bactérias super resistentes

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O HÁBITO DE TOMARMOS ANTIBIÓTICOS ESTÁCRIANDO ESPÉCIES MAIS FORTES E COMCAPACIDADE MAIOR DE MATAR

BACTÉRIASSUPER--RESISTENTES

A NOSSA CULPACerca de 90 trilhões de micró-brios habitam os nossos corpos.Quando trabalham em harmonia,desempenham tarefas variadas eessenciais para o bom funciona-mento do nosso organismo, in-clusive o de combater aquelasbactérias rebeldes. Mas o usoinadvertido de antibióticos levouao surgimento de uma nova gera-ção de bactérias malignas capazesde resistir a todas as armas.“É uma guerra sem fim”, diz o in-fectologista Moacyr Silva Júnior,do Hospital Albert Einstein. Aopasso que as bactérias estão se tor-nando cada vez mais resistentesaos antibióticos, a comunidademédica não para de pesquisar no-vas formas de combatê-las. “Hácada vez mais relatos de infecçõescausadas por microorganismoscontra os quais anda não existemopções terapêuticas adequadas”,escreveu no ano passado o micro-bologista Christian Giske, doHospital da UniversidadeKarolisnka, em Estocolmo.

Mas nada de chamá-las de“su-per”. “O termo que costumamosusar é bactérias multirresistentes.O super dá a impressão de queelas são imbatíveis. E não são",afirma Moacyr Silva Júnior.

Diferentemente do que pode-mos pensar, no campo de batalhanão estão apenas médicos.Qualquer um pode ajudar a evitarque novas e potentes bactériascontinuem a surgir. Uma delas énão tomar antibióticos a troco denada.“Não adianta achar que temuma infecção e sair se medican-do. É esse uso indiscriminadotanto dos hospitais quanto daspessoas que acaba criando bac-térias multirresistentes.”

Atualmente estima-se que me-tade das prescrições de antibió-ticos seja desnecessária. NoBrasil, onde os antibióticos são

m janeiro deste ano,a história da modeloMariana Bridi ocu-pou os principaisnoticiários do País.

Com apenas 20 anos e uma car-reira aparentemente promissorapela frente, a jovem deu entradano Hospital Estadual Dório Silva,no Espírito Santo, com queda napressão arterial. Não demoroumuito para que fosse diagnosti-

cada uma infecção urinária.Nos 20 dias em que ficou in-

ternada, a modelo lutou contraduas fortes bactérias: pseudomo-nas e estafilococos. Mas Mariananão resistiu e morreu de falênciamúltipla de órgãos.

O caso chocou até especialistas,e a morte da modelo acabou le-vantando uma questão: o homemé capaz de vencer as bactérias deuma vez por todas?

MEDICINA CIÊNCIA

E

infecçõesderelatosmaisvezcadacausadas por microorganismoscontra os quais anda não existemopções terapêuticas adequadas”,escreveu no ano passado o micro-

doGiske,bologista Christian

SUPERFORTESMutações genéticas

tornam essesmicroorganismos

mais potentes

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© Divulgação; Shutterstock G A L I L E U E S P E C I A L V E S T I B U L A R 2 0 0 9 7 3

90 TRILHÕESÉ o número de micróbiosque todos os humanospossuem no organismo.

5% do nossopeso é decorrente dosmicroorganismos quecarregamos. As bactériasque causam doençastambém entram nessaporcentagem.Por exemplo, se vocêpesa 60 quilos, seu corpocarrega 3 quilos só demicroorganismos.

Os números dassuperbactérias

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vendidos sem receita, a situaçãopode ser ainda mais grave.

Tomar doses menores do que onecessário ou suspender o trata-mento precocemente também sãofatores que colaboram. Para tentarcombater esses costumes, a dire-tora médica do Laboratório deMicrobiologia do Hospital dasClínicas de São Paulo, Flávia Rossi,alerta para a responsabilidade decada um:“Quando uma pessoa to-ma um anti-inflamatório de formainadequada, o problema é dela.Quando faz isso com um antibió-tico, o problema é de todos nós”.

Mas como é que surge uma su-perbactéria? “É darwiniano, umaquestão de seleção”, diz SilvaJúnior. As bactérias vivem em es-tado latente, ou seja, hospedadasno corpo, mas sem causar mal al-

gum. Ao começar a tomar antibió-tico, sem realmente precisar ou deforma negligente, o medicamentomata apenas os organismos maisfracos e acaba deixando vivos osmais fortes. Isso faz com que elesse reproduzam e colonizem aque-le organismo hospedeiro.

Mas para que essas bactériassejam nocivas ao organismo elasprecisam que haja uma queda deimunidade. E essa ação pode nãoser necessariamente no organis-mo hospedeiro. As bactérias saemde uma pessoa e vão para outra.Paradoxalmente, os hospitais sãolocais propícios para isso. As pes-soas já chegam com a resistênciabaixa, e às vezes um procedimen-to invasivo, como uma sonda ouum cateter, acaba permitindo queelas entrem no organismo. SilvaJúnior também ressalta dois pro-blemas típicos em centenas dehospitais brasileiros: a superlota-ção e a falta de higiene.

Cerca de 80% dos casos de in-fecção hospitalar são causadospor bactérias endógenas, ou seja,aquelas que já estão no própriopaciente. Quando há pacientesmuito próximos um dos outros,aumentam as possibilidades deocorrer a infecção pelo ar. E mui-tas vezes os médicos não lavamas mãos entre uma visita e outra.Se um deles tem uma bactéria napele, por exemplo, isso pode serum fator de risco.

Ao interromper os antibió-ticos antes da hora ou ao

tomá-los em quantidadesmenores que as prescritas, omedicamento acaba matandosomente as bactérias mais“fracas” — ou aquelas quemantêm o equilíbrio doorganismo.

O paciente acha que jáapresentou melhora e não

percebe que as bactérias maisresistentes acabaram ficandono organismo.

Assim que a resistênciabaixa, essas bactérias

mais fortes começam a agir,causando infecções e outrasdoenças. Daí, nem sempre osantibióticos fazem efeito, umavez que esses microorganis-mos já se tornaram imunes àmedicação. Em alguns casos,pode até ser fatal.

COMO UMABACTÉRIAVIRA “SUPER”

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1

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5% microorganismos

VÁ FUNDO

PARA LER• Dr. Bactéria: um Guia para PassarSua Vida a Limpo, Roberto MartinsFigueiredo. Editora Globo

• Microbiologia Prática – Roteiro eManual: Bactérias e Fungos,Mariangela Cagnoni Ribeiro. Atheneu

PARA NAVEGAR• www.galileu.globo.com/vestibular2009

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