a afetividade nas relaçes professor aluno um estudo na educao de jovens e adultos
Post on 13-Apr-2017
197 Views
Preview:
TRANSCRIPT
ldquoA AFETIVIDADE NAS RELACcedilOtildeES PROFESSOR-ALUNO UM ESTUDO NAEDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOSrdquo
Ana Claacuteudia de Oliveira Costa1
Keilla Cristiane dos Reis2
Jaileila de Arauacutejo3
RESUMO
Este artigo trata da interferecircncia da afetividade na relaccedilatildeo professor-aluno da Educaccedilatildeo Jovense Adultos partindo-se da premissa de que a existecircncia de viacutenculo afetivo eacute condiccedilatildeo relevantepara a aprendizagem e consequumlente permanecircncia do aluno na escola Numa abordagemqualitativa constituiacutemos como procedimentos para coleta de dados entrevista semi-estruturada com duas professoras e com sete alunos matriculados no moacutedulo II da EJA de umaescola municipal de Paulista Os dados revelaram que no ambiente onde a afetividade estaacutepresente haacute maior possibilidade de aprendizagem e validam positivamente a histoacuteria individuale social dos alunos
Palavras-chave Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Relaccedilatildeo Professor-AlunoProcesso ensino-aprendizagem Afetividade
1 A AFETIVIDADE COMO POTENCIALIZADORA DO PROCESSO ENSINO-
APRENDIZAGEM NA EJA
No contexto da Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos cujo agraves dificuldades
pessoais refletem grande fator da evasatildeo escolar originadas das diversas
condiccedilotildees pessoais dos alunos da EJA que se deparam com os desafios de
sua vida particular profissional e escolar Acreditamos que o principal meio
para evitar essas evasotildees e amenizar o reflexo das dificuldades na sala de
aula estaacute na atenccedilatildeo compreensatildeo e no carinho ou seja na afetividade que
favorece o processo de ensino aprendizagem dos educandos fazendo com que
eles permaneccedilam na escola
Eacute nesta perspectiva que surgiu a preocupaccedilatildeo de analisamos a
importacircncia da afetividade na educaccedilatildeo de jovens e adultos visando entender
a relevacircncia do viacutenculo afetivo nas relaccedilotildees existentes na sala de aula e
identificar os aspectos que cooperam para a permanecircncia desses educandos
na escola
1 Concluinte do Curso de Pedagogia ndash Centro de Educaccedilatildeo ndash UFPE ndash claudiaoliv_costayahoocombr2 Concluinte do Curso de Pedagogia ndash Centro de Educaccedilatildeo ndash UFPE ndash keillacristianeyahoocombr3 Professora adjunta do Depto de Psicologia e Orientaccedilatildeo Educacional da UFPE ndash
leilaufrjyahoocombr
2
Eacute na EJA que se percebe a necessidade de compreensatildeo e estiacutemulo por
parte do professor para superaccedilatildeo das dificuldades e desafios que muitos
encontram em seus caminhos sendo gerado muitas vezes pela falta de
acolhimento da escola pelo desestiacutemulo o que pode ocasionar uma posterior
evasatildeo Assim partimos da hipoacutetese de que quando haacute uma expressatildeo de
afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno e entre os proacuteprios alunos sobre a
forma de incentivos proximidade corporal interesse em saber sobre o seu
cotidiano e amizade tudo isso contribuem significativamente para a construccedilatildeo
e manutenccedilatildeo de um viacutenculo do aluno da EJA com a escola e com o saber
pois quando haacute formaccedilatildeo de um laccedilo afetivo e uma interaccedilatildeo entre o grupo o
processo de ensino-aprendizagem se torna mais efetivo e a permanecircncia na
escola em sua maioria eacute garantida
Por conseguinte ao emitir-se uma atitude como afeto positivo ou
negativo haacute uma tendecircncia da resposta ser acompanhada por uma estrutura
cognitiva composta de crenccedilas e opiniotildees sobre suas potencialidades de
realizaccedilotildees e suas expectativas Assim o ganho no processo ensino-
aprendizagem eacute influenciado pela amabilidade que se efetiva nos
relacionamentos firmados e na constataccedilatildeo cognitiva
Lev Vygotsky (1896-1934) psicoacutelogo interacionista explica o
desenvolvimento afetivo sob um ponto de vista soacutecio-histoacuterico-cultural o que
nos dar condiccedilotildees para apreciarmos a afetividade relacionada agrave educaccedilatildeo da
EJA partindo da ideacuteia de que a aquisiccedilatildeo de conhecimentos e de sentimentos
se datildeo pela interaccedilatildeo do sujeito com o meio escolar
Jaacute Henri Wallon (1879-1962) eleva a afetividade a um domiacutenio
funcional cujo desenvolvimento eacute dependente da accedilatildeo de dois fatores o
orgacircnico e o social Neste a escola que eacute tradicionalmente tomada como
espaccedilo onde deve imperar o desenvolvimento do conhecimento passa a ser
reconhecida como meio cujo afeto eacute primordial para a relaccedilatildeo humana e o
professor eacute responsaacutevel pela mediaccedilatildeo afetiva na instituiccedilatildeo de ensino
Apesar de algumas divergecircncias Vygotsky e Wallon compartilham da
ideacuteia de que a afetividade se desenvolve atraveacutes da interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos e que a razatildeo e a emoccedilatildeo estatildeo ligadas
3
Com base nesses teoacutericos temos como pressuposto a visualizaccedilatildeo de
uma educaccedilatildeo na qual a afetividade se coloca como elemento primordial no
contexto da EJA onde a figura do professor eacute potencializadora do clima
emocional positivo na sala de aula despertando os educandos para o processo
de ensino-aprendizagem porque ldquoeacute sobretudo o mestre que pode mudando
de atitude provocar um aperfeiccediloamento da relaccedilatildeo afetivardquo (MARCHAND p
93)
Assim no presente artigo far-se-aacute a anaacutelise da possiacutevel contribuiccedilatildeo da
afetividade no processo de ensino-aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e
Adultos uma vez que o vinculo afetivo pode ou natildeo ajudar na internalizaccedilatildeo do
conhecimento
2 BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS NOBRASIL
Muitas vezes definimos erroneamente Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos
Por isso antes de iniciar o nosso trabalho eacute necessaacuterio conhecer um pouco de
sua histoacuteria
Seguindo um perfil histoacuterico temos o caminho da educaccedilatildeo de jovens e
adultos trilhado ao lado dos modelos econocircmicos e poliacuteticos pois excetuando
o Periacuteodo Colonial (1500-1822) todos os outros periacuteodos indicavam busca pela
instruccedilatildeo incentivada pela necessidade econocircmica poliacutetica e ideoloacutegica de
uma elite majoritaacuteria
Eacute no Brasil Impeacuterio (1822-1889) que surgem as primeiras escolas
noturnas para adultos tipo de iniciativa que ganha forccedila na Repuacuteblica (1889)
com campanhas descontiacutenuas e curtas que buscavam apoio das diferentes
instacircncias da sociedade civil refletindo o descompromisso com uma poliacutetica de
educaccedilatildeo institucional
Apoacutes a Revoluccedilatildeo de 30 permitiu-se uma consolidaccedilatildeo de um sistema
educacional baacutesico com significativa inclusatildeo da educaccedilatildeo dos adolescentes e
adultos analfabetos entre os objetivos do estado brasileiro
A deacutecada de 40 trouxe iniciativas de peso como as primeiras obras
dedicadas ao ensino supletivo a Campanha de Educaccedilatildeo de Adolescentes e
Adultos o Congresso Nacional de Educaccedilatildeo de Adultos (1947) e o Seminaacuterio
4
Interamericano de Educaccedilatildeo de Adultos (1949) embora as praacuteticas e o
material didaacutetico permanecessem semelhantes aos destinados agraves crianccedilas
Mesmo com vaacuterios resultados significativos e com implantaccedilatildeo de vaacuterias
escolas supletivas o clima de entusiasmo comeccedilou a diminuir na deacutecada de
50 sobrevivendo apenas agrave rede de ensino supletivo que foi assumida pelos
estados e municiacutepios Sendo no final da deacutecada de 50 ateacute os meados dos anos
60 segundo Moura (1999) eacute relevante a contribuiccedilatildeo do educador Paulo Freire
(1921-1997) que inspirou os principais programas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo
popular marcando o iniacutecio de um novo periacuteodo da educaccedilatildeo dos adultos no
Brasil
Mas eacute na deacutecada de 80 que haacute uma valorizaccedilatildeo das experiecircncias
baseadas no meacutetodo de Paulo Freire com conquistas importantes que
culminaram com a garantia da extensatildeo da obrigatoriedade da educaccedilatildeo
baacutesica para jovens e adultos na Constituiccedilatildeo de 1988 necessaacuteria para
erradicaccedilatildeo do analfabetismo
Foi concebido assim o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo
(MOBRAL) sistema que controlava a alfabetizaccedilatildeo da populaccedilatildeo adulta
principalmente a rural Poreacutem em meados de 1985 com a Nova Repuacuteblica ele
foi extinto dando lugar a Fundaccedilatildeo Educar que por sua vez fechou em 1990
sinalizando a ausecircncia do Governo Federal desse cenaacuterio educacional
constatando inexistecircncia de um oacutergatildeo ou setor do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
voltado para a EJA
Atualmente a EJA traccedila um caminho pautado em mudanccedilas
expressivas que foram norteadas pelos valores apresentados na Conferecircncia
Internacional de Hamburgo (1997) na Lei 939496 no Parecer da Cacircmara de
Educaccedilatildeo Baacutesica (CEB 1100) que estabelece as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e na Deliberaccedilatildeo 0800 CEB
com o intuito de promover o conhecimento e a cidadania
Embora existam diversos documentos emitidos e mudanccedilas baseadas
nas novas tendecircncias do mundo atual globalizado e desenvolvido que a
reconheccedilam como importante a EJA ainda enfrenta problemas no que diz
respeito a alguns conteuacutedos presentes nos livros didaacuteticos que desconsideram
5
as especificidades regionais que desrespeitam as peculiaridades do puacuteblico-
alvo e por vezes dificultam o relacionamento professor-aluno
2 RELACcedilAtildeO PROFESSOR-ALUNO E AFETIVIDADE
Atraveacutes de uma visatildeo integral da interaccedilatildeo nas relaccedilotildees humanas e na
aprendizagem encontramos a afetividade vista sob a forma de criaccedilatildeo de
viacutenculos que surgem no decorrer do ciclo vital de qualquer indiviacuteduo e embora
desabrochem no iniacutecio da gestaccedilatildeo permanecem em processo contiacutenuo
atraveacutes da sociabilidade em todas as fases da vida confirmando a relaccedilatildeo
entre afetividade e o desenvolvimento cognitivo e fiacutesico
Dentre as diversas literaturas encontramos teoacutericos (Wallon Vygostsky
Bowlby) que descrevem o viacutenculo entre matildee e filho (desde a gestaccedilatildeo) como
ponto inicial de um sistema comportamental viabilizador de proteccedilatildeo e
preservaccedilatildeo que favorece no futuro os relacionamentos bem como o despertar
da autoconfianccedila e confianccedila nos outros caracteriacutesticas que possibilitam maior
vinculaccedilatildeo entre as pessoas na juventude e na idade adulta
Neste sentido salientamos que os viacutenculos afetivos satildeo mais niacutetidos na
infacircncia por ter uma base orgacircnica mais evidente sendo significativa agrave
contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo Henry Wallon (1879-1962) que postula um momento
onde a emoccedilatildeo eacute o que prevalece e soacute posteriormente desenvolve-se a
afetividade Sendo assim a mudanccedila de estado orgacircnico para a etapa
cognitiva e racional eacute realizada sob mediaccedilatildeo social nos dando subsiacutedios para
afirmar que a afetividade evolui e se modifica com o desenvolvimento do ser
humano
Jaacute na teoria cognitivista sob a perspectiva vygotskyana revelam-se
princiacutepios que sugerem que aprendemos a relacionar ideacuteias abstraindo de
nossa experiecircncia o que revela que nenhuma pessoa ao entrar na escola eacute
totalmente desprovida de algum tipo de conhecimento pois seja o indiviacuteduo
crianccedila jovem ou adulto que nunca foi agrave escola carrega consigo uma
bagagem de conhecimento absorvida atraveacutes da interaccedilatildeo social
Ao longo do ciclo vital o sujeito constroacutei e desenvolve os aspectos
cognitivos e afetivos interagindo com o meio e com outros sujeitos e embora
6
pouco percebida na sala de aula a razatildeo e a emoccedilatildeo alternam-se sendo a
afetividade corrente que une os indiviacuteduos favorecendo a ampliaccedilatildeo do modo
de sentir perceber a si proacuteprio e ao outro Assim na escola a afetividade
acontece atraveacutes dos contatos entre alunos professores conteuacutedo escolar
livros escrita etc natildeo sendo exclusivo da esfera cognitiva pois os indiviacuteduos
mobilizam os laccedilos afetivos com o objetivo de criar e manter um clima positivo
que favorece a sua permanecircncia na escola
Partindo para uma anaacutelise psicanaliacutetica destacamos as ideacuteias de
Sigmund Freud (1856-1939) das quais enfatizamos o conceito da transferecircncia
que de acordo com este teoacuterico estaacute mais evidente na infacircncia no entanto
pode estar presente ao longo de toda a vida Na obra de Freud agrave identificaccedilatildeo
que as crianccedilas e acreditamos que tambeacutem os jovens e os adultos procuram
na figura do professor ou outro elemento significativo no processo de
aprendizagem eacute um referencial estimulador Quando o professor eacute percebido
pelo aluno como um ser de grande importacircncia ele passa a ldquoter em suas matildeos
um poder de influecircncia sobre o alunordquo (KUPFER 2005 p 87) uso que
depende da escolha do professor
Neste contexto a transferecircncia estaacute presente em qualquer relaccedilatildeo
humana e em especial na relaccedilatildeo do educador e do educando Nela satildeo
transferidas num ato inconsciente as experiecircncias (vividas anteriormente com
os pais) assim que o desejo de saber do aluno se depara com um elemento
particular o professor
Para Kupfer (2005) ao substituirmos sentimentos e experiecircncias vividas
de uma figura principalmente agrave dos pais para o professor eacute deste uacuteltimo o
trabalho no sentido de desidealizar sua figura assim o aluno gradualmente iraacute
reforccedilar o seu proacuteprio ego de modo a emergir da relaccedilatildeo como um ser
pensante mantendo apenas o viacutenculo afetivo
Saindo um pouco da psicanaacutelise e entrando em uma visatildeo psicoloacutegica
humanista damos ecircnfase aos pensamentos do psicoacutelogo Carl R Rogers
(1902-1987) Este ressalta que uma aprendizagem significativa do indiviacuteduo
resulta do relacionamento positivo entre professor e aluno que se desenvolve a
partir do estabelecimento de um ambiente com clima permissivo onde o
7
educando tem liberdade para suas construccedilotildees de acordo com suas
experiecircncias anteriores indo a uma educaccedilatildeo plena
Ainda de acordo com a teoria rogeriana para Guedes (1979) toda
pessoa inserida no processo educacional pode aprender sozinha influenciada
pelas suas experiecircncias anteriores que satildeo focadas na direccedilatildeo certa pelo
educador mas soacute fluem no processo de aprendizagem com o consentimento
(emoccedilotildees) do indiviacuteduo jaacute que soacute ele controla seu proacuteprio desenvolvimento
Neste processo o professor estaacute inserido no grupo e natildeo acima dele facilitando
a aprendizagem isso faz das pessoas uacutenicas no processo
Justifica-se assim a educaccedilatildeo abrangente firmada em documentos de
relevacircncia que busca o desenvolvimento dos processos formativos
apresentados ldquo na vida familiar na convivecircncia humana no trabalho nas
instituiccedilotildees de ensino e pesquisardquo (LDB Art 1o) Educaccedilatildeo apresentada
ainda na Constituiccedilatildeo de 1988 (Art 205) responsaacutevel pela valorizaccedilatildeo do
desenvolvimento total do ser humano e desta forma para funcionamento
completo das habilidades intelectuais dar-se-aacute importacircncia ao viacutenculo afetivo
para o indiviacuteduo
21 AFETIVIDADE NA EJA
Como seres humanos maduros os alunos de EJA mesmo natildeo sendo
alfabetizados dispotildeem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no
seu dia-a-dia Sendo assim toda aprendizagem eacute influenciada pela experiecircncia
adquirida em convivecircncia com o outro pois nem de longe eacute somente na escola
que se obtecircm conhecimentos e principalmente na EJA onde o jovem e adulto eacute
um ldquomembro da sociedade ao qual cabe a produccedilatildeo social a direccedilatildeo da
sociedade e a reproduccedilatildeo da espeacutecierdquo (PINTO 1997 p79)
Neste niacutevel educacional geralmente especiacutefico do horaacuterio noturno
encontramos jovens adultos e idosos geralmente de origem humilde que natildeo
tiveram por algum motivo em sua eacutepoca chance de entrar ou continuar os
estudos Segundo a LDB (Art 37 1996) estes estatildeo em um patamar de ensino
especiacutefico da educaccedilatildeo baacutesica reservado aos que natildeo puderam ingressar ou
prosseguir os estudos no ensino fundamental e meacutedio na idade adequada
8
Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de
vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos
da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de
estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees
socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia
financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo
do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo
(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por
obrigaccedilatildeo
Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da
qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso
entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por
um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do
estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie
em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado
Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo
na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave
relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o
aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers
(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de
sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do
conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve
sentimento e inteligecircncia
Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o
conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas
pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos
envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes
das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo
indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as
pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de
aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos
9
e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida
diferente
Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social
e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios
atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal
instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis
formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo
(MOURA 1999 p 60)
De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou
significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda
atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da
inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo
para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida
pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao
aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e
decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o
educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a
construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos
criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade
Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que
este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e
adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para
promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou
omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar
mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por
Vygotsky e Wallon
22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE
Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor
natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a
identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para
perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos
10
educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo
cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo
positivamente no aprendizado
No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma
relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa
aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar
em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um
indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e
singular com necessidades educacionais especiacuteficas
Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar
encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas
desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e
livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade
suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem
Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma
atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de
produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na
criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e
agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo
Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a
compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as
dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o
professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus
erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute
errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias
normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir
empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio
do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)
Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram
instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos
accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da
afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos
11
autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de
conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992
p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos
capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos
ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos
3 O CAMINHO PERCORRIDO
Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa
que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto
com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos
comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para
investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e
sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola
Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados
por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a
setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho
desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica
Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees
feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)
optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da
entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista
para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter
interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que
classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo
e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados
Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete
alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter
semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo
(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar
perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em
categorias distintas e analisados
12
Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham
a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de
escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com
as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos
da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos
No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que
elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do
aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a
sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola
Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi
dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as
professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno
relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional
e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida
tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo
profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de
EJA
Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses
nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R
Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e
outros
4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM
GENTE DE VERDADErdquo4
41 Os alunos
Relaccedilatildeo aluno-aluno
Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante
fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos
entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles
ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute
4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo
13
bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer
ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se
conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem
melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo
(CH 31 anos)
A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute
escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a
civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres
humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria
sociedade
De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da
afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia
no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos
permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma
relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos
e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como
fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar
Relaccedilatildeo aluno-professor
Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como
era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos
constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo
pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas
professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito
bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto
uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este
aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em
chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu
tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo
(R 42 anos)
Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo
intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no
relacionamento entre o educador e o educando
14
Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas
professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e
desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser
professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que
requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa
um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de
conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)
As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho
compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que
enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos
materiais
PermanecircnciaRetorno
Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um
deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica
os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta
incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou
preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na
seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes
mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer
estudarrdquo (RS - 33 anos)
Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por
causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava
muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)
Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO
1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua
existecircncia
Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que
voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
2
Eacute na EJA que se percebe a necessidade de compreensatildeo e estiacutemulo por
parte do professor para superaccedilatildeo das dificuldades e desafios que muitos
encontram em seus caminhos sendo gerado muitas vezes pela falta de
acolhimento da escola pelo desestiacutemulo o que pode ocasionar uma posterior
evasatildeo Assim partimos da hipoacutetese de que quando haacute uma expressatildeo de
afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno e entre os proacuteprios alunos sobre a
forma de incentivos proximidade corporal interesse em saber sobre o seu
cotidiano e amizade tudo isso contribuem significativamente para a construccedilatildeo
e manutenccedilatildeo de um viacutenculo do aluno da EJA com a escola e com o saber
pois quando haacute formaccedilatildeo de um laccedilo afetivo e uma interaccedilatildeo entre o grupo o
processo de ensino-aprendizagem se torna mais efetivo e a permanecircncia na
escola em sua maioria eacute garantida
Por conseguinte ao emitir-se uma atitude como afeto positivo ou
negativo haacute uma tendecircncia da resposta ser acompanhada por uma estrutura
cognitiva composta de crenccedilas e opiniotildees sobre suas potencialidades de
realizaccedilotildees e suas expectativas Assim o ganho no processo ensino-
aprendizagem eacute influenciado pela amabilidade que se efetiva nos
relacionamentos firmados e na constataccedilatildeo cognitiva
Lev Vygotsky (1896-1934) psicoacutelogo interacionista explica o
desenvolvimento afetivo sob um ponto de vista soacutecio-histoacuterico-cultural o que
nos dar condiccedilotildees para apreciarmos a afetividade relacionada agrave educaccedilatildeo da
EJA partindo da ideacuteia de que a aquisiccedilatildeo de conhecimentos e de sentimentos
se datildeo pela interaccedilatildeo do sujeito com o meio escolar
Jaacute Henri Wallon (1879-1962) eleva a afetividade a um domiacutenio
funcional cujo desenvolvimento eacute dependente da accedilatildeo de dois fatores o
orgacircnico e o social Neste a escola que eacute tradicionalmente tomada como
espaccedilo onde deve imperar o desenvolvimento do conhecimento passa a ser
reconhecida como meio cujo afeto eacute primordial para a relaccedilatildeo humana e o
professor eacute responsaacutevel pela mediaccedilatildeo afetiva na instituiccedilatildeo de ensino
Apesar de algumas divergecircncias Vygotsky e Wallon compartilham da
ideacuteia de que a afetividade se desenvolve atraveacutes da interaccedilatildeo entre os
indiviacuteduos e que a razatildeo e a emoccedilatildeo estatildeo ligadas
3
Com base nesses teoacutericos temos como pressuposto a visualizaccedilatildeo de
uma educaccedilatildeo na qual a afetividade se coloca como elemento primordial no
contexto da EJA onde a figura do professor eacute potencializadora do clima
emocional positivo na sala de aula despertando os educandos para o processo
de ensino-aprendizagem porque ldquoeacute sobretudo o mestre que pode mudando
de atitude provocar um aperfeiccediloamento da relaccedilatildeo afetivardquo (MARCHAND p
93)
Assim no presente artigo far-se-aacute a anaacutelise da possiacutevel contribuiccedilatildeo da
afetividade no processo de ensino-aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e
Adultos uma vez que o vinculo afetivo pode ou natildeo ajudar na internalizaccedilatildeo do
conhecimento
2 BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS NOBRASIL
Muitas vezes definimos erroneamente Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos
Por isso antes de iniciar o nosso trabalho eacute necessaacuterio conhecer um pouco de
sua histoacuteria
Seguindo um perfil histoacuterico temos o caminho da educaccedilatildeo de jovens e
adultos trilhado ao lado dos modelos econocircmicos e poliacuteticos pois excetuando
o Periacuteodo Colonial (1500-1822) todos os outros periacuteodos indicavam busca pela
instruccedilatildeo incentivada pela necessidade econocircmica poliacutetica e ideoloacutegica de
uma elite majoritaacuteria
Eacute no Brasil Impeacuterio (1822-1889) que surgem as primeiras escolas
noturnas para adultos tipo de iniciativa que ganha forccedila na Repuacuteblica (1889)
com campanhas descontiacutenuas e curtas que buscavam apoio das diferentes
instacircncias da sociedade civil refletindo o descompromisso com uma poliacutetica de
educaccedilatildeo institucional
Apoacutes a Revoluccedilatildeo de 30 permitiu-se uma consolidaccedilatildeo de um sistema
educacional baacutesico com significativa inclusatildeo da educaccedilatildeo dos adolescentes e
adultos analfabetos entre os objetivos do estado brasileiro
A deacutecada de 40 trouxe iniciativas de peso como as primeiras obras
dedicadas ao ensino supletivo a Campanha de Educaccedilatildeo de Adolescentes e
Adultos o Congresso Nacional de Educaccedilatildeo de Adultos (1947) e o Seminaacuterio
4
Interamericano de Educaccedilatildeo de Adultos (1949) embora as praacuteticas e o
material didaacutetico permanecessem semelhantes aos destinados agraves crianccedilas
Mesmo com vaacuterios resultados significativos e com implantaccedilatildeo de vaacuterias
escolas supletivas o clima de entusiasmo comeccedilou a diminuir na deacutecada de
50 sobrevivendo apenas agrave rede de ensino supletivo que foi assumida pelos
estados e municiacutepios Sendo no final da deacutecada de 50 ateacute os meados dos anos
60 segundo Moura (1999) eacute relevante a contribuiccedilatildeo do educador Paulo Freire
(1921-1997) que inspirou os principais programas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo
popular marcando o iniacutecio de um novo periacuteodo da educaccedilatildeo dos adultos no
Brasil
Mas eacute na deacutecada de 80 que haacute uma valorizaccedilatildeo das experiecircncias
baseadas no meacutetodo de Paulo Freire com conquistas importantes que
culminaram com a garantia da extensatildeo da obrigatoriedade da educaccedilatildeo
baacutesica para jovens e adultos na Constituiccedilatildeo de 1988 necessaacuteria para
erradicaccedilatildeo do analfabetismo
Foi concebido assim o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo
(MOBRAL) sistema que controlava a alfabetizaccedilatildeo da populaccedilatildeo adulta
principalmente a rural Poreacutem em meados de 1985 com a Nova Repuacuteblica ele
foi extinto dando lugar a Fundaccedilatildeo Educar que por sua vez fechou em 1990
sinalizando a ausecircncia do Governo Federal desse cenaacuterio educacional
constatando inexistecircncia de um oacutergatildeo ou setor do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
voltado para a EJA
Atualmente a EJA traccedila um caminho pautado em mudanccedilas
expressivas que foram norteadas pelos valores apresentados na Conferecircncia
Internacional de Hamburgo (1997) na Lei 939496 no Parecer da Cacircmara de
Educaccedilatildeo Baacutesica (CEB 1100) que estabelece as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e na Deliberaccedilatildeo 0800 CEB
com o intuito de promover o conhecimento e a cidadania
Embora existam diversos documentos emitidos e mudanccedilas baseadas
nas novas tendecircncias do mundo atual globalizado e desenvolvido que a
reconheccedilam como importante a EJA ainda enfrenta problemas no que diz
respeito a alguns conteuacutedos presentes nos livros didaacuteticos que desconsideram
5
as especificidades regionais que desrespeitam as peculiaridades do puacuteblico-
alvo e por vezes dificultam o relacionamento professor-aluno
2 RELACcedilAtildeO PROFESSOR-ALUNO E AFETIVIDADE
Atraveacutes de uma visatildeo integral da interaccedilatildeo nas relaccedilotildees humanas e na
aprendizagem encontramos a afetividade vista sob a forma de criaccedilatildeo de
viacutenculos que surgem no decorrer do ciclo vital de qualquer indiviacuteduo e embora
desabrochem no iniacutecio da gestaccedilatildeo permanecem em processo contiacutenuo
atraveacutes da sociabilidade em todas as fases da vida confirmando a relaccedilatildeo
entre afetividade e o desenvolvimento cognitivo e fiacutesico
Dentre as diversas literaturas encontramos teoacutericos (Wallon Vygostsky
Bowlby) que descrevem o viacutenculo entre matildee e filho (desde a gestaccedilatildeo) como
ponto inicial de um sistema comportamental viabilizador de proteccedilatildeo e
preservaccedilatildeo que favorece no futuro os relacionamentos bem como o despertar
da autoconfianccedila e confianccedila nos outros caracteriacutesticas que possibilitam maior
vinculaccedilatildeo entre as pessoas na juventude e na idade adulta
Neste sentido salientamos que os viacutenculos afetivos satildeo mais niacutetidos na
infacircncia por ter uma base orgacircnica mais evidente sendo significativa agrave
contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo Henry Wallon (1879-1962) que postula um momento
onde a emoccedilatildeo eacute o que prevalece e soacute posteriormente desenvolve-se a
afetividade Sendo assim a mudanccedila de estado orgacircnico para a etapa
cognitiva e racional eacute realizada sob mediaccedilatildeo social nos dando subsiacutedios para
afirmar que a afetividade evolui e se modifica com o desenvolvimento do ser
humano
Jaacute na teoria cognitivista sob a perspectiva vygotskyana revelam-se
princiacutepios que sugerem que aprendemos a relacionar ideacuteias abstraindo de
nossa experiecircncia o que revela que nenhuma pessoa ao entrar na escola eacute
totalmente desprovida de algum tipo de conhecimento pois seja o indiviacuteduo
crianccedila jovem ou adulto que nunca foi agrave escola carrega consigo uma
bagagem de conhecimento absorvida atraveacutes da interaccedilatildeo social
Ao longo do ciclo vital o sujeito constroacutei e desenvolve os aspectos
cognitivos e afetivos interagindo com o meio e com outros sujeitos e embora
6
pouco percebida na sala de aula a razatildeo e a emoccedilatildeo alternam-se sendo a
afetividade corrente que une os indiviacuteduos favorecendo a ampliaccedilatildeo do modo
de sentir perceber a si proacuteprio e ao outro Assim na escola a afetividade
acontece atraveacutes dos contatos entre alunos professores conteuacutedo escolar
livros escrita etc natildeo sendo exclusivo da esfera cognitiva pois os indiviacuteduos
mobilizam os laccedilos afetivos com o objetivo de criar e manter um clima positivo
que favorece a sua permanecircncia na escola
Partindo para uma anaacutelise psicanaliacutetica destacamos as ideacuteias de
Sigmund Freud (1856-1939) das quais enfatizamos o conceito da transferecircncia
que de acordo com este teoacuterico estaacute mais evidente na infacircncia no entanto
pode estar presente ao longo de toda a vida Na obra de Freud agrave identificaccedilatildeo
que as crianccedilas e acreditamos que tambeacutem os jovens e os adultos procuram
na figura do professor ou outro elemento significativo no processo de
aprendizagem eacute um referencial estimulador Quando o professor eacute percebido
pelo aluno como um ser de grande importacircncia ele passa a ldquoter em suas matildeos
um poder de influecircncia sobre o alunordquo (KUPFER 2005 p 87) uso que
depende da escolha do professor
Neste contexto a transferecircncia estaacute presente em qualquer relaccedilatildeo
humana e em especial na relaccedilatildeo do educador e do educando Nela satildeo
transferidas num ato inconsciente as experiecircncias (vividas anteriormente com
os pais) assim que o desejo de saber do aluno se depara com um elemento
particular o professor
Para Kupfer (2005) ao substituirmos sentimentos e experiecircncias vividas
de uma figura principalmente agrave dos pais para o professor eacute deste uacuteltimo o
trabalho no sentido de desidealizar sua figura assim o aluno gradualmente iraacute
reforccedilar o seu proacuteprio ego de modo a emergir da relaccedilatildeo como um ser
pensante mantendo apenas o viacutenculo afetivo
Saindo um pouco da psicanaacutelise e entrando em uma visatildeo psicoloacutegica
humanista damos ecircnfase aos pensamentos do psicoacutelogo Carl R Rogers
(1902-1987) Este ressalta que uma aprendizagem significativa do indiviacuteduo
resulta do relacionamento positivo entre professor e aluno que se desenvolve a
partir do estabelecimento de um ambiente com clima permissivo onde o
7
educando tem liberdade para suas construccedilotildees de acordo com suas
experiecircncias anteriores indo a uma educaccedilatildeo plena
Ainda de acordo com a teoria rogeriana para Guedes (1979) toda
pessoa inserida no processo educacional pode aprender sozinha influenciada
pelas suas experiecircncias anteriores que satildeo focadas na direccedilatildeo certa pelo
educador mas soacute fluem no processo de aprendizagem com o consentimento
(emoccedilotildees) do indiviacuteduo jaacute que soacute ele controla seu proacuteprio desenvolvimento
Neste processo o professor estaacute inserido no grupo e natildeo acima dele facilitando
a aprendizagem isso faz das pessoas uacutenicas no processo
Justifica-se assim a educaccedilatildeo abrangente firmada em documentos de
relevacircncia que busca o desenvolvimento dos processos formativos
apresentados ldquo na vida familiar na convivecircncia humana no trabalho nas
instituiccedilotildees de ensino e pesquisardquo (LDB Art 1o) Educaccedilatildeo apresentada
ainda na Constituiccedilatildeo de 1988 (Art 205) responsaacutevel pela valorizaccedilatildeo do
desenvolvimento total do ser humano e desta forma para funcionamento
completo das habilidades intelectuais dar-se-aacute importacircncia ao viacutenculo afetivo
para o indiviacuteduo
21 AFETIVIDADE NA EJA
Como seres humanos maduros os alunos de EJA mesmo natildeo sendo
alfabetizados dispotildeem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no
seu dia-a-dia Sendo assim toda aprendizagem eacute influenciada pela experiecircncia
adquirida em convivecircncia com o outro pois nem de longe eacute somente na escola
que se obtecircm conhecimentos e principalmente na EJA onde o jovem e adulto eacute
um ldquomembro da sociedade ao qual cabe a produccedilatildeo social a direccedilatildeo da
sociedade e a reproduccedilatildeo da espeacutecierdquo (PINTO 1997 p79)
Neste niacutevel educacional geralmente especiacutefico do horaacuterio noturno
encontramos jovens adultos e idosos geralmente de origem humilde que natildeo
tiveram por algum motivo em sua eacutepoca chance de entrar ou continuar os
estudos Segundo a LDB (Art 37 1996) estes estatildeo em um patamar de ensino
especiacutefico da educaccedilatildeo baacutesica reservado aos que natildeo puderam ingressar ou
prosseguir os estudos no ensino fundamental e meacutedio na idade adequada
8
Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de
vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos
da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de
estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees
socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia
financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo
do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo
(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por
obrigaccedilatildeo
Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da
qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso
entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por
um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do
estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie
em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado
Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo
na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave
relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o
aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers
(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de
sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do
conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve
sentimento e inteligecircncia
Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o
conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas
pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos
envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes
das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo
indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as
pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de
aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos
9
e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida
diferente
Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social
e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios
atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal
instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis
formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo
(MOURA 1999 p 60)
De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou
significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda
atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da
inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo
para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida
pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao
aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e
decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o
educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a
construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos
criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade
Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que
este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e
adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para
promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou
omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar
mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por
Vygotsky e Wallon
22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE
Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor
natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a
identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para
perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos
10
educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo
cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo
positivamente no aprendizado
No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma
relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa
aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar
em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um
indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e
singular com necessidades educacionais especiacuteficas
Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar
encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas
desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e
livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade
suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem
Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma
atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de
produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na
criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e
agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo
Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a
compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as
dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o
professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus
erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute
errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias
normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir
empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio
do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)
Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram
instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos
accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da
afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos
11
autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de
conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992
p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos
capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos
ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos
3 O CAMINHO PERCORRIDO
Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa
que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto
com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos
comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para
investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e
sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola
Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados
por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a
setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho
desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica
Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees
feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)
optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da
entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista
para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter
interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que
classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo
e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados
Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete
alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter
semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo
(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar
perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em
categorias distintas e analisados
12
Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham
a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de
escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com
as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos
da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos
No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que
elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do
aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a
sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola
Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi
dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as
professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno
relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional
e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida
tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo
profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de
EJA
Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses
nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R
Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e
outros
4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM
GENTE DE VERDADErdquo4
41 Os alunos
Relaccedilatildeo aluno-aluno
Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante
fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos
entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles
ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute
4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo
13
bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer
ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se
conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem
melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo
(CH 31 anos)
A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute
escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a
civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres
humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria
sociedade
De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da
afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia
no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos
permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma
relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos
e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como
fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar
Relaccedilatildeo aluno-professor
Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como
