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A MÚSICA COMO PROPOSTA PARA O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA NO

ENSINO FUNDAMENTAL

Solaine Amorim Morais Blecha1

Soraia Teixeira Sonsin 2

RESUMO

Este artigo tem como objetivo apresentar uma proposta de trabalho com o gênero textual música, desenvolvido na 8ª série “A” do Ensino Fundamental de Língua Estrangeira Moderna – Inglês, no Colégio Estadual José Sarmento Filho – EFN, no município de Iretama - Pr. O objetivo geral com a Implementação do Material Didático foi desenvolver uma unidade de ensino abordando o Gênero Textual Música utilizando o tema meio ambiente. O embasamento teórico está voltado para os pressupostos de Bakhtin (2003), Bronckart (1999), Marcuschi (2008), principalmente. Pois, os mesmos afirmam que o trabalho com gênero textual seja uma das formas de levar o aluno a fazer parte deste mundo letrado, compreendendo-o e compreendendo a si mesmo. O resultado desta implementação apresentou como ponto positivo a motivação com o gênero textual música. Os alunos sentiram-se motivados e interagiram mais nas aulas com tais atividades. O ponto negativo é que os alunos continuaram dependentes do uso de dicionários para realizar as tarefas.

Palavras-chave: Gênero Textual; Língua Inglesa; Ensino Reflexivo.

ABSTRACT

This article aims to present a proposal of work with the music genre developed on an 8th grade of elementary school of Modern Foreign Language - English, in the State School Jose Sarmento Filho - EFN, in the city of Iretama - The overall goal with the

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Professora PDE/2010 do QPM (Quadro Próprio do Magistério) da Rede Pública Estadual do Estado do Paraná. O texto é

resultado da implementação de atividades de conclusão do PDE/ 2010. Programa de Desenvolvimento Educacional da SEED – Secretaria

Estadual da Educação -, realizado na FECILCAM, Campo Mourão PR. 2

Professora Mestre em Estudos da Linguagem. Lotada no curso de Letras da Fecilcam/UNESPAR-Campus de Campo Mourão.

Professora de Língua Inglesa, Orientadora/PDE de Língua Estrangeira Moderna.

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Implementation of the Didatic Material was to develop a teaching unit addressing Textual Gender Music using the theme environment. The theoretical framework is geared to the presumptions of Bakhtin (2003), Bronckart (1999), Marcuschi (2008), mainly. As, the same say that working with genre is a way of leading the student to be part of the literate world, understanding it and understanding himself. The result of this implementation presented as a positive point the motivation with the textual genre music. Students felt more motivated and interacted more with such activities in classes. The downside is that students continued dependent on the use of dictionaries to perform tasks.

Key words: Textual Genre; English Language; Reflective Teaching.

INTRODUÇÃO

Estamos vivendo a era das tecnologias, dos aparelhos digitais, das

informações rápidas, e, desse modo, tornar a aula interessante e atrativa para o

aluno, é um grande desafio para o professor, principalmente na fase da pré-

adolescência e adolescência em que os alunos querem saber sobre diversos

assuntos, porém de maneira imediata e superficial, que não dependa de prender-

lhes a atenção e concentração por um longo período.

Pensando nesse perfil de aluno e atendendo a uma das normas do

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do Paraná,

elaboramos um projeto para trabalhar com a disciplina de Língua Inglesa (LI), no

Ensino Fundamental, no qual, por meio do gênero textual música, enfatizamos o

tema meio ambiente com a finalidade de desenvolver o senso de reflexão crítica no

aluno sobre os problemas ambientais causados pela ação do homem, bem como o

estudo da língua como possibilidade de conscientização e transformação.

Assim, ao longo deste artigo, discutiremos as etapas e o resultado do

trabalho desenvolvido em 32 horas durante o segundo semestre de 2011, com os

alunos da 8ª série “A” do Ensino Fundamental.

