a precedÊncia dos homenageados na colaÇÃo de grau universitÁria
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A PRECEDÊNCIA DOS HOMENAGEADOS NA COLAÇÃO
DE GRAU UNIVERSITÁRIA
JEFERSON LUIS INÁCIO
jlinacio@sercomtel.com.br
Rua Milão, 566 – Jardim Piza – Londrina/PR – 86041-180
O respeito à hierarquia e à importância da função foi, é e sempre será motivo de muita valorização nos eventos realizados em sociedade. Conflitos diplomáticos se estabelecem por conta de problemas de interpretação quanto à ordem de precedência. O rito cerimonialístico universitário por sua vez, com a realização das solenidades de colação de grau, trouxe para o cenário das precedências as homenagens, que em muitas situações não encontram respaldo na adaptada Ordem Geral de Precedência estabelecida pelo Decreto da Presidência da República nº 70.274, de 1972, no Brasil. O presente trabalho faz a análise de casos específicos onde estas homenagens acontecem, para encontrar, com base em estudos bibliográficos de autores contemporâneos como Nelson Speers, Gilda Fleury Meirelles, Augusto Estellita Lins, Maria Lúcia Bettega, Flávio Benedicto Vianna, Maria Lizabete Terra Azollin entre outros e ainda a práxis universitária, uma forma ideal de se estabelecer a precedência entre os homenageados nas colações de grau com nome de turma, paraninfo e patrono. De critérios de antiguidade à importância; de cargos ocupados em esferas governamentais a órgãos de grande representatividade social, permeando por questões de relacionamento pessoal e bem-querer aos acadêmicos, diferentes situações se fazem notar quando da hora de definir tal homenagem. Esta pesquisa propõe, ao final, uma ordem de precedência para o caso em tela, como forma de colaborar e facilitar na definição das proposituras dos nomes a serem agraciados com tamanha distinção. Palavras-chave: Precedência; Colação de Grau; Homenagens; Cerimonial Universitário.
1 INTRODUÇÃO
Muitas são as situações de homenagens no cerimonial universitário, mas nada tão
efusivo quanto ao que acontece nas solenidades de colação de grau, quando se têm, após
anos de estudo e trabalho discente e docente, o reconhecimento acadêmico àqueles que
contribuíram para a construção de um novo plano de vida: patrono, paraninfo e nome de
turma.
Após vários anos realizando a função de mestre-de-cerimônias nos mais diversos
tipos de eventos no estado do Paraná, e em especial, no caso específico deste trabalho, nas
colações de grau das universidades, faculdades e centros de ensino superior, sejam elas
públicas ou particulares, oficiais ou especiais, observou-se uma confusão muito grande
quanto à precedência dada a estes homenageados, tendo-se encontrado diferentes formas,
sem nenhuma padronização lógica, o que leva à reflexão da necessidade de se buscar uma
proposta de normatização para o caso.
O presente artigo pretende relatar os resultados da pesquisa realizada para
definição e proposta de uma precedência entre os homenageados em uma solenidade de
colação de grau universitária. Para tanto, fez-se um levantamento histórico da origem da
universidade, do cerimonial, do cerimonial universitário e das homenagens nas
universidades, buscando a experiência das principais universidades do Paraná, analisando
as diferentes formas de precedência e os motivos pelos quais se propõe tais divergências.
Quando se faz um trabalho baseado apenas na praxe, com certeza alguns dos
conceitos mais primordiais acabam por esquecidos. A ausência de obras ou autores que
tratem de forma clara e normativa a questão da precedência de homenageados numa
colação de grau universitária já é fator suficiente para se enveredar nesse caminho.
Tal fato acaba por ocasionar situações diversas, pois cada instituição ou
“organizador de eventos” define uma ordem de precedência de acordo com sua própria
vontade, desconhecendo a importância de se manter o respeito à hierarquia das
homenagens.
Paraninfo, patrono e nome de turma são sempre confundidos em sua função na
homenagem prestada pela turma, e para poder esclarecer o assunto, uma pesquisa histórica
e de campo levantou os dados necessários para a análise da atual situação e norteou a
definição de aspectos que são relevantes e que nos levam a uma ordem de precedência mais
apropriada e que, se implementada como definitiva nas colações de grau oficiais e
especiais, corrigirá as grandes diferenças havidas entre as diversas instituições.
1.1. Da Origem da Universidade ao rito cerimonialístico
Foi no século XI, mais precisamente no ano de 1088, que consta oficialmente o
nascimento da primeira universidade no mundo: a universidade de Bolonha, na Itália, como
se depreende do trecho retirado do site oficial da instituição italiana a seguir:
A Universidade de Bolonha foi provavelmente a primeira Universidade no velho mundo. Sua história é a primeira dos grandes pensadores na área de ciência e humanismo, tornando-a um ponto indispensável de referência no panorama da cultura européia. A instituição que hoje nós chamamos de Universidade começou a tomar forma em Bologna no final do século onze, quando mestres de Gramática, Retórica e Lógica começaram a se dedicar ao direito. No século dezenove um comitê de historiadores, dirigido por Giosuè Carducci, atribuiu o nascimento da Universidade ao ano de 1088. (SÍTIO DA UNIVERSIDADE DE BOLONHA – NOSSA HISTÓRIA).
Paralelamente ao nascimento dessa instituição de ensino, surgiram, ainda, outras
academias: Paris, na França; Salerno e Pádua, na Itália; Oxford e Cambridge, na Inglaterra
e Heildelberg e Colônia, na Alemanha, que são consideradas as mais antigas, além de
Montpellier, na França e Salamanca, na Espanha.
Nessas escolas, estudavam-se três grandes áreas: a teologia, o direito e a medicina.