era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos
constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo
pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas
professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito
bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto
uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este
aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em
chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu
tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo
(R 42 anos)
Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo
intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no
relacionamento entre o educador e o educando
14
Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas
professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e
desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser
professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que
requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa
um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de
conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)
As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho
compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que
enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos
materiais
PermanecircnciaRetorno
Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um
deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica
os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta
incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou
preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na
seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes
mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer
estudarrdquo (RS - 33 anos)
Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por
causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava
muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)
Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO
1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua
existecircncia
Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que
voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
3
Com base nesses teoacutericos temos como pressuposto a visualizaccedilatildeo de
uma educaccedilatildeo na qual a afetividade se coloca como elemento primordial no
contexto da EJA onde a figura do professor eacute potencializadora do clima
emocional positivo na sala de aula despertando os educandos para o processo
de ensino-aprendizagem porque ldquoeacute sobretudo o mestre que pode mudando
de atitude provocar um aperfeiccediloamento da relaccedilatildeo afetivardquo (MARCHAND p
93)
Assim no presente artigo far-se-aacute a anaacutelise da possiacutevel contribuiccedilatildeo da
afetividade no processo de ensino-aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e
Adultos uma vez que o vinculo afetivo pode ou natildeo ajudar na internalizaccedilatildeo do
conhecimento
2 BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS NOBRASIL
Muitas vezes definimos erroneamente Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos
Por isso antes de iniciar o nosso trabalho eacute necessaacuterio conhecer um pouco de
sua histoacuteria
Seguindo um perfil histoacuterico temos o caminho da educaccedilatildeo de jovens e
adultos trilhado ao lado dos modelos econocircmicos e poliacuteticos pois excetuando
o Periacuteodo Colonial (1500-1822) todos os outros periacuteodos indicavam busca pela
instruccedilatildeo incentivada pela necessidade econocircmica poliacutetica e ideoloacutegica de
uma elite majoritaacuteria
Eacute no Brasil Impeacuterio (1822-1889) que surgem as primeiras escolas
noturnas para adultos tipo de iniciativa que ganha forccedila na Repuacuteblica (1889)
com campanhas descontiacutenuas e curtas que buscavam apoio das diferentes
instacircncias da sociedade civil refletindo o descompromisso com uma poliacutetica de
educaccedilatildeo institucional
Apoacutes a Revoluccedilatildeo de 30 permitiu-se uma consolidaccedilatildeo de um sistema
educacional baacutesico com significativa inclusatildeo da educaccedilatildeo dos adolescentes e
adultos analfabetos entre os objetivos do estado brasileiro
A deacutecada de 40 trouxe iniciativas de peso como as primeiras obras
dedicadas ao ensino supletivo a Campanha de Educaccedilatildeo de Adolescentes e
Adultos o Congresso Nacional de Educaccedilatildeo de Adultos (1947) e o Seminaacuterio
4
Interamericano de Educaccedilatildeo de Adultos (1949) embora as praacuteticas e o
material didaacutetico permanecessem semelhantes aos destinados agraves crianccedilas
Mesmo com vaacuterios resultados significativos e com implantaccedilatildeo de vaacuterias
escolas supletivas o clima de entusiasmo comeccedilou a diminuir na deacutecada de
50 sobrevivendo apenas agrave rede de ensino supletivo que foi assumida pelos
estados e municiacutepios Sendo no final da deacutecada de 50 ateacute os meados dos anos
60 segundo Moura (1999) eacute relevante a contribuiccedilatildeo do educador Paulo Freire
(1921-1997) que inspirou os principais programas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo
popular marcando o iniacutecio de um novo periacuteodo da educaccedilatildeo dos adultos no
Brasil
Mas eacute na deacutecada de 80 que haacute uma valorizaccedilatildeo das experiecircncias
baseadas no meacutetodo de Paulo Freire com conquistas importantes que
culminaram com a garantia da extensatildeo da obrigatoriedade da educaccedilatildeo
baacutesica para jovens e adultos na Constituiccedilatildeo de 1988 necessaacuteria para
erradicaccedilatildeo do analfabetismo
Foi concebido assim o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo
(MOBRAL) sistema que controlava a alfabetizaccedilatildeo da populaccedilatildeo adulta
principalmente a rural Poreacutem em meados de 1985 com a Nova Repuacuteblica ele
foi extinto dando lugar a Fundaccedilatildeo Educar que por sua vez fechou em 1990
sinalizando a ausecircncia do Governo Federal desse cenaacuterio educacional
constatando inexistecircncia de um oacutergatildeo ou setor do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
voltado para a EJA
Atualmente a EJA traccedila um caminho pautado em mudanccedilas
expressivas que foram norteadas pelos valores apresentados na Conferecircncia
Internacional de Hamburgo (1997) na Lei 939496 no Parecer da Cacircmara de
Educaccedilatildeo Baacutesica (CEB 1100) que estabelece as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e na Deliberaccedilatildeo 0800 CEB
com o intuito de promover o conhecimento e a cidadania
Embora existam diversos documentos emitidos e mudanccedilas baseadas
nas novas tendecircncias do mundo atual globalizado e desenvolvido que a
reconheccedilam como importante a EJA ainda enfrenta problemas no que diz
respeito a alguns conteuacutedos presentes nos livros didaacuteticos que desconsideram
5
as especificidades regionais que desrespeitam as peculiaridades do puacuteblico-
alvo e por vezes dificultam o relacionamento professor-aluno
2 RELACcedilAtildeO PROFESSOR-ALUNO E AFETIVIDADE
Atraveacutes de uma visatildeo integral da interaccedilatildeo nas relaccedilotildees humanas e na
aprendizagem encontramos a afetividade vista sob a forma de criaccedilatildeo de
viacutenculos que surgem no decorrer do ciclo vital de qualquer indiviacuteduo e embora
desabrochem no iniacutecio da gestaccedilatildeo permanecem em processo contiacutenuo
atraveacutes da sociabilidade em todas as fases da vida confirmando a relaccedilatildeo
entre afetividade e o desenvolvimento cognitivo e fiacutesico
Dentre as diversas literaturas encontramos teoacutericos (Wallon Vygostsky
Bowlby) que descrevem o viacutenculo entre matildee e filho (desde a gestaccedilatildeo) como
ponto inicial de um sistema comportamental viabilizador de proteccedilatildeo e
preservaccedilatildeo que favorece no futuro os relacionamentos bem como o despertar
da autoconfianccedila e confianccedila nos outros caracteriacutesticas que possibilitam maior
vinculaccedilatildeo entre as pessoas na juventude e na idade adulta
Neste sentido salientamos que os viacutenculos afetivos satildeo mais niacutetidos na
infacircncia por ter uma base orgacircnica mais evidente sendo significativa agrave
contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo Henry Wallon (1879-1962) que postula um momento
onde a emoccedilatildeo eacute o que prevalece e soacute posteriormente desenvolve-se a
afetividade Sendo assim a mudanccedila de estado orgacircnico para a etapa
cognitiva e racional eacute realizada sob mediaccedilatildeo social nos dando subsiacutedios para
afirmar que a afetividade evolui e se modifica com o desenvolvimento do ser
humano
Jaacute na teoria cognitivista sob a perspectiva vygotskyana revelam-se
princiacutepios que sugerem que aprendemos a relacionar ideacuteias abstraindo de
nossa experiecircncia o que revela que nenhuma pessoa ao entrar na escola eacute
totalmente desprovida de algum tipo de conhecimento pois seja o indiviacuteduo
crianccedila jovem ou adulto que nunca foi agrave escola carrega consigo uma
bagagem de conhecimento absorvida atraveacutes da interaccedilatildeo social
Ao longo do ciclo vital o sujeito constroacutei e desenvolve os aspectos
cognitivos e afetivos interagindo com o meio e com outros sujeitos e embora
6
pouco percebida na sala de aula a razatildeo e a emoccedilatildeo alternam-se sendo a
afetividade corrente que une os indiviacuteduos favorecendo a ampliaccedilatildeo do modo
de sentir perceber a si proacuteprio e ao outro Assim na escola a afetividade
acontece atraveacutes dos contatos entre alunos professores conteuacutedo escolar
livros escrita etc natildeo sendo exclusivo da esfera cognitiva pois os indiviacuteduos
mobilizam os laccedilos afetivos com o objetivo de criar e manter um clima positivo
que favorece a sua permanecircncia na escola
Partindo para uma anaacutelise psicanaliacutetica destacamos as ideacuteias de
Sigmund Freud (1856-1939) das quais enfatizamos o conceito da transferecircncia
que de acordo com este teoacuterico estaacute mais evidente na infacircncia no entanto
pode estar presente ao longo de toda a vida Na obra de Freud agrave identificaccedilatildeo
que as crianccedilas e acreditamos que tambeacutem os jovens e os adultos procuram
na figura do professor ou outro elemento significativo no processo de
aprendizagem eacute um referencial estimulador Quando o professor eacute percebido
pelo aluno como um ser de grande importacircncia ele passa a ldquoter em suas matildeos
um poder de influecircncia sobre o alunordquo (KUPFER 2005 p 87) uso que
depende da escolha do professor
Neste contexto a transferecircncia estaacute presente em qualquer relaccedilatildeo
humana e em especial na relaccedilatildeo do educador e do educando Nela satildeo
transferidas num ato inconsciente as experiecircncias (vividas anteriormente com
os pais) assim que o desejo de saber do aluno se depara com um elemento
particular o professor
Para Kupfer (2005) ao substituirmos sentimentos e experiecircncias vividas
de uma figura principalmente agrave dos pais para o professor eacute deste uacuteltimo o
trabalho no sentido de desidealizar sua figura assim o aluno gradualmente iraacute
reforccedilar o seu proacuteprio ego de modo a emergir da relaccedilatildeo como um ser
pensante mantendo apenas o viacutenculo afetivo
Saindo um pouco da psicanaacutelise e entrando em uma visatildeo psicoloacutegica
humanista damos ecircnfase aos pensamentos do psicoacutelogo Carl R Rogers
(1902-1987) Este ressalta que uma aprendizagem significativa do indiviacuteduo
resulta do relacionamento positivo entre professor e aluno que se desenvolve a
partir do estabelecimento de um ambiente com clima permissivo onde o
7
educando tem liberdade para suas construccedilotildees de acordo com suas
experiecircncias anteriores indo a uma educaccedilatildeo plena
Ainda de acordo com a teoria rogeriana para Guedes (1979) toda
pessoa inserida no processo educacional pode aprender sozinha influenciada
pelas suas experiecircncias anteriores que satildeo focadas na direccedilatildeo certa pelo
educador mas soacute fluem no processo de aprendizagem com o consentimento
(emoccedilotildees) do indiviacuteduo jaacute que soacute ele controla seu proacuteprio desenvolvimento
Neste processo o professor estaacute inserido no grupo e natildeo acima dele facilitando
a aprendizagem isso faz das pessoas uacutenicas no processo
Justifica-se assim a educaccedilatildeo abrangente firmada em documentos de
relevacircncia que busca o desenvolvimento dos processos formativos
apresentados ldquo na vida familiar na convivecircncia humana no trabalho nas
instituiccedilotildees de ensino e pesquisardquo (LDB Art 1o) Educaccedilatildeo apresentada
ainda na Constituiccedilatildeo de 1988 (Art 205) responsaacutevel pela valorizaccedilatildeo do
desenvolvimento total do ser humano e desta forma para funcionamento
completo das habilidades intelectuais dar-se-aacute importacircncia ao viacutenculo afetivo
para o indiviacuteduo
21 AFETIVIDADE NA EJA
Como seres humanos maduros os alunos de EJA mesmo natildeo sendo
alfabetizados dispotildeem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no
seu dia-a-dia Sendo assim toda aprendizagem eacute influenciada pela experiecircncia
adquirida em convivecircncia com o outro pois nem de longe eacute somente na escola
que se obtecircm conhecimentos e principalmente na EJA onde o jovem e adulto eacute
um ldquomembro da sociedade ao qual cabe a produccedilatildeo social a direccedilatildeo da
sociedade e a reproduccedilatildeo da espeacutecierdquo (PINTO 1997 p79)
Neste niacutevel educacional geralmente especiacutefico do horaacuterio noturno
encontramos jovens adultos e idosos geralmente de origem humilde que natildeo
tiveram por algum motivo em sua eacutepoca chance de entrar ou continuar os
estudos Segundo a LDB (Art 37 1996) estes estatildeo em um patamar de ensino
especiacutefico da educaccedilatildeo baacutesica reservado aos que natildeo puderam ingressar ou
prosseguir os estudos no ensino fundamental e meacutedio na idade adequada
8
Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de
vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos
da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de
estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees
socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia
financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo
do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo
(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por
obrigaccedilatildeo
Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da
qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso
entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por
um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do
estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie
em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado
Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo
na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave
relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o
aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers
(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de
sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do
conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve
sentimento e inteligecircncia
Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o
conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas
pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos
envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes
das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo
indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as
pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de
aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos
9
e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida
diferente
Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social
e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios
atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal
instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis
formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo
(MOURA 1999 p 60)
De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou
significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda
atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da
inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo
para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida
pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao
aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e
decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o
educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a
construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos
criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade
Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que
este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e
adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para
promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou
omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar
mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por
Vygotsky e Wallon
22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE
Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor
natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a
identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para
perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos
10
educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo
cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo
positivamente no aprendizado
No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma
relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa
aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar
em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um
indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e
singular com necessidades educacionais especiacuteficas
Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar
encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas
desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e
livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade
suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem
Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma
atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de
produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na
criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e
agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo
Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a
compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as
dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o
professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus
erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute
errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias
normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir
empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio
do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)
Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram
instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos
accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da
afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos
11
autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de
conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992
p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos
capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos
ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos
3 O CAMINHO PERCORRIDO
Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa
que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto
com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos
comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para
investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e
sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola
Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados
por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a
setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho
desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica
Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees
feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)
optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da
entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista
para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter
interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que
classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo
e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados
Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete
alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter
semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo
(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar
perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em
categorias distintas e analisados
12
Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham
a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de
escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com
as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos
da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos
No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que
elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do
aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a
sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola
Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi
dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as
professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno
relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional
e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida
tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo
profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de
EJA
Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses
nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R
Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e
outros
4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM
GENTE DE VERDADErdquo4
41 Os alunos
Relaccedilatildeo aluno-aluno
Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante
fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos
entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles
ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute
4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo
13
bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer
ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se
conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem
melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo
(CH 31 anos)
A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute
escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a
civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres
humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria
sociedade
De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da
afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia
no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos
permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma
relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos
e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como
fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar
Relaccedilatildeo aluno-professor
Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como
era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos
constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo
pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas
professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito
bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto
uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este
aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em
chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu
tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo
(R 42 anos)
Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo
intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no
relacionamento entre o educador e o educando
14
Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas
professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e
desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser
professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que
requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa
um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de
conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)
As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho
compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que
enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos
materiais
PermanecircnciaRetorno
Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um
deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica
os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta
incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou
preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na
seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes
mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer
estudarrdquo (RS - 33 anos)
Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por
causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava
muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)
Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO
1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua
existecircncia
Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que
voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
4
Interamericano de Educaccedilatildeo de Adultos (1949) embora as praacuteticas e o
material didaacutetico permanecessem semelhantes aos destinados agraves crianccedilas
Mesmo com vaacuterios resultados significativos e com implantaccedilatildeo de vaacuterias
escolas supletivas o clima de entusiasmo comeccedilou a diminuir na deacutecada de
50 sobrevivendo apenas agrave rede de ensino supletivo que foi assumida pelos
estados e municiacutepios Sendo no final da deacutecada de 50 ateacute os meados dos anos
60 segundo Moura (1999) eacute relevante a contribuiccedilatildeo do educador Paulo Freire
