a precedÊncia dos homenageados na colaÇÃo de grau universitÁria

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A PRECEDÊNCIA DOS HOMENAGEADOS NA COLAÇÃO DE GRAU UNIVERSITÁRIA JEFERSON LUIS INÁCIO [email protected] Rua Milão, 566 – Jardim Piza – Londrina/PR – 86041-180 O respeito à hierarquia e à importância da função foi, é e sempre será motivo de muita valorização nos eventos realizados em sociedade. Conflitos diplomáticos se estabelecem por conta de problemas de interpretação quanto à ordem de precedência. O rito cerimonialístico universitário por sua vez, com a realização das solenidades de colação de grau, trouxe para o cenário das precedências as homenagens, que em muitas situações não encontram respaldo na adaptada Ordem Geral de Precedência estabelecida pelo Decreto da Presidência da República nº 70.274, de 1972, no Brasil. O presente trabalho faz a análise de casos específicos onde estas homenagens acontecem, para encontrar, com base em estudos bibliográficos de autores contemporâneos como Nelson Speers, Gilda Fleury Meirelles, Augusto Estellita Lins, Maria Lúcia Bettega, Flávio Benedicto Vianna, Maria Lizabete Terra Azollin entre outros e ainda a práxis universitária, uma forma ideal de se estabelecer a precedência entre os homenageados nas colações de grau com nome de turma, paraninfo e patrono. De critérios de antiguidade à importância; de cargos ocupados em esferas governamentais a órgãos de grande representatividade social, permeando por questões de relacionamento pessoal e bem-querer aos acadêmicos, diferentes situações se fazem notar quando da hora de definir tal homenagem. Esta pesquisa propõe, ao final, uma ordem de precedência para o caso em tela, como forma de colaborar e facilitar na definição das proposituras dos nomes a serem agraciados com tamanha distinção. Palavras-chave: Precedência; Colação de Grau; Homenagens; Cerimonial Universitário.

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Page 1: A PRECEDÊNCIA DOS HOMENAGEADOS NA COLAÇÃO DE GRAU UNIVERSITÁRIA

A PRECEDÊNCIA DOS HOMENAGEADOS NA COLAÇÃO

DE GRAU UNIVERSITÁRIA

JEFERSON LUIS INÁCIO

[email protected]

Rua Milão, 566 – Jardim Piza – Londrina/PR – 86041-180

O respeito à hierarquia e à importância da função foi, é e sempre será motivo de muita valorização nos eventos realizados em sociedade. Conflitos diplomáticos se estabelecem por conta de problemas de interpretação quanto à ordem de precedência. O rito cerimonialístico universitário por sua vez, com a realização das solenidades de colação de grau, trouxe para o cenário das precedências as homenagens, que em muitas situações não encontram respaldo na adaptada Ordem Geral de Precedência estabelecida pelo Decreto da Presidência da República nº 70.274, de 1972, no Brasil. O presente trabalho faz a análise de casos específicos onde estas homenagens acontecem, para encontrar, com base em estudos bibliográficos de autores contemporâneos como Nelson Speers, Gilda Fleury Meirelles, Augusto Estellita Lins, Maria Lúcia Bettega, Flávio Benedicto Vianna, Maria Lizabete Terra Azollin entre outros e ainda a práxis universitária, uma forma ideal de se estabelecer a precedência entre os homenageados nas colações de grau com nome de turma, paraninfo e patrono. De critérios de antiguidade à importância; de cargos ocupados em esferas governamentais a órgãos de grande representatividade social, permeando por questões de relacionamento pessoal e bem-querer aos acadêmicos, diferentes situações se fazem notar quando da hora de definir tal homenagem. Esta pesquisa propõe, ao final, uma ordem de precedência para o caso em tela, como forma de colaborar e facilitar na definição das proposituras dos nomes a serem agraciados com tamanha distinção. Palavras-chave: Precedência; Colação de Grau; Homenagens; Cerimonial Universitário.

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1 INTRODUÇÃO

Muitas são as situações de homenagens no cerimonial universitário, mas nada tão

efusivo quanto ao que acontece nas solenidades de colação de grau, quando se têm, após

anos de estudo e trabalho discente e docente, o reconhecimento acadêmico àqueles que

contribuíram para a construção de um novo plano de vida: patrono, paraninfo e nome de

turma.

Após vários anos realizando a função de mestre-de-cerimônias nos mais diversos

tipos de eventos no estado do Paraná, e em especial, no caso específico deste trabalho, nas

colações de grau das universidades, faculdades e centros de ensino superior, sejam elas

públicas ou particulares, oficiais ou especiais, observou-se uma confusão muito grande

quanto à precedência dada a estes homenageados, tendo-se encontrado diferentes formas,

sem nenhuma padronização lógica, o que leva à reflexão da necessidade de se buscar uma

proposta de normatização para o caso.

O presente artigo pretende relatar os resultados da pesquisa realizada para

definição e proposta de uma precedência entre os homenageados em uma solenidade de

colação de grau universitária. Para tanto, fez-se um levantamento histórico da origem da

universidade, do cerimonial, do cerimonial universitário e das homenagens nas

universidades, buscando a experiência das principais universidades do Paraná, analisando

as diferentes formas de precedência e os motivos pelos quais se propõe tais divergências.

Quando se faz um trabalho baseado apenas na praxe, com certeza alguns dos

conceitos mais primordiais acabam por esquecidos. A ausência de obras ou autores que

tratem de forma clara e normativa a questão da precedência de homenageados numa

colação de grau universitária já é fator suficiente para se enveredar nesse caminho.

Tal fato acaba por ocasionar situações diversas, pois cada instituição ou

“organizador de eventos” define uma ordem de precedência de acordo com sua própria

vontade, desconhecendo a importância de se manter o respeito à hierarquia das

homenagens.

