a afetividade nas relaçes professor aluno um estudo na educao de jovens e adultos

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A AFETIVIDADE NAS RELAÇÕES PROFESSOR-ALUNO: UM ESTUDO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS”. Ana Cláudia de Oliveira Costa 1 Keilla Cristiane dos Reis 2 Jaileila de Araújo 3 RESUMO Este artigo trata da interferência da afetividade na relação professor-aluno da Educação Jovens e Adultos, partindo-se da premissa de que a existência de vínculo afetivo é condição relevante para a aprendizagem e conseqüente permanência do aluno na escola. Numa abordagem qualitativa, constituímos como procedimentos para coleta de dados: entrevista semi- estruturada com duas professoras e com sete alunos matriculados no módulo II da EJA de uma escola municipal de Paulista. Os dados revelaram que no ambiente onde a afetividade está presente há maior possibilidade de aprendizagem e validam positivamente a história individual e social dos alunos. Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Relação Professor-Aluno. Processo ensino-aprendizagem. Afetividade. 1. A AFETIVIDADE COMO POTENCIALIZADORA DO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM NA EJA. No contexto da Educação de Jovens e Adultos, cujo às dificuldades pessoais refletem grande fator da evasão escolar, originadas das diversas condições pessoais dos alunos da EJA que se deparam com os desafios de sua vida particular, profissional e escolar. Acreditamos que o principal meio para evitar essas evasões e amenizar o reflexo das dificuldades na sala de aula, está na atenção, compreensão e no carinho, ou seja, na afetividade, que favorece o processo de ensino aprendizagem dos educandos fazendo com que eles permaneçam na escola. É nesta perspectiva que surgiu a preocupação de analisamos a importância da afetividade na educação de jovens e adultos, visando entender a relevância do vínculo afetivo nas relações existentes na sala de aula e identificar os aspectos que cooperam para a permanência desses educandos na escola. 1 Concluinte do Curso de Pedagogia – Centro de Educação – UFPE – [email protected] 2 Concluinte do Curso de Pedagogia – Centro de Educação – UFPE – [email protected] 3 Professora adjunta do Depto. de Psicologia e Orientação Educacional da UFPE – [email protected]

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ldquoA AFETIVIDADE NAS RELACcedilOtildeES PROFESSOR-ALUNO UM ESTUDO NAEDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOSrdquo

Ana Claacuteudia de Oliveira Costa1

Keilla Cristiane dos Reis2

Jaileila de Arauacutejo3

RESUMO

Este artigo trata da interferecircncia da afetividade na relaccedilatildeo professor-aluno da Educaccedilatildeo Jovense Adultos partindo-se da premissa de que a existecircncia de viacutenculo afetivo eacute condiccedilatildeo relevantepara a aprendizagem e consequumlente permanecircncia do aluno na escola Numa abordagemqualitativa constituiacutemos como procedimentos para coleta de dados entrevista semi-estruturada com duas professoras e com sete alunos matriculados no moacutedulo II da EJA de umaescola municipal de Paulista Os dados revelaram que no ambiente onde a afetividade estaacutepresente haacute maior possibilidade de aprendizagem e validam positivamente a histoacuteria individuale social dos alunos

Palavras-chave Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Relaccedilatildeo Professor-AlunoProcesso ensino-aprendizagem Afetividade

1 A AFETIVIDADE COMO POTENCIALIZADORA DO PROCESSO ENSINO-

APRENDIZAGEM NA EJA

No contexto da Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos cujo agraves dificuldades

pessoais refletem grande fator da evasatildeo escolar originadas das diversas

condiccedilotildees pessoais dos alunos da EJA que se deparam com os desafios de

sua vida particular profissional e escolar Acreditamos que o principal meio

para evitar essas evasotildees e amenizar o reflexo das dificuldades na sala de

aula estaacute na atenccedilatildeo compreensatildeo e no carinho ou seja na afetividade que

favorece o processo de ensino aprendizagem dos educandos fazendo com que

eles permaneccedilam na escola

Eacute nesta perspectiva que surgiu a preocupaccedilatildeo de analisamos a

importacircncia da afetividade na educaccedilatildeo de jovens e adultos visando entender

a relevacircncia do viacutenculo afetivo nas relaccedilotildees existentes na sala de aula e

identificar os aspectos que cooperam para a permanecircncia desses educandos

na escola

1 Concluinte do Curso de Pedagogia ndash Centro de Educaccedilatildeo ndash UFPE ndash claudiaoliv_costayahoocombr2 Concluinte do Curso de Pedagogia ndash Centro de Educaccedilatildeo ndash UFPE ndash keillacristianeyahoocombr3 Professora adjunta do Depto de Psicologia e Orientaccedilatildeo Educacional da UFPE ndash

leilaufrjyahoocombr

2

Eacute na EJA que se percebe a necessidade de compreensatildeo e estiacutemulo por

parte do professor para superaccedilatildeo das dificuldades e desafios que muitos

encontram em seus caminhos sendo gerado muitas vezes pela falta de

acolhimento da escola pelo desestiacutemulo o que pode ocasionar uma posterior

evasatildeo Assim partimos da hipoacutetese de que quando haacute uma expressatildeo de

afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno e entre os proacuteprios alunos sobre a

forma de incentivos proximidade corporal interesse em saber sobre o seu

cotidiano e amizade tudo isso contribuem significativamente para a construccedilatildeo

e manutenccedilatildeo de um viacutenculo do aluno da EJA com a escola e com o saber

pois quando haacute formaccedilatildeo de um laccedilo afetivo e uma interaccedilatildeo entre o grupo o

processo de ensino-aprendizagem se torna mais efetivo e a permanecircncia na

escola em sua maioria eacute garantida

Por conseguinte ao emitir-se uma atitude como afeto positivo ou

negativo haacute uma tendecircncia da resposta ser acompanhada por uma estrutura

cognitiva composta de crenccedilas e opiniotildees sobre suas potencialidades de

realizaccedilotildees e suas expectativas Assim o ganho no processo ensino-

aprendizagem eacute influenciado pela amabilidade que se efetiva nos

relacionamentos firmados e na constataccedilatildeo cognitiva

Lev Vygotsky (1896-1934) psicoacutelogo interacionista explica o

desenvolvimento afetivo sob um ponto de vista soacutecio-histoacuterico-cultural o que

nos dar condiccedilotildees para apreciarmos a afetividade relacionada agrave educaccedilatildeo da

EJA partindo da ideacuteia de que a aquisiccedilatildeo de conhecimentos e de sentimentos

se datildeo pela interaccedilatildeo do sujeito com o meio escolar

Jaacute Henri Wallon (1879-1962) eleva a afetividade a um domiacutenio

funcional cujo desenvolvimento eacute dependente da accedilatildeo de dois fatores o

orgacircnico e o social Neste a escola que eacute tradicionalmente tomada como

espaccedilo onde deve imperar o desenvolvimento do conhecimento passa a ser

reconhecida como meio cujo afeto eacute primordial para a relaccedilatildeo humana e o

professor eacute responsaacutevel pela mediaccedilatildeo afetiva na instituiccedilatildeo de ensino

Apesar de algumas divergecircncias Vygotsky e Wallon compartilham da

ideacuteia de que a afetividade se desenvolve atraveacutes da interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos e que a razatildeo e a emoccedilatildeo estatildeo ligadas

3

Com base nesses teoacutericos temos como pressuposto a visualizaccedilatildeo de

uma educaccedilatildeo na qual a afetividade se coloca como elemento primordial no

contexto da EJA onde a figura do professor eacute potencializadora do clima

emocional positivo na sala de aula despertando os educandos para o processo

de ensino-aprendizagem porque ldquoeacute sobretudo o mestre que pode mudando

de atitude provocar um aperfeiccediloamento da relaccedilatildeo afetivardquo (MARCHAND p

93)

Assim no presente artigo far-se-aacute a anaacutelise da possiacutevel contribuiccedilatildeo da

afetividade no processo de ensino-aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e

Adultos uma vez que o vinculo afetivo pode ou natildeo ajudar na internalizaccedilatildeo do

conhecimento

2 BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS NOBRASIL

Muitas vezes definimos erroneamente Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

Por isso antes de iniciar o nosso trabalho eacute necessaacuterio conhecer um pouco de

sua histoacuteria

Seguindo um perfil histoacuterico temos o caminho da educaccedilatildeo de jovens e

adultos trilhado ao lado dos modelos econocircmicos e poliacuteticos pois excetuando

o Periacuteodo Colonial (1500-1822) todos os outros periacuteodos indicavam busca pela

instruccedilatildeo incentivada pela necessidade econocircmica poliacutetica e ideoloacutegica de

uma elite majoritaacuteria

Eacute no Brasil Impeacuterio (1822-1889) que surgem as primeiras escolas

noturnas para adultos tipo de iniciativa que ganha forccedila na Repuacuteblica (1889)

com campanhas descontiacutenuas e curtas que buscavam apoio das diferentes

instacircncias da sociedade civil refletindo o descompromisso com uma poliacutetica de

educaccedilatildeo institucional

Apoacutes a Revoluccedilatildeo de 30 permitiu-se uma consolidaccedilatildeo de um sistema

educacional baacutesico com significativa inclusatildeo da educaccedilatildeo dos adolescentes e

adultos analfabetos entre os objetivos do estado brasileiro

A deacutecada de 40 trouxe iniciativas de peso como as primeiras obras

dedicadas ao ensino supletivo a Campanha de Educaccedilatildeo de Adolescentes e

Adultos o Congresso Nacional de Educaccedilatildeo de Adultos (1947) e o Seminaacuterio

4

Interamericano de Educaccedilatildeo de Adultos (1949) embora as praacuteticas e o

material didaacutetico permanecessem semelhantes aos destinados agraves crianccedilas

Mesmo com vaacuterios resultados significativos e com implantaccedilatildeo de vaacuterias

escolas supletivas o clima de entusiasmo comeccedilou a diminuir na deacutecada de

50 sobrevivendo apenas agrave rede de ensino supletivo que foi assumida pelos

estados e municiacutepios Sendo no final da deacutecada de 50 ateacute os meados dos anos

60 segundo Moura (1999) eacute relevante a contribuiccedilatildeo do educador Paulo Freire

(1921-1997) que inspirou os principais programas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo

popular marcando o iniacutecio de um novo periacuteodo da educaccedilatildeo dos adultos no

Brasil

Mas eacute na deacutecada de 80 que haacute uma valorizaccedilatildeo das experiecircncias

baseadas no meacutetodo de Paulo Freire com conquistas importantes que

culminaram com a garantia da extensatildeo da obrigatoriedade da educaccedilatildeo

baacutesica para jovens e adultos na Constituiccedilatildeo de 1988 necessaacuteria para

erradicaccedilatildeo do analfabetismo

Foi concebido assim o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo

(MOBRAL) sistema que controlava a alfabetizaccedilatildeo da populaccedilatildeo adulta

principalmente a rural Poreacutem em meados de 1985 com a Nova Repuacuteblica ele

foi extinto dando lugar a Fundaccedilatildeo Educar que por sua vez fechou em 1990

sinalizando a ausecircncia do Governo Federal desse cenaacuterio educacional

constatando inexistecircncia de um oacutergatildeo ou setor do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

voltado para a EJA

Atualmente a EJA traccedila um caminho pautado em mudanccedilas

expressivas que foram norteadas pelos valores apresentados na Conferecircncia

Internacional de Hamburgo (1997) na Lei 939496 no Parecer da Cacircmara de

Educaccedilatildeo Baacutesica (CEB 1100) que estabelece as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e na Deliberaccedilatildeo 0800 CEB

com o intuito de promover o conhecimento e a cidadania

Embora existam diversos documentos emitidos e mudanccedilas baseadas

nas novas tendecircncias do mundo atual globalizado e desenvolvido que a

reconheccedilam como importante a EJA ainda enfrenta problemas no que diz

respeito a alguns conteuacutedos presentes nos livros didaacuteticos que desconsideram

5

as especificidades regionais que desrespeitam as peculiaridades do puacuteblico-

alvo e por vezes dificultam o relacionamento professor-aluno

2 RELACcedilAtildeO PROFESSOR-ALUNO E AFETIVIDADE

Atraveacutes de uma visatildeo integral da interaccedilatildeo nas relaccedilotildees humanas e na

aprendizagem encontramos a afetividade vista sob a forma de criaccedilatildeo de

viacutenculos que surgem no decorrer do ciclo vital de qualquer indiviacuteduo e embora

desabrochem no iniacutecio da gestaccedilatildeo permanecem em processo contiacutenuo

atraveacutes da sociabilidade em todas as fases da vida confirmando a relaccedilatildeo

entre afetividade e o desenvolvimento cognitivo e fiacutesico

Dentre as diversas literaturas encontramos teoacutericos (Wallon Vygostsky

Bowlby) que descrevem o viacutenculo entre matildee e filho (desde a gestaccedilatildeo) como

ponto inicial de um sistema comportamental viabilizador de proteccedilatildeo e

preservaccedilatildeo que favorece no futuro os relacionamentos bem como o despertar

da autoconfianccedila e confianccedila nos outros caracteriacutesticas que possibilitam maior

vinculaccedilatildeo entre as pessoas na juventude e na idade adulta

Neste sentido salientamos que os viacutenculos afetivos satildeo mais niacutetidos na

infacircncia por ter uma base orgacircnica mais evidente sendo significativa agrave

contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo Henry Wallon (1879-1962) que postula um momento

onde a emoccedilatildeo eacute o que prevalece e soacute posteriormente desenvolve-se a

afetividade Sendo assim a mudanccedila de estado orgacircnico para a etapa

cognitiva e racional eacute realizada sob mediaccedilatildeo social nos dando subsiacutedios para

afirmar que a afetividade evolui e se modifica com o desenvolvimento do ser

humano

Jaacute na teoria cognitivista sob a perspectiva vygotskyana revelam-se

princiacutepios que sugerem que aprendemos a relacionar ideacuteias abstraindo de

