a sociologia de durkheim
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES
A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM
SÃO PAULO/SP
MAIO/2015
BRUNA ARTHUSO DA SILVA (9307186) – RP
JADE BRUNETTI ITAVO (8543021) – RP
JULIANA FELIX DE PAULA (9397061) - RP
VANESSA GARDENAL ANTONELI (9307190) – RP
A SOCIOLOGIA DE DURKHEIMTrabalho solicitado pelo professor Celso Fred
da disciplina de Fundamentos da Sociologia Geral e
da Comunicação, do curso de Comunicação Social
com habilitação em Relações Públicas.
SÃO PAULO/SP
MAIO/2015
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................4
2. DURKHEIM E A DEFINIÇÃO DE EDUCAÇÃO.......................................................7
3. A ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE: DA SOLIDARIEDADE MECÂNICA À
ORGÂNICA 9
4. O SUICÍDIO COMO OBJETO SOCIOLÓGICO.....................................................12
5. MÉTODO PARA DETERMINAR A FUNÇÃO DA DIVISÃO DO TRABALHO. . .15
6. CONCLUSÃO.............................................................................................................18
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................20
INTRODUÇÃO
Émile Durkheim, sociólogo francês nascido em 1858, é considerado o “pai da
sociologia”. Ao longo de sua vida elaborou diversas teses e teorias sobre a vida
social do ser humano e sobre a própria sociedade como um órgão independente.
Admirador e estudioso de Comte e Spencer e professor de algumas
universidades francesas, Durkheim conferiu à suas obras um tom cientificista que
fez com que diversos de seus alunos demonstrassem interesse por suas teses e,
assim, propagassem e contribuíssem para tais.
Émile Durkheim morreu em 15 de novembro de 1917, porém, por mio de suas
principais obras como Da Divisão do Trabalho Social (1893), As Regras do Método
Sociológico (1895), O Suicídio (1897), As Formas Elementares da Vida Religiosa
(1912) o autor criou métodos de análise da sociedade humana que até hoje influem
nas pesquisas e no desenvolvimento das ciências sociais.
A teoria dos fatos sociais como formadores de todo e qualquer indivíduo que
vive em comunidade, a divisão do trabalho que implica na solidariedade em
sociedades orgânicas, o suicídio como produto de anomias sociais, entre outros
tantos conceitos do sociólogo francês serão analisados nesse trabalho, com o
4
objetivo de entender como tais lógicas sociais influem nos processos de
comunicação.
5
1. O QUE É FATO SOCIAL?
O sociólogo Émile Durkheim, no século XIX, entende que é necessário a
criação de uma nova ciência cujo objeto de estudo será o fato social. Este é definido
como uma “coisa”, fenômeno com característica própria que independe ao
pesquisador, isto é, o estudo é feito sem a subjetividade do investigador, eliminando
qualquer especulação e feito pela observação.
Durkheim estabelece uma dualidade para definir o tal do fato social, o qual,
segundo ele, são, por exemplo, deveres, crenças, práticas religiosas, sinais para
exprimir pensamentos, sistema monetário, regras jurídicas e morais, profissão e
representações mentais e varia de cultura para cultura; um exemplo atual é que no
Brasil o uso da burca não é obrigatório, enquanto que no Paquistão é indispensável
o acessório para a mulher.
O ser humano, então, já nasce inserido nessa sociedade composta por um
sistema específico que se não for seguido por alguém, este levará punição. O autor
deixa claro que “Um fato social se reconhece pelo poder de coerção externa que
exerce ou é capaz de exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder se
reconhece, por sua vez, seja pela existência de alguma sanção determinada, seja
pela resistência que o fato opõe a toda tentativa individual de fazer-lhe violência.” A
ordem é clara, primeiro o sujeito é coagido, segundo a coerção torna-se um hábito e,
por último, uma tendência imperceptível, “esta coerção não se faz sentir”, a qual
será transmitida de geração em geração possibilitando a consolidação do costume.
A prisão do fato social, que não concede poder de escolha ao ser humano inserido
nela, transforma-se num ciclo vicioso.
