aspectos relevantes relação população meio ambiente
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Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.
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ASPECTOS RELEVANTES NA RELAÇÃO POPULAÇÃO X MEIOAMBIENTE
Clara Elisa Fernandes Pereira
Cristiane Galvão Afonso
Lícia Neto Arruda (liciaarruda@uol.com.br)1
Mayara Pinheiro Levenhagen Ferreira
Pontifícia Universidade Católica de Minas GeraisAcadêmicos do curso de Ciências Biológicas – PUC Minas
1Rua Nicolina Pacheco, 450/203 – Palmares – Belo Horizonte – MG; (31)3426-1603;Eugênio Batista Leite
Virgínia Simão Abuhid
Professores orientadores do curso de Ciências Biológicas – PUC Minas
Resumo
O artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre a relação entre o tamanho dapopulação humana e os impactos ambientais. As idéias de Malthus sobre o limite docrescimento populacional imposto pela disponibilidade de alimentos são confrontadascom o desenvolvimento tecnológico, que ampliou estes limites. Surge uma novaproblemática que vai além do reducionismo malthusiano e cujo fundamento passa a sermuito mais qualitativo do que quantitativo: mudança de padrão de consumo e valores. Asociedade é marcada por profundas crises que demonstram a esgotabilidade do processoprodutivo, que, ao expandir-se globalmente, causa várias formas de degradação sócio-
ambiental. O binômio produção-consumo, portanto, gera uma maior pressão sobre osrecursos naturais, causando mais degradação ambiental. O agravamento dos problemasambientais e a crescente sensação de paralisia e insolubilidade dos impactos destrutivosda crise do metabolismo urbano levam o desafio ambiental a centrar-se em ações quedinamizem o acesso à consciência ambiental dos cidadãos a partir de um intensotrabalho de educação. A Educação Ambiental a ser praticada na cidade deve partir dacondição do homem como ser urbano, que integra o intenso metabolismo ecossistêmicodas cidades. Entretanto, a educação ambiental praticada no ambiente formal da escolaapresenta currículos, metodologias e projetos político-pedagógicos que restringem aproblemática ambiental a uma visão naturalista. Dimensões fundamentais dadinamicidade da vida são ainda incipientes no âmbito escolar. Ressalta-se ainda o papel
da universidade de estabelecer uma conexão entre ciência e qualidade de vida,comprometendo-se com o contexto socioambiental na qual está inserida.
Palavras-chave: Controle populacional, meio ambiente, educação ambiental, educação.
INTRODUÇÃO
A população mundial cresceu rapidamente a partir do início da Revolução
Industrial, ampliando os níveis de consumo e degradação ambiental, ambos resultantes
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de valores e costumes ditados pelo sistema social e econômico consolidado a partir de
então. Tendo em vista a necessidade de lidar com este problema, estudiosos acreditam
que a solução esteja associada à redução do crescimento populacional vinculada a
mudanças no padrão de consumo irresponsável, visando atingir um novo estilo de vida
baseado numa ética global, regida por valores mais humanitários e harmonizadores.
Neste contexto, a atuação da educação, e mais especificamente da educação ambiental,
assume papel fundamental, uma vez que promove a construção de conhecimentos e a
efetivação de ações em prol da qualidade de vida e preservação do meio ambiente e dos
seus recursos.
