a sociologia de durkheim

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM SÃO PAULO/SP

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Resumo de alguns aspectos apresentados pelo pensamento de Durkheim. Trabalho realizado por alunos do curso de Comunicação Social - Relações Públicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA - USP)

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Page 1: A Sociologia de Durkheim

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES

A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM

SÃO PAULO/SP

MAIO/2015

Page 2: A Sociologia de Durkheim

BRUNA ARTHUSO DA SILVA (9307186) – RP

JADE BRUNETTI ITAVO (8543021) – RP

JULIANA FELIX DE PAULA (9397061) - RP

VANESSA GARDENAL ANTONELI (9307190) – RP

A SOCIOLOGIA DE DURKHEIMTrabalho solicitado pelo professor Celso Fred

da disciplina de Fundamentos da Sociologia Geral e

da Comunicação, do curso de Comunicação Social

com habilitação em Relações Públicas.

SÃO PAULO/SP

MAIO/2015

Page 3: A Sociologia de Durkheim

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................4

2. DURKHEIM E A DEFINIÇÃO DE EDUCAÇÃO.......................................................7

3. A ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE: DA SOLIDARIEDADE MECÂNICA À

ORGÂNICA 9

4. O SUICÍDIO COMO OBJETO SOCIOLÓGICO.....................................................12

5. MÉTODO PARA DETERMINAR A FUNÇÃO DA DIVISÃO DO TRABALHO. . .15

6. CONCLUSÃO.............................................................................................................18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................20

Page 4: A Sociologia de Durkheim

INTRODUÇÃO

Émile Durkheim, sociólogo francês nascido em 1858, é considerado o “pai da

sociologia”. Ao longo de sua vida elaborou diversas teses e teorias sobre a vida

social do ser humano e sobre a própria sociedade como um órgão independente.

Admirador e estudioso de Comte e Spencer e professor de algumas

universidades francesas, Durkheim conferiu à suas obras um tom cientificista que

fez com que diversos de seus alunos demonstrassem interesse por suas teses e,

assim, propagassem e contribuíssem para tais.

Émile Durkheim morreu em 15 de novembro de 1917, porém, por mio de suas

principais obras como Da Divisão do Trabalho Social (1893), As Regras do Método

Sociológico (1895), O Suicídio (1897), As Formas Elementares da Vida Religiosa

(1912) o autor criou métodos de análise da sociedade humana que até hoje influem

nas pesquisas e no desenvolvimento das ciências sociais.

A teoria dos fatos sociais como formadores de todo e qualquer indivíduo que

vive em comunidade, a divisão do trabalho que implica na solidariedade em

sociedades orgânicas, o suicídio como produto de anomias sociais, entre outros

tantos conceitos do sociólogo francês serão analisados nesse trabalho, com o

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Page 5: A Sociologia de Durkheim

objetivo de entender como tais lógicas sociais influem nos processos de

comunicação.

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Page 6: A Sociologia de Durkheim

1. O QUE É FATO SOCIAL?

O sociólogo Émile Durkheim, no século XIX, entende que é necessário a

criação de uma nova ciência cujo objeto de estudo será o fato social. Este é definido

como uma “coisa”, fenômeno com característica própria que independe ao

pesquisador, isto é, o estudo é feito sem a subjetividade do investigador, eliminando

qualquer especulação e feito pela observação.

Durkheim estabelece uma dualidade para definir o tal do fato social, o qual,

segundo ele, são, por exemplo, deveres, crenças, práticas religiosas, sinais para

exprimir pensamentos, sistema monetário, regras jurídicas e morais, profissão e

representações mentais e varia de cultura para cultura; um exemplo atual é que no

Brasil o uso da burca não é obrigatório, enquanto que no Paquistão é indispensável

o acessório para a mulher.

O ser humano, então, já nasce inserido nessa sociedade composta por um

sistema específico que se não for seguido por alguém, este levará punição. O autor

deixa claro que “Um fato social se reconhece pelo poder de coerção externa que

exerce ou é capaz de exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder se

reconhece, por sua vez, seja pela existência de alguma sanção determinada, seja

pela resistência que o fato opõe a toda tentativa individual de fazer-lhe violência.” A

ordem é clara, primeiro o sujeito é coagido, segundo a coerção torna-se um hábito e,

por último, uma tendência imperceptível, “esta coerção não se faz sentir”, a qual

será transmitida de geração em geração possibilitando a consolidação do costume.

