atividade fisica desporto e imagem corporal.pdf
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Actividade Fsica, Desporto e Imagem Corporal
Orientador: Professora Doutora Maria Paula Santos
Tnia Manuela dos Santos Oliveira
Porto, 2009
Dissertao apresentada com vista obteno do
2 ciclo em Actividade Fsica e Sade, da
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto,
ao abrigo do Decreto-Lei n 74/2006 de 24 de
Maro
Estudo em adolescentes com peso normal e com excesso de peso
-
Oliveira, T. (2009). Actividade Fsica, Desporto e Imagem Corporal: Estudo
em adolescentes com peso normal e com excesso de peso. Porto: T.
Oliveira. Dissertao de Mestrado apresentada Faculdade de
Desporto da Universidade do Porto.
Palavras-chave: OBESIDADE, PERCEPO DA IMAGEM CORPORAL,
ACTIVIDADE FSICA.
-
iii
AGRADECIMENTOS
minha orientadora Professora Doutora Maria Paula Santos pela
ajuda, pacincia e apoio disponibilizado na realizao do estudo.
A todas as pessoas os que tornaram possvel a realizao do estudo,
e s que sempre me apoiaram e me ajudaram na concretizao dos meus
objectivos.
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!v
NDICE GERAL
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!
NDICE GERAL................................................................................................v!
NDICE DE FIGURAS..................................................................................... ix!
NDICE DE QUADROS...................................................................................xi!
RESUMO.......................................................................................................xiii!
ABSTRACT....................................................................................................xv!
RSUM......................................................................................................xvii!
LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................xix!
1.! INTRODUO..........................................................................................1!
2.! REVISO DA LITERATURA....................................................................9!
2.1.! Obesidade ..................................................................................9!
2.1.1.! Definio e caracterizao .............................................9!
2.1.2.! Etiologia da Obesidade ................................................12!
2.1.3.! Prevalncia da Obesidade ...........................................16!
2.1.4.! Consequncias da Obesidade .....................................17!
2.1.5.! Estratgias de Preveno e Tratamento da Obesidade ....
.....................................................................................21!
2.2.! O Corpo e Imagem Corporal ....................................................25!
2.2.1.! O corpo na sociedade actual........................................25!
2.2.2.! Percepo da Imagem Corporal ..................................27!
2.3.! Actividade Fsica.......................................................................37!
2.3.1.! Relao entre AF e IMC...............................................38!
2.3.2.! Benefcios da AF ..........................................................38!
-
!!
2.3.3.! Recomendaes para a promoo e prescrio de
Actividade Fsica.......................................................................41!
3.! OBJECTIVOS E HIPTESES................................................................55!
3.1.! Objectivo Geral: ........................................................................55!
3.1.1.! Objectivos Especficos .................................................55!
3.2.! Hipteses..................................................................................55!
4.! MATERIAL E MTODOS.......................................................................59!
4.1! Descrio e Caracterizao da Amostra ..................................59!
4.2! Procedimentos Metodolgicos..................................................59!
4.2.1! Avaliao, por questionrios, das Modalidades
Preferidas .................................................................................60!
4.2.2! Avaliao do ndice de Massa Corporal .......................60!
4.2.3! Avaliao, por Questionrio, da Percepo da Imagem
Corporal (BIQ) ..........................................................................61!
4.3. Procedimentos Estatsticos ..........................................................62!
4.3.1. Estatstica Descritiva ......................................................62!
4.3.2. Estatstica Inferencial......................................................63!
5.! APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS......................67!
5.1! Modalidades Desportivas Seleccionadas .................................67!
5.2! Percepo da Imagem Corporal...............................................80!
5.3! Relao entre as modalidades desportivas seleccionadas e a
PIC ..................................................................................................95!
6.! CONCLUSES.....................................................................................101!
Anexo 1 - Pedido de autorizao ao Conselho Executivo da escola da
amostra................................................................................................... i
-
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Anexo 2 - Questionrio acerca das modalidades preferidas................. ii
Anexo 3 - Questionrio da Percepo da Imagem Corporal - Bruchon-
Shweitzer (1987) (Adaptado e traduzido por Vasconcelos, 1995) ........iii
Anexo 4 - Significado dos parmetros do questionrio ........................ iv
-
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NDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Frequncia das modalidades seleccionadas por sexo. ................69
Figura 2 - Frequncia das modalidades seleccionadas por IMC. .................71
Figura 3 - Opo dos adolescentes quanto preferncia por desporto
competitivo ou no competitivo, em funo do sexo......................................73
Figura 4 - Opo dos adolescentes quanto preferncia por desporto
competitivo ou no competitivo, em funo do IMC.......................................74
Figura 5 - Local de prtica elegido pelos adolescentes em funo do sexo. 74
Figura 6 - Local de prtica elegido pelos adolescentes, em funo do IMC. 75
-
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NDICE DE QUADROS
Quadro 1 - Classificao da obesidade segundo o IMC (OMS, 2000) 10
Quadro 2 - Classificao da obesidade atravs do IMC, segundo valores de
corte especficos, para idades compreendidas entre os 2 e os 18 anos (Cole,
Bellizzi, Flegal & Dietz, 2000) 12
Quadro 3 - Actuao da AF na reduo do peso (Barata, 1997, p.274) 39
Quadro 4 Recomendaes para a prescrio de exerccio (ACSM, 2003,
p.139; Wallace, 1997, p. 111) 49
Quadro 5 -Caracterizao da amostra relativamente ao sexo, IMC e idade.
59
Quadro 6 - xemplo do questionrio da PIC de Bruchon-Schweitzer (1990).
61
Quadro 7 Itens do questionrio da PIC de Bruchon-Schweitzer (1990) 62
Quadro 8 - Frequncia por sexo das categorias de desportos seleccionados.
69
Quadro 9 - Frequncia por sexo, da modalidade de Futebol 69
Quadro 10 - Valor do teste de Qui-quadrado, em funo do sexo, para a
modalidade de Futebol. 70
Quadro 11 - Frequncia por sexo, da modalidade de Natao 70
Quadro 12 - Valor do teste de Qui-quadrado, em funo do sexo, para a
modalidade de Natao 70
Quadro 13 Frequncia por IMC, das categorias de desportos
seleccionados 72
Quadro 14 - Frequncia por IMC, da modalidade de Futebol 73
Quadro 15 - Valor do teste de Qui-quadrado, em funo do IMC, para a
modalidade de Futebol 73
Quadro 16 PIC em funo do sexo. Mdia e desvio padro, valor de z e de
p. 81
Quadro 17 PIC em funo do IMC. Mdia e desvio padro, valor de z e de
p. 83
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RESUMO
O objectivo do nosso estudo consistiu em conhecer quais as modalidades
preferidas, assim como avaliar a percepo da imagem corporal, atravs dos
sentimentos e atitudes induzidas pelo prprio corpo, dos adolescentes
normoponderais e com excesso de peso/obesos. A amostra foi constituda
por 90 adolescentes, sendo 43 do sexo feminino e 47 do sexo masculino.
Desta amostra 43 tm excesso de peso/obesidade, enquanto de 47
adolescentes tm peso normal. Os adolescentes tm idades compreendidas
entre os 10 e os 15 anos, sendo a mdia de idades de 12,17 0,96 anos. A
recolha de dados foi realizada atravs de dois questionrios. Um questionrio
permitia conhecer quais as modalidades preferidas dos adolescentes, se
preferiam que fosse ou no desporto de competio e qual o local eleito para
a prtica desportiva. Para a avaliao da percepo da Imagem Corporal foi
utilizado o questionrio Body-Image Questionnaire de Bruchon-Shweitzer
(1987). Foi utilizada a estatstica descritiva, a mdia e o desvio padro, para
a anlise dos dados. Da estatstica inferencial foram utilizados o teste do qui-
quadrado, o teste no paramtrico Mann Whitney e o teste Kruskal-Wallis. Os
resultados obtidos nesta investigao mostram que: i) as modalidades
preferidas pelas adolescentes do sexo feminino foram natao e futebol,
enquanto que os adolescentes do sexo masculino elegeram futebol, seguido
de andebol; ii) as opes dos adolescentes normoponderais e os que
possuem excesso de peso/obesidade no diferiram, correspondendo a
futebol e natao, para ambos os grupos; iii) para a percepo da imagem
corporal em funo do sexo e do ndice de massa corporal, apenas foram
encontradas diferenas estatisticamente significativas em determinados itens,
podendo verificar-se que para o grupo de adolescentes com excesso de
peso/obesidade, os valores so ligeiramente mais reduzidos; iv) no existe
qualquer relao entre os desportos seleccionados pelos adolescentes com a
percepo da imagem corporal.
Palavras-chave: OBESIDADE, PERCEPO DA IMAGEM CORPORAL,
ACTIVIDADE FSICA
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ABSTRACT
The purpose of the current study is to find out which are the kinds of sports
that the majority of teenagers prefer and also to evaluate the Body Image
Awareness through the feelings and attitudes performed for the body itself of
overweight and non-obese adolescents. The sample was composed by 90
teenagers: 43 girls and 47 boys; 43 of them are overweight and 47 have the
standard weight. Their ages vary from 10 to 15 and the average age is 12,17
0,96 years old. The data gathering was conducted by means of two
questionnaires. One of them enabled the acknowledgement of which the
favourite kind of sports, as far as the teenagers are concerned, were, taking
into account if they preferred the sport at a competition level or just at regular
one and, also, what should be the chosen place to practise it. The Body-
Image Questionnaire by Bruchon-Shweitzer (1987) was applied to evaluate
the insight of the Body-Image. The descriptive statistics, the average and the
standard deviation were employed to analyse the data. From inferential
statistics, the chi-square test, the non-parametric Mann Whitney test and the
Kruskal-Wallis were applied. The results obtained through this survey
demonstrate that: i) the teenage girls favourite sports were swimming and
football, whereas the teenage boys decided on football followed by handball;
ii) the choices of the normal weight and overweight adolescents were no
different: football and swimming for both groups; iii) To match Body Image
Awareness according to sex and the body mass index, significant statistical
differences were only found in! particular items: for the overweight group of
teenagers, the rates are slightly smaller; iv) There is absolutely no connection
between the teenagers selected sports and the Body Image Awareness.
Key words: OBESITY, BODY IMAGE AWARENESS, PHYSICAL ACTIVITY
-
!!
