a contribuicao da atividade lljdica na...
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PATRIZIA ROSEMARY BORGONOVO
A CONTRIBUICAO DA ATIVIDADE LlJDICA NA INFANCIA
fl;{onografia apresemada aa cursu de PosGraduw;iio em Ps;corerapia Illjal/ii/, dasFoell/dades IJIlegrac/as cia SociedC/deEell/caeianal TlIill/i.
O/"ielllOdora: j\4aria Luiza D 'Avila Pereira
CURITIBA
OUTUBRO 1997
SUMARIO
INTROOU(:,\O ..
I OISCUSSAO ..
. I
. 4
CONCLUSAO 26
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 28
INTRODU<;:AO
Durante todo 0 tempo dcdicaclo ao cstudo cia crianyl:i, no curso de P6s-
Gradua<;:ilo elll Psicoternpia Innmtil. lima prcocupa<;:ao especial semprc csteve prcscnle.
rclacionada a llill dClcl"minado aspcc(Q do "mundinho" cia crianya que na minha opiniao
e 0 que cxiste de mais significalivu para ela, durante a inffmcia: a atividadc llldica.
Scnelo assim, a prescnlC ll1onografia propoc analisar qllal a imporltlllcia cia atividadc
Illdica livre na inffincia. a rela~Jo cia crian~a CUIll 0 hrinqllcdo, C0111 0 jogo. co que eSla
innucncia representa no dcscnvolvimcnto harmonioso do individuo.
Nossa socicdadc atllai tem, C0l110 lima clas caracteristicas mais marcantcs. a
institucionaliza<;:50 dos tempos livrcs. 0 que telll vinda a formar crialleras
inlclccluallllenic fortes, porclll cmocionalmcnlc frageis, Esquece-se t"rcqUcntcmcntc ()
papel essencial da atividade 1(ldin) livre e csponHinca no desenvolvimcnlo moral.
social. intclectual e motor do individllO, Esqucce-se ainda de que as crianyas telll
direito a lima dimensiio nao lIniformizada da vida,
Devido a cst<! sociedadc cad a vez mais compctitiva, que cxigc l1l11nivcl de
forma~ao cada vez 111(.:lhor do scr humano, IllllilOS pais acabam sobrccmregando sellS
filhos com lima serie de atividades extra-curricularcs, Muitas criam;as a!em de estudar.
fazcm vcrdndeirns J11aratonns no periodo "livre", No enlanto, ao invcs de contribuir
com a forllla~ao dos filhos. 1l1uitos pais aeabam prcjuclicando-a, scm perccber.
Tem crescido Illuito 0 nllmcro de crianyas que procuram atendimcnto
psicol6gico devido il problcmns como 0 sO'ess provocado pclo exccsso de atividades
extra curriculares, Ao eonlrario do que se pens a, muitos delas aprescnlam 11111queda no
rcndimcnlo cscolar. porquc em alguns casos nan lu\ tempo suficientc para que elas
possum clcseansar e brincar. 0 que e fundamental para 0 bom dcscnvolvimcnlo cia
crianya,
Outra caraclcrislica da nossa sociedade moderna e a modi nca~ao c a
sllbstitui~ao dos hilbitos Illdicos. pelas imagens televisivas c as alracI1lcs jogos
cletronicos. Atualmente as crianrras. gaslam mais tempo em frcnte a lima TV do que
cm qualquer outm atividade. As multinacionais ligadas ao divertimento in/anti!. tcm
vindo a inventar os mais diversos processos de "marketing" nesse ncg6cio do seculo. A
crianya adola os super-hcr6is (impostos pcla midia) nos jogos de imitarrao.
substituindo-os em relayfio a lima diversidade de temilS traclicionais sobre 0 jogo.
o problemas reside no fato de que a idadc em que a crian~a passa mais
tempo ncstas atividades cstruturadas e POllCOinterativas, C aquela em que ela mais
necessitaria expandir sua imaginayao e corporalielade de forma ativa c em silua~ao de
corpo livrc. cle aventura, com 0 meio natural c em experiencias C0111os amigos. A
atividade IIsica e Itlelica e uma nec.:essidadc urgclltc para as crian<;as do nosso tempo. t\
conseqlicncia clesta {alta C 0 sedcntarismo. a fragilidadc, a inadaptayao 11101orac a falta
clesociabilidade.
Dc qualquer ('orma as crian~as gostam e teill prazcr em jogar neslc
cnvolvilllento eletr6nico. Nao podelllos negar talllbelll que ccrtas habilidades
pcrceptivas e cognitivas sao desenvolviclas. t\ lllo1ivflyaOinLrinseca c elevada atraves
da moda e inllucncias cia midia. Sao pOllcas Oll quasc intlleis as eslrategias para lutar
contra a "indllstria" do jogo. As vantagcns e os inconvenicntes de tais h1ibilos Illdicos
nas crianyas, necessitam SCI'esclarecidos pOl' profissionais da (lI'ca de cduci.l<;ao. de
sallde. c ,ircas arins. t\ TV c osjogos elclronicos aprescnlam-se como ratores altamentc
innucneiadorcs do jogo simb6lico da crian<;a, c, ao mcsmo tempo comO uma barreira
dOlllinantc do jogo livrc.
Frente a cst a realidadc atual, este lrabalho prelendc ainda. leva!"os leitores a
lUll rcpensar sobre 0 papel quc nos adultos desempenhamos n<l cultura ltltliea das
crian<;as. qual 0 lugar. 0 valor e 0 significado que damos ao brinc<1r.e ainda. cle que
lonna os jogos. os passatempos e a l11ancirade viver atua!' depoe contra 0 verdadeiro
sentido do brincar.
ESle rcpensar c. quem sabe. <ISl11udall9as de Hlilude que poderao surgir.
devcl11scr f'undamcnradas na comprecnsao de qlle a atividade Illdica C lima alividade
essencial para 11 crian\=a. viSIO qlle ao brinear. cia senlc alivio. pois. atravcs da
capacidadc de simboliza<;ao. desloca sua rcalidade para 0 brincar. extcriorizando sells
mctlos anglislias e f<lntasias. projelando sells conllilos nos brinqucdos. ESla e lima das
principais rum;:6cs do brinquedo, dentrc outras que serao melhor cxploradas no
dccorrcr do trabalho.
I DISCUSSAO
o brillqucdo posslii Illuitas das caraclerislicas dos objet os reais. mas pela
sell (amanha. pela nuo de que a crianpi exerce dominio sabre clc. pois 0 adulto
olilorga-Ihc a qualidade de algo proprio c pcrmitido, transforma-se no instrulllcnto para
o dominio de situn(,:ocs pcnosas. dificeis. trauJ11aticas, que sc cngcnciram na re1aI(Jo
com as objctos fcais. A[em e1issa. 0 brinqucdo c substituivel e permilc que a criarl\a
repiia. it vontadc silum;ocs prazenteiras e dolorosas que. cntrclanlo. cia por si mesilla
nao pode reproduzir no munclo real.
Sigmund Frcud, foi () primciro a estudar 0 mccanislllo psicol6gico do
brincar. quando interprCloLl 0 brinqucdo de lima crianya de 18 Illcses.
o mcnino razia aparcccr c dcsaparecer lim carretel, Icntando assim dominar
suas angllslias li'cnlc ao aparecimcnlo c dcsaparccimento da mac. Mostrou como. ao
brincar. podia separar-sc dela scm 0 perigo de perde-Ia, jit que 0 carretel voltava
quando ele assim 0 dcscjassc. Estc jogo permitia-Ihc tlcscarrcgar fantasias agrcssivas e
de amor a mac scm ncnhlllll risco, ja que elc era dono absoluto da situa~ao. Esta
mividade Ihe pcrmitia claborar suas angllstias ante as sitllayocs dc scpara~ao impostas
pela realidade. inevitaveis. para clc.
A observa~ao do brinquedo clCtuada por Freud. continua ate hoje a ser UIll
modelo. pon!111 hojc sabc-sc que 0 brinqucdo de sc cseonder surge Illuito mais cedo. 0
brinquedo cle sc cscondcr. apareeer c dcsaparccer ou cle Cazcr aparcccr e clesaparcccr
objctos. como 0 do len~ol. aparecc entre os 4 c 6 Illeses c corrcsponde a motivos
psicologicos profundos. como par exemplo a elaborayao de scntimentos de perda c
scparayuo de pessoas significalivas. Neste momcnto do descnvolvimcnto 0 bebe
atravessa lima clapa denolllinacia "posi~ao depressiva", na qual tcnta elaborar a
neccssidade cle sc dcsprender da rclayao lmica com a mae para poder passar para a
rehu;:ao com 0 pai: dcsse modo. se cstabclccc a triade mae-pai-lilho. que e a basc das
futuras rcla<;:6cs do individuo com 0 mundo.
