a ferramenta
mais utilizada pelos grupos de produtores que não tem e que tem a viticultura como fonte de
renda principal (Tabela 10).
Tabela 10. Frequência (%) entre fonte de renda principal x ferramentas utilizadas na gestão de
riscos
Ferramentas usadas
Renda Principal Não usa Plano de respostas Monitoramento de
Riscos
Não é a viticultura 66,7 0 33,3
Viticultura 50 10 40
Trabalha para que seja
a viticultura
75 25 0
Em nenhum dos trabalhos utilizados como referencial bibliográfico deste, foi observada
pesquisa relacionada ao uso de ferramentas de gestão de risco em projetos agropecuários por
parte dos produtores. Este fato torna o dado aqui levantado como inédito na literatura referente
à gestão de projetos agrícolas. A maioria dos produtores, independentemente se a viticultura é
ou não a principal fonte de renda, afirmam não usar ferramentas na gestão de riscos dos seus
projetos. No entanto, quando colocada a situação hipotética relativa ao uso delas para a tomada
de decisão sobre um investimento financeiro em um novo projeto, a maioria afirmou que
tomaria a decisão com base em uma análise na qual há o uso das ferramentas (Tabela 11).
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Tabela 11. Frequência (%) entre fonte de renda principal x base para tomada de decisão sobre
realizar um novo investimento
Base para tomada de decisão
Renda Principal Experiências vividas Análise técnica de riscos
Não é a viticultura 33,3 66,7
Viticultura 20 80
Trabalha para que
seja a viticultura
25 75
A importância do uso de ferramentas para uma análise técnica completa em relação a
um novo investimento foi descrita para o agronegócio do alho na região Sul do país. No trabalho
os autores afirmam que as informações sobre análise de rentabilidade e riscos associados à
produção somados a orientações para a produtividade, ajudam o produtor na tomada de decisão
sobre um novo investimento, podendo também aumentar a competitividade do negócio (Kreuz
e Souza, 2006). Foi observado entre produtores do estado do Paraná que o que influencia a
tomada de decisão sobre um novo investimento, inserção de inovação tecnológica ou
predisposição em correr risco na atividade, é o porte das cooperativas às quais eles pertencem
e não o tempo na atividade (Moreira, 2009).
Dentre os produtores que afirmaram usar ferramentas de gestão de riscos, 100%
responderam ter tido experiências deste uso em relação à produtividade em suas áreas e na
venda das uvas (Tabela 12 e 13).
Este perfil de produtor demonstra ter percepção da eficiência do uso das ferramentas de
gestão de riscos nos impactos do seu empreendimento. Entendem que esta gestão pode gerar
diminuição de possíveis prejuízos e aumento da sensação de controle do risco assumido
(Kimura, 2002).
Mantendo a coerência nas afirmações feitas, 100% dos produtores que afirmaram usar
ferramentas de gestão de riscos, também responderam usar as mesmas na situação hipotética de
ter um recurso financeiro para iniciar um novo projeto de viticultura (Tabela 14).
Tabela 14. Frequência (%) entre ferramentas usadas ferramentas utilizadas na gestão de riscos x
base para tomada de decisão sobre realizar um novo investimento
Base para tomada de decisão
Ferramenta usada Experiências vividas Análise técnica de riscos
Não usa 40 60
Plano de Resposta 0 100
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Monitoramento de
Riscos
0 100
Rocha et al. (2004) realizaram uma pesquisa com produtores agrícolas de todas as
regiões do Brasil, sobre fatores que os influenciam na tomada de decisão em relação à
construção de armazéns agrícolas. Os agricultores foram capazes de apontar motivos para o não
investimento, com base em experiências vividas e suas próprias percepções de risco.
Pode-se observar que, independentemente da correlação feitas, todos os produtores
afirmaram que analisariam os riscos deste novo projeto de forma mais técnica, utilizando
ferramentas que tragam maior segurança na tomada de decisão sobre o investimento em um
novo projeto de viticultura.
Conclusão
Embora o questionário tenha sido respondido por um grupo pequeno de produtores, a
amostra foi selecionada e considerada suficiente para alcançar os objetivos da pesquisa. Os
resultados mostraram que o fator tempo de experiência na atividade tem mais influência sobre
o gerenciamento de risco do que o fator nível de escolaridade. Alguns produtores afirmaram
utilizar ferramentas de gestão de risco em projetos, em seus próprios projetos de viticultura. Os
que declararam não usar são os que não têm a viticultura como principal fonte de renda e o que
estão na atividade há menos de 5 anos e tem ensino superior. Os produtores que têm a viticultura
como principal fonte de renda são mais propensos a utilizar ferramentas de gestão de risco para
tomadas de decisão no empreendimento. Independente do perfil, os produtores sabem
quantificar e qualificar os fatores de risco na viticultura, além de ter percepção da importância
destas ferramentas.
A percepção de impacto do uso das ferramentas de gestão de risco foi maior em relação
à produtividade do que em relação às vendas. Os produtores com mais tempo na atividade, tem
uma percepção maior deste impacto. Todos os que afirmaram usar ferramentas de gestão de
risco, afirmam ter tido percepção de impacto do uso das mesmas sobre a produtividade e as
vendas.
A maioria dos produtores entende que é importante introduzir a prática do uso destas
ferramentas para alcançar seus objetivos. Caso fossem dobrar a área de produção, a maioria
utilizaria uma análise técnica sobre os riscos antes de tomar a decisão final sobre o investimento.
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