A opção de trabalho adotada com o gênero música deu-se por ser um

gênero textual atrativo para o aluno, já que esse é muito apreciado pelo adolescente

no dia a dia. Embora, o professor compreenda que ensinar uma língua estrangeira

não seja tarefa muito fácil, porém, não é uma tarefa impossível, se o professor

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trabalhar a partir do interesse do mesmo. Dessa maneira, a aquisição da linguagem

tem mais chance de ser desenvolvida de forma dialógica, conforme as Diretrizes

Curriculares Estaduais (DCE) (PARANÁ, 2008, p.53) que seguem a corrente

sociológica e a teoria Bakhtiniana, pois, estas afirmam:

...que a aula de Língua Estrangeira Moderna constitua um espaço para que o aluno reconheça e compreenda a diversidade linguística e cultural de modo que se envolva discursivamente e perceba possibilidades de construção de significados em relação ao mundo em que vive. Espera-se que o aluno compreenda que os significados são sociais e historicamente construídos e, portanto, passíveis de transformação na prática social. (DCE, 2008, p.53).

EMBASAMENTO TEÓRICO

Pensar o ensino e aprendizagem da LI implica promover ao aluno um

ambiente que propicie a troca de experiências entre o falante de uma língua materna

e o falante de outra língua (por meio de textos), permitindo-lhes realizar uma

interação. E nessa interação de linguagem, cabe ao professor oportunizar ao aluno a

ter acesso a vários gêneros textuais, como requisito inicial de trabalho, que segundo

Bronckart (1999, p.71) “texto é toda unidade de produção de linguagem que veicula

uma mensagem linguisticamente organizada e que tende a produzir um efeito de

coerência sobre o destinatário”.

Portanto, é no contato com os gêneros textuais que o indivíduo cresce e

interage nesse mundo letrado. Desse modo, se o indivíduo tiver domínio dos

gêneros textuais, consequentemente ele terá uma melhor relação com os textos.

Sabe-se também, que cada professor tem uma maneira peculiar para trabalhar com

os gêneros textuais, pois conforme Nascimento:

Na intimidade do espaço (escola), o professor apresenta um comportamento que apresenta contornos próprios para uma atividade que já foi repetida por outros muitas vezes: O gênero da atividade pode ser configurado de uma forma peculiar, um modo de fazer que é próprio desse professor, que até pode ser diferente daquele que as rotinas profissionais consagraram. (NASCIMENTO, 2009, p.61).

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A autora ainda afirma que o professor precisa conhecer a diversidade de

gêneros que circulam nas mais variadas práticas sociais, nas mais diferentes mídias

e saber transformá-los em objeto de ensino e aprendizagem.

Neste sentido, Bakhtin ressalta que:

... a riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo. (BAKHTIN, 2003, P.262).

Além da diversidade dos gêneros, o autor ainda explica a distinção entre os

gêneros primários e secundários. Os gêneros dos discursos primários são mais

simples e os gêneros dos discursos secundários são mais complexos.

Exemplificando melhor, os gêneros simples são usados no dia a dia, tanto na escrita

como na oralidade como o diálogo, bilhete e outros. Já, os gêneros mais complexos

como os romances, pesquisas científicas, enfim, geralmente são mais utilizados na

escrita. E estes, os mais complexos, o indivíduo assimila na escola com a mediação

de um professor.

Assim, os gêneros são entidades dinâmicas que mudam e se aprimoram no

dia a dia. Neste sentido Marcuschi afirma que:

Existe uma grande variedade de teorias de gêneros no momento atual, mas, pode-se dizer que as teorias de gêneros que privilegiam a forma ou a estrutura, estão hoje em crise, tendo-se em vista que o gênero é essencialmente flexível e variável, tal como seu componente crucial, a linguagem. Pois, assim como a língua varia, também os gêneros variam, adaptam-se, renovam-se e multiplicam-se. Em suma, hoje, a tendência é observar os gêneros pelo seu lado dinâmico, processual social, interativo, cognitivo, evitando a classificação e a postura estrutural. (MARCUSCHI, 2008, p.16).

Ainda de acordo com o autor, os gêneros não são classificáveis como

formas puras nem podem ser catalogados de maneira rígida. Eles são formações

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interativas, multimodalizadas e flexíveis de organização social e de produção de

sentido.

Na perspectiva do trabalho com gêneros, as autoras Cristóvão e Nascimento

(2008), expõem que a visão interacionista sócio discursiva contribui no

desenvolvimento das capacidades de linguagem, e nas capacidades reflexivas,

sendo assim, o trabalho com gênero desperta a consciência prática partindo de

situações concretas, desenvolvendo as capacidades reflexivas dos alunos.

Dentro desta perspectiva ainda, e tomando a música como um gênero, é

possível explorá-la com dinamicidade a capacidade de reflexão e criticidade do

aluno. Porém, as músicas devem ser bem escolhidas com temas atuais que possam

aguçar o desejo de transformação na vida do aluno, bem como por meio de um

professor preparado para desenvolver este gênero.