Dcsprcnelcr-se cia relayuo llllica com a mae e oricntar-sc para 0 pai. abrc ('1
crianya 0 caminho ele interesses I11ldtiplos no Illundo exterior c Ihe pcrl11ite 1(}fInar
la~os com pessoas C objclos cada vez mais variados c nUl1lerosos. Estas novas rela(foes
e lOeins as silllac;ocs de mlielan~<J. dcspenam ansiedadc e. de diversos modos. 0
brinqucdo olCrccc n possibilidade de clabor<i-Ias.
A tecnica criada por Melanie KLEIN baseia-se na Lltilizac;ao do jogo e
continua as investigac;ocs de Freud. Pcnsa que a crian<;:a ao brint.:ar vencc realidadcs
dolorosas c domina medos instintivos. projetando-os ao exterior. no brinqucdos. Este
mecanislllo c possivcl porque muito cedo tem a capacidadc de simbolizar.
Dais principios bi.isicos cia Psican<ilise. estabelecidos por Sigmund Freud.
citado par Melanic KLEIN, sao fundamentais: que a invcstigm;ao do inconscientc c a
principal tnref'a do m6todo psicana1itico c quc a analise da translcrcncia e 0 meio para
se alcanc;ar csse objetivo. Outro principio t"undamental. a associa~ao livre. lambcm
orienta a tccnic,1 psicanalilica atravcs do brinqucdo, muito bem explorado pOl' Mclanit.:
KLEIN que criou a tccnica ludica na i.lJl<i1isc dc crianyas, Oll scja. 0 uso do brincar
como a forma cia cOlTIunicayao substituta cia verbalizi.lyao do adulto. Nessa \(~cl1ica, sao
interpretados nao s6 as palavras cia criaI1Yi:l. mas tambem suas aliviclacles com os
brinqucclos (cle rata. todo 0 seu comporlamcnto) pois estes sao meios de exprcssar 0
que 0 adulto manircsta predominanlclllcntc pOl' palavms.
Dc acordo com <1lcoria Kleiniana, "<1 simboliza(fao C 0 proccsso psiquico
mais signil-icativo para sc dcscobrir 0 senlido oculto do brint:ar" 0 simbolisl11o
<.:apacita a crianc;:n trans/erir sells intcrcsscs, <1nsieclades, f~lIltasias e culpas. para mItros
objetos. alclll de pcssoas. Assim ela senle ai[vio ao brincar. Estc c lll11 dos fatores que
lOrna a alividadc Illdica laO essencial para a crianc;:a.
Assilll. as crianl;:as que tem lima grande inibh;:no da capaddadc de formar c
lIsar simbolos. c descnvolver a vida de fantasia. aprcsentam sinais de perturba\focs
psiquicas.
A anillise de crian~as atravcs cia atividadc Illdica e imponante que seja
rcalizacla CIll UIll local proprio para isso. nao na casa cia crialH;:a. como nos cxplica
Melanie KLEIN:
...Illais imporl<lllle ainda. constatei que a situm;iio de transrcrcm::ia - a espinha dorsal doproecsso psicanalistico - pode arenas se estabcleccr c se manter se 0 paciellte c capaz desentir que 0 consultorio OLia srlla de brinqLlcdos. na verda de. toda a amilise. e algoseparado de Sll<lvida domestica corrente. Pois 56 nest as condi\j:ocs pode superar Sllasresistencias COlllnl experimentar e expressar pensamClltos. sentimcntos c desejos. que saoillcompativcis com a cOl1vcn\j:lioe. no casu das criam,:as. selllidas em contrastc com lll11itodo que se Ihes cnsinoll. (KLEIN. 1980. p. 29).
A atividaele Illdica durante lima analise pode demonstrar tendencias
deslrUlivas qllc sotllcnlC se expressam por mcios sil11b6licos. COIllOno caso de Peter,
relatado por Melanie KLEIN, a qual interpretou 0 dlclllOfeilo ao boneco como
represci1lando ataques 1.10irmao. que cle nao f"aria isso a seu irmao "real " apenas 0
faria ao irmao de --brinqucdo"(era cvidclllC quc era rcalmcme 0 irmao quc cle desejava
atacar). A imponflllcia que Melanic KI.UN alribuiu ao simbolismo. leva-a a
cOllclusocs Icoricas sobrc 0 processo de lormal;:ao simb6lica: ·' ...A analise alravcs do
brinqucdo moslrou qlle 0 simbolislllo habilitava a crianya transferir n[io s6 intercsses.
mas tambem !~lI1tasias. ansiedades c culpa para outros objctos, al6m de
pessoas. ·(KLEIN. 1980. p. 45).
A maior compreensao dos cSlagios mais primilivos de dcscrwolvimento. do
pape! das fantasias, das ansiedades c das dcfesas na vida emocional da crian~a.
contribui talllbem na an{liise de adultos. Nao que a lccnica lIlilizada com crian~as seja
identic" II de aproxillla~ao nos aell/hos, po is e de grande imporuincia levar em
considcra~ao 0 ego adulto, assim nos explica Melanie KLEIN:
Foi sClllprc urn principio da Psicllnalise que 0 inconscicnte. quc sc origina nil menteinrantil. tern que ser explorado no adliito. Minha cxpcricncia COI11criam,:as me conduLia11111ito mais prorundamentc nessa dire~ao do que anleriormcnte sc admilia, e issocondllziu a tecnica que tornOIl possivcl 0 accsso a eslas camadas. EIll particular. minhatccnica alr:lves do brinquedo mc ajudou aver qW1.1 0 malerial que tm dado mom en to.
apresentava maior urgencia de interpreta(,:ao e 0 modo em qlle seria mais facilmenleIransmilida an paciente: e parte desle conhecimento pu(k aplicar ~ amilise de ndultos"(KLEIN. 1980. p. 47)
J\rmindu ABERASTURY. em 'Psicanitlise de Crian~as', relata varios casas
que dcmonstram como ° brinqucdo, ou 0 jogo. pennite it crian<;a veneer 0 medo aos
pcrigos internos: sendo uma prova do mundo real. C: uma "ponte entre a hmtasia e u
realidade"
Estes deslocamenlOS das situayoes internas ao mUllelo externo aumenta a importftllcia dosobjetos rea is. que. se em lim principio eram fonle de odio. prodlltos da projcyao dosimpll1sos deslrulivos, com 0 jogo. c tambcm por cle, sc transfonn<llll elll tlill rcfllgioconlra a ansicdadc. scntimcllto sllrgido pclo meSlTlO6dio. (;\BERASTURY, 1992. p. 48).
Ela Olindae.\plica que 0 jogo nao suprime, mas canaliza tendcncias, por isso
a crian~a que brinca reprime menos quc a quc tern dificuldacics na sitllboliza~ao e
dramatiza<;ao dos conflitos atravc:s dcsta atividadc.
Para Anninda ABERASTURY a tecnica de jogo aplicada 1.10tralamento e
diagn6stico n50 e.\clui a L1tiliza~aoe a interpreta~ao de sonhos, de sonhos diurtlos c de
dcscnhos. mas como ela pr6prio observou: :.... oterecendo a crian<;a a possibilidade de
c.\prcssar-se brineando. scnelo intcrprctaelo adcquadamentc sell jogo. cIa sonhar<1pOlleo
ou n50 sonhar{t; 0 IlleSillO afirmaria. com Illcnos enfasc, com rcla~ao ao desenho"
(ABERASTURY. 1992. p. 49).
Mclanie Klein eitada por Arminda ABERASTURY tambem diseUle a
rela~ao entre os brinquedos e os sonhos:
"a criallya e.\pressa suas fantasias, dcsejos e experiencias de tllll modo simbGlico pOl'meio de sellS brinqucdos e jogos. Ao faze-lo. uliliz:a os Illesmos meios de expressi'ioarcaico-lilogencticos. a mesma linguagem que IIOS C familiar em sOllhos. ParaeOlllpreender eOlllplelamenle esta linguagelll lemos que nos aproximar a ela como Freudnos cnsillOU a aproximar-nos it lingllagcm elos sonhos. 0 simbolismo c 56 llma partedesla linguagcm. Se dcsejamos comprcelldcr corretarncntc 0 jogo de crianyas cm rclayaoit sua conduta total durante a hora de an[l1isc, devemos nao so decifrar 0 significado decada simbolo pOl' separado. embora possam ser claros. mas lambem tel' em eonsiderar,:aoos meeanismos e form as de represenlar usados pelo trabalho onirico. sem perder de vistajamais a rela-;,10 de cada 1:1torcom a situa~,10 tolal" (ABERASTURY. 1992. p. 52)
Arminda afirma, baseada em suas observa90es que. se as crianps jogam 0
sufieiente e no devido tempo, adaptalll-se progressivamente it realidade. Cada etapa do
dcscnvolvimcnlo cxige dctcrminados jogos que devem SCI" compreendidos C
possibilitados para na~ delercm a evoluyao normal.
o estuclo mais completo sobre a evoluyuo do jogo ni:! (.;rianya e de alltoria de
Jean ]}IAClCTquc verilieoll estc impulso ItldieD j:t nos primciros mcses de vida do
bebe. na forma do chamado: jogo dc cxercicio scns6rio-molOr. do segundo ao sexto
ana de vida predomina sob a forma dc jogo simb6lico. e a ranir de sete anos.
mani festa-se au'aves do jago de regras.
