apresentação para décimo primeiro ano, aula 54

Post on 22-Jun-2015

503 Views

Category:

Travel

1 Downloads

Preview:

Click to see full reader

TRANSCRIPT

Nas pp. 197-198 de Antologia está um passo do capítulo XV de Os Maias. É provável que haja uma gralha no teu manual («Capítulo XIII» onde deveria estar «XV»). Também estará mal, na l. 64, «rabaixamento» (é «rebaixamento»).

Os três primeiros períodos (ll. 1-5) dão-nos o momento em que Carlos toma contacto com o exemplar da Corneta do Diabo (é em itálico que convém pôr, é o nome de um jornal), ainda antes de se focar no texto que aí lhe fora dedicado.

Carlos está na Toca. O jornal que ele descintava fora-lhe enviado por Ega, que, como saberás, tinha conseguido evitar a saída de quase toda a tiragem. (No bilhete que enviara a Carlos com o jornal, ele mesmo disso informava o amigo.)

Logo à primeira vista, o jornal tornava-se repugnante, por várias características da sua produção gráfica: pouca qualidade da impressão e do papel, abuso de itálicos, o próprio tipo de letra adoptado.

Segue-se, da parte de Carlos, a leitura do texto (ll. 5-28) que sabemos ter sido encomendado (ou «soprado») ao jornalista por Dâmaso.

O artigo é de um género que não tem exacto equivalente no jornalismo moderno, mas relativamente comum em certo tipo de periódicos do século XIX. Podemos tentar caracterizar o seu léxico.

Há palavras e expressões de linguagem popular ou quase de calão — por exemplo, «gaja», «bandulho», «safada», «papalvo», «pôr casa», «botada», «estar ao fresco», ... entre muitas outras. Este registo seria evidentemente sentido como grosseiro, hostil.

Mas a agressividade vem também de um outro léxico, até relativamente familiar, mas que, no contexto em que aparece, traduz ironia e agressividade. Entre as palavras que estão em itálico, teremos casos desses (incluindo diminutivos e estrangeirismos): «catita», «janota», «cocotte», «bife», «pandegado», «cautelinha».

Também a estrutura sintáctica, em que frases de tipo exclamativo ou terminadas com reticências entrecortam as restantes insinuações, faz que o artigo cause repulsa.

O vocativo «sô Maia», que, de resto, abre e fecha o texto, também contribui para o tom ofensivo, por aproveitar uma forma de tratamento inadequada ao estatuto de Carlos .

seniorem > senhor >

senhor > sor

sor > sô

apócope

palatalização

(assimilação)

síncope

apócope

Enfim, o estilo de escrita destes pasquins está bem definido nas ll. 33-34 (em texto do narrador, mas nitidamente focalizado em Carlos, como se fosse este a pensar): «frases em calão, pandilhas, afadistadas, como só Lisboa as pode criar».

É sobre este segundo parágrafo que versa a pergunta 4 da p. 198. Respondamos-lhe através da síntese seguinte (que completarás):

Neste parágrafo (ll. 29-37), o nojo que o texto causara a Carlos é-nos transmitido, por um lado, por metáforas e comparações (que aproveitam o campo lexical da sujidade, sobretudo): «[recebia na cara] uma chapada de lodo», «[sentia frases] pingando fetidamente, à maneira de sebo», «sentia-se emporcalhado».

Quanto aos adjectivos, além de poderem ser bastante crus («chula», «sórdido»), chegam a apresentar-se em par («furioso e mudo», que aliás já qualificava o «espanto»).

Alguns substantivos abstractos dramatizam a natural reacção negativa de Carlos («espanto», «cólera», «horror», «confusão»), sobretudo porque contrastam com outros que aludem ao amor por Maria Eduarda («esplendor», «paixão», «amor»).

No penúltimo parágrafo, a menção a uma bengala — «ele e a sua bengala!» (l. 51) — significa que a personagem tencionava desancar alguém.

No último parágrafo (ll. 55-67), a indignação de Carlos acentua-se, ao ler o texto no exemplar que era destinado a Maria Eduarda. Nos três últimos períodos, essa revolta acaba por se estender a toda a sociedade lisboeta.

TPC

(1) Fazer registo em www.nescolas.dn.pt. Ir explorando o site.

(2) Se for o caso, resolver pendências urgentemente: terminar leitura de Os Maias; egafilme.

É natural que durante esta semana, a partir de terça, fiquem no bloco C, cerca do CRE, alguns placards com os Verbetes neologísticos que fizemos no 1.º período.

(Infelizmente, nem todos me enviaram então esse texto reformulado, e por isso falharam-nos alguns verbetes. As ilustrações, feitas por colegas do 11.º 4.ª e do 11.º 5.ª, também tiveram de ser muito apressadas.)

top related