Paraninfo, patrono e nome de turma são sempre confundidos em sua função na

homenagem prestada pela turma, e para poder esclarecer o assunto, uma pesquisa histórica

e de campo levantou os dados necessários para a análise da atual situação e norteou a

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definição de aspectos que são relevantes e que nos levam a uma ordem de precedência mais

apropriada e que, se implementada como definitiva nas colações de grau oficiais e

especiais, corrigirá as grandes diferenças havidas entre as diversas instituições.

1.1. Da Origem da Universidade ao rito cerimonialístico

Foi no século XI, mais precisamente no ano de 1088, que consta oficialmente o

nascimento da primeira universidade no mundo: a universidade de Bolonha, na Itália, como

se depreende do trecho retirado do site oficial da instituição italiana a seguir:

A Universidade de Bolonha foi provavelmente a primeira Universidade no velho mundo. Sua história é a primeira dos grandes pensadores na área de ciência e humanismo, tornando-a um ponto indispensável de referência no panorama da cultura européia. A instituição que hoje nós chamamos de Universidade começou a tomar forma em Bologna no final do século onze, quando mestres de Gramática, Retórica e Lógica começaram a se dedicar ao direito. No século dezenove um comitê de historiadores, dirigido por Giosuè Carducci, atribuiu o nascimento da Universidade ao ano de 1088. (SÍTIO DA UNIVERSIDADE DE BOLONHA – NOSSA HISTÓRIA).

Paralelamente ao nascimento dessa instituição de ensino, surgiram, ainda, outras

academias: Paris, na França; Salerno e Pádua, na Itália; Oxford e Cambridge, na Inglaterra

e Heildelberg e Colônia, na Alemanha, que são consideradas as mais antigas, além de

Montpellier, na França e Salamanca, na Espanha.

Nessas escolas, estudavam-se três grandes áreas: a teologia, o direito e a medicina.

Mas, antes de ingressar em uma dessas faculdades, o aluno precisava freqüentar o curso de

“artes”, que oferecia formação literária e científica básica. Era nesse período de estudos,

correspondente ao trivium e ao quadrivium, que o aluno recebia o título de “bacharel em

artes” e se habilitava a iniciar os estudos superiores nas três áreas que lhe poderiam conferir

o título de “doutor”, ao término de 14 anos de estudos.

É com a universidade que surgem os primeiros grandes nomes de estudiosos que

provocaram grandes revoluções no campo científico, em especial no que tange às fórmulas

de estudo que perduram até hoje. Lauand (2001, p.21) resgata três desses importantes

momentos quando lembra dos nomes de Tomás de aquino, Galileu Galilei e Isaac Newton .

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Mais do que apenas fornecer ensino superior aos cidadãos, as Universidades formaram homens que mudaram a face do mundo. (...) Autor da célebre Suma Teológica, Tomás de aquino (1225-1274) elaborou a síntese entre o pensamento cristão e as idéias do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), solucionando um conflito que, desde o advento do cristianismo, opunha fé e razão. (...) Se no campo da ética a Universidade produziu tão monumental obra (...), na área da astronomia, por exemplo, a contribuição da academia não foi menor. O físico e matemático italiano Galileu Galilei (1564-1642), professor da Universidade de Pádua, revolucionou o conhecimento científico ao provar que a Terra gira em torno do Sol – e não o contrário, como se pensava até então. (...) Com suas descobertas, Galileu inaugurou um método de pesquisa científica que vigora até hoje na Universidade – o método da observação e da experimentação. (...) Foi em Cambridge que Isaac Newton (1642-1727) descobriu leis da natureza até então ocultas à humanidade, como a força da gravidade (...) (LAUAND, 2001, p.21).

O ser humano só pode crescer se encontrar local propício para desenvolver suas

faculdades mentais e assim como as contribuições das épocas passadas, é na universidade

que há a possibilidade de total liberdade de pensamento e de expressão, onde a pesquisa e a

experimentação têm vez e voz, para que sejam colocadas em prática todas as formas de

avanço do conhecimento do homem, assim como já anunciava Platão (427 – 347 a.C.), “a

busca por tudo que é divino e humano, e não apenas uma parte dele”.

São muito remotos os registros que se têm sobre a organização do ser humano,

pois desde que o homem passou a viver comunitariamente, como grupo social ou sociedade

(entre 10.000 e 3.600 a.C.), a existência da hierarquia e pré-requisitos próprios de cada

posição já são percebidas.

Estudando a história das civilizações antigas, observa-se que o cerimonial já era

regulamentado e praticado rigidamente por muitos povos, de acordo com os hábitos e

costumes da época. Chineses, romanos e franceses praticavam grandes rituais em

comemorações como bodas, torneios de arqueiros, maioridade de jovens, casamentos,

funerais e banquetes, entre tantas outras formas.

No Antigo Egito, segundo Meirelles, o cerimonial era um ritual sagrado, e tudo

girava em torno da pessoa do Faraó. Todos seus passos eram acompanhados e o ritual

cerimonioso traduzia sua autoridade de Deus. (...) o Antigo Egito, onde o cerimonial era rigoroso e confundia-se o

cerimonial civil com o religioso, a partir da figura do Faraó, considerado Deus e autoridade. O banho diário do Faraó, com água considerada sagrada, simbolizava um novo nascimento e a cerimônia era comandada por dois sacerdotes, um representando o touro Íbis, outro o falcão Hórus. Após o banho, o Faraó era revestido dos poderes dessas divindades, e rompia o lacre da porta do templo de Rá, simbolizando a abertura do céu; despertava então o Deus Rá, que era paramentado, pintado e recebia insígnias reais. Terminada a cerimônia, retirava-

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se, lacrando a porta novamente e apagando seus passos com folhas de palmeira (MEIRELLES, 2001, p. 17).

Outro grande marco, este tido como o primeiro registro sistematizado do

cerimonial, data do século XII a.C., com os chineses, que escreveram três obras que

traduziam sentimento ético, respeito mútuo, dignidade, obediência às leis e costumes, para

o desenvolvimento harmônico da sociedade.