I.eonor RIZZI e Regina CClia HAYDT em sell livro 'Alividadcs Itldicas na
educayao da crianya·. 1994, explicam 0 que caractcriza cada I'CmnCl b{lsica de atividadc
Itldica que caractcrizam a evoluyao do jogo na crianya: de acordo COIll 11 1:lsc do
desenvolvimcnlo em que apareccm: jogo de cxcrcicio sensorio-motor jogo simbolico c
o jogo de regras.
!\ forma que mais nos intcrcssa no presente trabalho 0 0 jogo simbolico e
senelo assilll. scr.-lmais cxplorado,
.1 lOGO DE EXERCiCiO SENS6RJO-MOTOR
E elos primciros exercicio motures que surge a atividade ltldica. !\ fillalidadc
clesta atividade C apenas 0 proprio prazcr de fUllcionamento. PIAGET cli7.que "quase
todos as csquellli.ls scns6rio-Illotores dao lugar a um exercicio Itldko··.
Estes e:xercicios sao repctic;<)cs de gcstos e movimentos simples. com lim
valor cxploratorio. pois a crianc;a 0 utiliza para cxplorar e exercitar os lllovimcnlOs do
proprio eorpo ou para vcr 0 cfeito que sua ac;.iov<liproduzir.
Apesar de estes exercicios sensorio-matures rcpresentarcm a torma inicial
do jogo na crianya. clcs nfio cstao presclltcs apenas nos primeiros anos de vida cia
crianya. podcndo rcaparecer durante toda a infancia e mCSITIO no adulto. scmprc que
lima nova capacidade Ollpoder. sao adquiridos.
9
1.2 .lOGO SIMJ30LlCO
Esta forma de jogo manitcsla-sc entre dois c scis anos de idade e inclui
l<lmbcJ11 <llcm do jogo de fic<;ao. imagina<;ao c dc imila<;ao. a mcta111orfose de objctos c
o dcscmpcnho de papcis. 0 jogo simb61ico descnvolvc-sc a partir dos esqucm<ls
scnsorio-IllolOrcs que. it media que sao inleriorizados. dao origem it imita<;5.o. e
poslcriormc:.;ntc. il rcprcscnta.;:ao.
Dc ,.!Cordocom Piaget. citado por Lcollor RI7.ZI c Regina Celia HA YDT. a
1ll11~iio ciesla forma de atividadc ludica c de satisf":lzcr 0 eu, por Illcio de uilla
Iransiormac,:ao do rcal CIll fi.lIlyao dos desejos: a crianc,:a que brinca de boneca reraz sua
propria vida. corrigindo-a ,\ sua mancira. c revive LOcios os prazeres ou conl1ilos.
rcsolvendo-os. compcnsando-os. Oll scja. complelanclo a realidadc atravcs cle fic<;ao.
Portanto a fun<;ao deste jogo c assimilar a rcalidade. seja atraves da
liquida~Jo de eonllitos. cia compensa-rJo de necessidades nao smisicilas. Oll ela simples
invcrsao de papeis (principalmentc os papeis de obediencia c autoridaelc).
o lranspone aDmunelo do faz-de-conta possibilita ;"1 crian~a a realizayao de
sonhos c nll1lasia5. revela conOil05 interiorL's. mcdos e angll5tias. aliviando a tcnsao e
as rruslra~6cs. AICm do jogo simbalieo SCI'uma iormt.l de aS5il11ila<;:<lodo real. C lUll
meio de auto-exprcssao. pais uo brinear de easinha. rcprcscntando papeis de pai e mfie.
professor c aillno, a erian<;:acsta cri'lildo novas cenas e imilando situac;oes reai5 por cIa
vivcnciadas.
1\ criallya tcnde a rcproduzir ncstes jogus os eomponamentos dos adultos
que a ccream. manifcstando 0 tipo de lratal11cnto que recebc. eomo pOI" cxemplo a
mcnina que brincanclo de casinha. grita com a boncca. cla-Ihe ordcns c castigos e sendo
assim. alravcs cieSlacondUla Illdica que a crianya exprcssa c integra as experiencias j<i
vividas.
10
I J .lOGO Dr: REC;RJ\S
Eslc jogo dcscnvolvc-sc dos sctc aDs doze anos, preclominancio durante loda
a vida do individuo (xadrcz. cart as. clc.). Os jogos de regras sao jogos de combina<;:6es
sens6rio-motores ou intelectuais ern que h<'1 compcti<;50 dos individuos e
rcgulamcntacios por Lim c6digo transmitido de gcrac;ao elll gcra<;ao OLi por acordos
momentaneos.
o juga dc rcgras C c<lmctcrizado pelo t~ltO de scr regulamentado par mcio de
leis. I~ lima cOllelula llidica que supoc rclac;ocs sociais Oll interindividuais. 0 jogo na
crian<;a. iniciaimcnte cgoccntrico c cspont<1nco. lorna-se cada vez mnis uma atividacle
social, na qual as rclac;ocs intcrindividuais s50 tlllldamentais.
Alguns dus grandcs cducadorcs do passado ja salientavam 0 valor do jogo.
como ROSSCLI. Pestalozzi c Trochel que atirmava que 0 trabalho manual, os jogos c os
brinqucclos infant is tinham uma fun<;:50 educativa bilsica: c atravcs clos jogos e
brinquedos que a criany<l adquirc a primcira representa<;:<1o do munelo c. c pur !l1cio
cleles. tambem. que ela penetra no l1lundo das rclayoes sociais, desenvolvendo em
senso tle iniciativa c auxilio mLltLlO.
Brincando e jogando, a nianya aplica seus esquemas menlais a realidacle
que a ccrca. apreendenclo-a e assimjlando-a. "Brincando c jogando, a crianya reproduz
as suas vivcncias, transformando 0 real de acorJo com scus desejos c interesses. Por
isso. pode-sc dizer que, at raves do brinqucdo e do jogo a crianyi.l cxprcssa. assimila e
eonslr6i a sua realidadc··. (RIZZI; HA YDT, 1994. p. 15).
Jogar e uma atividade natural do ser humano. Ao brinear e jogar a crianya
fica laO envolvida com 0 que estit fazendo que eoloea na ay80 sellS sentimentos e
emoyoes. E at raves do jogo que a crianya reproduz e reeria °mcio circundante:
Segunclo Melanie KLEIN, 0 jogo, ocupa IHl analise cia crianya. 0 meSillO
lugar que 0 sonho na anidisc do adulto. Como 0 sonho, 0 jogo possibilita Uilla
satisfayao substitu!a dos desejos, mas seu papel nao para por ai:
... gra(j:as aos I11ccanis1llos dc clivagel11 e de proje(j:ao. 0 jogo pcnnilc aliviar. porinlcrl11cdio da personificayao, a carga de angllslia sliscilaua pclo conflito intrapsiquico,
IIque trma-sc de lllll cOl1l1ilo Clllrc dUils illWgCIlS illicriorizadas clivadas (seio bOIll - seiomall). que!" de lim contlito entre dois niveis de rel(j(;~o interiorizados (illlagens-pre-genitais c imagcns cdipianas). (AJURIGUERRA: MARCELLI. 1991. p. 171).
A projcy<lo destes conllitos e cia angustia que os acompanha subre a
rcalid<ldc exterior representada no jogo possibilita. ao meslllo tempo. L11ll melhor
dominio ciesla realidade e um apaziguamento cia angustia interna. Deste modo 0 jogo
trans/orma a angLlstia da crianya normal, em prazer.