Mas, antes de ingressar em uma dessas faculdades, o aluno precisava freqüentar o curso de
“artes”, que oferecia formação literária e científica básica. Era nesse período de estudos,
correspondente ao trivium e ao quadrivium, que o aluno recebia o título de “bacharel em
artes” e se habilitava a iniciar os estudos superiores nas três áreas que lhe poderiam conferir
o título de “doutor”, ao término de 14 anos de estudos.
É com a universidade que surgem os primeiros grandes nomes de estudiosos que
provocaram grandes revoluções no campo científico, em especial no que tange às fórmulas
de estudo que perduram até hoje. Lauand (2001, p.21) resgata três desses importantes
momentos quando lembra dos nomes de Tomás de aquino, Galileu Galilei e Isaac Newton .
Mais do que apenas fornecer ensino superior aos cidadãos, as Universidades formaram homens que mudaram a face do mundo. (...) Autor da célebre Suma Teológica, Tomás de aquino (1225-1274) elaborou a síntese entre o pensamento cristão e as idéias do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), solucionando um conflito que, desde o advento do cristianismo, opunha fé e razão. (...) Se no campo da ética a Universidade produziu tão monumental obra (...), na área da astronomia, por exemplo, a contribuição da academia não foi menor. O físico e matemático italiano Galileu Galilei (1564-1642), professor da Universidade de Pádua, revolucionou o conhecimento científico ao provar que a Terra gira em torno do Sol – e não o contrário, como se pensava até então. (...) Com suas descobertas, Galileu inaugurou um método de pesquisa científica que vigora até hoje na Universidade – o método da observação e da experimentação. (...) Foi em Cambridge que Isaac Newton (1642-1727) descobriu leis da natureza até então ocultas à humanidade, como a força da gravidade (...) (LAUAND, 2001, p.21).
O ser humano só pode crescer se encontrar local propício para desenvolver suas
faculdades mentais e assim como as contribuições das épocas passadas, é na universidade
que há a possibilidade de total liberdade de pensamento e de expressão, onde a pesquisa e a
experimentação têm vez e voz, para que sejam colocadas em prática todas as formas de
avanço do conhecimento do homem, assim como já anunciava Platão (427 – 347 a.C.), “a
busca por tudo que é divino e humano, e não apenas uma parte dele”.
São muito remotos os registros que se têm sobre a organização do ser humano,
pois desde que o homem passou a viver comunitariamente, como grupo social ou sociedade
(entre 10.000 e 3.600 a.C.), a existência da hierarquia e pré-requisitos próprios de cada
posição já são percebidas.
Estudando a história das civilizações antigas, observa-se que o cerimonial já era
regulamentado e praticado rigidamente por muitos povos, de acordo com os hábitos e
costumes da época. Chineses, romanos e franceses praticavam grandes rituais em
comemorações como bodas, torneios de arqueiros, maioridade de jovens, casamentos,
funerais e banquetes, entre tantas outras formas.
No Antigo Egito, segundo Meirelles, o cerimonial era um ritual sagrado, e tudo
girava em torno da pessoa do Faraó. Todos seus passos eram acompanhados e o ritual
cerimonioso traduzia sua autoridade de Deus. (...) o Antigo Egito, onde o cerimonial era rigoroso e confundia-se o
cerimonial civil com o religioso, a partir da figura do Faraó, considerado Deus e autoridade. O banho diário do Faraó, com água considerada sagrada, simbolizava um novo nascimento e a cerimônia era comandada por dois sacerdotes, um representando o touro Íbis, outro o falcão Hórus. Após o banho, o Faraó era revestido dos poderes dessas divindades, e rompia o lacre da porta do templo de Rá, simbolizando a abertura do céu; despertava então o Deus Rá, que era paramentado, pintado e recebia insígnias reais. Terminada a cerimônia, retirava-
se, lacrando a porta novamente e apagando seus passos com folhas de palmeira (MEIRELLES, 2001, p. 17).
Outro grande marco, este tido como o primeiro registro sistematizado do
cerimonial, data do século XII a.C., com os chineses, que escreveram três obras que
traduziam sentimento ético, respeito mútuo, dignidade, obediência às leis e costumes, para
o desenvolvimento harmônico da sociedade.
Na China, século XII a.C., encontramos o “Livro da Etiqueta
Cerimonial” (I-Li), o “Cerimonial da Dinastia Chou” (Chou Li) e “Notas sobre o Cerimonial” (Li-Chi) que retratam as principais cerimônias da sociedade chinesa. O “Hi-Chi” continha ensinamentos de Confúncio e comentários sobre o cerimonial de três dinastias: a dinastia Hsia, que valorizava a lealdade, a dinastia Yin, que valorizava a realidade e a dinastia Chou, que valorizava o ornamento (VIANA, 1998, p.24).
Da mesma forma, tanto os gregos como os romanos contribuíram com inúmeros
costumes cerimoniais, os quais encontraram suas origens na civilização egípcia. Porém, foi
na idade média, nas cortes feudais da Itália, Espanha, França e Áustria que o cerimonial
ganhou muito destaque.
Na Idade Média, o cerimonial foi acrescido de grande ostentação e teve destaque nas cortes feudais não só na Itália, como também da Áustria, Espanha e França, especialmente nos combates entre cavalheiros (VIANA, 1998, p.27).
Diante de tal evolução, com a influência de diversos povos e o inter-
relacionamento cada vez maior entre os países, surgem também as regras de etiqueta e
protocolo, com a precedência sendo instituída nos governos.
Na França, à época da dinastia dos reis Luiz, o cerimonial teve seu auge,
misturando-se com as regras da etiqueta. Entretanto, apesar desse esforço,
começavam a se fazer sentir os atritos principalmente na questão da precedência,
problema que só seria resolvido séculos depois, com a Convenção de Viena, em
1815, que preconizaria a precedência diplomática (MEIRELLES, 2001, p. 20).
