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Joana Ferreira Hornestam
AVALIAÇÃO DO TEMPO DE MOVIMENTO EM UM TESTE
DE AGACHAMENTO REALIZADO EM DIFERENTES NÍVEIS
DE DEMANDA
Belo Horizonte
Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG
2012
Joana Ferreira Hornestam
AVALIAÇÃO DO TEMPO DE MOVIMENTO EM UM TESTE
DE AGACHAMENTO REALIZADO EM DIFERENTES NÍVEIS
DE DEMANDA
Monografia apresentada ao Curso de Graduação
em Fisioterapia da Escola de Educação Física,
Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à
obtenção do título de Bacharel em Fisioterapia.
Orientadora: Profa. Dra. Paula Lanna Pereira da
Silva
Co-orientadora: Doutoranda Giovanna Mendes
Amaral
Belo Horizonte
Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG
2012
RESUMO
Testes de capacidade física são comumente usados em processos de prevenção e
reabilitação de lesões musculoesqueléticas para avaliar o provável nível de
funcionalidade do indivíduo. Particularmente, o agachamento é uma atividade usada
com freqüência nestes testes e, por ser um componente importante de atividades de
vida diária e esportivas, pode ser aplicado em diferentes populações, como atletas e
indivíduos pouco ativos. O desempenho no teste pode ser medido pelo tempo de
movimento. Porém, não existem procedimentos específicos que permitam modificar
o nível de demanda imposta ao sistema musculoesquelético. Portanto, não se sabe
como variações na demanda da tarefa afetam o desempenho. O presente estudo
teve o intuito de propor uma sistematização deste teste para avaliação da
capacidade do indivíduo para responder a variações na demanda da tarefa. Para
isto, foram manipuladas duas variáveis que já foram amplamente estudadas: largura
dos alvos e distância entre os alvos. O objetivo deste estudo foi, portanto, avaliar se
o tempo de movimento varia de forma sistemática com mudanças na largura dos
alvos e na distância vertical entre eles. O estudo teve ainda como objetivo avaliar a
confiabilidade do teste nas diversas condições de dificuldade determinadas pela
distância e largura dos alvos. Onze adultos jovens foram solicitados a realizar a
tarefa de agachamento unipodal em seis condições com diferentes demandas:
largura dos alvos (3, 5 e 10cm) x distância entre os alvos, determinada pela
amplitude de agachamento (30 e 60º de flexão de joelho). Foi fixado na pelve do
sujeito um apontador a laser, para que a tarefa fosse realizada de forma que o feixe
de luz do laser atingisse alternadamente os dois alvos posicionados a sua frente em
um painel, sendo um acima do outro. Os resultados mostraram que o teste foi
confiável (CCI≥0,90) para população de adultos jovens e que o tempo de movimento
foi influenciado significativamente pela largura dos alvos (p≤0,001; F=31,98;
2=0,76) e pela distância entre eles (p=0,002; F=13,74; 2=0,75). Conclui-se que
este teste pode ser aplicado nesta população e que alterações nas variáveis citadas
modificam o tempo de execução da tarefa. A medida que a exigência de precisão
(alvos menores) e a distância entre o alvos (maior distância a ser percorrida) são
aumentadas, é esperado que o tempo gasto para realizar a atividade seja também
aumentado.
Palavras- chave: Teste de agachamento unipodal. Tempo de movimento.
Diferentes níveis de demanda.
ABSTRACT
Physical capacity tests are commonly used in injury prevention and rehabilitation
processes and indicate the subject’s level of function. Particularly, squat test is an
activity often involved in these tests and, considering it is an important component for
daily life and sports activities, it can be applied different populations, such as athletes
and less active individuals. Test performance can be measured by the movement
time. However, there are no specific procedures to modify test’s demand applied
over the musculoskeletal system. Therefore, it is still unknown how change on task
demand affects performance. The present study aimed to propose a systematization
of this test to evaluate individual’s ability to respond to demand’s variation. Thus, two
well studied variables were manipulated: targets’ width and distance between the two
targets. The purpose of this study was to evaluate if the movement time varies
systematically when target’s width and distance between them are modified.