A prisão do fato social, que não concede poder de escolha ao ser humano inserido

nela, transforma-se num ciclo vicioso.

O fato social está cristalizado nas instituições sociais (religião, estado e

família, por exemplo) instrumentos imprescindíveis para a manutenção do mesmo. O

autor utiliza o exemplo das escolas para confirmar a efetividade da instituição

educacional no texto “O que é um fato social”: “Quando se observam os fatos tais

como são e tais como sempre foram, salta aos olhos que toda educação consiste

num esforço contínuo para impor à criança maneiras de ver, de sentir e de agir às

quais ela não teria chegado espontaneamente. (..) a educação tem justamente por

objetivo produzir o ser social; ”.

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Page 7: A Sociologia de Durkheim

Ademais, Émile não separa a consciência individual da coletiva visto que

considera os substratos das mesmas distintos. A consciência individual teria origem

no próprio indivíduo, enquanto que a coletiva seria a junção de vários reinos

psicológicos, como a ideia do casamento que antes de converter-se em uma

tradição, teve origem em algum sujeito o qual decidiu unir-se matrimonialmente e

assim, outras pessoas aderiram.

Apesar de ser antigo seu estudo, Durkheim tem toda razão em reconhecer

que os fatos sociais não permitem escolhas aos sujeitos e dificilmente podem ser

quebrados. Pode-se analisar, por exemplo, o racismo no Brasil: diariamente negros

ainda sofrem discriminação num país que detém mais da metade de sua população

negra, devido ao eurocentrismo imposto durante o período colonial que foi

transmitido de geração em geração. Para muitos brasileiros ainda, a visão do negro

como objeto ou animal selvagem é correta e dificilmente tal corrente pode ser

rompida.

Mesmo quando pessoas transgredem o sistema, de alguma forma ainda

internalizam ideias do fato social, como a origem do calvinismo; num cenário de

desenvolvimento do capitalismo, Calvino utilizou de argumento religiosos para

justificar o lucro proveniente do sistema econômico, ou seja, partindo de um cenário

de industrialização (fato social), ocorre a oposição a alguns aspectos como a

valorização da fé, porém há a absorção (imposta) da economia.

Por fim, o fato social é o dominador dos seres humanos nas sociedades,

“quando executo os compromissos que assumi, eu cumpro deveres que estão

definidos, fora de mim e de meus atos, no direito e nos costumes.”.

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Page 8: A Sociologia de Durkheim

2. DURKHEIM E A DEFINIÇÃO DE EDUCAÇÃO

Para Durkheim, a definição de educação aparece a partir da análise dos

sistemas educacionais (atuais ou antigos), e do agrupamento dos aspectos comuns

existentes entre eles. Tais aspectos podem definir a educação. Assim, o autor afirma

que para que tal ação social possa ocorrer é necessário, primeiramente, que haja

(na comunidade), uma geração de adultos e outra de crianças e jovens, sendo a

primeira responsável por exercer influência sobre a segunda quanto aos aspectos

intelectuais, morais e culturais da sociedade.

A educação, porém, apresenta múltiplas espécies, pois a sociedade é dividida

em grupos e classes que possuem necessidades e/ou costumes diferentes de

acordo com suas condições. Dessa forma, a educação é diferente entre burguesia e

proletariado, sul e nordeste, interior e capital. Essas divergências, entretanto, levam

a uma sensação de defeito, uma vez que provoca desequilíbrios pedagógicos mas,

mesmo que existisse uma consciência moral sobre a desigualdade, a educação

igualitária não seria possível, porque a diversidade de profissões existentes implica

no ensino de técnicas variadas e, deste modo, em diversidade pedagógica.

Dessa maneira, entende-se portanto, que a educação ao assegurar a

diversidade e permitir especializações, consiste em uma busca (ou uma construção)

do ideal de indivíduo social que deve desempenhar suas funções (trabalhistas,

familiares...) de modo a colaborar com a manutenção do equilíbrio e bem estar da

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Page 9: A Sociologia de Durkheim

sociedade em si. Assim, por mais que existam inúmeras diferenças entre os diversos

tipos de educação em uma sociedade, há sempre aspectos comuns como a religião,

a moral e alguns costumes, que irão colaborar para a homogeneidade e harmonia

social e identificação nacional, por exemplo.