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!xvii
RSUM
Le but de notre tude est de savoir quelles sont les modalits privilgies et
dvaluer la perception de limage corporelle, travers les sentiments et
attitudes induits par lorganisme de ladolescent ayant un poids normal et de
ladolescent en surpoids/obses. Lchantillon tudi tait compos de 90
adolescents, 43 de sexe fminin et 47 de sexe masculin. Parmi eux, 43 sont
en adolescents ont un ge compris entre 10 et 15 ans et lge moyen est de
12,170,96 ans. La collecte des donnes a t ralise grce deux
questionnaires. Un de ces questionnaires a permis de dterminer le type
dactivits sportives prfr des adolescents: le sport de comptition et le lieu
choisi pour cette activit. Pour valuer la perception de limage corporelle,
nous avons utilis le questionnaire Body Image Questionnaire, de Bruchon-
Shweitzer (1987). Nous avons galement utilis des statistique infrentielle,
nous avons utilis le test du chi-carr, le test nos paramtrique de Mann
Whitney et le test Kruskal-Wallis. Les rsultats de cette enqute indiquent que
la voie privilgie des adolescents sont la natation et le football, alors que les
jeunes hommes ont choisi le football, el handball. Les choix des adolescents
de poids normal et ceux en surpoids/obses ne diffrent pas trop, ce qui
correspond au football et la natation, pour les deux groups. Pour la
perception de limage corporelle par sexe et de lindice de masse corporelle
on ne trouve que des diffrences statistiquement significatives concernant
certains points : on peut voir que pour le groupe des adolescents en
surpoids/obses, les valeurs sont lgrement infrieures, il ny a pas de lien
clair entre les sports choisis par les adolescents et al perception de limage
corporelle.
Mots-cls: OBSIT, LA PERCEPTION DE LIMAGE CORPORELLE,
LACTIVIT PHYSIQUE
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xix
LISTA DE ABREVIATURAS
ACSM American College of Sports Medicine
AF Actividade Fsica
BIQ - Body-Image Questionnaire
OMS Organizao Mundial de Sade
PIC Percepo da Imagem Corporal
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!!
1. INTRODUO
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INTRODUO
1
1. INTRODUO
A obesidade parece ser um dos flagelos mais importantes da
sociedade contempornea, que afectam em particular os adolescentes, uma
vez que esto numa fase marcada pelo desenvolvimento e transformaes a
nvel fisiolgico, cognitivo, afectivo, social e moral, assim como no domnio da
construo da sua identidade e autonomia (Sousa, 2008).
A obesidade infantil est a aumentar em prevalncia, estando
associada a numerosas enfermidades, no sendo muitas vezes passvel de
tratamento, logo a preveno deve ser uma prioridade (MacKenzie, 2000).
O excesso de peso nas crianas e nos jovens possui uma etiologia
multifactorial, podendo a susceptibilidade gentica ser importante na
explicao das diferenas individuais no ganho de peso. Contudo, o aumento
da prevalncia global da obesidade nos jovens, demonstra que os
comportamentos ligados dieta e actividade fsica [AF], so centrais para a
causa da obesidade (Rennie, Johnson & Jebb, 2005).
Da obesidade provm riscos de sade tais como a hipertenso,
hipercolesterolemia, diabetes tipo 2, doenas cardiovasculares, osteoartrites,
cancro (tero, prstata, mama, clon) e doenas da vescula (Dishman,
Washburn & Heath, 2004). Contudo, aspectos sociais e emocionais
associados ao excesso de peso so imediatos e aparentes, influenciando
muitos aspectos do bem-estar da criana e do adolescente,
independentemente dos seus efeitos na sade (Strauss & Pollack, 2003).
Alm de todos os problemas de sade fsica associados obesidade,
ainda importante referir os diversos problemas sociais e psicolgicos que
desta advm. Deve tambm existir uma preocupao pela discriminao e
vitimizao, a que esto sujeitas as crianas obesas (Must & Strauss, 1999).
Coligados obesidade surgem distrbios psicossociais e emocionais,
acompanhados de depresso, ansiedade e diminuio da auto-estima,
distrbios estes originados pela rejeio social, num contexto social onde h
a primazia da beleza fsica conduzindo discriminao educativa, social e
culminando no isolamento social (Oliveira, Albuquerque, Carvalho, Sendin &
Silva, 2009).
-
INTRODUO
2
A obesidade deve ser entendida no como um problema individual,
mas sim um problema da populao, devendo ser abordada como tal.
Estratgias eficazes de preveno e de gesto da obesidade exigem uma
abordagem integrada, envolvendo aces em todos os sectores da
sociedade (Organizao Mundial da Sade [OMS], 2000).
A escola surge como um vector primordial na preveno da obesidade,
podendo intervir ao nvel da educao alimentar e do gosto pela prtica de
exerccio fsico. importante o envolvimento da famlia e de toda a
comunidade, para a obteno de resultados de forma consistente, bem como
a criao de condies para que os comportamentos aprendidos na escola
possam ser postos em prtica (Coelho et al., 2008).
A adolescncia assim um perodo complexo e de considervel risco
para a sade, contudo pode tambm ser um tempo crtico para as
intervenes da promoo de sade e de estilos de vida saudveis (Oliveira,
Albuquerque, Carvalho, Sendin & Silva, 2009).
importante identificar estratgias sobre como ampliar a prtica
desportiva na adolescncia. Uma possibilidade seria focar as iniciativas nas
actividades que, no momento, despertam o interesse e a curiosidade do
pblico jovem (Jnior, Arajo & Pereira, 2006).
na adolescncia que se iniciam muitos dos comportamentos
relevantes para a sade, tal como as escolhas alimentares e o exerccio
fsico, comportamentos estes que influenciam a morbilidade e mortalidade
neste fase da vida de cada jovem (Oliveira, Albuquerque, Carvalho, Sendin &
Silva, 2009). Os mesmos autores referem a educao para a sade nos
adolescentes como uma rea de preocupao, pois nesta fase pode existir
uma experimentao de comportamentos de risco e o incio de padres que
se mantm na vida adulta. fundamental reconhecer e estimular
precocemente hbitos alimentares saudveis e de AF, estabelecendo e
reforando os mesmos costumes nesta fase e sobretudo os comportamentos
futuros, na vida adulta.
Os pais tm o papel de transmitir valores, que ajudem os adolescentes
a modelar os seus comportamentos quer nas escolhas alimentares, como na
AF. A aprendizagem de estilos de vida saudveis devem iniciar-se desde
-
INTRODUO
3
muito cedo, sendo essencial que as crianas e os adolescentes aprendam a
apreciar a prtica de desporto, quer na escola como nos tempos de lazer
(Oliveira, Albuquerque, Carvalho, Sendin & Silva, 2009).
Marques e Gaya (1999), entendem que a escola pode situar-se no
centro das preocupaes com a educao para a sade, principalmente pelo
facto, de grande parte das crianas e jovens terem acesso escola, e nela
participarem nas aulas de educao fsica. Esta razo torna assim a escola
numa instituio privilegiada de interveno. Devem ser garantidas por esta,
estratgias que permitam ao aluno reconhecer as bases de apoio
manuteno da sua sade. Assim, a escola deve ser uma fonte de
informao, e conceder meios que suportem a manuteno da sade no
futuro (Mota, 1999).
Aliados escola devem surgir os clubes, juntos devem proporcionar a
formao desportiva e motora dos jovens, conseguida atravs da formao
pedaggica do professor de educao fsica (Marques, 1999).
O perodo da adolescncia assim marcado pelo crescimento,
havendo importantes modificaes corporais, tornando os adolescentes
vulnerveis a excessos e desequilbrios nutricionais (Oliveira, Albuquerque,
Carvalho, Sendin & Silva, 2009).
Os adolescentes podem apresentar sentimentos negativos acerca de
si prprios, com as transformaes que sofrem na aparncia fsica (Anastcio
& Graa Simes, 2006). Para alm das alteraes do ponto de vista
biolgico, em que o adolescente tem que se confrontar com o seu corpo em
transformao ao nvel da estatura, peso, distribuio de massa adiposa,
problemas na pele, mudana de traos fisionmicos e mudanas ligadas ao
aparecimento de caractersticas sexuais secundrias (peito, pelos pbicos,
voz), tambm do ponto de vista afectivo, cognitivo e social, se fazem sentir
essas alteraes (Nodin, 2001).
Pertencemos a uma sociedade onde a imagem e a aparncia, a
beleza, a juventude e perfeio fsica, so fundamentais. A obesidade uma
condio que no tem lugar na actual poca, podendo esta alterar a imagem
dos indivduos (Bento, 2004).
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INTRODUO
4
A cultura ocidental moderna enfatiza o corpo magro, denegrindo o
excesso de peso, estigmatizando os indivduos obesos, tornando provvel
que estas pessoas interiorizem estas mensagens, sentindo-se mal com a sua
presena fsica. A obesidade surge aliada a uma imagem corporal pobre,
tornando as pessoas mais vulnerveis (Schwartz & Brownell, 2004).
A imagem corporal pode ser entendida como uma idealizao
multidimensional definida e influenciada por indicadores fsicos, pelos outros
e pelo estatuto socioeconmico (Cash & Brown, 1987), sendo importante
para a sua formao as relaes sociais, culturais, psicolgicas e fisiolgicas
(Schilder, 1968). A imagem corporal no somente a imagem que o
indivduo percepciona sobre o seu prprio corpo, mas tambm a forma como
outros indivduos o vem (Fallon, 1990).
A imagem corporal no apenas uma fotografia subjectiva do nosso
corpo, a impresso reflectida das nossas dimenses, formas e peso, mas
tambm uma construo permanente, em que intervm os nossos
sentimentos e as nossas respostas aos valores, atitudes, modelos e opinies
vigentes num determinado contexto (Sobral, 1995).
Os adolescentes manifestam uma imagem corporal positiva, sendo o
peso o que mais insatisfaz particularmente nas raparigas (Anastcio & Graa
Simes, 2006). Uma considervel proporo de crianas e adolescentes de
ambos os sexos prefere ter uma imagem corporal relacionada com a
magreza, sendo esta tendncia tanto maior quanto maior a magnitude da
obesidade (Silva, Rego, Camila, Azevedo & Guerra, 2008).
