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ELIZÂNGELA ANDRADE RODRIGUES
A INDISCIPLINA NA SALA DE AULA: DESAFIOS DOS
PAIS E PROFESSORES
TERESINA
2008
ELIZÂNGELA ANDRADE RODRIGUES
A INDISCIPLINA NA SALA DE AULA : DESAFIOS DOS
PAIS E ALUNOS
Monografia apresentada como requisito
parcial para obtenção do título de
especialização no Curso de Pós-Graduação
em Supervisão Escolar do Instituto A Vez
do Mestre - AVM
Prof. ª- Maria Esther de Araújo Oliveira
TERESINA
2008
A Todos os educadores que acreditam que o ensino de
qualidade depende do esforço e dedicação da família,
escola e aluno.
SUMÁRIO
RESUMO.......................................................................................... 5
INTRODUÇÃO................................................................................ 6
CAPITULO 1- LIMITES E INDISCIPLINA NA FAMÍLIA................ 7
CAPITULO 2 - AS CAUSAS DA INDISCIPLINA NA ESCOLA..... 10
CAPITULO 3 - EM BUSCA DOS VALORES MORAIS E ÉTICOS 14
3.1 AUTONOMIA E IDENTIDADE................................................ 17
3.1.1 A RELAÇÃO PROFESSOR - ALUNO................................ 22
3.1.2 OS FATORES EMOCIONAIS............................................ 23
CAPITULO 4 - A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO........................ 25
4.1 OS CAMINHOS DA APRENDIZAGEM DO ALUNO ............ 27
4.1.1 COMO MANTER A DISCIPLINA NA SALA DE AULA...... 38
CONCLUSÃO............................................................................... 45
BIBLIOGRAFIA............................................................................ 48
5
RESUMO
Este trabalho monográfico focaliza o estudo da indisciplina na sala de aula e
suas conseqüências, que devem ser compreendidos como relação equilibrada
entre direitos e deveres dos alunos dentro do contexto família-escola. A
instituição escola precisa reencontrar-se com seu papel de autoridade, sem
que isso represente autoritarismo. O professor necessita ter a sustentação da
família para concretizar um ensino de qualidade e manter uma ação
integradora entre ambos. A sociedade de consumo, conspira fortemente para
tirar a atenção dos alunos da aprendizagem escolar. Afinal, os grandes heróis
que inspiram nossas crianças e jovens são modelos, cantores, jogadores de
futebol, enfim, figuras entronizadas pelo sistema, não pela saber, mas pela
fama, sucesso financeiro e poder que alcançaram em pouco tempo, são pilares
da sociedade moderna. Se a família não atua ou não sabe como atuar para
colocar a escola como prioridade, se não estabelece limites e autoridade ou
ainda deixou-se seduzir pela sociedade de consumo; os alunos considerarão
que o compromisso com a aprendizagem não é essencial, fazendo com que
desinteressados e desmotivados tornem-se indisciplinados. Desta forma
realizou-se uma pesquisa buscando ouvir professores, pais e alunos sobre as
possíveis causas e conseqüências da indisciplina na sala de aula. Antes da
análise final dos dados colhidos realizou-se uma pesquisa bibliográfica
buscando na literatura assuntos referentes ao tema em estudo. Sugere-se uma
interação maior entre as relações professor-aluno para superar a indisciplina
por meio da afetividade que gere diálogo, respeito e compromisso com a
qualidade do ensino.
6
INTRODUÇÃO
É um grande desafio que os educadores tem encontrado em relação a
indisciplina nas escolas.
Partindo de discussões surgidas em equipes de professores da Escola
Municipal Professora Zoraide Almeida, sobre a realidade da indisciplina
encontrada na sala de aula, surgiu o interesse e a necessidade do
desenvolvimento de uma pesquisa sobre a indisciplina na sala de aula, haja
visto, que o tema elegido está inserido no contexto social, pois a sua
repercussão gera futuros conflitos na sociedade.
Atualmente, parte das escolas públicas e privadas enfrenta problemas de
desinteresse, desmotivação e desvios de aprendizagem por parte dos alunos, o
que caracteriza como indisciplina na concepção de muitos professores.
De acordo com alguns autores, afirma-se, que para evitar a indisciplina, a
classe deve ser interessante com atitudes de atenção a todos os alunos. A
disciplina deve iniciar-se no ambiente familiar, portanto é um desafio a ser
superado quando não desenvolve-se na escola.
A sala de aula é um local onde afloram continuamente as emoções dos
alunos e dos professores. Sentimentos de empolgação, rejeição, medo, amor,
culpa, raiva dentre outros se misturam continuamente no processo interativos
entre os atores sociais presentes no contexto da escola. É papel do professor
saber lidar com esta heterogeneidade de emoções, sem a necessidade de
apelo à punição, para a disciplina férrea ou para o autoritarismo.
Uma aula, independente do assunto que se trate, sempre será mais
agradável e despertará mais interesse se o professor utilizar-se de palavras e
fatos que fazem parte da experiência cotidiana dos alunos.
Esta monografia contribui com alternativas citadas por alguns autores
como soluções para superar a indisciplina na sala de aula, entendendo que a
problemática da indisciplina é tarefa de todos: sociedade, família, professor e
aluno. Está dividida em quatro capítulos com temas referentes a: Limites e
disciplinas na família, As causas da indisciplina na escola, Em busca dos
valores morais e éticos e a Importância do Diálogo.
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CAPITULO 1
LIMITES E DISCIPLINA NA FAMILIA
É na família que se forma o caráter e por isso qualquer projeto
educacional sério depende da participação familiar: com momentos apenas de
incentivo; em outros, de uma participação efetiva no aprendizado como a
valorização e preocupação com o que o filho traz da escola. Por melhor que
seja uma escola, por mais bem preparados que estejam seus professores,
nunca suprirá a carência deixada por uma família ausente.
A família tem a responsabilidade de formar o caráter, de educar para os
desafios da vida, de perpetuar valores éticos e morais. Os filhos se espelhando
nos pais e os pais desenvolvendo a cumplicidade com os filhos.
O diálogo é necessário, se em outros tempos bastava um olhar severo
para se corrigir o comportamento, hoje se vive na era do “por que”. E com
razão, a familia autoritária perpetua a sociedade autoritária. Faz permanecer na
mente de seus membros os ideais de obediência e submissão, de cópia, sem
questionamento acerca dos padrões estabelecidos. O individuo que somente
aprende a obedecer não está preparado para a sociedade complexa deste
novo milênio. Se é errado fumar maconha, os pais têm de explicar o motivo; se
não faz bem a heroína, ou o aborto é um crime, os filhos deve estar preparados
para dizer “não” aos estranhos que possa induzi-los ao erro. De nada adianta a
negativa seca, sem explicação, sem diálogo. E menos adianta a omissão, sob
a desculpa de não despertar a curiosidade nos filhos.
A preparação para a vida, a formação da pessoa, a construção do ser são
responsabilidades da família. É essa a célula-mãe da sociedade, em que os
conflitos necessários não destroem o ambiente saudável. O respeito, que faz
com que o tom de voz seja brando, que os espaços não sejam invadidos e a
liberdade ensaie seus primeiros vôos em casa.
A alfabetização deve-se ao acompanhamento da família. Os primeiros
escritos, o incentivo à leitura, os brinquedos pedagógicos, é bom para o filho
quando mostra seus prodigios e conquistas aos pais. E como é triste para o
filho quando ele não encontra a devida atenção.
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O conforto não é mais importante do que a presença, o afeto e atenção;
são coisas que já espera-se dos pais. Aqueles pais que não entendem por que
os filhos são rebeldes e reclamam afirmando que lhes deram tudo – viagens,
melhores escolas, cursos, roupas de boas marcas, festas – não lhe deram o
essencial: atenção, carinho, amor.
Segundo Içami Tiba (1996, p. 15), “quando os pais permitem que os
filhos, por menores que sejam, façam tudo o que desejam, não estão lhes
ensinando noções de limites individuais e relacionais, não estão passando
noções do que podem ou não fazer.”
É preciso lembrar que uma criança, quando faz algo pela primeira vez,
sempre olha em volta para ver se agradou alguém. Se agradou, repete o
comportamento, pois entende que agrado é aprovação, e ela ainda não tem
condições de avaliar a adequação do seu gesto.
O estudo é essencial; portanto, os filhos têm obrigação de estudar. Caso
não o façam, terão sempre que arcar com as conseqüências de sua
indisciplina, que deve ser previamente estabelecidas pelos pais. Só brinca-se
depois dos estudos, por exemplo. No que é essencial, os pais deve dedicar-se
de mais tempo para acompanhar de perto se o combinado está sendo levado
em consideração. É preciso que o filho entenda a responsabilidade do estudo
e que seus pais os estão ajudando no cumprimento de uma responsabilidade
que faz parte da vida.
Os grandes responsáveis pela educação dos alunos – na família e na
escola – não estão sabendo cumprir bem seu papel. É a falência da autoridade
dos pais em casa, do professor em sala de aula, do orientador na escola.
Discussões surgem nas famílias por causa da indisciplina, dificultando bastante
a convivência entre as partes. Muitos alunos também não respeitam seus
professores, e essa indisciplina prejudica o ensino e a aprendizagem.
Professores e orientadores tem dificuldade em estabelecer limite na sala de
aula e não sabem até que ponto devem intervir em comportamentos
inadequados que são condutas vindas da própria família.
De acordo com pesquisas realizadas com professores da Escola
Municipal Professora Zoraide Almeida, os alunos não têm limite, são rebeldes,
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agressivos e faltam com o respeito à autoridade, falta de educação, falta de
compromisso e apoio da família.
A família moderna tentou criar um novo modelo de relações entre pais e
filhos, em que o não autoritarismo seria a base. Assim, recaímos num extremo
de liberdade e prazer pessoal que esquece a empatia, a generosidade e os
direitos do outro. Adultos, crianças e jovens parecem não compreender que,
além dos direitos conquistados (liberdade entre eles), há uma contrapartida
necessária, fundamental : cada direito conquistado acopla inexoravelmente um
dever, que lhe é inerente.
A conseqüência está aí, nas salas de aula, na sociedade em tudo.
Ninguém pode viver fazendo só o que quer e gosta. Há o outro. Ele existe – e
também têm diretos a serem considerados. Esquecer é voltar à barbárie e ao
primitivismo.
Ainda com relação à pesquisa do projeto de monografia, quase todos os
entrevistados apontam na mesma direção – “os alunos fazem o que querem
em casa (4%); o papel da família foi totalmente substituído pela escola (4%);
desestruturação familiar (4%); falta de presença da família na escola (3%) –
incremento com mais 19% a questão. O que resultou num total de 89%.
Não resta duvida de que, para os docentes a questão mais difícil é a da
liderança e da indisciplina em sala de aula.