Na China, século XII a.C., encontramos o “Livro da Etiqueta

Cerimonial” (I-Li), o “Cerimonial da Dinastia Chou” (Chou Li) e “Notas sobre o Cerimonial” (Li-Chi) que retratam as principais cerimônias da sociedade chinesa. O “Hi-Chi” continha ensinamentos de Confúncio e comentários sobre o cerimonial de três dinastias: a dinastia Hsia, que valorizava a lealdade, a dinastia Yin, que valorizava a realidade e a dinastia Chou, que valorizava o ornamento (VIANA, 1998, p.24).

Da mesma forma, tanto os gregos como os romanos contribuíram com inúmeros

costumes cerimoniais, os quais encontraram suas origens na civilização egípcia. Porém, foi

na idade média, nas cortes feudais da Itália, Espanha, França e Áustria que o cerimonial

ganhou muito destaque.

Na Idade Média, o cerimonial foi acrescido de grande ostentação e teve destaque nas cortes feudais não só na Itália, como também da Áustria, Espanha e França, especialmente nos combates entre cavalheiros (VIANA, 1998, p.27).

Diante de tal evolução, com a influência de diversos povos e o inter-

relacionamento cada vez maior entre os países, surgem também as regras de etiqueta e

protocolo, com a precedência sendo instituída nos governos.

Na França, à época da dinastia dos reis Luiz, o cerimonial teve seu auge,

misturando-se com as regras da etiqueta. Entretanto, apesar desse esforço,

começavam a se fazer sentir os atritos principalmente na questão da precedência,

problema que só seria resolvido séculos depois, com a Convenção de Viena, em

1815, que preconizaria a precedência diplomática (MEIRELLES, 2001, p. 20).

No entanto, a tendência dos últimos tempos é a simplificação das normas e das

regras. Muitas destas já caíram em desuso, outras são simplesmente ignoradas, devido,

principalmente, à massificação dos conteúdos e do consumo (LINS, 1991, p.13). No Brasil,

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o cerimonial é, desde 1972, regulamentado pelo Decreto nº 70.274, que contém as normas

do cerimonial público e a ordem geral de precedência.

Muitas são as referências bibliográficas e os autores que trazem a conceituação de

cerimonial, mas não cabe, após diversas leituras, a dissociação do termo de outros como

protocolo e etiqueta, que nos dias modernos acabaram por fundir-se num só conceito.

Para Sérgio Paulo Schneider (apud BETTEGA, 2004, p. 11 e 12), cerimonial “é a

rigorosa observância de certas formalidades em eventos oficiais, entre autoridades

nacionais e estrangeiras”, enquanto que protocolo “é a ordem hierárquica que determina as

regras de conduta aos governos e seus representantes em ocasiões oficiais e particulares”.

Já para Augusto Estellita Lins (apud BETTEGA, 2004, p. 11 e 12), cerimonial “é a

técnica de conduzir cerimônias, assim como a seqüência lógica de programa, recepção,

evento, etc.” e protocolo é o “conjunto das normas para conduzir atos oficiais sob as regras

da diplomacia tais como a ordem geral de precedência.”

Lins (1991, p. 13) conceitua de maneira mais integrada os três itens acima, de

forma bastante clara, tipificando e pontuando cada parte importante das normas do

cerimonial. Etiqueta, Protocolo e Cerimonial reúnem o conjunto de normas

jurídicas, regras de comportamento vigentes no grupo ou no conjunto social, preceitos, receitas, modas, costumes, hábitos, crenças, mitos e tabus característicos de cada nível social. A E, P & C (Etiqueta, Protocolo e Cerimonial) de uma classe-modelo ou do nível social mais elevado e elitista de um grupo, conjunto social ou nação constitui geralmente um padrão ótimo ao qual aspiram os grupos de todos os demais níveis e que se impõe como um grau ou nível de formalismo a ser imitado no plano nacional. No plano internacional, a E, P & C das elites dos diversos países se estratificou nas normas protocolares do comportamento das cortes, dos governos e da alta sociedade, consagradas nas normas do Cerimonial Público ou Oficial e da Prática Diplomática.

O embaixador Augusto Estellita Lins (1991, p. 30 e 31), que foi, durante anos,

Chefe do Cerimonial do Palácio do Itamaraty, em seu livro Etiqueta, Protocolo &

Cerimonial, estabelece as principais funções desempenhadas pelo cerimonial. Para ele, a

mais importante diz respeito ao disciplinamento das precedências, mas acrescenta outras:

a) Função ritual - além das precedências, os gestos e

preceitos, honrarias e privilégios, símbolos do poder;

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b) Função semiológica - linguagem formal, linguagem

internacional e diplomática, tratamento e fórmulas de cortesia, redação

e expressão oficial e diplomática;

c) Função legislativa - codificação das regras e preceitos

em normas de protocolo e cerimonial, nos planos interno e externo;

d) Função gratuita - hedonismo, frivolidade,

festividade, atividade lúdica que pode chegar à disfunção e

descaracterizar e etiqueta;

e) Função pedagógica - ensino de civilização e cultura.

Diante do apresentado, conclui-se que muito mais do que simples regras, o

cerimonial é acima de tudo uma harmonia entre ações que podem contribuir para o sucesso

de todo e qualquer evento. Mas, nenhum evento será coroado de êxito se não levar em

conta todas as funções do cerimonial, em especial o planejamento prévio de todas as ações.

Assim também pensa um dos mais experimentados cerimonialistas do Brasil, Marcílio

Reinaux: Para uma cerimônia se desenvolver na mais perfeita ordem é

necessário, em primeiro lugar, que seja feito um minucioso planejamento. Nada deve ser feito de improviso. Falhas são prejudiciais e acarretam sérios problemas posteriores. A expressão “Errar é Humano”, deve ser banida das áreas do cerimonial, para que não haja justificativa de qualquer falha que se venha cometer. Depois de uma cerimônia, geralmente só aparecem aqueles que criticam. Os elogios sempre são omitidos, o que é lastimável. Por isso o Cerimonial não deve falhar. E só o planejamento poderá contribuir para que tudo ocorra bem (apud VIANA, 1998, p. 31).