No entanto, a tendência dos últimos tempos é a simplificação das normas e das
regras. Muitas destas já caíram em desuso, outras são simplesmente ignoradas, devido,
principalmente, à massificação dos conteúdos e do consumo (LINS, 1991, p.13). No Brasil,
o cerimonial é, desde 1972, regulamentado pelo Decreto nº 70.274, que contém as normas
do cerimonial público e a ordem geral de precedência.
Muitas são as referências bibliográficas e os autores que trazem a conceituação de
cerimonial, mas não cabe, após diversas leituras, a dissociação do termo de outros como
protocolo e etiqueta, que nos dias modernos acabaram por fundir-se num só conceito.
Para Sérgio Paulo Schneider (apud BETTEGA, 2004, p. 11 e 12), cerimonial “é a
rigorosa observância de certas formalidades em eventos oficiais, entre autoridades
nacionais e estrangeiras”, enquanto que protocolo “é a ordem hierárquica que determina as
regras de conduta aos governos e seus representantes em ocasiões oficiais e particulares”.
Já para Augusto Estellita Lins (apud BETTEGA, 2004, p. 11 e 12), cerimonial “é a
técnica de conduzir cerimônias, assim como a seqüência lógica de programa, recepção,
evento, etc.” e protocolo é o “conjunto das normas para conduzir atos oficiais sob as regras
da diplomacia tais como a ordem geral de precedência.”
Lins (1991, p. 13) conceitua de maneira mais integrada os três itens acima, de
forma bastante clara, tipificando e pontuando cada parte importante das normas do
cerimonial. Etiqueta, Protocolo e Cerimonial reúnem o conjunto de normas
jurídicas, regras de comportamento vigentes no grupo ou no conjunto social, preceitos, receitas, modas, costumes, hábitos, crenças, mitos e tabus característicos de cada nível social. A E, P & C (Etiqueta, Protocolo e Cerimonial) de uma classe-modelo ou do nível social mais elevado e elitista de um grupo, conjunto social ou nação constitui geralmente um padrão ótimo ao qual aspiram os grupos de todos os demais níveis e que se impõe como um grau ou nível de formalismo a ser imitado no plano nacional. No plano internacional, a E, P & C das elites dos diversos países se estratificou nas normas protocolares do comportamento das cortes, dos governos e da alta sociedade, consagradas nas normas do Cerimonial Público ou Oficial e da Prática Diplomática.
O embaixador Augusto Estellita Lins (1991, p. 30 e 31), que foi, durante anos,
Chefe do Cerimonial do Palácio do Itamaraty, em seu livro Etiqueta, Protocolo &
Cerimonial, estabelece as principais funções desempenhadas pelo cerimonial. Para ele, a
mais importante diz respeito ao disciplinamento das precedências, mas acrescenta outras:
a) Função ritual - além das precedências, os gestos e
preceitos, honrarias e privilégios, símbolos do poder;
b) Função semiológica - linguagem formal, linguagem
internacional e diplomática, tratamento e fórmulas de cortesia, redação
e expressão oficial e diplomática;
c) Função legislativa - codificação das regras e preceitos
em normas de protocolo e cerimonial, nos planos interno e externo;
d) Função gratuita - hedonismo, frivolidade,
festividade, atividade lúdica que pode chegar à disfunção e
descaracterizar e etiqueta;
e) Função pedagógica - ensino de civilização e cultura.
Diante do apresentado, conclui-se que muito mais do que simples regras, o
cerimonial é acima de tudo uma harmonia entre ações que podem contribuir para o sucesso
de todo e qualquer evento. Mas, nenhum evento será coroado de êxito se não levar em
conta todas as funções do cerimonial, em especial o planejamento prévio de todas as ações.
Assim também pensa um dos mais experimentados cerimonialistas do Brasil, Marcílio
Reinaux: Para uma cerimônia se desenvolver na mais perfeita ordem é
necessário, em primeiro lugar, que seja feito um minucioso planejamento. Nada deve ser feito de improviso. Falhas são prejudiciais e acarretam sérios problemas posteriores. A expressão “Errar é Humano”, deve ser banida das áreas do cerimonial, para que não haja justificativa de qualquer falha que se venha cometer. Depois de uma cerimônia, geralmente só aparecem aqueles que criticam. Os elogios sempre são omitidos, o que é lastimável. Por isso o Cerimonial não deve falhar. E só o planejamento poderá contribuir para que tudo ocorra bem (apud VIANA, 1998, p. 31).
Como já visto na Origem da Universidade, tema tratado no início deste trabalho, a
origem do cerimonial universitário encontra-se atrelado ao desenvolvimento histórico da
universidade.
Azzolin (1997, p. 17) esclarece que conforme ganhava força o comércio marítimo
e com o surgimento das “universitas”, a tendência ao estabelecimento de uma regra de
conduta entre estes estava por acontecer.
Reforçando a necessidade de uma forma ideal de conduta, Nelson Speers afirma
que o cerimonial era cheio de ostentação, especialmente nas cortes feudais. Havia muitos
atritos especialmente na questão de precedência (Cerimonial para Relações Públicas, 1984,
p.48).
Mas, uma coisa muito interessante que se destaca naquela época era a forma como
se estabeleciam as relações entre professor e aluno. A única figura que realmente era
importante no quadro docente era a do reitor, porque, por outro lado, quem definia todo o
restante eram os estudantes.
Da origem da Universidade, na Idade Média, até hoje, os alunos constituem o público alvo sendo o meio e o fim para consolidar a Universidade como organização. Ao contrário dos dias atuais, naquela época a relação de poder estava situada com o segmento discente (AZZOLIN, 1997, p. 19).