Moreover, this study also aimed to evaluate the test’s reliability in different conditions
of difficulty determined by the distance and width of the targets. Eleven young adults
were asked to perform unilateral squat task in six conditions with different demands:
target’s width (3, 5 and 10cm) x distance between targets, determined by squat
amplitude (30 and 60º of knee flexion). A laser pointer was fixed on the subject’s
pelvis, so that the task could be performed with the laser light reaching alternately
both targets placed in front of the subject, one above the other on a panel. Results
show that the test is reliable (ICC≥0.90) to young adults population and that
movement time was significantly influenced by the targets width (p≤0.001; F=31.98;
2=0.76) and by the distance between them (p=0.002; F=13.74;
2=0.75). In
conclusion, the unilateral squat test with variation in level of task demand can be
applied for the group mentioned and the different task demands can alter the task
execution time. As demands of accuracy and distance between the targets increase
(smaller target and greater distance, respectively), it is expected that time taken to
perform the activity also increases.
Keywords: Unilateral squat test. Movement time. Different demand levels.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................5
2 MÉTODOS...............................................................................................................9
2.1 Amostra................................................................................................................9
2.2 Instrumentação e Procedimentos......................................................................9
2.3 Redução dos dados..........................................................................................12
2.4 Análise estatística.............................................................................................12
3 RESULTADOS.......................................................................................................14
4 DISCUSSÃO..........................................................................................................16
5 CONCLUSÃO........................................................................................................19
REFERÊNCIAS..........................................................................................................20
5
1 INTRODUÇÃO
Testes de capacidade física são comumente usados em processos de
prevenção e reabilitação de lesões musculoesqueléticas1-4. Capacidade é entendida
como aptidão de um indivíduo para executar uma tarefa ou uma ação em ambiente
padronizado, onde influências extrínsecas podem ser melhor controladas5. Estes
testes podem ser úteis para indicar o provável nível de funcionalidade que o sujeito
pode atingir no domínio que está sendo avaliado1,5,6. O desempenho do indivíduo em
testes de capacidade sofre interferência de um conjunto de recursos neuro-musculo-
esqueléticos do indivíduo que suportam a realização de uma determinada tarefa.
Assim, testes de capacidade permitem avaliar se mudanças nestes recursos
induzidas por intervenções em reabilitação, de fato, potencializam a capacidade do
indivíduo para realização de tarefas funcionais relevantes. Consequentemente, o
desempenho nos testes de capacidade tem sido utilizado no contexto da reabilitação
em geral e do esporte com dois objetivos primários. Primeiro, quantificar evoluções
funcionais durante a reabilitação, informando sobre a mudança na capacidade do
indivíduo para responder as demandas envolvidas na realização de atividades
típicas do seu cotidiano. Segundo, determinar o momento de retorno às atividades
funcionais ou esportivas1,4,6-9. A determinação deste momento é uma tomada de
decisão importante para evitar queda no desempenho e surgimento de novas lesões
por retorno precipitado à atividade1,4,6,10,11.
Os testes de capacidade tipicamente envolvem a realização de tarefas
motoras que são componentes de atividades típicas do cotidiano ou de atividades
esportivas. O objetivo é simular, de forma padronizada, as demandas normalmente
impostas ao sistema musculoesquelético durante estas atividades. Corridas com e
sem mudança de direção, subir e descer degraus, saltos e agachamentos são
exemplos de tarefas motoras que podem ser usadas como testes de
capacidade3,4,7,10,12,13. Saltos e corridas são tarefas tipicamente relacionadas com a
prática esportiva, e, consequentemente, testes de capacidade que envolvem tais
atividades são adequados apenas para indivíduos ativos. Por outro lado, o
agachamento além de ser uma tarefa motora comumente realizada por indivíduos
ativos e não-ativos, é um componente importante de diversas atividades de vida
diária, como subir/descer escadas e sentar/levantar de uma cadeira, e de atividades
esportivas, como correr e saltar8,12. Assim, testes de capacidade que utilizam o
6
agachamento podem ser aplicados em diferentes populações, como atletas e
indivíduos pouco ativos6,8,12.