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO

As atividades da Implementação do Material Didático (IMD) que serão

apresentadas e discutidas em todas as suas etapas de realização, são decorrentes

de um projeto que será apresentado a seguir.

A primeira atividade relacionada ao projeto foi socializá-lo na escola. Isso

aconteceu durante a semana pedagógica do mês de julho/2011, expondo-o aos

professores e funcionários da escola.

Ao retornar para sala de aula, eu conversei com a turma expondo o projeto

para os alunos, também. Expliquei sobre o porquê daquele trabalho e como seria

desenvolvido. Os estudantes ficaram entusiasmados com o gênero que eu havia

escolhido, pois quando se trata de música, a maioria dos alunos responde

positivamente. A partir disso, confirmamos a aceitação do trabalho por meio de

gêneros e comecei a desenvolver as atividades voltadas para o gênero textual

Música.

A primeira atividade em sala de aula foi com a letra da música Earth Song de

Michael Jackson. Antes, porém, foi realizado um pre-reading sobre música, os

estilos preferidos dos alunos, a importância das letras, enfim, os sentimentos que

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uma canção pode nos causar. Ao ouvirem a música, os alunos acharam cansativa

por ser um pouco longa, porém ao escolher esta música, meu objetivo maior era a

exploração da letra que leva a uma reflexão sobre as ações do ser humano em

relação ao meio ambiente e esta música condizia com a minha intenção.

Para mim, o professor precisa ter a consciência bem definida quando se

trabalha com o gênero música. Não se deve trabalhar música para entreter, mas sim

para que o aluno aprenda algo para sua vida, seja sobre a linguagem ou para sua

reflexão.

Neste sentido, Costa ressalta que:

...ao usar a canção na escola, o professor deve reconhecer sua integridade enquanto gênero autônomo. Isso implica levar em conta a dimensão melódica da mesma e todos os riscos que isso acarreta um dos quais é a transformação da aula em um espaço de lazer, mais do que um espaço de

aprendizado. (COSTA, 2007, p.119)

Seguindo este pensamento, exploramos o vocabulário da letra da música,

Earth Song, em forma de brainstorming (alunos sugerem palavras relacionadas com

o tema da música e o professor as registra na lousa, induzindo-os a ampliarem o

vocabulário referente ao trabalho com o texto).

O tema da música meio ambiente sugeriu vários termos relacionados ao

conteúdo da letra, mas devido ao vocabulário limitado dos alunos em LI, as

sugestões foram dadas na língua materna. Eu esperava que eles sugerissem um

amplo vocabulário referente ao tema, em LI, devido a uma unidade já trabalhada

com a professora anterior, sobre o mesmo assunto, mas utilizando o livro didático,

porém quando questionados, os alunos disseram que não se lembravam mais. As

sugestões foram muitas, mas na língua materna. Pude perceber que muitos não têm

acesso aos meios de comunicação em que a LI está inserida, como por exemplo, o

computador, internet e outros.

As atividades seguintes foram questões sobre a letra da canção e

compreensão de suas estrofes, relacionando imagens aos enunciados da canção.

Nesta atividade os alunos não tiveram dificuldade, pois, para entender o contexto,

souberam explorar imagens com tema da música e palavras transparentes.

Vale à pena lembrar, que hoje, com tantas tecnologias à nossa disposição e

com alunos com interesse voltado mais a imagens, é primordial fazermos uso de

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vídeos e clipes em sala de aula. Posso dizer que é uma exigência dos alunos,

mesmo daqueles que não têm muito acesso a esses recursos, pois sabem que

existe e que somente a escola pode oportunizá-los a essa vivência. Os alunos

então, não ficam satisfeitos apenas em ouvir a música, mas querem também assistir

aos clipes que a mídia proporciona. Isto se confirma, quando em sala de aula, o

professor somente utiliza o recurso auditivo, sem a imagem. Muitas vezes, os alunos

acham a música entediante, principalmente quando a música não faz parte do seu

repertório, mas ao ouvirem com imagens (clipe), o interesse e a motivação pelo

assunto mudam e sendo assim passam a interagir.