Dispensável dizer o quanto esse fato influencia a qualidade dos
resultados do nosso sistema educacional.
É essencial à família saber estabelecer limites e valorizar a disciplina. E
para isso é necessário a presença de uma autoridade saudável. O segredo que
difere autoritarismo do comportamento de autoridade adotado para que a outra
pessoa torne-se mais educado ou disciplinado está no afeto que se tem pelos
filhos sabendo que envolve carinho, respeito, dedicação e acima de tudo
prudência com situações de contato com a sociedade como um todo.
Os pais não podem se esquivar da tarefa de apontar, na medida certa, os
limites para que os jovens se desenvolvam bem e consigam situar-se no
mundo.
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CAPITULO 2
AS CAUSAS DA INDISCIPLINA NA ESCOLA
A disciplina em sala de aula é hoje o maior problema, seguido de muito
perto pela falta de motivação. Dificilmente poderemos dissociar um do outro é
quase impossível afirmarmos quem é causa e quem é conseqüência. Em geral,
o aluno torna-se indisciplinado quando pára de aprender ou está desmotivado e
por isso se torna indisciplinado. Portanto, podemos considerar que, se ambos
forem solucionados, quase metade dos problemas do professor estariam
resolvidos.
Tanto a criança indisciplinada como a desmotivada se alienam do que lhe
estão propondo em aula. No entanto, ali permanecem quatro horas diárias. Se
não está nem aí para as atividades que o professor propõe, fará outra coisa e
tentar conseguir companhia. E boa parte dos colegas de turma adere a esses
“convites”... Afinal, são crianças. Em pouco tempo o grupo terá aumentado de
tal forma que tornará impossível o incremento dos saberes, o desenvolvimento
de competências e habilidades intelectuais, sociais e afetivas de que todos
necessitam. Sabemos que provocar o interesse e manejar bem a classe são,
ambas, competências do professor. No entanto, a incidência elevada de
professores que indicam essas tarefas como os maiores desafios não pode ser
ignorada, ainda de acordo com pesquisa realizada na Escola Municipal Zoraide
Almeida, foram 50% dos professores de 1ª a 4ª série que relataram terem
dificuldade com a indisciplina na sala de aula.
Alunos desmotivados ou indisciplinados acabam resultando num só
problema, que deve ter outras causas. Não podemos atribuir apenas ao
professor a tarefa de supera-la. Mais ainda quando eles próprios admitem que
não estão dando conta da situação. Muitos desconhecem a realidade dos
docentes que estão nas salas de aula. Outros imaginam conhecê-la, sem
jamais ter ficado frente a frente com a realidade. Ainda assim, crítica, alguns
até com dureza.
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Manter a disciplina, motivar e avaliar os alunos são tarefas inerentes à
ação docente. E, em grande parte, é em função deles que se obtém um bom
ou mal desempenho dos alunos.
Seria plausível e humano, dada a situação em que se encontra
especialmente a rede pública, encontrar professores atribuindo aos alunos, a
“culpa” dos insucessos. No entanto, a pesquisa realizou o contrário: os
professores demonstraram ter consciência – preocupam-se com a situação - e
incluíram a questão da atualização permanente e a escolha de metodologia
adequadas entre seus maiores problemas.
A falta de disciplina tem sido motivo inconteste para a formação de um
crescente exército de educadores estressados, deprimidos, emocionalmente
doentes e afastados da sala de aula.
Não há como fingir que o problema não existe. O Brasil, a exemplo de
outros paises do Terceiro Mundo, tem sido violentamente atingido pelos graves
problemas socioeconômicos, que são conseqüências da globalização e do
neoliberalismo.
Isso se reflete diretamente nas famílias das quais provem os nossos
alunos que, também estressados e sofrendo toda sorte de conseqüências
provenientes da situação de desemprego de seus pais, refletem em sala de
aula, sob a forma de indisciplina, suas insatisfações, por vezes até
inconscientes, dessa lamentável situação.
É preciso, portanto, que o professor, a partir dessa compreensão, deixe
de adotar uma posição passiva e procure se municiar para o enfrentamento
correto e compreensivo desse problema.
Segundo Antonio Tadeu:
Os alunos que compõe nossa clientela, muitas vezes estão sujeitos a
situações muito difíceis
em casa. Falta de recursos financeiros, discussões, incompreensões e
violência por parte dos
pais, entre outras coisas, são apenas algumas delas. Como resultado, eles
desenvolvem
formações reativas que são desaguadas em sala de aula. A simples
compreensão desse fato
permite que o professor seja menos exigente e adote uma posição menos
inflexível em relação
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a indisciplina do aluno. (TADEU, 2004 p. 113).
Para que o professor adote esta atitude é necessário conhecimento da
realidade em que está inserido o aluno, compromisso e diálogo.
São comum às escolas reproduzirem os estigmas e as discriminações
sofridos pelos alunos fora delas. Pior ainda, ao falhar na função de ensinar,
elas afastam as crianças e cometem uma das mais nocivas formas de
violência.
Quando as crianças não dispõem de ensino eficiente, sentem-se sem
valor e não enxergam por que continuar ali. São esses alunos que terminam
por se evadir. Achar que eles não condizem com o perfil esperado é uma
modalidade criminosa de exclusão social. Muitos professores tendem a atribuir
suas dificuldades a fatores externos e mitos, como as famílias desestruturadas.
Na verdade as classes populares tem uma divisão de trabalho muito boa para
lidar com os desafios da sobrevivência.
Não é por acaso que depredações, arrombamentos e furtos respondem
pela maior parte dos atos de violência na escola. Os estudantes não vêem
sentido na instituição e, em vez de ver o lugar como sendo de todos,
consideram que ele é de ninguém. Tentar combater a violência com a policia e
câmeras só piora. Os jovens passam a desrespeitar ainda mais o espaço. A
afetividade é o único caminho. Um bom começo é desenvolver um trabalho de
escuta para perceber o que acontece de fato na vida das crianças.
Nem todas as escolas têm um projeto que contemple a questão da
disciplina. Por isso, às vezes, os professores enfrentam esse desafio sozinho.
Aqui algumas sugestões para amenizar o problema.
• Não grite. Se o barulho se sobrepõe a sua voz, espere em silencio:
a turma vai perceber que isso está prejudicando a aula.
• Recorra aos contratos. Se as regras coletivas são claras e todos
estiverem de acordo, fica mais fácil chamar a atenção quando
ocorre uma transgressão .
• Seja coerente com o que se pede aos alunos. Não adianta cobrar
pontualidade se o professor chega atrasado.
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• Não considere a indisciplina um ataque pessoal. Não aceite
provocações para não reforçar comportamentos indesejados.
• Seja enérgico quando necessário sem perder o afeto. Faltas
graves merecem atitudes firmes. O dialogo e a reflexão não elimina
a sanção prevista.
• Não desanime. A assimilação da disciplina é um processo
gradativo e exige investimento. O professor terá que repetir o
discurso para o mesmo aluno várias vezes.
Assim sendo, aprender a resolver problemas por meio do dialogo, no
entanto, não se dá de uma hora para outra, a criança aprende gradualmente,
como resultado da reflexão contínua, da troca de pontos de vista e da
coerência nos procedimentos empregados. Por isso, a primeira lição para os
professores interessados em “ensinar” disciplina é: se trabalhando com
dedicação, o aluno que não tem disciplina pode perfeitamente aprender a
ter.Disciplina é isso. Ou se define no primeiro momento, se estabelece em um
primeiro instante, com clareza e segurança ou então nada depois pode ser
feito.
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CAPITULO 3
EM BUSCA DOS VALORES MORAIS E ÉTICOS
Para o psicólogo Yves de La Taille, especialista em desenvolvimento
moral, o mal-estar existencial, típico de uma sociedade moderna, traduz-se em
indisciplina e violência.
Para o mestre e doutor em Psicologia Escolar pelo o Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo ( USP) Yves de La Taille, falta a
prática da educação moral e ética nas escolas. Segundo o especialista, existe
em nossa sociedade uma demanda para a dimensão moral, ou seja, a dos
deveres, das obrigações, dos imperativos, do certo e do errado. O que é
proibido numa sociedade pode ser liberada noutra. Quem garante a moralidade
é o individuo, portanto deve haver um sentimento de obrigatoriedade interno,
não apenas o medo de uma punição.
As escolas não fazem educação moral, mas abusam de regras. A regra
em si não diz nada. As escolas não conseguem obediência porque seus
princípios não ficam claros.
Uma dimensão maior, que dá sentido á moral, é a ética. A palavra ética é
mais chique, enquanto moral lembra moralismo, conservadorismo. Na nossa
sociedade, tem sido comum usar moral e ética como sinônimos. Numa
pesquisa recente pelo psicólogo com alunos do Ensino Médio, os adolescentes
tinham de responder à seguinte questão: como eles se imaginavam daqui a
dez anos, enfim, qual era o seu projeto de vida para o futuro. De cerca de
duzentas respostas, 2/3 das redações, o outro não aparecia. Ou seja, no
projeto de vida desses jovens, o outro não entra. E, se entrar, ele dá um jeito
de passar por cima dele. Nossa sociedade não está feliz, o crescimento da
indústria do divertimento é mais do que um sinal de que muitos buscam
esquecer da vida, da falta de vontade de viver, do tédio. Os jovens encontram
um vazio no sentido da vida. Perguntam-se para que estudar, para que a
política. Não é a escola que dirá qual é o seu projeto de vida, mas, sem duvida,
ela pode ajudar esse jovem a se situar.
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No nosso mundo ocidental, hoje, a moral e ética costumam ser termos
empregados como sinônimos. Por exemplo, fala-se em códigos de ética, como
códigos normativo de cada profissão, ou seja, em comitê de ética e pesquisa,
como as leis que os pesquisadores devem seguir. Porém, um domínio é o
domínio da norma da lei, do dever. Outro domínio é o do segundo da vida, da
felicidade, da vida boa. A questão da felicidade, do sentido da vida, não tem
sido assimilada. Quase sempre, quando se fala em norma, não se fala do
sentido da vida boa, e, quando se fala disso, não se fala da norma. Existe uma
esquizofrenia, uma separação. Do ponto de vista psicológico, a questão da
norma, como devo agir, e a questão da felicidade, como querem viver, estão
relacionadas.
A palavra ética tem um sentido mais corrente, “pega” melhor do que a
palavra moral dentro da Educação. Moral tem um sentido normativo. Para os
professores, a demanda do público é por normas, notadamente, baseada na
queixa: meu aluno não me respeita, meu aluno não se comporta. O professor
não vê uma norma sendo respeitada por parte dos seus alunos.
Uma alteração dessa situação depende de muitas coisas. Em primeiro
lugar, se o aluno não respeita normas, provavelmente essas normas não fazem
sentido para ele. Para que elas façam sentido, elas têm de estar relacionadas a
um projeto de vida. Se temos uma pessoa violenta e tentamos resolver o
problema falando de paz, continuamos agindo no sentido normativo. A melhor
maneira para fazer com que uma pessoa deixe de ser violenta é entender o
significado que a violência tem para ela, e não desfiar um discurso.