Teste de capacidade que usa o agachamento como atividade pode ser
realizado com apoio bipodal ou unipodal. O agachamento com apoio bipodal permite
que a demanda seja distribuída entre os membros e possibilita compensações entre
eles, ou seja, demanda maior para um membro em relação ao outro. Por garantir
que a demanda seja imposta sobre um único membro, o agachamento unipodal é
uma variação mais sensível da atividade para a identificação de fatores que afetam
a função do sistema musculoesquelético e pode representar uma boa escolha como
teste de capacidade8,14-18.
No agachamento unipodal o indivíduo normalmente inicia em
ortostatismo, com apoio em apenas uma perna e realiza o agachamento mantendo o
tronco ereto e voltando, em seguida, para a posição inicial13,15,19. O desempenho no
teste é influenciado diretamente pela percepção visual, coordenação, força e
resistência dos músculos envolvidos, amplitude de movimento disponível nas
articulações e pelo alinhamento dos segmentos envolvidos4,8,9,12,15,18,20. Este
desempenho pode ser medido pelo tempo gasto para realizar um número
determinado de repetições ou pelo número de repetições realizadas em um tempo
pré-determinado, ou seja, pela velocidade de execução da tarefa. Em particular, uma
menor velocidade pode indicar deficiências de um ou mais fatores que determinam o
desempenho na tarefa21.
Apesar do agachamento unipodal ser utilizado com frequência como teste
de capacidade, não existem procedimentos padronizados que permitam modificar o
nível de demanda imposta ao sistema musculoesquelético durante a realização do
teste. Assim, não se sabe como variações em parâmetros que afetam a dificuldade
desta tarefa (e.g. amplitude de movimento articular ou precisão espacial requerida)
afetam o desempenho nestes testes. No entanto, a avaliação da capacidade de um
indivíduo para responder a variações na dificuldade de uma tarefa, pode fornecer
informações relevantes para caracterização da sua condição funcional1,11. O
presente estudo foi desenvolvido com intuito de propor uma sistematização do teste
de agachamento unipodal para que tal avaliação seja possível. Para tanto, foi feita
uma adaptação do agachamento unipodal inspirada em uma tarefa amplamente
estudada, a qual ficou conhecida como tarefa de Fitts em homenagem ao seu
proponente22.
7
A tarefa de Fitts consiste em tocar dois alvos continua e alternadamente
com a maior precisão e menor tempo possíveis22-25. A largura do alvo (L) e distância
entre os alvos (D) determinam a demanda imposta ao indivíduo para realização
desta tarefa. Em particular, Fitts (1954) propôs o cálculo de um índice de dificuldade
(ID) para caracterizar esta tarefa baseado nestes dois parâmetros: [ID = log2(2D/L)].
Como indicado pela fórmula, este índice sugere que a dificuldade da tarefa é
proporcional à distância entre os alvos e inversamente proporcional à largura entre
os alvos22.
No presente estudo, foram utilizados os mesmos parâmetros da tarefa de
Fitts para manipular a demanda do agachamento. Especificamente, a tarefa foi
adaptada de forma que o indivíduo ao realizar agachamentos unipodais cíclicos
tivesse que apontar o feixe de luz de um apontador a laser, afixado a sua pelve, para
dois alvos posicionados a sua frente, um acima do outro. A distância entre os alvos
se correlaciona com as excursões articulares a serem realizadas durante o teste
(quanto maior a distância, maior a excursão e a demanda ou dificuldade). A largura
do alvo adiciona um elemento de precisão ao teste que pode requerer do indivíduo
maior controle dos movimentos nos três planos de movimento (frontal, sagital e
transverso) para realização do teste, particularmente quando o alvo for menor.
No contexto da tarefa de Fitts, diversos estudos demonstraram uma
relação entre o ID e o tempo que um indivíduo leva para deslocar o membro efetor
(tipicamente a mão) de um alvo ao outro22,23,26-29. Tal relação, conhecida como lei de
Fitts, estabelece que quanto maior o ID, maior o tempo de movimento. Dessa forma,
dado um mesmo ID, um menor tempo usado para percorrer a distância entre os
alvos representa um melhor desempenho na tarefa23,27,28. Além disso, um maior
aumento do tempo de movimento, frente a um aumento no ID, reflete uma menor
eficiência do indivíduo para lidar com modificações na demanda da tarefa30. Não se
sabe, no entanto, se estas relações estariam presentes no contexto do agachamento
para que os parâmetros de distância entre alvos e tamanho dos alvos possam ser
utilizados como manipulações padrão para variação da dificuldade neste teste. O
objetivo do presente estudo é, portanto, avaliar se o tempo de movimento varia de
forma sistemática com mudanças na largura dos alvos e na distância vertical entre
os alvos (angulação de joelho), como acontece em estudos realizados previamente
com membros superiores. O estudo teve ainda como objetivo avaliar a confiabilidade
8
do teste nas diversas condições de dificuldade determinadas pela distância e largura
dos alvos.