Nesse sentido, em outro momento, foi apresentado um vídeo sobre a música

já tocada. Após terem assistido ao vídeo, os alunos responderam as questões de

compreensão. Essas questões tinham o objetivo de levá-los à reflexão e discussão

oral e escrita sobre o tema e as cenas assistidas no vídeo. Nessa atividade,

novamente eles apresentaram algumas dificuldades para entender as questões e

elaborar suas respostas em LI, mas com minha mediação, conseguiram realizá-la.

Embora tenha havido um pouco de limitação, as atividades foram realizadas

satisfatoriamente, inclusive uma aluna realizou uma análise crítica sobre o texto, o

que serviu para reflexão no cotidiano dos alunos.

Após a discussão, foram revistos alguns tempos verbais que apareceram na

letra da canção. A retomada dos tempos presente e passado foi feita na lousa para

desenvolver uma atividade elaborando sentenças que requeriam os tempos verbais

expressos na letra da música.

Desse modo, Marcuschi (2008), afirma que ao escrever é necessário que se

saiba as regras gramaticais para que a escrita seja entendida. Assim, o aluno

precisa conhecer os tempos verbais para que seu enunciado tenha coerência.

Ainda, em relação às atividades referentes aos tempos verbais, alguns

alunos elaboraram as sentenças sem dificuldades. Porém, como a maioria não

entendeu, retomei as explicações desenvolvendo outros exemplos de frases que

servissem de referência para outras frases elaboradas por eles. Quando

trabalhamos a estrutura frasal da LI, é comum retomarmos o conteúdo já

desenvolvido, devido ao esquecimento por ser uma língua não praticada no dia a

dia, embora esse aprendizado não seja tão diferente no trabalho com a língua

materna ou em outras disciplinas.

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Muitas vezes, precisamos recorrer a outros gêneros, outros discursos para

discutir sobre temas, atingir objetivos que estão sendo almejados. Pois, segundo

Cristóvão e Nascimento “Interpretar é atribuir, explicar sentido, ao passo que

compreender é saber como produzir sentido, é perceber as intenções” e ainda

complementam:

Para interpretar e compreender acionamos outros discursos, buscamos outras vozes, contamos com outros textos, mobilizamos diferentes posições ideológicas, conhecemos diferentes gêneros textuais […] ler não se resume

a codificar e buscar informações. (CRISTÓVÃO E NASCIMENTO, 2008, p.36)

Desse modo, busquei na atividade seguinte, um gênero biográfico sobre o

cantor Michael Jackson, autor da música já trabalhada. Ao usarmos o gênero

música, em sala de aula, simultaneamente discutimos acerca de seu intérprete e

compositor, portanto utilizei uma biografia para que os alunos conhecessem um

pouco sobre o cantor. Por conseguinte, os alunos responderam as questões de

compreensão do texto em LI. Depois, fizeram uma pesquisa sobre cantores

brasileiros que também mostram preocupação com as ações do homem em relação

ao planeta terra e, a partir daí, produziram um texto seguindo a mesma estrutura da

biografia de Michael Jackson, com um cantor pesquisado. Tanto o texto, quanto a

pesquisa foram realizados, como tarefa para casa.

Nós escrevemos o que experienciamos em nossa vida, ninguém escreve o

que não sabe. Desse modo, em relação à escrita de um texto expomos nossas

ideias, conhecimentos enfim, o que vivenciamos ou o que se passa na sociedade.

Segundo Antunes (2003, p. 62), "A escrita escolar deve realizar-se também com o

fim de, por ela, se estabelecerem vínculos comunicativos” e que "As propostas para

que os alunos escrevam textos devem corresponder aos diferentes usos sociais da

escrita".

Em outro momento, em sala de aula, os alunos apresentaram as pesquisas

que fizeram sobre as biografias dos cantores brasileiros. Meu objetivo nesta

atividade, então, foi apenas para que os alunos entendessem que alguns cantores

brasileiros também escrevem canções, as quais remetem em suas letras à

preocupação com nosso planeta, visto que é possível por meio da música fazer

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apelo ao homem, mostrar a beleza da natureza, chamar a atenção do ser humano

quanto as suas ações em relação ao meio ambiente.

Sabendo da importância da diversidade de gêneros textuais que são

possíveis de serem trabalhados em sala de aula, selecionei outro gênero, um texto

não-verbal, o qual foi apresentado para dar continuidade ao projeto. Uma imagem foi

projetada na TV multimídia, mostrando a instabilidade do tempo. Como já mencionei,

as imagens chamam a atenção dos alunos e de certa forma, ficaram entusiasmados

para responderem as questões sobre o que vem acontecendo com a mudança de

clima e fenômenos naturais, muitas vezes, causados pelo próprio homem.