Como já visto na Origem da Universidade, tema tratado no início deste trabalho, a

origem do cerimonial universitário encontra-se atrelado ao desenvolvimento histórico da

universidade.

Azzolin (1997, p. 17) esclarece que conforme ganhava força o comércio marítimo

e com o surgimento das “universitas”, a tendência ao estabelecimento de uma regra de

conduta entre estes estava por acontecer.

Reforçando a necessidade de uma forma ideal de conduta, Nelson Speers afirma

que o cerimonial era cheio de ostentação, especialmente nas cortes feudais. Havia muitos

atritos especialmente na questão de precedência (Cerimonial para Relações Públicas, 1984,

p.48).

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Mas, uma coisa muito interessante que se destaca naquela época era a forma como

se estabeleciam as relações entre professor e aluno. A única figura que realmente era

importante no quadro docente era a do reitor, porque, por outro lado, quem definia todo o

restante eram os estudantes.

Da origem da Universidade, na Idade Média, até hoje, os alunos constituem o público alvo sendo o meio e o fim para consolidar a Universidade como organização. Ao contrário dos dias atuais, naquela época a relação de poder estava situada com o segmento discente (AZZOLIN, 1997, p. 19).

Com base na afirmação acima, nota-se que muita coisa mudou, especialmente

quanto ao poder de decisão da comunidade estudantil, mas o que se pode levantar desta

época é o surgimento da distinção cerimonial pelo uso das vestes. Aos professores,

conforme seus graus de instrução, eram destinadas vestes diferenciadas entre si e da

comunidade estudantil. Era o surgimento do rito cerimonialístico universitário.

A universidade começa a fazer uso de uma série de ritos, como o de iniciação -

“Manuale Scholarium”, que previa a cerimônia de “purgação” com cenas que lembram as

vividas nos famosos trotes a calouros das universidades atuais; surge ainda outro rito – o de

acesso, por meio de exames e vestibulares e por fim a solenidade da formatura, cheia de

simbologia, por intermédio das vestes talares, dos anéis, cores e pedras.

É neste momento que fica evidenciada a necessidade de se impor uma ordem de

precedência que se faça realmente cumprir, para que haja o estabelecimento fiel da

hierarquia.

Para se acompanhar este processo de definição hierárquica, deve-se voltar às

primeiras universidades conhecidas, quando surge a figura do “Rector Sholariorum”,

chanceler da Instituição que a dirige com todos os poderes. O “Rector Scholariorum”,

inicialmente o Chanceler da Instituição e, mais tarde, o Reitor, foi reconhecido, no século

XIV, juntamente com as universidades, pela bula papal “Studia Generalia” do papa

Inocêncio VI (VIANA, 1998, p. 40).

É nesta mesma época que, com o surgimento destes cargos (Chanceler, Reitor,

Doutor, Professor, etc) é estabelecida pela primeira vez uma ordem de precedência

universitária. Outros aspectos surgem neste momento também, a indumentária própria,

compreendendo as vestes talares: reitoral, doutoral, professoral e capa acadêmica; os

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elementos sígnicos (brasão, bandeira, estandarte, selo, medalha, o hino e o conjunto de

rituais – diferentes tipos de posses, instalação de colegiados, aula magna, concessão de

títulos honoríficos, entre outras solenidades (VIANA, 1998, p. 43), até chegar ao motivo

deste estudo, a solenidade de formatura ou de colação de grau.

Para melhor esclarecimento do tema, apresenta-se abaixo um detalhamento dos

itens tratados até aqui:

- da ordem de precedência: no caso das universidades, diversos são os aspectos

que devem ser observados quanto à precedência: a precedência geral; autoridades externas

ligadas à educação; autoridades internas e o local onde ocorre a cerimônia (VIANA, 1998,

p. 44).

A precedência geral é aquela estabelecida pela legislação em vigor e que rege o

Cerimonial Público e a Ordem Geral de Precedência. Ela se baseia na ordem hierárquica

dos três poderes, a saber: executivo, legislativo e judiciário e a respectiva esfera de atuação:

federal, estadual e municipal.

Tal precedência deve ser seguida em eventos de cumprimentos, recepções, atos

solenes, visitas oficiais. Assim sendo, autoridades externas ligadas à educação (Ministro da

Educação, Secretário Estadual de Educação e Secretário Municipal de Educação),

respeitando-se a precedência geral, serão sempre posicionadas acima das autoridades

internas (Chanceler, Reitor, Pró-Reitor, Diretor), com exceção do anfitrião da instituição

onde se realiza a cerimônia.

Neste caso, na necessidade de se saber a efetiva posição de cada precedência,

apensa - se ao presente trabalho cópia da Ordem Geral de Precedência – Decreto nº

70.274/72 – (ANEXO A).

1.2. A indumentária, os elementos sígnicos e os atos solenes e rituais

A partir de sua fundação, as universidades históricas foram criando seus próprios

signos de identidade, que nos detalhes fundamentais, mantém uma clara influência da

cultura romana, já que como corporações criadas ao amparo da igreja receberam

diretamente esta influência (SPEERS, 2003, p. 185).

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Entende-se por signos não só a indumentária, mas todos os elementos sígnicos,

como as logomarcas, colares, broches, medalhas, láureas, troféus, etc.

Antes, porém, vale a pena ressaltar a importância das vestes talares e sua

composição nas realizações das solenidades acadêmicas.

As vestes talares são assim chamadas por constituírem longas vestimentas à altura

dos calcanhares (talão ou parte traseira do calçado), cujas origens remontam à época

romana e ao traje eclesiástico (VIANA, 1998, p.74).

São diferenciadas entre reitoral, doutoral, professoral e acadêmica normalmente

pelos complementos e pelas cores ligadas à posição hierárquica e ao grau do saber.