nossa experiecircncia o que revela que nenhuma pessoa ao entrar na escola eacute

totalmente desprovida de algum tipo de conhecimento pois seja o indiviacuteduo

crianccedila jovem ou adulto que nunca foi agrave escola carrega consigo uma

bagagem de conhecimento absorvida atraveacutes da interaccedilatildeo social

Ao longo do ciclo vital o sujeito constroacutei e desenvolve os aspectos

cognitivos e afetivos interagindo com o meio e com outros sujeitos e embora

6

pouco percebida na sala de aula a razatildeo e a emoccedilatildeo alternam-se sendo a

afetividade corrente que une os indiviacuteduos favorecendo a ampliaccedilatildeo do modo

de sentir perceber a si proacuteprio e ao outro Assim na escola a afetividade

acontece atraveacutes dos contatos entre alunos professores conteuacutedo escolar

livros escrita etc natildeo sendo exclusivo da esfera cognitiva pois os indiviacuteduos

mobilizam os laccedilos afetivos com o objetivo de criar e manter um clima positivo

que favorece a sua permanecircncia na escola

Partindo para uma anaacutelise psicanaliacutetica destacamos as ideacuteias de

Sigmund Freud (1856-1939) das quais enfatizamos o conceito da transferecircncia

que de acordo com este teoacuterico estaacute mais evidente na infacircncia no entanto

pode estar presente ao longo de toda a vida Na obra de Freud agrave identificaccedilatildeo

que as crianccedilas e acreditamos que tambeacutem os jovens e os adultos procuram

na figura do professor ou outro elemento significativo no processo de

aprendizagem eacute um referencial estimulador Quando o professor eacute percebido

pelo aluno como um ser de grande importacircncia ele passa a ldquoter em suas matildeos

um poder de influecircncia sobre o alunordquo (KUPFER 2005 p 87) uso que

depende da escolha do professor

Neste contexto a transferecircncia estaacute presente em qualquer relaccedilatildeo

humana e em especial na relaccedilatildeo do educador e do educando Nela satildeo

transferidas num ato inconsciente as experiecircncias (vividas anteriormente com

os pais) assim que o desejo de saber do aluno se depara com um elemento

particular o professor

Para Kupfer (2005) ao substituirmos sentimentos e experiecircncias vividas

de uma figura principalmente agrave dos pais para o professor eacute deste uacuteltimo o

trabalho no sentido de desidealizar sua figura assim o aluno gradualmente iraacute

reforccedilar o seu proacuteprio ego de modo a emergir da relaccedilatildeo como um ser

pensante mantendo apenas o viacutenculo afetivo

Saindo um pouco da psicanaacutelise e entrando em uma visatildeo psicoloacutegica

humanista damos ecircnfase aos pensamentos do psicoacutelogo Carl R Rogers

(1902-1987) Este ressalta que uma aprendizagem significativa do indiviacuteduo

resulta do relacionamento positivo entre professor e aluno que se desenvolve a

partir do estabelecimento de um ambiente com clima permissivo onde o

7

educando tem liberdade para suas construccedilotildees de acordo com suas

experiecircncias anteriores indo a uma educaccedilatildeo plena

Ainda de acordo com a teoria rogeriana para Guedes (1979) toda

pessoa inserida no processo educacional pode aprender sozinha influenciada

pelas suas experiecircncias anteriores que satildeo focadas na direccedilatildeo certa pelo

educador mas soacute fluem no processo de aprendizagem com o consentimento

(emoccedilotildees) do indiviacuteduo jaacute que soacute ele controla seu proacuteprio desenvolvimento

Neste processo o professor estaacute inserido no grupo e natildeo acima dele facilitando

a aprendizagem isso faz das pessoas uacutenicas no processo

Justifica-se assim a educaccedilatildeo abrangente firmada em documentos de

relevacircncia que busca o desenvolvimento dos processos formativos

apresentados ldquo na vida familiar na convivecircncia humana no trabalho nas

instituiccedilotildees de ensino e pesquisardquo (LDB Art 1o) Educaccedilatildeo apresentada

ainda na Constituiccedilatildeo de 1988 (Art 205) responsaacutevel pela valorizaccedilatildeo do

desenvolvimento total do ser humano e desta forma para funcionamento

completo das habilidades intelectuais dar-se-aacute importacircncia ao viacutenculo afetivo

para o indiviacuteduo

21 AFETIVIDADE NA EJA

Como seres humanos maduros os alunos de EJA mesmo natildeo sendo

alfabetizados dispotildeem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no

seu dia-a-dia Sendo assim toda aprendizagem eacute influenciada pela experiecircncia

adquirida em convivecircncia com o outro pois nem de longe eacute somente na escola

que se obtecircm conhecimentos e principalmente na EJA onde o jovem e adulto eacute

um ldquomembro da sociedade ao qual cabe a produccedilatildeo social a direccedilatildeo da

sociedade e a reproduccedilatildeo da espeacutecierdquo (PINTO 1997 p79)

Neste niacutevel educacional geralmente especiacutefico do horaacuterio noturno

encontramos jovens adultos e idosos geralmente de origem humilde que natildeo

tiveram por algum motivo em sua eacutepoca chance de entrar ou continuar os

estudos Segundo a LDB (Art 37 1996) estes estatildeo em um patamar de ensino

especiacutefico da educaccedilatildeo baacutesica reservado aos que natildeo puderam ingressar ou

prosseguir os estudos no ensino fundamental e meacutedio na idade adequada

8

Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de

vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos

da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de

estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees

socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia

financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo

do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo

(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por

obrigaccedilatildeo

Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da

qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso

entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por

um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do

estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie

em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado

Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo

na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave

relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o

aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers

(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de

sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do

conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve

sentimento e inteligecircncia

Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o

conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas

pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos

envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes

das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo

indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as

pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de

aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos

9

e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida

diferente

Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social

e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios

atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal

instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis

formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo

(MOURA 1999 p 60)

De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou

significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda

atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da

inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo

para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida

pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao

aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e

decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o

educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a

construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos

criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade

Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que

este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e

adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para

promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou

omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar

mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por

Vygotsky e Wallon

22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE

Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor

natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a

identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para

perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos

10

educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo

cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo

positivamente no aprendizado

No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma

relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa

aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar

em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um

indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e

singular com necessidades educacionais especiacuteficas

Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar

encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas

desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e

livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade

suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem

Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma

atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de

produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na

criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e

agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo

Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a

compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as

dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o

professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus

erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute

errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias

normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir

empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio

do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)

Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram

instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos

accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da

afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos

11

autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de

conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992

p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos

capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos

ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos

3 O CAMINHO PERCORRIDO

Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa

que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto

com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos

comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para

investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e

sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola

Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados

por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a

setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho

desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica

Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees

feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)

optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da

entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista

para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter

interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que

classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo

e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados

Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete

alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter

semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo

(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar

perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em

categorias distintas e analisados

12

Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham

a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de

escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com

as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos

da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos

No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que

elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do

aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a

sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola

Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi

dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as

professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno

relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional

e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida

tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo

profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de

EJA

Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses

nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R

Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e

outros

4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM

GENTE DE VERDADErdquo4

41 Os alunos

Relaccedilatildeo aluno-aluno

Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante

fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos

entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles

ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute

4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo

13

bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer

ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se

conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem

melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo

(CH 31 anos)

A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute

escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a

civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres

humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria

sociedade

De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da

afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia

no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos

permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma

relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos

e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como

fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar

Relaccedilatildeo aluno-professor

Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como

era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos

constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo

pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas

professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito

bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto

uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este

aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em

chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu

tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo

(R 42 anos)

Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo

intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no

relacionamento entre o educador e o educando

14

Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas

professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e

desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser

professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que

requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa

um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de

conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)

As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho

compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que

enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos

materiais

PermanecircnciaRetorno

Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um

deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica

os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta

incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou

preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na

seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes

mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer

estudarrdquo (RS - 33 anos)

Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por

causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava

muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)

Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO

1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua

existecircncia

Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que

voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando

15

decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

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25

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26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

2

Eacute na EJA que se percebe a necessidade de compreensatildeo e estiacutemulo por

parte do professor para superaccedilatildeo das dificuldades e desafios que muitos

encontram em seus caminhos sendo gerado muitas vezes pela falta de

acolhimento da escola pelo desestiacutemulo o que pode ocasionar uma posterior

evasatildeo Assim partimos da hipoacutetese de que quando haacute uma expressatildeo de

afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno e entre os proacuteprios alunos sobre a

forma de incentivos proximidade corporal interesse em saber sobre o seu

cotidiano e amizade tudo isso contribuem significativamente para a construccedilatildeo

e manutenccedilatildeo de um viacutenculo do aluno da EJA com a escola e com o saber

pois quando haacute formaccedilatildeo de um laccedilo afetivo e uma interaccedilatildeo entre o grupo o

processo de ensino-aprendizagem se torna mais efetivo e a permanecircncia na

escola em sua maioria eacute garantida

Por conseguinte ao emitir-se uma atitude como afeto positivo ou

negativo haacute uma tendecircncia da resposta ser acompanhada por uma estrutura

cognitiva composta de crenccedilas e opiniotildees sobre suas potencialidades de

realizaccedilotildees e suas expectativas Assim o ganho no processo ensino-

aprendizagem eacute influenciado pela amabilidade que se efetiva nos

relacionamentos firmados e na constataccedilatildeo cognitiva

Lev Vygotsky (1896-1934) psicoacutelogo interacionista explica o

desenvolvimento afetivo sob um ponto de vista soacutecio-histoacuterico-cultural o que

nos dar condiccedilotildees para apreciarmos a afetividade relacionada agrave educaccedilatildeo da

EJA partindo da ideacuteia de que a aquisiccedilatildeo de conhecimentos e de sentimentos

se datildeo pela interaccedilatildeo do sujeito com o meio escolar

Jaacute Henri Wallon (1879-1962) eleva a afetividade a um domiacutenio

funcional cujo desenvolvimento eacute dependente da accedilatildeo de dois fatores o

orgacircnico e o social Neste a escola que eacute tradicionalmente tomada como

espaccedilo onde deve imperar o desenvolvimento do conhecimento passa a ser

reconhecida como meio cujo afeto eacute primordial para a relaccedilatildeo humana e o

professor eacute responsaacutevel pela mediaccedilatildeo afetiva na instituiccedilatildeo de ensino

Apesar de algumas divergecircncias Vygotsky e Wallon compartilham da

ideacuteia de que a afetividade se desenvolve atraveacutes da interaccedilatildeo entre os

indiviacuteduos e que a razatildeo e a emoccedilatildeo estatildeo ligadas

3

Com base nesses teoacutericos temos como pressuposto a visualizaccedilatildeo de

uma educaccedilatildeo na qual a afetividade se coloca como elemento primordial no

contexto da EJA onde a figura do professor eacute potencializadora do clima

emocional positivo na sala de aula despertando os educandos para o processo

de ensino-aprendizagem porque ldquoeacute sobretudo o mestre que pode mudando

de atitude provocar um aperfeiccediloamento da relaccedilatildeo afetivardquo (MARCHAND p

93)

Assim no presente artigo far-se-aacute a anaacutelise da possiacutevel contribuiccedilatildeo da

afetividade no processo de ensino-aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e

Adultos uma vez que o vinculo afetivo pode ou natildeo ajudar na internalizaccedilatildeo do

conhecimento

2 BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS NOBRASIL

Muitas vezes definimos erroneamente Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

Por isso antes de iniciar o nosso trabalho eacute necessaacuterio conhecer um pouco de

sua histoacuteria

Seguindo um perfil histoacuterico temos o caminho da educaccedilatildeo de jovens e

adultos trilhado ao lado dos modelos econocircmicos e poliacuteticos pois excetuando

o Periacuteodo Colonial (1500-1822) todos os outros periacuteodos indicavam busca pela

instruccedilatildeo incentivada pela necessidade econocircmica poliacutetica e ideoloacutegica de

uma elite majoritaacuteria

Eacute no Brasil Impeacuterio (1822-1889) que surgem as primeiras escolas

noturnas para adultos tipo de iniciativa que ganha forccedila na Repuacuteblica (1889)

com campanhas descontiacutenuas e curtas que buscavam apoio das diferentes

instacircncias da sociedade civil refletindo o descompromisso com uma poliacutetica de

educaccedilatildeo institucional

Apoacutes a Revoluccedilatildeo de 30 permitiu-se uma consolidaccedilatildeo de um sistema

educacional baacutesico com significativa inclusatildeo da educaccedilatildeo dos adolescentes e

adultos analfabetos entre os objetivos do estado brasileiro

A deacutecada de 40 trouxe iniciativas de peso como as primeiras obras

dedicadas ao ensino supletivo a Campanha de Educaccedilatildeo de Adolescentes e

Adultos o Congresso Nacional de Educaccedilatildeo de Adultos (1947) e o Seminaacuterio

4

Interamericano de Educaccedilatildeo de Adultos (1949) embora as praacuteticas e o

material didaacutetico permanecessem semelhantes aos destinados agraves crianccedilas

Mesmo com vaacuterios resultados significativos e com implantaccedilatildeo de vaacuterias

escolas supletivas o clima de entusiasmo comeccedilou a diminuir na deacutecada de

50 sobrevivendo apenas agrave rede de ensino supletivo que foi assumida pelos

estados e municiacutepios Sendo no final da deacutecada de 50 ateacute os meados dos anos

60 segundo Moura (1999) eacute relevante a contribuiccedilatildeo do educador Paulo Freire

(1921-1997) que inspirou os principais programas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo

popular marcando o iniacutecio de um novo periacuteodo da educaccedilatildeo dos adultos no