Se a norma não faz sentido, ela não é legitimada. As pessoas não têm
nem como criticar a norma, apenas não se sentem intimamente motivadas a
segui-la. Outra possibilidade é que ela não faz sentido porque se opõe a um
outro sentido. É a diferença entre um aluno simplesmente indisciplinado e um
aluno rebelde. A norma para alguém pode não somente não fazer sentido,
como contrariar o sentido que ela quer dar. Há duas possibilidades, portanto,
de não fazer sentido: uma não faz sentido, cai no vazio; outra é contraditória
com o que a pessoa acha.
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Muitas vezes, as normas escolares podem não fazer sentido
simplesmente. O erro da escola é colocar apenas a norma, e não o princípio
que está atrás da norma. Por exemplo, usar uniforme. Qual o sentido dessa
regra? Pode ser evitar que os alunos mais ricos façam desfile de moda e
deixem incomodados os alunos mais pobres. Colocando uniforme, há uma
padronização, evitando situações humilhantes. É uma boa razão numa escola
que tenha esse perfil. Numa escola publica, outra razão é por uma questão de
segurança, para identificar os alunos, no percurso que fazem até o colégio,
através do uniforme. Essas crianças vão a pé para a escola. Não faz o mesmo
sentido numa escola de classe média, aonde nem sempre os alunos vão a pé.
Outro exemplo: não fumar. Um argumento é porque faz mal, mas esse
argumento autocentrado é bom para a pessoa. Outro argumento moral é que
incomoda os outros. Tem de haver uma rede de sentidos para que as normas
tenham sucesso.
Na maioria das escola, os professores não têm clareza dos princípios.
Existem escolas que só tem normas e destinadas aos comportamentos dos
alunos, e o mínimo ao comportamento dos professores.
O Brasil tem uma história bem específica a esse respeito. A famosa
matéria de Educação Moral e Cívica, imposta pela Ditadura Militar, foi uma
matéria malvista, inclusive se associando à moral e ao civismo um valor
negativo. Isso aconteceu nos anos 1960/1970, quando a juventude se rebelou
contra determinadas normas. Há um medo de voltar á Educação Moral e
Cívica, medo de ser autoritário, mas que não está dando certo. Esse medo de
entrar na sala de aula e de enfrentar os alunos. Jogaram fora a matéria que era
muito ruim, mas hoje todo mundo se queixa da incivilidade. O grande discurso
costuma ser o de que a culpa é da família. É claro que a família tem muita
responsabilidade, mas não adianta culpar a família. Isso é muito fácil.
Na escola particular, há algo ainda mais grave. O aluno se assemelha a
um cliente. Cada vez mais a escola se assemelha até a uma espécie de
shopping, tem loja, cantina. A escola é vendedora de um produto que não é
dela, ela vende um patrimônio cultural. A escola tem muito medo de enfrentar
os pais e de perder aluno.
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Há professores que tem medo de entrarem em sala de aula com medo da
falta de respeito. Esse é um fenômeno mundial. Na França, por exemplo tem
professor que desiste de dar aula. Não está fácil enfrentar, inclusive no terceiro
grau. Existe o medo de entrar em sala de aula, de não ser respeitado. E nada
pior do que ser desrespeitado. O professor se sente humilhado e não se tem
feito reflexões a esse respeito. Muito dos alunos vão assistir a uma aula como
um direito deles, que é, mas, se a aula é boa, eles assistem, se é chata, eles
vão embora. Se o aluno está com fome, ele come no meio da aula, se ele está
com calor, ele vai embora, como se o professor fosse alguém que ele vê pela
televisão. Enquanto pessoa, parece que ele nem está lá. É uma relação como
ela tem com a TV, e é a relação que as pessoas tem hoje em dia. É como o
celular: você está conversando com alguém, toca o celular e não dar prioridade
a nada para atendê-lo. Temos que ter cuidado: as vezes os próprios
professores agem assim e são culpados disso.
O respeito é o valor moral básico. O outro tem uma dignidade que eu
devo respeitar. Se o outro não é visto como digno de respeito, as relações
prejudicarão.
3.1 - AUTONOMIA E IDENTIDADE
Conforme Yves de La Taille ( 2007 p. 26 ), os termos autonomia e disciplina não costumam ser aproximados. Quando se fala em identidade é a
dimensão afetiva que, no mais das vezes, é salientada. Mas, quando se fala
em autonomia é a dimensão cognitiva que se impõe. Com efeito, fala-se em
autonomia em relação ao fazer: dir-se-á de uma criança que amarra sozinha os
sapatos que é autônoma para essa ação. Fala-se também em autonomia em
relação ao pensar: a pessoa autônoma é aquela que sabe pensar por si só,
refletir com seus próprios meios, inventar idéias e teorias, ao passo que a
pessoa intelectualmente heterônoma é aquela que somente sabe decorar,
repetir o raciocínio alheio, “reinventar a roda “. Finalmente, emprega-se
bastante o temo autônoma em relação à moral: na perspectiva piagetiana, a
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pessoa moralmente autônoma é aquela que, nos seus juízos, baseia-se nos
princípios da igualdade, da equidade, da reciprocidade e do respeito mútuo.
Então, como pensar a questão da identidade quando se pensa em
autonomia? Nas dimensões do fazer e do saber, não se vê muito bem como
articular os dois conceitos. Em compensação, isso parece possível e desejável
na dimensão moral. Vamos, portanto, nos ater a ela.
Para introduzir a relação entre autonomia moral e identidade, precisamos
acrescentar uma nova definição ao conceito de autonomia: a pessoa é
moralmente autônoma se, apesar de mudanças de contexto e da presença de
pressões sociais, ela permanece, na pratica, fiel a seus valores e princípios de
ação. Assim, a pessoa heterônoma será aquela que muda de comportamento
moral em diferentes contextos. Ora, vários experimentos de Psicologia, assim
como fatos observado tanto em momentos histórico importantes ( como a
guerras) quando no dia-a-dia (em instituições, torcidas...), mostram que a
maioria das pessoas é heterônoma. Poucas são aquelas que permanecem fiéis
a si mesmas, a despeito do momento histórico em que vivem ou do lugar social
onde se encontram. Vale dizer que, em certos contextos, muitas pessoas
podem mostrar-se boas, justas, respeitosas, mas em outros, violentas, injustas,
desrespeitosas. Em resumo, o que se observa é que várias pessoas agem de
certo modo em determinados contextos, mas que, em outros, agem como se
fossem outras pessoas, como se sua identidade tivesse mudado.
Estamos, portanto, em plena relação entre autonomia e identidade. O
conceito de identidade costuma remeter á idéia de que as pessoas têm certas
características de personalidade que as acompanham nos diversos contextos.
Todavia, o que acabamos de lembrar faz pensar que, longe de ser um conjunto
fixo de características, a identidade pode ser extremamente elástica, volúvel,
maleável. Logo, ao invés de ser autônoma, no sentido de relativamente imune
a contextos e pressões grupais, a identidade seria essencialmente heterônoma,
no sentido de dependente de fatores exteriores a ela. Daí uma conclusão
possível: autonomia e identidade formam um par impossível.
Para tornar relativa essa conclusão, devemos lembrar o seguinte: nos
experimentos de Psicologia e na vida real, há pessoas que permanecem fieis a
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si mesmas, que se recusam a obedecer indiscriminadamente a autoridade ou a
submeter-se ás pressões dos grupos.
Representam talvez uma minoria, mas existem: há pessoas que, em
meio a multidão furiosas, recusam-se a xingar, bater e linchar; que, quando
todos pensam de uma determinada forma, permanecem pensando de outra.
Vale dizer, existem pessoas que possuem uma identidade estável, com valores
que se conservam de um contexto para outro, ou seja, existem pessoas para
quem o binômio autonomia-identidade é uma realidade. Logo, a questão
psicológica que se coloca é procurar um modelo teórico sobre a identidade que
dê conta tanto da autonomia quanto da heteronomia, e isso no campo moral.
A identidade de uma pessoa é um conjunto de representações que ela
tem de si. Dito de outra forma, cada pessoa tem imagens que chamamos aqui
de representações de si. Note-se que achamos preferível falar em
representações a empregar a expressão autoconceito, pois esta última sugere
a idéia, falsa, de que a identidade é um todo simples, com uma imagem única
ou dominante, enquanto, na verdade, são variadas as imagens que cada um
tem de si, sendo que algumas delas podem se contradizer. Em segundo lugar,
devemos ver o que há em comum nas varias representações de si. O que há
em comum é que são sempre valorativas. Isso quer dizer que ninguém é neutro
observador de si próprio: pensar sobre si é inevitavelmente julgar-se a partir de
valores como bom, ruim, superior, inferior, desejável, indesejável. É até
simples de se compreender por que as representações de si são valores: como
valor significa investimento afetivo e, como é natural, cada pessoa investe
afetivamente em si própria, decorre que as representações de si são sempre
valor.
Em terceiro lugar, devemos saber se existe uma certa lógica que
organiza essas representações entre si. Aqui, podemos empregar o conceito
de sistema. As diversas representações de si compõem um sistema que pode
ser descrito de duas formas diferentes e complementares.
A primeira: certos valores podem ser centrais, e outros, periféricos. Por
centrais, entendem-se os valore mais fortes, e por periféricos, os mais fracos.
Por exemplo, para uma determinada pessoa, ver-ser como bonita (ou seja, ter
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de si a imagem de que é bonita fisicamente – o que não significa que o seja
objetivamente, pois as representações de si, como seu nome indica, estão na
dimensão simbólica, e não real) pode ter mais valor do que se ver como
corajoso ou justa: nesse caso, a representação de si relacionada à beleza é
central, e aquela relacionada à moral é periférica. A descrição das
representações de si enquanto sistema no qual certos valores são centrais e
outros, periféricos permite aquilatar a forma motivacional desses valores: os
centrais têm maior força motivacional.
Voltando ao exemplo acima, a pessoa para quem a beleza física é um
valor central na sua identidade investirá maiores esforços na conservação ou
no incremento dessa beleza do que investirá para ser corajosa ou justa, sendo
esses dois últimos valores periféricos ( e sentirá mais vergonha de não se ver
como bonita do que de não se ver como justa e corajosa).
A segunda forma de se descrever o sistema das representações de si
que compõe a identidade apela para o conceito de integração. Certas
representações de si podem estar integradas entre si, enquanto outras podem
estar isoladas. Por exemplo, uma pessoa pode se ver como justa e corajosa ou
como generosa e humilde, enquanto outra poderia ver-se como justa ou
generosa, mas sem nenhum outro valor associado.