Ao chanceler e ao reitor, além da beca, que pode ser branca ou preta, cabe também

a samarra, o capelo e o cinto na cor branca, além do colar e do bastão, podendo na

cerimônia, ser substituído pelo martelo. Os doutores, da mesma forma que os reitores,

diferenciam-se destes pelo cinto e punhos que devem ser cobertos por renda na cor relativa

à sua área de conhecimento. Já os professores usam apenas a beca e o cinto na cor da área

de conhecimento (VIANA, 1998, p.74 e 75).

Quanto a esta indumentária, devido ao grande número de itens desconhecidos da

maioria das pessoas, cabe ressaltar seus significados:

- beca – veste talar, composta por torçal (cordão torcido) e borla (ornamento de

franja) formando os alamares (cordão ou trança com franjas que fica na frente das vestes);

- samarra ou muceta (capa com capuz) – de uso exclusivo de chanceleres, reitores

e doutores;

- birrete ou capelo – pequeno chapéu usado exclusivamente por reitores e

doutores, na cor da área do conhecimento.

Sobre a utilização das cores nas vestes universitárias, Viana destaca que com o

decorrer do tempo, com a associação dos cursos às pedras preciosas, vem se tentando

atribuir, erroneamente, novas cores para cada curso individualmente, em despeito das cores

relativas às áreas de conhecimento (VIANA, 1998, p.95), a saber:

• a cor vermelha representa as ciências jurídicas;

• a cor verde representa as ciências da saúde;

• a cor azul representa as ciências exatas e da natureza;

• a cor amarela representa as ciências sociais aplicadas.

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Nas palavras de Nelson Speers, encontramos os termos corretos para abordar tão

importante tema: O relacionamento, e consequentemente o convívio, sempre se fizeram na base do “quem é quem”. Há que se identificar o “outro”, para conhecer-lhe o “espaço” que tem e, então, comunicar-lhe o respeito por esse “espaço” e, na contramão, ter respeitado o seu próprio “espaço”. Ora, as Universidades não fugiram a essa realidade e partiram para principalmente, os recursos visuais, e mesmo semânticos, para se identificarem no contexto (SPEERS, 2003, p. 191).

Além da ordem de precedência, da indumentária, dos ritos solenes, cabe ainda

destacar neste estudo os elementos sígnicos, que traduzem a tradição, o espírito

universitário e toda a simbologia que envolve a universidade ou outra instituição de ensino

superior.

Tais elementos (brasão, bandeira, estandarte, selo, medalha e hino) têm elevada

importância, pois estão intimamente ligados ao surgimento da instituição e à heráldica

(ciência que estuda as regras de composição, descrição e interpretação dos brasões, a

tradição, a cultura e os costumes universitários) (VIANA, 1998, p.97).

Os elementos sígnicos internos das instituições de ensino superior, segundo Viana

(1998) apresentam-se sob três aspectos:

- simbólicos da instituição , elaborados dentro dos princípios da heráldica e

representados pela bandeira, hino, brasão de armas e selo, podendo ainda incluir o escudo,

o estandarte, o galhardete e a flâmula;

- simbólicos de mérito, ligados à indumentária e representados pelas vestes talares;

- simbólicos de honraria, apresentados sob a forma de colar, broche, medalha,

pergaminho, láurea e troféu.

São vários os atos solenes dentro da instituição de ensino superior e são nesses

momentos que se pode perceber claramente a utilização de todos os pontos até aqui

apresentados: a precedência, a indumentária e os elementos sígnicos.

Tais atos solenes, nas universidades, são repletos de rituais próprios decorrendo

daí sua importância para o Cerimonial Universitário. Dentre tais atos solenes, destacam-se

como mais importantes: a instalação da Instituição; a posse do Reitor, Chanceler ou Diretor

de Faculdades, Centros ou Institutos; posse do Vice-Reitor e Pró-Reitores; instalação de

Órgãos Colegiados e de Congregações; posse de Membros nos Colegiados; aula Magna;

inaugurações de bustos, placas e portraits; lançamento de Pedra Fundamental; lançamento

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de Livros; cerimônias “In Memoriam”; entregas de Títulos e Condecorações e as Colações

de Grau. (SILVA, 2003)

1.3 A Solenidade de Colação de Grau

Em que pese para a instituição de ensino ser a colação de grau uma cerimônia

simples, que poderia ser realizada na própria reitoria ou na diretoria da escola, por seu

dirigente principal, podendo se repetir quantas vezes for necessária até que se atinja o

número total de formandos, para o aluno da instituição e para seus familiares a colação de

grau assume um aspecto de evento relevante como cerimônia pública.

Este ato solene, repleto de símbolos, tem um sentido marcante na vida do

formando, momento de passagem em que o aluno entra no recinto como formando e sai

como bacharel ou licenciado. É o fim da trajetória estudantil marcada pelo ingresso à

Universidade e pelo cumprimento das exigências formais e acadêmicas (AZZOLIN, 1997,

p. 35).

É por meio da colação de grau que a Universidade ou a Faculdade apresenta à

sociedade os novos diplomados e portanto futuros profissionais. E é exatamente por isso

que a colação de grau e a entrega de diplomas como cerimônia pública constitui-se num

momento de magnitude da instituição de ensino, quando dirigentes, professores,

funcionários, pais e alunos extrapolam seus sentimentos para provar que a grande missão de

ensinar foi cumprida e o esforço valeu a pena (VIANA, 1998, P. 141).

A formatura se configura como uma comemoração dos concluintes de curso de

graduação universitária, ou pós-graduação e é ao mesmo tempo um ato acadêmico em que

se fazem presentes certos ritos: entrada de autoridades universitárias e demais autoridades

responsáveis pela realização de tal ato: Reitor ou seu representante (na precedência

universitária); coordenador ou diretor – como responsável pela imposição do respectivo

grau; paraninfo, patrono e nome de turma, ressaltando-se aqui a necessidade de se dedicar

um capítulo somente a essas homenagens, e por fim a entrada dos formandos, isto tudo de

uma forma bem sucinta (AZZOLIN, 1997, p. 36).