Com base na afirmação acima, nota-se que muita coisa mudou, especialmente
quanto ao poder de decisão da comunidade estudantil, mas o que se pode levantar desta
época é o surgimento da distinção cerimonial pelo uso das vestes. Aos professores,
conforme seus graus de instrução, eram destinadas vestes diferenciadas entre si e da
comunidade estudantil. Era o surgimento do rito cerimonialístico universitário.
A universidade começa a fazer uso de uma série de ritos, como o de iniciação -
“Manuale Scholarium”, que previa a cerimônia de “purgação” com cenas que lembram as
vividas nos famosos trotes a calouros das universidades atuais; surge ainda outro rito – o de
acesso, por meio de exames e vestibulares e por fim a solenidade da formatura, cheia de
simbologia, por intermédio das vestes talares, dos anéis, cores e pedras.
É neste momento que fica evidenciada a necessidade de se impor uma ordem de
precedência que se faça realmente cumprir, para que haja o estabelecimento fiel da
hierarquia.
Para se acompanhar este processo de definição hierárquica, deve-se voltar às
primeiras universidades conhecidas, quando surge a figura do “Rector Sholariorum”,
chanceler da Instituição que a dirige com todos os poderes. O “Rector Scholariorum”,
inicialmente o Chanceler da Instituição e, mais tarde, o Reitor, foi reconhecido, no século
XIV, juntamente com as universidades, pela bula papal “Studia Generalia” do papa
Inocêncio VI (VIANA, 1998, p. 40).
É nesta mesma época que, com o surgimento destes cargos (Chanceler, Reitor,
Doutor, Professor, etc) é estabelecida pela primeira vez uma ordem de precedência
universitária. Outros aspectos surgem neste momento também, a indumentária própria,
compreendendo as vestes talares: reitoral, doutoral, professoral e capa acadêmica; os
elementos sígnicos (brasão, bandeira, estandarte, selo, medalha, o hino e o conjunto de
rituais – diferentes tipos de posses, instalação de colegiados, aula magna, concessão de
títulos honoríficos, entre outras solenidades (VIANA, 1998, p. 43), até chegar ao motivo
deste estudo, a solenidade de formatura ou de colação de grau.
Para melhor esclarecimento do tema, apresenta-se abaixo um detalhamento dos
itens tratados até aqui:
- da ordem de precedência: no caso das universidades, diversos são os aspectos
que devem ser observados quanto à precedência: a precedência geral; autoridades externas
ligadas à educação; autoridades internas e o local onde ocorre a cerimônia (VIANA, 1998,
p. 44).
A precedência geral é aquela estabelecida pela legislação em vigor e que rege o
Cerimonial Público e a Ordem Geral de Precedência. Ela se baseia na ordem hierárquica
dos três poderes, a saber: executivo, legislativo e judiciário e a respectiva esfera de atuação:
federal, estadual e municipal.
Tal precedência deve ser seguida em eventos de cumprimentos, recepções, atos
solenes, visitas oficiais. Assim sendo, autoridades externas ligadas à educação (Ministro da
Educação, Secretário Estadual de Educação e Secretário Municipal de Educação),
respeitando-se a precedência geral, serão sempre posicionadas acima das autoridades
internas (Chanceler, Reitor, Pró-Reitor, Diretor), com exceção do anfitrião da instituição
onde se realiza a cerimônia.
Neste caso, na necessidade de se saber a efetiva posição de cada precedência,
apensa - se ao presente trabalho cópia da Ordem Geral de Precedência – Decreto nº
70.274/72 – (ANEXO A).
1.2. A indumentária, os elementos sígnicos e os atos solenes e rituais
A partir de sua fundação, as universidades históricas foram criando seus próprios
signos de identidade, que nos detalhes fundamentais, mantém uma clara influência da
cultura romana, já que como corporações criadas ao amparo da igreja receberam
diretamente esta influência (SPEERS, 2003, p. 185).
Entende-se por signos não só a indumentária, mas todos os elementos sígnicos,
como as logomarcas, colares, broches, medalhas, láureas, troféus, etc.
Antes, porém, vale a pena ressaltar a importância das vestes talares e sua
composição nas realizações das solenidades acadêmicas.
As vestes talares são assim chamadas por constituírem longas vestimentas à altura
dos calcanhares (talão ou parte traseira do calçado), cujas origens remontam à época
romana e ao traje eclesiástico (VIANA, 1998, p.74).
São diferenciadas entre reitoral, doutoral, professoral e acadêmica normalmente
pelos complementos e pelas cores ligadas à posição hierárquica e ao grau do saber.
Ao chanceler e ao reitor, além da beca, que pode ser branca ou preta, cabe também
a samarra, o capelo e o cinto na cor branca, além do colar e do bastão, podendo na
cerimônia, ser substituído pelo martelo. Os doutores, da mesma forma que os reitores,
diferenciam-se destes pelo cinto e punhos que devem ser cobertos por renda na cor relativa
à sua área de conhecimento. Já os professores usam apenas a beca e o cinto na cor da área
de conhecimento (VIANA, 1998, p.74 e 75).
Quanto a esta indumentária, devido ao grande número de itens desconhecidos da
maioria das pessoas, cabe ressaltar seus significados:
- beca – veste talar, composta por torçal (cordão torcido) e borla (ornamento de
franja) formando os alamares (cordão ou trança com franjas que fica na frente das vestes);
- samarra ou muceta (capa com capuz) – de uso exclusivo de chanceleres, reitores
e doutores;
- birrete ou capelo – pequeno chapéu usado exclusivamente por reitores e
doutores, na cor da área do conhecimento.
