carlos roberto nogueira_ em busca dos conceitos magia
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A utiliza
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poder dos homens, com a ajuda dos demonios, empregando
certas cerimonias"!
Apartir, dos estudos de antropologia e de etnologia - que
ganharam grande impulso e sistematiza
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o contato persiste ap6s serem afastados seres e objetos, mas na
afirma
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devida:aten
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de e a precisao de analise dos "primitivos".17As vastas investi-
ga
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A M E N TA L ID A D E M A G IC A N O C O N TE X TO
OCIDENTAL
bre os deuses e patrocinadas por algumas divindades - osMa-
gici dii - como Hecate e Plutao.
Com 0desenvolvimento e amadurecimento das formas
de pensamento da Antiguidade greco-latina, vamos encontrara magia ja estabelecida e formalizada como vocabulo e dividi-
da em tres ramos: a teurgica, contendo urn carater de culto do-
tado de liturgia propria e' envolvendo a apariyao do Deus, a
magica, quando a presenya divina e a pratica se faziam indivi-
dualmente, ea goetica, quando 0Deus nao se apresenta, mas
anima urn objeto.
Aqui delineiam-se as duas tendencias fundamentais da
magia: uma consiste na busca de ajuda sobrenatural para lograr
proteyao - e uma magia social e construtiva; a outra representa
uma evasao contra a lei que impede toda liberdade de ayao eproibe toda manifestayao do instinto - e uma forma de evasao
anti-social e contra a legalidade estabelecida.E neste ultimo ca-
minho que Medeia, apresentando a deusa Hecate como sua aU-
xiliar, declara possuir a ciencia, mas a natureza havia feito as
mulneres absolutamente incapazes de praticar 0bem e as mais
habeis urdidoras do maUDE, do ponto de vista da ordem esta-
belecida, as leis romanas, desde as mais antigas, condenaram de
modo formal todo uso de magia com fins maleficos, uma vez
que as enfermidades e a morte se acreditavam .serem produzi-
.das por atos magicos com bastante frequencia.21 Por outro lado,
a pratica da magia COJDfins benefico.s na Grecia e em Roma era
considerada como licita e mesmo necessaria.
Uma vez que pretendemos dar a magia uma conceituayaoeminentemente historica, buscaremos a recuperayao do concei-
to a partir das raizes da Europa moderna, ou seja, a Antiguidade
classica.A magia, para os povos desta mesma Antiguidade, nao
e religiao, nem filosofia, nem ciencia, estando todavia estreita-
mente relacionada,-e sobretudo amentalidade magica - com as
religioes, com os sistemas filosoficos e mesmo com a evoluyao
da ciencia, sem nos reportarmos as artes em geral, onde ,a sua
presenya e altamente esclarecedora na representayao de urn es-
tado mental da coletividade.
A palavra magia, de origem iraniana - aplicada aos sacer~
dotes masdeistas eincorporada pelos gregos -, se encontra utili-
zada, tanto em grego como em;latim, para exprimir uma "forma
especial de relayao com 0 sobrenatural", com conteudos muito
concretos do ponto de vista etnico e em permanente colisao com
outras praticas, como as dos astrologos assirios e dos adivinha-
dores de sonhos tirrenos, ate a sua afitmayao definitiva.19
Na Antiguidade, a magia se ajustava a uma determinada
concepyao de mundo, onde os homens, os deuses, os planetas,
os elementos, os animais, as plantas, se associavam, POt inter-
medio,de relayoes especiais e muito concretas, constituindo 0
universo urn todo simpatico. Dentro deste mundo, a magia, ou
o vocabulo latino que the empresta a ideia de operacionalida-
de - goetia -, se relacionam com a ideia de forya particular atri-
buida a determinadas pessoas que inclusive podiam atuar so-20 Cf. EURIPIDE. MMee. Paris, 1947. t. I, p. 401-409.
