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  • A tirania financeira

    A causa fundamental da depresso econmica e, portanto, da misria e dos conflitos

    sociais a concentrao, ficando a produo controlada por poucas empresas gigantes, as

    quais, em geral, agem como monoplios ou carteis.

    2. Outra causa principal da depresso a financeirizao da economia, em parte gerada por

    artes da prpria finana e em parte pela concentrao da economia produtiva. Esta se

    manifesta no s nos centros e subcentros mundiais do capitalismo, mas tambm nos pases

    que foram levados a especializar-se na produo mineral primria ou na agricultura para

    exportao de commodities.

    3. O Brasil deixa, assim, de produzir alimentos necessrios a consumo razovel, e as terras

    do Pas so ocupadas por enormes plantations, as quais, tal como as minas, vo-se

    desnacionalizando, controladas por tradings mundiais. Exemplos, a soja que ocupa quase a

    metade das terras em produo e a cana-de-acar, para exportar acar e etanol

    combustvel.

    4. Nos centros mundiais, a financeirizao e a concentrao esto na raiz do colapso dos

    mercados financeiros em 2007-2008, do qual os EUA e grande parte dos pases europeus

    no s no se recuperaram, como esto podendo sofrer sria recada.

    5. Tudo isso, porque a concentrao econmica e financeira acompanhada pela do poder

    poltico. Este fica inteiramente a servio dos concentradores da economia e das finanas.

    6. Efeito claro dessa situao foi a resposta, nos EUA e na Unio Europeia, ao colapso

    financeiro. O Federal Reserve e o Banco Central Europeu, como os prprios Tesouros

    nacionais, trataram apenas de resgatar os bancos encalacrados aps a farra dos derivativos,

    em vez de assumir o controle deles e usar o sistema financeiro para recuperar a economia,

    investindo em atividades produtivas.

    7. No Brasil, o Banco Central (BACEN), juntamente com o Tesouro age com a aparente

    finalidade exclusiva de propiciar fabulosos lucros aos bancos.

    8. Para comear, o BACEN remunera com altas taxas de juros os depsitos livres e os

    compulsrios. Estes so atualmente 44% dos depsitos vista nos bancos, e 20% dos

    recursos a prazo e dos investidos em poupana.

    9. Os primeiros so remunerados pela taxa SELIC, cuja meta atual 11% aa. Sobre os

    recursos a prazo, a remunerao costuma ser ainda maior.

    10. So, pois altssimas taxas, auferidas sem qualquer risco, recebidas tambm nos

    depsitos voluntrios que os bancos fazem no BACEN. Como assinalei no artigo O sistema

    pr-imperial, os depsitos no BACEN devero proporcionar aos bancos ganhos prximos a

    R$ 50 bilhes, s neste ano.

    11. A proporo do que os bancos emprestam a empresas produtivas vem-se tornando cada

    vez menor. As propores que crescem so as referentes ao crdito e s aplicaes prprias

    destinadas a fuses, aquisies, e sobre tudo as das operaes do mercado financeiro,

    inclusive derivativos e outras alavancadas.

  • 12. Alm de lucrar com seus depsitos no BACEN, os bancos emprestam a empresas e a

    particulares, e, ao faz-lo, criam depsitos na conta do tomador, o qual passa a sacar

    dinheiro e a emitir cheques, que voltam ao mesmo banco ou a outro, como depsitos.

    13. E de onde vem o dinheiro que os bancos depositam no BACEN e o que usam para fazer

    emprstimos e financiamentos? Os bancos podem usar seus fundos excedentes e, ainda,

    obter mais dinheiro no mercado interbancrio, a taxas muitssimo mais baixas que as que

    cobram nos emprstimos.

    14. Mas a maior parte do que emprestam procede principalmente do nada, pois eles abrem

    crditos em montante total correspondente a um grande mltiplo dos depsitos livres (i.e.,

    dos que no so obrigados a depositar no BACEN).

    15. De fato, os nicos limites para criar crdito so estes:

    a) o da prudncia, para que esse mltiplo no seja excessivo, passando, digamos, de 10, se

    prevalecer muita confiana neles, ou valores menores, na medida da desconfiana do pblico

    em relao a cada banco;

    b) o percentual do capital, estabelecido pelas autoridades monetrias, a que devem

    corresponder os seus emprstimos, em geral mais de 90%.

    16. Por outro lado, cada vez que fazem um emprstimo, os bancos geram um depsito, do

    nada, (sujeito a esses limites), o que produz o efeito multiplicador da cadeia

    depsitos/emprstimos. Ademais, como lembrou o economista Hlio Silveira, o BACEN,

    amide, atende os bancos passando-lhes mais recursos, quando eles tm tomadores

    atraentes, e ento a exigncia de depsitos compulsrios, que serviria para limitar, no

    serve para nada.

    17. notvel tambm que so os prprios bancos quem se apropria da enorme quantidade

    de moeda criada do nada: o dinheiro, antes inexistente, vm para os bancos medida que

    os tomadores pagam as amortizaes dos emprstimos. E com juros

    18. No bastasse tudo isso, a associao, de facto, com as autoridades monetrias contribui

    para que o cartel dos bancos imponha taxas excessivas aos muturios. Tais autoridades

    proveem dinheiro para os bancos quando as coisas esto na normalidade, e chega a resgat-

    los com trilhes de dlares, quando a situao desanda, como ocorreu na crise de

    2007/2008, nos EUA e na Europa.

    19. Nos centros imperiais Londres, com o Banco da Inglaterra, h sculos, e Nova York,

    com o FED, desde 1913 so os prprios bancos concentradores que detm as aes dos

    bancos centrais.

    20. Na Unio Europeia, criada para manietar o desenvolvimento dos pases europeus, o

    Estatuto do Banco Central Europeu proibido de financiar os tesouros nacionais e dirigido

    por banqueiros ligados aos grandes bancos angloamericanos.

    21. No Brasil, importante colocar em perspectiva a campanha recorrente dos serviais do

    imprio, em favor da independncia do BACEN. Embora formalmente vinculado Unio, o

    BACEN desde sua criao, em dezembro de 1964 subordina-se por inteiro aos ditames do

    FMI e supremacia do dlar, no admitindo operaes de cmbio entre a moeda brasileira e

  • outras latino-americanas, apesar de haver acordo que as prev: o Convnio de Crditos

    Recprocos, firmado em 1968, em Lima, no quadro da ALADI.

    22. Em suma, a liberdade das naes exige que seus bancos sejam pblicos. Se forem

    privados, seus controladores acabam por controlar tambm o Estado, como advertiram

    antigos estadistas.

    23. Nos EUA, muitas cidades e Estados restringiram as atividades de bancos sediados fora

    dessas cidades ou Estados, pois, do contrrio, as poupanas e o dinheiro gerado por

    atividades locais usado para financiar as de centros maiores, levando ao aumento das

    diferenas de desenvolvimento.

    24. Essa foi uma das muitas polticas de regulamentao bancria dos EUA derrubadas nos

    ltimos vinte anos, em funo da crescente ascendncia dos banqueiros privados sobre os

    poderes constitudos, em consequncia da concentrao econmica e da financeirizao da

    economia.

    25. Trata-se, portanto, de um processo cumulativo, no qual a cada vez maior concentrao

    do poder financeiro gera cada vez maior concentrao do poder poltico real nas mos dos

    oligarcas da tirania financeira. Isso, de novo, acarreta maiores concentrao e

    financeirizao da economia, e assim sucessivamente.

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