Sobre a utilização das cores nas vestes universitárias, Viana destaca que com o
decorrer do tempo, com a associação dos cursos às pedras preciosas, vem se tentando
atribuir, erroneamente, novas cores para cada curso individualmente, em despeito das cores
relativas às áreas de conhecimento (VIANA, 1998, p.95), a saber:
• a cor vermelha representa as ciências jurídicas;
• a cor verde representa as ciências da saúde;
• a cor azul representa as ciências exatas e da natureza;
• a cor amarela representa as ciências sociais aplicadas.
Nas palavras de Nelson Speers, encontramos os termos corretos para abordar tão
importante tema: O relacionamento, e consequentemente o convívio, sempre se fizeram na base do “quem é quem”. Há que se identificar o “outro”, para conhecer-lhe o “espaço” que tem e, então, comunicar-lhe o respeito por esse “espaço” e, na contramão, ter respeitado o seu próprio “espaço”. Ora, as Universidades não fugiram a essa realidade e partiram para principalmente, os recursos visuais, e mesmo semânticos, para se identificarem no contexto (SPEERS, 2003, p. 191).
Além da ordem de precedência, da indumentária, dos ritos solenes, cabe ainda
destacar neste estudo os elementos sígnicos, que traduzem a tradição, o espírito
universitário e toda a simbologia que envolve a universidade ou outra instituição de ensino
superior.
Tais elementos (brasão, bandeira, estandarte, selo, medalha e hino) têm elevada
importância, pois estão intimamente ligados ao surgimento da instituição e à heráldica
(ciência que estuda as regras de composição, descrição e interpretação dos brasões, a
tradição, a cultura e os costumes universitários) (VIANA, 1998, p.97).
Os elementos sígnicos internos das instituições de ensino superior, segundo Viana
(1998) apresentam-se sob três aspectos:
- simbólicos da instituição , elaborados dentro dos princípios da heráldica e
representados pela bandeira, hino, brasão de armas e selo, podendo ainda incluir o escudo,
o estandarte, o galhardete e a flâmula;
- simbólicos de mérito, ligados à indumentária e representados pelas vestes talares;
- simbólicos de honraria, apresentados sob a forma de colar, broche, medalha,
pergaminho, láurea e troféu.
São vários os atos solenes dentro da instituição de ensino superior e são nesses
momentos que se pode perceber claramente a utilização de todos os pontos até aqui
apresentados: a precedência, a indumentária e os elementos sígnicos.
Tais atos solenes, nas universidades, são repletos de rituais próprios decorrendo
daí sua importância para o Cerimonial Universitário. Dentre tais atos solenes, destacam-se
como mais importantes: a instalação da Instituição; a posse do Reitor, Chanceler ou Diretor
de Faculdades, Centros ou Institutos; posse do Vice-Reitor e Pró-Reitores; instalação de
Órgãos Colegiados e de Congregações; posse de Membros nos Colegiados; aula Magna;
inaugurações de bustos, placas e portraits; lançamento de Pedra Fundamental; lançamento
de Livros; cerimônias “In Memoriam”; entregas de Títulos e Condecorações e as Colações
de Grau. (SILVA, 2003)
1.3 A Solenidade de Colação de Grau
Em que pese para a instituição de ensino ser a colação de grau uma cerimônia
simples, que poderia ser realizada na própria reitoria ou na diretoria da escola, por seu
dirigente principal, podendo se repetir quantas vezes for necessária até que se atinja o
número total de formandos, para o aluno da instituição e para seus familiares a colação de
grau assume um aspecto de evento relevante como cerimônia pública.
Este ato solene, repleto de símbolos, tem um sentido marcante na vida do
formando, momento de passagem em que o aluno entra no recinto como formando e sai
como bacharel ou licenciado. É o fim da trajetória estudantil marcada pelo ingresso à
Universidade e pelo cumprimento das exigências formais e acadêmicas (AZZOLIN, 1997,
p. 35).
É por meio da colação de grau que a Universidade ou a Faculdade apresenta à
sociedade os novos diplomados e portanto futuros profissionais. E é exatamente por isso
que a colação de grau e a entrega de diplomas como cerimônia pública constitui-se num
momento de magnitude da instituição de ensino, quando dirigentes, professores,
funcionários, pais e alunos extrapolam seus sentimentos para provar que a grande missão de
ensinar foi cumprida e o esforço valeu a pena (VIANA, 1998, P. 141).
A formatura se configura como uma comemoração dos concluintes de curso de
graduação universitária, ou pós-graduação e é ao mesmo tempo um ato acadêmico em que
se fazem presentes certos ritos: entrada de autoridades universitárias e demais autoridades
responsáveis pela realização de tal ato: Reitor ou seu representante (na precedência
universitária); coordenador ou diretor – como responsável pela imposição do respectivo
grau; paraninfo, patrono e nome de turma, ressaltando-se aqui a necessidade de se dedicar
um capítulo somente a essas homenagens, e por fim a entrada dos formandos, isto tudo de
uma forma bem sucinta (AZZOLIN, 1997, p. 36).
Dentre as etapas que se seguem, destacam-se o juramento dos formandos, que é
feito como compromisso expresso em dever ético e moral a ser cumprido, a partir daquele
momento e por toda a vida profissional; a imposição do grau individual ou coletiva pelo
reitor ou por quem preside a solenidade; os discursos, do orador geral dos formandos, num
momento de agradecimento e profunda reflexão sobre os anos de dedicação e crescimento
profissional e o discurso do paraninfo geral dos formandos, que na maioria das vezes é um
pronunciamento crítico-reflexivo.
Ao término da solenidade, tem-se a entrega dos certificados e as premiações
àqueles que obtiveram a maior nota nos respectivos cursos e dentre todos os formandos
confere-se a láurea acadêmica ao detentor da maior média da universidade naquela
formatura.