21 Para uma sistematiza
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Assim, uma analise da atividade magica greco-latina tern
que levar em conta a inten~ao dos atos e inclusive 0 setor social
.onde se desenvol~em os mesrnos, pois opera~6es semelhantes na
aparencia divergem radicalmenteem seus fins. Aqui, as 6rbitas
do Bern e do Mal se interpenetram e se completam no plano da
relfgiosidade. Em outras palavras, a natureza e a moral, a divin-
dade e 0 homem nao constituiam entidades separadas, pois nos
sistemas religiosos da Antiguidade classica os deuses estavam
,submetidos as leis fisicas e morais do mundo dos homens,
atuando nele e sofrendo a sua atua~ao.
A Igreja Ira estabelecer uma politica de tolerfmcia para
com os velhos costumes, mas suplantando-'se os antigos deuses
por urn novo Deus que parecia possuir atributos muito pareci-
dos aos dasdivindades precedentes, somente com muito maispoder, justificado pelas vit6rias de Constantino e de Clodoveu- ,rei dos francos.22
Politica evangelizadora que possibilitou, sob a cobertura
e tolenincia da autoridade eclesiastica, a permanencia closanti-
gos costumes, que, perdendo mais e mais sua rela~ao com os an-
tigos sistemas de cren~as,'~onstituiram as superstitiones, as quais
a Igreja nao possuia os meios apropriados para erradicar. Os si-
nodos eclesiasticos, os Penitenciais, nos fornecem urn inventario
abulldante e descri~5es sumarias destas supersti~6es, bastan,te
parecidas as tradi~6es magicas da Antiguidade classica.. Em rela~ao a estas priticas magicas se observa, a princi~
pio, uma atitude cetica, com a coloca~ao de duvidas em rela~ao
a sua eficacia e inclusive.a nega~ao da realidade dos efeitos atri-
buidos as a~6es magicas.23 Mas, uma vez a tare fa de "cristianiza-
~ao" acabada, os representantes de urn sistema religioso exclu-
siva e incontestado sentiram-se desobrigados desta preocupa-
~ao e puderam considerar como verdadeiras as antigas cren~as
pagas. De outro modo, enquanto 0 paganismo teve for~a socia,l,
colocou-se a magia como uma das cren~as integrantes do sistec
ma religioso pagao, em oposi~ao a religiao - de urn lado os vi-
cios, de outro as virtudes, impondo uma rigidez morala ima-
gem do mundo cristao que trazia implicita uma argumenta~ao
PAGANISMO
(Esferado Mal)
CRISTIANISMO
(Esferado Bern)
etica em favor d~s cren~as da ortodoxia crista. 0c.anon Episco-
pi - que surge por volta do inicio do seculo IX, falsamente a~ri-
, buido ao Concilio de Ancyra de 314 - exemplifica soberbamen-
te esta situa~ao, onde 0 discurso do te610go busca desqualificar
como'inveridicas as cren~as magicas relacionadas com as tradi-
~6es greco-Iatinas:
... E tambem nao deve ser omitido que certas mulheres per-
versas, corrompidas pelo Diabo, seduzidas pelas ilus6es e fantas-
mas dos dem6nios, acreditam e p~ofessam que, nas horas dan'oi-
te, cavalgam certas bestas em companhia de Diana, a deus a dos
paga-os, e uma inumenivel multidaode mulheres, atravessando
grandes espa
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CRISTIANISMO
PAGANISMO
ou seja, cren~as super;,iores e cren~as inferiores, com todo horror e
repugnancia que a nova situa
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tadas socialmente, todo 0tipo de cren'ras erroneas e perversas,
assim como costumes nefandos, totalmente contnirios a moral
vigente. Por conseguinte, vaG ser reunidos magos, feiticeiras e
bruxas em uma mesma escalade valores, aos olhos dostatus quo.