9
2 MÉTODOS
2.1 Amostra
Participaram deste estudo onze adultos jovens (7 mulheres e 4 homens),
com idades entre 18 e 35 anos, selecionados por conveniência na Escola de
Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). Todos os voluntários cumpriram o critério de
inclusão do estudo que exigia a ausência de dor em membro inferior.
2.2 Instrumentação e Procedimentos
Todos os sujeitos leram e assinaram um termo de consentimento livre e
esclarecido, concordando com sua participação no estudo. Foram registrados os
dados para caracterização da amostra: idade (anos), sexo, frequência
(vezes/semana) e duração (minutos) da prática de atividade física durante o último
ano. Dados como massa corporal (quilogramas), altura (centímetros) e comprimento
do membro inferior direito (centímetros) foram aferidos pelo mesmo pesquisador.
A tarefa experimental consistiu na realização de agachamentos cíclicos,
em apoio unipodal com o membro inferior direito e com demandas manipuladas de
acordo com os parâmetros da tarefa de Fitts (largura dos alvos e distância entre
eles). Inicialmente, o sujeito foi instruído a se posicionar no centro do laboratório
sobre um pedaço de papel craft. O pé direito foi posicionado no centro deste papel e
após realizar alguns agachamentos livres, a posição do pé, definida pelo participante
como confortável, foi marcada no papel e mantida ao longo de todas as repetições.
Em seguida, um apontador a laser foi fixado na pelve dos participantes dois dedos
acima da porção superior do trocânter maior do membro inferior direito. Este
apontador foi posicionado paralelamente ao solo, apontando para frente (FIG. 1).
Dois metros a frente do sujeito, foi posicionado um painel metálico com dimensão de
2,00m de altura por 0,80m de largura. Com o laser apontado para o painel, foi
registrada a altura em que o feixe do laser incidiu sobre o mesmo em três posições
distintas: apoio unipodal com o joelho estendido (altura inicial), apoio unipodal com o
joelho fletido a 30º e apoio unipodal com o joelho fletido a 60º. As angulações de
flexão de joelho foram medidas por um mesmo pesquisador com uso de um
10
goniômetro universal. O teste consistiu na realização do agachamento unipodal
nestas duas amplitudes (inicial até 30º e inicial até 60º de flexão de joelho) e as
alturas registradas para cada participante foram utilizadas, posteriormente, para
fixação dos alvos magnéticos retangulares no painel (FIG. 1).
FIGURA 1- Posição do apontador a laser, painel metálico e alvos no ambiente de coleta
Durante a atividade cíclica de agachamento, o participante foi orientado a
se movimentar de maneira que o feixe de laser fosse deslocado a partir do alvo
superior, posicionado na altura inicial, até o alvo inferior, posicionado na altura
determinada pelo agachamento em flexão de joelho de 30º ou 60º, e retornar
novamente a altura inicial no menor tempo possível. Este movimento, que
corresponde a um ciclo, deveria ser realizado continuamente dez vezes, garantindo
que o feixe de laser tocasse os alvos alternadamente em todos os ciclos de
movimento realizados (FIG. 2). Caso houvesse algum erro na execução da tarefa,
como deixar de alcançar um dos alvos ou ultrapassar o limite de um deles, o
participante era solicitado a reiniciar a série de 10 ciclos de agachamento.