A tendencia de lima crian<;a muito pequcna e satisfllzcr sellS dcscjos
imcciialamcnle; normaimcnle. 0 intervalo enlre 0 dcscjo c sua satisfay3.o e curto. Na
idade prc-escolar. enlretanto. surge uma grande quantidade cle tendcnci<ls e ciesejos
impossiveis de serem realizados de imediato. Segundo VYGOTSKY, em seu livro 'A
formac;ao social da mcnte'. 1991. se as necessidades nao realizaveis imediatamcnte nao
se desenvolvessem durante os anos escolares. nao existiriam os brinquecios, uma vez
que eles parecem ser inventados justamente quando as crianc;as comec;am a
expcrimcntar tenelencias irrealiz{lVeis. Para resolver esta tensao, a crianya em idaelc
pre-escolar envolve-se nUIll Illundo ilus6rio e imaginatorio. on de os desejos n50
realidlveis, podelll ser realizados, c esse mundo e 0 que ehamamos de brinquedo.
Quando a realidade n50 e sempre propicia para permitir-Ihe experimentar
sells eli fcrelltes personagcns, a crianc;a refugiar-se-a no imaginat6rio e criar{1 assim lllll
universo f~lI1t,istico que nao sedl nitid<llllente diferenciado do Illundo material. que
conserva Ulll carateI' l11<.igico. A organizac;fio percept iva da crianya de tres an os crudimcntar c impr6pria para pcrccbcr as rc]ay()cs rcais dos objctos. tanto no plano do
cspa(,:o quanta do tcmpo.
Os jogos funcionais, ate agora, lornaralll posslvel <.\ crianya confrontar-se
com 0 mundo dos objetos, permitinelo-lhe a aquisiC;ao de numerosas praxias e
desenvolvendo a (unyao de ajuslamento. A cmcrgencia cia fUl1yao cle intcriorizac;ao.
que e paralela ao n'lpicio dcsenvolvimento cia func;:ao simbolica, vai passar alClll do jogo
funcional ao jogo simb6lico, vercladeira atividade projctiva propria para eriar lim
universo m{lgico onde 0 real C 0 imagimirio, se misturalll.
12
Para Lcylanchc c Pontalis. cill.ldos pOI' LE I30ULCII. 0 jogo simb61ico c a
atualiza<;ao do Illlltasma. Satisf1H;ao do dcscjo. 0 jogo. como () f'antasm3 que ele
exprcssa. tem por motivD. lim dcscjo insatisreito buscando sua rcalizac;:ao parcial. Mas
o jogo nao C alucina-;:ao. pOl"que ell: se ins<.:re nas coordcnadas do cspa<;o c do tempo as
quais a crian<;a. quando brinca csta conJrontada, seja a realidade do objeto. seja a
prcscn<;a de Dutra pesso£!.
Au"aves do jogo simb{)lico. 0 ego cia crianc;:a torna-sc ··ell". ista c. d;:i-se a
possibilidaclc nao 56 de cxistir no imaginario, scnao durante uma cxpericncia real no
momento elll que a rcalidadc interior e a rcalidadc exterior estao ainda mal
discriminadas. I,ogo que a adcqua9JO sc realiza naquiio que cst a projewdo e
eorrespondc it verdade do pereebido, a crianya passad de um universo Il1cigico ao
mundo organizado real. 0 jogo simb61ico pode transl'orlllar 0 organismo cia criany<l na
lllcdida. elll que, agindo nllrn mllndo ill1agin~\I'io, cia possa satisfazcr loelos sells descjos
e sail' lriunfanle da realidaele penosa.
Na rcla~ao cia crianya t:orn a mac. esta. de acordo com Joseph. LEI F:
... ao dar 0 brinqucdo. aceila que a criam;a Ihe escape. E verdadc que sua cOllduta cambigua: cia se di, C 5C reIira, mas. c.xprimindo pcla d:idiva do brinqucdo scu dcsejo deprescnp COIlSlnlltCjUlllo a crianp cia confirma que a aulonoillia desla C possivel fora daprcselH,:a materna. Ao dar 0 brinqucdo. ao pcnnilir 0 jugo. cia afinna que c substiluivcL(LEII'. 1975.p. 69).
"0 primciro dcslocamcnto hist6rico", diz Philippe GUTTON. "Illz~se cia
mac para 0 brinqlledo, substituto materno. 0 deslocamento constitui 0 proprio
runciamClllo cia possibiliclade de uma fUIl~ao llldica'" Contucio. nao C 0 brinqucdo quc
eria este dcslocamcnto. t 0 desejo de dcslocamcnto que chama 0 brinqucdo. 0 qual
inicia 0 jogo.
No periodo de qualro a oito meses, ainda segundo Philippe GUTTON. podc
tratar~sc de prc-ludislllo. detinido-se () prc-brinquedo "par sua significay30 de
substitllto matcrno". com a condh;ao de que essa substitlli~ao. Illolllcnlanca. possa scr
rcassegurada, rcativada pOI' rctornos rcgulares da preSCIly3 materna, tal como {'oi
ateslado pclas obscrvayoes de estudiosos como SPITZ. Jeanne Aubry, Paymond Kahn
13
c tantos Qutros quanto aos cleitos desastrosos da "carencia aldiva" sabre 0
descllvolvimcnto cia crian<;a.
No c1ccorrer dcs\c periotlo de qualro a oito mcscs, a crian<;a torna-sc pOlleo a
pOlleD. capaz de sat isInzer sell dcsejo de lim modo I~mtasista. pela lllal1ipllla~ao. Oll
pela visao dc um ccrto numcro de objclos que poderiam SCI' chamados cle "pre-
brinquedos". como se 0 deslocamcnto se fizcsse progressivamcllte do rosto viSla aD
roslo familiar. c depois aos objctos do mcio circundante. el11 llll1Clcorrclayuo
permanenlc das zonas cr6gcnas orais. ctltancas. proprioccptivas, vislIais C <luditivas. 0
joga aparecc como atividadc privilcgiacla cia crian<;a elll vigilia: quando a crian<;a
intcrrompc 0 jogo, gcralmcntc adormccc, entrando no munclo f'antasti<.:oque C 0 do
sonl1o.
o dcsejo dc dcslocamcnto aparcce desclc 0 tercciro meso com a resposla ao
son'iso:... 0 roslo IIlI111ano.prc-objclo. proVO':,1a prilllt:ira atividadc do tipo prc-Illdico: 0 jogo dosorriso rcllctimlo 0 prazcr oral evocado pela Gestalt do roslo hU111ano.J,i observatnos queas c6ticas idiop(llicas do prirneiro lrimcslrc. acalrnadas peta chupcta. dcsapareccmcspOlilancamClllC quando do surgilllcnlo do sorriso. no tcn:ciro Illes: ncsle cSlagio. 0rOSlo hUlllano parecc scr 0 prc-brinqucdo privilcgiado. (LEIF. 1978. p. 70)
Joseph I.EIF, prop6e 11tcoria de que "0 jogo tin crialH;a c a forma innll1til de
capacidade l1uman3 de experimentaL criando silUa~6cs - modelo e dc dominar a
realidadc. cxperimcntantio c prcvcndo" (LElF. 1978. p. 73). Para dcscrev<.:ra evoiuy<lo
do jogo da crian<;a. Erikson citado pOl' Joseph LEIF. alirma: "Durante Illuito (e1110. 0
jogo solitario penllanc<.:c lUll rel"llgio indispcns,ivcl para se refazcr das cmococs no
mUlldo agitado cia socicdadc"" Contudo. se 0 impcrialismo dos outros viola esse
refllgio inf~lIltil. cntao s6 rcsta entrincheirar-sc na allto-estera: a erian~a sonha
acordada. chupa 0 dedo. maslUrba-sc. E justamcnte pOt"quc 0 brinqllcdo ihc pcnnitc
illlitar a palencia que a crian~a suporta sua impotcncia e pode dispor-se a ultrapass;:i-Ia.
dcscnvolvcndo-sc.
Se a crianya nao jogo como respira, se por muiLOtempo Ihe c proibido jogar.
cia cleixa de respirar. iSlOC. de viver e se desenvolver.