O fato social está cristalizado nas instituições sociais (religião, estado e
família, por exemplo) instrumentos imprescindíveis para a manutenção do mesmo. O
autor utiliza o exemplo das escolas para confirmar a efetividade da instituição
educacional no texto “O que é um fato social”: “Quando se observam os fatos tais
como são e tais como sempre foram, salta aos olhos que toda educação consiste
num esforço contínuo para impor à criança maneiras de ver, de sentir e de agir às
quais ela não teria chegado espontaneamente. (..) a educação tem justamente por
objetivo produzir o ser social; ”.
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Ademais, Émile não separa a consciência individual da coletiva visto que
considera os substratos das mesmas distintos. A consciência individual teria origem
no próprio indivíduo, enquanto que a coletiva seria a junção de vários reinos
psicológicos, como a ideia do casamento que antes de converter-se em uma
tradição, teve origem em algum sujeito o qual decidiu unir-se matrimonialmente e
assim, outras pessoas aderiram.
Apesar de ser antigo seu estudo, Durkheim tem toda razão em reconhecer
que os fatos sociais não permitem escolhas aos sujeitos e dificilmente podem ser
quebrados. Pode-se analisar, por exemplo, o racismo no Brasil: diariamente negros
ainda sofrem discriminação num país que detém mais da metade de sua população
negra, devido ao eurocentrismo imposto durante o período colonial que foi
transmitido de geração em geração. Para muitos brasileiros ainda, a visão do negro
como objeto ou animal selvagem é correta e dificilmente tal corrente pode ser
rompida.
Mesmo quando pessoas transgredem o sistema, de alguma forma ainda
internalizam ideias do fato social, como a origem do calvinismo; num cenário de
desenvolvimento do capitalismo, Calvino utilizou de argumento religiosos para
justificar o lucro proveniente do sistema econômico, ou seja, partindo de um cenário
de industrialização (fato social), ocorre a oposição a alguns aspectos como a
valorização da fé, porém há a absorção (imposta) da economia.
Por fim, o fato social é o dominador dos seres humanos nas sociedades,
“quando executo os compromissos que assumi, eu cumpro deveres que estão
definidos, fora de mim e de meus atos, no direito e nos costumes.”.
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2. DURKHEIM E A DEFINIÇÃO DE EDUCAÇÃO
Para Durkheim, a definição de educação aparece a partir da análise dos
sistemas educacionais (atuais ou antigos), e do agrupamento dos aspectos comuns
existentes entre eles. Tais aspectos podem definir a educação. Assim, o autor afirma
que para que tal ação social possa ocorrer é necessário, primeiramente, que haja
(na comunidade), uma geração de adultos e outra de crianças e jovens, sendo a
primeira responsável por exercer influência sobre a segunda quanto aos aspectos
intelectuais, morais e culturais da sociedade.
A educação, porém, apresenta múltiplas espécies, pois a sociedade é dividida
em grupos e classes que possuem necessidades e/ou costumes diferentes de
acordo com suas condições. Dessa forma, a educação é diferente entre burguesia e
proletariado, sul e nordeste, interior e capital. Essas divergências, entretanto, levam
a uma sensação de defeito, uma vez que provoca desequilíbrios pedagógicos mas,
mesmo que existisse uma consciência moral sobre a desigualdade, a educação
igualitária não seria possível, porque a diversidade de profissões existentes implica
no ensino de técnicas variadas e, deste modo, em diversidade pedagógica.
Dessa maneira, entende-se portanto, que a educação ao assegurar a
diversidade e permitir especializações, consiste em uma busca (ou uma construção)
do ideal de indivíduo social que deve desempenhar suas funções (trabalhistas,
familiares...) de modo a colaborar com a manutenção do equilíbrio e bem estar da
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sociedade em si. Assim, por mais que existam inúmeras diferenças entre os diversos
tipos de educação em uma sociedade, há sempre aspectos comuns como a religião,
a moral e alguns costumes, que irão colaborar para a homogeneidade e harmonia
social e identificação nacional, por exemplo.