11
FIGURA 2 - Ciclo de agachamento a) movimentação do sujeito b) visão do painel pelo sujeito durante a execução do ciclo
Como forma de manipular a precisão exigida, três pares de alvos com
larguras distintas (3, 5 e 10cm) foram utilizados em cada amplitude de agachamento
(FIG. 3). O comprimento de todos os alvos foi o mesmo (60cm). A tarefa consistiu,
então, na execução de agachamentos em seis condições: (1) 30 graus de flexão de
joelho com alvos de 3cm (30º P), (2) 30 graus de flexão de joelho com alvos de 5cm
(30º M), (3) 30 graus de flexão de joelho com alvos de 10cm (30º G), (4) 60 graus de
flexão de joelho com alvos de 3cm (60º P), (5) 60 graus de flexão de joelho com
alvos de 5cm (60º M), (6) 60 graus de flexão de joelho com alvos de 10cm (60º G). A
ordem de realização destas condições foi aleatorizada por sorteio.
FIGURA 3 - Pares de alvos com diferentes larguras: a) 3cm (P) b) 5cm (M) c) 10cm (G)
Em cada condição, foi feita familiarização, antes das tentativas
avaliativas, até que o sujeito se sentisse capaz de realizar a tarefa. Aos participantes
foram permitidas quantas tentativas fossem necessárias para que executassem três
12
séries (cada uma composta por 10 ciclos de movimento) válidas em todas as seis
condições de teste. Foi permitido a eles descanso em qualquer momento, mediante
solicitação, e pelo tempo que julgassem necessário. Para permitir a avaliação da
confiabilidade do teste, o reteste foi realizado após 3 a 7 dias da data da primeira
coleta.
O tempo total de execução de cada série de agachamento foi medido e
registrado por um único pesquisador com a utilização de um cronômetro manual
(Oregon Scientific®). Quando o voluntário relatava estar pronto para a execução da
atividade, este mesmo pesquisador dava o comando para que ele assumisse a
posição inicial em apoio unipodal e, logo em seguida, outro comando para que
iniciasse a tarefa. Neste momento, o cronômetro era acionado e ao término de 10
ciclos de movimento, o tempo era interrompido e o voluntário orientado a parar a
atividade, apoiando o membro inferior esquerdo no chão.
2.3 Redução dos dados
O desfecho analisado foi o tempo médio para a realização de cada ciclo
de movimento (sequência caracterizada por toque do feixe do laser no alvo superior,
toque no alvo inferior e retorno ao primeiro) em cada condição experimental. Foi
calculado o tempo médio de um ciclo de movimento, medido com o cronômetro, nas
3 séries avaliativas em cada condição de teste. Este valor foi dividido pelo número
total de ciclos de cada série (10 ciclos), obtendo-se, então, o tempo médio de um
ciclo de movimento em cada condição experimental. Este tempo fornece informação
sobre o desempenho dos indivíduos na tarefa de precisão em cada condição.
2.4 Análise estatística
Inicialmente foi feita análise descritiva dos dados, obtendo-se valores de
média, desvio padrão e variância do tempo de movimento para cada condição
experimental. Com intuito de se avaliar se o tempo de movimento varia de forma
sistemática com mudanças na largura dos alvos e na distância vertical entre os alvos
(angulação de joelho), uma análise de variância (ANOVA) com dois níveis de
medida repetida (largura dos alvos: 3, 5 e 10cm e angulação do joelho: 30º e 60º) foi
utilizada. Para avaliar a confiabilidade teste-reteste da medida de desempenho
13
(tempo médio para realização de cada ciclo de movimento), foi computado o
coeficiente de correlação intraclasse (CCI) de concordância absoluta. A partir do
CCI foi determinado o erro padrão da medida (EPM). Devido às características da
medida, os valores de referência para o CCI de concordância absoluta no presente
estudo deveriam ser iguais ou exceder 0,9 para que fosse considerada boa
confiabilidade31. Para realização desta análise foi utilizado o programa estatístico
SPSS for Windows na sua versão 15.0.
14
3 RESULTADOS
Dos onze participantes do estudo, quatro foram classificados como
fisicamente inativos (3 mulheres e 1 homem) e sete como fisicamente ativos (4
mulheres e 3 homens). Foram considerados ativos os participantes que relataram
praticar atividade física durante no mínimo 150 minutos por semana e inativos
aqueles que relataram não praticar atividade física ou praticar por tempo inferior a
150min/semana32. As médias e desvios-padrão (D.P.) dos demais dados de
caracterização da amostra estão apresentados na TAB. 1.