A AF deve fazer parte de um plano de preveno e tratamento da
obesidade. Sallis e Patrick (1994), sugeriram que deveria haver um aumento
da promoo da AF nas idades peditricas de forma a prevenir os riscos de
mortalidade, bem como contributo para um estilo de vida saudvel,
aumentando assim a probabilidade de se tornarem adultos activos. Deste
modo, com o desenvolvimento de um estilo de vida activo nas crianas
obesas, possvel alcanar mltiplos benefcios, actuando nos problemas
fsicos e psicolgicos (Bouchard & Blair, 1999). A AF tambm tem sido
associada a benefcios psicolgicos nos jovens. A participao na AF pode
ajudar no desenvolvimento social dos jovens, proporcionando oportunidades
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INTRODUO
5
para a auto-expresso, a busca da auto-confiana, interaco social e de
integrao (OMS, 2008a).
Vrios estudos demonstraram que o prazer, o bem-estar e o
divertimento, mais que a melhoria da aptido fsica, ou mesmo os factores
estticos, que condicionam a prtica e as escolhas de participao nas
actividades fsicas desportivas (Mota & Sallis, 2002).
Posto isto, como o nosso estudo pretendemos conhecer quais os
desporto preferidos pelos adolescentes normoponderais e com excesso de
peso/obesidade, bem como a sua relao como a percepo da imagem
corporal.
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2. REVISO DA LITERATURA
-
!!
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REVISO DA LITERATURA
9
2. REVISO DA LITERATURA
2.1. Obesidade
2.1.1. Definio e caracterizao
A obesidade infantil constitui um dos maiores desafios para a sade
peditrica no sculo XXI (Wardle, 2005). A anlise do conceito de obesidade
tem sido alvo da ateno da comunidade cientfica internacional, sendo
conhecida como a doena nutricional mais sria e preponderante nos pases
industrializados, e considerada como um problema clnico difcil (Rocchini,
1993).
A obesidade definida como uma condio anormal de excesso de
gordura acumulada no tecido adiposo, que coloca em perigo a sade (OMS,
2000).
De acordo com o Amrican College of Sports Medicine ([ACSM],
2006), a obesidade define-se como a quantidade percentual de gordura
corporal acima do qual o risco de doena aumenta, ou de uma forma simples,
a obesidade corresponde a um aumento exagerado de reservas lipdicas
armazenadas no tecido adiposo.
Segundo a International Obesity Task Force, a obesidade uma
condio complexa de dimenses sociais, biolgicas e psicossociais
considerveis, podendo eventualmente afectar qualquer pessoa de qualquer
idade ou grupo socioeconmico, em qualquer parte do mundo (Santos,
2004).
Bar-Or e Barnowski (1994), definem adiposidade como sendo a
quantidade de gordura corporal, apresentada como massa (peso) ou como
uma percentagem de massa corporal total. Assim, obesidade entendida
como o estado acima da adiposidade anormal, a partir da qual h maior
probabilidade de ocorrer problemas de sade.
possvel falar num sistema de classificao da obesidade fenotpica
(Tipo I: Excesso de massa corporal ou percentagem de gordura; Tipo II:
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REVISO DA LITERATURA
10
Excesso de gordura subcutnea tronco-abdominal (andride); Tipo III:
Excesso de gordura abdominal visceral; Tipo IV: Excesso de e gordura
glteo-femoral (andride)), na morfologia da gordura celular (obesidades
hiperplsica ou hipertrgica) e o estado de sade (obesidade leve ou
mrbida) (Wallace, 1997).
Os indivduos obesos diferem no apenas pelo excesso de peso mas
tambm pela distribuio de gordura pelo corpo. Esta distribuio afecta o
risco associado obesidade e aos tipos de doena que da resultam.
possvel distinguir entre os que tm elevado risco, resultado da distribuio
da gordura na regio abdominal, denominada de obesidade andride, com a
obesidade ginide, em que a gordura mais uniformemente e
perifericamente distribuda por todo o corpo, estando associada a um menor
risco de doena (OMS, 2000; Hills & Wahlqvist, 1994).
Pretende-se com a definio de excesso de peso e obesidade, prever
os riscos para a sade e fornecer as comparaes entre as populaes
(Cole, Bellizzi, Flegal & Dietz, 2000). Utiliza-se comummente o ndice de
massa corporal [IMC] na populao adulta, sendo reconhecido o ponto de
corte de 25kg/m2 para adultos com excesso de peso, e de 30 kg/m2 para
adultos obesos (Cole, Bellizzi, Flegal & Dietz, 2000; OMS, 2000).
O IMC simplesmente uma relao entre o peso e o quadrado da
altura (peso-Kg/altura!-m!). Por exemplo, um adulto que pese 70Kg e mea
1,75m, ter um IMC de 22,9 (OMS, 2000).
A OMS (2000), classifica a obesidade de acordo com o IMC,
associando o valor a um risco de doenas, tal como podemos verificar no
quadro que se segue.
Quadro 1 - Classificao da obesidade segundo o IMC (OMS, 2000).
Classificao IMC Risco de doenas
Baixo peso
-
REVISO DA LITERATURA
11
A OMS (2000) refere a falta de coerncia e de acordo entre os estudos
e a classificao da obesidade na infncia e na adolescncia, salientando a
necessidade de um sistema de classificao padronizado mundialmente.
Durante a infncia e a adolescncia mais complicado classificar a
obesidade, uma vez que a altura ainda est a aumentar e a composio
corporal est em contnua mutao (OMS, 2000).
As crianas so um grupo populacional, onde ser de esperar que os
efeitos de uma interveno estratgica, sobre a obesidade, seja aparente.
Neste grupo existe um potencial superior para retornar a um crescimento
saudvel, com parmetros normais. Habitualmente as crianas aprendem a
partir de um estilo de comportamentos, sendo estas mais flexveis na sua
capacidade de mudana de comportamento, relativamente aos adultos
(Steinbeck, 2001).
Dado que na infncia o IMC muda substancialmente, foi proposto por
Cole, Bellizzi, Flegal e Dietz (2000), o estabelecimento de uma definio
standard, com pontos de corte especficos para idades compreendidas ente
os 2 e os 18 anos, baseada nos valores de IMC de 25 e 30 kg/m2, para
excesso de peso e obesidade respectivamente (Quadro 2).
-
REVISO DA LITERATURA
12
Quadro 2 - Classificao da obesidade atravs do IMC, segundo valores de corte
especficos, para idades compreendidas entre os 2 e os 18 anos (Cole, Bellizzi, Flegal &
Dietz, 2000).
IMC 25 kg/m2 IMC 30 kg/m2 Idade (anos)
Rapazes Raparigas Rapazes Raparigas 2 18.41 18.02 20.09 19.81
2.5 18.13 17.76 19.80 19.55 3 17.89 17.56 19.57 19.34
3.5 17.69 17.40 19.39 19.23 4 17.55 17.28 19.29 19.15
4.5 17.47 17.19 19.26 19.12 5 17.42 17.15 19.30 19.17
5.5 17.45 17.20 19.47 19.34 6 17.55 17.34 19.78 19.65
6.5 17.71 17.34 20.23 20.08 7 17.92 17.75 20.63 20.51
7.5 18.16 18.03 21.09 21.01 8 18.44 18.35 21.60 21.57
8.5 18.76 18.69 22.17 22.18 9 19.10 19.07 22.77 22.81
9.5 19.46 19.45 23.39 23.46 10 19.84 19.86 24.00 24.11
10.5 20.20 20.29 24.57 24.77 11 20.55 20.74 25.10 25.42
11.5 20.89 21.20 25.58 26.05 12 21.22 21.68 26.02 26.67
12.5 21.56 22.14 26.43 27.24 13 21.91 22.58 26.84 27.76
13.5 22.27 22.98 27.25 28.20 14 22.62 23.34 27.63 28.57
14.5 22.96 23.66 27.98 28.87 15 23.29 23.94 28.30 29.11
15.5 23.60 24.17 28.60 29.29 16 23.90 24.37 28.88 29.43
16.5 24.19 24.54 29.14 29.56 17 24.46 24.70 29.41 29.69
17.5 24.73 24.85 29.70 29.84 18 25 25 30 30
2.1.2. Etiologia da Obesidade
O excesso de peso nas crianas possui uma etiologia multifactorial,
podendo a susceptibilidade gentica ser uma inter-ajuda na explicao das
diferenas individuais no ganho de peso. Contudo, o aumento da prevalncia
global da obesidade em crianas, demonstra que os factores ambientais,
particularmente os comportamentos ligados dieta e AF, so centrais para a
causa da obesidade (Rennie, Johnson & Jebb, 2005).
-
REVISO DA LITERATURA
13
Para Jebb e Moore (1999), a etiologia do excesso de peso e da
obesidade envolve factores como o comportamento alimentar, mecanismos
de armazenamento de gordura, influncias genticas, fisiolgicas, ambientais
e medicamentosas, sendo ainda reforada a importncia dos factores sociais
por Rossner (2002).
De acordo com Hill e Melanson (1999), a explicao provvel para a
alta prevalncia de obesidade um envolvimento que produz uma presso
constante sobre o balano energtico e que desencoraja a AF, referindo
tambm que os factores ambientais sero os principais responsveis pela
doena.
A obesidade uma condio que tem complexos factores que actuam
em vrios nveis. Para compreender o impacto desses factores, importante
identificar nveis prximos a cada cidado, sendo eles: factores individuais
(e.g. consumo alimentar), interpessoais (crenas parentais e/ou
conhecimentos), de organizao (menus escola/almoo), e do
governo/poltica (rotulagem dos alimentos orientaes). Embora nem todos
os factores possam estar relacionados com os nveis mencionados, este
um instrumento til para o entendimento deste complexo sndrome. Este
modelo implica que as intervenes devero resultar da interaco de pelo
menos dois nveis (British Medical Association, 2005).
Pode ser errado atribuir como nica causa da obesidade a inactividade
fsica, uma vez que esta pode ser resultado da inapropriada energia ingerida.
Assim, a obesidade resulta no apenas da inactividade fsica, mas tambm
da falta de correspondncia entre a energia ingerida e a dispendida
(Bouchard, Shephard & Stephens, 1993b).
Sabe-se que o acmulo de gordura se d pelo balano energtico
positivo, ou seja, mais energia ingerida do que gasta. Contudo, existe um
conjunto de razes individuais fisiolgicas, psicolgicos, hormonais, sociais
e ambientais (Nahas, 1999).