Portanto, a partir do entendimento de Durkheim, em que a sociedade existe

independentemente do indivíduo, e este é produto de tal organização, sendo suas

características psíquicas individuais restritas ao momento que antecede o contato

social, a educação é o meio pelo qual a “caixa vazia” que é a geração de crianças e

jovens se torna cheia de valores e regras sociais que permitem sua adaptação e

adequação a sociedade, adaptação essa que envolve a absorção de estados físicos

e mentais não só da própria sociedade em seu aspecto geral, como também do

grupo particular ao qual a pessoa pertence.

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Page 10: A Sociologia de Durkheim

3. A ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE: DA SOLIDARIEDADE

MECÂNICA À ORGÂNICA

Como já analisado, os fatos sociais são responsáveis pela coesão social que

aproxima e une as pessoas, formando uma grande rede de interação social e união,

fenômeno chamado por Durkheim de solidariedade. A solidariedade advinda das

coesões sociais é dividida em duas: a mecânica e a orgânica, tendo cada

solidariedade características diferentes que explicam os comportamentos e formas

de organização social.

A solidariedade mecânica é a responsável por formar sociedades com fortes

laços afetivos, costumes tradicionais, cujo são repassados a cada geração, e rígidos

valores e padrões morais a serem seguidos. Os indivíduos dessas sociedades estão

ligados uns aos outros através dos elementos de identificação dos quais um dos

mais visíveis encontra-se a religiosidade, devido aos fortes valores morais pregados.

A forma de identificação que une essa sociedade é responsável, além de transmitir

os valores, de determinar as funções dos indivíduos, desenvolvendo um papel que

futuramente lhe serão dados na organização social, de maneira a relevância coletiva

sobressair-se a importância individual. Como citado pelos autores Anna Maria de

Castro e Edmundo F. Dias, quanto mais homogêneo os elementos participantes da

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Page 11: A Sociologia de Durkheim

sociedade, mais forte é a sua imposição e vice-e-versa, sendo os motivos de

conflitos, o desalinhamento ou enfraquecimento da coesão exercida.

Caso os laços de união existentes viessem a desaparecer, a sociedade

entraria no estado, que Durkheim chamou, de anomia, elemento responsável pela

dissolução da coesão social. Se a dissolução se concretizar totalmente, surge na

sociedade um novo grupo organizado de indivíduos, responsáveis por determinar

novas regras e valores a serem seguidos, todos diferentes da imposição do grupo ao

qual pertenciam. Tratando-se das solidariedades, surge então o outro tipo em

questão, denominado solidariedade orgânica.

No caso especifico, os valores-morais religiosos, principalmente, são

substituídos por outros, como a divisão do trabalho social. A divisão do trabalho

separa os grupos existentes entre trabalhadores e proprietários, estabelecendo as

funções de cada grupo social gerando a interdependência entre eles, porém

motivados somente pela necessidade de produzir. Assim, a relação nessa

organização se torna impessoal e profissional, tornando o bem estar moral e social,

que antes era prioridade na solidariedade mecânica, praticamente desnecessária, de

maneira a conduzir essa sociedade para uma degradação social e aumentar

significativamente as chances de anomias.

Com a relação impessoal estabelecida, seguida da falta de valores morais

padrões, o indivíduo tende a se sentir deslocado e distante da sociedade na qual faz

parte, com o sentimento de “não pertencer” e isolamento, o que a um longo prazo

torna-se um problema, podendo o indivíduo desenvolver, entre outras doenças, a

depressão. Juntando todos esses fatores, o agravante surge como o fenômeno

suicídio, que ainda segundo Durkheim, não é um evento que pode ser analisado

somente da perspectiva individual, e sim como um conjunto de fatos sociais que leva

o indivíduo ao suicídio. Para Durkheim, o suicídio foge do controle de quem o

comete, é motivado pela sociedade e reflexo da situação histórica, como podemos

observar ao analisar os casos de suicídio em épocas de crises, como a Crise de 29

nos Estados Unidos, devido à instabilidade econômica do governo e financeira da

população, neste caso.