Em termos motivacionais, temos que quanto mais o sistema das
representações de si é integrado, mais os valores que o compõem inspiram
variadas ações coerentes entre si. Dito de outra maneira: os valores integrados
são mais fortes que os valores isolados.
Voltemos agora ao conceito de heteronomia e autonomia pode-se prever
a hipótese de que as pessoas moralmente heterônomas, no sentido daquelas
mais influenciáveis pelos diversos contextos, são aquelas nas quais: (1) os
valores morais são periféricos no seu sistema de representações de si e/ ou (2)
os valores morais estão poucos integrados entre si. Logo, nesse caso, sendo
mais fracos, os valores morais têm menos força motivacional em contextos em
que outros valores estão em jogo. E, reciprocamente, pode-se pensar na
hipótese de que as pessoas moralmente autônomas são aquelas nas quais: (1)
os valores morais são centrais e/ ou (2) eles são integrados entre si. Neste
21
caso, a pessoa resiste ás diferenças de contextos, resiste ás pressões do
grupo, é fiel a si mesma porque os valores morais ocupam um lugar
privilegiado e consistente no seio das representações de si.
Se tal hipótese psicológica fizer sentido, temos possibilidade de pensar
autonomia e identidade: a autonomia moral depende de certas características
da identidade, entre elas, o lugar ocupado pelos valores morais entre aqueles
que compõem as representações de si. Algumas provas empíricas tendem a
referendar essa forma de interpretar os comportamentos morais e imorais dos
homens ( notadamente, com base na analise de personalidade de pessoas
moralmente admiráveis ).
Em termos pedagógicos, a concordância com o que acabamos de
escrever implica que a educação não deve se ater ao desenvolvimento do juízo
moral, mas também deve se preocupar com a construção da identidade dos
alunos. Por exemplo, se o “cilma de valores” no qual os alunos são imersos
colocar em primeiro plano valores como riqueza, beleza, glória e fama; será
grande a probabilidade de sua identidade ser construída em torno desses
valores, e não serão algumas atividades sobre ética ou direitos humanos que
vão conseguir reverter esse quadro. Em compensação, se temas como justiça,
coragem, generosidade, gratidão e demais virtudes fizerem parte do “clima
moral” da escola, algumas chance há de se ter sucesso na construção da
autonomia moral, na formação do cidadão.
Nesse sentido, ser professor ou professora requer uma tarefa muito
difícil, que é a de levar para a sala de aula um tema e questões para as quais
não se tem a resposta. Discuti-los, colocá-los no interdiscurso, possibilitar o
diálogo, a critica, o pensar e o repensar, a pesquisa e as conclusões do grupo,
sem exercer o papel doutrinador, mesmo tendo espaço para expressar a sua
posição. Precisamos como professores, expressar nossa opinião e posição,
porém não podemos ser onipotentes a ponto de acreditar que a nossa opinião
é a mais certa e que, por isso, deve ser adotada por todos da turma. Isso era
válido no tempo do conhecimento pronto e acabado, onde os alunos eram
depósitos de conhecimentos impostos.
22
3.1.1 - A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO
Para a professora Tânia Zagury (2006 p. 70), a relação professor/aluno é
importante e inegável. De preferência, ela deve ser amistosa e afetuosa de
ambas as partes para que haja a disciplina. Não pode, porém, em hipótese
alguma, ser o fator mais importante dentro da escola. A relação pedagógica
tem que se embasar numa hierarquia ( não rígida, nem autoritária, mas uma
hierarquia) em que se deve estar bem definido para o aluno que o professor é a
autoridade. Mesma que a exerça de forma democrática e participativa, em
ultima análise, o professor tem o direito e o dever de manter em classe as
condições que permitam que a aprendizagem ocorra. Sejam alunos crianças ou
adolescentes. Dar ênfase aos aspectos psicológicos, ás necessidade
individuais e as fases do desenvolvimento do ser humano não exclui considerar
e dar ênfase a outros enfoques – tão importante quanto.
Aspectos sociológicos têm sido com freqüência esquecidos e até
abandonados, numa visão simplista em que o psicologismo assume um papel
preponderante, senão único. Há que se considerar urgentemente o homem
como ser social, gregário, apto a superar dificuldades e a se superar. A
superproteção, gerada pelo equívoco dessa visão unicista, só tem trazido
desserviço à sociedade.
Enquanto não voltarmos a compreender o ser humano em seus múltiplos
aspectos – capaz de assimilar regras, de se auto-superar, de entender e ver o
outro, enquanto continuarmos procurando culpados como mais importante que
os demais elementos que compõe o ser humano, não conseguiremos melhorar
a qualidade e o nível de aprendizagem dos nossos alunos. Há que se
estabelecer um mínimo de disciplina e organização nas nossas salas de aula.
Não se pode supervalorizar a relação professor-aluno, não em detrimento
do saber. O professor não é psicólogo, não ‘trata’ alunos. Ele pode e deve sim
compreender os problemas, ser afetuoso e ajudar no que for possível em
termos humanísticos, mas sua função precípua é ensinar. E ensinar bem,
dominando o conteúdo e usando adequadas técnicas de ensino e de avaliação.
Mas ensinando, que esta é a sua função. Caso contrário, estará fugindo ao
23
compromisso básico da carreira que elegeu e na qual batalhará por cerca de
trinta anos de sua vida.
3.1.2 - OS FATORES EMOCIONAIS
Antes de tudo, somos seres biológicos, marcados pelas emoções.
Durante muitos anos, acreditamos que podíamos agir apenas racionalmente,
mas com o tempo verificou-se que as emoções e desejos, medo, raiva,
contentamento etc. – estão presentes em cada momento de nossas vidas e
devem ser consideradas partes integrantes do ser humano.
O termo inteligência emocional, criado pelo americano Daniel Goleman,
refere-se aos dois tipos de inteligência humana: a racional, que podemos medir
através de testes e que é responsável pela nossa capacidade lógica de
raciocínio, e a emocional, que nos permite conhecer nossos próprios
sentimentos, controlar nossos impulsos, perceber como lidar com outras
pessoas. Segundo Goleman, a inteligência emocional é responsável por 80%
do nosso sucesso ou fracasso.
Há muitos fatores que interagem no processo de aprendizagem.
Portanto, os alunos não aprendem igualmente. Se cada um reage
diferentemente ás situações da vida, isso vale também para as situações de
aprendizagem.
A motivação é, também, um aspecto essencial á aprendizagem e que
depende intrinsecamente dos fatores emocionais. Dificilmente aprendemos o
que não queremos, a motivação é a força interna que nos impulsiona a ação
para que possamos realizar nossos desejos e nossas necessidades.
Sem motivação, não há ação. Isso nos leva a pensar: adultos que
procuram uma educação profissional já estão suficientemente motivados, pois
eles têm necessidade de emprego ou de ascensão profissional. Precisamos,
portanto, desenvolver algumas competências que os ajudarão a obter o
emprego desejado ou conseguir uma função mais valorizada. Sem motivação,
não há ação. É preciso estar emocionalmente comprometido para aprender.
24
Como vimos, aprender é o resultado de um processo que pressupõe
interação entre razão e emoção. É preciso estar emocionalmente
comprometido para aprender. Assim, o professor deve cuidar par que a
motivação inicial dos alunos permaneça durante tudo o curso.
Para conseguir acesa a chama da motivação, é preciso saber que o
aluno deseja aprender quando:
• Tem sua experiência anterior valorizada;
• Percebe que os novos conhecimentos serão necessários aos seus
objetivos;
• Vê sentido no que estão aprendendo;
• Encontra em sala de aula um ambiente amigável.
A evolução também se manifesta em nossos hábitos e comportamentos.
Por exemplo, como mudaram os conceitos da Educação Infantil. As pessoas
mais maduras devem lembrar que quanto eram recriminados os pais que
procuravam atender prontamente seus bebês. Dizia-se que as crianças ficavam
manhosas se colocadas ao colo, quando chorassem. Hoje se sabe que levar o
bebê ao colo não só o acalma, mas o ajuda a desenvolver-se emocionalmente
sadio.
Tendo em mente a constante evolução da tecnologia e dos costumes, o
professor deve incentivar o aluno a estar sempre atualizado, buscando todas
as formas possíveis de renovar seus conhecimentos. Em sala de aula, muitos
conceitos antigos e ultrapassados podem ser renovados, seja através da
simples troca de idéias, seja por meio da leitura, de vídeos ou de outros
materiais informativos.
O professor deve manter-se atualizado, para não correr o risco de ficar
reproduzindo técnicas que fizeram parte de sua formação, mas que possam
estar ultrapassados.
25
CAPITULO 4
A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO
Todos nós já passamos por uma das situações: ou fomos influenciados
por um professor querido e passamos a gostar muito de sua matéria ou, por
não simpatizarmos com o professor, perdemos o interesse da matéria.
Esse fenômeno está relacionada a comunicação. Aliás, todas as
situações da vida que impliquem mais de uma pessoa envolvem comunicação.
Estamos sempre comunicando, mesmo sem querer, todas as nossas idéias,
emoções e nossos sentimentos. Alegrias, tristezas, valores, solidariedade,
arrogância, esperança, cansaço: tudo isso transparece em nossas relações. E
em sala de aula não é diferente: a aprendizagem possui um caráter
essencialmente comunicativo. Por isso é importante conhecer os elementos
necessários à boa comunicação didática.
Todos os nossos conhecimentos foram construídos através dos
diferentes contatos que estabelecemos com outras pessoas. E grande parte de
tudo o que conhecemos é resultado da comunicação que mantivemos com
nossos professores. Na infância, por exemplo, geralmente amigos mais velhos
ensinam aos mais novos as regras dos jogos. Independentemente da
autoridade que esses amigos representam, temos a liberdade de perguntar o
que não entendemos, o medo de errar não nos impede de tentar e, por fim,
temos a recompensa de podermos jogar juntos.
Em sala de aula, infelizmente, a aprendizagem não costuma ocorrer
assim. Especialmente nas escolas tradicionais, o professor ensina e o aluno
deve aprender sem questionar. O resultado é que pouco se aproveita do que
tentam nos ensinar desse modo.
O que estamos querendo dizer sobre comunicação didática é isto: com
amigos há diálogo, interação e podemos participar ativamente do processo de
aprendizagem. Um professor tradicional, no entanto, tem sua autoridade
supervalorizada e o aluno não participa integralmente, não expõe suas dúvidas,
26
não tem sua motivação estimulada. A autoridade acaba se transformando em
autoritarismo.
Na comunicação didática, todos os parceiros do processo comunicativo
devem ter os mesmos direitos. O aluno é sujeito do processo de construção do
conhecimento; por isso, a relação entre o professor e aluno precisa ser
igualitária e aberta.