Quando é chegado o momento de se definir quais serão os professores
homenageados durante a colação de grau pelos formandos daquela turma, não existe uma
definição clara sobre qual venha a ser a importância ou a hierarquia, se é que assim se pode
dizer, entre as três possíveis homenagens havidas nos dias atuais, a saber, em ordem
alfabética: nome de turma, paraninfo e patrono.
Percebe-se pouca ou quase nenhuma literatura acerca do tema em questão, e o que
se encontra descrito por um ou por outro autor acaba sendo contraditório, como por
exemplo o que encontramos em Azzolin:
A figura do patrono é anterior à do paraninfo, expressando a condição de protetor, padrinho, ou ambas as designações. Hoje o que difere é que o paraninfo faz a entrega simbólica do diploma ao formando e o patrono dá seu nome à turma. Homenageados nas diversas classificações: honra, reconhecimento, mérito administrativo, etc, indica as pessoas que se desejam distinguir no ato, pelo convívio e acompanhamento dado à vida acadêmica dos formandos (AZZOLIN, 1997, p. 35).
Confronte-se o acima descrito, com as palavras do nobre e experiente Nelson
Speers:
Turmas mais recentes têm incluído, dentre aqueles que desejam homenagear por razão da formatura, um elemento a mais que designam como “patrono”. Trata-se de uma forma de indicar, além do paraninfo, uma personalidade geralmente de alta expressão na comunidade. (...) pois “patrono” significa “protetor” e paraninfo também tem o mesmo significado (SPEERS, 1984, p. 464).
Percebe-se que existe uma dúvida entre qual homenagem surgiu primeiro: a de
paraninfo ou a de patrono. Nos estudos dos escritos de Speers, e em especial à origem das
universidades, constata-se que a figura do paraninfo já era citada, trazendo portanto uma
prova de que, por antiguidade, o paraninfo deveria preceder qualquer outra homenagem.
Entretanto, buscando amparo no dicionário, o significado das duas homenagens é
basicamente a mesma coisa, a saber o que traz o Dicionário Houaiss Online:
- Patrono - o que luta e/ou defende uma causa, idéia etc.; defensor, protetor ; do
latim patrónus, patrono, protetor dos plebeus; advogado, defensor.
- Paraninfo – entre os gregos antigos, amigo do noivo que ia com este buscar a
noiva; padrinho de um batismo de um casamento, de um duelo etc.; aquele que
acompanhava o doutorando a receber o capelo; padrinho; que defende ou apóia uma causa,
uma idéia; protetor; do grego. paránumphos, dama de honra ou pajem da noiva.
Um pequeno trecho do discurso de Briquet de Lemos, como paraninfo na
formatura de alunos de Biblioteconomia na UnB, ocorrida no segundo semestre de 1998,
ilustra bem a dificuldade que se tem para definir o grau de importância de cada
homenagem.
Se me perguntava sobre as razões do convite também me perguntava sobre o sentido de ser paraninfo. E esta palavra começou a descrever estranhos caminhos em minha mente, ressoando aqui e ali, esbarrando em cognatos e suscitando rimas ricas e pobres, aliterações, decompondo-se em fonemas e sílabas, relembrando-me sons e sonhos. De tanto repetir-se e chocar-se nas paredes do crânio, ia perdendo sentido e forma, matizes e sombras, ritmo e harmonia. Dissolvia-se. Era já um som informe, disforme, ressoando em mil ecos inúteis na caixa de ressonância onde o cérebro já dava mostras de desconforto. Passados alguns dias reorganizei as idéias, desisti de indagar sobre a razão do convite e resolvi ir às origens para poder me situar melhor no papel que me havia sido solicitado desempenhar. E mergulhei em tempos passados o que me levou a saber que, na Grécia antiga, nýmphe era a moça, geralmente bela (lembremos do sentido atual de ninfeta), era a noiva, era “a que está coberta com um véu”, e ser paranýmphe era estar ao lado dela (pará, em grego), e por extensão ao lado ou conduzindo os nubentes. Para os romanos, que herdaram dos gregos o mesmo sentido, havia a paranympha (madrinha da noiva) e o paranymphus (padrinho do noivo). O conceito original é o mesmo do padrinho, do latim patrinus, que é o diminutivo de pater. Aquele que substitui o pai, que protege. Figura comum a praticamente todas as cerimônias iniciáticas (e o casamento é uma delas), de quase todos os povos, o paraninfo está hoje, porém, muito distante de suas origens etimológicas. Em espanhol pode ser não só aquilo que agora estou procurando ser, mas também o salão nobre de universidades ou aquela pessoa que nessas instituições profere a aula magna. E em francês pode ser a saudação feita a quem se diploma.
Dei-me conta de que a análise etimológica do termo ao mesmo tempo que me aproximava também me afastava do sentido que a palavra tem hoje em português. A melhor aproximação seria encontrada talvez numa síntese de quase todos os referentes que estiveram presentes na história dessa palavra. Está claro para todos nós qual é a denotação que hoje a palavra possui, soma talvez de todas suas denotações ao longo da história, significados antigos que são ressaibos que nos evocam conotações que acrescentam à palavra uma espécie de substrato histórico que lhe confere vitalidade. Assim, sou aquele que saúda vocês nesta solenidade em que a sociedade e o Estado lhes conferem o reconhecimento de que estão capacitados a exercer a profissão que escolheram. Sou aquele que, pelo hipotético saber e experiência, ou pela ancianidade, põe-se ao seu lado para testemunhar que vocês detêm as qualidades que reivindicam possuir. Sou aquele que lhes dá as boas-vindas e os saúda na ocasião em que concluíram com êxito mais uma etapa de suas vidas. Deveria ainda protegê-los e, se os tempos ainda fossem os de dantes, quando dos jovens se esperava que ouvissem a voz do “saber de experiências feito”, caberia ao paraninfo apontar caminhos e aconselhar quanto à atitude mais apropriada que se deve assumir quando a vida nos exige definições.