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Segundo ABFRASTURY. 1.10brilH:ar. a crian~a dcsloca para 0 exterior sells
medos. angllstias e problemas intcrnos. dominando-os por mcio de [1(;50. Rcpcte no
brillqucdo todas as situa.;.:oescxccssivas para sell ego fraeo c isto Ihe permilc. devido
ao dominic sobre os objctos cxlcrnos a scu alcancc. lornar alivo aquilo que soli"ell
passivamcmc. J11oc!il'kar 11m linal que.; 1he roi pcnoso, Iclerar papcis c situa~6cs que
seriam problemas na vida real lanto inlcrna como cxlcrnamcnte c talllbcll1 repctir ,1
vontadc situil\=oes prazcrosas.
lodos aqllclcs brinqucclos que. peJa simplkidade. facilitam a projcvao de
fantasias. sao os que 1elll mais possibilidades de ajud{I-la na fun~ao cspccillca do
brinqucdo. que e a de claboral" as Silll<'H,:OCslraumaLicas.
o enfrcntar lima situac;ao traUlm'ttica, a crianya pode imagimi-la, pensar
nda, percleI' 0 sono, SCI' presa de pavores e ate dcscnvolver LIma lobin, porclll n£io
poderia condicional' essa nova silUac;ao no Illundo extcrno. Pode. iSIO sim. rcpclir
11l1litas vczcs cst a expericncia . .iit que 0 psiquismo disp6c de uma capacidade
denolllinacla "compuls£io it repctiyao" que impcle 0 inclividuo a rcproduzir situac;oes
nao claboradas e a levei·las cada vcz mais it consciencia. Pur cxcmplo. os cililnes
dcspcnados pclo nascimenLo de llill i!'mao podem SCI' exprcssados atravcs do brinqlledo
porque estes personificam os objctos reais e p{)rquc a a9ao sobre cles pode realizar-se
selll a angllslia c sem a culpa que sobrcviriam se a dcscarga de scntimcntos agressivos
C cillmcntos recaissclll sobre objetos rcais. A crianc;a alclll de rejeilar 0 irmao, a mac C
o pai, Ii1mbCIll os ama, necessita ddcs e quer conscrv::'l-Ios. "A cnnalizac;ao de afetos e
conflitos para objetos que cia domina c que sao subSlituiveis cumprc a necessidaclc de
dcscarga e de elaborac;ao. SCIll pOl' Cill perigo a relac;ao com seus objctos originitrios."
(ABERASTURY. 1992.p. 16).
Com {) crcscilllcnto. surgcm novos interesscs, novas situaC;6es de ll1udanc;a C
os brinqucdos se ll1odilicHm. A substiluic;ao do objelo origiTHlrio. cuja perda e tell1ida e
lamcntada. pOI' OUlros mais numerosos e sllbslitlliveis. a distribllit;ao de senti men Los de
percla atravcs da expcricncia de perda c rccllpcrm;:ao, tal como obscrvou Freud ao
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analisar 0 brinqucdo do carretc!' constitllcl11 as bases cia atividadc Illclica c a capacidade
de transferir afelos para 0 mUllcio externo.
Atraves do mecanis!11o de identificavao projetiva. as crianyas fazem
transfcrcncias posilivas e negativas para os objetos confonne estes excitcm ou aliviclll
sua ansiedade e este mecanismo e a base de tada sua reiayJo com os objetos
origin<lrios. Atravcs clas pcrsonilic3yOeS no brinqucclo, observa-sc como 0 objcto podc
Illodificar-sc. com rapidcz, de bom para mall, de aliaclo para inimigo. Por iSla. 0
brinqucdo infantil, quando normal, progridc conSlantcmcnll.: para idcntilica~6cs l:ada
vcz mais aproximadas cia realiclaclc.
o primeiro passo cia aplicar;ao dos conceitos sabre 0 significado do
brinquedo foi a aplica<;ao da atividade ILldica it terapeutica. Freud proporcionou as
bas<.:s cia lccni<.:a do brinqucdo, postcrionn<.:ntc dcscnvolvida pOl' Melanie KLEI N CpOI'
Ulll grupo numeroso de psicanalistas de crian~as que apiic<lram a tccnica d<.:Mdanic
KLEIN com algllmas moclificw:;oes. Por mcio cia ativiclacle ILlcliea. a crianya expressa
sellS conl1itos e. deste modo, podcmos reconstruir sell passaclo, assim como no aclulto
Elzcmo-lo atravcs das palavras. Esta C LIma prova con vincente cle que 0 brinquedo eLIma das fonn<ls de cxpressar os contlitos passados e presentes. Um pas so mllito
importante f'oi 0 de utilizar a observa~ao de horas de brinqllcdo para 0 diagn6stico das
enfcrmidades e assim chegalllos it conclusao de que. na primeira hora_ lima crian<;a
mosll'a nao sOl11ente a fantasia inconscicntc de Slla enferllliciade. como em l11uitos
casos, a f~llltasia inconscicnte de sua cura. Fsta e outra prova das re1ayoes entre 0
dcscnvolvimento cmocionaL a nonnalidade do desenvoivimenlO e a atividade ILldica.
--0 jogo C LIma atividade plena de senticlo e sua flll1~ao c a de elaborar as
situa<;6cs cxccssiva para 0 ego - trmum'nicas - cllmprindo ullla fun<;ao catartica e de
assimila<;ao por meio da repetiyao dos fatos cotidianos e das trocas de papeis, por
cxcmp!o. f~IZClldo alivo 0 que ['oi soft-ido passivamente.-- (ABERASTUR Y, 1992_ p_
49).
16
Quando 0 l11enino, cSludado por rREUD, jit citado. brincava de fazer
aparcccr c desaparcccr seu carrete!' tcnlava vencer a angllstia qlle lhe causava 0
abandana cia mi'il:. Outro menino. cle menos de dais anos. que havia lido lim
irmaozinho nos elias que antecedcram 0 Natal. brilH:Oll. durante hums. de afogar.
dcstruir e aniquilar 0 mcnillo Jeslis. para depois salv{I-lo e rest<.luf,i-Io.descarregando
assim sells afctos cOillradit6rios c tcntando adaptar-se it situac;ao.
E freqUcntc que LIma crianc;a que sofrell a cxperiencia pc nasa de L1llla
opcnu;:ao. a elabora com lim joga. no qual aulro, lim boncco. padece. cnquanto cIa
assume 0 rapel dc drurgiao. As crianc;as que tem diliculdadcs no colCgio. coslumam
brincar de escola. tomanda 0 papc! de proressorcs scvcros. que castigam c repreendcm
as crian~as que scmprc sc cnganam e nao aprendem.
Brinear de csconder, por cxcl11pio, tem 0 significado de tranqUilizar-se da
possivel dcstrtli~J.o Oll dcsaparcl.:imenlO dos quI.: sc ama e C 0 prirm:iro jogo que
obscrvamos no bebe.
Durante 0 Iratamenlo analitieo de erian<,:as. e qllasc lllllil regra que. em algurna etapa.qUilndo c vivida 11atrallslen!llcia 0 medo de perde-Io. aparece estc joga. realizado com 0illialis1<l. Pode ocorrer. por cxcmplo. quando c allullciado 0 final do tratamcnto. Aobscrvac;iio de lactentes. tCIll dClllanslrado que esta C lIlllil elas form as como 0 bebeclabam a posi<;:iodcprcssiva. (ABERASTURY. 1992, p. 11).
Abaixo. dcsereverei alguns cxcmpios de situa~6cs dc crian9as utilizando 0
jogo como objeto para claborar situa~oes dilkcis pOl' elas enfrellladas; as quais sao
eitadas par Arminda AI3ERASTURY. em seulivro 'Psicanalise de Crianyas'. 1992:
Jlliia. de seis anos. viol ada por lIlll adu\to, brincava eOllstalltclllcntc
colocando em buraeos pequenas coisas llluilO grandcs, rcpclindo de um Illodo
mon6tono cnquanto jogava: "f:: dilkil colocar algo grandc CI11alga pequeno," Em
continua~50, descnhou uma mcnina cm cujo colo pintou, como adorno. LlI11dClllonio,
Disse ao terminar: '""[em cle dentro",
Pedro. de 10 allos. que sc analisava por aprcscntar muitos sintom<.ls
l1eur6ticos. cntrc eles dificuldadcs de aprendizagcl11 c de conexao com 0 munclo
exterior. temnrcs de envenenamento e de agressao homossexual, durante rnuilas
17
scssocs de <lmllise qucimava algodao. ISIO Ihe recorda va algo. e cstc alga Ihe provm:ava
grande ansicdade c irritayao. mas 5C sentia impotcille para record{I-lo.
Em uma das scssoes. con tOll que sun mal: tinha side injusta com elc.
casligando-o scveramcnte. SCIll que 0 mcrcccsse. Tcvc a scguir lima intensa crise de
angllstia c rccordou LII11 incidentc sofrido aos cinco anos de idade: era interno nllm
col6gio. anele son'ell castigos scvcros c injustos por parte de lima lias prorcssoras c
scmpre csconcleu. pOl' (CillO!", seus desejos de vingany<l contra cia. Espcravn () elia
primeiro de agosto. resta nacional su1vH. quando. segundo ele "tudo era permitido",
Nessc elia tcntou qucimar-lhc a blusa. que era de algodao: nao poclc nlze-Io c guarcioLi
uma amarga sensat;:Jo de impolencia com rclayJ.o a cia. outras professoras e a qualqucr
forma de injuslit;:a. Enquanto recorda va estc e OlitroS epis6dios penosos com
prof'cssorcs. dissc: "cssa c a que Ctl queria quando queimava algo<.lao··.