Este trabalho apresenta uma revisão bibliográfica com foco no crescimento
populacional da espécie humana e suas conseqüências sobre o meio ambiente. A
necessidade do controle populacional e da difusão de mudanças nos valores e condutas
da sociedade por meio da educação, sobretudo, no meio universitário também são
tópicos abordados neste trabalho. A identificação do papel social da educação ambiental
“principalmente em estudantes universitários – considerando que este segmento tem
mais acesso teórico às discussões mais aprofundadas sobre questões relacionadas ao
ambiente e à saúde” (ANDRADE JÚNIOR; SOUZA; BROCHIER, 2004, p. 47) –
torna-se importante para a compreensão do processo de formação dos profissionais e
educadores institucionalizados pela universidade. Trata-se de uma forma de fornecer
subsídios em prol da melhoria desse processo e, consequentemente, da constituição da
educação voltada para a sociedade, que depende e aprende com a sua atuação.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
As relações entre os seres humanos sofreram profundas alterações dentro de um
espaço de tempo histórico muito curto. Dias (2000) afirma que essa velocidade de
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eventos, conseqüência do processo multidimensional da globalização, consolidou uma
das mais graves preocupações para os cientistas da área ecológico-ambiental: a
capacidade de suporte da Terra – que pode ser definida “como o número de pessoas
compartilhando um dado território que podem para o futuro visível, sustentar um dado
padrão físico de vida, utilizando energia de outros recursos (incluindo terra, ar, água e
minerais) bem como o espírito de iniciativa, competências e organizações” (UNESCO,
1984 apud HOGAN, 1991, p. 64) – e a viabilidade biológica da espécie humana.
As populações urbanas dependem tanto das suas relações institucionais com
outras comunidades quanto do ambiente físico para a sua sobrevivência. Essa relação
entre sociedade e natureza foi enfraquecida pelo uso da tecnologia. Entretanto, o
crescimento demográfico continuado do mundo moderno tem retomado aspectos dessa
relação. O número crescente de pessoas que passam a adotar os mesmos padrões de
consumo em todo o mundo exerce pressão crescente sobre uma mesma categoria de
recursos, cuja velocidade de regeneração não está sendo observada.
De acordo com Carmo (2001), ao final do século XVIII, os primeiros
movimentos da Revolução Industrial e o início do processo de urbanização tornaram
mais visíveis o crescimento populacional. Nesse período, Malthus1 sistematizou
informações e teorizou a respeito das implicações desse processo sobre a
disponibilidade de alimentos, lançando as bases da discussão sobre “população e
ambiente”. Na sua visão, esse período de crescimento populacional acentuado devia-se
principalmente ao aumento da natalidade. Trabalhos recentes, no entanto, apontam para
a diminuição da mortalidade – resultante do aumento da oferta de alimentos – como
1 Thomas Robert Malthus (1766-1834): economista e demógrafo britânico, cuja principal contribuição foia teoria sobre o crescimento da população, segundo a qual, a taxa de crescimento populacional estádiretamente relacionada à produção de alimentos (ENCARTA, 2001). Seus trabalhos incentivaram os
primeiros estudos demográficos sistemáticos. (Obra principal:
An Essay on the Principle of Population,1978).
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causa efetiva. O mesmo autor afirma que a fecundidade começava a entrar num
processo de decréscimo em função das mudanças estruturais resultantes da
industrialização e da urbanização, que levariam algum tempo para impactar as taxas de
crescimento.
Outra concepção fundamental no trabalho de Malthus diz respeito à
incapacidade da terra em manter continuamente um mesmo nível de produtividade, o
que constitui um fator limitante para a subsistência. Malthus não considerou a
potencialidade das mudanças tecnológicas, advindas da Revolução Industrial, de
ampliar os limites da capacidade de suporte, através do aumento da produtividade e da
diminuição significativa do efeito da “Lei de rendimentos decrescentes” por ele
empregada.
Retomando-se essas questões na entrada do terceiro milênio, segundo Vargas
(1998), parece evidente que a problemática malthusiana deixou de ser apenas de ordem
quantitativa. Visualiza-se uma nova problemática, cujo fundamento passa a ser muito
mais qualitativo (tratando-se de mudanças nos padrões de consumo e nos valores) ou
ético. Carmo (2001, p. 9) ainda cita que:
O informe da ONU acentua que, em termos de volume, o futuro dapopulação mundial depende em grande parte da população que hoje está comidade entre 15 e 24 anos. São as decisões reprodutivas desses 1,1 bilhão de
jovens, a maior geração da História a entrar na idade adulta, que vãodeterminar quantas pessoas o mundo vai abrigar em 2050.
