a constituição não moderna em bruno latour

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Apresentação de alguns conceitos discutidos por Bruno Latour em Jamais Fomos Modernos.

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One More Turn after the Social Turn: Easing Science Studies into the Non-Modern World

Bruno Latour - 1992

Apresentação: Bruno de Pierro – Labjor/Unicamp

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-O artigo antecipa a discussão que Latour desenvolve em Jamais fomos Modernos, lançado em 1994.

-Hibridismo

- Mundo Não Moderno

- Redes2

Após anos de progresso, os estudo sociais da ciência estão paralisados.

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O problema com alguns programas é que eles explicam muito bem os detalhes da prática científica, mas perdem inteiramente o controle dos principais objetivos da macro-sociologia - que é um relato do que mantém a sociedade unida. Esses programas foram acusados, e com razão, de promover agradáveis estudos de caso, sem sequer considerar os primórdios da teoria social ou a relevância política.

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Quais programas?

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teoria literária, biologia, ciência cognitiva, história cultural, etnologia, etnografia de habilidades, economia

moral, interacionismo, teorias de rede

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É como se nós não pudéssemos ter a sociologia e o conteúdo da ciência sob o mesmo olhar de uma só vez!

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ADENDO 1

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• Há os que defendem que a pesquisa se faz exclusivamente dentro do laboratório. Estes seriam os "internalistas" ou "difusionistas". Por outro lado, há os que entendem que a atividade do laboratório só sobrevive graças à mobilização política e financeira que se faz do lado de fora do laboratório. Estes seriam denominados "externalistas“.

• Latour condena tanto os "internalistas" quanto os "externalistas". A crítica que faz aos internalistas relaciona-se ao fato de pretenderem analisar o processo de produção científica como sendo exclusivamente fruto do trabalho de pesquisadores, construindo uma imagem idílica, pura e desinteressada da atividade científica. Quando se fala de ciência, os leitores, convencidos por esta perspectiva, pensam logo em sábios célebres, em disciplinas e universidades com prestígio que produzem novas idéias e conhecimentos completamente dissociados do que se passa na sociedade.

• Latour: "Não é possível que esta minoria consiga, sozinha, recrutar os fundos necessários para produzir conhecimento e convencer toda a população de sua eficácia“.

- Fonte: Tornar-se cientista: o ponto de vista de Bruno Latour - André de Faria Pereira Neto, em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1997000100021

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-Alguns estudos amarram, de forma convincente, o tecido da macro-sociedade aos conteúdos da ciência, e muitos acompanham pedaços de redes, cujas extremidades são deixadas soltas.

-O que os melhores estudos conseguem alcançar é espalhar (spread) sucessíveis níveis em cima do outro, o primeiro dos quais é “macro” enquanto o último é claramente técnico.

- Etnometodologistas: afirmam que o conteúdo técnico local dos praticantes da ciência deve ser usado para explicar seu próprio mundo. (Exemplo de internacionalismo e sociologia radical).

- Depois Latour critica o relativismo com que pode ser interpretada a Teoria Ator-Rede: “Everything being a network, nothing is”.

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Ciência Unidimensional

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“Radical”, “progressista”, “conservador”, “reacionário”, “golden medium”. Usei esses adjetivos políticos de propósito, porque eles todos remontam à

mesma linha que é a causa de nosso impasse e do qual eu quero escapar.

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Um radical é alguém que afirma que o conhecimento científico é inteiramente construido a partir das relações sociais.

Um progressista é aquele que diria que o conhecimento é “parcialmente” construído fora das relações sociais, mas que a natureza de algum modo “vaza” no final.

Um reacionário é alguém que afirmaria que a ciência torna-se realmente científica somente quando ela finalmente lança (perde) qualquer vestígio de construção social.

Enquanto um conservador diria que embora a ciência escape da sociedade, há ainda fatores da sociedade que “vazam” e influenciam seu desenvolvimento.

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Mas não se trata disso...

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A única forma de continuar nosso trabalho é abandonar este

quadro de referências e estabelecer um outro padrão.

Nós não queremos divisões mais finas e novas escolas de filosofia da ciência. Nós queremos que a filosofia faça seu trabalho e descubra a origem do critério para podermos superá-lo.

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Copernicana

Uma contra-revolução

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Dois polos

Objetivo Subjetivo

DICOTOMIA

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É possível construir uma outra escala que nos permitiria avaliar trabalhos e argumentos em uma segunda dimensão não redutível à única escala descrita no slide anterior?

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Desde que muitos filósofos tem tentado superar a dicotomia subjetivo-objetivo, ele têm sido incapazes de nos oferecer uma descrição precisa da prática científica e estão muitas vezes em volta de uma nuvem espessa.

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O primeiro movimento é uma contra-revolução copernicana que força os dois polos Natureza e Sociedade a se mudarem para o centro e a se fundirem um ao outro. Esta fusão, porém, não é uma questão simples e as propriedades dos dois polos tem de ser completamente redistribuídas, uma vez que que foi sua separação que os definiu.

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A principal propriedade do polo objetivo foi garantir que nosso mundo de conhecimento não seja um feito humano (definições possíveis de humano: mente, cérebro, self, coletivo).