Dentre as etapas que se seguem, destacam-se o juramento dos formandos, que é

feito como compromisso expresso em dever ético e moral a ser cumprido, a partir daquele

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momento e por toda a vida profissional; a imposição do grau individual ou coletiva pelo

reitor ou por quem preside a solenidade; os discursos, do orador geral dos formandos, num

momento de agradecimento e profunda reflexão sobre os anos de dedicação e crescimento

profissional e o discurso do paraninfo geral dos formandos, que na maioria das vezes é um

pronunciamento crítico-reflexivo.

Ao término da solenidade, tem-se a entrega dos certificados e as premiações

àqueles que obtiveram a maior nota nos respectivos cursos e dentre todos os formandos

confere-se a láurea acadêmica ao detentor da maior média da universidade naquela

formatura.

Quando é chegado o momento de se definir quais serão os professores

homenageados durante a colação de grau pelos formandos daquela turma, não existe uma

definição clara sobre qual venha a ser a importância ou a hierarquia, se é que assim se pode

dizer, entre as três possíveis homenagens havidas nos dias atuais, a saber, em ordem

alfabética: nome de turma, paraninfo e patrono.

Percebe-se pouca ou quase nenhuma literatura acerca do tema em questão, e o que

se encontra descrito por um ou por outro autor acaba sendo contraditório, como por

exemplo o que encontramos em Azzolin:

A figura do patrono é anterior à do paraninfo, expressando a condição de protetor, padrinho, ou ambas as designações. Hoje o que difere é que o paraninfo faz a entrega simbólica do diploma ao formando e o patrono dá seu nome à turma. Homenageados nas diversas classificações: honra, reconhecimento, mérito administrativo, etc, indica as pessoas que se desejam distinguir no ato, pelo convívio e acompanhamento dado à vida acadêmica dos formandos (AZZOLIN, 1997, p. 35).

Confronte-se o acima descrito, com as palavras do nobre e experiente Nelson

Speers:

Turmas mais recentes têm incluído, dentre aqueles que desejam homenagear por razão da formatura, um elemento a mais que designam como “patrono”. Trata-se de uma forma de indicar, além do paraninfo, uma personalidade geralmente de alta expressão na comunidade. (...) pois “patrono” significa “protetor” e paraninfo também tem o mesmo significado (SPEERS, 1984, p. 464).

Page 14: A PRECEDÊNCIA DOS HOMENAGEADOS NA COLAÇÃO DE GRAU UNIVERSITÁRIA

Percebe-se que existe uma dúvida entre qual homenagem surgiu primeiro: a de

paraninfo ou a de patrono. Nos estudos dos escritos de Speers, e em especial à origem das

universidades, constata-se que a figura do paraninfo já era citada, trazendo portanto uma

prova de que, por antiguidade, o paraninfo deveria preceder qualquer outra homenagem.

Entretanto, buscando amparo no dicionário, o significado das duas homenagens é

basicamente a mesma coisa, a saber o que traz o Dicionário Houaiss Online:

- Patrono - o que luta e/ou defende uma causa, idéia etc.; defensor, protetor ; do

latim patrónus, patrono, protetor dos plebeus; advogado, defensor.

- Paraninfo – entre os gregos antigos, amigo do noivo que ia com este buscar a

noiva; padrinho de um batismo de um casamento, de um duelo etc.; aquele que

acompanhava o doutorando a receber o capelo; padrinho; que defende ou apóia uma causa,

uma idéia; protetor; do grego. paránumphos, dama de honra ou pajem da noiva.

Um pequeno trecho do discurso de Briquet de Lemos, como paraninfo na

formatura de alunos de Biblioteconomia na UnB, ocorrida no segundo semestre de 1998,

ilustra bem a dificuldade que se tem para definir o grau de importância de cada

homenagem.

Se me perguntava sobre as razões do convite também me perguntava sobre o sentido de ser paraninfo. E esta palavra começou a descrever estranhos caminhos em minha mente, ressoando aqui e ali, esbarrando em cognatos e suscitando rimas ricas e pobres, aliterações, decompondo-se em fonemas e sílabas, relembrando-me sons e sonhos. De tanto repetir-se e chocar-se nas paredes do crânio, ia perdendo sentido e forma, matizes e sombras, ritmo e harmonia. Dissolvia-se. Era já um som informe, disforme, ressoando em mil ecos inúteis na caixa de ressonância onde o cérebro já dava mostras de desconforto. Passados alguns dias reorganizei as idéias, desisti de indagar sobre a razão do convite e resolvi ir às origens para poder me situar melhor no papel que me havia sido solicitado desempenhar. E mergulhei em tempos passados o que me levou a saber que, na Grécia antiga, nýmphe era a moça, geralmente bela (lembremos do sentido atual de ninfeta), era a noiva, era “a que está coberta com um véu”, e ser paranýmphe era estar ao lado dela (pará, em grego), e por extensão ao lado ou conduzindo os nubentes. Para os romanos, que herdaram dos gregos o mesmo sentido, havia a paranympha (madrinha da noiva) e o paranymphus (padrinho do noivo). O conceito original é o mesmo do padrinho, do latim patrinus, que é o diminutivo de pater. Aquele que substitui o pai, que protege. Figura comum a praticamente todas as cerimônias iniciáticas (e o casamento é uma delas), de quase todos os povos, o paraninfo está hoje, porém, muito distante de suas origens etimológicas. Em espanhol pode ser não só aquilo que agora estou procurando ser, mas também o salão nobre de universidades ou aquela pessoa que nessas instituições profere a aula magna. E em francês pode ser a saudação feita a quem se diploma.