Nesse sentido, com a facilidade de comunicação com os alunos, o
professor conseguirá abertura ao dialogo, permitindo que haja trocas. E
principalmente usa-lo como ponto de partida, seja para modificá-la, seja para
acrescentar novos dado. Os conhecimentos prévios dos alunos devem ser
valorizados e servir de apoio para a incorporação de novos conhecimentos. Os
novos conteúdos devem ter alguma relação com o quem o aluno já conhece,
com sua bagagem anterior.
Deve-se procurar conhecer o desejo dos alunos, bem como seus limites
e possibilidades, de modo a orientá-los honestamente sobre suas chance
profissionais, sem criar falsas expectativas mas também sem causar
frustações. Ouvir o que o aluno tem a dizer. Isso cria um clima de confiança
que favorece as trocas e, consequentemente, a aprendizagem. E fique bem
atento às perguntas que lhe fizerem: elas são a prova de que está sendo
ouvido
Linguagem clara e objetiva – a boa comunicação valoriza a
simplicidade. É claro que os alunos precisam conhecer os termos técnicos de
sua área profissional, mas o professor deve ter em mente que o aluno está em
processo de aprendizagem e, portanto, ainda não se familiarizou com a
terminologia correta.
Evite usar termos técnicos sem explicar seu significado para os alunos.
Certos vocábulos são conhecidos apenas pelos que já dominam os
conhecimentos da área.
Desenvolvimento da capacidade de expressão – o incentivo dos
alunos a elaboração e expressões de suas conclusões, ainda que estas não
representem a totalidade dos conceitos que virão a ser aprendidos. Essa
prática trará inúmeras vantagens, como ajudar o aluno a participar como sujeito
27
do processo de comunicação, auxiliá-lo a refletir sobre os novos
conhecimentos, além de possibilitar o caminho que o educando está fazendo
na construção do conhecimento.
Finalmente, considere que, nas situações de comunicação, os alunos
serão sempre parceiros, pois estarão falando de si mesmos através de seus
comportamentos. Estarão se comunicando em cada um de seus gestos. E
também na forma de se vestir, de andar, de olhar. Todos os nossos
comportamentos têm valor de mensagem e, portanto, de comunicação.
O ambiente deve ser favorável à boa comunicação em sala de aula
utilizando, por exemplo, dinâmicas de grupo. Os trabalhos em equipe ajudam a
desinibir, além de incentivar outras competências que desejamos fortalecer,
com a ajuda mútua. Todos os nossos comportamentos têm valor de
mensagem, de comunicação.
4.1 - OS CAMINHOS DA APRENDIZAGEM DO ALUNO
Para Piaget, o caminho da aprendizagem tem inicio com uma dificuldade
(situação problema) e a necessidade de solucioná-la. A necessidade leva á
busca de soluções, desencadeando uma série de operações mentais voltadas
para a solução do problema. Nesse trajeto, é essencial que o professor aja
como um desestabilizador de soluções simplistas: compete-lhe desafiar o
aluno, propor novos problemas a cada solução trazida, despertar dúvidas. Esse
papel não combina com o caráter conteudístico da aula.
Em uma visão mais avançada, o conteúdo é o objeto e as habilidades
operatórias, a “ferramenta” para trabalhá-lo, gerando a desestabilização. A
simples explanação de um conteúdo representa o fim do problema; o uso de
habilidades em sua análise instiga as inteligências muito diferentes em relação
a outro indivíduo e que a educação deveria ser moldada para responder a
essas diferenças. Para fundamentar sua convicção, organizou o Projeto
Espectro, no qual a sala de aula se transforma em um campo de estimulação
das inteligências. Os estímulos, provocados por vários materiais, atuam sobre
a criança, desafiando-a a usar diferentes habilidades. Nesse tipo de sala,é
28
possível conhecer, compreender, imaginar, analisar, comparar, deduzir e, ao
usar esses caminhos neurais, aprender, ainda que a aprendizagem defira de
pessoa para pessoa.
Para atestar os estudos de Gardner não é necessário criar uma sala igual
à de seu projeto; basta transformar nosso trabalho com os conteúdos em um
desafio ás habilidades sugeridas. Abordando o descobrimento do Brasil ou a
divisão celular, o que realmente importa é se esse conteúdo pode propiciar
conhecimento, compreensão, análise, comparação, dedução e muitas outras
habilidades.
Daniel Goleman vem se destacando na defesa da alfabetização
emocional. Com o intuito de mostrar que as emoções podem ser apreendidas
e, dessa forma, estimular o aluno para um melhor convívio social, seu esforço
centra-se na discussão de métodos e estratégias que considera mais eficiente.
Suas obras relatam varias dessas estratégias e mostram como os alunos têm
reagido a elas. Em nenhuma se percebe o trabalho com as emoções
emergindo da exposição conteudística realizada pelo professor. Nas
estratégias propostas por Goleman percebe-se a preocupação de explorar o
uso de diferentes habilidades na ação do professor sobre o conteúdo. Emoções
podem ser trabalhadas, mas o caminho para isso não é verbal e centrado em
um tema. O tema é a essência do problema; as habilidades, a maneira de
discuti-lo.
Sabe-se que aprendemos por aproximações sucessivas do objeto, o que
quer dizer que vamos conhecendo o objeto a ser explorado, aos poucos, em
etapas. Por esse motivo, os conteúdos devem ser organizados em uma
seqüência lógica e apresentados progressivamente, de modo que cada etapa
prepare para a seguinte. Dessa forma, o aluno poderá estabelecer uma relação
entre as etapas, o que irá ajudá-lo a compreender o assunto e a participar
ativamente das aulas.
Em geral, uma boa organização de conteúdos parte do mais concreto
para o mais abstrato; do particular para o geral, do mais próximo para o
distante.
29
São vários os recursos disponíveis para que o professor promova a
aprendizagem. Esses recursos precisam ser acionados para garantir a
qualidade da educação. Isso, no entanto, somente será possível caso o
professor compreenda que o conhecimento é um processo interno que está em
permanente construção.
A qualidade das ações educativas está, sem dúvidas, relacionadas ao
conjunto de fatores até então analisados. Mas, quando se fala em qualidade da
educação, a que estamos nos referindo especificamente? Quais são os
critérios para avaliar a qualidade das ações educativas?
Nesse sentido, os critérios geralmente utilizados consistem em julgar se
as unidades escolares preenchem os requisitos necessários ao alcance de
seus objetivos: promover o ensino e a aprendizagem de conceitos, princípios,
teorias e técnicas que fundamentam os diferentes campos do saber.
Nesse tipo de avaliação, considera-se a educação sob o seu aspecto
formal. Não resta duvida que essa variável é importante para julgar a qualidade
: os professores precisam ser bem preparados, possuir o domínio de suas
disciplinas, e os alunos igualmente, necessitam aprender.
A qualidade da educação não se limita, contudo, a seus aspectos
formais. A educação, como qualquer outra pratica humana, acontece num
determinado contexto histórico, com suas determinações sociais, políticas,
econômicas e culturais. E, como tal precisa dar respostas satisfatórias aos
problemas que afligem a sociedade onde se desenvolve.
Num país como o nosso, marcado por imensas desigualdades sociais, a
escola é um espaço privilegiado de possibilidades de inclusão social, de
desenvolvimento de competências para o exercício da cidadania e para
intervenção nos rumos da sociedade em que vivemos. As aprendizagens aí
desenvolvidas só têm sentido, portanto, se puderem ser convertidas em ações
afetivas, comprometidas com uma prática social. De nada adiantaria, por
exemplo, o domínio dos fundamentos e das técnicas de planejamento se estes
não estivessem voltados para orientar políticas de intervenções nos mais
diversas campos de ação humana. O domínio da estática, por seu lado, é
importante para retratar uma realidade que se pretenda modificar.
30
A motivação existente no coração do professor está diretamente
associada a seu comportamento perante seus colegas, ao modo como prepara
as suas aulas, ao modo como se relaciona com a comunidade, á fidelidade à
sua missão e, finalmente, ao êxito que possa ter perante seus alunos.
O professor deve sempre conservar em sua mente a noção maior de que
ele é, mais do que tudo, um agente promotor da educação e que é, portanto,
um educador.
O escritor Rubem Alves faz uso de uma importante comparação, que
esclarece a questão. Na verdade ele nos ensina que professor, digamos...
“comum”, que se vê tão-somente como um profissional que executa as suas
tarefas rotineiramente, apenas mudando de sala a cada 45 ou 50 minutos,
pode ser comparado a um eucalipto.
E explica que os eucaliptos são aquelas arvores previsíveis, plantadas
em série, com o objetivo de “cobrir” desmatamentos perpetrados contra a mata
verdadeira; e que são iguaizinhas uma às outras: o mesmo padrão de troncos,
o mesmo tamanho das folhas, a mesma disposição dos galhos, tudo
igualzinho.
Porém o educador, é diferente! Ele é comparado ao jequitibá, aquela
arvore frondosa, de galhos fortes e retorcidos de uma maneira especial, e que
nasce sozinho, sem que ninguém precisa plantar, bem lá no meio da mata.
Existe um jequitibá aqui, outro muito acolá... nada de plantação padronizada,
nada de jequitibás em série. Nenhum deles é igual aos outros, mas todos são
bonitos, fortes e frondosos. Podemos dizer, concluindo, que o professor
consciente, cuidadoso, eficiente e criativo é o educador comparado ao jequitibá
da estória.
É obvio que ensinar dessa forma exige abnegação, carinho, preparo e,
principalmente, amor. Pode-se ter todos os poemas, romances ou dados no
computador, como há nos livros, nas bibliotecas; pode até haver a
possibilidade de se buscar informações na internet, cruzar dados num toque
de teclas, mas falta a emoção humana, o olhar atento do professor, sua
gesticulação, a fala, a interrupção do aluno, a construção coletiva do
conhecimento, a interação com a dificuldade ou facilidade da aprendizagem.
31
Sabe-se que a formação é um fator fundamental para o professor. Não
apenas a graduação universitária ou a pós – graduação, mas a formação
continuada, ampla, as atualizações e o aperfeiçoamento. Não basta que um
professor de matemática conheça profundamente a matéria, ele precisa
entender de psicologia, pedagogia, linguagem, sexualidade, infância,
adolescência, sonho, afeto, vida. Não basta que o professor de geografia
conheça bem sua área e consiga dialogar com áreas afins como historia; ele
precisa entender de ética, política, amor, projetos, família. Não se pode
compartimentar o conhecimento e contentar-se com bons especialistas em
cada uma das áreas.
Não há como separar o ser humano profissional do ser humano pessoal.
Certamente o professor terá seus problemas pessoais, chegará à escola, às
vezes, mais sisudo que o habitual e terá mais dificuldades em desempenhar
seu trabalho em sala de aula. Os alunos notarão a diferença e a eventual
impaciência do professor nesse dia, mas eles não sabem os motivos da
sisudez do mestre e podem interpretar erroneamente. Exatamente por isso é
preciso cuidar para que contrariedades pessoais não venham à tona, causando
mágoa e ressentimentos.