Nesse sentido, Marcuschi (2005) diz que o papel da linguagem não-verbal

na composição de um texto também precisa ser compreendido, visto que a

habilidade de ler recursos visuais torna-se imprescindível para a produção de

sentido. Sendo assim, na leitura, o sujeito pode interagir com a linguagem verbal e

não-verbal.

Essa atividade foi realizada em língua materna para que os alunos

pudessem expor suas opiniões de forma mais espontânea. Lembraram das grandes

catástrofes ocorridas no Brasil e no mundo, e que comprovadamente sendo muitas

vezes por ações irresponsáveis como o entupimento de bueiros, desmatamento das

encostas de rios e outros.

Após a reflexão da imagem, em outra aula, os alunos realizaram a leitura de

um texto informativo sobre o efeito estufa. Responderam as questões de

compreensão do mesmo em LI, comparando o planeta com uma estufa de pequenas

plantações. Ainda relacionado ao texto anterior, completaram sentenças com

palavras e simultaneamente preencheram uma cruzada sobre o tema environment.

Para Cristóvão (2009 p.319), "a pluralidade de gêneros textuais é

fundamental para a formação de um sujeito que possa dominar o funcionamento da

linguagem como um instrumento de mediação na diferentes interações em que se

envolvem". Por isso, o professor deve proporcionar ao aluno textos que o faça

pensar, refletir. Sendo assim, quanto mais gênero o aluno dominar, mais capacidade

de compreensão ele terá.

Dando continuidade ao trabalho, outro texto foi apresentado aos alunos. O

assunto do mesmo era sobre o desmatamento, a importância de plantar árvores,

assim como preservá-las. As questões foram desenvolvidas em LI, voltadas à

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compreensão do texto e reflexão sobre nossas próprias ações sociais. Neste

sentido, Bakhtin (2003, p. 272) afirma que: "... cada enunciado é um elo na corrente

complexamente organizada de outros enunciados." Portanto, os temas discutidos

em vários gêneros textuais, apontam ao aluno formas diferentes de se tratar o

mesmo assunto oferecendo-lhe embasamento para suas reflexões e respostas.

A questão do gênero textual não abrange somente os textos publicados em

livros, já que a internet faz parte do cotidiano da maioria das pessoas. Pensar hoje

em educação sem incluir o uso da internet, é ficar desvinculado desta sociedade,

cujas tecnologias estão em toda parte. No espaço escolar não é diferente, pois

recorremos sempre à internet para pesquisar, tirar dúvidas, preparar aula e outros,

porém é importante saber como utilizá-la, e assim, ensinar aos alunos também. Ao

nosso entorno visualizamos a todo instante: cores, sons e imagens e, conforme as

DCE do PARANÁ (2008 p. 59), "Isso vem ao encontro da linguagem específica

usada na comunicação mediada pelo computador".

Dentro desta visão, a aula seguinte foi realizada no laboratório de

informática. Neste momento, os alunos tiveram oportunidade de pesquisar, em sites,

o assunto referente ao aquecimento global: efeitos, causas, soluções e outros. Os

textos estavam todos em LI e algumas vezes, os alunos, ao invés de utilizarem

dicionários, recorreram ao tradutor do Google para ajudá-los no entendimento. O

tradutor do google serviu somente para auxiliá-los com os textos que os alunos

apresentaram mais dificuldade, bem como, responderem as questões de

compreensão dos mesmos.

O aluno do Ensino Fundamental gosta de trabalhar com atividades lúdicas

como caça-palavras que é uma das atividades muito usadas pelos professores para

se trabalhar com vocabulário. Conforme PAIVA (2004) existe estratégias que são

utilizadas nas atividades quando se refere a vocabulário. Compete ao professor,

organizá-las e prepará-las.

Para tanto, a atividade posterior a do laboratório de informática foi um puzzle

(caça-palavras), em que os alunos completaram sentenças com palavras escritas

em uma caixa (box). As sentenças eram de conhecimento geral sobre o meio

ambiente como: We need... the plastic bottle. A palavra recycle que completaria esta

sentença fora sugerida num retângulo, assim como as outras. Os alunos fizeram o

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uso do dicionário para ajudá-los na compreensão das sentenças empregando o

vocabulário adequadamente.