(1921-1997) que inspirou os principais programas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo
popular marcando o iniacutecio de um novo periacuteodo da educaccedilatildeo dos adultos no
Brasil
Mas eacute na deacutecada de 80 que haacute uma valorizaccedilatildeo das experiecircncias
baseadas no meacutetodo de Paulo Freire com conquistas importantes que
culminaram com a garantia da extensatildeo da obrigatoriedade da educaccedilatildeo
baacutesica para jovens e adultos na Constituiccedilatildeo de 1988 necessaacuteria para
erradicaccedilatildeo do analfabetismo
Foi concebido assim o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo
(MOBRAL) sistema que controlava a alfabetizaccedilatildeo da populaccedilatildeo adulta
principalmente a rural Poreacutem em meados de 1985 com a Nova Repuacuteblica ele
foi extinto dando lugar a Fundaccedilatildeo Educar que por sua vez fechou em 1990
sinalizando a ausecircncia do Governo Federal desse cenaacuterio educacional
constatando inexistecircncia de um oacutergatildeo ou setor do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
voltado para a EJA
Atualmente a EJA traccedila um caminho pautado em mudanccedilas
expressivas que foram norteadas pelos valores apresentados na Conferecircncia
Internacional de Hamburgo (1997) na Lei 939496 no Parecer da Cacircmara de
Educaccedilatildeo Baacutesica (CEB 1100) que estabelece as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e na Deliberaccedilatildeo 0800 CEB
com o intuito de promover o conhecimento e a cidadania
Embora existam diversos documentos emitidos e mudanccedilas baseadas
nas novas tendecircncias do mundo atual globalizado e desenvolvido que a
reconheccedilam como importante a EJA ainda enfrenta problemas no que diz
respeito a alguns conteuacutedos presentes nos livros didaacuteticos que desconsideram
5
as especificidades regionais que desrespeitam as peculiaridades do puacuteblico-
alvo e por vezes dificultam o relacionamento professor-aluno
2 RELACcedilAtildeO PROFESSOR-ALUNO E AFETIVIDADE
Atraveacutes de uma visatildeo integral da interaccedilatildeo nas relaccedilotildees humanas e na
aprendizagem encontramos a afetividade vista sob a forma de criaccedilatildeo de
viacutenculos que surgem no decorrer do ciclo vital de qualquer indiviacuteduo e embora
desabrochem no iniacutecio da gestaccedilatildeo permanecem em processo contiacutenuo
atraveacutes da sociabilidade em todas as fases da vida confirmando a relaccedilatildeo
entre afetividade e o desenvolvimento cognitivo e fiacutesico
Dentre as diversas literaturas encontramos teoacutericos (Wallon Vygostsky
Bowlby) que descrevem o viacutenculo entre matildee e filho (desde a gestaccedilatildeo) como
ponto inicial de um sistema comportamental viabilizador de proteccedilatildeo e
preservaccedilatildeo que favorece no futuro os relacionamentos bem como o despertar
da autoconfianccedila e confianccedila nos outros caracteriacutesticas que possibilitam maior
vinculaccedilatildeo entre as pessoas na juventude e na idade adulta
Neste sentido salientamos que os viacutenculos afetivos satildeo mais niacutetidos na
infacircncia por ter uma base orgacircnica mais evidente sendo significativa agrave
contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo Henry Wallon (1879-1962) que postula um momento
onde a emoccedilatildeo eacute o que prevalece e soacute posteriormente desenvolve-se a
afetividade Sendo assim a mudanccedila de estado orgacircnico para a etapa
cognitiva e racional eacute realizada sob mediaccedilatildeo social nos dando subsiacutedios para
afirmar que a afetividade evolui e se modifica com o desenvolvimento do ser
humano
Jaacute na teoria cognitivista sob a perspectiva vygotskyana revelam-se
princiacutepios que sugerem que aprendemos a relacionar ideacuteias abstraindo de
nossa experiecircncia o que revela que nenhuma pessoa ao entrar na escola eacute
totalmente desprovida de algum tipo de conhecimento pois seja o indiviacuteduo
crianccedila jovem ou adulto que nunca foi agrave escola carrega consigo uma
bagagem de conhecimento absorvida atraveacutes da interaccedilatildeo social
Ao longo do ciclo vital o sujeito constroacutei e desenvolve os aspectos
cognitivos e afetivos interagindo com o meio e com outros sujeitos e embora
6
pouco percebida na sala de aula a razatildeo e a emoccedilatildeo alternam-se sendo a
afetividade corrente que une os indiviacuteduos favorecendo a ampliaccedilatildeo do modo
de sentir perceber a si proacuteprio e ao outro Assim na escola a afetividade
acontece atraveacutes dos contatos entre alunos professores conteuacutedo escolar
livros escrita etc natildeo sendo exclusivo da esfera cognitiva pois os indiviacuteduos
mobilizam os laccedilos afetivos com o objetivo de criar e manter um clima positivo
que favorece a sua permanecircncia na escola
Partindo para uma anaacutelise psicanaliacutetica destacamos as ideacuteias de
Sigmund Freud (1856-1939) das quais enfatizamos o conceito da transferecircncia
que de acordo com este teoacuterico estaacute mais evidente na infacircncia no entanto
pode estar presente ao longo de toda a vida Na obra de Freud agrave identificaccedilatildeo
que as crianccedilas e acreditamos que tambeacutem os jovens e os adultos procuram
na figura do professor ou outro elemento significativo no processo de
aprendizagem eacute um referencial estimulador Quando o professor eacute percebido
pelo aluno como um ser de grande importacircncia ele passa a ldquoter em suas matildeos
um poder de influecircncia sobre o alunordquo (KUPFER 2005 p 87) uso que
depende da escolha do professor
Neste contexto a transferecircncia estaacute presente em qualquer relaccedilatildeo
humana e em especial na relaccedilatildeo do educador e do educando Nela satildeo
transferidas num ato inconsciente as experiecircncias (vividas anteriormente com
os pais) assim que o desejo de saber do aluno se depara com um elemento
particular o professor
Para Kupfer (2005) ao substituirmos sentimentos e experiecircncias vividas
de uma figura principalmente agrave dos pais para o professor eacute deste uacuteltimo o
trabalho no sentido de desidealizar sua figura assim o aluno gradualmente iraacute
reforccedilar o seu proacuteprio ego de modo a emergir da relaccedilatildeo como um ser
pensante mantendo apenas o viacutenculo afetivo
Saindo um pouco da psicanaacutelise e entrando em uma visatildeo psicoloacutegica
humanista damos ecircnfase aos pensamentos do psicoacutelogo Carl R Rogers
(1902-1987) Este ressalta que uma aprendizagem significativa do indiviacuteduo
resulta do relacionamento positivo entre professor e aluno que se desenvolve a
partir do estabelecimento de um ambiente com clima permissivo onde o
7
educando tem liberdade para suas construccedilotildees de acordo com suas
experiecircncias anteriores indo a uma educaccedilatildeo plena
Ainda de acordo com a teoria rogeriana para Guedes (1979) toda
pessoa inserida no processo educacional pode aprender sozinha influenciada
pelas suas experiecircncias anteriores que satildeo focadas na direccedilatildeo certa pelo
educador mas soacute fluem no processo de aprendizagem com o consentimento
(emoccedilotildees) do indiviacuteduo jaacute que soacute ele controla seu proacuteprio desenvolvimento
Neste processo o professor estaacute inserido no grupo e natildeo acima dele facilitando
a aprendizagem isso faz das pessoas uacutenicas no processo
Justifica-se assim a educaccedilatildeo abrangente firmada em documentos de
relevacircncia que busca o desenvolvimento dos processos formativos
apresentados ldquo na vida familiar na convivecircncia humana no trabalho nas
instituiccedilotildees de ensino e pesquisardquo (LDB Art 1o) Educaccedilatildeo apresentada
ainda na Constituiccedilatildeo de 1988 (Art 205) responsaacutevel pela valorizaccedilatildeo do
desenvolvimento total do ser humano e desta forma para funcionamento
completo das habilidades intelectuais dar-se-aacute importacircncia ao viacutenculo afetivo
para o indiviacuteduo
21 AFETIVIDADE NA EJA
Como seres humanos maduros os alunos de EJA mesmo natildeo sendo
alfabetizados dispotildeem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no
seu dia-a-dia Sendo assim toda aprendizagem eacute influenciada pela experiecircncia
adquirida em convivecircncia com o outro pois nem de longe eacute somente na escola
que se obtecircm conhecimentos e principalmente na EJA onde o jovem e adulto eacute
um ldquomembro da sociedade ao qual cabe a produccedilatildeo social a direccedilatildeo da
sociedade e a reproduccedilatildeo da espeacutecierdquo (PINTO 1997 p79)
Neste niacutevel educacional geralmente especiacutefico do horaacuterio noturno
encontramos jovens adultos e idosos geralmente de origem humilde que natildeo
tiveram por algum motivo em sua eacutepoca chance de entrar ou continuar os
estudos Segundo a LDB (Art 37 1996) estes estatildeo em um patamar de ensino
especiacutefico da educaccedilatildeo baacutesica reservado aos que natildeo puderam ingressar ou
prosseguir os estudos no ensino fundamental e meacutedio na idade adequada
8
Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de
vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos
da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de
estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees
socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia
financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo
do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo
(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por
obrigaccedilatildeo
Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da
qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso
entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por
um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do
estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie
em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado
Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo
na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave
relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o
aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers
(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de
sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do
conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve
sentimento e inteligecircncia
Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o
conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas
pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos
envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes
das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo
indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as
pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de
aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos
9
e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida
diferente
Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social
e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios
atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal
instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis
formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo
(MOURA 1999 p 60)
De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou
significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda
atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da
inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo
para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida
pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao
aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e
decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o
educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a
construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos
criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade
Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que
este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e
adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para
promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou
omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar
mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por
Vygotsky e Wallon
22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE
Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor
natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a
identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para
perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos
10
educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo
cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo
positivamente no aprendizado
No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma
relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa
aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar
em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um
indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e
singular com necessidades educacionais especiacuteficas
Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar
encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas
desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e
livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade
suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem
Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma
atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de
produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na
criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e
agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo
Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a
compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as
dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o
professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus
erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute
errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias
normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir
empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio
do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)
Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram
instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos
accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da
afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos
11
autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de
conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992
p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos
capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos
ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos
3 O CAMINHO PERCORRIDO
Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa
que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto
com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos
comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para
investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e
sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola
Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados
por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a
setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho
desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica
Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees
feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)
optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da
entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista
para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter
interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que
classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo
e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados
Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete
alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter
semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo
(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar
perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em
categorias distintas e analisados
12
Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham
a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de
escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com
as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos
da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos
No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que
elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do
aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a
sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola
Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi
dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as
professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno
relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional
e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida
tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo
profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de
EJA
Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses
nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R
Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e
outros
4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM
GENTE DE VERDADErdquo4
41 Os alunos
Relaccedilatildeo aluno-aluno
Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante
fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos
entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles
ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute
4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo
13
bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer
ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se
conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem
melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo
(CH 31 anos)
A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute
escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a
civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres
humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria
sociedade
De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da
afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia
no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos
permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma
relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos
e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como
fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar
Relaccedilatildeo aluno-professor
Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como
era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos
constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo
pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas
professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito
bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto
uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este
aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em
chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu
tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo
(R 42 anos)
Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo
intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no
relacionamento entre o educador e o educando
14
Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas
professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e
desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser
professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que
requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa
um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de
conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)
As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho
compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que
enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos
materiais
PermanecircnciaRetorno
Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um
deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica
os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta
incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou
preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na
seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes
mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer
estudarrdquo (RS - 33 anos)
Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por
causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava
muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)
Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO
1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua
existecircncia
Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que
voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
5
as especificidades regionais que desrespeitam as peculiaridades do puacuteblico-
alvo e por vezes dificultam o relacionamento professor-aluno
2 RELACcedilAtildeO PROFESSOR-ALUNO E AFETIVIDADE
Atraveacutes de uma visatildeo integral da interaccedilatildeo nas relaccedilotildees humanas e na
aprendizagem encontramos a afetividade vista sob a forma de criaccedilatildeo de
viacutenculos que surgem no decorrer do ciclo vital de qualquer indiviacuteduo e embora
desabrochem no iniacutecio da gestaccedilatildeo permanecem em processo contiacutenuo
atraveacutes da sociabilidade em todas as fases da vida confirmando a relaccedilatildeo
entre afetividade e o desenvolvimento cognitivo e fiacutesico
Dentre as diversas literaturas encontramos teoacutericos (Wallon Vygostsky
Bowlby) que descrevem o viacutenculo entre matildee e filho (desde a gestaccedilatildeo) como
ponto inicial de um sistema comportamental viabilizador de proteccedilatildeo e
preservaccedilatildeo que favorece no futuro os relacionamentos bem como o despertar
da autoconfianccedila e confianccedila nos outros caracteriacutesticas que possibilitam maior
vinculaccedilatildeo entre as pessoas na juventude e na idade adulta
Neste sentido salientamos que os viacutenculos afetivos satildeo mais niacutetidos na
infacircncia por ter uma base orgacircnica mais evidente sendo significativa agrave
contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo Henry Wallon (1879-1962) que postula um momento
onde a emoccedilatildeo eacute o que prevalece e soacute posteriormente desenvolve-se a
afetividade Sendo assim a mudanccedila de estado orgacircnico para a etapa
cognitiva e racional eacute realizada sob mediaccedilatildeo social nos dando subsiacutedios para
afirmar que a afetividade evolui e se modifica com o desenvolvimento do ser
humano
Jaacute na teoria cognitivista sob a perspectiva vygotskyana revelam-se
princiacutepios que sugerem que aprendemos a relacionar ideacuteias abstraindo de
nossa experiecircncia o que revela que nenhuma pessoa ao entrar na escola eacute
totalmente desprovida de algum tipo de conhecimento pois seja o indiviacuteduo
crianccedila jovem ou adulto que nunca foi agrave escola carrega consigo uma
bagagem de conhecimento absorvida atraveacutes da interaccedilatildeo social
Ao longo do ciclo vital o sujeito constroacutei e desenvolve os aspectos
cognitivos e afetivos interagindo com o meio e com outros sujeitos e embora
6
pouco percebida na sala de aula a razatildeo e a emoccedilatildeo alternam-se sendo a
afetividade corrente que une os indiviacuteduos favorecendo a ampliaccedilatildeo do modo
de sentir perceber a si proacuteprio e ao outro Assim na escola a afetividade
acontece atraveacutes dos contatos entre alunos professores conteuacutedo escolar
livros escrita etc natildeo sendo exclusivo da esfera cognitiva pois os indiviacuteduos
mobilizam os laccedilos afetivos com o objetivo de criar e manter um clima positivo
que favorece a sua permanecircncia na escola
Partindo para uma anaacutelise psicanaliacutetica destacamos as ideacuteias de
Sigmund Freud (1856-1939) das quais enfatizamos o conceito da transferecircncia
que de acordo com este teoacuterico estaacute mais evidente na infacircncia no entanto
pode estar presente ao longo de toda a vida Na obra de Freud agrave identificaccedilatildeo
que as crianccedilas e acreditamos que tambeacutem os jovens e os adultos procuram
na figura do professor ou outro elemento significativo no processo de
aprendizagem eacute um referencial estimulador Quando o professor eacute percebido
pelo aluno como um ser de grande importacircncia ele passa a ldquoter em suas matildeos
um poder de influecircncia sobre o alunordquo (KUPFER 2005 p 87) uso que
depende da escolha do professor
Neste contexto a transferecircncia estaacute presente em qualquer relaccedilatildeo
humana e em especial na relaccedilatildeo do educador e do educando Nela satildeo
transferidas num ato inconsciente as experiecircncias (vividas anteriormente com
os pais) assim que o desejo de saber do aluno se depara com um elemento
particular o professor
Para Kupfer (2005) ao substituirmos sentimentos e experiecircncias vividas
de uma figura principalmente agrave dos pais para o professor eacute deste uacuteltimo o
trabalho no sentido de desidealizar sua figura assim o aluno gradualmente iraacute
reforccedilar o seu proacuteprio ego de modo a emergir da relaccedilatildeo como um ser
pensante mantendo apenas o viacutenculo afetivo
Saindo um pouco da psicanaacutelise e entrando em uma visatildeo psicoloacutegica
humanista damos ecircnfase aos pensamentos do psicoacutelogo Carl R Rogers
(1902-1987) Este ressalta que uma aprendizagem significativa do indiviacuteduo
resulta do relacionamento positivo entre professor e aluno que se desenvolve a
partir do estabelecimento de um ambiente com clima permissivo onde o
7
educando tem liberdade para suas construccedilotildees de acordo com suas
experiecircncias anteriores indo a uma educaccedilatildeo plena
Ainda de acordo com a teoria rogeriana para Guedes (1979) toda
pessoa inserida no processo educacional pode aprender sozinha influenciada
pelas suas experiecircncias anteriores que satildeo focadas na direccedilatildeo certa pelo
educador mas soacute fluem no processo de aprendizagem com o consentimento
(emoccedilotildees) do indiviacuteduo jaacute que soacute ele controla seu proacuteprio desenvolvimento
Neste processo o professor estaacute inserido no grupo e natildeo acima dele facilitando
a aprendizagem isso faz das pessoas uacutenicas no processo
Justifica-se assim a educaccedilatildeo abrangente firmada em documentos de