Algumas vozes ainda se esfor'ram por manter a postura
dos primeiros padres da Igreja, entre estas William de Paris - cu-
riosamente, em outros assuntos extremamente credulo - que ri-
diculariza os poderes proclamados por mago~ e feiticeiros e
acreditados pelo povo, argumentando que "se fossem verdadei-
ros urn unico e comum mago poderia obter 0controle de todo
o mundo [... J Quando retletimos sobre a sabedoria e abonda-
de do Criador para com os hornens e seus neg6cios, reconhece-
mos claramente que Ele nao confiaria seu governo a imagens ou
as estrelas ou astros e de nenhuma maneira os abandonaria ao
desejo de magos e feiticeiros".28Mas a visao dominante insiste na
realidade dos atos magicos eem sua vincula'rao demoniaca. As-
sim, 0 Statuta synodalia de Guillaume, bispo de Beziers, ~m
1342, pode excomungar sem distin'rao
encantadores, augures, sortilegos et sortilegas, arusplces assim
como adivinhos e feiticeiros de qualquer sexo e condic;:ao que vul.
garmente chamamos de Fachillners, mestres e mestras das artes
magicas, como tambem seus professantes e os que vao buscar seu
conselho e auxilio.29
temente contradit6rio, a uma renova'rao da magia classica e a
uma tendencia que lentamente a separa das supersti'r0es cam-
pones as, para se tamar uma forma privilegiada deconheci-
mento. A partir do seculo XII, 0 contato com 0Ocidente cris-
tao ganha uma maior consistencia, deixando entrever os seus
efeitos na renova'rao cultural que experimentam as sociedades
cristas. 0contato com os livros arabes de ocultismo, a recupe-
ra'rao detextos helenisticos e mesmo Q contato com os repre-
sentantes e praticantes destas ciencias ocultas vaG modificar0
panorama europeu. "E a revela'rao direta de urn pensamento
pagao intocado pelo cristianismo e a fonte de uma renova'rao
da magia doutrinaria."30
Varios estudiosos apaixonados pela alquimia e pela astro-
logia -. como Arnaldo de Villanova31
em seu De improbationemaleficiorum, onde expurgava a magia da participa'rao demo-
niaca -:-lan'raram as bases de uma magia natural, fundamentada
na experiencia e nas virtudes ocultas, em oposi'rao a pratica ma-
gica medieval e diabOlica, a m,agia negra, por excelencia. Toledo
se converte na cidade preferida da magia, onde se concentravam
os interessados em aprender as ciencias ocultas.0universo ma"
gico seculariza-se, abandonando as divindades antigas, transfor-
mando-as, para tratar com for~as naturais, espiritos efor~as ima-
teriais, estes ultimos oriundos da tradi'rao hebraica daKabbalah
- onde f6npulas e ritos eruditos transform am 0homem, peloSingularmente este processo de su_bmersao do mundo
magico em urn oceano diab6lico vai assistir, de modo aparen-
28 GUILL PARISIENS. De Universo, P. 1., c. 46, t. I, p. 661-666. In:
LEA, Henry Charles. Materials Arvard history of witchcraft. NewYork, 1957. v. 1, p. 128-129.
29 LEA, H. C. Materials ... , v. 1, p. 141.
30 RONY, Jerome. L, a magie. Paris, 1950. p. 57.
31 Arnaldo de Villanova (1-1310): catalao, conselheiro de Frederico II
da Sicilia e Jaime II de Aragao e fisico de tres papas (Bonifacio VIII,
Benedito XI e Clemente V). Celebre alquimista, conhecedor pro-
fundo da Kabbalah e visionarh Apud.GERIN -RICARD, 1.de. His-
toire de l'occultisme. Paris, 1939. p. 111-118.
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conhecimento de Deus e seus atributos, num criador e manipu-
lador das'virtudes do universo.
A busca humanista das tradi
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Assim, ao chegar 0Renascimento, a magia encont~a-se di-
vidida em tres ramos distintos, adaptadosas novas correla
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