O balano energtico que explica a obesidade tem sido includo no
Modelo Ecolgico, explicado por Swinburn e Egger (2002), que permite
identificar o papel das influncias do envolvimento no balano energtico.
Neste modelo o agente simboliza a via final, definida como equilbrio de
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REVISO DA LITERATURA
14
energia positiva que leva ao ganho de peso. Os elementos deste modelo
ecolgico podem ser convertidos na trada epidemiolgica clssica
hospedeiro, condutores e envolvimento. Esta trada epidemiolgica
considerada como norteadora no controlo desta epidemia e nas estratgias
contra o aumento do peso. Nesta trada podemos observar (i) os condutores
(ou seja, factores que condicionam determinada situao), que representam
o gasto de energia, aparecendo como mediadora a inactividade fsica e todas
as mquinas que diminuem o trabalho fsico, bem como os alimentos e
bebidas de elevado teor calrico; (ii) o hospedeiro, que inclui todos os
factores relacionados com os indivduos, incluindo os factores biolgicos e
metablicos, conhecimentos, comportamentos e atitudes; por ltimo (iii) o
envolvimento que incorpora os aspectos econmicos, polticos e
socioculturais. Embora esta trada englobe diferentes estratgias de
interveno, todas elas esto interligadas, sendo necessrio tratar de todas
em conjunto para que seja alcanado o sucesso (Swinburn & Egger, 2002).
Alguns estudos tm demonstrado que os factores genticos
desempenham um papel importante no desenvolvimento da obesidade. No
entanto, a interaco da gentica com factores ambientais igualmente
importante, ou seja, a susceptibilidade obesidade em parte determinada
pelos factores genticos, mas necessrio um ambiente obesognico para a
sua expresso fenotpica (Loos & Bouchard, 2003).
Egger e Swinburn (1997), salientam a importncia das influncias
ambientais para o desenvolvimento da obesidade. Os autores classificam o
ambiente em macro, que determina a prevalncia da obesidade numa
populao, e em micro, que aliado ao comportamento biolgico e s
influncias comportamentais, ir determinar se um indivduo ser ou no
obeso. Este ambiente influencia na quantidade e no tipo de alimentos
ingeridos e na quantidade e tipo de AF adoptados. As influncias ambientais
representam o brao da sade pblica do problema da obesidade, isto , se o
macro ambiente for obesognico ento a obesidade torna-se mais
prevalente, e os programas com objectivo de influenciar o comportamento
individual podem vir a ter um efeito limitado. Tem-se verificado que o
-
REVISO DA LITERATURA
15
problema da obesidade apenas controlado aps terem sido modificados os
factores ambientais.
O aumento da obesidade tem sido demasiado rpido para indicar os
factores genticos como causa primria. Assim, a epidemia deve reflectir
sobretudo nas mudanas dos padres alimentares e nos nveis de AF.
Vivemos num ambiente que incentiva e promove a alta ingesto calrica
(Egger & Swinburn, 1997), o que muitas vezes pode condicionar os pais de
darem aos seus filhos uma alimentao equilibrada e um estilo de vida
saudvel (British Medical Association, 2005).
Dietz (1998), afirma que a maturao na puberdade, por si s, pode
representar uma determinante biolgica adicional.
O estilo de vida actual, sedentrio, parece ser to importante como a
dieta no desenvolvimento da obesidade (Rossner, 2002), sendo esta
condio um factor de risco para o ganho de peso com a idade (Bouchard,
2000).
O aumento do excesso de peso e da obesidade entre os jovens pode
estar associado diminuio da AF (Hill & Melanson, 1999). Um estudo de
Epstein, Smith, Vara e Rodefer (1991), revelou que crianas obesas
escolheram actividades sedentrias independentemente do custo. Crianas
magras e moderadamente obesas substituram a actividade vigorosa,
aumentando o sedentarismo.
So vrios os autores que referem a influncia dos meios de
comunicao social, mais concretamente da televiso, como causa da
obesidade. Existe uma forte relao entre ver televiso e o IMC, convidando
esta a um estilo de vida sedentrio. O aumento da adiposidade tem sido em
grande parte atribudo ao elevado nmero de horas a ver televiso e a um
estilo de vida sedentrio. A exposio publicidade com comida, em especial
sobre fast-food, pode influenciar as escolhas dos espectadores para comidas
ricas em energia e gordura (Rossner, 2003; Treuth et al., 2001).
A televiso est directamente relacionada com a obesidade infantil,
no s pela inactividade fsica, mas tambm pela energia consumida
(Lumeng, Appupliese, Cabral, Bradley & Zuckerman, 2006). Esta afirmao
reforada pelos nmeros que nos so apresentados em alguns estudos, que
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REVISO DA LITERATURA
16
demonstram que a preferncia por determinadas comidas influenciada em
30% pela exposio aos anncios da televiso (Wilson, Quigley & Mansoor,
1999). A fast-food exposta s crianas atravs dos brinquedos e eventos
sociais. importante estimular hbitos alimentares saudveis e a prtica de
AF, bem como limitar a exposio televiso (Malecka-Tendera & Mazur,
2006).
2.1.3. Prevalncia da Obesidade
O excesso de massa adiposa tornou-se num dos principais problemas
de sade infantil nos pases desenvolvidos e noutras partes do mundo
(Ebbeling, Pawlak & Ludwig, 2002). Esta afirmao ganha relevo quando
observamos as prevalncias no mundo, e particularmente, em Portugal.
Durante as ltimas duas dcadas, a prevalncia de obesidade em crianas
tem aumentado consideravelmente (Ebbeling, Pawlak & Ludwig, 2002).
A obesidade passou a ser considerada uma epidemia do sculo XXI
(Rossner, 2002), sendo esta afirmao reforada pelos valores apresentados
pela Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade. Esta entidade
afirmou que em 2000, 35% da populao portuguesa entre os 18 e os 65
anos tinha excesso de peso e 14.4% eram obesos (Nobre, Jorge, Macedo &
Castro, 2003).
Carmo et al. (2008), realizaram um estudo sobre a prevalncia da
obesidade entre 2003 e 2005, com uma amostra constituda por 8116
participantes com idades compreendidas entre os 18 e os 64 anos, a partir da
qual foi possvel fazer o levantamento dos valores de IMC. Os autores
concluram, que 2,4% da amostra total apresentou baixo peso (IMC
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REVISO DA LITERATURA
17
prevalncias de 19,1% e 10,3% nos rapazes e 21,4% e 12,3% nas raparigas,
respectivamente, de excesso de peso e obesidade (Padez, Fernandes,
Mouro, Moreira & Rosado, 2004), definidos de acordo com os valores de
corte de IMC propostos por Cole, Bellizzi, Flegal e Dietz (2000). No mesmo
estudo foi verificado que as crianas portuguesas apresentavam os segundos
valores mdios mais altos em excesso de peso/obesidade,
comparativamente com os outros pases europeus (31.5%).
2.1.4. Consequncias da Obesidade
De acordo com Lissner (1997), a sociedade equipara a magreza
beleza, sade, ao sucesso, aptido e ao auto-controle, e outros atributos
positivos, enquanto a obesidade considerada indesejvel por razes que
so muitas vezes mais relacionadas com a cosmtica do que as potenciais
complicaes mdicas.
A obesidade infantil era apenas contemplada como um problema
cosmtico, uma vez que os problemas de sade apenas surgiam se esta
permanece-se na idade adulta (Dietz, 2002). Contudo, entende-se que a
obesidade e o estilo de vida sedentrio, so dois factores de maior risco de
doenas no mundo ocidental, suportando enormes custos econmicos e de
sade. Ambos so reconhecidos como importantes factores de risco para
doenas cardiovasculares, hipertenso e outras condies debilitadoras
(Bouchard, 2000).
A obesidade um factor de risco varivel das doenas
cardiovasculares (Bar-Or & Barnowski, 1994), e muitas das consequncias
cardiovasculares que caracterizam a obesidade adulta, so precedidas de
anormalidades que comeam na infncia, como hiperlipidemia, hipertenso e
tolerncia anormal glicose, que ocorre com maior frequncia em crianas e
adolescentes obesos (Dietz, 1998).
Dietz (1995), enumera algumas das sequelas provenientes da
obesidade, como mudanas no crescimento, consequncias psicossociais,
problemas ortopdicos, dificuldades respiratrias, metabolismo de glicose
anormal, hipertenso, hiperlipidemia e persistncia da obesidade em adulto.
-
REVISO DA LITERATURA
18
Outros riscos para a sade provenientes da obesidade so a
hipertenso, a hipercolesterolemia, a diabetes tipo 2, doenas
cardiovasculares, osteoartrites, cancro (tero, prstata, mama, clon) e
doenas da vescula (Dishman, Washburn & Heath, 2004).
Segundo Barata (1997), possvel classificar os inconvenientes
associados obesidade, em trs grupos: malefcios clnicos, diminuio da
capacidade desportiva e problemas estticos e psquicos. Nas
consequncias clnicas, so descritas variadas patologias agregadas
obesidade, entre as quais podemos destacar o maior risco hipertenso
arterial, hiperinsulinismo, insulino-resistncia, diabetes tipo 2, perturbaes
ortopdicas, entre outras. As doenas metablicas e as cardiovasculares
esto normalmente associadas obesidade andride, enquanto as
ortopdicas e reumatismais so causadas pelo excesso de massa corporal
total (Barata, 1997).
Podemos associar obesidade mltiplas complicaes de ordem
fsica, contudo os aspectos sociais e emocionais do excesso de peso so
imediatos e aparentes, e influenciam muitos aspectos do bem-estar da
criana e do adolescente, independentemente dos seus efeitos na sade
(Strauss & Pollack, 2003).
Barata (1997), menciona similarmente as consequncias em termos
estticos e psquicos, tendo em considerao que os ideais de beleza so
sinnimo de magreza, estando associados a formas de sucesso, definidos
por tendncias que no se enquadram com a natureza e com os genes da
grande parte dos indivduos. Este conceito e contexto esttico, proporciona
nos jovens saudveis um sentimento de infelicidade em relao sua auto-
imagem, conduzindo adopo de prticas prejudiciais, sejam elas
alimentares ou medicamentosas (Barata, 1997).