relevacircncia que busca o desenvolvimento dos processos formativos
apresentados ldquo na vida familiar na convivecircncia humana no trabalho nas
instituiccedilotildees de ensino e pesquisardquo (LDB Art 1o) Educaccedilatildeo apresentada
ainda na Constituiccedilatildeo de 1988 (Art 205) responsaacutevel pela valorizaccedilatildeo do
desenvolvimento total do ser humano e desta forma para funcionamento
completo das habilidades intelectuais dar-se-aacute importacircncia ao viacutenculo afetivo
para o indiviacuteduo
21 AFETIVIDADE NA EJA
Como seres humanos maduros os alunos de EJA mesmo natildeo sendo
alfabetizados dispotildeem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no
seu dia-a-dia Sendo assim toda aprendizagem eacute influenciada pela experiecircncia
adquirida em convivecircncia com o outro pois nem de longe eacute somente na escola
que se obtecircm conhecimentos e principalmente na EJA onde o jovem e adulto eacute
um ldquomembro da sociedade ao qual cabe a produccedilatildeo social a direccedilatildeo da
sociedade e a reproduccedilatildeo da espeacutecierdquo (PINTO 1997 p79)
Neste niacutevel educacional geralmente especiacutefico do horaacuterio noturno
encontramos jovens adultos e idosos geralmente de origem humilde que natildeo
tiveram por algum motivo em sua eacutepoca chance de entrar ou continuar os
estudos Segundo a LDB (Art 37 1996) estes estatildeo em um patamar de ensino
especiacutefico da educaccedilatildeo baacutesica reservado aos que natildeo puderam ingressar ou
prosseguir os estudos no ensino fundamental e meacutedio na idade adequada
8
Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de
vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos
da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de
estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees
socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia
financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo
do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo
(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por
obrigaccedilatildeo
Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da
qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso
entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por
um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do
estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie
em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado
Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo
na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave
relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o
aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers
(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de
sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do
conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve
sentimento e inteligecircncia
Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o
conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas
pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos
envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes
das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo
indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as
pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de
aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos
9
e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida
diferente
Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social
e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios
atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal
instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis
formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo
(MOURA 1999 p 60)
De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou
significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda
atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da
inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo
para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida
pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao
aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e
decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o
educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a
construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos
criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade
Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que
este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e
adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para
promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou
omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar
mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por
Vygotsky e Wallon
22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE
Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor
natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a
identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para
perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos
10
educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo
cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo
positivamente no aprendizado
No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma
relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa
aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar
em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um
indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e
singular com necessidades educacionais especiacuteficas
Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar
encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas
desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e
livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade
suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem
Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma
atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de
produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na
criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e
agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo
Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a
compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as
dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o
professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus
erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute
errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias
normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir
empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio
do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)
Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram
instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos
accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da
afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos
11
autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de
conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992
p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos
capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos
ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos
3 O CAMINHO PERCORRIDO
Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa
que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto
com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos
comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para
investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e
sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola
Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados
por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a
setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho
desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica
Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees
feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)
optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da
entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista
para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter
interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que
classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo
e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados
Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete
alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter
semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo
(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar
perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em
categorias distintas e analisados
12
Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham
a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de
escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com
as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos
da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos
No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que
elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do
aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a
sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola
Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi
dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as
professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno
relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional
e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida
tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo
profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de
EJA
Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses
nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R
Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e
outros
4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM
GENTE DE VERDADErdquo4
41 Os alunos
Relaccedilatildeo aluno-aluno
Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante
fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos
entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles
ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute
4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo
13
bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer
ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se
conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem
melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo
(CH 31 anos)
A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute
escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a
civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres
humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria
sociedade
De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da
afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia
no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos
permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma
relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos
e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como
fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar
Relaccedilatildeo aluno-professor
Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como
era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos
constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo
pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas
professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito
bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto
uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este
aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em
chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu
tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo
(R 42 anos)
Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo
intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no
relacionamento entre o educador e o educando
14
Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas
professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e
desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser
professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que
requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa
um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de
conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)
As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho
compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que
enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos
materiais
PermanecircnciaRetorno
Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um
deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica
os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta
incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou
preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na
seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes
mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer
estudarrdquo (RS - 33 anos)
Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por
causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava
muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)
Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO
1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua
existecircncia
Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que
voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
6
pouco percebida na sala de aula a razatildeo e a emoccedilatildeo alternam-se sendo a
afetividade corrente que une os indiviacuteduos favorecendo a ampliaccedilatildeo do modo
de sentir perceber a si proacuteprio e ao outro Assim na escola a afetividade
acontece atraveacutes dos contatos entre alunos professores conteuacutedo escolar
livros escrita etc natildeo sendo exclusivo da esfera cognitiva pois os indiviacuteduos
mobilizam os laccedilos afetivos com o objetivo de criar e manter um clima positivo
que favorece a sua permanecircncia na escola
Partindo para uma anaacutelise psicanaliacutetica destacamos as ideacuteias de
Sigmund Freud (1856-1939) das quais enfatizamos o conceito da transferecircncia
que de acordo com este teoacuterico estaacute mais evidente na infacircncia no entanto
pode estar presente ao longo de toda a vida Na obra de Freud agrave identificaccedilatildeo
que as crianccedilas e acreditamos que tambeacutem os jovens e os adultos procuram
na figura do professor ou outro elemento significativo no processo de
aprendizagem eacute um referencial estimulador Quando o professor eacute percebido
pelo aluno como um ser de grande importacircncia ele passa a ldquoter em suas matildeos
um poder de influecircncia sobre o alunordquo (KUPFER 2005 p 87) uso que
depende da escolha do professor
Neste contexto a transferecircncia estaacute presente em qualquer relaccedilatildeo
humana e em especial na relaccedilatildeo do educador e do educando Nela satildeo
transferidas num ato inconsciente as experiecircncias (vividas anteriormente com
os pais) assim que o desejo de saber do aluno se depara com um elemento
particular o professor
Para Kupfer (2005) ao substituirmos sentimentos e experiecircncias vividas
de uma figura principalmente agrave dos pais para o professor eacute deste uacuteltimo o
trabalho no sentido de desidealizar sua figura assim o aluno gradualmente iraacute
reforccedilar o seu proacuteprio ego de modo a emergir da relaccedilatildeo como um ser
pensante mantendo apenas o viacutenculo afetivo
Saindo um pouco da psicanaacutelise e entrando em uma visatildeo psicoloacutegica
humanista damos ecircnfase aos pensamentos do psicoacutelogo Carl R Rogers
(1902-1987) Este ressalta que uma aprendizagem significativa do indiviacuteduo
resulta do relacionamento positivo entre professor e aluno que se desenvolve a
partir do estabelecimento de um ambiente com clima permissivo onde o
7
educando tem liberdade para suas construccedilotildees de acordo com suas
experiecircncias anteriores indo a uma educaccedilatildeo plena
Ainda de acordo com a teoria rogeriana para Guedes (1979) toda
pessoa inserida no processo educacional pode aprender sozinha influenciada
pelas suas experiecircncias anteriores que satildeo focadas na direccedilatildeo certa pelo
educador mas soacute fluem no processo de aprendizagem com o consentimento
(emoccedilotildees) do indiviacuteduo jaacute que soacute ele controla seu proacuteprio desenvolvimento
Neste processo o professor estaacute inserido no grupo e natildeo acima dele facilitando
a aprendizagem isso faz das pessoas uacutenicas no processo
Justifica-se assim a educaccedilatildeo abrangente firmada em documentos de
relevacircncia que busca o desenvolvimento dos processos formativos
apresentados ldquo na vida familiar na convivecircncia humana no trabalho nas
instituiccedilotildees de ensino e pesquisardquo (LDB Art 1o) Educaccedilatildeo apresentada
ainda na Constituiccedilatildeo de 1988 (Art 205) responsaacutevel pela valorizaccedilatildeo do
desenvolvimento total do ser humano e desta forma para funcionamento
completo das habilidades intelectuais dar-se-aacute importacircncia ao viacutenculo afetivo
para o indiviacuteduo
21 AFETIVIDADE NA EJA
Como seres humanos maduros os alunos de EJA mesmo natildeo sendo
alfabetizados dispotildeem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no
seu dia-a-dia Sendo assim toda aprendizagem eacute influenciada pela experiecircncia
adquirida em convivecircncia com o outro pois nem de longe eacute somente na escola
que se obtecircm conhecimentos e principalmente na EJA onde o jovem e adulto eacute
um ldquomembro da sociedade ao qual cabe a produccedilatildeo social a direccedilatildeo da
sociedade e a reproduccedilatildeo da espeacutecierdquo (PINTO 1997 p79)
Neste niacutevel educacional geralmente especiacutefico do horaacuterio noturno
encontramos jovens adultos e idosos geralmente de origem humilde que natildeo
tiveram por algum motivo em sua eacutepoca chance de entrar ou continuar os
estudos Segundo a LDB (Art 37 1996) estes estatildeo em um patamar de ensino
especiacutefico da educaccedilatildeo baacutesica reservado aos que natildeo puderam ingressar ou
prosseguir os estudos no ensino fundamental e meacutedio na idade adequada
8
Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de
vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos
da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de
estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees
socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia
financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo
do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo
(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por
obrigaccedilatildeo
Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da
qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso
entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por
um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do
estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie
em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado
Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo
na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave
relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o
aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers
(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de
sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do
conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve
sentimento e inteligecircncia
Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o
conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas
pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos
envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes
das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo
indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as
pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de
aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos
9
e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida
diferente
Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social
e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios
atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal
instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis
formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo
(MOURA 1999 p 60)
De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou
significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda
atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da
inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo
para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida
pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao
aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e
decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o
educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a
construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos
criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade
Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que
este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e
adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para
promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou
omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar
mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por
Vygotsky e Wallon
22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE
Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor
natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a
identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para
perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos
10
educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo
cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo
positivamente no aprendizado
No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma
relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa
aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar
em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um
indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e
singular com necessidades educacionais especiacuteficas
Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar
encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas
desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e
livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade
suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem
Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma
atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de
produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na
criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e
agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo
Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a
compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as
dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o
professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus
erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute
errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias
normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir
empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio
do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)
Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram
instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos
accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da
afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos
11
autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de
conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992
p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos
capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos
ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos
3 O CAMINHO PERCORRIDO
Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa
que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto
com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos
comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para
investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e
sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola
Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados
por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a
setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho
desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica
Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees
feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)
optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da
entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista
para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter
interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que
classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo
e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados
Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete
alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter
semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo
(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar
perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em
categorias distintas e analisados
12
Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham
a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de
escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com
as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos
da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos
No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que
elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do
aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a
sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola
Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi
dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as
professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno
relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional
e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida
tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo
profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de
EJA
Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses
nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R
Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e
outros
4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM
GENTE DE VERDADErdquo4
41 Os alunos
Relaccedilatildeo aluno-aluno
Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante
fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos
entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles
ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute
4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo
13
bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer
ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se
conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem
melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo
(CH 31 anos)
A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute
escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a
civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres
humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria
sociedade
De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da
afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia
no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos
permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma
relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos
e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como
fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar
Relaccedilatildeo aluno-professor
Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como
era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos
constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo
pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas
professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito
bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto
uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este
aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em
chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu
tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo
(R 42 anos)
Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo
intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no
relacionamento entre o educador e o educando
14
Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas
professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e
desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser
professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que
requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa
um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de
conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)
As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho
compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que
enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos
materiais
PermanecircnciaRetorno
Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um
deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica
os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta
incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou
preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na
seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes
mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer
estudarrdquo (RS - 33 anos)
Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por
causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava
muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)
Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO
1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua
existecircncia
Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que
voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
7
educando tem liberdade para suas construccedilotildees de acordo com suas
experiecircncias anteriores indo a uma educaccedilatildeo plena
Ainda de acordo com a teoria rogeriana para Guedes (1979) toda
pessoa inserida no processo educacional pode aprender sozinha influenciada
pelas suas experiecircncias anteriores que satildeo focadas na direccedilatildeo certa pelo
educador mas soacute fluem no processo de aprendizagem com o consentimento
(emoccedilotildees) do indiviacuteduo jaacute que soacute ele controla seu proacuteprio desenvolvimento
Neste processo o professor estaacute inserido no grupo e natildeo acima dele facilitando
a aprendizagem isso faz das pessoas uacutenicas no processo
Justifica-se assim a educaccedilatildeo abrangente firmada em documentos de
relevacircncia que busca o desenvolvimento dos processos formativos
apresentados ldquo na vida familiar na convivecircncia humana no trabalho nas
instituiccedilotildees de ensino e pesquisardquo (LDB Art 1o) Educaccedilatildeo apresentada
ainda na Constituiccedilatildeo de 1988 (Art 205) responsaacutevel pela valorizaccedilatildeo do
desenvolvimento total do ser humano e desta forma para funcionamento
completo das habilidades intelectuais dar-se-aacute importacircncia ao viacutenculo afetivo
para o indiviacuteduo
21 AFETIVIDADE NA EJA
Como seres humanos maduros os alunos de EJA mesmo natildeo sendo
alfabetizados dispotildeem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no
seu dia-a-dia Sendo assim toda aprendizagem eacute influenciada pela experiecircncia
adquirida em convivecircncia com o outro pois nem de longe eacute somente na escola
que se obtecircm conhecimentos e principalmente na EJA onde o jovem e adulto eacute
um ldquomembro da sociedade ao qual cabe a produccedilatildeo social a direccedilatildeo da
sociedade e a reproduccedilatildeo da espeacutecierdquo (PINTO 1997 p79)
Neste niacutevel educacional geralmente especiacutefico do horaacuterio noturno
encontramos jovens adultos e idosos geralmente de origem humilde que natildeo
tiveram por algum motivo em sua eacutepoca chance de entrar ou continuar os
estudos Segundo a LDB (Art 37 1996) estes estatildeo em um patamar de ensino
especiacutefico da educaccedilatildeo baacutesica reservado aos que natildeo puderam ingressar ou
prosseguir os estudos no ensino fundamental e meacutedio na idade adequada
8
Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de
vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos
da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de
estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees
socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia
financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo
do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo
(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por
obrigaccedilatildeo
Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da
qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso
entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por
um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do
estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie
em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado
Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo
na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave
relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o
aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers
(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de
sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do
conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve
sentimento e inteligecircncia
Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o
conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas
pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos
envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes
das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo
indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as
pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de
aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos
9
e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida
diferente
Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social
e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios
atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal
instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis
formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo
(MOURA 1999 p 60)
De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou
significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda
atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da
inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo
para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida
pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao
aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e
decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o
educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a
construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos
criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade
Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que
este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e
adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para
promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou
omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar
mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por
Vygotsky e Wallon
22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE
Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor
natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a
identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para
perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos
10
educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo
cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo
positivamente no aprendizado
No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma
relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa
aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar
em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um
indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e
singular com necessidades educacionais especiacuteficas
Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar
encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas
desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e
livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade
suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem
Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma
atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de
produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na
criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e
agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo
Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a
compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as
dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o
professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus
erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute
errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias
normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir
empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio
do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)
Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram
instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos
accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da
afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos
11
autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de
conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992
p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos
capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos
ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos
3 O CAMINHO PERCORRIDO
Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa
que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto
com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos
comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para
investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e
sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola
Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados
por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a
setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho
desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica
Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees
feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)
optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da
entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista
para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter
interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que
classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo
e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados
Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete
alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter
semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo
(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar
perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em
categorias distintas e analisados
12
Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham
a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de
escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com
as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos
da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos
No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que
elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do
aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a
sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola
Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi
dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as
professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno
relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional
e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida
tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo
profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de
EJA
Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses
nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R
Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e
outros
4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM
GENTE DE VERDADErdquo4
41 Os alunos
Relaccedilatildeo aluno-aluno
Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante
fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos
entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles
ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute
4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo
13
bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer
ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se
conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem
melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo
(CH 31 anos)
A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute
escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a
civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres
humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria
sociedade
De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da
afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia
no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos
permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma
relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos
e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como
fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar
Relaccedilatildeo aluno-professor
Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como
era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos
constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo
pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas
professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito
bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto
uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este
aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em
chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu
tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo
(R 42 anos)
Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo
intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no
relacionamento entre o educador e o educando
14
Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas
professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e
desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser
professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que
requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa
um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de
conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)
As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho
compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que
enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos
materiais
PermanecircnciaRetorno
Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um
deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica
os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta
incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou
preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na
seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes
mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer
estudarrdquo (RS - 33 anos)
Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por
causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava
muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)
Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO
1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua
existecircncia
Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que
voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
8
Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de
vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos
da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de
estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees
socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia
financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo
do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo
(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por
obrigaccedilatildeo
Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da
qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso
entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por
um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do
estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie
em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado
Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo
na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave
relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o
aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers
(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de
sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do
conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve
sentimento e inteligecircncia
Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o
conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas
pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos
envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes
das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo
indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as
pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de
aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos
9
e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida
diferente
Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social
e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios
atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal
instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis
formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo
(MOURA 1999 p 60)
De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou
significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda
atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da
inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo
para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida
pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao
aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e
decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o
educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a
construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos
criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade
Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que
este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e
adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para
promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou
omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar
mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por
Vygotsky e Wallon
22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE
Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor
natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a
identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para
perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos
10
educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo
cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo
positivamente no aprendizado
No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma
relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa
aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar
em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um
indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e
singular com necessidades educacionais especiacuteficas
Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar
encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas
desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e
livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade
suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem
Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma
atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de
produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na
criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e
agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo
Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a
compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as
dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o
professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus
erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute
errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias
normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir
empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio
do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)
Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram
instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos
accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da
afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos
11
autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de
conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992
p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos
capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos
ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos
3 O CAMINHO PERCORRIDO
Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa
que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto
com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos
comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para
investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e
sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola
Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados
por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a
setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho
desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica
Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees
feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)
optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da
entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista
para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter
interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que
classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo
e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados
Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete
alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter
semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo
(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar
perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em
categorias distintas e analisados
12
Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham
a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de
escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com
as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos
da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos
No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que
elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do
aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a
sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola
Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi
dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as
professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno
relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional
e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida
tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo
profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de
EJA
Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses
nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R
Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e
outros
4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM
GENTE DE VERDADErdquo4
41 Os alunos
Relaccedilatildeo aluno-aluno
Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante
fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos
entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles
ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute
4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo
13
bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer
ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se
conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem
melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo
(CH 31 anos)
A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute
escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a
civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres
humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria
sociedade
De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da
afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia
no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos
permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma
relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos
e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como
fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar
Relaccedilatildeo aluno-professor
Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como
era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos
constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo
pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas
professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito
bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto
uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este
aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em
chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu
tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo
(R 42 anos)
Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo
intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no
relacionamento entre o educador e o educando
14
Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas
professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e
desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser
professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que
requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa
um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de
conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)
As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho
compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que
enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos
materiais
PermanecircnciaRetorno
Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um
deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica
os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta
incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou
preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na
seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes
mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer
estudarrdquo (RS - 33 anos)
Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por
causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava
muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)
Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO
1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua
existecircncia
Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que
voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
9
e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida
diferente
Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social
e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios
atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal
instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis
formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo
(MOURA 1999 p 60)
De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou
significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda
atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da
inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo
para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida
pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao
aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e
decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o
educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a
construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos
criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade
Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que
este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e
adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para
promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou
omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar
mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por
Vygotsky e Wallon
22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE
Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor
natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a
identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para
perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos
10
educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo
cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo
positivamente no aprendizado
No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma
relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa
aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar
em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um
indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e
singular com necessidades educacionais especiacuteficas
Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar
encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas
desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e
livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade
suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem
Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma
atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de
produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na
criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e
agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo
Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a
compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as
dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o
professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus
erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute
errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias
normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir
empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio
do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)
Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram
instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos
accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da
afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos
11
autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de
conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992
p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos
capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos
ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos
3 O CAMINHO PERCORRIDO
Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa
que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto
com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos
comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para
investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e
sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola
Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados
por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a
setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho
desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica
Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees
feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)
optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da
entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista
para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter
interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que
classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo
e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados
Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete
alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter
semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo
(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar
perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em
categorias distintas e analisados
12
Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham
a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de
escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com
as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos
da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos
No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que
elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do
aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a
sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola
Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi
dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as
professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno
relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional
e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida
tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo
profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de
EJA
Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses
nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R
Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e
outros
4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM
GENTE DE VERDADErdquo4
41 Os alunos
Relaccedilatildeo aluno-aluno
Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante
fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos
entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles
ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute
4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo
13
bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer
ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se
conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem
melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo
(CH 31 anos)
A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute
escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a
civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres
humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria
sociedade
De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da
afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia
no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos
permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma
relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos
e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como
fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar
Relaccedilatildeo aluno-professor
Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como
era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos
constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo
pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas
professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito
bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto
uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este
aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em
chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu
tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo
(R 42 anos)
Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo
intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no
relacionamento entre o educador e o educando
14
Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas
professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e
desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser
professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que
requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa
um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de
conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)
As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho
compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que
enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos
materiais
PermanecircnciaRetorno
Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um
deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica
os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta
incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou
preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na
seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes
mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer
estudarrdquo (RS - 33 anos)
Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por
causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava
muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)
Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO
1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua
existecircncia
Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que
voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
10
educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo
cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo
positivamente no aprendizado
No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma
relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa
aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar
em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um
indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e
singular com necessidades educacionais especiacuteficas
Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar
encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas
desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e
livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade
suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem
Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma
atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de
produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na
criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e
agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo
Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a
compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as
dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o
professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus
erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute
errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias
normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir
empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio
do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)
Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram
instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos
accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da
afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos
11
autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de
conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992
p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos
capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos
ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos
3 O CAMINHO PERCORRIDO
Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa
que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto
com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos
comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para
investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e
sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola
Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados
por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a
setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho
desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica
Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees
feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)
optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da
entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista
para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter
interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que
classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo
e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados
Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete
alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter
semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo
(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar
perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em
categorias distintas e analisados
12
Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham
a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de
escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com
as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos
da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos
No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que
elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do
aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a
sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola
Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi
dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as
professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno
relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional
e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida
tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo
profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de
EJA
Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses
nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R
Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e
outros
4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM
GENTE DE VERDADErdquo4
41 Os alunos
Relaccedilatildeo aluno-aluno
Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante
fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos
entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles
ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute
4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo
13
bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer
ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se
conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem
melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo
(CH 31 anos)
A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute
escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a
civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres
humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria
sociedade
De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da
afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia
no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos
permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma
relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos
e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como
fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar
Relaccedilatildeo aluno-professor
Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como
era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos
constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo
pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas
professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito
bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto
uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este
aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em
chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu
tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo
(R 42 anos)
Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo
intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no
relacionamento entre o educador e o educando
14
Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas
professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e
desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser
professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que
requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa
um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de
conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)
As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho
compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que
enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos
materiais
PermanecircnciaRetorno
Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um
deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica
os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta
incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou
preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na
seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes
mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer
estudarrdquo (RS - 33 anos)
Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por
causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava
muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)
Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO
1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua
existecircncia
Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que
voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
11
autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de
conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992
p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos
capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos
ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos
3 O CAMINHO PERCORRIDO
Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa
que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto
com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos
comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para
investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e
sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola
Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados
por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a
setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho
desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica
Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees
feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)
optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da
entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista
para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter
interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que
classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo
e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados
Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete
alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter
semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo
(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar
perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em
categorias distintas e analisados
12
Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham
a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de
escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com
as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos
da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos
No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que
elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do
aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a
sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola
Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi
dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as
professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno
relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional
e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida
tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo
profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de
EJA
Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses
nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R
Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e
outros
4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM
GENTE DE VERDADErdquo4
41 Os alunos
Relaccedilatildeo aluno-aluno
Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante
fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos
entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles
ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute
4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo
13
bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer
ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se
conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem
melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo
(CH 31 anos)
A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute
escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a
civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres
humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria
sociedade
De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da
afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia
no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos
permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma
relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos
e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como
fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar
Relaccedilatildeo aluno-professor
Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como
era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos
constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo
pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas
professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito
bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto
uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este
aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em
chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu
tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo
(R 42 anos)
Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo
intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no
relacionamento entre o educador e o educando
14
Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas
professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e
desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser
professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que
requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa
um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de
conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)
As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho
compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que
enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos
materiais
PermanecircnciaRetorno
Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um
deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica
os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta
incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou
preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na
seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes
mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer
estudarrdquo (RS - 33 anos)
Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por
causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava
muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)
Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO
1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua
existecircncia
Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que
voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
12
Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham
a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de
escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com
as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos
da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos
No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que
elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do
aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a
sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola
Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi
dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as
professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno
relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional
e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida
tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo
profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de
EJA
Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses
nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R
Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e
outros
4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM
GENTE DE VERDADErdquo4
41 Os alunos
Relaccedilatildeo aluno-aluno
Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante
fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos
entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles
ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute
4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo
13
bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer
ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se
conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem
melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo
(CH 31 anos)
A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute
escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a
civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres
humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria
sociedade
De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da
afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia
no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos
permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma
relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos
e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como
fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar
Relaccedilatildeo aluno-professor
Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como
era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos
constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo
pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas
professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito
bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto
uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este
aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em
chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu
tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo
(R 42 anos)
Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo
intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no
relacionamento entre o educador e o educando
14
Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas
professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e
desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser
professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que
requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa
um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de
conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)
As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho
compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que
enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos
materiais
PermanecircnciaRetorno
Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um
deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica
os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta
incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou
preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na
seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes
mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer
estudarrdquo (RS - 33 anos)
Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por
causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava
muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)
Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO
1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua
existecircncia
Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que
voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
13
bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer
ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se
conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem
melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo
(CH 31 anos)
A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute
escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a
civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres
humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria
sociedade
De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da
afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia
no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos
permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma
relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos
e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como
fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar
Relaccedilatildeo aluno-professor
Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como
era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos
constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo
pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas
professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito
bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto
uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este
aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em
chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu
tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo
(R 42 anos)
Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo
intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no
relacionamento entre o educador e o educando
14
Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas
professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e
desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser
professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que
requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa
um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de
conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)
As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho
compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que
enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos
materiais
PermanecircnciaRetorno
Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um
deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica
os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta
incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou
preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na
seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes
mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer
estudarrdquo (RS - 33 anos)
Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por
causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava
muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)
Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO
1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua
existecircncia
Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que
voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
14
Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas
professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e
desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser
professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que
requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa
um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de
conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)
As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho
compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que
enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos
materiais
PermanecircnciaRetorno
Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um
deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica
os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta
incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou
preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na
seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes
mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer
estudarrdquo (RS - 33 anos)
Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por
causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava
muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)
Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO
1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua
existecircncia
Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que
voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
15
decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de
alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno
Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos
pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas
ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da
famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus
filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a
estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a
minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula
porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a
famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos
que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias
Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute
importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-
lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-
estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala
ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc
tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir
seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude
segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de
autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para
uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam
estimulados evitando a evasatildeo escolar
Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de
aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido
entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de
continuar os seus estudos e de permanecer na escola
Projeccedilatildeo Futura
A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos
entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que
pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
16
Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva
aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros
investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a
professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu
iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute
importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY
1990) e os caminhos que segue
Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida
jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente
todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um
caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa
compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola
aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto
educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva
Clima emocional
Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles
(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados
responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender
Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo
a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia
deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo
(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia
ocorra
Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto
pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata
(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem
Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de
solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva
que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego
(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o
desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
17
Concepccedilatildeo do Professor
Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos
entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos
educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem
mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e
conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas
aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito
boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)
Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras
desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o
aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola
Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o
conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de
habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa
organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas
intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-
aprendizagem
42 As Professoras
Profissatildeo
As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo
identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de
estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada
em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38
anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA
As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se
estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o
redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem
mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo
positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o
componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas
pessoais e sociais da sala de aula
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
18
Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute
a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com
essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou
investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita
estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder
ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre
tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)
Praacutetica docentemetodologia
Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os
alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam
a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este
segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada
sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais
As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando
antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em
cima dos temas e interdisciplinariamente
Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por
afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento
(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer
com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo
(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz
que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros
humanos
As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo
aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que
os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e
agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
19
crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos
quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que
principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo
Formaccedilatildeo Profissional
As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute
o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando
informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)
pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me
educordquo
Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de
capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e
para os seus educandos
Relaccedilatildeo professor-aluno
Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E
35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a
atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento
franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo
As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de
trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere
atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com
as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as
responsabilidades dos alunos
Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que
ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que
se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o
processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a
conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo
satisfatoacuteria
Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam
embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a
sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
20
do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)
Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com
cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a
vez do outro
A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder
as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com
ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute
necessaacuterio esforccedilo pessoal
Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito
com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos
vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola
Clima emocional
Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que
denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los
seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz
Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem
quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante
de seus medos
Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute
agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a
entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana
(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos
Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo
com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude
intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas
conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula
Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que
entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas
professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala
de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e
proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a
afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
21
ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002
p76)
A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave
vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando
ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute
espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante
valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da
proacutepria vida para oferecer
A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato
afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o
professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de
estudantes
Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um
ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)
proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido
micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos
que o permitem avanccedilar
Concepccedilatildeo de aluno de EJA
As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de
aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que
agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro
delerdquo (Prof V 38 anos)
Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e
acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a
Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao
avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as
experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a
promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal
A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e
diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de
resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo
haver uma segunda chance
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
22
5 Consideraccedilotildees Finais
Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva
positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante
para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que
melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de
qualidade
Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do
outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas
nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a
autonomia dos educandos
Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo
a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem
como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de
modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso
seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem
Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a
permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas
centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa
pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus
alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos
educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a
cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador
podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste
modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo
com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de
accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute
existentes
Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de
aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o
professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e
ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o
ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
23
se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com
duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se
autoconfiantes
Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a
necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA
buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de
mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na
EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de
pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
24
REFEREcircNCIAS
BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004
BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990
BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997
CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006
CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria
DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992
FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996
GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002
GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979
HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005
KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005
LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986
MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
25
MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999
OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005
OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003
___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992
PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997
REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002
ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977
SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000
SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002
VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998
VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003
___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989
___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
26
Anexos
Entrevista Alunos
Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo
Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora
PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno
Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar
Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas
Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado
Entrevista Professora
ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA
Praacutetica docentemetodologia
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
27
Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo
Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional
Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais
Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida
Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo
top related