Vargas (1998) menciona que, se para Malthus, a miséria era capaz de conter o
aumento demográfico, a situação no século XX era que, o aumento da população levava
à pobreza e, consequentemente, à degradação ambiental. Ressaltam-se, nesse sentido,
idéias básicas do que chamamos desenvolvimento sustentável, por meio do qual “o
processo de desenvolvimento deveria levar em conta as características das áreas em
questão, considerando o uso adequado e de organização que respeitem os ecossistemas
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naturais e os padrões sócio-culturais” (BRESSAN, 1996 apud VARGAS, 1998). Assim,
o controle populacional constituiria uma das bases do processo, levando em
consideração, porém, aspectos ideológicos e comportamentais de cada grupo social.
Existe, portanto, uma corrente que reconhece o problema ambiental, mas atribui ao fator
demográfico um papel secundário, procurando situar a questão em termos de
instituições sócio-econômicas, padrões de acesso à terra e desigualdades sociais.
Conforme estabelecido na 1ª Conferência Internacional sobre População e
Desenvolvimento das Nações Unidas, ocorrida no Cairo em 1994 (CIPD’94),
... as questões populacionais referem-se aos aspectos qualitativos detransmitir uma vida de qualidade, que vai muito além da quantidade de sereshumanos e sim, de como eles vivem. Neste sentido as questões maisdiscutidas cobrem três grandes temas: a reprodução e os direitos que lheestão associados, os problemas sanitários e a sexualidade; o planejamentofamiliar, a livre escolha e o perfil dos serviços de anticoncepção; a família,sua função social, sua segurança e a relação entre seus membros. [...] dadoaos laços entre evolução demográfica e desenvolvimento, três aspectospassam a se destacar: o objetivo de durabilidade ou sustentabilidade dosistema econômico, a necessidade de estimular o crescimento econômicopara lutar contra a pobreza e o direito ao desenvolvimento. [...] A luta contraa pobreza aparece, diferentemente do conceito de Malthus, como uma dascondições, senão a mais importante, na estabilização do crescimentodemográfico”. (LASSONDE, 1996 apud VARGAS, 1998, p.3070-3071)
A sociedade humana destaca-se pela sua peculiar capacidade de unir esforços e
agregar-se social e economicamente em torno de sistemas produtivos. Isso resultou na
constituição de aglomerados humanos (cidades), bem como, no aumento populacional.
A partir da formação desses aglomerados, começam a surgir problemas ambientais,
provenientes das atividades produtivas, residenciais e sociais dos seres humanos. É nas
cidades onde se concentra a maior parte das atividades econômicas e é também onde se
consome a maioria dos recursos. As cidades acumulam riquezas, mas são também
imensas consumidoras de recursos naturais e geram significativas quantidades de lixo
que precisam ser dispostas de maneira segura e sustentável.
Os problemas ambientais urbanos, de acordo com Grostein (2001), dizem
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respeito tanto aos processos de construção da cidade e, portanto, às diferentes opções
políticas e econômicas que influenciam as configurações do espaço, quanto às
condições de vida urbana e aos aspectos culturais que informam os modos de vida e as
relações interclasses. Os problemas ambientais estão relacionados à economia,
dependência de suprimentos, balanço de energia e hídrico, geomorfologia e
biogeografia das cidades, disposição de resíduos, gestão e planejamento. É, portanto,
necessário que a partir dessa ampla gama de elementos, se desenvolva ferramentas
(gerenciais e tecnológicas), a fim de reduzir os impactos ambientais.
A sociedade atual é a sociedade do ter em detrimento do ser, do individualismo,
da degradação do meio ambiente, da violência e da competição acirrada. Esta sociedade
é marcada por profundas crises que demonstram a esgotabilidade de um processo
produtivo, que, ao expandir-se globalmente, causa várias formas de degradação sócio-
ambiental. O binômio produção-consumo gera uma maior pressão sobre os recursos
naturais, causando mais degradação ambiental. Para Dias (2002), esta se reflete na perda
de qualidade de vida, por condições inadequadas de moradia, poluição em todas as suas
expressões, destruição de habitats e intervenções desastrosas nos mecanismos que
sustentam a vida na Terra. Mas não é apenas a quantidade de seres humanos que
responde pela rápida destruição do planeta, mas, sobretudo, o seu modo de vida.