Page 15: A PRECEDÊNCIA DOS HOMENAGEADOS NA COLAÇÃO DE GRAU UNIVERSITÁRIA

Dei-me conta de que a análise etimológica do termo ao mesmo tempo que me aproximava também me afastava do sentido que a palavra tem hoje em português. A melhor aproximação seria encontrada talvez numa síntese de quase todos os referentes que estiveram presentes na história dessa palavra. Está claro para todos nós qual é a denotação que hoje a palavra possui, soma talvez de todas suas denotações ao longo da história, significados antigos que são ressaibos que nos evocam conotações que acrescentam à palavra uma espécie de substrato histórico que lhe confere vitalidade. Assim, sou aquele que saúda vocês nesta solenidade em que a sociedade e o Estado lhes conferem o reconhecimento de que estão capacitados a exercer a profissão que escolheram. Sou aquele que, pelo hipotético saber e experiência, ou pela ancianidade, põe-se ao seu lado para testemunhar que vocês detêm as qualidades que reivindicam possuir. Sou aquele que lhes dá as boas-vindas e os saúda na ocasião em que concluíram com êxito mais uma etapa de suas vidas. Deveria ainda protegê-los e, se os tempos ainda fossem os de dantes, quando dos jovens se esperava que ouvissem a voz do “saber de experiências feito”, caberia ao paraninfo apontar caminhos e aconselhar quanto à atitude mais apropriada que se deve assumir quando a vida nos exige definições.

Para esclarecer a dúvida que se deposita na questão, em especial no que tange à

precedência entre as três homenagens possíveis, Dr. Nelson Speers acrescenta que se deve

levar em consideração sempre a Ordem Geral de Precedência e o critério de antiguidade

dentre os catedráticos, lembrando que não existe nenhuma literatura que aprofunde a

questão e que tais concepções lhe são próprias.

Tal consideração não é muito levada em conta nos dias atuais, em especial porque

nas colações de grau coletivas ou especiais, aquelas feitas pelas turmas individualmente,

com empresas contratadas para este fim específico e para terem um contato mais próximo

com os familiares no momento considerado por todos como um dos mais importantes da

vida, o que se têm são professores homenageados do próprio curso, e quase sempre aqueles

com quem os formandos mais se identificaram.

Uma homenagem que não é citada por Speers, mas que aparece em Azzolin é a

figura do “Nome de Turma”, que segundo a autora é um acúmulo de homenagem dado ao

patrono: “Hoje o que difere é que o paraninfo faz a entrega simbólica do diploma ao

formando e o patrono dá seu nome à turma” (AZZOLIN, 1997, p. 35).

É certo que os nomes dos professores homenageados são escolhidos pelos alunos

com muito critério e decididamente eles o fazem não pensando na hierarquia entre as

homenagens, mas sim na relação que tiveram com os docentes ao longo do curso.

Page 16: A PRECEDÊNCIA DOS HOMENAGEADOS NA COLAÇÃO DE GRAU UNIVERSITÁRIA

Professores que mais tiveram peso na relação acadêmica são escolhidos para tais

homenagens, ficando apenas a dúvida de qual grau de homenagem conferir a cada um.

Inexiste um critério claro definido nas universidades, com raras exceções, onde a

regra da precedência das homenagens está estabelecida nos atos oficiais da reitoria, que

disciplinam a solenidade de colação de grau, como é o caso da Universidade de Brasília,

que apresenta dentre aqueles que comporão a solenidade na devida ordem, trazendo em

primeiro lugar o paraninfo e logo após o patrono, não fazendo referência alguma ao nome

de turma.

Por intermédio da pesquisa online, a Universidade de Sorocaba traz explicitamente

em seu manual de orientação para a solenidade de colação de grau, as três homenagens

muito bem definidas:

- Homenagens

Coordenadores de curso: participação efetiva (permanente).

Patrono: significa o cargo máximo na hierarquia das

homenagens. Não discursa.

Paraninfo: é o padrinho. Compete a ele proferir o discurso aos

formandos (professor).

Nome da turma: é a pessoa que leva o nome da turma. Não

discursa.

Homenagem afetiva: professores ou colaboradores merecedores

de destaque e agradecimento. Não discursam.

Homenagens póstumas: fazer as devidas referências.

Outro caso em que se encontram critérios definidos quanto às homenagens é na

Universidade de Uberaba, Minas Gerais, que são os mesmos da Universidade de Brasília,

cabendo ressaltar aqui apenas o esclarecimento que se faz com relação a homenagem feita a

mulheres, apresentado da seguinte forma:

Quando o patrono e paraninfo forem do sexo feminino, deverão ser intitulados respectivamente de patrona e paraninfa. O termo

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"patronesse" é usado somente em homenagens sociais e filantrópicas (UNIVERSIDADE DE UBERABA).

Já a Universidade Estadual de Ponta Grossa, na resolução aprovada pelo Conselho

Universitário para as colações de grau, apresenta uma outra ordem nas homenagens; Nome

de Turma, Patrono e Paraninfo (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA).

Universidades estão definindo a ordem das homenagens, mas sem estarem

pautadas num princípio, que é o que se pretende analisar neste trabalho.

2 PROCEDIMENTOS DE ESTUDO

Para o desenvolvimento dessa pesquisa, foi elaborado um questionário (ANEXO

B) estruturado, aplicado aos profissionais que atuam nas universidades e instituições de

ensino superior do Paraná, com 12 questões abertas e fechadas que abordaram a concepção

e a prática da realização das solenidades de colação de grau com o estabelecimento da

precedência entre paraninfo, patrono e nome de turma.

Numa primeira etapa da pesquisa, verificou-se a disponibilidade e a disposição das

instituições para responderem aos questionários. Foram enviados 30 questionários para as

principais universidades, faculdades, centros de estudos entre outras instituições de ensino

superior do Paraná, dos quais sete retornaram.

Antes das perguntas, foi identificada a instituição e foi feito um levantamento

sobre a formação acadêmica dos entrevistados. Perguntou-se ainda o cargo e a função

ocupada e quanto tempo tinham de experiência no exercício da função. Nos sete

questionários respondidos (ANEXO C), observou-se as mais diversas áreas acadêmicas,

não havendo portanto uma preocupação das instituições na formação específica desses

profissionais como exigência para a ocupação do cargo. Apenas três instituições

apresentam em seus quadros funcionais, no exercício da função, profissionais formados em

Relações Públicas, sendo uma destas ainda especializada em Planejamento e Gestão de

Eventos.

