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APROPRIAÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA POR MEIO DE
APLICATIVOS EM DISPOSITIVOS DIGITAIS NÔMADES
Sônia de Oliveira Santos
UNESP- Marília
soniliver@hotmail.com
Dagoberto Buim Arena
UNESP- Marília
arena@marilia.unesp.br
GT 1: DIDÁTICA E METODOLOGIAS DE ENSINO
Agência Financiadora: CAPES
Resumo
Com o advento da tecnologia e a expansão da utilização de dispositivos digitais nômades,
novos atos culturais são criados e o uso desses instrumentos mostra uma mudança na
concepção dos atos de ler e escrever. Por essa razão, esta pesquisa tem como objetivo geral
compreender as relações entre as crianças e os aplicativos presentes em dispositivos digitais
nômades no processo de apropriação da linguagem escrita. Os dados estão sendo gerados em
uma escola pública da rede estadual do Estado de São Paulo e em uma ONG de assistência
social e educação chamada Amor de Mãe, localizadas na cidade de Marília. A metodologia de
base utilizada é a pesquisa-ação. Os dados são gerados, por meio da escrita de histórias no
aplicativo Bookwright e por comunicação instantânea, utilizando o WhatsApp. Os
instrumentos utilizados para a gravação dos dados são: gravação em áudio e vídeo, transcrição
dos diálogos com as crianças, cópias das escritas e reescritas das histórias. Os pressupostos
teóricos têm como base os conceitos defendidos pelos autores da Teoria Histórico-Cultural.
Além desses autores, são utilizados os conceitos defendidos por Volochínov e Bakhtin (1992,
2011) sobre linguagem, enunciação, gênero do discurso e a importância do outro na
comunicação. Sobre o uso dos aparelhos digitais será utilizado uma estudiosa francesa
(Béslile) entre outros que estudam a leitura e escrita digitais. Por meio dos dados é possível
perceber que o uso dos dispositivos digitais nômades desperta o interesse das crianças durante
o ato de escrever e, além disso, o uso modifica o modo de pensar e altera a maneira como a
criança lida com a linguagem escrita.
Palavras-chave: Alfabetização. Apropriação da escrita. Dispositivos digitais nômades.
Introdução
A linguagem é um instrumento de mediação entre a cultura e o homem, saturado de
ideologias, cuja apropriação se dá na relação entre sujeitos. De acordo com Bakhtin (2011), a
linguagem permeia as várias esferas da atividade humana e se manifesta de diversos modos,
pois é fruto das relações sociais e se materializa por meio de enunciados orais e escritos.
Na interação com o outro, o sujeito se constitui como Ser humano e se apropria dos
instrumentos criados socialmente. Tanto a apropriação da linguagem oral quanto a da escrita
se dão na interlocução dos sujeitos durante o processo discursivo. No entanto, está enraizado
nas práticas escolares o ensino de uma língua fora das relações humanas, descritiva, estática e
esvaziada dos sentidos criados por essas relações. Desse modo, não é considerada como um
sistema complexo criado pelo homem, que pode levar o sujeito ao desenvolvimento de suas
funções psíquicas superiores. De acordo com Vigotski “todas as funções psíquicas superiores
são relações interiorizadas de ordem social, são o fundamento da estrutura social da
personalidade.” (VYGOTSKY, 1995, p. 151, tradução nossa) e entre as funções superiores
estão “[...] pensamento verbal, memória, formação de conceitos, atenção voluntária, etc.”
(VYGOTSKY, 1931, p. 18, tradução nossa), portanto é na relação com outras pessoas que as
crianças desenvolvem ao máximo as qualidades humanas.