TABELA 1
Caracterização da amostra
Média D.P.
Idade (anos) 24,64 2,94
Massa corporal (Kg) 64,50 8,55
Altura (cm) 169,55 0,07
Comprimento MI direito (cm) 86,68 4,31
As médias, os desvios-padrão e as variâncias (var) do tempo de
execução dos ciclos de movimento realizados em cada condição de teste, assim
como o CCI para a confiabilidade teste-reteste e o EPM para o grupo avaliado estão
descritos na TAB. 2, nas diferentes condições do teste. O CCI mostra que a medida
foi confiável (CCI≥0,90) em cada condição avaliada.
15
TABELA 2
Tempo de execução de um ciclo de movimento no teste e reteste, CCI
(confiabilidade teste-reteste) e EPM em cada condição de teste
CONDIÇÃO
DE TESTE*
TESTE
RETESTE
CCI
EPM
Média D.P. Var Média D.P. Var
30˚ P 2,02
0,31 10,44 2,13
0,46 23,27 0,96** 0,28
30˚ M 1,67 0,22 5,22 1,65
0,28 8,72 0,96** 0,16
30˚ G 1,35 0,19 4,06 1,38 0,28 8,47 0,95** 0,15
60˚ P 2,44
0,31 10,86 2,65
0,43 20,14 0,92** 0,39
60˚ M 2,18
0,27 79,72 2,37
0,42 19,04 0,91** 0,34
60˚ G 1,71
0,22 5,42 1,98
0,35 13,57 0,90** 0,27
*Condições de tamanho do alvo nas amplitudes de 30 e 60º de flexão de joelho: P (pequeno – 3cm), M (médio – 5cm) e G (grande – 10cm). **Nível de significância < 0,001.
A ANOVA revelou efeito significativo tanto da angulação máxima de
joelho (p≤0,001, F =31,98, 2 =0,76), quanto do tamanho do alvo (p=0,002, F =13,74,
2 =0,75). A interação angulação máxima de joelho x largura de alvo não foi
significativa (p=0,56, F < 1).
16
4 DISCUSSÃO
O tempo de movimento é uma variável importante para medir
desempenho na tarefa de agachamento unipodal. Bremander et al. (2007) validaram
um teste de agachamento unipodal em 30 segundos para avaliação do desempenho
funcional de extremidade inferior e mostraram confiabilidade com CCI igual a 0,92
para pacientes meniscectomiados com lesão e osteoartrite no joelho33. Neste teste,
o sujeito deve realizar o maior número possível de agachamentos durante o tempo
pré-determinado, numa amplitude de até aproximadamente 30º de flexão de
joelho21,33,34.
O presente estudo teve como objetivo avaliar a confiabilidade de um teste
similar, no qual o tempo total para execução de 10 ciclos de agachamento foi
aferido, para que fosse posteriormente calculado o tempo médio de execução de um
ciclo. A tarefa foi realizada em seis condições envolvendo demandas variadas.
Optou-se por medir o tempo de execução de 10 ciclos para garantir que o tempo
médio fosse calculado com base em um mesmo número de agachamentos para
todos os sujeitos e também para diminuir a chance de interferência da fadiga
muscular na execução da tarefa, o que poderia ocorrer com número maior de
repetições. Os resultados encontrados neste estudo demonstram CCI teste-reteste
maior ou igual a 0,90 em todas as condições experimentais. Portanto, os
procedimentos podem ser considerados confiáveis para aplicação clínica em todas
as condições de teste.
Roos et al. (2001, 2008) demonstraram que sujeitos com lesão na
articulação do joelho realizam um menor número de agachamentos nos 30
segundos de teste, ou seja, apresentam maior tempo médio de execução do
agachamento que indivíduos sem lesão nesta articulação21,34. Foi também
demonstrado pelos autores que sujeitos que fazem menos agachamentos em 30
segundos e, portanto, apresentam maior tempo médio do ciclo de agachamento, têm
pior função21,34. A realização da tarefa em condições de demandas variadas, como
proposta no presente estudo, possibilita um poder de discriminação entre grupos
ainda maior. O desempenho, ao invés de ser medido em uma única condição de
teste, pode, neste contexto, ser avaliado em outras condições com diferentes
demandas. Assim, é possível que não seja encontrada diferença entre grupos,
17
quando o nível de dificuldade da tarefa é relativamente baixo e que esta diferença
apareça, quando a demanda é aumentada.