Segundo Rocha (2005, p. 14),
A ecologia profunda reconhece a importância de todos os seresvivos e concebe os seres humanos apenas como um fio particular na teia davida. [...] Assim, quando a humanidade sofrer uma mudança radical nos seusvalores, nas suas percepções e no seu pensamento poderá então encontrarsoluções para os principais problemas do nosso tempo.
A abordagem neomalthusiana estabelece que o equilíbrio ambiental apresenta-se
como produto do tamanho e do crescimento da população, que determinam uma relação
direta com a pressão sobre os recursos naturais, resultando na imediata necessidade do
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controle populacional. Não há como negar que o crescimento populacional seja um
problema ambiental, logo, na relação população-meio ambiente, a questão da escolha de
modelos de desenvolvimento e de tipos de tecnologia também se torna fundamental.
Nessa esfera, a população e a tecnologia devem operar dentro de limites,
sublinhando os valores referentes a níveis de consumo e integridade ambiental como
fatores que controlam a relação. Hogan (1991) afirma que maximizar o crescimento
demográfico por maximizar a agricultura de alta tecnologia não é meta de ninguém. Um
grau de controle populacional é necessário ou desejável para alcançar um determinado
nível de consumo (mais consciente) e preservar o ambiente.
Não existe uma relação que seja direta entre a diminuição das taxas de
crescimento populacional e melhorias generalizadas para o conjunto da sociedade. As
relações são complexas, mediadas por fatores econômicos e políticos. Pode-se tomar
como exemplo o fato de que a relação atual entre população e recursos é muito mais
afetada pelo padrão de consumo, estilo de vida e tipo de desenvolvimento dos países
mais desenvolvidos do que pelo aumento populacional dos países pobres. Assim, os
problemas ambientais globais (como efeito estufa, destruição da camada de ozônio,
perda da biodiversidade) seriam resultado, majoritariamente, do padrão de consumo dos
países mais industrializados. Enquanto isso, os países menos industrializados estariam
envolvidos em problemas ambientais mais locais ou regionais (como a desertificação, o
desmatamento, enchentes, poluição do ar, chuva ácida,...), associados principalmente a
situações de pobreza bem como ao esgotamento de recursos naturais. Carmo (2001)
afirma que
Dentro dessa perspectiva de diferenciação de escala dos problemasambientais, que podem ser locais ou globais, a dimensão da questãopopulacional passa a ter outro sentido. Mais relevante que discutir ocrescimento populacional, que se encontra em uma tendência de quedaacentuada, passa a ser a discussão sobre a distribuição da população. A
localização da população e o impacto de sua atividade econômica sobre oambiente local e global são agora as preocupações principais [...]. (CARMO,2001, p. 22)
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Hogan (1991) afirma que há uma versão mais moderada da relação meio
ambiente/população que reconhece outros fatores (além do crescimento populacional)
na equação população/meio ambiente/desenvolvimento, e que vê a pressão demográfica
não como determinante de problemas ambientais, mas como um fator agravante. Sob
essa perspectiva, há espaço para uma análise sociológica muito mais adequada, tanto do
papel do crescimento demográfico quanto do próprio processo de desenvolvimento.
Talvez a incorporação de uma dimensão ética de valorização do ser humano e do
ambiente e uma ênfase menor nas questões econômicas imediatas seja o caminho para a
construção de uma relação mais equilibrada entre população e ambiente.
Philomena (2002) afirma que quando a população que precisa ser mantida numa
área é do tamanho máximo que os recursos disponíveis podem garantir, o crescimento
tem que parar. Certamente a economia atual ainda tem dificuldades para entender e
aceitar esta realidade que ocorre em todos os tipos de sistemas. Desenvolver não quer
dizer crescer sem parar. Mesmo a proposta antiga da ação da tecnologia na busca de
alternativas para se manter o crescimento, substituindo recursos, já não tem base de
suporte. A questão de bom senso sobre a parada do crescimento está sempre vindo à
tona nas discussões sobre o futuro do homem e da natureza. Quando o crescimento pára,
segundo o mesmo autor, o sistema se caracteriza por ter mais especializações na
estrutura, no trabalho, na manutenção e na reciclagem de material. A eficiência e a
organização são maiores que na fase anterior. A cooperação aparece, prevalecendo
sobre a competição.