Por intermédio dos sete questionários respondidos, encontrou-se também

profissionais realizando a função por um período de 2 a 38 anos, sendo este o caso de maior

Page 18: A PRECEDÊNCIA DOS HOMENAGEADOS NA COLAÇÃO DE GRAU UNIVERSITÁRIA

experiência no exercício do cargo. Entre eles, três são formados em Relações Públicas, um

em Agronomia, uma em Jornalismo, um em Direito e uma em Secretariado Executivo.

Numa segunda etapa da pesquisa, buscou-se informações sobre a instituição e

observou-se que quatro eram particulares e três públicas. Quanto ao número de solenidades

de colação de grau que cada uma realiza, detectou-se que duas fazem apenas uma colação

de grau por ano, quatro fazem duas e uma faz em média sessenta por ano. Neste caso

específico, a Universidade não organiza a colação, que fica a cargo de empresa terceirizada

pelos próprios alunos, cabendo apenas a preparação do cerimonial sob a responsabilidade

do setor competente da instituição.

Outro item tratou especificamente sobre a precedência dos homenageados nas

solenidades e o resultado foi que seis instituições trazem como número um o homenageado

como Nome de Turma, três instituições trazem o Paraninfo como segunda precedência e

três o Patrono como segunda precedência. Apenas uma instituição traz o homenageado

como Nome de Turma em último lugar, tendo o Paraninfo em primeiro e o Patrono em

segundo.

Questionou-se por que a precedência era realizada desta maneira e de que forma

ela foi estabelecida e a resposta de todas foi unânime em dizer que, naquela instituição,

sempre foi assim e por esse motivo nunca mudaram.

A partir dos dados coletados, foi feita a análise das representações dos

entrevistados sobre a precedência dos homenageados, e constatou-se nessa pesquisa que

estes têm claro que não existe uma diferença de importância entre os homenageados e que,

portanto, a precedência não segue tais critérios para ser estabelecida, sendo definida

portanto pela tradição.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa propôs analisar a precedência entre os homenageados na colação de

grau universitária, fazendo um levantamento histórico da origem da universidade, do

cerimonial, do cerimonial universitário e das homenagens nas universidades, buscando a

experiência das mais diversas universidades do Paraná, analisando as diferentes formas de

precedência e os motivos pelos quais se propõe tais precedências e por fim sugerir uma

Page 19: A PRECEDÊNCIA DOS HOMENAGEADOS NA COLAÇÃO DE GRAU UNIVERSITÁRIA

norma baseada na melhor maneira de se respeitar os ritos do cerimonial universitário e da

precedência dos homenageados.

A partir de tal estudo, realizou-se uma reflexão acerca dos pressupostos teóricos,

para uma confrontação com os dados coletados e analisados.

Os estudos de Viana (1998), Lins (1991), Meirelles (2001) e outros, mostram que

muitas são as formas de se definir uma precedência, mas nada muito claramente acerca do

tema tratado, exigindo que se estabeleça uma precedência com bases analógicas, sejam

estas por critérios de antiguidade ou de importância. Percebe-se também, na prática, que as

instituições não dedicam muita reflexão ao tema, e acabam por repetir precedências que

foram decididas há muito tempo, sem ao menos questionar as razões de assim ser, em

especial porque não exigem, na sua maioria, que seus profissionais, que organizam as

solenidades de colação de grau, tenham formação específica na área de Relações Públicas e

Organização de Eventos.

Muito do que se vê na prática é porque assim era feito desde há muito e por isso

não cabe mudança, pois se era feito assim é porque tinha um motivo e como os

profissionais não têm formação na área ou conhecimento mais aprofundado sobre o assunto

e tão pouco dispõem de uma literatura que seja precisa em definir essa precedência, optam

por permitir que tudo fique como antes.

Assim, lembrando o mestre Nelson Speers (1984, p. 464) que deixa claro essa falta

de literatura e acima de tudo que a figura do Patrono é posterior ao Paraninfo, já se tem

definida uma precedência entre estes dois homenageados, pelo critério da antiguidade,

restando apenas definir a posição da homenagem com Nome de Turma.

Esta não poderia deixar de ser colocada em primeiro lugar, dada à importância que

se tem um nome. Quando se pensa em um nome, imagina-se que é nele que se concentram

todas as qualidades e referências que serão levadas eternamente e que ficarão gravadas nos

livros de história do mundo.

A escolha de um nome por um pai e por uma mãe se reveste num ato de extremo

cuidado, pois será carregado pelo filho para todo o sempre. Da mesma forma, reveste-se de

importância a escolha da homenagem como Nome de Turma, pois nenhuma turma é igual à

outra, são únicas, com qualidades próprias e situações que lhe são pertinentes e dentre os

possíveis homenageados escolherão um que queiram registrar como símbolo que os

Page 20: A PRECEDÊNCIA DOS HOMENAGEADOS NA COLAÇÃO DE GRAU UNIVERSITÁRIA

identifica, deixando gravado nos anais da instituição que aquela turma, leva o nome

daquele homenageado, sendo portanto, por esse entendimento, prioritário, devendo

anteceder qualquer outra homenagem na colação de grau universitária.

Tem-se assim, a composição final ideal dessas homenagens na colação de grau

universitária:

1 – Nome de Turma;

2 – Paraninfo e

3 – Patrono.

Estabelecer uma norma não é uma tarefa fácil. Entretanto, com base nos estudos e

nas análises ora realizados, em especial pela falta de clareza nas definições da precedência

estabelecida pelas instituições, sugere-se que a conclusão que aqui se obteve seja passível

de implementação para que se tenha definitivamente tal ponto esclarecido e implementado

por todas as instituições em suas normativas institucionais.

REFERÊNCIAS

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