A evolução dos diferentes aparelhos digitais mostra uma mudança na concepção sobre
os atos de ler e escrever e vai, além disso, pois “[...] sair do mundo oral, predominantemente
auditivo para reconfigurá-lo em um mundo impresso ou eletrônico, é operar outros sentidos, e
por essa razão percebemos o mundo de outro modo, com outra configuração.” (ARENA,
2004, p. 174). Portanto, estes novos instrumentos modificaram o modo de pensar do homem e
em relação à linguagem escrita, alteraram não somente a maneira de lidar com ela, mas
também possibilitou a ele o acesso aos diferentes caracteres que a compõem, por meio da
utilização do teclado, do mouse e dos diversos recursos disponíveis. Esses instrumentos são
importantes, pois ampliam as possibilidades de inserção da criança no mundo da cultura
escrita (ARENA, 2011). De acordo com Arena
Os novos atos culturais superam os velhos, ao mesmo tempo em que alteram
a própria língua escrita e impulsionam o ensino das operações culturais,
intelectuais, sociais e históricas para as crianças das novas gerações,
responsáveis pela transformação dos atos aprendidos, das suas finalidades,
dos gêneros do discurso, dos suportes de escrita e da própria língua.
(ARENA, 2011, p. 36).
O uso dos aparelhos digitais requer novos atos culturais, por isso modifica a maneira
como as pessoas lidam com a linguagem escrita, razão porque com o seu uso são criadas
necessidades de novas aprendizagens. Conforme destaca o autor, esses novos atos estimulam
o ensino de diversas operações e isso altera os atos aprendidos pelas novas gerações. “A
criança desenvolve-se na relação dialógica com os outros homens de sua cultura e com a
apropriação de instrumentos criados pelas gerações anteriores.” (ARENA; DUMBRA, 2011,
p. 49). Assim a criança aprende as funções de novos instrumentos na interação com outras
pessoas, mas não adianta apenas disponibilizá-los, é necessário ensinar as funções sociais. Ao
usá-los para escrever, a criança
[...] utiliza um instrumento que historicamente foi criado pela necessidade do
trabalho e, neste instrumento, está a superação de outros instrumentos
fabricados pelas gerações antecedentes como, por exemplo, o ábaco e a
máquina de escrever. É nesse processo de manufatura que o cérebro se
desenvolve e que o homem se faz homem. (ARENA; DUMBRA, 2011, p.
50).
Os instrumentos são objetos construídos historicamente; ao criá-los o homem também
cria a forma de uso. Assim a criança se apropria do uso social dos instrumentos e não apenas
dos seus aspectos materiais. Ao criá-los e utilizá-los o homem modifica e supera os que foram
construídos em outros tempos e durante esse processo modifica o objeto e ao mesmo tempo se
modifica. Segundo Arena
[...] há espaços para ousar mais e entender que a escrita, como aponta
Bajard, tem no teclado do computador seus grafes (todos os sinais usados
para escrever, até mesmo letras em certas configurações de palavra, sem
fonemas correspondentes) que provocam perguntas entre as crianças a
respeito de seu emprego e função. (ARENA, 2011, p. 31).
Ao utilizar o teclado, presente nos aparelhos digitais para se apropriar da linguagem
escrita em uma situação discursiva, tendo como referência o outro, a criança aprende a lidar
com esses instrumentos. Isso facilita o trabalho intelectual e demonstra que escrever não é um
ato subordinado à habilidade motriz, pois a criança descobre as funções sociais da linguagem
escrita.
Contexto da pesquisa
Esta pesquisa vem sendo desenvolvida em uma escola pública da rede estadual do
Estado de São Paulo e em uma ONG de assistência social e educação chamada Amor de Mãe,
localizadas na cidade de Marília. Participam da pesquisa 10 crianças que cursam o 1º e 2º ano
das séries iniciais do Ensino Fundamental. Dentre esses 10 sujeitos, 5 frequentam a instituição
e 5 a Escola Estadual. O objetivo geral dessa pesquisa é compreender as relações entre as
crianças e os aplicativos presentes em dispositivos digitais nômades no processo de
apropriação da linguagem escrita.
Com o intuito de compreender as relações estabelecidas pelas crianças, nos momentos
de construção de narrativas, de comunicação instantânea, utilizando os dispositivos digitais
nômades e de interação com a pesquisadora, é utilizada a pesquisa-ação como metodologia de
base, pois possibilita intervenções diretas com os sujeitos da pesquisa. Para que a linguagem
escrita seja desenvolvida em um contexto significativo é utilizada a escrita de mensagens
utilizando o WhatsApp e de narrativas baseadas nos contos dos irmãos Grimm, utilizando o
programa Word e o aplicativo bookwright.