Brasil

Mas eacute na deacutecada de 80 que haacute uma valorizaccedilatildeo das experiecircncias

baseadas no meacutetodo de Paulo Freire com conquistas importantes que

culminaram com a garantia da extensatildeo da obrigatoriedade da educaccedilatildeo

baacutesica para jovens e adultos na Constituiccedilatildeo de 1988 necessaacuteria para

erradicaccedilatildeo do analfabetismo

Foi concebido assim o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo

(MOBRAL) sistema que controlava a alfabetizaccedilatildeo da populaccedilatildeo adulta

principalmente a rural Poreacutem em meados de 1985 com a Nova Repuacuteblica ele

foi extinto dando lugar a Fundaccedilatildeo Educar que por sua vez fechou em 1990

sinalizando a ausecircncia do Governo Federal desse cenaacuterio educacional

constatando inexistecircncia de um oacutergatildeo ou setor do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

voltado para a EJA

Atualmente a EJA traccedila um caminho pautado em mudanccedilas

expressivas que foram norteadas pelos valores apresentados na Conferecircncia

Internacional de Hamburgo (1997) na Lei 939496 no Parecer da Cacircmara de

Educaccedilatildeo Baacutesica (CEB 1100) que estabelece as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e na Deliberaccedilatildeo 0800 CEB

com o intuito de promover o conhecimento e a cidadania

Embora existam diversos documentos emitidos e mudanccedilas baseadas

nas novas tendecircncias do mundo atual globalizado e desenvolvido que a

reconheccedilam como importante a EJA ainda enfrenta problemas no que diz

respeito a alguns conteuacutedos presentes nos livros didaacuteticos que desconsideram

5

as especificidades regionais que desrespeitam as peculiaridades do puacuteblico-

alvo e por vezes dificultam o relacionamento professor-aluno

2 RELACcedilAtildeO PROFESSOR-ALUNO E AFETIVIDADE

Atraveacutes de uma visatildeo integral da interaccedilatildeo nas relaccedilotildees humanas e na

aprendizagem encontramos a afetividade vista sob a forma de criaccedilatildeo de

viacutenculos que surgem no decorrer do ciclo vital de qualquer indiviacuteduo e embora

desabrochem no iniacutecio da gestaccedilatildeo permanecem em processo contiacutenuo

atraveacutes da sociabilidade em todas as fases da vida confirmando a relaccedilatildeo

entre afetividade e o desenvolvimento cognitivo e fiacutesico

Dentre as diversas literaturas encontramos teoacutericos (Wallon Vygostsky

Bowlby) que descrevem o viacutenculo entre matildee e filho (desde a gestaccedilatildeo) como

ponto inicial de um sistema comportamental viabilizador de proteccedilatildeo e

preservaccedilatildeo que favorece no futuro os relacionamentos bem como o despertar

da autoconfianccedila e confianccedila nos outros caracteriacutesticas que possibilitam maior

vinculaccedilatildeo entre as pessoas na juventude e na idade adulta

Neste sentido salientamos que os viacutenculos afetivos satildeo mais niacutetidos na

infacircncia por ter uma base orgacircnica mais evidente sendo significativa agrave

contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo Henry Wallon (1879-1962) que postula um momento

onde a emoccedilatildeo eacute o que prevalece e soacute posteriormente desenvolve-se a

afetividade Sendo assim a mudanccedila de estado orgacircnico para a etapa

cognitiva e racional eacute realizada sob mediaccedilatildeo social nos dando subsiacutedios para

afirmar que a afetividade evolui e se modifica com o desenvolvimento do ser

humano

Jaacute na teoria cognitivista sob a perspectiva vygotskyana revelam-se

princiacutepios que sugerem que aprendemos a relacionar ideacuteias abstraindo de

nossa experiecircncia o que revela que nenhuma pessoa ao entrar na escola eacute

totalmente desprovida de algum tipo de conhecimento pois seja o indiviacuteduo

crianccedila jovem ou adulto que nunca foi agrave escola carrega consigo uma

bagagem de conhecimento absorvida atraveacutes da interaccedilatildeo social

Ao longo do ciclo vital o sujeito constroacutei e desenvolve os aspectos

cognitivos e afetivos interagindo com o meio e com outros sujeitos e embora

6

pouco percebida na sala de aula a razatildeo e a emoccedilatildeo alternam-se sendo a

afetividade corrente que une os indiviacuteduos favorecendo a ampliaccedilatildeo do modo

de sentir perceber a si proacuteprio e ao outro Assim na escola a afetividade

acontece atraveacutes dos contatos entre alunos professores conteuacutedo escolar

livros escrita etc natildeo sendo exclusivo da esfera cognitiva pois os indiviacuteduos

mobilizam os laccedilos afetivos com o objetivo de criar e manter um clima positivo

que favorece a sua permanecircncia na escola

Partindo para uma anaacutelise psicanaliacutetica destacamos as ideacuteias de

Sigmund Freud (1856-1939) das quais enfatizamos o conceito da transferecircncia

que de acordo com este teoacuterico estaacute mais evidente na infacircncia no entanto

pode estar presente ao longo de toda a vida Na obra de Freud agrave identificaccedilatildeo

que as crianccedilas e acreditamos que tambeacutem os jovens e os adultos procuram

na figura do professor ou outro elemento significativo no processo de

aprendizagem eacute um referencial estimulador Quando o professor eacute percebido

pelo aluno como um ser de grande importacircncia ele passa a ldquoter em suas matildeos

um poder de influecircncia sobre o alunordquo (KUPFER 2005 p 87) uso que

depende da escolha do professor

Neste contexto a transferecircncia estaacute presente em qualquer relaccedilatildeo

humana e em especial na relaccedilatildeo do educador e do educando Nela satildeo

transferidas num ato inconsciente as experiecircncias (vividas anteriormente com

os pais) assim que o desejo de saber do aluno se depara com um elemento

particular o professor

Para Kupfer (2005) ao substituirmos sentimentos e experiecircncias vividas

de uma figura principalmente agrave dos pais para o professor eacute deste uacuteltimo o

trabalho no sentido de desidealizar sua figura assim o aluno gradualmente iraacute

reforccedilar o seu proacuteprio ego de modo a emergir da relaccedilatildeo como um ser

pensante mantendo apenas o viacutenculo afetivo

Saindo um pouco da psicanaacutelise e entrando em uma visatildeo psicoloacutegica

humanista damos ecircnfase aos pensamentos do psicoacutelogo Carl R Rogers

(1902-1987) Este ressalta que uma aprendizagem significativa do indiviacuteduo

resulta do relacionamento positivo entre professor e aluno que se desenvolve a

partir do estabelecimento de um ambiente com clima permissivo onde o

7

educando tem liberdade para suas construccedilotildees de acordo com suas

experiecircncias anteriores indo a uma educaccedilatildeo plena

Ainda de acordo com a teoria rogeriana para Guedes (1979) toda

pessoa inserida no processo educacional pode aprender sozinha influenciada

pelas suas experiecircncias anteriores que satildeo focadas na direccedilatildeo certa pelo

educador mas soacute fluem no processo de aprendizagem com o consentimento

(emoccedilotildees) do indiviacuteduo jaacute que soacute ele controla seu proacuteprio desenvolvimento

Neste processo o professor estaacute inserido no grupo e natildeo acima dele facilitando

a aprendizagem isso faz das pessoas uacutenicas no processo

Justifica-se assim a educaccedilatildeo abrangente firmada em documentos de

relevacircncia que busca o desenvolvimento dos processos formativos

apresentados ldquo na vida familiar na convivecircncia humana no trabalho nas

instituiccedilotildees de ensino e pesquisardquo (LDB Art 1o) Educaccedilatildeo apresentada

ainda na Constituiccedilatildeo de 1988 (Art 205) responsaacutevel pela valorizaccedilatildeo do

desenvolvimento total do ser humano e desta forma para funcionamento

completo das habilidades intelectuais dar-se-aacute importacircncia ao viacutenculo afetivo

para o indiviacuteduo

21 AFETIVIDADE NA EJA

Como seres humanos maduros os alunos de EJA mesmo natildeo sendo

alfabetizados dispotildeem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no

seu dia-a-dia Sendo assim toda aprendizagem eacute influenciada pela experiecircncia

adquirida em convivecircncia com o outro pois nem de longe eacute somente na escola

que se obtecircm conhecimentos e principalmente na EJA onde o jovem e adulto eacute

um ldquomembro da sociedade ao qual cabe a produccedilatildeo social a direccedilatildeo da

sociedade e a reproduccedilatildeo da espeacutecierdquo (PINTO 1997 p79)

Neste niacutevel educacional geralmente especiacutefico do horaacuterio noturno

encontramos jovens adultos e idosos geralmente de origem humilde que natildeo

tiveram por algum motivo em sua eacutepoca chance de entrar ou continuar os

estudos Segundo a LDB (Art 37 1996) estes estatildeo em um patamar de ensino

especiacutefico da educaccedilatildeo baacutesica reservado aos que natildeo puderam ingressar ou

prosseguir os estudos no ensino fundamental e meacutedio na idade adequada

8

Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de

vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos

da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de

estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees

socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia

financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo

do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo

(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por

obrigaccedilatildeo

Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da

qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso

entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por

um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do

estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie

em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado

Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo

na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave

relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o

aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers

(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de

sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do

conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve

sentimento e inteligecircncia

Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o

conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas

pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos

envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes

das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo

indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as

pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de

aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos

9

e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida

diferente

Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social

e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios

atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal

instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis

formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo

(MOURA 1999 p 60)

De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou

significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda

atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da

inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo

para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida

pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao

aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e

decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o

educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a

construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos

criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade

Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que

este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e

adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para

promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou

omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar

mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por

Vygotsky e Wallon

22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE

Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor

natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a

identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para

perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos

10

educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo

cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo

positivamente no aprendizado

No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma

relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa

aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar

em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um

indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e

singular com necessidades educacionais especiacuteficas

Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar

encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas

desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e

livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade

suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem

Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma

atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de

produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na

criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e

agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo

Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a

compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as

dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o

professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus

erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute

errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias

normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir

empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio

do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)

Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram

instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos

accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da

afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos

11

autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de

conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992

p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos

capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos

ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos

3 O CAMINHO PERCORRIDO

Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa

que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto

com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos

comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para

investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e

sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola

Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados

por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a

setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho

desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica

Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees

feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)

optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da

entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista

para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter

interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que

classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo

e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados

Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete

alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter

semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo

(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar

perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em

categorias distintas e analisados

12

Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham

a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de

escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com

as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos

da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos

No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que

elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do

aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a

sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola

Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi

dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as

professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno

relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional

e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida

tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo

profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de

EJA

Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses

nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R

Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e

outros

4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM

GENTE DE VERDADErdquo4

41 Os alunos

Relaccedilatildeo aluno-aluno

Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante

fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos

entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles

ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute

4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo

13

bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer

ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se

conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem

melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo

(CH 31 anos)

A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute

escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a

civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres

humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria

sociedade

De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da

afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia

no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos

permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma

relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos

e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como

fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar

Relaccedilatildeo aluno-professor

Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como

era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos

constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo

pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas

professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito

bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto

uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este

aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em

chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu

tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo

(R 42 anos)

Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo

intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no

relacionamento entre o educador e o educando

14

Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas

professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e

desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser

professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que

requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa

um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de

conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)

As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho

compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que

enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos

materiais

PermanecircnciaRetorno

Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um

deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica

os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta

incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou

preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na

seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes

mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer

estudarrdquo (RS - 33 anos)

Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por

causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava

muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)

Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO

1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua

existecircncia

Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que

voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando

15

decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

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25

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___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

3

Com base nesses teoacutericos temos como pressuposto a visualizaccedilatildeo de

uma educaccedilatildeo na qual a afetividade se coloca como elemento primordial no

contexto da EJA onde a figura do professor eacute potencializadora do clima

emocional positivo na sala de aula despertando os educandos para o processo

de ensino-aprendizagem porque ldquoeacute sobretudo o mestre que pode mudando

de atitude provocar um aperfeiccediloamento da relaccedilatildeo afetivardquo (MARCHAND p

93)

Assim no presente artigo far-se-aacute a anaacutelise da possiacutevel contribuiccedilatildeo da

afetividade no processo de ensino-aprendizagem na Educaccedilatildeo de Jovens e

Adultos uma vez que o vinculo afetivo pode ou natildeo ajudar na internalizaccedilatildeo do

conhecimento

2 BREVE HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS NOBRASIL

Muitas vezes definimos erroneamente Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

Por isso antes de iniciar o nosso trabalho eacute necessaacuterio conhecer um pouco de

sua histoacuteria

Seguindo um perfil histoacuterico temos o caminho da educaccedilatildeo de jovens e

adultos trilhado ao lado dos modelos econocircmicos e poliacuteticos pois excetuando

o Periacuteodo Colonial (1500-1822) todos os outros periacuteodos indicavam busca pela

instruccedilatildeo incentivada pela necessidade econocircmica poliacutetica e ideoloacutegica de

uma elite majoritaacuteria

Eacute no Brasil Impeacuterio (1822-1889) que surgem as primeiras escolas

noturnas para adultos tipo de iniciativa que ganha forccedila na Repuacuteblica (1889)

com campanhas descontiacutenuas e curtas que buscavam apoio das diferentes

instacircncias da sociedade civil refletindo o descompromisso com uma poliacutetica de

educaccedilatildeo institucional

Apoacutes a Revoluccedilatildeo de 30 permitiu-se uma consolidaccedilatildeo de um sistema

educacional baacutesico com significativa inclusatildeo da educaccedilatildeo dos adolescentes e

adultos analfabetos entre os objetivos do estado brasileiro

A deacutecada de 40 trouxe iniciativas de peso como as primeiras obras

dedicadas ao ensino supletivo a Campanha de Educaccedilatildeo de Adolescentes e

Adultos o Congresso Nacional de Educaccedilatildeo de Adultos (1947) e o Seminaacuterio

4

Interamericano de Educaccedilatildeo de Adultos (1949) embora as praacuteticas e o

material didaacutetico permanecessem semelhantes aos destinados agraves crianccedilas