Portanto, a partir do entendimento de Durkheim, em que a sociedade existe
independentemente do indivíduo, e este é produto de tal organização, sendo suas
características psíquicas individuais restritas ao momento que antecede o contato
social, a educação é o meio pelo qual a “caixa vazia” que é a geração de crianças e
jovens se torna cheia de valores e regras sociais que permitem sua adaptação e
adequação a sociedade, adaptação essa que envolve a absorção de estados físicos
e mentais não só da própria sociedade em seu aspecto geral, como também do
grupo particular ao qual a pessoa pertence.
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3. A ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE: DA SOLIDARIEDADE
MECÂNICA À ORGÂNICA
Como já analisado, os fatos sociais são responsáveis pela coesão social que
aproxima e une as pessoas, formando uma grande rede de interação social e união,
fenômeno chamado por Durkheim de solidariedade. A solidariedade advinda das
coesões sociais é dividida em duas: a mecânica e a orgânica, tendo cada
solidariedade características diferentes que explicam os comportamentos e formas
de organização social.
A solidariedade mecânica é a responsável por formar sociedades com fortes
laços afetivos, costumes tradicionais, cujo são repassados a cada geração, e rígidos
valores e padrões morais a serem seguidos. Os indivíduos dessas sociedades estão
ligados uns aos outros através dos elementos de identificação dos quais um dos
mais visíveis encontra-se a religiosidade, devido aos fortes valores morais pregados.
A forma de identificação que une essa sociedade é responsável, além de transmitir
os valores, de determinar as funções dos indivíduos, desenvolvendo um papel que
futuramente lhe serão dados na organização social, de maneira a relevância coletiva
sobressair-se a importância individual. Como citado pelos autores Anna Maria de
Castro e Edmundo F. Dias, quanto mais homogêneo os elementos participantes da
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sociedade, mais forte é a sua imposição e vice-e-versa, sendo os motivos de
conflitos, o desalinhamento ou enfraquecimento da coesão exercida.
Caso os laços de união existentes viessem a desaparecer, a sociedade
entraria no estado, que Durkheim chamou, de anomia, elemento responsável pela
dissolução da coesão social. Se a dissolução se concretizar totalmente, surge na
sociedade um novo grupo organizado de indivíduos, responsáveis por determinar
novas regras e valores a serem seguidos, todos diferentes da imposição do grupo ao
qual pertenciam. Tratando-se das solidariedades, surge então o outro tipo em
questão, denominado solidariedade orgânica.
No caso especifico, os valores-morais religiosos, principalmente, são
substituídos por outros, como a divisão do trabalho social. A divisão do trabalho
separa os grupos existentes entre trabalhadores e proprietários, estabelecendo as
funções de cada grupo social gerando a interdependência entre eles, porém
motivados somente pela necessidade de produzir. Assim, a relação nessa
organização se torna impessoal e profissional, tornando o bem estar moral e social,
que antes era prioridade na solidariedade mecânica, praticamente desnecessária, de
maneira a conduzir essa sociedade para uma degradação social e aumentar
significativamente as chances de anomias.
Com a relação impessoal estabelecida, seguida da falta de valores morais
padrões, o indivíduo tende a se sentir deslocado e distante da sociedade na qual faz
parte, com o sentimento de “não pertencer” e isolamento, o que a um longo prazo
torna-se um problema, podendo o indivíduo desenvolver, entre outras doenças, a
depressão. Juntando todos esses fatores, o agravante surge como o fenômeno
suicídio, que ainda segundo Durkheim, não é um evento que pode ser analisado
somente da perspectiva individual, e sim como um conjunto de fatos sociais que leva
o indivíduo ao suicídio. Para Durkheim, o suicídio foge do controle de quem o
comete, é motivado pela sociedade e reflexo da situação histórica, como podemos
observar ao analisar os casos de suicídio em épocas de crises, como a Crise de 29
nos Estados Unidos, devido à instabilidade econômica do governo e financeira da
população, neste caso.
Vale ainda ressaltar que, assim como na solidariedade orgânica, na mecânica
os indivíduos também tendem a se sentirem deslocados e isolados da sociedade, e
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esse fator é o que os levam a anomia e separação. Porém, esse sentimento é menor
em comparação a solidariedade orgânica, pois enquanto nessa os indivíduos estão
por si só, naquela há o fator religioso forte que os levam a procurar um grupo de
identificação antes de descartarem a possibilidade de identificação na sociedade na
qual participam.