Até esse momento, chegamos à metade do desenvolvimento do projeto, e

então era hora de apresentar a segunda música. Partimos para uma atividade de

listening com a canção What I've done? De Linkin Park. Os alunos, em duplas,

escutaram a música três vezes e completaram com as palavras que estavam

faltando. As palavras foram sugeridas em um box. Após esta atividade realizamos

um brainstorming relacionado ao tema da música. Aqui os alunos já estavam mais

familiarizados com o vocabulário sobre o tema que estávamos trabalhando e a

participação deles foi melhor do que na primeira música.

Na aula seguinte, os alunos assistiram ao clipe da música já escutada

anteriormente, e relataram as diferenças e semelhanças das cenas vistas nessa

música com a de Michael Jackson trabalhada no início do projeto.

Em seguida, os alunos responderam questões de compreensão sobre a letra

da música, em LI. Contextualizei os pronomes reflexivos que apareciam na letra da

canção para ensiná-los sobre suas funções. Após explicar o uso dos pronomes

reflexivos, solicitei a realização de duas atividades para checar o entendimento do

assunto. A primeira, os alunos deveriam relacionar os sujeitos com o pronome

correspondente e em seguida circularam o pronome no caça-palavra. Na outra

atividade, os alunos deveriam elaborar frases empregando os pronomes reflexivos

adequadamente. Sugeri que elaborassem frases relacionadas ao tema trabalhado.

Retomamos a letra da música para confirmar se realmente houve aprendizagem do

uso adequado do emprego dos pronomes reflexivos.

Até então, foram trabalhadas duas canções e clipes apontando para os

problemas que estão ocorrendo no planeta em virtude da ação do homem. E para

encerrar as atividades com o gênero música, escolhi a canção What a wonderful

world de Louis Armstrong. Uma linda canção que descreve um mundo maravilhoso.

Iniciei com questões sobre este mundo, a beleza da natureza, da fauna, da flora e

outras. Foi desenvolvido um warm up sobre as expectativas dos alunos em relação a

este mundo maravilhoso. Após as questões, que foram orais, os alunos assistiram

ao vídeo sobre essa música.

Realizamos um debate sobre as cenas do vídeo e concluímos que o mundo

em que vivemos não é tão maravilhoso assim. Visto que, se não houver mudanças

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em nossas atitudes, provavelmente, tanto nós quanto as gerações futuras,

sofreremos com os efeitos causados pelas nossas próprias ações. Nesse sentido, o

meu objetivo era levá-los a refletirem, apontar críticas e debater os objetivos com a

atividade.

Na aula seguinte, realizamos um brainstorming do vocabulário relacionado à

música escutada e em seguida, os alunos responderam questões de compreensão

sobre a letra da música e as imagens assistidas no vídeo.

Em seguida, os alunos desenharam algumas ilustrações representando o

mundo maravilhoso apresentado na canção. Achei interessante que eles fizessem

as ilustrações, porque eu tinha o objetivo de montar um painel com algumas de suas

atividades.

Em outro momento, os alunos desenvolveram a última atividade escrita, a

qual foi proposto um trabalho em grupos. Sugeri que elaborassem pequenos textos

poéticos ou textos em forma de mandamentos com uso dos verbos no imperativo.

Ex.: Do not cut down..., Preserve... Recycle..., e outros. Alguns alunos escreveram

pequenos poemas sobre a natureza. Para realizar esta atividade, os alunos

consultaram o dicionário e foram orientados por mim.

E assim, finalizamos as atividades elaborando um painel com as ilustrações

dos alunos e suas produções (poemas e mandamentos), as quais foram afixadas no

saguão da escola para a apreciação da comunidade escolar. O objetivo com esta

atividade foi o de levar os alunos a refletirem se realmente querem um mundo

maravilhoso é preciso preservar, reciclar e importar-se verdadeiramente com este

mundo.

CONCLUSÃO

O resultado da Implementação do Material Didático, me permitiu comprovar

o que já supunha: o ensino de LI por meio do gênero música, motiva mais os alunos

a participarem da aula. Porém, algumas dificuldades surgiram como, por exemplo, a

dificuldade que os alunos têm com a LI em virtude do pouco vocabulário.