Mesmo com vaacuterios resultados significativos e com implantaccedilatildeo de vaacuterias

escolas supletivas o clima de entusiasmo comeccedilou a diminuir na deacutecada de

50 sobrevivendo apenas agrave rede de ensino supletivo que foi assumida pelos

estados e municiacutepios Sendo no final da deacutecada de 50 ateacute os meados dos anos

60 segundo Moura (1999) eacute relevante a contribuiccedilatildeo do educador Paulo Freire

(1921-1997) que inspirou os principais programas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo

popular marcando o iniacutecio de um novo periacuteodo da educaccedilatildeo dos adultos no

Brasil

Mas eacute na deacutecada de 80 que haacute uma valorizaccedilatildeo das experiecircncias

baseadas no meacutetodo de Paulo Freire com conquistas importantes que

culminaram com a garantia da extensatildeo da obrigatoriedade da educaccedilatildeo

baacutesica para jovens e adultos na Constituiccedilatildeo de 1988 necessaacuteria para

erradicaccedilatildeo do analfabetismo

Foi concebido assim o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo

(MOBRAL) sistema que controlava a alfabetizaccedilatildeo da populaccedilatildeo adulta

principalmente a rural Poreacutem em meados de 1985 com a Nova Repuacuteblica ele

foi extinto dando lugar a Fundaccedilatildeo Educar que por sua vez fechou em 1990

sinalizando a ausecircncia do Governo Federal desse cenaacuterio educacional

constatando inexistecircncia de um oacutergatildeo ou setor do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

voltado para a EJA

Atualmente a EJA traccedila um caminho pautado em mudanccedilas

expressivas que foram norteadas pelos valores apresentados na Conferecircncia

Internacional de Hamburgo (1997) na Lei 939496 no Parecer da Cacircmara de

Educaccedilatildeo Baacutesica (CEB 1100) que estabelece as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e na Deliberaccedilatildeo 0800 CEB

com o intuito de promover o conhecimento e a cidadania

Embora existam diversos documentos emitidos e mudanccedilas baseadas

nas novas tendecircncias do mundo atual globalizado e desenvolvido que a

reconheccedilam como importante a EJA ainda enfrenta problemas no que diz

respeito a alguns conteuacutedos presentes nos livros didaacuteticos que desconsideram

5

as especificidades regionais que desrespeitam as peculiaridades do puacuteblico-

alvo e por vezes dificultam o relacionamento professor-aluno

2 RELACcedilAtildeO PROFESSOR-ALUNO E AFETIVIDADE

Atraveacutes de uma visatildeo integral da interaccedilatildeo nas relaccedilotildees humanas e na

aprendizagem encontramos a afetividade vista sob a forma de criaccedilatildeo de

viacutenculos que surgem no decorrer do ciclo vital de qualquer indiviacuteduo e embora

desabrochem no iniacutecio da gestaccedilatildeo permanecem em processo contiacutenuo

atraveacutes da sociabilidade em todas as fases da vida confirmando a relaccedilatildeo

entre afetividade e o desenvolvimento cognitivo e fiacutesico

Dentre as diversas literaturas encontramos teoacutericos (Wallon Vygostsky

Bowlby) que descrevem o viacutenculo entre matildee e filho (desde a gestaccedilatildeo) como

ponto inicial de um sistema comportamental viabilizador de proteccedilatildeo e

preservaccedilatildeo que favorece no futuro os relacionamentos bem como o despertar

da autoconfianccedila e confianccedila nos outros caracteriacutesticas que possibilitam maior

vinculaccedilatildeo entre as pessoas na juventude e na idade adulta

Neste sentido salientamos que os viacutenculos afetivos satildeo mais niacutetidos na

infacircncia por ter uma base orgacircnica mais evidente sendo significativa agrave

contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo Henry Wallon (1879-1962) que postula um momento

onde a emoccedilatildeo eacute o que prevalece e soacute posteriormente desenvolve-se a

afetividade Sendo assim a mudanccedila de estado orgacircnico para a etapa

cognitiva e racional eacute realizada sob mediaccedilatildeo social nos dando subsiacutedios para

afirmar que a afetividade evolui e se modifica com o desenvolvimento do ser

humano

Jaacute na teoria cognitivista sob a perspectiva vygotskyana revelam-se

princiacutepios que sugerem que aprendemos a relacionar ideacuteias abstraindo de

nossa experiecircncia o que revela que nenhuma pessoa ao entrar na escola eacute

totalmente desprovida de algum tipo de conhecimento pois seja o indiviacuteduo

crianccedila jovem ou adulto que nunca foi agrave escola carrega consigo uma

bagagem de conhecimento absorvida atraveacutes da interaccedilatildeo social

Ao longo do ciclo vital o sujeito constroacutei e desenvolve os aspectos

cognitivos e afetivos interagindo com o meio e com outros sujeitos e embora

6

pouco percebida na sala de aula a razatildeo e a emoccedilatildeo alternam-se sendo a

afetividade corrente que une os indiviacuteduos favorecendo a ampliaccedilatildeo do modo

de sentir perceber a si proacuteprio e ao outro Assim na escola a afetividade

acontece atraveacutes dos contatos entre alunos professores conteuacutedo escolar

livros escrita etc natildeo sendo exclusivo da esfera cognitiva pois os indiviacuteduos

mobilizam os laccedilos afetivos com o objetivo de criar e manter um clima positivo

que favorece a sua permanecircncia na escola

Partindo para uma anaacutelise psicanaliacutetica destacamos as ideacuteias de

Sigmund Freud (1856-1939) das quais enfatizamos o conceito da transferecircncia

que de acordo com este teoacuterico estaacute mais evidente na infacircncia no entanto

pode estar presente ao longo de toda a vida Na obra de Freud agrave identificaccedilatildeo

que as crianccedilas e acreditamos que tambeacutem os jovens e os adultos procuram

na figura do professor ou outro elemento significativo no processo de

aprendizagem eacute um referencial estimulador Quando o professor eacute percebido

pelo aluno como um ser de grande importacircncia ele passa a ldquoter em suas matildeos

um poder de influecircncia sobre o alunordquo (KUPFER 2005 p 87) uso que

depende da escolha do professor

Neste contexto a transferecircncia estaacute presente em qualquer relaccedilatildeo

humana e em especial na relaccedilatildeo do educador e do educando Nela satildeo

transferidas num ato inconsciente as experiecircncias (vividas anteriormente com

os pais) assim que o desejo de saber do aluno se depara com um elemento

particular o professor

Para Kupfer (2005) ao substituirmos sentimentos e experiecircncias vividas

de uma figura principalmente agrave dos pais para o professor eacute deste uacuteltimo o

trabalho no sentido de desidealizar sua figura assim o aluno gradualmente iraacute

reforccedilar o seu proacuteprio ego de modo a emergir da relaccedilatildeo como um ser

pensante mantendo apenas o viacutenculo afetivo

Saindo um pouco da psicanaacutelise e entrando em uma visatildeo psicoloacutegica

humanista damos ecircnfase aos pensamentos do psicoacutelogo Carl R Rogers

(1902-1987) Este ressalta que uma aprendizagem significativa do indiviacuteduo

resulta do relacionamento positivo entre professor e aluno que se desenvolve a

partir do estabelecimento de um ambiente com clima permissivo onde o

7

educando tem liberdade para suas construccedilotildees de acordo com suas

experiecircncias anteriores indo a uma educaccedilatildeo plena

Ainda de acordo com a teoria rogeriana para Guedes (1979) toda

pessoa inserida no processo educacional pode aprender sozinha influenciada

pelas suas experiecircncias anteriores que satildeo focadas na direccedilatildeo certa pelo

educador mas soacute fluem no processo de aprendizagem com o consentimento

(emoccedilotildees) do indiviacuteduo jaacute que soacute ele controla seu proacuteprio desenvolvimento

Neste processo o professor estaacute inserido no grupo e natildeo acima dele facilitando

a aprendizagem isso faz das pessoas uacutenicas no processo

Justifica-se assim a educaccedilatildeo abrangente firmada em documentos de

relevacircncia que busca o desenvolvimento dos processos formativos

apresentados ldquo na vida familiar na convivecircncia humana no trabalho nas

instituiccedilotildees de ensino e pesquisardquo (LDB Art 1o) Educaccedilatildeo apresentada

ainda na Constituiccedilatildeo de 1988 (Art 205) responsaacutevel pela valorizaccedilatildeo do

desenvolvimento total do ser humano e desta forma para funcionamento

completo das habilidades intelectuais dar-se-aacute importacircncia ao viacutenculo afetivo

para o indiviacuteduo

21 AFETIVIDADE NA EJA

Como seres humanos maduros os alunos de EJA mesmo natildeo sendo

alfabetizados dispotildeem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no

seu dia-a-dia Sendo assim toda aprendizagem eacute influenciada pela experiecircncia

adquirida em convivecircncia com o outro pois nem de longe eacute somente na escola

que se obtecircm conhecimentos e principalmente na EJA onde o jovem e adulto eacute

um ldquomembro da sociedade ao qual cabe a produccedilatildeo social a direccedilatildeo da

sociedade e a reproduccedilatildeo da espeacutecierdquo (PINTO 1997 p79)

Neste niacutevel educacional geralmente especiacutefico do horaacuterio noturno

encontramos jovens adultos e idosos geralmente de origem humilde que natildeo

tiveram por algum motivo em sua eacutepoca chance de entrar ou continuar os

estudos Segundo a LDB (Art 37 1996) estes estatildeo em um patamar de ensino

especiacutefico da educaccedilatildeo baacutesica reservado aos que natildeo puderam ingressar ou

prosseguir os estudos no ensino fundamental e meacutedio na idade adequada

8

Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de

vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos

da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de

estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees

socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia

financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo

do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo

(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por

obrigaccedilatildeo

Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da

qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso

entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por

um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do

estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie

em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado

Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo

na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave

relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o

aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers

(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de

sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do

conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve

sentimento e inteligecircncia

Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o

conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas

pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos

envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes

das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo

indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as

pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de

aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos

9

e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida

diferente

Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social

e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios

atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal

instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis

formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo

(MOURA 1999 p 60)

De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou

significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda

atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da

inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo

para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida

pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao

aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e

decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o

educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a

construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos

criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade

Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que

este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e

adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para

promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou

omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar

mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por

Vygotsky e Wallon

22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE

Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor

natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a

identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para

perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos

10

educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo

cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo

positivamente no aprendizado

No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma

relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa

aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar

em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um

indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e

singular com necessidades educacionais especiacuteficas

Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar

encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas

desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e

livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade

suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem

Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma

atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de

produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na

criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e

agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo

Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a

compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as

dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o

professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus

erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute

errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias

normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir

empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio

do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)

Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram

instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos

accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da

afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos

11

autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de

conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992

p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos

capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos

ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos

3 O CAMINHO PERCORRIDO

Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa

que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto

com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos

comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para

investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e

sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola

Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados

por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a

setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho

desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica

Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees

feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)

optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da

entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista

para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter

interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que

classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo

e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados

Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete

alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter

semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo

(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar

perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em

categorias distintas e analisados

12

Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham

a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de

escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com

as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos

da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos

No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que

elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do

aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a

sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola

Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi

dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as

professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno

relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional

e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida

tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo

profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de

EJA

Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses

nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R

Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e

outros

4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM

GENTE DE VERDADErdquo4

41 Os alunos

Relaccedilatildeo aluno-aluno

Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante

fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos

entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles

ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute

4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo

13

bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer

ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se

conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem

melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo

(CH 31 anos)

A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute

escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a

civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres

humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria

sociedade

De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da

afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia

no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos

permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma

relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos

e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como

fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar

Relaccedilatildeo aluno-professor

Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como

era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos

constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo

pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas

professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito

bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto

uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este

aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em

chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu

tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo

(R 42 anos)

Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo

intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no

relacionamento entre o educador e o educando

14

Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas

professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e

desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser

professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que

requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa

um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de

conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)

As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho

compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que

enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos

materiais

PermanecircnciaRetorno

Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um

deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica

os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta

incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou

preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na

seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes

mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer

estudarrdquo (RS - 33 anos)

Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por

causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava

muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)

Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO

1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua

existecircncia

Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que

voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando

15

decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

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CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria

DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996

GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002

GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005

KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005

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MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985

25

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OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

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PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

4

Interamericano de Educaccedilatildeo de Adultos (1949) embora as praacuteticas e o

material didaacutetico permanecessem semelhantes aos destinados agraves crianccedilas

Mesmo com vaacuterios resultados significativos e com implantaccedilatildeo de vaacuterias

escolas supletivas o clima de entusiasmo comeccedilou a diminuir na deacutecada de

50 sobrevivendo apenas agrave rede de ensino supletivo que foi assumida pelos

estados e municiacutepios Sendo no final da deacutecada de 50 ateacute os meados dos anos

60 segundo Moura (1999) eacute relevante a contribuiccedilatildeo do educador Paulo Freire

(1921-1997) que inspirou os principais programas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo

popular marcando o iniacutecio de um novo periacuteodo da educaccedilatildeo dos adultos no