ESlas primeiras vivencias traurn{llicas na rclm;ao corn as professoras.
repcliam gran des frustr<l(;oes sofridas nos primeiros dois anos dc sua vida.
dCH.:fminando nelc lima cnormc diliculdadc no Con1<110 com 0 l1l11ndo exterior c na
aprcndizagcJ11.
Carlos. lim mcnino enurctico. que sofrcll uma agressao hOll1ossexual aos
qualm anus. elaborou esta silUa~ao. 0 tClllor de cstar destruido e que seu penis nao
pucicsse mais fUllcionar nonnalmcnle. fabricando pcixcs (simbolos de sell penis) com a
cauda paniela (a agrcssJ.o homosse.\ual). Este meslllo menino tinha Cones scntimcntos
de culpa na rclayao com sua inml menor. que tambem era elluntlica. PCllsava que os
jogos sc.\uais que realizava com cIa. consislcntes principalmelltc em rela~5es fon;:aclas
com cleo eram a causa do IransLOrno de controle. Manileslou-se durante 0 lratamcnlO
alravcs de lUll jogo no qual ele preparava pudins para a irmfi. esla os comia e se
enlermava.
OUlras fonnas de representar os jogos sc.\uais daval11-sc quando cle
brincava de fazer trocas com a innfi. Dava-lhc objctos simbolil.:amente I,{!licos. palls.
lapis. revolver - e cxigia dcla pequcnas bolsas, madeiras. eaixinhas. simbolos do
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genital feminin~. Neste jogo. que repetia no lralamcnlO. lcmia sClllprc prcjudil.:ar e
tical' com 0 mais valioso. tendo dividas obscssivas antes de decidir sabre caela troea .
.Iaiia. cle dcz anos, quando elaborava sua tcoria de que a mac tinha em seu
interior os penis pcrigosos que havia roubado ao pai, brincou que lllll barco de guerra
podia percler lodos os seus l.:unh6cs e transrortnar-se Hum porta-aviocs. onde se pudesse
aterrissar SCIllriscos. TelHava ciesla forma claborar seu medo ao genital feminino. 0
qual dcspojava de todos os pcrigos - os canhoes - que simbolizavam para cit: penis
destruidorcs.
Jose. de oilO anos. brincou em v.lrias sess6cs. com ligurinhas e, por suas
rcgras. ell dcvia jugar COIll elc. tJ1lhora nao puclessc ganhar lima. pOl"que clc as
Illodificava cada vez. Sc tcntasse me rebclar contra esta ll1odilica~6cs. gritava-me:
"Dcsconsidcrada! Mal agradecida! . E outras crilicas.
Neste juga. elaborava sellS contlitos com a mac, a quem via como lima
Illulher irriui.vel. cujo maior crro com eles cram as lllodificcl(;6es das Ilonnas
cducncionais de aeordo t.:om sell cSlado dc animo. Sc cSlava fClil'.,permilia tudo. 0 que
podia Illodilicar-sc no momento scguinlc, acompanhnndo-se de lima proibi~ao. Quando
o Illcnino reclamava eslas l11odificm;6cs. era crilicudo. sendo-lhc recordado quao
carinhoso havia sido com clc momentos antes.
As experiencias orais sao exprcssas pclas erian~as. llluilas vczcs. aU'aves de
conlclldos e contincntes. Existelll crian<;as que SOlllcntc brincam de agregar. nunca
decidindo-sc a rclirar conLclldos de continentcs. Sao t.:rian~as que sofrcram
expcriencias l11uitodolorosas de thlslra~ao oraL que tivcram fortc invcja. COIlllcmor ao
abandono c seujogo LemCOIllOimcll<;aomanler inlacta a fonte dc gratifiea'roes que e a
mac. para nrio cslarcm cxpostas a futuras priva~6es. E tambcm lima dcfesa contra 0
intenso dcscjo de dcslruir tudo. provocado pcla invcja e pcla frustrayao.
Outras crian~as retiram pouco alimcnlo. vcndcl11 all dao {ISboneeas ou ao
analista. mas exigclll n rcstitui~ao imediata. As experiencins destas crianyHs sao
similares as anleriormemc descritas. Outras, brincam de comprar coisas com a
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caractcristica dc qLle Ihes vcndcm scmpre protiutos pod res Oll cnvcnenados. Sao
criam;:as com dificuldadcs na alimcnta<;ao. gcralmcntc sofrcndo de anorexia. A razilo
dos sells tcmorcs cle envcncnamcnto origina-se nos primciro mcses dc vida. Um bebe
que mama nUll) scio vazio au C0111POLICOleite. atribui ao seio suas dares de fome c seu
mal-estar. vcndo-o como algo que Cl1vcncna e dcstr6i. Postcriormenlc, todo aiimcnlo
m3ntcm cste signi!icacio.
As c:xpcriencias na aprcndizagem da lil11J1cza lambclll sao repclitias em
jogos quando. com angLlstia e Illcdo de sujar. pass(J111 C011tCLldos de tllll rccipicnlc ao
Qutro. Os dctalhcs de jogo rcvelam cada expcricilcia individual. Uma mcnina que teve
seu aprcndizaclo de limpcza Illuito cedo e severo. quando revivclI na analise. eSLas
cxpcriencias. cosLumava sujar com pi!ltma sellS bra.yos c maos. Depois pcelia (lUC
desabolOassc a roupa e a Icvasse ao banheiro. Quando cstava dcsaboLoando. Oll no
caminho ao banheiro. pcdia algo de comer ao analista. colocando-o a prove!. para vcr se
elc era capaz de gratirica-Ia. embora cslivesse sllja.
Durante 0 tratamcnlO de crianr;as, obscrva-se continuamcnte que llJ11mesmo
brinqucda ou joga aclquirc di ferentcs signi ficados de acorclo com a silUaoyuoIOtal. E pOl'
isso que somcnte se compreencle c se interpreta UIll jogo. quando sc tem em
considera.yi"ioa situa.yao analitica global na qual sc procluz. Uma boneca. por exemplo.
rcprcscntani as vezcs Lllllpenis, ;"15vezes lIllla crianc;a. {ISvezes 0 pcqueno pacicntc
Il1csmo. Diz Melanic KLEIN. que"o contctldo dos sells jogos. a maneira cle brinear. os
meios que llliliza e os motivos que se ocultam all"iis<-lasmodil"icac;oes no jogo - porquc
nao brincar{[ mais com .",guae cortara papel c desenhar{1 - sao fatos que seguem lllll
metodo cujos signilicaclos captaremos se os intcrpretamos como se intcrpretam os
50nI105·· (KLEIN. 1980. p. 52).
o jogo clcscnvolve-sc no consulL6rio. denlro de limilcs determinados de
cspac;o e tempo. As distc.inr.:iase propor.yoes com respeito a si mesmo c ao terapcuta.
sua mobilidade ou imobilidaclc no consuIL6rio nos ensinam muito sobre sua rchu;:ao
com 0 espac;o e sell esquema corporal. Quando a crianc;a brinca. busca reprcscntar
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algo: podiamos dizer que luta por algo c lodos estes signilicados devcm SCI'
interpretados para chcgar a ter aces so ~IS rna is prorundas regi6es de sua mente.
A compreensao e intcrprcta<;ao das cxprcssocs pre-verbais na crian<;a tem
conduzido fl cria<;flo de mctodos ciiagn6sticos base ados no jogo c no descnho. A
obscrva<;ao cia primeira hora de jogo. pCfmitc conhcccr a [Illtasia inconscienle de
enfermiclacle e a cle cura, poclendo scr avaliada a gravidadc cia nCUfose cle acorclo com 0
nivel de jogo desenvolvido. Esta obscrvm;:ao IransformoLJ-sc BUill metodo diagn6stico
das neuroses inl~lntis; inc1uindo para crianyas com mais de cinco ,mos. a avaliat;ao c a
intcrpn.:li.H;aO do "jogo de construir casa"' e 0 desenho cia tigura hUlllana. Neste jogo
realizaclo com material especial, que permite reproduzir os detalhes de uma casa real. a
crian~a expressa llluitos dos seus conllitos lundamentais. observando-se tambem se seu
esquema corporal esta modificado e em que forma. Crianyas neur6ticas. graves ou
psic6ticas. nao conslr6em as casa de acorcio com urn criterio de realidade proporcional
a sua idade cronol6gica. Uma cria1H;a de oito anos, por exemplo, embora sabendo
conscientemente que uma casa tem chao, tcto, paredes. portas, janelas, pode esquecer
alguns destes detalhes ou utiliza-los inadequadamente. A constnH;:ao e dificultada ou
ainda impossibilitada pelo uso equivocado das partes constituintes. Muitas crian~as
compreencicill esta situayao. mas sentem-se ineapazes de solueiollar a falha. Todas
estas deforma(,":oes obedeeem a eonflitos internos, [em llill sentido, podcndo ser
interpretadas. e revelam-nos 0 esquema corporal de quem eonstr6i.