A obesidade est associada a consequncias fsicas e mentais a longo
prazo. Mesmo durante a adolescncia, a obesidade est relacionada no s
com os problemas fsicos, mas tambm com as preocupaes psicossociais
(Oliveira, Albuquerque, Carvalho, Sendin & Silva, 2009).
Coligados obesidade surgem distrbios psicossociais e emocionais,
acompanhados de depresso, ansiedade e diminuio da auto-estima,
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REVISO DA LITERATURA
19
distrbios estes originados pela rejeio social, num contexto social onde h
a primazia da beleza fsica conduzindo discriminao educativa, social e
culminando no isolamento social (Oliveira, Albuquerque, Carvalho, Sendin &
Silva, 2009). Certas circunstncias sociais podem ser predisponentes ao
desenvolvimento do problema da obesidade, parecendo que este problema
crie tambm condies que levam a distrbios psicossociais (Lissner, 1997).
A discriminao para com as crianas obesas comea na infncia.
Estas por serem mais altas que os seus pares tendem a ser vistas como mais
maduras, levando criao de expectativas inadequadas que podem ter um
efeito adverso sobre a socializao (Dietz, 1998).
O preconceito perante o excesso de peso, possui implicaes para o
bem-estar psicolgico dos indivduos obesos, podendo aumentar a
vulnerabilidade depresso, baixa auto-estima, pobre percepo da
imagem corporal, e outros transtornos psiquitricos (Puhl & Heuer, 2008). As
crianas obesas esto assim mais susceptveis a experienciar problemas
psicolgicos ou psiquitricos quando comparadas com crianas no obesas,
sendo as raparigas que esto em maior risco. O risco de patologias
psicolgicas aumenta com a idade, sendo a baixa auto-estima normalmente
associada obesidade (Reilly et al., 2003).
Dada a importncia de normas da aparncia dos seus pares, da
imagem do corpo, e a aptido fsica ao desenvolvimento social e emocional,
o excesso de peso pode ter implicaes durveis para o desenvolvimento
infantil e o bem-estar do adolescente (Strauss & Pollack, 2003).
Existe uma clara e consistente discriminao e preconceito, podendo
em alguns casos ser documentados em trs reas importantes da vida do
indivduo, como no emprego, na educao e nos cuidados de sade (Puhl &
Brownell, 2001), tendo implicaes significativas no bem-estar fsico e
emocional (Carr & Friedman, 2005).
Puhl e Brownell (2001), acrescentam no caso particular da educao,
que o preconceito e a rejeio de crianas obesas nas escolas so um
importante problema social, uma realidade que pode ocorrer em muitas
reas que afectam a sade e o bem-estar dos sujeitos.
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REVISO DA LITERATURA
20
Alm da vulnerabilidade aumentada na reas relatadas anteriormente,
os indivduos obesos podem igualmente enfrentar o estigma em
relacionamentos interpessoais. Estudos recentes tm cada vez mais
documentados preconceitos por parte dos parceiros, dos familiares e amigos,
especialmente para mulheres obesas. Os indivduos obesos (particularmente
as mulheres), parecem assim confrontar o preconceito e esteretipos
negativos dentro de uma escala de relacionamentos (Puhl & Heuer, 2008).
No estudo realizado por Strauss e Pollack (2003), foi concludo que
geralmente reconhecido que o excesso de peso e a obesidade tm um
impacto negativo sobre a auto-imagem e a auto-estima em crianas e
adolescentes. Neste estudo, os autores avaliaram o impacto que o excesso
de peso na infncia pode ter nas amizades, concluindo que este grupo de
crianas tm menos e amizades menos recprocas. Alguns estudos
demonstram que as crianas obesas tm significativamente menos amigos
que as crianas com peso normal (Strauss, 2000).
O preconceito que existe face obesidade no baseado nos riscos
para a sade associados a esta, mas atribudo personalidade, tais como
ser preguioso ou ignaro (Rukavina & Li, 2008).
A obesidade similarmente susceptvel para o envolvimento de
bullying tanto para os rapazes como para as raparigas, os pr-adolescentes
obesos so os mais provveis de ser vtimas de bullying uma vez que se
afastam dos ideais da aparncia. Outros meninos obesos podem ser tambm
os provocadores, presumivelmente devido sua dominncia fsica (Griffiths,
Wolke, Page & Horwood, 2006).
As crianas com excesso de peso e as obesas, em idade escolar, so
mais susceptveis de serem vtimas de comportamentos de bullying, que os
seus pares com peso normal. Estas tendncias podem dificultar, a curto e a
longo prazo, o desenvolvimento social e psicolgico dos jovens (Janssen,
Craig, Boyce & Pickett, 2004).
-
REVISO DA LITERATURA
21
2.1.5. Estratgias de Preveno e Tratamento da Obesidade
A obesidade no apenas um problema individual, trata-se de um
problema da populao, devendo ser abordada como tal. Eficazes estratgias
de preveno e de gesto da obesidade exigem uma abordagem integrada,
envolvendo aces em todos os sectores da sociedade (OMS, 2000). Assim,
o primeiro passo para a preveno da obesidade deve incidir na identificao
dos factores de alto risco (Dietz, 1995).
Os casos de excesso de peso e de obesidade moderada, devem ser
tratados com terapias comportamentais, ou seja, com a alimentao e AF.
Em casos graves, deve haver um acompanhamento mdico, de forma a
serem utilizados outros recursos, como medicamentos ou at cirurgias, sendo
fundamental o acompanhamento psicolgico. A maioria dos casos de
excesso de peso e obesidade moderada pode ser tratada com terapias
comportamentais, nomeadamente, alimentao e exerccio fsico (Nahas,
1999). Uma estratgia eficaz para a preveno de excesso de peso, ser a
promoo e incremento dos ndices de AF diria, atravs de programas
estruturados (Rego et al., 2004).
Em crianas e adolescentes mais difcil quantificar qual o gasto
energtico necessrio para que seja possvel obter efeitos benficos na
sade. No entanto, para a preveno da obesidade, deve existir um equilbrio
entre a energia consumida e a despendida. A energia despendida inclui a
taxa metablica de repouso, a termognese e a AF, no entanto, apenas a AF
considerada como favorvel para os programas de preveno da
obesidade (Davis et al., 2007).
A AF contribui para a perda de peso e ajuda a minimizar o ganho do
mesmo, que ocorre comummente com o avano da idade (Dishman,
Washburn & Heath, 2004). A AF regular importante, uma vez que a
obesidade infantil tem maior correlao com a pouca AF, do que com a
ingesto calrica (Dubois, Hill & Beaton, 1979).
A abordagem preventiva e teraputica da obesidade, passa por
mltiplas intervenes, que vai desde a famlia escola, e pela aco de
mltiplos profissionais, como o agente de sade e o professor de educao
-
REVISO DA LITERATURA
22
fsica. fundamental estimular mudanas de atitudes e proporcionar
condies, sociais e materiais, para que as intervenes ao nvel dos hbitos
alimentares e da AF envolvam mudanas de comportamentos, sendo assim
realizadas transformaes nos estilos de vida (Sallis & Owen, 1999).
A influncia dos pais e membros da famlia nos comportamentos da
criana no totalmente compreendida e podem variar entre as populaes
e culturas. Relativamente s crianas pequenas, os pais podem controlar o
acesso a alimentos e AF, assim como influenciar a vida da criana em
relao ao seu ambiente. O efeito da obesidade parental no ganho de peso
nas crianas ilustra a complexidade da interaco entre factores, e os
problemas em determinar quais os factores causais que so realmente
importantes na obesidade, e quais os factores que so propcios a
interveno (Rennie, Johnson & Jebb, 2005).
Dietz (1995), salienta a importncia das crianas serem
acompanhadas pelos seus pediatras desde muito cedo, para que mantenham
o peso certo. O aconselhamento preventivo deve incidir nos comportamentos
que reduzem o gasto energtico, podendo a reduo de cerca de 1 a 2 horas
dirias, do tempo a ver a televiso, ser uma medida de preveno. Pretende-
se com esta medida, ampliar o tempo disponvel em actividades que
aumentem o gasto energtico.
O exerccio por si s pode ser ineficaz no tratamento da obesidade, da
mesma forma que a perda de peso conseguida atravs do exerccio no
produz um declnio do gasto energtico, se no for acompanhado por uma
restrio alimentar (Bouchard, Shephard & Stephens, 1993a).
Steinbeck (2001), prope um conjunto de estratgias que devem ser
impostas para a preveno da obesidade: (1) deve ser promovida na infncia
uma reduo de actividades sedentrias, com especial ateno para a
televiso. Para a aplicao desta estratgia devem estar envolvidos os pais
assim como a escola; (2) as escolas devem promover actividades fsicas e a
aprendizagem de competncias que permitam a sua manuteno ao longo da
vida, sendo novamente crucial o apoio na escola e dos pais para a
conservao de qualquer alterao; (3) necessrio ocorrer uma reviso e
mudana de todo o envolvimento, de modo a permitir a que as crianas e
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REVISO DA LITERATURA
23
famlia sejam mais activas fisicamente fora do horrio escolar; (4) devem ser
implementadas estratgias para aumentar a AF e diminuir comportamentos
sedentrios, quer em famlias com crianas obesas como para pais de
crianas obesas. Tal aproximao requer um aumento de competncias nos
profissionais de sade; (5) as estratgias devero incluir sempre uma
avaliao das ferramentas utilizadas para a avaliao da AF, e uma
apreciao de diferenas potenciais do gnero. Qualquer que seja a AF
empregue, deve ter como alicerce o divertimento, a aptido e o bem-estar. O
divertimento um factor essencial como ambiente que necessita de ser
alterado para as crianas, ambiente esse que deve ser divertido,
emocionante e interactivo.
Sallis e Patrick (1994), sugeriram que deveria haver um aumento da
promoo da AF nas idades peditricas de forma a prevenir os riscos de
mortalidade, bem como contributo para um estilo de vida saudvel,
aumentando assim a probabilidade de se tornarem adultos activos.
Um dos locais mais privilegiados para atingir este objectivo so as
aulas de Educao Fsica, uma vez que so a nica experincia de AF
regular e organizada para muitas crianas (Mckenzie et al., 2004).