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4. O SUICÍDIO COMO OBJETO SOCIOLÓGICO
Na análise sociológica de Durkheim sobre o suicídio, há o estudo do ato a
partir da influência que o meio social exerce sobre a vítima, deixando para segunda
análise o estudo do indivíduo isoladamente, uma vez que o suicídio representaria,
para Durkheim, um ato coletivo e dependente da conjuntura da sociedade em
determinado momento da história.
Segundo Durkheim, o suicídio é “todo o caso de morte que resulta, direta ou
indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que
ela sabia que deveria produzir esse resultado”, sendo assim, o suicídio poderia ser
apenas colocado como um ato individual que afeta exclusivamente e somente o
indivíduo, porém, para a sociologia, o estudo do suicídio abrange a sociedade e
todos os fatores sociais que podem exercer influência sobre o suicídio, como
aspectos religiosos e econômicos de determinada sociedade em um período de
tempo, deixando a análise puramente individual, que abrange personalidade, caráter
e fatos antecedentes, para a psicologia.
Para Durkheim, o estudo do suicídio em determinada função de tempo não
deve ser analisado um por um, individualmente, como uma junção de eventos
independentes e isolados um dos outros, pois assim eles representariam somente
um conjunto de fatos, quando na verdade eles representam um fato novo, sui
generis, ou seja, fatos peculiares que, ao serem vistos como um grupo, apresentam
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suas individualidades e sua natureza social. A análise do suicídio como sendo de
natureza social, permite ao sociólogo estudar a sociedade e suas variações naquele
determinado período de tempo em que aconteceram os eventos, ressaltando a
influência das crises econômicas nas taxas de suicídio.
A partir do reconhecimento dos fatos influentes na taxa de suicídios, foi
possível constatar variações nos números do ato, uma vez que depois de anos
mantendo uma certa constância dentro dos limites de variação, houve uma alta que
se acentuou, seguida de uma baixa, indicando a existência de fatores capazes de
influenciar a ação, assim como ressaltado por Durkheim em seus estudos. Segundo
o autor, “a evolução do suicídio é assim composta de ondas de movimento, distintas
e sucessivas, que se dão por impulsos, desenvolvem-se durante algum tempo e
depois cessam, para recomeçar em seguida”, exemplificando a teoria a partir de
dados estatísticos que comprovam as variações de suicídio na sociedade europeia
do século XIX a partir de guerras e crises econômicas que afetaram a vida social, e
constatando, que, de acordo com o sociólogo “cada sociedade tem, pois, a cada
momento de sua história, uma atitude definida face ao suicídio”, ou seja, cada
sociedade assumirá uma postura e tendência específica às mortes voluntárias de
acordo com sua história.
Durkheim classifica os suicídios em três classes diferentes, que possibilitam
uma classificação dos tipos sociais do suicídio a partir das causas que os produzem.
O sociólogo não estuda as características para classificá-lo, mas parte das causas.
Ele divide o suicídio em suicídio egoísta, no qual a vítima é individualizada, não
vendo mais razão para se inserir na sociedade, com suas relações afrouxadas, e
como citado por Durkheim, “o suicídio egoísta provém do fato de que os homens já
não encontram razão de ser na vida”. O suicídio altruísta é classificado como o ato
no qual a razão de ser está fora da própria vida, como um escape de uma vida
insuportável. Por último, o suicídio anômico, que tem suas origens na anomia, fator
no qual a sociedade influencia o indivíduo na forma como o guia, muitas vezes
causando o suicídio por uma ausência de regras ou caos, como momentos de crise,
desencaixando a vítima de sua normalidade social.