Ao enfrentar problemas de ordem pessoal o professor deve procurar o
melhor meio para sair do estado de espírito sombrio e poder desempenhar seu
trabalho com seriedade. A leitura dos clássicos, o contato com a arte, com a
natureza está aí e não cobra nada para ser contemplada. Não se trata de
ignorar a situação em que se encontram os professores no que diz respeito aos
patamares salariais. Essa classe vem sendo tratada com desrespeito pela
grande maioria dos administradores públicos do país. Para obras de cimento e
cal sempre há dinheiro, para um salário digno de quem forma o cidadão
brasileiro não há verbas. Entretanto, isso não pode ser desculpa para
acomodação, para a negligente ou para a impaciência. O professor tem o
direito constitucional de fazer greve e ninguém pode deixar de respeitá-lo por
isso, mas tem o direito de ser negligente, incompetente, displicente, porque o
aluno não tem culpa. Se o problema é com os administradores, eles é que
devem ser enfrentados. É melhor entrar em greve, com todos os problemas
32
decorrentes disso, do que dar uma aula sem alma apenas porque se ganha o
suficiente.
Desde os primórdios da cultura grega, o professor se encontra em uma
posição de importância vital para o amadurecimento da sociedade e a difusão
da cultura. As escolas de Sócrates, Platão e Aristóteles demonstram a
habilidade que tinham os pensadores para discutir os elementos mais
fundamentais da natureza humana. Não perdiam tempo com conteúdo que não
fossem essenciais. Sabiam o que era importante porque viviam da reflexão, e a
aula era o resultado de um profundo processo de preparação. Assim foi a
escola de Abelardo, com os alunos quase extasiados pelo carisma do professor
e pela forma envolvente e sedutora como eram tratados os temas. Sócrates
andava com seus alunos e ironizava a sociedade da época com o objetivo de
fazê-los pensar, de provocar a reflexão, o senso crítico. Não se conformava
com a passividade de quem acha que nada sabe e nunca conseguirá saber
nem com arrogância de quem acredita que tudo sabe e, portanto, nada mais há
que mereça ser estudado ou refletido.
Jesus Cristo, o maior de todos os mestres da humanidade, contava
histórias, parábolas e reunia multidões ao seu redor, fazendo uso da pedagogia
do amor. Quem era esse pregador que falava de forma tão convincente,
ensinava sobre um novo reino e olhava nos olhos com a doçura e a autoridade
de um verdadeiro mestre? A multidão vinha de longe para ouvi-lo falar, para
aprender sobre esse novo reino e sobre o que seria preciso fazer para alcançar
a felicidade. O grande mestre não precisava registrar as matérias, não se
desesperava com o conteúdo a ser ministrado nem com a forma de avaliação,
se havia muitos discípulos ou não. Jesus sabia o que queria: construir a
civilização do amor. E assim navegava em águas tranqüilas, na maré correta,
com a autoridade de quem tem conhecimento, de quem tem amor e de quem
acredita na própria missão.
Sócrates e Cristo foram educadores, formaram pessoas melhores. Não
há como negar que os numerosos profetas ou os simples contadores de
história conseguiram tocar e educar muito mais do que qualquer professor de
cor todo o plano curricular e tudo que os alunos devem decorar para ser
33
promovido. Ninguém foi obrigado a seguir a Cristo, não havia lista de presença
nem chamada, e mesmo assim, a multidão se encantava com seus
ensinamentos – ele tinha o que dizer e acreditava no que dizia, por isso foi tão
marcante.
Contudo, o professor precisa acreditar no que diz ter convicção em seus
ensinamentos para que o aluno também acredite neles e se sinta envolvido.
Precisa de preparo para ir ao rumo certo e alcançar os objetivos que almeja.
Seja como for, o professor que não prepara as aulas desrespeita os
alunos e o próprio ofício. É como um médico que entra no centro cirúrgico sem
saber o que vai fazer e sem instrumentação adequada. Tudo na vida exige uma
preparação. Uma aula preparada, organizada, com o conteúdo refletido, muito
provavelmente será bem-sucedida. Aula previamente preparada não significa
aula engessada: não dará ao professor o direito de falar compulsivamente, sem
permitir intervenção do aluno; o professor não deixará de discutir outros temas
que surgirem apenas porque tem de cumprir de aula que preparou. Pode até
ocorrer que ele dê uma aula diferente daquela que planejou, mas isso é
enriquecedor.
Preparação é planejamento. Muitos professores fazem o planejamento do
inicio do ano de qualquer maneira, apenas para cumprir exigências formais. É
lamentável. Se o professor investir tempo refletindo cada item de seu
planejamento, sem dúvida terá muito menos trabalho durante o ano para o
cumprimento de seus objetivos, pois sabe aonde quer chegar, sabe o tipo de
habilidade que precisa ser trabalhada e como avaliar o desempenho do aluno.
Ninguém se torna um professor perfeito. Aliás, aquele que se acha
perfeito, e portanto nada mais tem a aprender, acaba se transformando num
grande risco para a comunidade educativa. No conhecimento não existe o
ponto estático – ou se está em crescimento, ou em queda. Aquele que se
considera perfeito está em queda livre porque é incapaz de rever seus
métodos, de ouvir outras idéias, de tentar ser melhor.
Entretanto a responsabilidade para a construção de uma educação
cidadã está nas mãos do professor. Por mais que o diretor ou coordenador
pedagógico tenham boa intenção, nenhum projeto será eficiente se não for
34
aceito, abraçados pelos professores porque é com eles que os alunos tem
maior contato.
O artigo da LDB dispõe sobre a função dos professores:
Artigo 13 – Os docentes incumbir-se-ão de:
I. Participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de
ensino;
II. Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino;
III. Zelar pela aprendizagem dos alunos;
IV. Estabelecer estratégias de recuperação dos alunos de menor rendimento;
V. Ministrar os dias letivos e horas-aulas estabelecidos, além de participar
integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao
desenvolvimento profissional;
VI. Colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a
comunidade.
Nota-se que o papel do professor, segundo a LDB, está muito além da
simples transmissão de informações. Dentro do contexto de uma gestão
democrática, ele participa da elaboração da proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino, isto é, decide, solidariamente com a comunidade
educativa, o perfil de aluno que se quer formar, os objetivos a seguir, as metas
a alcançar. E isso não apenas em relação a sua matéria, mas a toda proposta
pedagógica.
A LDB discorre sobre a elaboração e o cumprimento do plano de
trabalho, trazendo à tona a organização do professor e a objetividade no
exercício de sua função. No tocante á aprendizagem dos alunos, fala em zelo
no sentido de acompanhamento dessa aprendizagem, que se dá de forma
heterogênea, individual. Zelar é mais do que avaliar, é preocupar-se,
comprometer-se, buscar as causas que dificultam o processo de
aprendizagem e insistir em outros mecanismos que possam recuperar os
alunos que apresentam alguma espécie de bloqueio.
O professor só conseguirá fazer com que o aluno aprenda se ele próprio
continuar a aprender. A aprendizagem do aluno é diretamente proporcional a
capacidade de aprendizado dos professores. Essa mudança de paradigma faz
com que o professor não seja o repassador de conhecimento, mas orientador,
35
aquele que trabalha para o desenvolvimento das habilidades de seus alunos.
Não se admite mais um professor mal formado ou que pare de estudar.
Assim tal artigo, na sua conclusão, dispõe da colaboração do professor
nas atividades de articulação da escola, com as famílias e a comunidade.
Aliás, para que o processo de aprendizagem seja eficiente, os atores sociais
precisam participar e essa articulação é imprescindível. A parceria
escola/família, escola/comunidade é vital para o sucesso do educando. Sem
ela a já difícil compreensão do mundo por parte do aluno se torna cada vez
mais complexa. Juntas, sem degenerar responsabilidades, a família, a escola,
a comunidade pode significar um avanço efetivo nesse novo conceito
educacional: a formação do cidadão.
Agora, se o professor não gosta de aluno, deve mudar de profissão. A
educação é um processo que se dá através do relacionamento e do afeto para
que possa frutificar. Professores que não vibram com os alunos são como pais
que preferem os filhos afastados de si o maior tempo possível.
Outros tantos exemplos poderiam ser dados, outros mitos que se
perpetuam poderiam ser abordados. São frases soltas, ouvidas e repetidas por
aí, demonstrando apenas que a insatisfação do professor com relação aos
alunos pode ter causas mais arraigada e, por comodismo, falta de reflexão e
autocrítica, terminam por visar os jovens, sem nenhuma pertinência. São
paradigmas que precisam ser quebradas sob pena de termos uma educação
caduca, envelhecida e ineficiente.
Alunos possuem suas peculiaridades em qualquer idade. Observe-se os
alunos de pós-graduação, que já são professores há um longo tempo:
comportam-se como crianças grandes aqueles marmanjões todos que ficam
em fila para conversar com o professor e pedir-lhe para adiar a entrega de um
trabalho. Ou pedindo uma entrevista com o professor para expor suas
inseguranças com relação ao tema da tese, aproveitando a oportunidade para
um desabafo de ordem pessoal. Não há idade para sentir-se aluno, para
manifestar dependência. Qualquer que seja a faixa etária do aluno e qualquer
que seja sua aspiração, o professor será “amolado”.
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Antes de tudo, como todo ser humano, o aluno precisa de afeto para se
sentir valorizado. Se houver aluno intransigente, teimoso, emocionalmente
abalado, ninguém se surpreenderá. Já o professor não pode apresentar
emocionalmente abalado diante dos alunos. O professor é referencia, é o
modelo, é o exemplo a ser seguido e, exatamente por causa disso, o pouco
que fizer afetuosamente, uma palavra, um gesto, será muito para o aluno com
problemas.
Cada professor que chama o aluno pelo nome, que repara em algum
novo detalhe, uma roupa, um novo corte de cabelo; o professor que menciona
ter conhecido o pai de seu aluno e lhe faz um elogio. Realiza pequenos gestos
de atenção que quebram barreiras e fertilizam o terreno da amizade entre
ambos. É o famoso afeto, que nada tem de complicado e não exige sacrifícios.
Basta um pouco de boa vontade e muito de vocação para o magistério. Em
qualquer aspecto da vida cotidiana, não apenas na escola, a desatenção gera
agressividade. No guichê do correio, na caixa do banco, no laboratório médico,
quantas vezes não nos irritamos com o tratamento displicente dos funcionários
que deveriam nos atender com cortesia. Então nos damos conta rapidamente
de que somos apenas um incomodo a mais na vida deles e reagimos mal. O
aluno também pode ter essa sensação de não estar agradando, o que o faz
tornar-se agressivo, querer atrapalhar a aula para que sua presença seja
notada.