Para esclarecer a dúvida que se deposita na questão, em especial no que tange à
precedência entre as três homenagens possíveis, Dr. Nelson Speers acrescenta que se deve
levar em consideração sempre a Ordem Geral de Precedência e o critério de antiguidade
dentre os catedráticos, lembrando que não existe nenhuma literatura que aprofunde a
questão e que tais concepções lhe são próprias.
Tal consideração não é muito levada em conta nos dias atuais, em especial porque
nas colações de grau coletivas ou especiais, aquelas feitas pelas turmas individualmente,
com empresas contratadas para este fim específico e para terem um contato mais próximo
com os familiares no momento considerado por todos como um dos mais importantes da
vida, o que se têm são professores homenageados do próprio curso, e quase sempre aqueles
com quem os formandos mais se identificaram.
Uma homenagem que não é citada por Speers, mas que aparece em Azzolin é a
figura do “Nome de Turma”, que segundo a autora é um acúmulo de homenagem dado ao
patrono: “Hoje o que difere é que o paraninfo faz a entrega simbólica do diploma ao
formando e o patrono dá seu nome à turma” (AZZOLIN, 1997, p. 35).
É certo que os nomes dos professores homenageados são escolhidos pelos alunos
com muito critério e decididamente eles o fazem não pensando na hierarquia entre as
homenagens, mas sim na relação que tiveram com os docentes ao longo do curso.
Professores que mais tiveram peso na relação acadêmica são escolhidos para tais
homenagens, ficando apenas a dúvida de qual grau de homenagem conferir a cada um.
Inexiste um critério claro definido nas universidades, com raras exceções, onde a
regra da precedência das homenagens está estabelecida nos atos oficiais da reitoria, que
disciplinam a solenidade de colação de grau, como é o caso da Universidade de Brasília,
que apresenta dentre aqueles que comporão a solenidade na devida ordem, trazendo em
primeiro lugar o paraninfo e logo após o patrono, não fazendo referência alguma ao nome
de turma.
Por intermédio da pesquisa online, a Universidade de Sorocaba traz explicitamente
em seu manual de orientação para a solenidade de colação de grau, as três homenagens
muito bem definidas:
- Homenagens
Coordenadores de curso: participação efetiva (permanente).
Patrono: significa o cargo máximo na hierarquia das
homenagens. Não discursa.
Paraninfo: é o padrinho. Compete a ele proferir o discurso aos
formandos (professor).
Nome da turma: é a pessoa que leva o nome da turma. Não
discursa.
Homenagem afetiva: professores ou colaboradores merecedores
de destaque e agradecimento. Não discursam.
Homenagens póstumas: fazer as devidas referências.
Outro caso em que se encontram critérios definidos quanto às homenagens é na
Universidade de Uberaba, Minas Gerais, que são os mesmos da Universidade de Brasília,
cabendo ressaltar aqui apenas o esclarecimento que se faz com relação a homenagem feita a
mulheres, apresentado da seguinte forma:
Quando o patrono e paraninfo forem do sexo feminino, deverão ser intitulados respectivamente de patrona e paraninfa. O termo
"patronesse" é usado somente em homenagens sociais e filantrópicas (UNIVERSIDADE DE UBERABA).
Já a Universidade Estadual de Ponta Grossa, na resolução aprovada pelo Conselho
Universitário para as colações de grau, apresenta uma outra ordem nas homenagens; Nome
de Turma, Patrono e Paraninfo (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA).
Universidades estão definindo a ordem das homenagens, mas sem estarem
pautadas num princípio, que é o que se pretende analisar neste trabalho.
2 PROCEDIMENTOS DE ESTUDO
Para o desenvolvimento dessa pesquisa, foi elaborado um questionário (ANEXO
B) estruturado, aplicado aos profissionais que atuam nas universidades e instituições de
ensino superior do Paraná, com 12 questões abertas e fechadas que abordaram a concepção
e a prática da realização das solenidades de colação de grau com o estabelecimento da
precedência entre paraninfo, patrono e nome de turma.
Numa primeira etapa da pesquisa, verificou-se a disponibilidade e a disposição das
instituições para responderem aos questionários. Foram enviados 30 questionários para as
principais universidades, faculdades, centros de estudos entre outras instituições de ensino
superior do Paraná, dos quais sete retornaram.
Antes das perguntas, foi identificada a instituição e foi feito um levantamento
sobre a formação acadêmica dos entrevistados. Perguntou-se ainda o cargo e a função
ocupada e quanto tempo tinham de experiência no exercício da função. Nos sete
questionários respondidos (ANEXO C), observou-se as mais diversas áreas acadêmicas,
não havendo portanto uma preocupação das instituições na formação específica desses
profissionais como exigência para a ocupação do cargo. Apenas três instituições
apresentam em seus quadros funcionais, no exercício da função, profissionais formados em
Relações Públicas, sendo uma destas ainda especializada em Planejamento e Gestão de
Eventos.
Por intermédio dos sete questionários respondidos, encontrou-se também
profissionais realizando a função por um período de 2 a 38 anos, sendo este o caso de maior
experiência no exercício do cargo. Entre eles, três são formados em Relações Públicas, um
em Agronomia, uma em Jornalismo, um em Direito e uma em Secretariado Executivo.
Numa segunda etapa da pesquisa, buscou-se informações sobre a instituição e
observou-se que quatro eram particulares e três públicas. Quanto ao número de solenidades
de colação de grau que cada uma realiza, detectou-se que duas fazem apenas uma colação
de grau por ano, quatro fazem duas e uma faz em média sessenta por ano. Neste caso
específico, a Universidade não organiza a colação, que fica a cargo de empresa terceirizada
pelos próprios alunos, cabendo apenas a preparação do cerimonial sob a responsabilidade
do setor competente da instituição.