A escrita de narrativas e a troca de mensagens instantâneas foram escolhidas como
instrumentos para a geração de dados, porque permitem a criação do contexto, possibilitando
que as crianças se apropriem da escrita com sua função social e possibilitam compreender as
relações que elas estabelecem com os aplicativos.
Diante do que foi apresentado, este trabalho apresenta alguns dados gerados junto a
uma criança durante a troca de mensagens com a avó pelo WhatsApp. Será utilizada a letra P
para se referir a pesquisadora e R (6 anos), inicial do nome da criança sucedido pela idade
para se referir à criança.
A linguagem escrita e o aplicativo WhatsApp
Com a inserção dos aparelhos digitais e agora mais recentemente com os aplicativos
presentes nos dispositivos digitais nômades, houve uma transformação no uso da linguagem
escrita. “Os telefones celulares são hoje onipresentes e os aplicativos abundantes,
especialmente para os chamados telefones inteligentes, smartphones”. (BÉLISLE, 2011, p.
194). Esse tipo de celular é definido por Woongryul, como sendo
O smartphone é um telefone móvel que oferece a mais avançada capacidade
de computação e de conectividade do que um telefone básico. Smartphones
e telefones podem ser pensado como computadores portáteis integrados em
um telefone móvel, mas enquanto a maioria dos telefones é capaz de
executar aplicativos baseados em plataformas como Java ME, um
smartphone permite ao usuário instalar e executar aplicações mais
avançadas, baseadas em uma plataforma específica. Smartphones funcionam
com sistema operacional de software completo que fornece uma plataforma
para desenvolvimentos de aplicativos. (WOONGRYUL, 2011, p. 311,
tradução nossa).
Os smartphones, isto é, os telefones inteligentes, que contém diversos recursos e
aplicativos, estão presentes em nossa sociedade e desde cedo a criança tem acesso a esses
aparelhos. Ela está vivendo em uma cultura digital, portanto desenvolver ações para inseri-la
nessa cultura é promover o desenvolvimento de suas funções psíquicas superiores, uma vez
que os aplicativos utilizados para escrever impulsionam o desenvolvimento e ampliam o leque
de vias para a apropriação da linguagem escrita. De acordo com os pressupostos da teoria
Histórico-Cultural, é a educação que promove o desenvolvimento e “[...] só é boa quando está
à frente do desenvolvimento. Neste caso, ela motiva e desencadeia para a vida toda uma série
de funções que se encontravam em fase de amadurecimento e na zona de desenvolvimento
imediato”. (VIGOTSKI, 2009, p. 334). Pensando nisso, a tecnologia pode ser um meio de
impulsionar o desenvolvimento da criança. Por outro lado, não inseri-la é limitar o seu
desenvolvimento.
Ao escrever utilizando o celular, a criança escreve em uma situação real, os
enunciados vão sendo construídos na relação com o outro e os recursos presentes no
aplicativo WhatsApp e no teclado virtual a ajudam no momento de grafar a escrita
convencional. O diálogo abaixo mostra o momento em que a pesquisadora dialoga com R,
sobre o uso do aplicativo WhatsApp.
P- Nós vamos trocar mensagens com alguém. Você tem algum primo que
tem celular? Você já conversa com alguém? Sua mãe troca mensagens pelo
celular?
R (6 anos)- Haran.
P- Com quem que ela troca mensagens?
R (6 anos)- Com as amigas dela.
P- Você sabe o que ela usa para trocar mensagens?
R (6 anos)- O celular.
P- O WhatsApp você sabe o que é?
R (6 anos)- Não.
P- Não sabe?
R (6 anos)- Não.
P- Oh! É um aplicativo que tem no celular que permite trocar mensagens. A
gente escreva para outra pessoa. Aí se conseguirmos o número de telefone da
sua mãe, você pode trocar mensagens com ela. Entendeu? Pode ser com sua
mãe ou com um amiguinho.
R (6 anos)- Também pode ser com meu pai ou com a avó.
P- A sua avó mora aqui perto. Mora em Marília?