Nenhum aluno é mal, assim como nenhum ser humano é mau a priori.
Infelizmente, o número de alunos por sala não permite que o professor
conheça profundamente cada um, já que muitas vezes ele tem de trabalhar em
varias escolas para completar o orçamento familiar. A desvalorização da
carreira do magistério, os baixos salários, que chegam a privar o professor do
acesso ao conhecimento por não lhe sobrar dinheiro ou tempo algum para
atualizações e leituras, contribuem para sua má disposição.
É ideal que se trabalhe em menos lugares para sobrar mais tempo para
os alunos, para conhecê-los melhor, isso com um salário digno. E então a
relação de afeto pode ser desenvolvida plenamente, fazendo com que o
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professor tenha prazer em exercer sua profissão e o aluno tenha prazer em
conviver com quem terá uma importância enorme na sua vida.
Quantos alunos relembram seus grandes mestres com uma saudade
gostosa, de um tempo que foi importante na sua vida? E quantos há que se
lembram com pavor de alguns mestres que só lhes criaram traumas,
trouxeram medo e frustração? É preciso olhar os exemplos do passado para
construir um presente e um futuro melhores. Se cada professor conseguisse
lembrar do tempo em que foi aluno, das marcas positivas e negativas, dos
exemplos que eram para serem seguidos ou evitados, ajudaria muito a pensar
em seu papel de educador.
Aluno tratado com respeito, tendo valorizada a sua história de vida,
sente-se amado, querida na escola em que estuda e pode ser promessa para
o país que queremos. É dos bancos escolares que saíram as mulheres e os
homens que vão assumir os postos de comando da nação, como políticos,
executivos, jornalistas, formadores de opinião, professores, profissionais das
mais diversas que com sua atuação e seu exemplo de vida poderão servir
como nova referencia para novos tempos. Qualquer que seja o profissional,
qualquer que seja o posto ocupado, essa pessoa se valeu de mestres para
alcançar sua posição.
E o que terá aprendido? Como terá se preparado? Porque esqueceu os
ensinamentos da vida, as questões essenciais? Esqueceu ou não foi educado
para isso? Esqueceu ou foi incentivado para o contrário, para os negócio
ilicidos, para as tapeações, para o comodismo, para a aceitação pacífica de
todas as mazelas que proliferam?
Que tipo de aluno se quer formar? Que tipo de aluno se almeja para
assumir responsabilidades na idade adulta? Que tipo de aluno se quer depois
de anos e anos de aprendizagem sistemática, de avaliações, de momentos de
lazer, de troca de experiências? O que se quer de uma escola brasileira em
tempos de hodiernos?
Essa deve ser a reflexão dos professores nos dias de planejamento. O
que queremos de nossos alunos e o que ele quer de nós? O que queremos
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para o presente e o para o futuro deste país com o tipo de educação que
estamos dando?
Corremos no risco de cair nas malhas da burocracia do sistema, em que
o conteúdo é tratado de forma a repetir padrões anteriormente determinados
sem a menor compreensão de sua finalidade. O professor acaba ministrando
conteúdos ultrapassados, que pouco contribuem para a formação do aluno, e
não faz isso por mal, mas porque é adequadamente capacitado. Reuniões do
corpo docente há muitas, com certeza, entretanto são frequentemente inócuas
já que não atingem a cerne da questão. Qualquer tipo de discussão
educacional, qualquer planejamento em que se pense a grade curricular, as
emendas, o conteúdo, sem levar em conta o foco, o fim a que se pretende
chegar, está fadado a naufragar. É barco sem norte, sem rumo, sem direção. É
construção desordenada em que os tijolo vão sendo empilhados uns sobre os
outros, mas não há planta, não há projeto, não se sabe o tipo de construção
que se está fazendo.
Se a escola existe para o aluno, para formá-lo e prepará-lo para a vida e
para ser a vida dele, é preciso começar da gênese – qual o perfil do aluno que
pretendemos formar?
4.1.1 COMO MANTER A DISCIPLINA NA SALA DE AULA
Eis algumas sugestões que, ajudando-nos a identificar nosso perfil, nos
ajudará a manter a disciplina na sala de aula. A verdade é que quem ajuda
alunos indisciplinados a se identificarem, na verdade fazem pouco por eles,
apenas estão mostrando-lhes o caminho. A tarefa de percorrê-lo ou não é do
aluno. Apenas dele.
• Assiduidade e pontualidade – lembre-se que os alunos que se
preparam para expectativa de atraso ou ausência do professor
sentem-se frustrados quando este mostra-se pontual.
• Associar o conhecimento novo aos saberes que os alunos
possuem – Ajudá-los a construir uma imagem pessoal sobre os
temas trabalhados, trabalhar a aprendizagem significativa,
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contextualizar e transformar o aluno em agente de seu próprio
crescimento intelectual.
• Preparar de maneira cuidadosa a aula – enriquece-las com
múltiplos exemplos; associar o distante ao próximo, o antigo ao
atual.
• Traçar um projeto de atividades anuais, dividindo suas etapas
após semana – tempo administrado significa projeto concluído,
meta alcançada.
• Estabeleça, se possível em consenso com a própria classe, os
limites desejáveis das condutas e cobrá-los sempre de maneira
imediata e coerente – definir a “hora de ouvir”, de “perguntar”, de
“redigir” e, por que não, de trocar idéias com os colegas.
• Entre em sala e, sem demora, iniciar a aula – muito “ensaio”
predispõe para a desatenção.
• Cobre com firmeza mas se possível bom humor, a colaboração de
todos e ser um árbitro sereno no cumprimento das regras de
condutas consensualizadas com a classe – O bom árbitro apita
quando preciso, sabe economizar, mas mostra o cartão sempre
que necessário, sempre que houver um desvio.
• Procure falar com expressividade e clareza – Deixe para dar aula
a si mesmo quando enfrenta o trânsito congestionado; em classe
dê aula para os alunos, fale sua linguagem.
• Se possível inicie com um plano de aula simples, mas objetivo e
coerente – O aluno necessita sempre se situar, saber onde está e
para onde sua mente está sendo levada. Não se esqueça que,
antes de sua última aula, muitas outras disciplinas foram dadas.
• Movimente-se todo o tempo, mantenha-se alerta a todas as
ocorrências – Jamais se imobilize em um canto da sala ou manter-
se parado à mesa ou na lousa. Um olhar na lousa, dois na turma.
• Mostre-se sempre em disposição para manter a calma e a
serenidade, mesmo em situações mais difíceis – Fácil não é, mas
ensinar nunca foi brincadeira.
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• Saiba dar a devida importância ao tom de voz empregado e
estudar a linguagem gestual – Poupe energias nas primeiras
aulas, respire e permita que seus alunos respirem.
• Analise com calma as razões que podem levar alunos ao
desinteresse ou indisciplina e discutir particularmente com o
mesmo esse postura – Traçar juntos e juntos sempre discutir,
atualizarem e reavaliar um certo código de ética que deve pautar
sempre as relações entre alunos e professores.Se necessário
cantarole baixinho de você para você mesmo: “não há você sem
mim; eu não existo sem você
• Mostre-se atento aos problemas dos alunos sendo companheiro
solidário e compreensivo na caminhada do aluno pelo aprender.
Se possível, ter sempre um tempo para atendê-lo pessoalmente.
Lembre-se do significado da palavra “companheiro” (aquele que
divide o pão).
• Conclua a aula de maneira amistosa, bem-humorada. Deixe
dúvidas no ar para estimular a curiosidade para a aula seguinte.
Supere com dedicação e esforço continuado a aceitação da rotina.
Renove sentimento de entusiasmo e envolva o aluno pela paixão.
Nunca esqueça do significado de “entusiasmo” (ter Deus dentro de
si).
É sempre importante destacar que os espaços ou normas sugeridas,
selecionadas pelo professor de acordo com a natureza e as características do
problema disciplinar apresentado, costumam ajudar a resolver parte
expressiva dos problemas disciplinares de uma escola, ainda que, é evidente,
não o eliminem por completo.
Existem alunos cuja grosseria, insolência, atitudes desafiadoras e
agressividade resistem e ultrapassam o limite de uma conduta serena por
parte do professor. E estes casos exigem a necessidade de uma intervenção
especial, e, em consenso com seus pais quando possível necessitam ser
encaminhados a outros profissionais especializados ou, pior ainda,
percebendo que o limite desses problemas ultrapassa a característica e a linha
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educacional da escola, não existe outra alternativa que sugerir sua
transferência. É mais que evidente que essa circunstancia deve-se resumir a
casos extremos; pois em última análise corresponde ao fato de um hospital
enviar um paciente a outro por admitir sua incompetência para tratamentos
mais específicos.
O professor deve ser amigo dos alunos, compreensivo e companheiro,
ter a mentalidade aberta e acompanhar o processo de construção do
conhecimento, agindo como agente entre os objetos do saber e a
aprendizagem, ser para o aluno seu decifrador de códigos e receptor de suas
muitas linguagens, significa estabelecer limites e construir democraticamente
uma interação onde em lugar da opressão e da prepotência eleva-se a
dignidade de quem educa, a certeza de quem planta amanhãs.
A existência da indisciplina na escola é assim como um incêndio na mata.
Raramente o foco é único e na oportunidade em que a queima de um ponto
alcança a de outros, torna-se muito difícil a tarefa dos bombeiros. Na maior
parte das escolas não é diferente, a indisciplina quase sempre emana de
quatro focos: a escola e sua estrutura, o professor e sua conduta, o aluno e
sua bagunça e a família que não acompanha a vida escolar dos filho. Façamos
um rápido apanhado sobre esses focos de incêndio e algumas histórias de
intervenções salvadoras.
Dependo da disponibilidade existente, atacam-se os quatros ao mesmo
tempo ou um de cada vez.
Primeiro foco, a escola, é indiscutivelmente, muitas vezes por sua
organização interna, por seus sistemas de sanções, pela não integração e
união entre sua equipe docente e administrativa, pelo estilo da autoridade
exercida, mas, sobretudo pela ausência de clareza como encara a questão
disciplinar. Não poucas escolas do país, sobretudo leigas, parecem viver pela
exaltação do “sucesso” de seus alunos, pela “gloria” perversa de aulas que
aplaudem apenas a informação, pelo “êxito” enganoso com que se exibe, tal
como em um quartel, como centro disciplinador e onde descaradamente se
anuncia e promete o autoritarismo que coloca às vezes o aluno nas
faculdades, mas á custa de sua irrecuperável robotização. Prepara seus
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alunos, enfim, para o sucesso, jamais para a felicidade; para a universidade,
jamais para a vida.