Brasil

Mas eacute na deacutecada de 80 que haacute uma valorizaccedilatildeo das experiecircncias

baseadas no meacutetodo de Paulo Freire com conquistas importantes que

culminaram com a garantia da extensatildeo da obrigatoriedade da educaccedilatildeo

baacutesica para jovens e adultos na Constituiccedilatildeo de 1988 necessaacuteria para

erradicaccedilatildeo do analfabetismo

Foi concebido assim o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo

(MOBRAL) sistema que controlava a alfabetizaccedilatildeo da populaccedilatildeo adulta

principalmente a rural Poreacutem em meados de 1985 com a Nova Repuacuteblica ele

foi extinto dando lugar a Fundaccedilatildeo Educar que por sua vez fechou em 1990

sinalizando a ausecircncia do Governo Federal desse cenaacuterio educacional

constatando inexistecircncia de um oacutergatildeo ou setor do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

voltado para a EJA

Atualmente a EJA traccedila um caminho pautado em mudanccedilas

expressivas que foram norteadas pelos valores apresentados na Conferecircncia

Internacional de Hamburgo (1997) na Lei 939496 no Parecer da Cacircmara de

Educaccedilatildeo Baacutesica (CEB 1100) que estabelece as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e na Deliberaccedilatildeo 0800 CEB

com o intuito de promover o conhecimento e a cidadania

Embora existam diversos documentos emitidos e mudanccedilas baseadas

nas novas tendecircncias do mundo atual globalizado e desenvolvido que a

reconheccedilam como importante a EJA ainda enfrenta problemas no que diz

respeito a alguns conteuacutedos presentes nos livros didaacuteticos que desconsideram

5

as especificidades regionais que desrespeitam as peculiaridades do puacuteblico-

alvo e por vezes dificultam o relacionamento professor-aluno

2 RELACcedilAtildeO PROFESSOR-ALUNO E AFETIVIDADE

Atraveacutes de uma visatildeo integral da interaccedilatildeo nas relaccedilotildees humanas e na

aprendizagem encontramos a afetividade vista sob a forma de criaccedilatildeo de

viacutenculos que surgem no decorrer do ciclo vital de qualquer indiviacuteduo e embora

desabrochem no iniacutecio da gestaccedilatildeo permanecem em processo contiacutenuo

atraveacutes da sociabilidade em todas as fases da vida confirmando a relaccedilatildeo

entre afetividade e o desenvolvimento cognitivo e fiacutesico

Dentre as diversas literaturas encontramos teoacutericos (Wallon Vygostsky

Bowlby) que descrevem o viacutenculo entre matildee e filho (desde a gestaccedilatildeo) como

ponto inicial de um sistema comportamental viabilizador de proteccedilatildeo e

preservaccedilatildeo que favorece no futuro os relacionamentos bem como o despertar

da autoconfianccedila e confianccedila nos outros caracteriacutesticas que possibilitam maior

vinculaccedilatildeo entre as pessoas na juventude e na idade adulta

Neste sentido salientamos que os viacutenculos afetivos satildeo mais niacutetidos na

infacircncia por ter uma base orgacircnica mais evidente sendo significativa agrave

contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo Henry Wallon (1879-1962) que postula um momento

onde a emoccedilatildeo eacute o que prevalece e soacute posteriormente desenvolve-se a

afetividade Sendo assim a mudanccedila de estado orgacircnico para a etapa

cognitiva e racional eacute realizada sob mediaccedilatildeo social nos dando subsiacutedios para

afirmar que a afetividade evolui e se modifica com o desenvolvimento do ser

humano

Jaacute na teoria cognitivista sob a perspectiva vygotskyana revelam-se

princiacutepios que sugerem que aprendemos a relacionar ideacuteias abstraindo de

nossa experiecircncia o que revela que nenhuma pessoa ao entrar na escola eacute

totalmente desprovida de algum tipo de conhecimento pois seja o indiviacuteduo

crianccedila jovem ou adulto que nunca foi agrave escola carrega consigo uma

bagagem de conhecimento absorvida atraveacutes da interaccedilatildeo social

Ao longo do ciclo vital o sujeito constroacutei e desenvolve os aspectos

cognitivos e afetivos interagindo com o meio e com outros sujeitos e embora

6

pouco percebida na sala de aula a razatildeo e a emoccedilatildeo alternam-se sendo a

afetividade corrente que une os indiviacuteduos favorecendo a ampliaccedilatildeo do modo

de sentir perceber a si proacuteprio e ao outro Assim na escola a afetividade

acontece atraveacutes dos contatos entre alunos professores conteuacutedo escolar

livros escrita etc natildeo sendo exclusivo da esfera cognitiva pois os indiviacuteduos

mobilizam os laccedilos afetivos com o objetivo de criar e manter um clima positivo

que favorece a sua permanecircncia na escola

Partindo para uma anaacutelise psicanaliacutetica destacamos as ideacuteias de

Sigmund Freud (1856-1939) das quais enfatizamos o conceito da transferecircncia

que de acordo com este teoacuterico estaacute mais evidente na infacircncia no entanto

pode estar presente ao longo de toda a vida Na obra de Freud agrave identificaccedilatildeo

que as crianccedilas e acreditamos que tambeacutem os jovens e os adultos procuram

na figura do professor ou outro elemento significativo no processo de

aprendizagem eacute um referencial estimulador Quando o professor eacute percebido

pelo aluno como um ser de grande importacircncia ele passa a ldquoter em suas matildeos

um poder de influecircncia sobre o alunordquo (KUPFER 2005 p 87) uso que

depende da escolha do professor

Neste contexto a transferecircncia estaacute presente em qualquer relaccedilatildeo

humana e em especial na relaccedilatildeo do educador e do educando Nela satildeo

transferidas num ato inconsciente as experiecircncias (vividas anteriormente com

os pais) assim que o desejo de saber do aluno se depara com um elemento

particular o professor

Para Kupfer (2005) ao substituirmos sentimentos e experiecircncias vividas

de uma figura principalmente agrave dos pais para o professor eacute deste uacuteltimo o

trabalho no sentido de desidealizar sua figura assim o aluno gradualmente iraacute

reforccedilar o seu proacuteprio ego de modo a emergir da relaccedilatildeo como um ser

pensante mantendo apenas o viacutenculo afetivo

Saindo um pouco da psicanaacutelise e entrando em uma visatildeo psicoloacutegica

humanista damos ecircnfase aos pensamentos do psicoacutelogo Carl R Rogers

(1902-1987) Este ressalta que uma aprendizagem significativa do indiviacuteduo

resulta do relacionamento positivo entre professor e aluno que se desenvolve a

partir do estabelecimento de um ambiente com clima permissivo onde o

7

educando tem liberdade para suas construccedilotildees de acordo com suas

experiecircncias anteriores indo a uma educaccedilatildeo plena

Ainda de acordo com a teoria rogeriana para Guedes (1979) toda

pessoa inserida no processo educacional pode aprender sozinha influenciada

pelas suas experiecircncias anteriores que satildeo focadas na direccedilatildeo certa pelo

educador mas soacute fluem no processo de aprendizagem com o consentimento

(emoccedilotildees) do indiviacuteduo jaacute que soacute ele controla seu proacuteprio desenvolvimento

Neste processo o professor estaacute inserido no grupo e natildeo acima dele facilitando

a aprendizagem isso faz das pessoas uacutenicas no processo

Justifica-se assim a educaccedilatildeo abrangente firmada em documentos de

relevacircncia que busca o desenvolvimento dos processos formativos

apresentados ldquo na vida familiar na convivecircncia humana no trabalho nas

instituiccedilotildees de ensino e pesquisardquo (LDB Art 1o) Educaccedilatildeo apresentada

ainda na Constituiccedilatildeo de 1988 (Art 205) responsaacutevel pela valorizaccedilatildeo do

desenvolvimento total do ser humano e desta forma para funcionamento

completo das habilidades intelectuais dar-se-aacute importacircncia ao viacutenculo afetivo

para o indiviacuteduo

21 AFETIVIDADE NA EJA

Como seres humanos maduros os alunos de EJA mesmo natildeo sendo

alfabetizados dispotildeem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no

seu dia-a-dia Sendo assim toda aprendizagem eacute influenciada pela experiecircncia

adquirida em convivecircncia com o outro pois nem de longe eacute somente na escola

que se obtecircm conhecimentos e principalmente na EJA onde o jovem e adulto eacute

um ldquomembro da sociedade ao qual cabe a produccedilatildeo social a direccedilatildeo da

sociedade e a reproduccedilatildeo da espeacutecierdquo (PINTO 1997 p79)

Neste niacutevel educacional geralmente especiacutefico do horaacuterio noturno

encontramos jovens adultos e idosos geralmente de origem humilde que natildeo

tiveram por algum motivo em sua eacutepoca chance de entrar ou continuar os

estudos Segundo a LDB (Art 37 1996) estes estatildeo em um patamar de ensino

especiacutefico da educaccedilatildeo baacutesica reservado aos que natildeo puderam ingressar ou

prosseguir os estudos no ensino fundamental e meacutedio na idade adequada

8

Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de

vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos

da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de

estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees

socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia

financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo

do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo

(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por

obrigaccedilatildeo

Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da

qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso

entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por

um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do

estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie

em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado

Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo

na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave

relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o

aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers

(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de

sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do

conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve

sentimento e inteligecircncia

Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o

conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas

pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos

envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes

das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo

indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as

pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de

aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos

9

e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida

diferente

Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social

e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios

atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal

instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis

formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo

(MOURA 1999 p 60)

De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou

significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda

atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da

inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo

para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida

pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao

aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e

decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o

educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a

construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos

criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade

Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que

este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e

adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para

promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou

omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar

mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por

Vygotsky e Wallon

22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE

Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor

natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a

identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para

perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos

10

educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo

cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo

positivamente no aprendizado

No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma

relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa

aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar

em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um

indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e

singular com necessidades educacionais especiacuteficas

Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar

encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas

desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e

livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade

suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem

Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma

atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de

produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na

criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e

agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo

Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a

compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as

dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o

professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus

erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute

errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias

normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir

empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio

do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)

Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram

instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos

accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da

afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos

11

autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de

conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992

p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos

capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos

ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos

3 O CAMINHO PERCORRIDO

Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa

que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto

com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos

comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para

investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e

sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola

Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados

por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a

setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho

desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica

Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees

feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)

optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da

entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista

para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter

interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que

classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo

e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados

Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete

alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter

semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo

(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar

perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em

categorias distintas e analisados

12

Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham

a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de

escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com

as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos

da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos

No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que

elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do

aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a

sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola

Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi

dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as

professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno

relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional

e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida

tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo

profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de

EJA

Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses

nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R

Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e

outros

4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM

GENTE DE VERDADErdquo4

41 Os alunos

Relaccedilatildeo aluno-aluno

Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante

fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos

entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles

ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute

4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo

13

bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer

ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se

conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem

melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo

(CH 31 anos)

A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute

escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a

civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres

humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria

sociedade

De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da

afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia

no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos

permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma

relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos

e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como

fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar

Relaccedilatildeo aluno-professor

Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como

era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos

constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo

pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas

professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito

bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto

uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este

aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em

chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu

tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo

(R 42 anos)

Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo

intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no

relacionamento entre o educador e o educando

14

Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas

professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e

desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser

professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que

requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa

um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de

conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)

As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho

compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que

enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos

materiais

PermanecircnciaRetorno

Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um

deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica

os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta

incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou

preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na

seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes

mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer

estudarrdquo (RS - 33 anos)

Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por

causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava

muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)

Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO

1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua

existecircncia

Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que

voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando

15

decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

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GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

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25

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OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992

PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

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SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

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___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

5

as especificidades regionais que desrespeitam as peculiaridades do puacuteblico-

alvo e por vezes dificultam o relacionamento professor-aluno

2 RELACcedilAtildeO PROFESSOR-ALUNO E AFETIVIDADE

Atraveacutes de uma visatildeo integral da interaccedilatildeo nas relaccedilotildees humanas e na

aprendizagem encontramos a afetividade vista sob a forma de criaccedilatildeo de

viacutenculos que surgem no decorrer do ciclo vital de qualquer indiviacuteduo e embora

desabrochem no iniacutecio da gestaccedilatildeo permanecem em processo contiacutenuo

atraveacutes da sociabilidade em todas as fases da vida confirmando a relaccedilatildeo

entre afetividade e o desenvolvimento cognitivo e fiacutesico

Dentre as diversas literaturas encontramos teoacutericos (Wallon Vygostsky

Bowlby) que descrevem o viacutenculo entre matildee e filho (desde a gestaccedilatildeo) como

ponto inicial de um sistema comportamental viabilizador de proteccedilatildeo e

preservaccedilatildeo que favorece no futuro os relacionamentos bem como o despertar

da autoconfianccedila e confianccedila nos outros caracteriacutesticas que possibilitam maior

vinculaccedilatildeo entre as pessoas na juventude e na idade adulta

Neste sentido salientamos que os viacutenculos afetivos satildeo mais niacutetidos na

infacircncia por ter uma base orgacircnica mais evidente sendo significativa agrave

contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo Henry Wallon (1879-1962) que postula um momento

onde a emoccedilatildeo eacute o que prevalece e soacute posteriormente desenvolve-se a

afetividade Sendo assim a mudanccedila de estado orgacircnico para a etapa

cognitiva e racional eacute realizada sob mediaccedilatildeo social nos dando subsiacutedios para

afirmar que a afetividade evolui e se modifica com o desenvolvimento do ser

humano

Jaacute na teoria cognitivista sob a perspectiva vygotskyana revelam-se

princiacutepios que sugerem que aprendemos a relacionar ideacuteias abstraindo de

nossa experiecircncia o que revela que nenhuma pessoa ao entrar na escola eacute

totalmente desprovida de algum tipo de conhecimento pois seja o indiviacuteduo

crianccedila jovem ou adulto que nunca foi agrave escola carrega consigo uma

bagagem de conhecimento absorvida atraveacutes da interaccedilatildeo social

Ao longo do ciclo vital o sujeito constroacutei e desenvolve os aspectos

cognitivos e afetivos interagindo com o meio e com outros sujeitos e embora

6

pouco percebida na sala de aula a razatildeo e a emoccedilatildeo alternam-se sendo a

afetividade corrente que une os indiviacuteduos favorecendo a ampliaccedilatildeo do modo

de sentir perceber a si proacuteprio e ao outro Assim na escola a afetividade

acontece atraveacutes dos contatos entre alunos professores conteuacutedo escolar