Para que a sociedade tenha total influência em um suicídio, é necessário que
a vítima sinta seu fator individual menosprezado em relação a um grupo, como se
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esse tivesse domínio sobre sua personalidade pessoal, o integrando completamente
a uma massa. É a partir desse valor que Durkheim estabelece sua opinião sobre a
religião que, quase em uma totalidade (o judaísmo, como exemplificado pelo autor,
não o proíbe), repudia o ato do suicídio. Para o autor, a religião não condena o
suicídio por ser uma agressão à moral, uma proteção ao fiel ou uma ideia
estabelecida por Deus, mas sim porque a religião é uma forma de sociedade que
estabelece obrigatoriedades. Para a religião, o número de fiéis é importante para a
preservação de sua hegemonia e para o mantimento do estado coletivo.
Por fim, Durkheim afirma que “o suicídio não provém das dificuldades que o
homem encontra na vida, tornar a luta menos dura e a vida mais fácil não é o meio
de impedir seu desenvolvimento”, ou seja, o suicídio é intensamente ligado ao fator
social, que na sociedade moderna apenas se intensifica, uma vez que o homem já
não diferencia mais suas vontades individuais das influências que o meio social tem
sobre ele. A era moderna intensificou a concorrência, a comunicação e as
obrigatoriedades de se manter relações sociais, mas a miséria do homem é
meramente moral.
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5. MÉTODO PARA DETERMINAR A FUNÇÃO DA DIVISÃO DO
TRABALHO
Ao estudar a divisão do trabalho, Durkheim afirma que sua função principal
não está, ao contrário do que se imaginava, ligada ao campo econômico, mas sim
ao campo moral da solidariedade. Para exemplificar isso, o autor mostra a divisão
das funções sexuais na sociedade conjugal; ele diz que são as grandes diferenças
entre homens e mulheres que os torna próximos e dependentes, mas não quaisquer
grandes diferenças. E sim aquelas que, ao se juntarem, complementam-se, assim
o homem e a mulher isolados um do outro não passam de partes
diferentes de um mesmo todo concreto, que eles reformulam pela
união. (DURKHEIM, 1893)
dessa forma cria-se a solidariedade conjugal, pois a divisão existente entre as
funções não aumenta o rendimento das mesmas, mas as torna dependentes,
portanto, solidárias.
O mesmo acontece na divisão do trabalho social, que aparece com maior
força nas sociedades orgânicas onde o maior volume e densidade moral e material
gera o fenômeno das especializações que, por sua vez, cria a dita interdependência
e, consequentemente, solidariedade social. Então, um médico e um operário são
solidários pois, sem o trabalho do segundo para a construção de equipamentos 16
médicos, o primeiro estaria impossibilitado de salvar vidas, inclusive a do próprio
operário.
Para melhor compreender a solidariedade social, porém, é preciso que haja a
exteriorização de tal fenômeno; isso se manifesta no direito jurídico, pois o direito
consiste na sanção de regras de conduta estabelecidas pelas relações que são fruto
da divisão do trabalho. Dessa maneira, as regras jurídicas tem a função de
padronizar a solidariedade encontrada nas diversas sociedades, portanto, quando
há a quebra dos padrões, ou seja, da ordem solidária, existem dois tipos de medidas
jurídicas que podem ser tomadas para o restabelecimento do equilíbrio social
Umas consistem essencialmente numa dor, ou, pelo menos, numa
diminuição infligida ao agente; têm por objeto atingi-lo em sua fortuna,
ou em sua honra, ou em sua vida, ou em sua liberdade, privá-lo de algo
que ele desfruta. Diz-se que são repressivas; é o caso do direito penal.
É verdade que aquelas ligadas às regras puramente morais têm o
mesmo caráter: apenas são distribuídas de uma maneira mais difusa
por todos indistintamente, enquanto que as do direito penal são
aplicadas pelo intermediário de um órgão definido; são organizadas.