Enquanto a principal propriedade do polo subjetivo foi, ao contrário, garantir que nosso conhecimento seja proveniente do humano (atividade humana: ego, sociedade, subjetivo, mente, cérebro, epistemes, jogos de linguagem, praxis, trabalho).

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Nós sempre sentimos necessário alternar entre duas explicações assimétricas para a solidez da realidade - construtivismo ou realismo.

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Como podemos fundir os dois polos juntos e ainda reter suas três principais propriedades?

a) a origem não-humana do conhecimento.b) a origem humana do conhecimento.c) a completa separação dos dois.

As duas garantias remanescentes são fortemente afetadas pelo abandono da terceira.

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“Os dois repositórios assimétricos do realismo e do construtivismo são imagens de espelho um do outro. A simetria deles é tão exata que um completamente coerente quadro pode ser fornecido se nós retemos as das primeiras garantias a descartamos a terceira. O preço a pagar por isso: abandonar a Crítica, ou em outras palavras,

reescrever a Constituição Moderna”.

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ADENDO 2

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Etnografia e o Construtivismo Social (Antropologia da Ciência I; Karin Knorr-Cetina, Bruno Latour) A tese de que a ciência é "construída" pelos homens, e não dada pela natureza, tem levado a estudos nos quais os cientistas sociais vão ao laboratório de outro cientista observar como o conhecimento é construído. Aqui a descrição é mais importante do que a explicação, ao contrário dos casos anteriores. Dentre as teses construtivistas apresentadas por Knorr-Cetina estão: i) A realidade é um artefato com o qual o cientista opera; ii) Operações cientificas estão impregnadas de decisões; iii) Seleção dos tópicos de pesquisa depende do contexto.

Fonte: Filosofia e Sociologia da Ciência, Uma Introdução, de Osvaldo Pessoa Jr.:http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/sociociencia.htm

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Mudanças que ocorrem quando se abandona a ideia de separação entre Objetivo e Subjetivo

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1) Em vez da oposição de transcendências entre Natureza e Sociedade, nós temos somente uma transcendência. Nós vivemos em uma Sociedade que nós não fizemos, individualmente ou coletivamente, e em uma Natureza que não é resultado de nossa fabricação. Mas a Natureza “lá fora” e a Sociedade “lá em cima” já não são ontologicamente diferentes. Nós não fazemos, ou fabricamos, Sociedade, mais do que fazemos ou fabricamos Natureza. E, portanto, a oposição entre ambas não é necessária.

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2) Sociedade (ou subjetividade, mente, cérebro...) não pode ser usada para explicar a prática científica e, claro, a Natureza também não pode - uma vez que ambas são resultado da prática do fazer ciência e tecnologia. Este novo princípio generalizado de simetria flui diretamente do desenvolvimento do science studies e é sua mais importante descoberta filosófica. Mesmo quando a ciência estabelecida e a sociedade estável foram estudadas juntas, sua produção comum ainda não era visível. Somente quando ciência em ação e sociedade “in the making” foram estudadas simultaneamente este fenômeno se tornou observável.

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3) Na Constituição Não-Moderna (de que fala Latour): tudo de interessante começa em o que já não é um ponto de encontro, mas a origem da realidade. Na Constituição Moderna, alguém poderia dizer que esta produção foi um híbrido das duas formas puras.

Na Constituição Não-Moderna, poderia ser dito que isso é um eufemismo para falar de híbridos ou monstros.

Latour cita exemplos, como ondas de gravidade e micróbios de Geison, como coisas que não são metade natural e metade social. Eles não são nem objetivo, nem subjetivo, nem a simples mistura das duas coisas. São “quasi-objects”.

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4) Uma história comum das sociedades e das coisas. Os micróbios de Pasteur não eram entidades atemporais descobertas por Pasteur, nem dominação política imposta ao laboratório pelo estrutura social do Segundo Império. Nem mesmo eles eram uma simples mistura da pureza de elementos sociais e forças estritamente naturais. Eles, os micróbios, são uma nova ligação social (social link) que redefine imediatamente do que a natureza é feita e do que a sociedade é feita.

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5) Temos a permissão de ter muitos polos, de acordo com a quantidade de atores. Este princípio irreducionista é provavelmente a consequência mais contra-intuitiva dos science studies. Monstros que a Constituição Moderna desejou decompor em das formas puras estão de volta, reivindicando um status ontológico que não se assemelha ao das desamparadas e passivas coisas em-si-mesmas, nem se assemelham aos humanos entre si. Meros intermediários na Constituição Moderna, eles agora se tornaram completos mediadores na Constituição Não-Moderna, que é mais democrática.

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Sim, o nó Górdio é amarrado novamente!

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Até então, fomos moldados pela ideia de que nós fomos algum dia modernos. O que estamos testemunhando, e o que explica o presente interesse em science studies, é o fim dessa crença e o fim dos dois Esclarecimentos. O primeiro Esclarecimento usava o polo Natureza a fim de desmascarar a falsa pretensão do social. As ciências naturais foram finalmente revelando a natureza e destruindo o obscurantismo, a dominação e a intolerância. O segundo Esclarecimento usava o polo social para desmascarar o falso pretexto da natureza. As ciências sociais - economia, psicanálise, sociologia, semiótica - foram finalmente revelando as falsas alegações do naturalismo e do cientificismo.

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Uma revolução Copernicana nunca

tomou lugar!

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