livros escrita etc natildeo sendo exclusivo da esfera cognitiva pois os indiviacuteduos

mobilizam os laccedilos afetivos com o objetivo de criar e manter um clima positivo

que favorece a sua permanecircncia na escola

Partindo para uma anaacutelise psicanaliacutetica destacamos as ideacuteias de

Sigmund Freud (1856-1939) das quais enfatizamos o conceito da transferecircncia

que de acordo com este teoacuterico estaacute mais evidente na infacircncia no entanto

pode estar presente ao longo de toda a vida Na obra de Freud agrave identificaccedilatildeo

que as crianccedilas e acreditamos que tambeacutem os jovens e os adultos procuram

na figura do professor ou outro elemento significativo no processo de

aprendizagem eacute um referencial estimulador Quando o professor eacute percebido

pelo aluno como um ser de grande importacircncia ele passa a ldquoter em suas matildeos

um poder de influecircncia sobre o alunordquo (KUPFER 2005 p 87) uso que

depende da escolha do professor

Neste contexto a transferecircncia estaacute presente em qualquer relaccedilatildeo

humana e em especial na relaccedilatildeo do educador e do educando Nela satildeo

transferidas num ato inconsciente as experiecircncias (vividas anteriormente com

os pais) assim que o desejo de saber do aluno se depara com um elemento

particular o professor

Para Kupfer (2005) ao substituirmos sentimentos e experiecircncias vividas

de uma figura principalmente agrave dos pais para o professor eacute deste uacuteltimo o

trabalho no sentido de desidealizar sua figura assim o aluno gradualmente iraacute

reforccedilar o seu proacuteprio ego de modo a emergir da relaccedilatildeo como um ser

pensante mantendo apenas o viacutenculo afetivo

Saindo um pouco da psicanaacutelise e entrando em uma visatildeo psicoloacutegica

humanista damos ecircnfase aos pensamentos do psicoacutelogo Carl R Rogers

(1902-1987) Este ressalta que uma aprendizagem significativa do indiviacuteduo

resulta do relacionamento positivo entre professor e aluno que se desenvolve a

partir do estabelecimento de um ambiente com clima permissivo onde o

7

educando tem liberdade para suas construccedilotildees de acordo com suas

experiecircncias anteriores indo a uma educaccedilatildeo plena

Ainda de acordo com a teoria rogeriana para Guedes (1979) toda

pessoa inserida no processo educacional pode aprender sozinha influenciada

pelas suas experiecircncias anteriores que satildeo focadas na direccedilatildeo certa pelo

educador mas soacute fluem no processo de aprendizagem com o consentimento

(emoccedilotildees) do indiviacuteduo jaacute que soacute ele controla seu proacuteprio desenvolvimento

Neste processo o professor estaacute inserido no grupo e natildeo acima dele facilitando

a aprendizagem isso faz das pessoas uacutenicas no processo

Justifica-se assim a educaccedilatildeo abrangente firmada em documentos de

relevacircncia que busca o desenvolvimento dos processos formativos

apresentados ldquo na vida familiar na convivecircncia humana no trabalho nas

instituiccedilotildees de ensino e pesquisardquo (LDB Art 1o) Educaccedilatildeo apresentada

ainda na Constituiccedilatildeo de 1988 (Art 205) responsaacutevel pela valorizaccedilatildeo do

desenvolvimento total do ser humano e desta forma para funcionamento

completo das habilidades intelectuais dar-se-aacute importacircncia ao viacutenculo afetivo

para o indiviacuteduo

21 AFETIVIDADE NA EJA

Como seres humanos maduros os alunos de EJA mesmo natildeo sendo

alfabetizados dispotildeem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no

seu dia-a-dia Sendo assim toda aprendizagem eacute influenciada pela experiecircncia

adquirida em convivecircncia com o outro pois nem de longe eacute somente na escola

que se obtecircm conhecimentos e principalmente na EJA onde o jovem e adulto eacute

um ldquomembro da sociedade ao qual cabe a produccedilatildeo social a direccedilatildeo da

sociedade e a reproduccedilatildeo da espeacutecierdquo (PINTO 1997 p79)

Neste niacutevel educacional geralmente especiacutefico do horaacuterio noturno

encontramos jovens adultos e idosos geralmente de origem humilde que natildeo

tiveram por algum motivo em sua eacutepoca chance de entrar ou continuar os

estudos Segundo a LDB (Art 37 1996) estes estatildeo em um patamar de ensino

especiacutefico da educaccedilatildeo baacutesica reservado aos que natildeo puderam ingressar ou

prosseguir os estudos no ensino fundamental e meacutedio na idade adequada

8

Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de

vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos

da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de

estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees

socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia

financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo

do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo

(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por

obrigaccedilatildeo

Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da

qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso

entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por

um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do

estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie

em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado

Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo

na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave

relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o

aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers

(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de

sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do

conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve

sentimento e inteligecircncia

Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o

conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas

pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos

envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes

das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo

indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as

pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de

aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos

9

e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida

diferente

Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social

e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios

atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal

instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis

formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo

(MOURA 1999 p 60)

De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou

significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda

atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da

inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo

para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida

pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao

aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e

decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o

educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a

construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos

criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade

Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que

este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e

adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para

promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou

omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar

mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por

Vygotsky e Wallon

22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE

Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor

natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a

identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para

perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos

10

educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo

cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo

positivamente no aprendizado

No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma

relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa

aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar

em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um

indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e

singular com necessidades educacionais especiacuteficas

Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar

encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas

desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e

livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade

suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem

Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma

atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de

produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na

criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e

agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo

Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a

compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as

dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o

professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus

erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute

errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias

normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir

empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio

do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)

Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram

instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos

accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da

afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos

11

autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de

conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992

p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos

capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos

ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos

3 O CAMINHO PERCORRIDO

Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa

que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto

com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos

comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para

investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e

sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola

Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados

por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a

setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho

desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica

Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees

feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)

optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da

entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista

para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter

interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que

classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo

e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados

Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete

alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter

semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo

(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar

perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em

categorias distintas e analisados

12

Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham

a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de

escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com

as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos

da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos

No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que

elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do

aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a

sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola

Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi

dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as

professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno

relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional

e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida

tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo

profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de

EJA

Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses

nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R

Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e

outros

4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM

GENTE DE VERDADErdquo4

41 Os alunos

Relaccedilatildeo aluno-aluno

Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante

fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos

entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles

ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute

4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo

13

bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer

ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se

conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem

melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo

(CH 31 anos)

A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute

escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a

civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres

humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria

sociedade

De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da

afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia

no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos

permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma

relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos

e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como

fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar

Relaccedilatildeo aluno-professor

Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como

era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos

constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo

pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas

professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito

bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto

uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este

aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em

chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu

tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo

(R 42 anos)

Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo

intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no

relacionamento entre o educador e o educando

14

Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas

professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e

desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser

professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que

requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa

um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de

conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)

As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho

compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que

enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos

materiais

PermanecircnciaRetorno

Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um

deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica

os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta

incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou

preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na

seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes

mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer

estudarrdquo (RS - 33 anos)

Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por

causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava

muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)

Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO

1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua

existecircncia

Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que

voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando

15

decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

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25

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26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

6

pouco percebida na sala de aula a razatildeo e a emoccedilatildeo alternam-se sendo a

afetividade corrente que une os indiviacuteduos favorecendo a ampliaccedilatildeo do modo

de sentir perceber a si proacuteprio e ao outro Assim na escola a afetividade

acontece atraveacutes dos contatos entre alunos professores conteuacutedo escolar

livros escrita etc natildeo sendo exclusivo da esfera cognitiva pois os indiviacuteduos

mobilizam os laccedilos afetivos com o objetivo de criar e manter um clima positivo

que favorece a sua permanecircncia na escola

Partindo para uma anaacutelise psicanaliacutetica destacamos as ideacuteias de

Sigmund Freud (1856-1939) das quais enfatizamos o conceito da transferecircncia

que de acordo com este teoacuterico estaacute mais evidente na infacircncia no entanto

pode estar presente ao longo de toda a vida Na obra de Freud agrave identificaccedilatildeo

que as crianccedilas e acreditamos que tambeacutem os jovens e os adultos procuram

na figura do professor ou outro elemento significativo no processo de

aprendizagem eacute um referencial estimulador Quando o professor eacute percebido

pelo aluno como um ser de grande importacircncia ele passa a ldquoter em suas matildeos

um poder de influecircncia sobre o alunordquo (KUPFER 2005 p 87) uso que

depende da escolha do professor

Neste contexto a transferecircncia estaacute presente em qualquer relaccedilatildeo

humana e em especial na relaccedilatildeo do educador e do educando Nela satildeo

transferidas num ato inconsciente as experiecircncias (vividas anteriormente com

os pais) assim que o desejo de saber do aluno se depara com um elemento

particular o professor

Para Kupfer (2005) ao substituirmos sentimentos e experiecircncias vividas

de uma figura principalmente agrave dos pais para o professor eacute deste uacuteltimo o

trabalho no sentido de desidealizar sua figura assim o aluno gradualmente iraacute

reforccedilar o seu proacuteprio ego de modo a emergir da relaccedilatildeo como um ser

pensante mantendo apenas o viacutenculo afetivo

Saindo um pouco da psicanaacutelise e entrando em uma visatildeo psicoloacutegica

humanista damos ecircnfase aos pensamentos do psicoacutelogo Carl R Rogers

(1902-1987) Este ressalta que uma aprendizagem significativa do indiviacuteduo

resulta do relacionamento positivo entre professor e aluno que se desenvolve a

partir do estabelecimento de um ambiente com clima permissivo onde o

7

educando tem liberdade para suas construccedilotildees de acordo com suas

experiecircncias anteriores indo a uma educaccedilatildeo plena

Ainda de acordo com a teoria rogeriana para Guedes (1979) toda

pessoa inserida no processo educacional pode aprender sozinha influenciada

pelas suas experiecircncias anteriores que satildeo focadas na direccedilatildeo certa pelo

educador mas soacute fluem no processo de aprendizagem com o consentimento

(emoccedilotildees) do indiviacuteduo jaacute que soacute ele controla seu proacuteprio desenvolvimento

Neste processo o professor estaacute inserido no grupo e natildeo acima dele facilitando

a aprendizagem isso faz das pessoas uacutenicas no processo

Justifica-se assim a educaccedilatildeo abrangente firmada em documentos de

relevacircncia que busca o desenvolvimento dos processos formativos

apresentados ldquo na vida familiar na convivecircncia humana no trabalho nas

instituiccedilotildees de ensino e pesquisardquo (LDB Art 1o) Educaccedilatildeo apresentada

ainda na Constituiccedilatildeo de 1988 (Art 205) responsaacutevel pela valorizaccedilatildeo do

desenvolvimento total do ser humano e desta forma para funcionamento

completo das habilidades intelectuais dar-se-aacute importacircncia ao viacutenculo afetivo

para o indiviacuteduo

21 AFETIVIDADE NA EJA

Como seres humanos maduros os alunos de EJA mesmo natildeo sendo

alfabetizados dispotildeem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no

seu dia-a-dia Sendo assim toda aprendizagem eacute influenciada pela experiecircncia

adquirida em convivecircncia com o outro pois nem de longe eacute somente na escola

que se obtecircm conhecimentos e principalmente na EJA onde o jovem e adulto eacute

um ldquomembro da sociedade ao qual cabe a produccedilatildeo social a direccedilatildeo da

sociedade e a reproduccedilatildeo da espeacutecierdquo (PINTO 1997 p79)

Neste niacutevel educacional geralmente especiacutefico do horaacuterio noturno

encontramos jovens adultos e idosos geralmente de origem humilde que natildeo

tiveram por algum motivo em sua eacutepoca chance de entrar ou continuar os

estudos Segundo a LDB (Art 37 1996) estes estatildeo em um patamar de ensino

especiacutefico da educaccedilatildeo baacutesica reservado aos que natildeo puderam ingressar ou

prosseguir os estudos no ensino fundamental e meacutedio na idade adequada

8

Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de

vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos

da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de

estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees

socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia

financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo

do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo

(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por

obrigaccedilatildeo

Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da

qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso

entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por

um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do

estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie

em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado

Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo

na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave

relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o

aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers

(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de

sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do

conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve

sentimento e inteligecircncia

Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o

conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas

pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos

envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes

das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo

indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as

pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de

aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos

9

e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida

diferente

Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social

e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios

atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal

instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis

formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo

(MOURA 1999 p 60)

De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou

significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda

atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da

inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo

para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida

pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao

aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e

decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o

educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a

construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos

criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade

Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que

este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e

adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para

promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou

omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar

mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por

Vygotsky e Wallon

22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE

Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor

natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a

identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para

perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos

10

educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo

cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo

positivamente no aprendizado

No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma

relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa

aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar

em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um

indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e

singular com necessidades educacionais especiacuteficas

Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar

encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas

desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e

livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade

suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem

Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma

atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de

produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na

criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e

agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo

Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a

compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as

dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o

professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus

erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute

errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias

normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir

empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio

do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)

Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram

instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos

accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da

afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos

11

autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de

conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992

p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos

capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos

ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos

3 O CAMINHO PERCORRIDO

Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa

que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto

com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos

comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para

investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e

sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola

Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados

por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a

setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho

desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica

Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees

feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)

optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da

entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista

para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter

interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que

classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo

e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados

Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete

alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter

semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo

(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar

perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em

categorias distintas e analisados

12

Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham

a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de

escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com

as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos

da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos

No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que

elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do

aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a

sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola

Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi

dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as

professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno

relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional

e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida

tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo

profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de

EJA

Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses

nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R

Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e

outros

4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM

GENTE DE VERDADErdquo4

41 Os alunos

Relaccedilatildeo aluno-aluno

Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante

fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos

entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles

ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute

4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo

13

bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer

ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se

conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem

melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo

(CH 31 anos)