R (6 anos)- Não. Mora em Lins.
P- Sua avó tem celular?
R (6 anos)- Tem.
Neste diálogo a pesquisadora fala sobre o aplicativo WhatsApp para celulares e, em
seguida a criança escolhe a pessoa com quem irá trocar as mensagens. Apesar de demonstrar
conhecimento sobre isso, pois já viu sua mãe utilizando aplicativos, R desconhece como
podem ser utilizados para essa finalidade. Portanto não basta apenas saber que eles existem, a
criança precisa aprender as suas funções para poder utilizá-los. O modo de utilização dos
instrumentos é transmitido por gerações anteriores, isto é a função social não é aprendida de
forma natural, porque ela é ensinada. De forma geral, o homem se humaniza nas relações
sociais, porque ninguém nasce ser humano, mas se torna nas relações, isto porque “[...] o
homem é um ser de natureza social, que tudo o que tem de humano nele provém da sua vida
em sociedade, no seio da cultura criada pela humanidade.” (LEONTIEV, 1978, p. 261, grifos
do autor). Nesse sentido, o papel do mediador é importante, porque sem ele “Os tesouros da
cultura continuariam a existir fisicamente, mas não existiria ninguém capaz de revelar às
novas gerações o seu uso.” (LEONTIEV, 1978, p. 272). Com isso, a mediação contribui para
o processo de humanização. No diálogo abaixo, a pesquisadora negocia o conteúdo da
mensagem com R.
P- Vamos dar um oi para avó senão ela vai sair.
R (6 anos)- Como escreve?
P – O que você vai escrever para avó? Fala o que você vai escrever que eu te
ajudo.
R (6 anos)- Acho que é com C.
P- Mas o que você vai escrever?
R (6 anos)- Vai ser um bom dia, porque ela estava dormindo.
O dialogo com a avó é o que orienta a escrita de R e os enunciados são construídos
nessa relação. “O conhecimento é produzido em interação com o outro. Aquilo que se pensa,
aquilo que se escreve tem sempre uma relação com o outro.” (CARDOSO, 2008, p. 65). O
conhecimento se dá na relação entre sujeitos e todas as escolhas são realizadas como base
nessa relação. A figura 1 mostra a grafia sem intervenção do enunciado bom dia. O celular
utilizado não possuía um banco de palavras.
Figura 1- Escrita inicial da expressão bom dia
Mesmo sem utilizar o banco de palavras, R não buscou apoio na oralidade, mas
escolheu as letras no teclado virtual e grafou Nmira para bom dia. Em seguida a pesquisadora
soletrou as letras corretas. A escrita é “[...] uma função que se realiza, culturalmente, por
mediação.” (LURIA, 1988, p. 144). Desse modo, a criança não se apropria dos caracteres que
compõem o sistema gráfico por si só, mas na relação com outras pessoas, porque “[...] é
através dos outros que o sujeito estabelece relações com objetos, conhecimentos, ou seja, que
a elaboração cognitiva se funda na relação com o outro.” (SMOLKA; GÓES, 1994, p. 9). Isso
mostra a importância do mediador, uma vez que a criança necessita da interação com o outro
para se apropriar da linguagem escrita. O teclado é um instrumento essencial para que ela
tenha acesso a todos os sinais gráficos, mas não é suficiente para que seja inserida no mundo
da cultura escrita.
O teclado virtual e o banco de palavras dos smartphones são ferramentas que podem
auxiliar as crianças no momento de grafar os enunciados. A figura 2 revela o momento em
que aparece no banco de palavras a escrita correta da palavra bem, mas foi necessária a
intervenção da pesquisadora para que R fizesse a escolha adequada, uma vez que a forma
como ele grafou apareceu como opção no banco de palavras.
Figura 2- Escrita sem intervenção de tudo bem
Durante a construção dos enunciados R vai aos poucos tateando possibilidades para
grafar corretamente a escrita. As figuras 3, 4 e 5 mostram o momento em que ele se debruça
para escrever a palavra escola.