Se a escola é assim, é natural que guarde em suas entranhas o câncer
da discórdia, o ódio reprimido pela repressão cretina. Transformar-se-ia em
pouco tempo, se quisesse, ao assumir: a definição clara e cristalizada de
algumas regras disciplinarem estabelecidas democraticamente entre diretores,
professores e alunos; uma Associação de Pais e Mestres que vá além de
arrecadarem fundos e organizar festinhas, mas para ajudar os alunos com
dificuldades cognitivas emocionais, a pais que precisam de orientação e
acompanhamento de professores e outros especialistas que necessitam ser
orientados e descobrirem que existem ombros no qual o apoio jamais é
negado.
Com essa ousadia e disposição, um primeiro foco de incêndio parece
debelar-se. Vai-se então ao encontro de um segundo foco, o professor. Para
este, vale a pena refletir sobre aspectos que nada ter a ver com indisciplina,
mas que sintetizam em sua essência os alicerces nos quais a mesma, muitas
vezes, se apóia como, por exemplo: Como anda a assiduidade e pontualidade
do mestre? Não há fator mais oportuno para o inicio da indisciplina que a
chegada em aula de um professor que a turma pensava que nem vinha mais.
Como a aula foi estruturada? Se a resposta é um discurso mal posicionado,
nada contextualizado, a indisciplina é inevitável. Como é a indisciplina
administrada? Ensinar não é fácil e educar mais difícil ainda; mas não ensina e
não educa quem não define limites, quem se nega a construir
democraticamente as linhas do que é e do que não é permitido. Como a classe
se organiza? O professor que em sua casa arruma sua mesa e quer cada
coisa em seu lugar faz o mesmo em sua sala. Se não o faz, a postura do aluno
e sua organização em classe incitam-o à desordem. Desordem no espaço que
se ocupa ocasiona desordem na cabeça.
Se os dois primeiros focos de incêndio foram, ainda que parcialmente,
dominados, parece que o terceiro, de assustador e terrível, transforma-se em
intenso e preocupante, mas com soluções previsíveis. Estas, porém, devem
ser adotadas antes que o problema se manifeste. São, como se perceberá
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medidas profiláticas que impedem a doença, não remédios milagrosos que
curam o improvável.
É quase certo que os professores conhecem e aplicam muitas delas; a
relação é longa, mas seu objetivo é apenas identificar, entre tantas, quais
ainda não foram incorporadas. Em observações feitas nas salas dos
professores da Escola Municipal Zoraide Almeida, foi percebido que com
certeza, todas essas medidas são praticadas, mas algumas por uns, outras por
outros. Por que ser apenas “meio craque” no controle disciplinar? E quais são
essas medidas?
Olhos nos olhos, o quadro-negro é importante e não existe aula bem
planejada que não o utilize com sabedoria, mas constitui erro primário
“guardar-se ao mesmo” como quem fala apenas para um público distante. A
aula deve ser ministrada com um olhar no quadro e dois nos alunos.
Não deixe o aluno vir a você. Vá até ele, um risco de indisciplina muito
grande é o professor ficar sentado, deixar que os alunos á sua volta o
procurem e, quando se dá conta, com a vista coberta por uma verdadeira
parede humana, percebe que o fogaréu da indisciplina incendiou a todos.
Autoridade sim; autoritarismo nem pensar, o aluno precisa ouvir NÃO e,
muitas vezes, a palavra firme do professor substitui a fragilidade com que as
negações são trabalhadas em família. Não hesite em usar o Não. Uma
excelente maneira de habituar o aluno à disciplina que todos queremos é a
segurança em perceber que no futebol, na casa, na rua, na vida e, é claro, na
escola existem regras e existe a serenidade de quem as relembra e cobra.
Auto-estima e um outro nome para felicidade. O professor é, muitas
vezes, bem mais que o pai ou a mãe, quem melhor pode desenvolvê-la.
Descubra o lado bom do aluno e elogie com moderação. Coloque uma lente de
aumento em seus acertos e descubra o que ninguém vê. Tantas vezes vimos
em crianças com terríveis limitações motoras e lingüísticas a beleza inefável
de uma inteligência espacial ou sonora irradiante.
Conhecimento pessoal dos alunos; conversar com um aluno sobre sua
indisciplina é sempre mais fácil quando é uma conversa de pessoas que se
conhecem, de companheiros em lados diferentes.
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O que dez broncas não constrói, um só conselho edifica; permita que o
aluno perceba que não está sendo advertido, mas ajudado, que dele se solicita
o cumprimento das normas em sala, como no esporte, onde certamente as
cumpre, é uma medida que muitas vezes dá certo e contorna pequenas
chamas do incêndio que se busca evitar.
O quarto e último foco refere-se a família com sua ausência na
participação da vida escolar do filho, tornando-se comprometedor o trabalho do
professor, pois se não há acompanhamento em casa o ensino fica
fragmentado. Sabendo que em casa não tem este acompanhamento preciso, o
aluno em sala se dispersa em brincadeiras e desinteresse pelas normas
disciplinares. Existem casos de alunos que não tem a atenção precisa dos
pais, mas não atrapalham a aula, pelo contrário, dedicam-se em superar seus
desafios com a ajuda do professor. Porém, existem alunos que agem de forma
indisciplinar, mesmo com a ajuda do professor em facilitar sua aprendizagem
com atividades motivadoras.
Em casos como esses, é necessária a escola entrar em contato com
estes familiares através de reuniões periódicas, comunicados por escritos ou
até mesmo com visitas à própria casa. Há, no entanto a falta de tempo do
professor para visitas e até mesmo aquelas famílias que recebem todos esses
comunicados e não comparece a escola.
O ideal é que o professor agende-se para esta visita, pois o ambiente de
trabalho é seu, ou então, suporte sem reclamações. Se a família não se
posicionar diante do filho, a escola deve providenciar medidas de
transferências, já que a constituição deixa bem claro que é dever da escola,
juntamente com a família desempenhar o papel da educação. Se a família
recusa-se em cumprir o seu papel o fracasso será visível na escola ou fora
dela.
Se no inicio do ano letivo o professor conseguir perceber estes quatros
focos que pode causar a indisciplina na sala de aula, conhecê-los de perto e
ser prudente para que não desenvolvam de forma negativa e acima de tudo
desenvolvendo o afeto, com a escola, com os alunos e a família; a indisciplina
na sala de aula não será um desafio a ser superado pelos pais e alunos.
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CONCLUSÃO
O Professor – eis o grande agente do processo educacional. A alma de
qualquer instituição de ensino é o professor. Por mais que se invista em
equipamentos, em laboratórios, bibliotecas, anfiteatros, quadras esportivas,
piscinas, campos de futebol – sem negar a importância de todo esse
instrumental, mas tudo isso não se compara à importância do professor. A
família também tem sua importância na implantação dos limites e regras que
ajudarão na intervenção da indisciplina na sala de aula.
Há quem afirme que o computador irá substituir o professor, que nesta
era, em que a informação chega de muitas maneiras, o professor perderá sua
importância. O computador nunca substituirá o professor. Por mais evoluída
que seja a máquina, por mais que a robótica profetize evoluções fantásticas,
há um dado que não pode ser desconsiderado. A máquina reflete e não é
capaz dar afeto, de passar emoção, de vibrar com a conquista de cada aluno.
Isso é um privilégio humano.
Os temores de que a máquina possa vir a substituir o professor só
atingem aqueles que não tem verdadeiramente a vocação do magistério, os
que são meros informadores desprovidos de emoção. Professor tem luz
própria e caminha com pés próprios. Não é possível que ele pregue a
autonomia sem ser autônomo; que fale de liberdade sem experimentar a
conquista da independência que é o saber; que ele queira que seu aluno seja
disciplinado, feliz sem demonstrar afeto. E para que possa transmitir afeto é
preciso ter afeto, que viva o afeto. Ninguém dá o que não tem. O corpo
transborda quando está cheio; o professor tem que transbordar afeto,
cumplicidade, participação no sucesso, na conquista do seu educando; o
mestre tem de ser o referencial, o líder, o interventor seguro nos momentos de
indisciplina, capaz de auxiliar o aluno em seus sonhos em seus projetos.
Para que um professor desempenhe com maestria a indisciplina na sala
de aula, ele precisa conhecer a família, os temas transversais que devem
perpassar todas elas e, acima de tudo, conhecer o aluno. Tudo o que diz
respeito ao aluno deve ser de interesse do professor. Ninguém ama o que não
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conhece, e o aluno precisa ser amado! E o professor é capaz de fazer isso.
Para quem teve uma formação rígida, é difícil expressar os sentimentos; há
pessoas que não conseguem elogiar, que não conseguem abraçar, que não
conseguem sorrir. O professor tem de quebrar essas barreiras e trabalhar suas
limitações e as dos alunos.
A família teve um local privilegiado nesse contexto. Um meio em que a
convivência deve ser exercida sem máscaras, sem medo da autenticidade, da
sinceridade. Um meio propicio para que a evolução aconteça pelo dialogo,
pela conquista de espaço. A família se transformou em palco de batalha
incessante em que as gerações diferentes vivem em conflitos terríveis. A falta
do atendimento, a falta de atenção, a falta de diálogo. A escola nunca
conseguirá substituir a família. Cada um tem seu espaço e sua
responsabilidade.
Pensar a educação é pensá-la também na escola, e na escola há
pessoas e papeis sendo desempenhados. O aluno, sujeito do processo
educacional, o grande interessado em ter uma escola viva, critica, libertadora.
É preciso que se comece a questionar o tipo de aluno que uma escola quer
formar para que se decidam em conjunto às habilidades que precisam ser
trabalhadas. Se assim não for, será como uma casa sem planta, um
amontoado de gente ajuntando tijolo e cimento sem saber o que fazer.
A habilidade social – o aluno é preparado para quê? Naturalmente um
dos principais objetivos deve ser sua convivência com grupos. O
desenvolvimento da capacidade de trabalhar em um mundo multicultural onde
as diferenças sejam respeitadas. A habilidade social, a capacidade de liderar e
de agir pessoas com problemas diferentes, sonhos diferentes, ideais
diferentes.
A habilidade social é ainda visível na construção de um espírito de
solidariedade. O movimento da doação, da entrega, da participação. Não é
possível viver impunemente em um mundo de incluídos e excluídos. Urge que
novos líderes surjam e tenham a sensibilidade de resgatar a sensibilidade de
resgatar a dignidade humana em todas as suas dimensões.
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O aluno precisa do humano. Em um mundo onde a violência grassa cada
vez mais, onde a agressividade é absolutamente assustadora, a solução não
está em mais agressividade nem em armamentos mais modernos. A solução
está no afeto. Em um mundo onde a criança, o jovem, o idoso é desrespeitado,
onde a liberdade dá lugar á escravidão, onde milhões passam fome e vivem á
mercê da caridade de outros, a solução está no afeto.
Não é possível combater a insensibilidade, o desrespeito, a falta de
solidariedade, a apatia, a não ser pelo afeto.
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saberes do professor. 2. ed. Vozes, 2004.
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Vozes, 2002.
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