Carmo (2001, cit. por Gonalves, 2007), afirma que a escola deve
assumir a responsabilidade de levar a todos os jovens vivncias de lazer. Em
todos os espaos disponveis pela escola, devero acontecer actividades
dinamizadas com o intuito de contribuir para o desenvolvimento humano.
As caractersticas dos espaos de lazer, disponibilizados pelas
escolas, assumem-se como uma varivel estruturante no acesso ao lazer
activo (Gonalves, 2007).
Embora se assista democratizao da prtica desportiva, que
permite que um maior nmero de jovens participe no desporto, observamos
tambm a influncia da televiso e do computador, que tm marcado
negativamente a participao desportiva dos jovens, devendo por isso ser
tomadas medidas para que se previna a proliferao desta tendncia no
futuro (De Knop et al., 1999).
fundamental que as instituies responsveis pelo desenvolvimento
desportivo, como a escola e os clubes, promovam a prtica desportiva, e
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REVISO DA LITERATURA
24
actividades que correspondam s necessidades e motivaes de todos os
jovens (Mesquita, 2004).
Devem ser adoptadas medidas integradas de sade pblica,
envolvendo principalmente as escolas, assim como organismos pblicos
ligados rea de sade, do desporto e da AF, para que se actue na reduo
da prevalncia da obesidade. Estas medidas, devem promover aces que
visem a diminuio do consumo energtico, atravs do aumento da AF e da
diminuio da ingesto calrica (Mota, 2002).
fundamental a consciencializao dos pais, escola e comunidade em
geral, para a promoo de actividades fsicas simples, que determinem um
estilo de vida activo e reduzam comportamentos sedentrios, atitudes essas
que devem ser encaradas como medidas de promoo de sade e
preveno de doena (Mota, 2002).
Em muitas escolas est implantado o desporto escolar, que possui
objectivos especficos relativos organizao, sendo um deles Promover o
combate inactividade fsica e a luta contra a obesidade (Ministrio da
Educao, 2007). A Educao Fsica e o desporto escolar no devem ter
apenas como objectivos o desenvolvimento das competncias motoras, de
valores e atitudes, devem ainda assumir a funo de fomentar nas crianas o
gosto e o entusiasmo pela prtica desportiva, assumindo-a como actividade
integrante dum estilo de vida activo (Jones & Cheetham, 2001).
Na opinio de Marques (1999), a escola deve ser parceira do clube,
para proporcionar a formao desportiva pedaggica e motora dos jovens,
conseguida atravs da formao pedaggica do professor de Educao
Fsica.
Assim sendo, segundo Mota e Sallis (2002), a AF em colaborao com
uma dieta alimentar, so fundamentais para a manuteno de um peso
corporal equilibrado.
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REVISO DA LITERATURA
25
2.2. O Corpo e Imagem Corporal
!
2.2.1. O corpo na sociedade actual
Na sociedade actual o corpo e o culto da beleza emergem como um
principal factor da adolescncia, podendo causar uma insatisfao com a sua
prpria aparncia, a um desajustamento psicolgico e a distrbios
nutricionais (Sousa, 2008).
O corpo um dos temas mais discutidos no mundo contemporneo,
sendo objecto de estudos cada vez mais frequentes no domnio das cincias
humanas e sociais. O corpo no s algo que nos pertence, mas sim o que
somos; um instrumento e objecto de prazer, que primeiramente nos
identifica e nos facilita a relao com os outros. Na sociedade ps-moderna
predomina o ter sobre o ser, em que o corpo se transforma numa superfcie
de projeco (Le Breton, 1999).
O corpo parece regressar de um exlio, reavendo o lugar de suporte da
identidade, ultrapassando o entendimento como objecto, permanecendo no
centro da identidade pessoal, tal como Merleau-Ponty o situa (Bento, 1991).
De acordo com Bento (1991), o corpo constante e mutvel, devendo
ser vivido e interpretado luz de um corpo social.
Merleau-Ponty (1964, cit. por Bento, 1991), retira o corpo da
coisificao, instituindo-lhe um contguo de smbolos e significados, sendo ele
um universo cultural, um artefacto scio-cultural. O corpo congrega o sentido
da existncia humana e da qualidade de vida, ns somos o nosso corpo, do
mesmo modo que este representa o que ns somos.
Nesta sociedade de consumo imediato, o corpo aparece como um
referencial palpvel, necessrio para um suporte individual e social, pelo que
os indivduos tentam imitar os modelos corporais que lhe so veiculados
pelos meios de comunicao social (Bento, 1991).
na superfcie do nosso corpo que est tudo, e no para alm dessa
visibilidade. O que nos visvel atravs do corpo mais importante do que
todas as caractersticas individuais que no so visveis (Goethe, s.d., cit.
Bento, 2007).
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REVISO DA LITERATURA
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Lipovetsky (1989), afirma que h um corpo que se v, um corpo que
se sente e um corpo que se toca, e o corpo que est na moda o corpo que
se v.
O corpo cada vez mais, nos dias de hoje, um acessrio, que pode
ser trabalhado e moldado para os outros o verem (Le Breton, 1999).
Ao longo dos tempos, o corpo tem vindo a ser entendido de forma
diferenciada, sendo valorizado de acordo com os cdigos culturais vigentes.
Enquanto produto da biologia e da cultura, o corpo retrata com fidelidade a
sociedade em que se insere (Garcia, 1997).
A sociedade a que pertencemos vive da imagem e da aparncia, onde
a beleza, a juventude e perfeio fsica, so ambies da actual poca. O
sucesso definido por um aspecto padronizado pelo culto da beleza, lugar
esse onde a obesidade no tem lugar. A obesidade altera a imagem dos
indivduos, alm de originar marginalidade, que conduz a consequncias
negativas no plano social, afectivo e psicolgico (Bento, 2004).
O mundo ocidental est sujeito aco de esteretipos culturais,
sendo o excesso de peso associado fealdade. Para a afirmao da mulher
na sociedade, necessrio que atinja o peso imposto pelos cnones de
beleza, sendo tambm fundamental para a construo da sua identidade. Os
media constroem a idolatria e a glorificao de um corpo anormalmente
esbelto, fazendo com que a mulher tenha a obrigao social de alcanar um
corpo artificialmente magro (Apfeldorfer, 1997).
Uma imagem ideal do corpo principalmente um fenmeno social
construdo, pois a percepo de um indivduo sobre a sua forma do corpo
afectada pelos comentrios dos seus referentes. Alguns estudos revelam que
as interaces sociais com outras pessoas tm impacto significativo na
imagem corporal do indivduo (Jones, Vigfusdottir & Lee, 2004).
Na actualidade a conjuntura corporal estigmatizada pela esttica e
pelo culto da imagem, produzindo nos obesos uma progressiva perda de
humor, de auto-estima, um descontentamento e um sentimento de
inferioridade e de falta de confiana em si e nos outros. Esta condio torna-
se assim a sua nova identidade e nica companhia (Bento, 2004). O mesmo
autor menciona Merleau-Ponty (1964), que define o corpo como um
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constructo scio-corporal, ou seja, ns somos o nosso corpo, sendo este a
expresso do nosso ser.
A condio dos obesos coligada a significados negativos de rejeio
social, devido ao preconceito e discriminao, sendo categorizadas em
funo dos meios que so estabelecidos pela sociedade. O Homem sente
necessidade de ser aceite socialmente, logo os obesos, ao serem excludos
directa ou indirectamente, passam a cultivar sentimentos negativos em
relao sua prpria imagem (Moreira & Ramos, 2001).
Para serem aceites pela sociedade, os obesos exibem
comportamentos pouco exigentes, tornam-se passivos ou sociveis,
tornando-se comum a excluso de tipos de actividades sociais e de lazer nas
suas vidas (Moreira & Ramos, 2001).
O obeso assim objecto de contradio, pois se a sociedade encoraja
super alimentao, atravs da veiculao da propaganda de produtos
alimentares, por outro lado, vivem em constante apelo, quer pelos mdicos
ou por anncios, para emagrecerem (Moreira & Ramos, 2001).
Actualmente ser obeso pertencer a uma categoria social distinta
(Moreira & Ramos, 2001). Segundo Gitovake (1986, cit. por Moreira &
Ramos, 2001), significa usar vestimentas adequadas, feitas por medida ou
compradas em lojas especializadas, chamar a ateno e ser criticado. Ser
obeso pertencer a uma classe inferior, ser sexualmente desinteressante e
ter que ser grato e servil para ser aceite, podendo esta condio ser sinnimo
de atraco de risos e de nomeao por apelidos depreciativos.
2.2.2. Percepo da Imagem Corporal
O conceito de imagem corporal foi definido pela primeira vez por
Schilder (1935, cit. por Vasconcelos, 1995), que o considera como a
representao que formamos mentalmente do nosso prprio corpo, a forma
como o vemos, podendo esta imagem ser alterada com o tempo e segundo
as situaes.
Na formao da imagem corporal, so importantes as relaes sociais,
culturais, psicolgicas e fisiolgicas (Schilder, 1968). A imagem corporal no
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somente a imagem que o indivduo percepciona sobre o seu prprio corpo,
mas tambm a forma como outros indivduos o vem (Fallon, 1990).
Fisher (1970), menciona que o indivduo consciente ou inconsciente,
estrutura a sua imagem corporal, realizando-o atravs de uma avaliao do
quanto atractivo o seu corpo, desenvolvendo um conceito sobre a
quantidade de espao que ele ocupa, formula concluses sobre a fora do
seu corpo, decidindo at que ponto a sua corporalidade apresenta padres
de masculinidade ou de feminilidade.
Em 1981, foi introduzido por Collins, um conceito de imagem corporal
mais dinmico, assumindo-a como uma representao mental ou uma
constelao de representaes do prprio corpo, que mudam gradualmente
ao longo da vida medida que este se desenvolve e modifica. A preciso da
imagem depende da medida do ajustamento entre a realidade e o ritmo de
mudana corporal.
O indivduo no forma apenas a sua auto-imagem, mas vrias auto-
imagens, que esto de acordo com o papel desempenhado pelo sujeito ao
longo do seu percurso de vida (Seraganian, 1993).