A busca por sustentabilidade está exigindo da sociedade uma reavaliação das
diversas problemáticas que através do tempo foram deixadas “para depois”. Assim, o
controle da população é uma realidade que terá de ser administrada.
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A sustentabilidade depende da base cultural fundada em padrões de consumo e
estilos de vida globalmente perduráveis. Além disso, Ribeiro (2003) apud Camargo
Presznhuk e Silva (2003), afirma que a sustentabilidade ambiental está relacionada à
capacidade de suporte dos ecossistemas associados de absorver ou se recuperar das
agressões derivadas da ação humana, implicando um equilíbrio entre as taxas de
emissão e/ou produção de resíduos e as taxas de absorção e/ou regeneração da base
natural de recursos. Se essas condições não forem alcançadas, haverá crescente
deterioração ambiental e diminuição da base de recursos.
A idéia de sustentabilidade apresentou, inicialmente, um cunho notadamente
econômico a ponto de alguns pensarem ser possível prescindir dos fundamentos da
ecologia nas práticas sustentáveis. Segundo Camargo, Presznhuk e Silva (2003), do
ponto de vista sociológico, a ecologia pode ser definida como o conjunto de crenças,
teorias e projetos que contempla o gênero humano como parte de um ecossistema mais
amplo, e visa, numa perspectiva dinâmica e evolucionária, manter o equilíbrio desse
sistema por meio do equilíbrio de suas estruturas, redes e ciclos de causa e efeito. Essa
noção de sustentabilidade implica uma necessária inter-relação entre justiça social,
qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a necessidade de desenvolvimento com
capacidade de suporte.
A sustentabilidade, portanto, segundo Costa et al. (2004), está inexoravelmente
associada à redefinição de valores e padrões de desenvolvimento capazes de frear o
crescimento populacional. Dessa forma, constata-se que o constante aumento
populacional e a expansão de centros urbanos têm exigido cada vez mais ações no
sentido de se promover sociedades sustentáveis, com riscos do comprometimento da
qualidade de vida das gerações atuais e da sobrevivência das gerações futuras.
Tendo como referência o agravamento dos problemas ambientais e a crescente
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sensação de paralisia e insolubilidade dos impactos destrutivos da crise do metabolismo
urbano, o desafio ambiental deve centrar-se em ações que dinamizem o acesso à
consciência ambiental dos cidadãos a partir de um intenso trabalho de educação. Jacobi
(1999), afirma que é preciso fazer crescer o nível de consciência ambiental, ampliando
as possibilidades da população participar mais intensamente nos processos decisórios
como um meio de fortalecer a sua co-responsabilidade na fiscalização e controle de
agentes responsáveis pela degradação sócio-ambiental.
Neste contexto e segundo Dias (2000), a Educação Ambiental teria como
finalidade: promover a compreensão da existência e da importância da interdependência
econômica, política, social e ecológica da sociedade; proporcionar a todas as pessoas a
possibilidade de adquirir conhecimentos, o sentido dos valores, o interesse ativo e as
atitudes necessárias para proteger e melhorar a qualidade ambiental; induzir novas
formas de conduta nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade em seu conjunto,
tornando-se apta a agir em busca de alternativas de soluções para os seus problemas
ambientais, como forma de elevação da sua qualidade de vida.
A Educação Ambiental a ser praticada na cidade deve partir da condição do
homem como ser urbano, que integra o intenso metabolismo ecossistêmico urbano. Para
tanto, os recursos instrucionais devem ser elementos facilitadores de ações que visem à
promoção de percepção de suas realidades sociais, políticas, econômicas, ecológicas e
culturais.