Vale ainda ressaltar que, assim como na solidariedade orgânica, na mecânica

os indivíduos também tendem a se sentirem deslocados e isolados da sociedade, e

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Page 12: A Sociologia de Durkheim

esse fator é o que os levam a anomia e separação. Porém, esse sentimento é menor

em comparação a solidariedade orgânica, pois enquanto nessa os indivíduos estão

por si só, naquela há o fator religioso forte que os levam a procurar um grupo de

identificação antes de descartarem a possibilidade de identificação na sociedade na

qual participam.

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Page 13: A Sociologia de Durkheim

4. O SUICÍDIO COMO OBJETO SOCIOLÓGICO

Na análise sociológica de Durkheim sobre o suicídio, há o estudo do ato a

partir da influência que o meio social exerce sobre a vítima, deixando para segunda

análise o estudo do indivíduo isoladamente, uma vez que o suicídio representaria,

para Durkheim, um ato coletivo e dependente da conjuntura da sociedade em

determinado momento da história.

Segundo Durkheim, o suicídio é “todo o caso de morte que resulta, direta ou

indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que

ela sabia que deveria produzir esse resultado”, sendo assim, o suicídio poderia ser

apenas colocado como um ato individual que afeta exclusivamente e somente o

indivíduo, porém, para a sociologia, o estudo do suicídio abrange a sociedade e

todos os fatores sociais que podem exercer influência sobre o suicídio, como

aspectos religiosos e econômicos de determinada sociedade em um período de

tempo, deixando a análise puramente individual, que abrange personalidade, caráter

e fatos antecedentes, para a psicologia.

Para Durkheim, o estudo do suicídio em determinada função de tempo não

deve ser analisado um por um, individualmente, como uma junção de eventos

independentes e isolados um dos outros, pois assim eles representariam somente

um conjunto de fatos, quando na verdade eles representam um fato novo, sui

generis, ou seja, fatos peculiares que, ao serem vistos como um grupo, apresentam

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Page 14: A Sociologia de Durkheim

suas individualidades e sua natureza social. A análise do suicídio como sendo de

natureza social, permite ao sociólogo estudar a sociedade e suas variações naquele

determinado período de tempo em que aconteceram os eventos, ressaltando a

influência das crises econômicas nas taxas de suicídio.

A partir do reconhecimento dos fatos influentes na taxa de suicídios, foi

possível constatar variações nos números do ato, uma vez que depois de anos

mantendo uma certa constância dentro dos limites de variação, houve uma alta que

se acentuou, seguida de uma baixa, indicando a existência de fatores capazes de

influenciar a ação, assim como ressaltado por Durkheim em seus estudos. Segundo

o autor, “a evolução do suicídio é assim composta de ondas de movimento, distintas

e sucessivas, que se dão por impulsos, desenvolvem-se durante algum tempo e

depois cessam, para recomeçar em seguida”, exemplificando a teoria a partir de

dados estatísticos que comprovam as variações de suicídio na sociedade europeia

do século XIX a partir de guerras e crises econômicas que afetaram a vida social, e

constatando, que, de acordo com o sociólogo “cada sociedade tem, pois, a cada

momento de sua história, uma atitude definida face ao suicídio”, ou seja, cada

sociedade assumirá uma postura e tendência específica às mortes voluntárias de

acordo com sua história.

Durkheim classifica os suicídios em três classes diferentes, que possibilitam

uma classificação dos tipos sociais do suicídio a partir das causas que os produzem.

O sociólogo não estuda as características para classificá-lo, mas parte das causas.

Ele divide o suicídio em suicídio egoísta, no qual a vítima é individualizada, não

vendo mais razão para se inserir na sociedade, com suas relações afrouxadas, e

como citado por Durkheim, “o suicídio egoísta provém do fato de que os homens já

não encontram razão de ser na vida”. O suicídio altruísta é classificado como o ato

no qual a razão de ser está fora da própria vida, como um escape de uma vida

insuportável. Por último, o suicídio anômico, que tem suas origens na anomia, fator

no qual a sociedade influencia o indivíduo na forma como o guia, muitas vezes

causando o suicídio por uma ausência de regras ou caos, como momentos de crise,

desencaixando a vítima de sua normalidade social.