Airton NEGRlNE, em seu livro 'Aprelldizagcm e desenvolvimento
infantil . afirma que a atividade prefcrida pela crianya no seu tempo livre e 0 jogo: por
isso podemos interpreta-lo de distinlos pontos de visto, dependendo do momento e do
espayo em que oeon'e. do conteudo e cia estrutura mental que a crianya utiliza para
jogar. Dc qualqucr torma, a realidacle cio momento nos indica que 0 jogo ILldico e uma
variavcl que est,1 presentc no comport amen to inrantil de forma permanente.
Ainda neste mesmo livro, NEGRJNE exp5e os pensamentos de alguns
aulores do desenvolvimellto infantiL sobre 0 jogo. Muitos autores segllem a
21
classifica.;ao prOpOSIJ por PIAGET. 0 qual <liirma que 0 juga evolui do joga de
excrcicio ao juga simb61ico c deste ao joga de regras. VIGOTSKY cliscorda de Piagel
no que sc referc ao joga innuHil. Dclendc a lese de que 0 nascimclllO do munclo
ilusorio c imagin{Irio 11acrian.;a C 0 que sc cOllstitui jogo_ conseqi..icntcmcntc. 0 joga cia
criany<lnasce com 0 aparccimcnto dos simbolos.
WAI.LON. SCIll cntrar nesta discussao, entendc que 0 jogo sc conl'unclc
muito com loda a atividade cia crian.;t.I. 0 que de cerIa forma dctermina sua
cOl1lplcxidadc. Aqui apareccm cs{(Ir os c!ementos que podcll1 permitir LIma cxtcnsao
das tcodas. pcrmitindo que seja rclon;ado 0 pensamcl1lo de Vygotsky c para cxplicar
algumas atividadcs Illotrizcs cia CrianIY3quando joga, porque nelll tuclo 0 que a crian~a
f'azem lllll espa~o Illclico pode SCI'considcrado joga.
ConCorme VYGOTSKY pOrlanlo. exislc jogo quando cxiste simbolismo.
DilO de oulra (onna. 0 Illicleo do juga e 0 compollcntc simb6lico. iSla C. 0 signilicante
rnotivado. c sua existeneia prcsslipoc a exislcncia cle rcgra. No momento em que se
csgota 0 eomponcnte simb6lico. aeaha 0 jogo n<latividade llidiea. 0 jogo da crinnc;:asc
mcscla COIll0 exercicio. ou scja. as vczcs cia passa do jogo ao cxercicio para vohar a
elc sob difercntcs COrlnasde simbolos. VIGOTSK Y alirma que as teorias que ignoralll
o raw de que 0 jogo complcta as ncccssidadcs da crial1(;a. desembot.:am em lIllln
inleleclualiza~ao pcdanlc do jogo.
As op~oes que a crian~a adola em Ulll cspa~o llldieo respondcm a lima
vontaclc interior. A crian9J hlz excrcicio ou joga para atender suns nccessidadcs mais
imedialas. " utiliza~ao cle objetos variados pclas crianc;:as quando jogal1l. amplia sua
eapacidaue criativa e/ou imitativa. cletcrminando novas aprenciizagens.
Oportunizar cxperiencias com maior varicdade de objclOs c materiais nao
signilica dizer ,'I crian~a 0 que cia dcve tflzcr em dctcrminaclo cspac;:o e tempo. Cia
descobrc muito rilpido, com muito mais crimivicladc do que sc pode imaginar. "
plaslicidadc corporal detennina a utiliza~ao dos objetos c dos matcriais de jogo Cm um
dcterminado espa~o.
22
CHATEAU afirma qlle as objetos nao descmpcllham outro papel a !lila scr 0
de suportc a imagina~ao. Essa atirl1la~fio nJo c de todo vcrdadcira, porquc os objclOs
podcm scrvir para explorac;ao ou parf] <.:rianc,;a I~lzcr algum excrcicio dc manipula<;ao,
de dominic do proprio objcto, aiHes de tef lIlll significado simb6lico. 0 objeto tambcll1
serve como instrllmcnlo. fcrramcnta com que a crian<;a trcina ccrtas habilidadcs que
poc!criio sc lransformar cmjogo. 1Ililizando-os comO brinquedos.
Dcvcmos I~lzcrlima retkxao quando se train cle hrinqucclos industrializados
(do tipo cle brinqucdos ctclronicos, <.:01110os carras que andal11 com controlcs uu
dispositivos programados): a crian<;a permanccc mais observando os movimcIllos do
brinqllcdo do que em m;ao. I\s atividades das cri<ln~as nos jogos de .. tllzcr de coni a"
onde ela rcprescnta. silo ll1uito mais importantes para seu processo de aprcndizagcm e
de dcsenvolvimcnto. Lima vez que 0 corI'o St; cxercita COIllO ullla totalidade.
A lI1iliza<;:ao de lim objcto pela crianc;a nao c suficicnte para conc1uir que cia
cstcjajogando COI11clc. A crian9a. rrelllc a lim novo objeto, primeiro manipula. cxplora
c dcpois joga. Depcndendo do tipo de objcto. antt;s de comcc;ar a jogar COI11ele. a
crianc;a procllra adquirir 0 dominio. 0 meslllo ocorre quando cstabclecc con tala com
dctcrminac10s materiais, COIll as aparelhos lItilizados geralmcnte pela gimistica: plintos.
cavalos-de-pau. barms de equilibria. etc.
A dctennina<;:aa de rcprescntar algum<l caisa se configura no ambito do
jogo. mas existem ocasiocs em que a crianC;<I interrompe sua atividadc para imitar
aquila qut: outra crianc;a est~1 fazcndo; se excrcita. para voltar \10val1lcntc <10 jogo
scguindo sua trajet6ria em lim espac;o e elll tempos variados. A simples prescnc;a de lll11
adulto olcrccendo seu corpo como objeto tccnico de jogo. provoca a derivac;ao quasc
que instant{l\lea do cxercicio em jogo. 0 aduhu. ao sc envoI vcr Ila atividac1e cia (.;riall(;a.
suscita de imediato 0 surgilllcnto de imagens que levam a crianya il reprcsentac;ao Ot!
imaginac;;lo. Assilll, a crianc;a transita de LIm personagcm a outro. vivcndo diferenlCS
papcis em diferentes situac;ocs e com dil"erentcs reprcsenUH;:oes.
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Dc acorda com Melanie KLEIN. ao brincar, a agressividade da crianya se
cxpressa de v{trias maneiras. quer direta ou indirelalllente. 0 brinquedo. amillde. C
quebrada ou. quando a crian~a c mais agrcssiva. os ataques sc realizam COI110 canivetc
ou lesoura contra a mcsa. ou contra as pe~as de madeira; a <igua Oll a linla C
csparramada pOl'todos os lacIos e a sala geralmenle. se convene em campo de batalha.
I~esscncial pcrmilir a criany(l dar cxpansao <.isua agressividadc: mas 0 que importa
mais c compreender porque motivo, ncstc lllomenlO particular, na situO:l(,:aode
Iranslcrcncia. aparc<.:cm as impulsos destrutivos. 0 observar slIas eonscqiiencias na
mente da erian(,:a.
o~scnli1llel1los de culpa podc1ll sc:guir-sc pauco depois da crii1n~a ter quebrada. pore:-.:emplo. lima pequena figura. Tal I.:ulpa surge 1Il10s6 pelo dano real reproduzido. maspel0 que 0 brinqllcdo reprcsenta 110inconscicntc da crian<;:a. pOl' cxcmplo. urn irmiio ouirma menol'cs. ou lllll <los pais. a interp['ela~i'io lem. po['lanlo. de oeupar-sc lambCm.dcsses niveis rna is profundos. Podc1ll0S dcduzir. ;is vezes. do cOlllportalllcnto da eriam;aem rela<;::10ao analista que nao s6 a culpa mas tambCIIl. a nllsiedadc perseelltoria.constilui scqiida dos sellS impulsos deslrulivos e que da teme il retalilH;:ao. (KLEIN.1980. p. 32).
o analista. no ClltanlO. nao deve moslrar dcsaprovw;ao por tcr a criant;a
quebrado um brinqucdo. contudo, nao deve cncorajar a crianc;a a cxpressar sua
agressividadc. ou sugcrir-Ihc que 0 brinquedo pode SCI'reparado. Em olltras palavras.
deve pcrmitir <Icrianc;a expcrimcnlar SlI<tSemo<;oes e 1~lIltasiascomo se apresenll.lm.
