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C I D A D A N I A

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por Patrícia Mariuzzo

Sistema baseado em agricultura sustentável ajuda pequenos produtores

José Cardoso da Silva, que vive noassentamento Santa Helena, na cidadede Cruz do Espírito Santo, Paraíba, depen-dia de uma ou outra comissão da vendade gado para o sustento da família: ele,a mulher e quatro filhos. Hoje ele tira daroça uma renda mensal de R$ 1,2 mil.José é um dos cerca de mil pequenos agri-cultores que aderiram ao ProjetoMandalla, sistema de agricultura fami-liar sustentável, implantado na Paraíbapelo administrador de empresas WillyPessoa. Desde 2004, a Bayer é parceirado projeto que funciona em oito assen-tamentos rurais na Paraíba e que estáviabilizando a produção de frutas, ver-duras, além de ervas para tempero e chás.

O projeto, batizado de mandala que,em sânscrito, quer dizer círculos, utili-za tecnologia simples e de baixo custo.São construídos nove canteiros ao redorde um lago circular de cerca de seismetros de diâmetro. A água do lago ébombeada para irrigar a plantação. Ostrês primeiros círculos são os da melho-ria da qualidade de vida, abrigando assimas culturas de subsistência. Os círculosseguintes são os responsáveis pela com-plementação da renda familiar. Nelessão cultivados verduras e legumes paraserem vendidos no mercado local. É daíque José Cardoso tira a sua renda.Pequenos animais como galinhas ecabras convivem em um sistema intera-tivo, onde as necessidades de um sãosupridas pela produção do outro. "Os pei-

xes alimentam-se de plâncton derivadodas fezes dos patos, além de mariposase insetos noturnos atraídos para a águapor uma lâmpada colocada pouco aci-ma da água. As fezes dos peixes são ricasem fósforo. Peixes e patos fertilizam asplantas, através da água, bombeada paraos nove círculos de irrigação. As codor-nas, galinhas, coelhos, cabras e a vacafornecem esterco e urina para a formu-lação de defensivos e nutrientes orgâni-cos para as plantas. As fezes de apenas25 coelhos podem fertilizar a área de2500 m² de uma mandala", explica WillyPessoa, coordenador nacional da AgênciaMandalla — DHSA, sigla para Desen-volvimento Holístico, Sistêmico eAmbiental. A Agência capacita peque-nos agricultores para a gestão do pro-cesso Mandalla. Além da Paraíba, Bahia,Alagoas, Ceará, Maranhão, Minas Gerais,Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás

também são atendidos pela ONG.A divisão da empresa alemã que apóia

o projeto é a Bayer Cropscience que atuano segmento de proteção fitossanitária(herbicidas e fungicidas) e biotecnologiae cujos clientes são grandes produtoresagrícolas. Como parceira da ONG, a Bayerdá apoio técnico para construção dasmandalas e do sistema de irrigação e aju-da financeira para a compra de semen-tes, aves, peixes e caprinos e para o paga-mento de um salário mínimo por famí-lia durante os primeiros seis meses atéque as primeiras produções se iniciem.No Brasil, a Bayer tem duas fábricas, emBelford Roxo (RJ) e em Portão (RS) soman-do mil funcionários. Foram eles que doa-ram livros e computadores para a forma-ção da biblioteca do Centro Cultural deAcauã que fica no assentamento commesmo nome, criado pelo Incra em 1995e que abriga 114 famílias e 63 mandalas.Segundo Eckart-Michael Pohl, diretorde comunicação corporativa da Bayer, oapoio ao projeto tinha como primeiroobjetivo melhorar a qualidade de vidadas famílias beneficiadas, por meio dealimentação mais farta e diversificada.Entretanto, outros resultados foram obti-dos, tais como a melhoria da renda fami-liar e a manutenção das famílias no cam-po. "Os nossos clientes são fazendeiros.É a agricultura industrial. Para eles éuma vantagem quando os assentadosconseguem se sustentar na terra comqualidade de vida em vez de voltar para

EM FORMA DE MANDALA, SÃO CONSTRUÍDOS CANTEIROSEM TORNO DE UM LAGO, ONDESÃO CULTIVADAS HORTALIÇAS,

QUE ALIMENTAM A COMUNIDADE E GARANTEM

RENDA EXTRA AO SEREM COMERCIALIZADAS

NO MERCADO LOCAL

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talado em qualquer tipo de terreno. "Bastacriatividade e uma base de informaçãopara transformar conhecimento em resul-tados; desperdício em oportunidades deocupação e de renda", acredita ele. Outrofruto da parceria da Bayer com a AgênciaMandalla foi a inauguração, em setem-bro do ano passado, do UnicenterMandalla, Centro Nacional de Difusãode Tecnologias Sociais Mandalla, emCuité, interior da Paraíba. O Centro é umaferramenta pioneira para formação dejovens e adultos vindos de diversas par-tes do Brasil, com capacidade operacio-

nal para atingir até 216 municípios emtodo Brasil, formando, a cada ano, seisturmas de 36 difusores mandalla.Segundo Pohl, a capacitação no UnicenterMandalla está focada na aplicação deseis módulos que a Agência desenvolveu.Entre os pontos abordados estão técnicasde produção diversificada e rotaciona-da; aproveitamento de pequenas áreas,adubação orgânica; produção de biofer-tilizantes; construção de galinheiromóvel; tanque de garrafa pet; beneficia-mento de produtos como embutidos ecompotas. "Por meio do Unicenter serápossível ampliar a capacidade operacio-nal da Agência Mandalla, ampliar inves-tidores públicos e privados e caracteri-zá-la também como elemento de influên-cia em políticas públicas e articulaçãocom outras entidades do primeiro, segun-do e terceiro setor", completa Pohl.

Para o idealizador do projeto as par-cerias são fundamentais para o sucessodo projeto. A manutenção do pequenoprodutor no campo por meio da capaci-tação é uma alternativa com resultadosmais duradouros do que os obtidos emprogramas assistencialistas. "Os efeitoschegam para todos, até na diminuiçãodo número de sub moradias nas perife-rias dos grandes centros urbanos", defen-de Pessoa. Em dezembro do ano passa-do ele ganhou o Prêmio Ashoka/Mckinseyde Empreendedorismo Social, um dosprincipais do setor, concorrendo com340 projetos sociais em todo país. Hojecerca de mil pequenos agricultores estãoenvolvidos nesse projeto, comerciali-zando o excedente produzido em feirasdas regiões onde funcionam. Para ofuturo, o objetivo é criar cooperativasque coordenem de forma profissionalo recebimento e a preparação dos pro-dutos a serem comercializados, incluin-do até mesmo a sua industrializaçãono âmbito familiar, agregando valor àprodução e possibilitando maior retor-no financeiro.

o MST ou abandonar a vida no campo",acredita. Desde o início da parceria coma Agência Mandalla o Grupo Bayer inves-tiu cerca de R$ 500 mil.

UM BRASIL EM CÍRCULOSTambém pode ser construída a man-

dala do tipo "comunitária", com tamanhomaior, em cuja construção e manuten-ção toda a comunidade se envolve. A pro-dução gerada, além de atender às neces-sidades das famílias, também pode sercomercializada em feiras livres da região.Segundo Pessoa, o sistema pode ser ins-

Na foto acima, produtor cuida da horta que compõe uma das mandalas; abaixo, técnico ensina a construir o lago

Fotos: Divulgação/

Agência M

andalla

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