Para que a sociedade tenha total influência em um suicídio, é necessário que

a vítima sinta seu fator individual menosprezado em relação a um grupo, como se

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Page 15: A Sociologia de Durkheim

esse tivesse domínio sobre sua personalidade pessoal, o integrando completamente

a uma massa. É a partir desse valor que Durkheim estabelece sua opinião sobre a

religião que, quase em uma totalidade (o judaísmo, como exemplificado pelo autor,

não o proíbe), repudia o ato do suicídio. Para o autor, a religião não condena o

suicídio por ser uma agressão à moral, uma proteção ao fiel ou uma ideia

estabelecida por Deus, mas sim porque a religião é uma forma de sociedade que

estabelece obrigatoriedades. Para a religião, o número de fiéis é importante para a

preservação de sua hegemonia e para o mantimento do estado coletivo.

Por fim, Durkheim afirma que “o suicídio não provém das dificuldades que o

homem encontra na vida, tornar a luta menos dura e a vida mais fácil não é o meio

de impedir seu desenvolvimento”, ou seja, o suicídio é intensamente ligado ao fator

social, que na sociedade moderna apenas se intensifica, uma vez que o homem já

não diferencia mais suas vontades individuais das influências que o meio social tem

sobre ele. A era moderna intensificou a concorrência, a comunicação e as

obrigatoriedades de se manter relações sociais, mas a miséria do homem é

meramente moral.

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Page 16: A Sociologia de Durkheim

5. MÉTODO PARA DETERMINAR A FUNÇÃO DA DIVISÃO DO

TRABALHO

Ao estudar a divisão do trabalho, Durkheim afirma que sua função principal

não está, ao contrário do que se imaginava, ligada ao campo econômico, mas sim

ao campo moral da solidariedade. Para exemplificar isso, o autor mostra a divisão

das funções sexuais na sociedade conjugal; ele diz que são as grandes diferenças

entre homens e mulheres que os torna próximos e dependentes, mas não quaisquer

grandes diferenças. E sim aquelas que, ao se juntarem, complementam-se, assim

o homem e a mulher isolados um do outro não passam de partes

diferentes de um mesmo todo concreto, que eles reformulam pela

união. (DURKHEIM, 1893)

dessa forma cria-se a solidariedade conjugal, pois a divisão existente entre as

funções não aumenta o rendimento das mesmas, mas as torna dependentes,

portanto, solidárias.

O mesmo acontece na divisão do trabalho social, que aparece com maior

força nas sociedades orgânicas onde o maior volume e densidade moral e material

gera o fenômeno das especializações que, por sua vez, cria a dita interdependência

e, consequentemente, solidariedade social. Então, um médico e um operário são

solidários pois, sem o trabalho do segundo para a construção de equipamentos 16

Page 17: A Sociologia de Durkheim

médicos, o primeiro estaria impossibilitado de salvar vidas, inclusive a do próprio

operário.

Para melhor compreender a solidariedade social, porém, é preciso que haja a

exteriorização de tal fenômeno; isso se manifesta no direito jurídico, pois o direito

consiste na sanção de regras de conduta estabelecidas pelas relações que são fruto

da divisão do trabalho. Dessa maneira, as regras jurídicas tem a função de

padronizar a solidariedade encontrada nas diversas sociedades, portanto, quando

há a quebra dos padrões, ou seja, da ordem solidária, existem dois tipos de medidas

jurídicas que podem ser tomadas para o restabelecimento do equilíbrio social

Umas consistem essencialmente numa dor, ou, pelo menos, numa

diminuição infligida ao agente; têm por objeto atingi-lo em sua fortuna,

ou em sua honra, ou em sua vida, ou em sua liberdade, privá-lo de algo

que ele desfruta. Diz-se que são repressivas; é o caso do direito penal.

É verdade que aquelas ligadas às regras puramente morais têm o

mesmo caráter: apenas são distribuídas de uma maneira mais difusa

por todos indistintamente, enquanto que as do direito penal são

aplicadas pelo intermediário de um órgão definido; são organizadas.