Segundo Leff (2001), citado por Andrade Júnior, Souza e Brochier (2004), a
educação ambiental é um processo no qual incorporamos critérios sócio-ambientais,
ecológicos, éticos e estéticos nos objetivos didáticos da educação, com o intuito de
construir novas formas de pensar, incluindo a compreensão da complexidade, das
emergências e inter-necessidade crescente de promoção da ação, em detrimento da
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simples conscientização. A Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, trata a educação
ambiental como um conjunto de “processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente”, sendo um “componente
essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma
articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e
não-formal”. (BRASIL, 1999)
As responsabilidades e atribuições da educação ambiental estão, portanto,
diretamente ligadas ao processo de construção de conhecimentos. Tendo em vista o
potencial formador da educação (vista, segundo Trevizan (2000), como o nível das
condições mentais, morais e do saber fazer e, ao mesmo tempo, como processo de
aquisição desse complexo de saberes), busca-se a efetivação de ações em prol da
qualidade de vida, da preservação do meio ambiente e dos seus recursos.
A educação é fundamental na busca da compreensão e da solução desses
problemas ambientais. Corroborando esta idéia, a UNESCO (órgão das Nações Unidas
para a Educação) ergueu quatro pilares para orientar a educação e o papel da escola para
este século, sendo eles: 1º - Aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da
compreensão; 2º - Aprender a fazer, isto é, poder agir sobre o meio envolvente; 3º -
Aprender a viver juntos, isto é, cooperar com outros em todas as atividades humanas e
4º - Aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes (DELORS, 1999 apud
GUERRA, 2004, p.01-02)
Associando-se o potencial da educação à realidade escolar sabe-se que os
currículos, as metodologias e os projetos político-pedagógicos no espaço escolar formal
restringem a problemática ambiental a uma visão naturalista. Dimensões fundamentais
da dinamicidade da vida são ainda incipientes no âmbito escolar. Para Agotti e Auth
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(2001),
Isso exige buscar mais precisão com relação aos conceitos. Entreeles, os de meio ambiente e educação ambiental, visto que, [...] eles sãoabstrações ou idéias que descrevem várias percepções. [...] O entendimentoda dinâmica homem/ambiente pode ser explorado no processo didático-
pedagógico em contraposição à “estaticidade” ainda predominante em grandeparte dos sistemas de ensino. (ANGOTTI e AUTH, 2001, p. 22-23).
Aliada da educação, a ciência é vista como processo de descoberta e geração de
conhecimento necessário para as mudanças sociais. Cabe-lhe um importante papel no
comprometimento para a solução dos problemas sociais e elevação da qualidade de
vida. Contudo, historicamente, esta não tem sido usada para a melhoria da qualidade de
vida. Constitui função da universidade reverter tal processo. Obviamente, a precondição
dos resultados da pesquisa para a melhoria das condições de vida depende do acesso à
informação. Cabe, assim, à universidade definir, também, estratégias de socialização do
conhecimento produzido.
Para Trevizan (2000, p.180) “ciência e qualidade de vida são dois pólos que se
ligam ou se interceptam num contexto socioambiental (sic), a depender de como atua a
educação nesse contexto. A universidade tem o dever de colocar-se no centro dessa
conexão”. Segundo este autor
É através da reconhecida necessidade da universidade comprometer-se com a melhoria das condições de vida no ambiente em que opera,trabalhando o processo de geração de conhecimento e crítica sobre ascondições ambientais, com o propósito posterior ou simultâneo de ação paraa mudança da mesma realidade, e agindo de forma integrada com as várias
áreas do conhecimento, que se pode atuar numa linha de pesquisadirecionada para a qualidade de vida da população regional. (TREVIZAN,2000, p.184).
Tendo-se em vista que a universidade é uma instituição, por excelência, de
produção e crítica do conhecimento, deve haver um grande compromisso com o
contexto socioambiental na qual está inserida, sobretudo se esse contexto for carente de
necessidades básicas para um padrão de vida de qualidade. Dessa forma, cabe à
universidade criar iniciativas para superar os problemas socioambientais locais.
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É necessário, enfim, traçar um potencial com habilidades para corrigir as
distorções e desacertos, antecipar-se aos problemas e atuar no aperfeiçoamento das
condições ambientais, a fim de elevar a qualidade de vida populacional, compatíveis
com o sonho da sustentabilidade.
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