Bruchon-Schweitzer (1987), considera que as diversas definies do
termo de imagem corporal se podem agregar, em duas categorias: uma, que
se reporta a aproximaes neurolgicas, psiquitricas ou genticas, que
descrevem a imagem corporal como um processo integrado subjacente s
diversas competncias e aquisies; e outra que se inscreve nas teorias de
orientao clnica, psicanaltica, psicossociolgica ou psicogentica, e que
evocam mais a configurao global do corpo, formando as representaes,
percepes, os sentimentos ou as atitudes que o indivduo vai elaborando ao
longo da sua vida. A autora considera que o termo imagem corporal, se
refere s atitudes, sentimentos e experincias que o indivduo acumula em
relao ao seu corpo e que so integrados numa percepo global.
A imagem corporal pode ser entendida como uma idealizao
multidimensional definida e influenciada por indicadores fsicos, pelos outros
e pelo estatuto socioeconmico (Cash & Brown, 1987). Os mesmos autores,
em 1989, reforam ainda a definio anterior, ao referirem que a imagem
corporal um constructo multidimensional definido pelo indivduo, como as
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percepes e atitudes (afectivas, cognitivas, comportamentais) que tm em
relao ao seu corpo.
importante entender o conceito da imagem corporal, uma vez que
essencial para um correcto entendimento psicolgico e social do indivduo
(Batista, 1995). No final dos anos 80, concluiu-se que os mtodos de
avaliao da percepo da imagem corporal, medem as atitudes, crenas,
pensamentos, e influncias de como as pessoas vem o seu corpo (Schwartz
& Brownell, 2004).
A imagem corporal pode ser caracterizada como uma construo
multifacetada, baseada na componente perceptiva (percepo directa da
aparncia fsica) e na componente subjectiva ou de atitude (pensamentos,
sentimentos e atitudes sobre o corpo - aparncia geral, partes corporais,
peso, idade, fora e sexualidade) (Cash, Wood, Phelps & Boyd, 1991), sendo
esta ltima a referenciada no nosso estudo.
Tendo em considerao as duas componentes, podem ser estudados
dois aspectos da imagem corporal. O aspecto perceptivo, a percepo do
tamanho corporal, e o aspecto subjectivo, que inclui as atitudes acerca do
tamanho, peso, partes corporais e aparncia fsica geral (Cash & Brown,
1987, cit. por Cash & Pruzinsky, 1990).
Podemos considerar que a imagem corporal possui uma componente
subjectiva, pelo facto se ser construda atravs de cognies afectivas,
baseadas na comparao com os outros (McPherson & Turnbull, 2005). Os
media tm um papel considervel neste sentido, pela exaltao de corpos
atraentes (Cameron & Ferraro, 2004). As imagens difundidas pelos media, do
corpo magro, como sendo o ideal, influenciam os comportamentos
alimentares e as atitudes dos jovens, para com os seus corpos (Harrison,
1997).
O esquema corporal, formado tendo como base o modelo que
reproduzido na sociedade em que estamos inseridos, onde os homens e as
mulheres, tentam incessantemente alcanar corpos jovens e atractivos
(Becker, 1999).
Bruchon-Schweitzer (1990), referiu que os aspectos referentes s
atitudes, sentimentos e experincias que o indivduo acumulou a propsito do
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seu corpo, so integrados numa percepo global da imagem corporal. Para
a autora, a imagem corporal desenvolve-se e altera-se pela percepo que o
indivduo tem de si prprio, e pelo feedback que retm do contexto social.
Podemos considerar a percepo da imagem corporal, como a pintura
mental que o sujeito tem do seu corpo, produto de percepes conscientes e
inconscientes, atitudes e sentimentos (Fowler, 1989, cit. por Batista, 1995).
A insatisfao com o prprio corpo e a preocupao com o peso so
aspectos importantes para os adolescentes. O ideal cultural relativamente
elegncia feminina e ao mesomorfismo masculino parecem estar bem
incorporados nos adolescentes (Phelps & Bajorek, 1991). Os mesmos
autores referem que a insatisfao com o peso, uma concomitante da
maturao feminina, pois as adolescentes tornam-se mais insatisfeitas com o
seu peso medida que maturam. Phelps et al. (1993), num estudo realizado
com adolescentes dos 12 aos 18 anos, verificaram que a distoro da
imagem corporal (por exemplo, sentir o corpo com um peso superior ao que
ele realmente tem) parece comear no incio da adolescncia, atinge os
nveis mais elevados a meio desse perodo e declina durante os ltimos anos
da adolescncia. Assim, parece que as adolescentes percepcionam
gradualmente a imagem corporal com maior preciso medida que o tempo
passa.
Segundo a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade
(2001), a obesidade pode causar problemas a nvel psicolgico, nos quais
pode estar includa a alterao da imagem corporal. Alguns estudos acerca
da percepo da dimenso corporal, demonstram que as pessoas obesas
sobrestimam o seu tamanho corporal (Schwartz & Brownell, 2004).
frequente os obesos possurem uma imagem corporal distorcida,
uma depreciao da prpria imagem, que resulta do facto de se sentirem
inseguros em relao aos outros, imaginando que estes o vem com
hostilidade e desprezo (Correia, 2003). Na imagem corporal o peso , talvez,
o aspecto predominante (Hesse-Biber, Clayton-Mathews & Downey, 1988, cit.
por Vasconcelos, 1995).
Num estudo realizado por Rand e Macgregor (1991), baseado em
entrevistas de obesos mrbidos aps terem perdido peso por meios
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cirrgicos, foram obtidos resultados dramticos. Os autores verificaram que a
maioria dos pacientes relatou preferir ter peso normal com uma grande
desvantagem (como surdos, diabticos, doentes cardacos, entre outros), do
que ser obeso novamente.
As crianas e os adolescentes obesos so submetidos a rejeio
social, discriminao e esteretipos negativos. Estas experincias podem
conduzir a consequncias negativas em termos de auto-imagem, auto-estima
e do humor, existindo um pressuposto generalizado de que a obesidade tem
custos psicolgicos profundos (Wardle & Cooke, 2005). Aps a reviso de
estudos efectuados nesta rea, as autoras concluram que os nveis de
insatisfao corporal, so superiores nas amostras de crianas com excesso
de peso e obesas.
Galindo e colaboradores (2002, cit. Cataneo, Carvalho & Galindo,
2005) analisaram as respostas de um grupo de crianas obesas, e
verificaram que nem sempre predominou uma imagem negativa dos seus
corpos e nem todos se achavam obesos, embora a maioria expresse sinais
de descontentamento com a prpria aparncia fsica.
As crianas e adolescentes obesos so normalmente estereotipados
como preguiosos, no proficientes, pouco asseados e com elevado grau de
insucesso (Staffieri, 1967; Hill & Silver, 1995; Tiggemann & Anesbury, 2000).
Outra consequncia negativa prpria da obesidade a fraca auto-imagem
(Davison & Birch, 2001), e nveis baixos de auto-estima, os quais se
associam tristeza, solido, nervosismo e elevados comportamentos de risco
(Strauss, 2000).
Num estudo realizado com adolescentes, de ambos os sexos, entre os
15 e os 17 anos de idade, verificou-se que existe uma associao
estatisticamente significativa entre o IMC e depresso, podendo ser explicada
pelas experincias de vergonha, separao parental e emprego parental.
Estes resultados sugerem que o tratamento clnico da obesidade pode, por
vezes, no ser apenas uma questo de dieta e exerccio, mas tambm pode
ser crucial lidar com as questes de vergonha e isolamento social (Sjoberg,
Nilsson & Leppert, 2005).
Num estudo sobre o peso corporal e a imagem corporal, realizado por
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Cash e Green (1986), com adolescentes do sexo feminino (com excesso de
peso, obesas e com peso normal), foi demonstrado pelos resultados que a
componente perceptual, afectiva e cognitiva da imagem corporal, difere em
funo do peso corporal.
Para os jovens, o aspecto corporal que mais sofre alteraes a
vrios nveis durante a adolescncia, sendo um aspecto fundamental para
este e para os que o rodeiam (Jacob, 1994).
Esto por vezes associadas s mudanas corporais, problemas e
complexos, que alteram muitas vezes a imagem corporal do adolescente
(Jacob, 1994). De acordo com Vasconcelos (1995), as alteraes corporais
mais relevantes, durante o processo de maturao, enrazam numa imagem
diferente do seu corpo. Ou seja, a dificuldade de adaptao mudana, a
incapacidade de produzir uma nova imagem de si, pode induzir um
sentimento negativo ou inadequado entre o corpo imaginrio (ideal) e o corpo
real.
Os jovens esto sujeitos a presses sociais que lhes exige a
concepo da magreza, segundo padres rgidos de beleza, os quais
correspondem a perfis antropomtricos cada vez mais magros. A insatisfao
com o corpo tem sido frequentemente relacionado com uma discrepncia
entre a percepo e o tamanho do corpo e a forma desejada (Bosi, Luiz,
Morgado, Costa & Carvalho, 2006).
J em 1983 Williams entendia que a percepo da imagem do corpo
como uma entidade pequena ou grande, gorda ou magra, forte ou fraca,
calma ou nervosa, era resultado das interaces sociais que a criana
experimenta e estabelece medida que se desenvolve. Para considerar o
seu corpo como atractivo ou no atractivo, coisa que se olha, ou que
no se olha, socialmente desejvel ou no desejvel, a adolescente tem
de se comparar com os outros ou com um determinado padro de referncia.
As adolescentes tm como referncia padres morfolgicos e de beleza, de
grupos maioritrios, e quando dessa comparao resulta uma grande
diferena, surge um sentimento de desadaptao que se associa a uma
distoro na percepo da imagem corporal.
No estudo realizado por Oliveira em 2008, o qual tinha como objectivo
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conhecer as modalidades preferidas e avaliar a PIC atravs dos sentimentos
e atitudes induzidas pelo prprio corpo, atravs do questionrio de BIQ de
Bruchon-Shweitzer (1987) 45 adolescentes com excesso de peso e obesos,
com uma mdia de idades de 11,891,09. Os resultados demonstraram que
os desportos preferidos pelas adolescentes do sexo feminino foram natao,
canoagem, dana e desportos de luta/combate, enquanto que os
adolescentes do sexo masculino elegeram futebol, seguido de basquetebol,
canoagem e andebol. Quer as raparigas como os rapazes seleccionaram
desporto de competio, sendo seleccionado o clube desportivo pelos
rapazes como local de prtica preferido, enquanto as raparigas elegeram a
escola e a natureza. Em relao PIC, com a diferenciao por sexo,
verificamos que apenas existiram diferenas estatisticamente significativas
para os itens Frgil, fraco/Resistente, forte e Socialmente
desejvel/Socialmente no desejvel, sendo as raparigas quem continha os
valores inferiores. Aps a diferenciao por IMC, verificamos que existiram
diferenas estatisticamente significativas para os itens Vazio/Cheio, embora
em outros itens avaliados fossem obtidos resultados negativos , tais como
Fisicamente Atractivo/Fisicamente no atractivo e Ertico/No ertico.
