afinal os dinossáurios também iam à praia

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Uma jazida do Jurássico Médio de Portugal com abundantes invertebrados e também com pegadas de dinossaurios.

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Afinal os dinossáurios também iam à praia…

Tomás Alvim

Sofia Cruz

Carlos Marques

9º ano

• Em Dezembro de 2013,

vários órgãos de informação

noticiaram a descoberta de

uma nova jazida com

abundantes fósseis de

animais marinhos, localizada

numa pedreira desativada na

freguesia de S.Bento,

concelho de Porto de Mós.

Em Abril, em plenas férias da Páscoa,

deslocámo-nos à pedreira da Ladeira,

de acesso difícil e complicado, com

vários objetivos:

. Observar os somatofósseis dos

animais marinhos ali preservados

. Observar a longo sulco que surgiu

referido como tendo origem num réptil

marinho

. Refletir sobre a excepcional

preservação dos somatofósseis

. Tentar encontrar explicações para a

grande diversidade e preservação

superior

Verificámos que numa

extensão cobrindo cerca

de 2000 metros quadrados

se observam os habitantes

de uma verdadeira praia

Jurássica – os bivalves e

os equinodermes são

numerosos e apresentam

pormenores de

preservação excelentes.

Entre os equinodermes

estão preservados estrelas

do mar, ofiurídeos e

ouriços.

Equinodermes do grupo dos crinóides, crustáceos e

peixes não foram observados.

Mas soubemos que parte dos exemplares foi retirada ….

Também não encontrámos vestígios

desse longo sulco que alguns órgãos

de informação referiram poder ter

origem na atividade de um réptil

marinho.

“Entre os achados está um sulco com 13 metros, que corresponde ao rasto de

um animal marinho ainda não identificado, marcado na rocha, como uma

fotografia tirada há 166 milhões anos” - arqueólogo e geólogo António José

Teixeira ao jornal Publico (10/12/2013).

Em 29/11/2013 a Assembleia Municipal

de Porto de Mós aprovou a classificação

da pedreira da Ladeira como Geo-

monumento.

Depois foi a Assembleia da República.

• Lagerstatten (singular Laggerstatte) são jazidas fossilíferas que são

excepcionalmente notáveis, quer pela diversidade, quer pela qualidade da

preservação. Geralmente, ambas as qualidades são encontradas.

Muitos destes depósitos

sedimentares exibem fósseis

extraordinários com preservação

excepcional, incluindo por vezes a

preservação dos tecidos moles

dos organismos.

Fauna de Ediacara, do

Vendiano, anterior aos inícios

da era Paleozóica.

Os calcários de Solnhofen, do Jurássico final da Alemanha, constituem o mais

famoso Lagerstatte, já que lá estão preservados um conjunto notável de

organismos raros, incluindo pormenores minuciosos das partes moles de

organismos (como anémonas), ou as penas das aves mais antigas conhecidas –

Archaeopteryx.

A jazida da Ladeira

pode não ser

rigorosamente uma

Lagerstatte, mas será o

mais aproximado que

temos em Portugal até

ao momento.

Num dos níveis

observam-se ripple-

marks – marcas de

ondulação bem

nítidas, indicadoras

de ondulação ligeira

em águas pouco

profundas.

Analisadas em pormenor, fornecem dados

importantes sobre a origem do vento, sentido

de deslocação das águas, tipo de agitação

marinha, há cerca de 165 milhões de anos –

Jurássico médio.

E a idade da jazida é outro assunto muito

importante. De fato, o Jurássico médio é um

intervalo de tempo muito «obscuro», já que as

jazidas a nível mundial são muito escassas.

No decorrer desta saída fomos notando que num dos estratos ocorrem marcas de

pés de animais de porte médio, vertebrados. Como estas impressões surgem com

morfologias e dimensões muito semelhantes, começámos a compreender que

representam pegadas de pés tridáctilos.

Algumas destas pegadas apresentam a marca de todo o pé digitígrado, incluindo a

impressão posterior correspondente à parte distal dos metatarsos (erradamente

conhecida por «calcanhar»).

Noutras a impressão

posterior é bastante

ténue.

Mas são facilmente

reconhecíveis as

impressões das

extremidades dos

dígitos, terminando em

cascos alargados.

Estas impressões de

unguais (últimas

falanges) ovais e o

facto do comprimento

e largura das pegadas

serem idênticos,

permitem identificar os

autores como

dinossáurios

ornitopodes.

Alguns exemplares mostram apenas

impressa as extremidades dos dígitos,

como se o animal estivesse quase a boiar,

tocando no fundo marinho apenas com as

pontas dos dedos.

Tendo em conta as dimensões

das pegadas, a altura da anca

dos autores rondaria 1,5m.

Estes dinossáurios bípedes

herbívoros ter-se-iam

deslocado quase boiando num

tempo em que a coluna de

água teria aproximadamente

esta altura.

Duas outras pegadas distintas

são bem visíveis porque

apresentam um rebordo

elevado nas suas margens.

Têm uma forma de feijão, com

dimensões idênticas –

comprimento de 20 cm e

largura de 40 cm.

Nota-se na sua extremidade

inferior interna uma saliência,

que corresponderá à

impressão do digito I.

Estas caraterísticas sugerem

que se trata de impressões de

mãos de sauropodes, os

grandes quadrúpedes

herbívoros dos tempos

Jurássicos.

Dentro de água, nadando, boiando, a favor ou contra a corrente, a deslocação

dos animais nunca produzirá pistas com pegada atrás de pegada, a distâncias

constantes, com ângulos de passo sempre muito «certinhos».

O mesmo deve acontecer mesmo quando os animais progridem assentando a

parte digitígrada dos autopodes nos fundos marinhos, já que as correntes, as

alterações dos fundos, a própria natureza destes (lodos, por exemplo) devem

influenciar aleatoriamente a deslocação.

Por estas razões não deve surpreender que não tenhamos conseguido

identificar segmentos de pistas.

De acordo com o esquema, as

amostras de pegadas dos

ornitopodes presentes na praia

da Ladeira encaixam-se nas

categorias b e c.

Assim, a jazida da Ladeira fornece um quadro mais amplo da vida numa planície

litoral durante o Jurássico – para além dos abundantes animais marinhos, a “praia”

era também visitada por dinossáurios que, embora não fossem animais bem

adaptados à vida aquática, tentariam atravessar essas águas, quem sabe se numa

tentativa de fuga de predadores ferozes….

A descoberta de pegadas de dinossáurios

nesta antiga praia confirma o carácter

excepcional da jazida da Ladeira.

Fica para os investigadores a tarefa que

compreenderam as razões que justificam a

conservação em qualidade e abundância,

tanto de somatofósseis como de

icnofósseis.

Para nós fica mais um desafio – tentarmos descobrir pegadas e rastos de outros

vertebrados, incluindo peixes, crocodilianos, pterossaurios e tartarugas, que

muito provavelmente também visitavam essas praias Jurássicas.

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