Figura 3- Primeira tentativa de escrita da palavra escola
Figura 4- Utilização do acento na letra E de escola
Figura 5- Finalização da escrita da palavra escola
Durante as tentativas de escrita da palavra escola, R busca apoio na oralidade e
acentua a letra E, portanto nesse momento não utiliza o banco de palavras disponibilizado no
teclado virtual.
Ao trocar mensagens utilizando o WhatsApp, a criança escreve os enunciados e
também utiliza o emoticons presentes no aplicativo. Eles vão aos poucos sendo incorporados à
escrita. No diálogo abaixo, a pesquisadora questiona R sobre o uso dos emoticions.
P- Por que essas carinhas?
R (6 anos)- Porque estou com saudades.
P- Agora ela vai trabalhar. Você tem que dar tchau para ir, não é?
R (6 anos)- Haran .
P- Como escreve tchau?
R (6 anos)- Tchau, tchau.
P- O tchau falta letrinhas aqui, olha!
R se apropria da linguagem utilizada no WhatsApp e percebe que não se usam apenas
palavras para se comunicar, porque durante a troca de mensagens com avó compartilha os
emoticons, áudios e fotografias. Quando questionado sobre o uso dos emoticions, ele diz que
os utilizou porque estava com saudades da avó. Logo, esses signos são colocados no discurso
e exerce a função de um enunciado (Figura 6).
Figura 6- Uso dos emoticions.
Quando a criança compreende as funções das ferramentas dos smartphones e no
aplicativo WhatsApp, não as utiliza de forma aleatória:
R (6 anos)- Ela está escrevendo.
P- Você não quer perguntar nada para ela? Pode perguntar se está tudo bem.
R (6 anos)- Vou ver o que ela vai mandar.
P- Para você responder?
R (6 anos)- É.
Ao dizer que vai esperar a mensagem da avó para em seguida responder, R se coloca
na posição de interlocutora. A linguagem escrita só se realiza dentro do enunciado; por isso,
um texto é sempre um diálogo entre duas pessoas. Quando se trabalha o ensino da língua
como um ato cultural vivo, a criança não cria um texto apenas com foco nos recursos
linguísticos, mas leva em consideração o seu interlocutor. De acordo com Bakhtin (1992),
pode-se entender que o enunciado é o produto da interação entre as pessoas, porque sem a
interação não há enunciado, e, consequentemente, a escrita como discurso não se realiza.
Assim, sem o interlocutor não é possível a comunicação discursiva, porque a palavra sempre
se dirige a alguém real, não abstrato. Desse modo, a apropriação da linguagem, seja oral ou
escrita, se dá por meio das relações com outras pessoas, presentes ou não.
Figura 7- Uso dos emoticions.
A escrita para o outro está sempre permeada de significados, a figura 7 mostra um
pouco a relação entre R e sua avó. Segundo Bakhtin,
Na realidade, não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas
verdades ou mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis
ou desagradáveis, etc. A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou
de um sentido ideológico ou vivencial. É assim que compreendemos as
palavras e somente reagimos àquelas que despertam em nós ressonâncias
ideológicas ou concernentes à vida. (BAKHTIN, 1992, p. 95).
Segundo o autor, a palavra presente nas relações está sempre permeada de sentido
ideológico, não são apenas sinais, mas signos ideológicos. Portanto, como signo “[...]
comporta as crenças, os sonhos, as visões de mundo, os modos de interpretar a realidade, etc.”
(GEGE, 2009, p. 59). As crianças, quando inseridas em situações reais de trocas verbais, se
apropriam das palavras imersas de ideologias.
Conclusão
Utilizar os dispositivos digitais nômades durante o ensino da linguagem escrita é abrir
portas para a inserção da criança no mundo digital. Além disso, esses dispositivos possuem
um arsenal de recursos que pode auxiliá-la no processo de apropriação da linguagem escrita.
Portanto, a utilização desses instrumentos possibilita o desvio do foco da escrita como ato
motor e como transcrição da oralidade para o da construção de enunciados, além de
possibilitar a inserção da criança no mundo digital. Cabe ressaltar que a criança tem acesso
aos mais diversos instrumentos tecnológicos e isso modifica a relação que estabelece com a
linguagem escrita.
Referências
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