Quanto ao outro tipo, ela não implica necessariamente um sofrimento

do agente, mas consiste somente na restituição das coisas nas devidas

condições, no restabelecimento das relações perturbadas sob sua

forma normal, quer o ato incriminado seja reconduzido à força ao tipo

do qual foi desviado, quer seja anulado, isto é, privado de todo valor

social. Portanto, devemos dividir as regras jurídicas em duas grandes

espécies, segundo tenham sanções repressivas organizadas ou

sanções apenas restitutivas. A primeira compreende todo o direito

penal; a segunda o direito civil, o direito comercial, o direito processual,

o direito administrativo e constitucional, abstração feita das regras

penais que podem aí encontrar-se. (DURKHEIM, 1893)

A primeira, é característica das sociedades mecânicas e a segunda das

orgânicas, onde a divisão do trabalho se dá por meio das especializações e é

fundamental para sua existência. Assim sendo, Durkheim dá a entender que a

função final da divisão do trabalho social é controlar a harmonia da sociedade

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Page 18: A Sociologia de Durkheim

porque, como mostrado, é ela que provoca as interações, e é das interações que

surge a solidariedade social, e é de tal solidariedade que nascem as regras sociais

(morais, e depois jurídicas), e são essas regras que fazem com que a sociedade

evite as anomias e permaneça em equilíbrio.

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Page 19: A Sociologia de Durkheim

6. CONCLUSÃO

Émile Durkheim é considerado – junto com Weber e Marx – um dos pais

fundadores da Sociologia, sendo suas contribuições intelectuais determinantes para

essa nova ciência que surgia no século XIX. Suas ideias, inicialmente, aproximam-

se do positivismo de Augusto Comte, mas Durkheim refuta este último diante de sua

predileção pela criação de uma “religião da humanidade”, afirmando que o

positivismo falhou em alcançar a neutralidade tão pretendida na análise dos

acontecimentos sociais.

Desta forma, Durkheim alcança a neutralidade através dos estudos dos fatos

sociais, os tornando o objeto de estudo do sociólogo e, encontrando neles, os

sentidos e porquês das ações humanas. Toda a teoria sociológica de Durkheim

pretende demonstrar que os fatos sociais têm existência própria e independente

daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular. Embora todos possuam suas

"consciências individuais", seus modos próprios de se comportar e interpretar a vida,

podem-se notar, no interior de qualquer grupo ou sociedade, formas padronizadas

de conduta e pensamento, constatação está na base do que Durkheim chamou

consciência coletiva.

Para Durkheim, a Sociologia deveria ter ainda por objetivo comparar as

diversas sociedades. Constituiu assim o campo da morfologia social, ou seja, a

classificação das espécies sociais. Durkheim considerava que todas as sociedades

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Page 20: A Sociologia de Durkheim

haviam evoluído da forma social mais simples, igualitária, reduzida a um único

segmento onde os indivíduos se assemelhavam aos átomos. Desse ponto de

partida, foi possível uma série de combinações, das quais originaram-se outras

espécies sociais identificáveis no passado e no presente, tais como os clãs e as

tribos.

Embora preocupado com as leis gerais capazes de explicar a evolução das

sociedades humanas, Durkheim ateve-se também às particularidades da sociedade

em que vivia e aos mecanismos de coesão dos pequenos grupos, à formação de

sentimentos comuns resultantes da convivência social. Distinguiu diferentes

instâncias da vida social e seu papel na organização Social, como a educação, a

família e a religião. Pode-se dizer que, com Durkheim, já se delineava uma

apreensão da Sociologia em que se relacionava harmonicamente o geral e o

particular numa busca, ainda que não expressa, da noção de totalidade. Em vista de

todos esses aspectos tão relevantes e inéditos, os limites antes impostos pela

filosofia, como a positivista, perderam sua importância, fazendo dos estudos de

Durkheim um constante objeto de interesse da Sociologia Contemporânea.

Do que foi exposto, conclui-se que Durkheim se propôs a tarefa de realizar

uma teoria da investigação sociológica, e foi o primeiro sociólogo que conseguiu

atingir seu objetivo, em condições difíceis e com um êxito que só pode ser

contestado quando se toma uma posição diferente em face das condições, limites e

ideais de explicação científica na Sociologia.

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Page 21: A Sociologia de Durkheim

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DURKHEIM, E. As Regras do Método Sociológico, Companhia Editora

Nacional, 1966. 

DURKHEIM, E. Coleção Grandes Cientistas Sociais, Ed. Ática, 1978.

DURKHEIM, E. Educação e Sociologia. Ed. Melhoramentos, 1973. 

CASTRO, Ana Maria e DIAS, Edmundo F. Introdução ao Pensamento

Sociológico. Rio de Janeiro: Eldorado, 1974.

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