A variedadc de situac;oes clllocionais quc podcm scr exprcssas pebs
atividadcs llidicas c ilimilada: por exclllpio. sentimcntos de frus\r(u;:ao e de SCI'
rcjeitado: 0 Cillll1Cdo pai e da mac. Olldc irmaos c irmas, agressividade acompanhalldo
esse ciume; prazer em ter lim companheiro de jogo e aliado contra as pais: sentimcntos
cle amor e de odio em relaC;3oa um bebe rccclll-llascido Oll um que c esperado. bem
col11o. a ansiecladc conscqOentc. a culpa c a urgencia de fazer a rcparal;ao.
Encontramos lambclll. no jogo cia criany<1 a rcpetiyao de experiencias rcais c
pormcnores da vida cOliciiana, freqi'lcnlclllentc enlretccicios como SLias hmt<lsias. Erevelador que. ils vezes. eventos reais l1luito imponantcs de sua vida. nao consigam
Cntrar elll sLia brincadeira ou elll suas associac;6es. e que toda a ent~lse rcpousc, por
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vczes. em acontecimcntos apan.:ntemcnle Sccul1(l{lrios. Mas csses acontecimentos
sccund,irios s~o de grande imponimcia para cia perque dcsperl::lm suas clllm,:oes c
f~lIltasias.
Um dos pontes importantcs 11ft tecnica atraves do brinquedo. de acordo com
a maiaria dos alltorcs. scm pre foi a amilise cia transferencia. Como sabcmos. 0 pm;icIHc
na transfcrcncia com 0 anal isla, repetc elllo~oes c conllitos anteriorcs. A cxpcricncia
dCl110nstra que logramos ajuciar fundamcntalmcnte 0 pacientc reduzindo StJas nultasias
e ansicdadcs !las intcrpretac;ocs de lransfcrcncia, para 0 Jugar anele sc originaram -
particulanllcnlc na inffmcia e na rchu;ao com sells primciros objclOS. PortanlO. "ao
rcc.\perimcntar CIllOC;OCS e f~1I11asias primitivas e ao comprcendc-Ias em rcla<;fio a sellS
objetos prim{lrios, clc poclc. par assim dizer, revisal' essas reta<;Oes em SLia origem c
assim climinuir etctivamcntc suas ansiedades.··(KLEIN. 1980. p. 38).
1\ analise atravcs do brinqucdo mostrou que 0 simbolisI11o habilitava a
I.:rian<;:a translerir nao s6 interesscs. mas l<1mbcl11 fantasias. ansiedades e culpa para
mHros objctos. alclll de pessoas. Assim. cIa sente lima grande dose de alivio ao brincar.
e isso C tlill dos j-~ltores que 0 lornam tao esscl1cial para a criallt;a. Dc acordo com
Melanic KLEIN. lima grave inibir;ao cia capacidade de Ibrmar C lIsar simbolos. nas
criall<;as e. assim dcscnvolvcr a vida de nmLasia. c sinal de seria pcrturba<;fio.
ERIKSON atirma que 0 adliito que joga al~lsta-sc da realidacle: a crimwa
que joga avan<;:a para novas etapas de dominio. A crianr;a assim como 0 adulto. ao
brincar. arasta-se cia rcalidadc. 0 jogo a protege da realidade. 1\ dil"eren<;:a e que 0
adulto l1ao cvolui mais. a evolu<;ao cia crian<;:a caminha para um dominio cad a vez
maior. mas 0 jogo continua a imitar cstas diversas form as do dominio.
[ssa domina<;:ao imitada cncol1lra-sc cm lodos os jogos. pais em lodos os
jogos trata-sc mais ou menus de hlzer "C0I110 sc·· de "supor"' 0 problema resolvido: em
SUlll<l de t~lzcr a economia do trabalho necess{lria it supressao das di ficLildadcs. il
conquista de outrem. Como a emo<;flo. segundo SARTRE, 0 jogo e lima cOlleluIa
J11<igica. no que alias se confirmJ sell eSlrciLo parentesco com a linguagcm. "A
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linguagt:111 porcill e a propria magi a: pela rala os humens Illobilizam sellS cungcnercs
ou dcsannclll SCLISadvers"irios. A criancra nao se sitlla ai. portanto. a magia do sell jogo
C apcnas 0 jogo cia magia. 0 juga C lima parodia do conduta m{lgica", (I.EIF. 1978. p.
74). E preciso qlle tanto a crian~a como 0 adlilto se autorizcm, de tcmpo cm tempos. a
aparentar que se acrcditam pmk:rosos. para que sc aeeitem como miser{lvcis. Ao
J11csmo tempo. 0 jogo cxorciza 0 cspectro cia cngunadora magia e salvaguarda as lorc;as
Ilcccss{lrias ao trabalho,
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CONCLUSAO
TodD 0 referencial lcorico consultado. u lex to claboraclo c as renex6cs
rcalizadas alraveS do prcscnle trabalho de nuda vaJem na meclida em que sc poslcrga a
lIlli.io entre a (coria e a prfltica. Ou scja. ao reconhcccr lada a signi{jca~ao que 0 brincar
lem no c\cscllvolvimcnto do individuo e eslc conhecimento em nada modificar as
atitudcs em rcla<;.10 it eslc lema. eslc lrabalho na~ lent seu objctivo a\can~ado.
Sc as cxpericncias do jogo na infflllcia s.10 tao importantcs para a
"constrlH;:ao" do scr humano. pOl'que nao s50 criadas melhorcs condi4;ocs de espa<;o.
tempo_ cquipalllciltos c program as 1(ldieos de incentivo? Talvez porquc dcvido il Caha
de infofma<;ocs sobre 0 valor do brinqucdo. naa seja dada a devida importancia ao
brincar.
Faz-sc necessaria portanLO que os eSlUdos sobre este lema estejam scmprc
em paula. divulgados a quanto possivel, cm pianos curriculares ou meSlllo como
simples informativos. Mobilizar pais. cducadorcs c prorissionais ligados ao ass unto.
acerca do valor do jogo e cstratcgias apropriadas <1. criayao e prcscrvac;ao de
c[lvolvimcntos IlJdicos. informando tClmbcm as n1l11ilias sobre os cfcitos positivos c
negativos da innuencia da midia na f.ltividade Illdica da crianc;a. assunto que Illotivaria
a realizac;ao de lim novo trabalho. I~ importanlc ainda, quc na mcdida do possivcl.
scjam criados mais espa<;as Iivres c protegidos. de divertimellto, aventura e juga. em
zonas residcnciais. cseolas e loeais pllblicos, visto que os locais destinados a csle rim.
vcm diminuindo significativamenle com 0 nipido creseimento clas cicladcs.
A erian<;a. ao SCI' privada de experiencias do jogo livre. poderiam ter. !las
cscolas. as oportunidadcs csscnciais dc clesenvolvimcnto alravcs de lUll curricula
estruturado adequadamcnte a estes prineipios. Considero fundamental que os
proicssores c administradares escolarcs tcnham lima boa formavao sobre 0 valor do
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joga no processo cnsino-aprcndizagcl11 e possam. dcslc modo. respcitar 11natureza
Itldica das crian~as c iorneccr rnais oportunidadcs dcjogo livre aos sellS alunos.
E prcciso compreendcr que a atividadc 1((Jica e a melhar exprcssao cia vida
de t~mlasia c clo dcscnvolvimcnto psicol6gico inl~lIllil. E. c prcciso <linda. comprccnder
que 0 carpa (elll limitcs. c que estalllos a lon;<i-Ios de forma exagcrada. esqucccndo 0
"homclll ILlllico"
Enfim. I~lz-se ncccss,irio salientar que cSle trabalho nao cnccrra de jorllla
alguma 0 que sc (em a dizcr sabre cstc lema riquissimo. mas quc. pe[o cOlllrilrio.
prclcndc tel' l11olivado nos leitorcs. lUll maior interesse pela causa cia crian\=a. incitando
o cnvolvimcnto e compromclilllcnto dos adultos com a assustadora rapiclcz com que a
inUlncia velll sClldo esquccida e substituida pda sericdade da vida adulta. gerando
conseqlicncias signiticativas ao dl.!scilvolvimcnto global do individuo.
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