Foi realizado um estudo por Vasconcelos (1995), com 1194
adolescentes do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 11 e os
17 anos, de grupos tnicos diferentes (caucasides, negrides portuguesas e
negrides cabo-verdianas). A autora, verificou que as caucasides
apresentaram valores superiores na percepo do corpo como algo que se
pode tocar, do corpo como veculo de ternura, de expressividade e de fonte
de energia; as negrides portuguesas destacaram apenas a percepo do
corpo como elemento de coragem ou audcia e por ltimo entre as negrides
cabo-verdianas os restantes itens tiveram maior destaque.
Podemos tambm referir a satisfao com a imagem corporal, como a
avaliao subjectiva predominante, espcie de gestalt percebido de um
corpo globalmente amado ou no, globalmente conformado ou no s
normas ideais, de onde se tira maior, ou menor prazer ou sofrimento
(Bruchon-Schweitzer, 1990).
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A insatisfao corporal surge aliada comparao social e s
expectativas culturais de possuir um corpo segundo o que idealizado (Shih
& Kubo, 2005). Outros factores relacionados com a satisfao com a imagem
corporal, so o IMC e o sexo (Markey & Markey, 2005). Em alguns estudos
efectuados foi verificado que medida que aumentava o IMC, diminua o
nvel de satisfao com a imagem corporal, sendo os homens os que
apresentavam maior satisfao comparativamente com as mulheres (Markey
& Markey, 2005; Killion, Rodriguez, Rawlins, Miguez & Soledad, 2003). No
entanto, Bearman, Presnell, Martinez e Stice (2006) observaram que o IMC
no predizia insatisfao corporal para adolescentes de ambos os sexos.
Um dos motivos que leva o indivduo a procurar ajuda diz respeito ao
incmodo com a sua imagem corporal que pode vir intervir com a sua auto-
estima, sobretudo quando este se encontra num contexto em que o corpo
magro e esbelto valorizado, parecendo ser vivenciados sentimentos de
raiva, angstia e de culpa (Carvalho, Cataneo, Galindo & Malfar, 2005). As
autoras realizaram um estudo com crianas obesas e no obesas, entre os
10 e os 12 anos de idade. O objectivo do estudo era descrever o que pensam
as crianas dos seus corpos, utilizando como procedimento metodolgico a
aplicao de questionrios. Os resultados revelaram que as crianas obesas
estavam mais insatisfeitas com o seu corpo e a sua aparncia identificando,
contudo, caractersticas positivas e outros atributos pessoais. As respostas
para a afirmao minha aparncia me incomoda, foi consensual uma vez
que a maior parte das crianas obesas concordou com o item. Embora as
crianas no obesas se manifestassem menos preocupadas, demonstraram
tambm alguma insatisfao. O facto de estas crianas exteriorizarem algum
descontentamento, explicado pelas autoras como possvel consequncia s
presses culturais exercidas sobre a aparncia fsica.
Smolak (2003), refere que a imagem corporal um fenmeno
fortemente ligado ao gnero. Assim, a natureza, os factores de risco, os
resultados e os cursos de desenvolvimento da insatisfao, diferem do
gnero.
Num estudo realizado com 63 adolescentes do sexo feminino, com
idades compreendidas entre os 11 e os 15 anos, verificou-se que as
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adolescentes tinham como referencial esttico as mulheres que estavam em
evidncia nos meios de comunicao social. Grande parte das adolescentes
sentia vontade de alterar algo no seu corpo, insatisfao essa que pode ser
explicada pelos apelos exercidos, pelos meios de comunicao social, para a
aquisio de um corpo perfeito (Sanches, Costa & Gomes, 2006).
Em termos de comparao entre sexos, na maioria dos estudos
encontram-se evidncias de maior insatisfao nas mulheres do que nos
homens, sendo que, normalmente h uma maior percentagem de raparigas a
afirmarem que desejavam mudar quer a forma quer o tamanho do seu corpo
(McCabe & Ricciaedelli, 2001; Presnell, Bearman & Stice, 2004). Para alm
disso, a investigao indica que aproximadamente metade das mulheres,
com idades compreendidas entre a adolescncia e os trinta e cinco anos,
pensam que pesam muito e esto determinadas a perder peso (Davis &
Cowles, 1991). Contudo, a insatisfao com a imagem corporal em meninos
tambm comum e frequentemente associada com a angstia (Cohane &
Pope, 2001). Relativamente aos estudos com o sexo masculino, Smolack
(2003) refere que durante a adolescncia que os rapazes comeam a
apresentar preocupaes com o tamanho e musculosidade do seu corpo, o
que pode levar a experimentar nveis de insatisfao com o seu corpo,
comparveis aos das raparigas.
Os resultados de um estudo realizado com estudantes universitrias,
acerca da PIC, permitiram evidenciaram que o ideal de corpo magro imposto
pela sociedade prevalece, pois mesmo com o peso adequado as raparigas
demonstraram insatisfao com a sua imagem corporal, desejando alter-la
de acordo com os padres sociais (Bosi, Luiz, Morgado, Costa & Carvalho,
2006).
A insatisfao corporal perante o sexo feminino, reflecte as
preocupaes, inquietaes e as presses dos padres de beleza feminino
da nossa cultura (Bruchon-Schweitzer, 1990).
Bruchon-Schweitzer (1990), desenvolveu e aplicou o questionrio
Body-Image Questionnaire, em 619 indivduos, com a finalidade de explorar
as dimensionalidades das percepes, sentimentos, e atitudes expressas em
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relao ao prprio corpo, questionrio esse que ser utilizado no presente
estudo.
Num estudo realizado por Koleck, Bruchon-Schweitzer, Cousson-
Glie, Gilliard e Quintard (2002) com 1222 indivduos, foi verificado que a
satisfao corporal estava directamente relacionada com a afectividade
positiva, e inversamente com a afectividade negativa. Uma favorvel imagem
do corpo, est associada adaptao emocional do sujeito, estando a
satisfao corporal aliada boa sade.
Numa pesquisa realizada por Sousa (2008), para avaliar como os
adolescentes percebem o seu peso, foi verificada que a prevalncia da
obesidade correspondia a 8,8%, contudo a percentagem de adolescentes
que se consideravam obesos era igual a 12,7. Estes adolescentes tinham
maior inactividade fsica, pior funcionamento familiar, baixo auto-conceito e
um ndice superior de depresso. Nesta anlise verificou-se a obesidade era
maior nos rapazes, mas eram as meninas que se percebiam com mais peso.
Ainda neste estudo, no foi encontradas diferenas estatisticamente
significativas entre a obesidade e a classe social ou a idade, pelo contrrio,
na anlise da relao com a inactividade fsica, verificou-se que os indivduos
que se consideraram "Gorda" tinham nveis mais elevados da inactividade
fsica, em comparao com indivduos que se consideraram "magro", e as
diferenas foram estatisticamente significativas. Estes dados sublinham a
importncia de avaliar a percepo do peso/imagem corporal com o IMC,
pois por vezes o problema no apenas por ser obeso, mas tambm pelo
seu peso ser superior sua idealizao.
Os nossos corpos so vitimizados por polticas de saberes, que nos
identificam, classificam, recalcam, estigmatizam, formando e deformando as
imagens que temos de ns e dos outros. O Homem est constantemente a
experienciar momentos de aprovao social, o que leva a que viva o seu
corpo no sua maneira, mas sim conforme as regras estabelecidas pela
sociedade, e pelo modelo esttico padronizado comercialmente (Russo,
2005).
A adolescncia sem dvida uma fase de incerteza, de insegurana, de
crise e, ao mesmo tempo, de necessidade de afirmao, de liberdade e
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emancipao (Fenwick & Smith, 1995; Marinis & Colman, 1995).
Contudo, h que ter em considerao que o efeito de um determinado
factor num dado comportamento poder no ser estvel ao longo das vrias
fases do desenvolvimento do indivduo. Logo, quando se desenvolvem
estudos com crianas e jovens, preciso ter sempre presente que nestas
idades as alteraes e modificaes resultantes do crescimento e
desenvolvimento so uma constante, podendo levar-nos a extrair concluses
precipitadas acerca da possvel influncia de um determinado factor nos seus
hbitos (Lessard-Hbert, Goyette & Boutin, 2005).
2.3. Actividade Fsica
A AF entendida como qualquer movimento produzido pelos
msculos esquelticos que resulta em dispndio energtico para alm do
metabolismo de repouso (Caspersen, Powell & Christenson, 1985; Bouchard
& Shephard, 1993). Assim, qualquer movimento realizado em actividades de
trabalho, lazer e desporto contribuem para gasto energtico dirio total
(Caspersen, Powell & Christenson, 1985).
No entanto, os mesmos autores distinguem o conceito de AF do
conceito de exerccio fsico. Segundo (Caspersen, Powell, & Christenson,
1985), o exerccio entendido como uma subcategoria de AF que
planeada, estruturada e repetitiva, tendo como objectivo final ou intermdio a
melhoria ou manuteno da aptido fsica.
Bento (2004), refere ainda o conceito de prtica desportiva, como o
bastio na formao pedaggica e cultural. nela que se revem aspectos
relevantes da formao da pessoa, da construo de relaes interpessoais
gratificantes da afirmao pessoal e conhecimento social do desportista.
A AF um comportamento de natureza complexa e, por esse motivo,
difcil de medir. caracterizada por quatro dimenses bsicas: frequncia,
intensidade, durao e tipo, (Bouchard, Shephard & Stephens, 1993a).
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2.3.1. Relao entre AF e IMC
No ainda conhecida a relao de causalidade, entre AF e
obesidade, uma vez que ainda no foi determinada se a obesidade que
provoca a falta de AF ou se esta que conduz obesidade (Bar-Or &
Baranowski, 1994). No entanto, alguns estudos demonstram uma relao de
causalidade entre os dois agentes.
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