Quanto ao outro tipo, ela não implica necessariamente um sofrimento
do agente, mas consiste somente na restituição das coisas nas devidas
condições, no restabelecimento das relações perturbadas sob sua
forma normal, quer o ato incriminado seja reconduzido à força ao tipo
do qual foi desviado, quer seja anulado, isto é, privado de todo valor
social. Portanto, devemos dividir as regras jurídicas em duas grandes
espécies, segundo tenham sanções repressivas organizadas ou
sanções apenas restitutivas. A primeira compreende todo o direito
penal; a segunda o direito civil, o direito comercial, o direito processual,
o direito administrativo e constitucional, abstração feita das regras
penais que podem aí encontrar-se. (DURKHEIM, 1893)
A primeira, é característica das sociedades mecânicas e a segunda das
orgânicas, onde a divisão do trabalho se dá por meio das especializações e é
fundamental para sua existência. Assim sendo, Durkheim dá a entender que a
função final da divisão do trabalho social é controlar a harmonia da sociedade
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porque, como mostrado, é ela que provoca as interações, e é das interações que
surge a solidariedade social, e é de tal solidariedade que nascem as regras sociais
(morais, e depois jurídicas), e são essas regras que fazem com que a sociedade
evite as anomias e permaneça em equilíbrio.
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6. CONCLUSÃO
Émile Durkheim é considerado – junto com Weber e Marx – um dos pais
fundadores da Sociologia, sendo suas contribuições intelectuais determinantes para
essa nova ciência que surgia no século XIX. Suas ideias, inicialmente, aproximam-
se do positivismo de Augusto Comte, mas Durkheim refuta este último diante de sua
predileção pela criação de uma “religião da humanidade”, afirmando que o
positivismo falhou em alcançar a neutralidade tão pretendida na análise dos
acontecimentos sociais.
Desta forma, Durkheim alcança a neutralidade através dos estudos dos fatos
sociais, os tornando o objeto de estudo do sociólogo e, encontrando neles, os
sentidos e porquês das ações humanas. Toda a teoria sociológica de Durkheim
pretende demonstrar que os fatos sociais têm existência própria e independente
daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular. Embora todos possuam suas
"consciências individuais", seus modos próprios de se comportar e interpretar a vida,
podem-se notar, no interior de qualquer grupo ou sociedade, formas padronizadas
de conduta e pensamento, constatação está na base do que Durkheim chamou
consciência coletiva.
Para Durkheim, a Sociologia deveria ter ainda por objetivo comparar as
diversas sociedades. Constituiu assim o campo da morfologia social, ou seja, a
classificação das espécies sociais. Durkheim considerava que todas as sociedades
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haviam evoluído da forma social mais simples, igualitária, reduzida a um único
segmento onde os indivíduos se assemelhavam aos átomos. Desse ponto de
partida, foi possível uma série de combinações, das quais originaram-se outras
espécies sociais identificáveis no passado e no presente, tais como os clãs e as
tribos.
Embora preocupado com as leis gerais capazes de explicar a evolução das
sociedades humanas, Durkheim ateve-se também às particularidades da sociedade
em que vivia e aos mecanismos de coesão dos pequenos grupos, à formação de
sentimentos comuns resultantes da convivência social. Distinguiu diferentes
instâncias da vida social e seu papel na organização Social, como a educação, a
família e a religião. Pode-se dizer que, com Durkheim, já se delineava uma
apreensão da Sociologia em que se relacionava harmonicamente o geral e o
particular numa busca, ainda que não expressa, da noção de totalidade. Em vista de
todos esses aspectos tão relevantes e inéditos, os limites antes impostos pela
filosofia, como a positivista, perderam sua importância, fazendo dos estudos de
Durkheim um constante objeto de interesse da Sociologia Contemporânea.
Do que foi exposto, conclui-se que Durkheim se propôs a tarefa de realizar
uma teoria da investigação sociológica, e foi o primeiro sociólogo que conseguiu
atingir seu objetivo, em condições difíceis e com um êxito que só pode ser
contestado quando se toma uma posição diferente em face das condições, limites e
ideais de explicação científica na Sociologia.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DURKHEIM, E. As Regras do Método Sociológico, Companhia Editora
Nacional, 1966.
DURKHEIM, E. Coleção Grandes Cientistas Sociais, Ed. Ática, 1978.
DURKHEIM, E. Educação e Sociologia. Ed. Melhoramentos, 1973.
CASTRO, Ana Maria e DIAS, Edmundo F. Introdução ao Pensamento
Sociológico. Rio de Janeiro: Eldorado, 1974.
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