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Anteriormente ao PDE, o trabalho com a música não era voltado para o

gênero textual, as atividades eram estruturalistas. Os alunos estavam acostumados

com atividades estruturais como: completar espaços com palavras que estão

faltando, circular palavras em excesso e outras atividades artificiais de compreensão

textual. A própria teoria da linguagem sociointeracionista não me era natural. Mas,

por meio da implementação deste material, as atividades de sala de aula, tornaram-

se melhores elaboradas, pois pude trabalhar o gênero com um tema polêmico.

Desse modo, pude sentir que eles necessitavam falar ou escrever na língua materna

até para exporem os sentimentos, opiniões, o que pensavam sobre o assunto

abordado de forma segura e com espontaneidade.

Percebi que a música, um pouco mais longa, (Earth song), foi cansativa e

entediante, como relataram alguns alunos. Isso confirma o que eu mencionei na

introdução deste artigo sobre o comportamento dos adolescentes atualmente;

querem que tudo aconteça de forma imediata, e que não tenham que empreender

muito tempo concentrando-se em uma coisa apenas. Como esta foi minha primeira

experiência com gênero textual música, não tinha noção de que uma letra mais

extensa poderia entediá-los.

Quando escolhi essa turma de 8ª série “A”, não pensei que teria tanta

dificuldade em trabalhar com gêneros textuais, pois já havia trabalhado com a

mesma turma na 5ª série, e na época, os alunos pareciam muito espertos e

participativos nas aulas. Porém, na época, eu não desenvolvia meu trabalho voltado

para o ISD, por desconhecer tais teorias.

Gostaria de ressaltar também, o trabalho com imagens, vídeos, clipes, e

outros. Esses recursos chamam ainda mais a atenção dos alunos, porém demanda

tempo para preparação, e o tempo que temos para preparar as aulas, com nossa

rotina, não é suficiente, pois gastamos o tempo de nossa hora-atividade, corrigindo

trabalhos, avaliações e preenchendo livros de chamada. Para selecionar uma

imagem conforme o objetivo proposto, gasta-se horas pesquisando na internet.

Contudo, ainda realizamos muitas atividades em casa, ou deixamos de trabalhar

com mais qualidade, devido ao tempo insuficiente para a elaboração e planejamento

das aulas.

Atualmente, está difícil ensinar qualquer disciplina na escola, mas a LI, por

ser outra língua e não a do uso cotidiano dos alunos, torna-se mais difícil de ser

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trabalhada. Assim, dificilmente os alunos têm paciência de realizar uma leitura até o

final. Tudo, em sala de aula tem de ser desenvolvido de imediato. Os alunos não

persistem em buscar soluções para solucionar suas dificuldades, não querem

pensar muito. Pode-se levar recursos tecnológicos variados que mesmo assim não

satisfazem seus anseios.

Outro ponto que quero destacar é a participação e discussões dos

professores no trabalho com o Grupo de Trabalho em Rede (curso a distância) que

tutoriei enquanto desenvolvia o projeto. Essas discussões foram realizadas a partir

do material didático pedagógico que preparei para trabalhar na aplicação do projeto.

As discussões e sugestões dadas pelos colegas foram de grande valia para

o meu trabalho em sala de aula. Quando uma atividade preparada é analisada por

várias pessoas, sempre há sugestões para acrescentar algo, ou mesmo crítica sobre

alguma coisa que pode ser melhorada e que não percebemos quando estamos

elaborando. Por isso, fiquei satisfeita com as interações, colaborações e discussões

sobre o gênero trabalhado.

Ressalto ainda que com o desenvolvimento deste projeto, pude perceber

como é importante o preparo de atividades coerentes e significativas em sala de

aula, assim como a mediação do professor é fundamental para que o objetivo seja

atingido. Conhecer as teorias acerca da linguagem sócio discursiva me possibilitou

maior segurança para o trabalho com os Gêneros textuais. Consequentemente é

possível discutir, criticar e estudar um tema de forma mais significativa, visando

sempre a reflexão e transformação social do aluno.

REFERÊNCIAS

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16

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MACHADO, Anna Rachel e Colaboradores. Linguagem e Educação: O Ensino e Aprendizagem de Gêneros Textuais / Textos de Anna Rachel Machado e colaboradores; Lília Santos Abreu-Tardelli, Vera Lúcia Lopes Cristóvão,(Orgs) – Campinas, SP : Mercado de Letras, 2009.

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PARANÁ, SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná: Língua Estrangeira Moderna - Inglês. Curitiba: Imprensa Oficial, 2008.

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