Outro item tratou especificamente sobre a precedência dos homenageados nas
solenidades e o resultado foi que seis instituições trazem como número um o homenageado
como Nome de Turma, três instituições trazem o Paraninfo como segunda precedência e
três o Patrono como segunda precedência. Apenas uma instituição traz o homenageado
como Nome de Turma em último lugar, tendo o Paraninfo em primeiro e o Patrono em
segundo.
Questionou-se por que a precedência era realizada desta maneira e de que forma
ela foi estabelecida e a resposta de todas foi unânime em dizer que, naquela instituição,
sempre foi assim e por esse motivo nunca mudaram.
A partir dos dados coletados, foi feita a análise das representações dos
entrevistados sobre a precedência dos homenageados, e constatou-se nessa pesquisa que
estes têm claro que não existe uma diferença de importância entre os homenageados e que,
portanto, a precedência não segue tais critérios para ser estabelecida, sendo definida
portanto pela tradição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa propôs analisar a precedência entre os homenageados na colação de
grau universitária, fazendo um levantamento histórico da origem da universidade, do
cerimonial, do cerimonial universitário e das homenagens nas universidades, buscando a
experiência das mais diversas universidades do Paraná, analisando as diferentes formas de
precedência e os motivos pelos quais se propõe tais precedências e por fim sugerir uma
norma baseada na melhor maneira de se respeitar os ritos do cerimonial universitário e da
precedência dos homenageados.
A partir de tal estudo, realizou-se uma reflexão acerca dos pressupostos teóricos,
para uma confrontação com os dados coletados e analisados.
Os estudos de Viana (1998), Lins (1991), Meirelles (2001) e outros, mostram que
muitas são as formas de se definir uma precedência, mas nada muito claramente acerca do
tema tratado, exigindo que se estabeleça uma precedência com bases analógicas, sejam
estas por critérios de antiguidade ou de importância. Percebe-se também, na prática, que as
instituições não dedicam muita reflexão ao tema, e acabam por repetir precedências que
foram decididas há muito tempo, sem ao menos questionar as razões de assim ser, em
especial porque não exigem, na sua maioria, que seus profissionais, que organizam as
solenidades de colação de grau, tenham formação específica na área de Relações Públicas e
Organização de Eventos.
Muito do que se vê na prática é porque assim era feito desde há muito e por isso
não cabe mudança, pois se era feito assim é porque tinha um motivo e como os
profissionais não têm formação na área ou conhecimento mais aprofundado sobre o assunto
e tão pouco dispõem de uma literatura que seja precisa em definir essa precedência, optam
por permitir que tudo fique como antes.
Assim, lembrando o mestre Nelson Speers (1984, p. 464) que deixa claro essa falta
de literatura e acima de tudo que a figura do Patrono é posterior ao Paraninfo, já se tem
definida uma precedência entre estes dois homenageados, pelo critério da antiguidade,
restando apenas definir a posição da homenagem com Nome de Turma.
Esta não poderia deixar de ser colocada em primeiro lugar, dada à importância que
se tem um nome. Quando se pensa em um nome, imagina-se que é nele que se concentram
todas as qualidades e referências que serão levadas eternamente e que ficarão gravadas nos
livros de história do mundo.
A escolha de um nome por um pai e por uma mãe se reveste num ato de extremo
cuidado, pois será carregado pelo filho para todo o sempre. Da mesma forma, reveste-se de
importância a escolha da homenagem como Nome de Turma, pois nenhuma turma é igual à
outra, são únicas, com qualidades próprias e situações que lhe são pertinentes e dentre os
possíveis homenageados escolherão um que queiram registrar como símbolo que os
identifica, deixando gravado nos anais da instituição que aquela turma, leva o nome
daquele homenageado, sendo portanto, por esse entendimento, prioritário, devendo
anteceder qualquer outra homenagem na colação de grau universitária.
Tem-se assim, a composição final ideal dessas homenagens na colação de grau
universitária:
1 – Nome de Turma;
2 – Paraninfo e
3 – Patrono.
Estabelecer uma norma não é uma tarefa fácil. Entretanto, com base nos estudos e
nas análises ora realizados, em especial pela falta de clareza nas definições da precedência
estabelecida pelas instituições, sugere-se que a conclusão que aqui se obteve seja passível
de implementação para que se tenha definitivamente tal ponto esclarecido e implementado
por todas as instituições em suas normativas institucionais.
REFERÊNCIAS
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MEIRELLES, Gilda Fleury. Protocolo e Cerimonial: Normas, Ritos e Pompa. São Paulo: Ômega. 2001. SILVA, Orlando Enedino da. Roteiro do Cerimonial Universitário. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2003. SPEERS, Nelson. A Universidade e o Cerimonial. São Paulo: Batatais, 2003. ______________. Cerimonial para Relações Públicas. São Paulo: Hexágono Cultural, 1984. UNIVERSIDADE DE BOLONHA – website – seção Our History - Disponível em: <http://www.eng.unibo.it/PortaleEn/University/Our+History/default.htm >, acesso em: 27/05/2005. UNIVERSIDADE DE SOROCABA – Manual do Formando. Disponível em: <http://www.uniso.br/colacao/colacao.htm>, acesso em: 28/05/2005. UNIVERSIDADE DE UBERABA – Manual do Formando - Disponível em: <http://www.uniube.br/acad/discente/dsa/formandos/manual.php>, acesso em: 24/5/2005. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA – Manual de Colação de Grau - disponível em: <http://www.uepg.br/prograd/Col_Grau.htm>, acesso em: 28/5/2005.
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