Considerando a importância da manipulação da demanda e de sua
relação com o tempo de execução da tarefa, o presente estudo investigou diferenças
no tempo médio de movimento (TM) em diferentes condições de largura dos alvos e
distância vertical entre os alvos (amplitude de agachamento) no teste de capacidade
de agachamento unipodal. Os resultados obtidos demonstraram que o TM foi
influenciado pelos fatores amplitude de agachamento (30 e 60º de flexão de joelho)
e largura de alvo (3, 5 e 10cm), sendo que não houve interação entre os fatores.
Desta forma, observou-se que variações nas demandas de amplitude e precisão
modificaram, de forma independente, o tempo de execução da tarefa.
Autores que avaliaram a tarefa de Fitts com membro superior em cadeia
aberta, normalmente, determinam distâncias fixas entre os alvos para todos os
sujeitos, como forma de manipular a demanda22,26-29. Entretanto, como no presente
estudo os participantes foram avaliados em uma tarefa em cadeia fechada realizada
com membro inferior (agachamento unipodal), a excursão angular no agachamento
é um fator importante para determinação da demanda. Manter distâncias fixas para
sujeitos com comprimentos de membro inferior diferentes poderia resultar em
angulações distintas de flexão de joelho e, assim, demandas distintas. Ou seja,
quanto maior fosse o membro inferior do participante, menor seria a demanda
relativa para a tarefa específica. Por este motivo, a variável utilizada neste estudo foi
amplitude de agachamento em graus de flexão de joelho (30 e 60º), estabelecendo,
desta forma, demandas similares para os voluntários em cada condição de teste.
Consequentemente, o índice de dificuldade (ID), que é comumente calculado pela
fórmula ID = log2(2D/L) e caracteriza a tarefa, não foi computado, já que uma
determinada angulação, corresponde a distâncias entre alvos (D) diferentes para
cada pessoa. O ID em uma determinada condição de demanda, assim como, a
variação deste índice entre as condições de teste seriam diferentes entre os sujeitos,
dificultando a interpretação da relação do ID da tarefa com o tempo de execução do
movimento. Neste contexto, torna-se necessária a elaboração de uma nova forma
para se calcular o ID na tarefa em questão.
A análise da cinemática e/ou sua relação com força muscular é comum
em estudos com testes de capacidade de agachamento8,9,12,15,18 e também de
salto9,10,15,35,36. É possível que alterações na cinemática do movimento de
18
agachamento modifiquem a demanda para o sujeito e possam, desta forma, interferir
no tempo de execução da tarefa. Por fim, a modificação na demanda e, assim, do
tempo de movimento, permite avaliar o desempenho funcional do sujeito em
diferentes níveis de exigência no agachamento. Portanto, são necessárias
investigações a cerca das relações entre alterações cinemáticas e o tempo de
execução na tarefa de agachamento.
Os resultados do presente estudo mostram que o teste de capacidade de
agachamento unipodal com manipulação da demanda através de parâmetros da
tarefa de Fitts é confiável para a população estudada. São necessários novos
estudos entre populações distintas, como com e sem lesão em membro inferior, para
avaliar a capacidade de discriminação do teste.
19
5 CONCLUSÃO
O teste de agachamento unipodal com manipulação da demanda por
parâmetros da tarefa de Fitts (larguras dos alvos e distância entre eles) mostrou-se
confiável para população de adultos jovens. O tempo médio de movimento (variável
desfecho), indicador do desempenho na tarefa, foi influenciado significativamente
pela largura dos alvos e pela a distância entre eles (determinada pela amplitude de
agachamento em graus de flexão de joelho). Alvos menores requerem maior
precisão e, assim, maior ajuste do sistema motor para cumprimento da atividade e
maiores amplitudes de agachamento fazem com que a distância a ser percorrida
entre os alvos seja aumentada. Ambos estes fatores levam a um aumento do tempo
médio de movimento, o que corresponde a pior desempenho no teste.
20
REFERÊNCIAS
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