A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute

escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a

civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres

humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria

sociedade

De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da

afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia

no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos

permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma

relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos

e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como

fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar

Relaccedilatildeo aluno-professor

Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como

era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos

constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo

pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas

professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito

bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto

uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este

aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em

chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu

tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo

(R 42 anos)

Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo

intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no

relacionamento entre o educador e o educando

14

Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas

professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e

desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser

professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que

requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa

um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de

conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)

As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho

compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que

enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos

materiais

PermanecircnciaRetorno

Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um

deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica

os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta

incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou

preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na

seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes

mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer

estudarrdquo (RS - 33 anos)

Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por

causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava

muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)

Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO

1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua

existecircncia

Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que

voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando

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decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997

CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006

CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria

DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996

GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002

GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005

KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005

LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986

MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985

25

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OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992

PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

7

educando tem liberdade para suas construccedilotildees de acordo com suas

experiecircncias anteriores indo a uma educaccedilatildeo plena

Ainda de acordo com a teoria rogeriana para Guedes (1979) toda

pessoa inserida no processo educacional pode aprender sozinha influenciada

pelas suas experiecircncias anteriores que satildeo focadas na direccedilatildeo certa pelo

educador mas soacute fluem no processo de aprendizagem com o consentimento

(emoccedilotildees) do indiviacuteduo jaacute que soacute ele controla seu proacuteprio desenvolvimento

Neste processo o professor estaacute inserido no grupo e natildeo acima dele facilitando

a aprendizagem isso faz das pessoas uacutenicas no processo

Justifica-se assim a educaccedilatildeo abrangente firmada em documentos de

relevacircncia que busca o desenvolvimento dos processos formativos

apresentados ldquo na vida familiar na convivecircncia humana no trabalho nas

instituiccedilotildees de ensino e pesquisardquo (LDB Art 1o) Educaccedilatildeo apresentada

ainda na Constituiccedilatildeo de 1988 (Art 205) responsaacutevel pela valorizaccedilatildeo do

desenvolvimento total do ser humano e desta forma para funcionamento

completo das habilidades intelectuais dar-se-aacute importacircncia ao viacutenculo afetivo

para o indiviacuteduo

21 AFETIVIDADE NA EJA

Como seres humanos maduros os alunos de EJA mesmo natildeo sendo

alfabetizados dispotildeem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no

seu dia-a-dia Sendo assim toda aprendizagem eacute influenciada pela experiecircncia

adquirida em convivecircncia com o outro pois nem de longe eacute somente na escola

que se obtecircm conhecimentos e principalmente na EJA onde o jovem e adulto eacute

um ldquomembro da sociedade ao qual cabe a produccedilatildeo social a direccedilatildeo da

sociedade e a reproduccedilatildeo da espeacutecierdquo (PINTO 1997 p79)

Neste niacutevel educacional geralmente especiacutefico do horaacuterio noturno

encontramos jovens adultos e idosos geralmente de origem humilde que natildeo

tiveram por algum motivo em sua eacutepoca chance de entrar ou continuar os

estudos Segundo a LDB (Art 37 1996) estes estatildeo em um patamar de ensino

especiacutefico da educaccedilatildeo baacutesica reservado aos que natildeo puderam ingressar ou

prosseguir os estudos no ensino fundamental e meacutedio na idade adequada

8

Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de

vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos

da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de

estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees

socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia

financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo

do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo

(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por

obrigaccedilatildeo

Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da

qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso

entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por

um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do

estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie

em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado

Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo

na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave

relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o

aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers

(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de

sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do

conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve

sentimento e inteligecircncia

Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o

conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas

pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos

envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes

das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo

indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as

pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de

aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos

9

e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida

diferente

Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social

e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios

atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal

instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis

formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo

(MOURA 1999 p 60)

De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou

significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda

atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da

inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo

para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida

pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao

aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e

decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o

educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a

construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos

criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade

Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que

este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e

adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para

promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou

omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar

mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por

Vygotsky e Wallon

22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE

Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor

natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a

identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para

perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos

10

educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo

cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo

positivamente no aprendizado

No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma

relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa

aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar

em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um

indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e

singular com necessidades educacionais especiacuteficas

Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar

encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas

desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e

livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade

suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem

Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma

atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de

produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na

criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e

agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo

Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a

compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as

dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o

professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus

erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute

errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias

normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir

empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio

do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)

Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram

instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos

accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da

afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos

11

autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de

conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992

p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos

capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos

ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos

3 O CAMINHO PERCORRIDO

Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa

que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto

com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos

comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para

investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e

sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola

Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados

por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a

setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho

desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica

Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees

feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)

optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da

entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista

para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter

interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que

classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo

e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados

Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete

alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter

semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo

(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar

perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em

categorias distintas e analisados

12

Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham

a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de

escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com

as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos

da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos

No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que

elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do

aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a

sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola

Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi

dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as

professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno

relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional

e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida

tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo

profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de

EJA

Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses

nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R

Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e

outros

4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM

GENTE DE VERDADErdquo4

41 Os alunos

Relaccedilatildeo aluno-aluno

Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante

fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos

entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles

ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute

4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo

13

bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer

ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se

conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem

melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo

(CH 31 anos)

A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute

escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a

civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres

humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria

sociedade

De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da

afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia

no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos

permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma

relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos

e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como

fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar

Relaccedilatildeo aluno-professor

Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como

era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos

constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo

pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas

professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito

bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto

uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este

aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em

chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu

tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo

(R 42 anos)

Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo

intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no

relacionamento entre o educador e o educando

14

Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas

professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e

desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser

professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que

requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa

um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de

conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)

As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho

compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que

enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos

materiais

PermanecircnciaRetorno

Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um

deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica

os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta

incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou

preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na

seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes

mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer

estudarrdquo (RS - 33 anos)

Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por

causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava

muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)

Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO

1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua

existecircncia

Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que

voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando

15

decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

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25

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___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

8

Com caracteriacutesticas de ter passagens curtas pela escola histoacuterias de

vida diferenciadas e uma trajetoacuteria escolar marcada pela exclusatildeo os alunos

da EJA geralmente sente vergonha de nunca ter estudado ou ter parado de

estudar medo do ridiacuteculo e do desconhecido entre outras preocupaccedilotildees

socialmente atribuiacutedas aos adultos como a conquista de independecircncia

financeira Estes voltam agrave escola procurando o ensino ldquocomo uma afirmaccedilatildeo

do direito de ter uma escola que se paute em suas necessidades e desejosrdquo

(CORREA 2003 p40) mantendo-se na escola por afinidade e natildeo por

obrigaccedilatildeo

Barros (2004) afirma que uma aprendizagem eficiente surge da

qualidade da interaccedilatildeo professor-aluno e da existecircncia de um clima afetuoso

entre eles Por isso eacute importante a constituiccedilatildeo de interaccedilotildees autecircnticas por

um educador que se esforccedila para compreender (empatia) os sentimentos do

estudante e demonstra aceitaccedilatildeo positiva e incondicional pra que este confie

em si mesmo tendo forccedila para dirigir seu proacuteprio aprendizado

Aqui revela-se importante agrave constituiccedilatildeo de um clima emocional positivo

na sala de aula e a importacircncia da afetividade positiva do professor mediando agrave

relaccedilatildeo do educando com os antigos e novos conhecimentos pois o

aprendizado eacute influenciado por emoccedilotildees e sentimentos Neste sentido Rogers

(1977) considera imprescindiacutevel uma sala de aula com atitudes imbuiacutedas de

sensibilidade motivaccedilatildeo afetividade e atitudes de confianccedila na construccedilatildeo do

conhecimento despertando um ensino autodeterminado que envolve

sentimento e inteligecircncia

Em uma visatildeo interacionista Vygotsky (1994) vecirc o aprendizado como o

conhecimento adquirido atraveacutes das trocas de experiecircncias vividas pelas

pessoas inicialmente no plano externo (interpessoal) entre os indiviacuteduos

envolvidos afetivamente e depois pela internalizaccedilatildeo (intrapessoal) atraveacutes

das mediaccedilotildees Para este autor a afetividade e o cognitivo andam juntos e satildeo

indissociaacuteveis eles estatildeo ligados e satildeo influenciados pelo meio em que as

pessoas vivem Eacute neste sentido que acreditamos que a afetividade na sala de

aula eacute demonstrada pelo professor atraveacutes da sua preocupaccedilatildeo com os alunos

9

e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida

diferente

Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social

e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios

atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal

instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis

formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo

(MOURA 1999 p 60)

De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou

significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda

atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da

inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo

para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida

pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao

aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e

decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o

educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a

construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos

criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade

Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que

este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e

adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para

promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou

omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar

mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por

Vygotsky e Wallon

22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE

Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor

natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a

identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para

perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos

10

educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo

cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo

positivamente no aprendizado

No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma

relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa

aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar

em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um

indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e

singular com necessidades educacionais especiacuteficas

Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar

encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas

desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e

livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade

suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem

Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma

atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de

produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na

criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e

agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo

Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a

compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as

dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o

professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus

erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute

errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias

normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir

empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio

do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)

Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram

instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos

accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da

afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos

11

autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de

conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992

p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos

capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos

ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos

3 O CAMINHO PERCORRIDO

Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa

que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto

com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos

comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para

investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e

sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola

Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados

por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a

setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho

desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica

Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees

feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)

optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da

entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista

para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter

interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que

classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo

e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados

Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete

alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter

semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo

(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar

perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em

categorias distintas e analisados

12

Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham

a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de

escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com

as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos

da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos

No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que

elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do

aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a

sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola

Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi

dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as

professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno

relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional

e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida

tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo

profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de

EJA

Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses

nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R

Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e

outros

4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM

GENTE DE VERDADErdquo4

41 Os alunos

Relaccedilatildeo aluno-aluno

Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante

fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos

entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles

ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute

4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo

13

bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer

ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se

conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem

melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo

(CH 31 anos)

A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute

escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a

civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres

humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria

sociedade

De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da

afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia

no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos

permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma

relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos

e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como

fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar

Relaccedilatildeo aluno-professor

Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como

era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos

constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo

pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas

professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito

bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto

uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este

aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em

chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu

tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo

(R 42 anos)

Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo

intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no

relacionamento entre o educador e o educando

14

Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas

professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e

desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser

professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que

requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa

um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de

conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)

As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho

compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que

enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos

materiais

PermanecircnciaRetorno

Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um

deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica

os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta

incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou

preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na

seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes

mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer

estudarrdquo (RS - 33 anos)

Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por

causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava

muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)

Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO

1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua

existecircncia

Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que

voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando

15

decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997

CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006

CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria

DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996

GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002

GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005

KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005

LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986

MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985

25

MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999

OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992

PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

9

e de reconhececirc-los como indiviacuteduos autocircnomos com uma experiecircncia de vida

diferente

Freire assim como Vygotsky acreditava que o individuo eacute um ser social

e cultural logo pode transformar o seu pensamento e formar conceitos proacuteprios

atraveacutes das relaccedilotildees culturais propiciadas pela escola assim ldquocomo a principal

instituiccedilatildeo dentre outras culturais eacute na escola que podemos obter possiacuteveis

formas de intervenccedilotildees na sociedade atraveacutes de accedilotildees histoacuterico-culturaisrdquo

(MOURA 1999 p 60)

De grande relevacircncia para a educaccedilatildeo de adultos Paulo Freire ajudou

significativamente para a alfabetizaccedilatildeo de muitos adultos como ateacute hoje ajuda

atraveacutes de seus meacutetodos para ensinar Foi buscando o despertar da

inteligecircncia criacutetica que Freire segundo Moura (1999) desenvolveu um meacutetodo

para alfabetizar adultos que constitui em cinco fases que deve ser seguida

pelo educador de forma rigorosamente planejada Estas etapas possibilitam ao

aluno um aprendizado consciente atraveacutes de recursos de codificaccedilatildeo e

decodificaccedilatildeo que satildeo verificados em diaacutelogos realizados entre o educador e o

educando O objetivo de Freire era ajudar a populaccedilatildeo adulta analfabeta a

construir um pensamento loacutegico e abstrato transformando-os em indiviacuteduos

criacuteticos e conscientes da realidade para pudessem modificar a sociedade

Assim no caso do educador da EJA aleacutem de ensinar eacute preferiacutevel que

este seja autecircntico demonstre interesse e disponibilize recursos criativos e

adequados aos estudantes aleacutem de favorecer um clima afetuoso para

promover a aprendizagem No entanto o afeto natildeo significa acomodaccedilatildeo ou

omissatildeo por parte do aluno em aprender e por parte do professor em ensinar

mas sim uma intriacutenseca conexatildeo da razatildeo e emoccedilatildeo ideacuteia compartilhada por

Vygotsky e Wallon

22 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS DA AFETIVIDADE

Compreendemos que no processo de ensino-aprendizagem o professor

natildeo eacute soacute o mediador de conhecimentos mas tambeacutem uma pessoa atenta a

identificar reaccedilotildees emocionais e fiacutesicas de seus educandos esforccedilando-se para

perceber trocas existentes na sala de aula Pois relaccedilotildees entre alunos

10

educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo

cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo

positivamente no aprendizado

No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma

relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa

aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar

em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um

indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e

singular com necessidades educacionais especiacuteficas

Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar

encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas

desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e

livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade

suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem

Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma

atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de

produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na

criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e

agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo

Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a

compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as

dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o

professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus

erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute

errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias

normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir

empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio

do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)

Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram

instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos

accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da

afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos

11

autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de

conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992

p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos

capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos

ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos

3 O CAMINHO PERCORRIDO

Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa

que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto

com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos

comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para

investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e

sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola

Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados

por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a

setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho

desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica

Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees

feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)

optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da

entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista

para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter

interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que

classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo

e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados

Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete

alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter

semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo

(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar

perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em

categorias distintas e analisados

12

Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham

a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de

escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com

as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos

da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos

No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que

elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do

aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a

sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola

Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi

dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as

professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno

relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional

e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida

tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo

profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de

EJA

Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses

nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R

Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e

outros

4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM

GENTE DE VERDADErdquo4

41 Os alunos

Relaccedilatildeo aluno-aluno

Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante

fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos

entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles

ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute

4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo

13

bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer

ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se

conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem

melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo

(CH 31 anos)

A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute

escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a

civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres

humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria

sociedade

De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da

afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia

no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos

permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma

relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos

e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como

fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar

Relaccedilatildeo aluno-professor

Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como

era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos

constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo

pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas

professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito

bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto

uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este

aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em

chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu

tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo

(R 42 anos)

Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo

intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no

relacionamento entre o educador e o educando

14

Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas

professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e

desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser

professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que

requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa

um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de

conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)

As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho

compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que

enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos

materiais

PermanecircnciaRetorno

Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um

deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica

os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta

incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou

preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na

seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes

mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer

estudarrdquo (RS - 33 anos)

Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por

causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava

muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)

Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO

1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua

existecircncia

Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que

voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando

15

decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

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CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria

DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996

GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002

GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005

KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005

LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986

MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985

25

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OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

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PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

10

educadores e conteuacutedo escolar natildeo acontece restritamente no campo

cognitivo existe uma base afetiva permeando essas relaccedilotildees refletindo

positivamente no aprendizado

No contexto educacional a valorizaccedilatildeo da auto-estima passou a ter uma

relevacircncia maior tendo em vista que a baixa auto-estima atrapalha a boa

aprendizagem do aluno seja ele crianccedila jovem ou adulto podendo ocasionar

em reprovaccedilatildeo e evasatildeo escolar O desenvolvimento da auto-estima em um

indiviacuteduo eacute feito na medida em que ele eacute reconhecido como sujeito uacutenico e

singular com necessidades educacionais especiacuteficas

Guedes (1979) por sua vez assinala que um ambiente escolar

encorajador compreensivo permissivo e que estimula trocas afetuosas

desperta atitudes de confianccedila no educando de forma que ele se sinta seguro e

livre para decidir opinar declarar seus sentimentos e valorizar com criticidade

suas proacuteprias ideacuteias e a dos outros favorecendo assim a aprendizagem

Ao contraacuterio como assinala Barros (2004) a instituiccedilatildeo de uma

atmosfera afetiva negativa na sala de aula acarreta ao educando dificuldade de

produccedilatildeo intelectual perda de autoconfianccedila descrenccedila valorativa prejuiacutezo na

criatividade e na realizaccedilatildeo de atividades aleacutem de atitudes depreciativas e

agressivas para com o professor impedindo aproveitamento significativo

Nessa perspectiva apoiar cada aprendiz a descobrir-se a aceitar-se e a

compreender-se eacute ajudaacute-lo a se sentir confiante e apto a enfrentar as

dificuldades e as complexidades do aprender Poreacutem isso natildeo significa que o

professor natildeo deva criticar propor desafios aos seus alunos ou corrigir os seus

erros pois a intervenccedilatildeo eacute imprescindiacutevel no processo de aprendizagem e eacute

errando e corrigindo os erros que se aprende porque aleacutem das exigecircncias

normativas de sua funccedilatildeo o educador ldquodeve estar preparado para interagir

empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exerciacutecio

do diaacutelogordquo (SOUZA 2000 p127)

Faz-se assim necessaacuterio reconhecer que os alunos procuram

instrumentos para viver no mundo da informaccedilatildeo e elaborar pensamentos

accedilotildees e sentimentos de forma criacutetica por isso incentivar o despertar da

afetividade daacute aos estudantes fundamentos para se tornarem cidadatildeos

11

autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de

conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992

p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos

capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos

ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos

3 O CAMINHO PERCORRIDO

Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa

que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto

com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos

comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para

investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e

sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola

Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados

por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a

setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho

desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica

Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees

feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)

optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da

entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista

para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter

interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que

classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo

e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados

Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete

alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter

semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo

(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar

perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em

categorias distintas e analisados

12

Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham

a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de

escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com

as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos

da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos

No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que

elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do

aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a

sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola

Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi

dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as

professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno

relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional

e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida

tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo

profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de

EJA

Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses

nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R

Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e

outros

4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM

GENTE DE VERDADErdquo4

41 Os alunos

Relaccedilatildeo aluno-aluno

Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante

fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos

entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles

ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute

4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo

13

bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer

ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se

conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem

melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo

(CH 31 anos)

A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute

escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a

civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres

humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria

sociedade

De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da

afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia

no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos

permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma

relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos

e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como

fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar

Relaccedilatildeo aluno-professor

Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como

era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos

constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo

pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas

professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito

bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto

uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este

aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em

chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu

tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo

(R 42 anos)

Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo

intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no

relacionamento entre o educador e o educando

14

Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas

professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e

desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser

professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que

requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa

um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de

conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)

As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho

compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que

enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos

materiais

PermanecircnciaRetorno

Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um

deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica

os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta

incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou

preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na

seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes

mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer

estudarrdquo (RS - 33 anos)

Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por

causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava

muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)

Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO

1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua

existecircncia

Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que

voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando

15

decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

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25

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___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

11

autocircnomos afetivos e realizados jaacute que o afeto ldquodepende para evoluir de

conquistas realizadas no plano da inteligecircncia e vice-versardquo (DANTAS 1992

p90) e o espaccedilo de escolarizaccedilatildeo de adultos eacute onde se encontram sujeitos

capazes natildeo soacute para aprender mas de partilhar os conhecimentos construiacutedos

ao longo da vida permitindo a construccedilatildeo de laccedilos afetivos

3 O CAMINHO PERCORRIDO

Nesta pesquisa teoacuterico-empiacuterica optamos pela abordagem qualitativa

que defende a busca de significados e caracteriacutesticas atraveacutes do contato direto

com o meio pesquisado facilitando a anaacutelise ldquodas particularidades dos

comportamentos ou atitudes dos indiviacuteduosrdquo (OLIVEIRA 2005 p 39) para

investigar a expressatildeo da afetividade nas relaccedilotildees professor-aluno da EJA e

sua interferecircncia positiva na permanecircncia do educando na escola

Delimitamos como amostra de estudo os processos afetivos declarados

por duas (02) professoras e sete (07) adultos com faixa etaacuteria de trinta a

setenta e cinco anos matriculados em uma turma de moacutedulo II da Educaccedilatildeo de

Jovens e Adultos do municiacutepio de Paulista que jaacute conheciacuteamos pelo trabalho

desenvolvido em Pesquisa e Praacutetica Pedagoacutegica

Por serem uma turma que jaacute conheciacuteamos atraveacutes das observaccedilotildees

feitas pela disciplina de pesquisa e praacutetica pedagoacutegica (PPP4 e PPP5)

optamos por constatar o que observamos anteriormente pelo meacutetodo da

entrevista Todos os envolvidos foram indagados atraveacutes de uma entrevista

para isso recorremos a Ludke (1986) que destaca importante o caraacuteter

interativo que permeia o processo desta teacutecnica e Symanski (2002) que

classifica a entrevista como ldquosoluccedilatildeo para o estudo de significados subjetivosrdquo

e complexos demais para serem tratados por formatos padronizados

Foram realizadas no total nove entrevistas (duas professoras e sete

alunos sendo quatro mulheres e trecircs homens) durante dois meses de caraacuteter

semi-estruturado a entrevista seguiu uma ldquorelaccedilatildeo de pontos de interesserdquo

(GIL 2002 p 117) por onde as entrevistadoras foram guiadas para evitar

perda de foco Todos os contatos foram gravados transcritos subdivididos em

categorias distintas e analisados

12

Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham

a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de

escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com

as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos

da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos

No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que

elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do

aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a

sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola

Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi

dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as

professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno

relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional

e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida

tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo

profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de

EJA

Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses

nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R

Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e

outros

4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM

GENTE DE VERDADErdquo4

41 Os alunos

Relaccedilatildeo aluno-aluno

Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante

fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos

entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles

ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute

4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo

13

bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer

ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se

conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem

melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo

(CH 31 anos)

A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute

escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a

civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres

humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria

sociedade

De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da

afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia

no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos

permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma

relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos

e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como

fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar

Relaccedilatildeo aluno-professor

Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como

era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos

constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo

pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas

professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito

bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto

uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este

aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em

chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu

tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo

(R 42 anos)

Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo

intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no

relacionamento entre o educador e o educando

14

Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas

professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e

desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser

professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que

requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa

um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de

conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)

As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho

compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que

enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos

materiais

PermanecircnciaRetorno

Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um

deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica

os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta

incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou

preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na

seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes

mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer

estudarrdquo (RS - 33 anos)

Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por

causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava

muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)

Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO

1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua

existecircncia

Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que

voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando

15

decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

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25

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___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

12

Considerou-se de fundamental importacircncia ouvir o que os alunos tinham

a dizer a respeito da escola o retorno a permanecircncia no processo de

escolarizaccedilatildeo a influecircncia das relaccedilotildees afetivas positivas com os pares e com

as professoras e consequumlentemente identificar em suas falas aspectos afetivos

da accedilatildeo da professora em sua interaccedilatildeo com os alunos

No contato com as professoras objetivou-se detectar a importacircncia que

elas datildeo ao aspecto afetivo na sala de aula como mediador da relaccedilatildeo do

aluno com o conhecimento a importacircncia da formaccedilatildeo de laccedilos afetivos e a

sua relaccedilatildeo com a permanecircncia do educando na escola

Apoacutes transcriccedilatildeo da entrevista foi realizada a anaacutelise dos dados foi

dividida em dois momentos entrevista com os alunos e entrevista com as

professoras O primeiro foi subdividido em seis categorias relaccedilatildeo aluno-aluno

relaccedilatildeo professor-aluno permanecircnciaretorno projeccedilatildeo futura clima emocional

e concepccedilatildeo do professor A entrevista com as professoras foi subdividida

tambeacutem em seis toacutepicos profissatildeo praacutetica docentemetodologia formaccedilatildeo

profissional relaccedilatildeo professor-aluno clima emocional e concepccedilatildeo de aluno de

EJA

Os dados foram analisados buscando-se confrontar as iniciais hipoacuteteses

nas perspectivas desenvolvidas por Lev Vygostky Henry Wallon Carl R

Rogers atraveacutes de contemporacircneos como Oliveira Dantas Souza Bowlby e

outros

4 ldquoA MINHA ESCOLA NAtildeO TEM PERSONAGEM A MINHA ESCOLA TEM

GENTE DE VERDADErdquo4

41 Os alunos

Relaccedilatildeo aluno-aluno

Quando foi perguntado aos alunos (individualmente) se era importante

fazer amizade na escola foram unacircnimes as respostas 100 dos

entrevistados acham que eacute muito importante fazer amizades pois para eles

ldquofazer amigos eacute muito bomrdquo Todos sem exceccedilatildeo responderam que a turma eacute

4 Trecho da muacutesica Vamos Fazer um Filme ndash Renato Russo

13

bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer

ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se

conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem

melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo

(CH 31 anos)

A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute

escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a

civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres

humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria

sociedade

De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da

afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia

no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos

permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma

relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos

e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como

fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar

Relaccedilatildeo aluno-professor

Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como

era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos

constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo

pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas

professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito

bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto

uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este

aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em

chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu

tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo

(R 42 anos)

Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo

intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no

relacionamento entre o educador e o educando

14

Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas

professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e

desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser

professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que

requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa

um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de

conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)

As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho

compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que

enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos

materiais

PermanecircnciaRetorno

Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um

deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica

os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta

incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou

preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na

seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes

mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer

estudarrdquo (RS - 33 anos)

Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por

causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava

muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)

Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO

1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua

existecircncia

Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que

voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando

15

decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

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25

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26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

13

bastante unida tirando algumas pessoas que soacute vatildeo para a escola para fazer

ldquobagunccedilardquo O relacionamento entre eles eacute muito harmonioso todos se

conhecem e adoram fazer trabalho em grupo pois assim eles aprendem

melhor ldquo fazer amizades eacute importante porque com amigos vocecirc nunca fica soacuterdquo

(CH 31 anos)

A importacircncia das relaccedilotildees humanas para o crescimento do homem estaacute

escrito na proacutepria histoacuteria da humanidade ou seja sem o meio social a

civilizaccedilatildeo natildeo existiria pois eacute por causa da uniatildeo entre pessoas que os seres

humanos podem construir os seus valores os seus papeacuteis a proacutepria

sociedade

De acordo com a teoria walloniana que considera a presenccedila da

afetividade nas relaccedilotildees humanas em geral logo afirmando a sua importacircncia

no processo de ensino-aprendizagem devemos considerar que como os alunos

permanecem um bom tempo juntos na sala de aula eacute comum que se crie uma

relaccedilatildeo de afeto entre eles principalmente daqueles que estatildeo mais proacuteximos

e que tecircm um interesse comum Eacute esse afeto entre pares que surge aqui como

fator importante para a manutenccedilatildeo do aluno de EJA no contexto escolar

Relaccedilatildeo aluno-professor

Perguntamos aos alunos se eles gostam das suas professoras e como

era o relacionamento entre eles e de acordo com suas respostas podemos

constatar que existe um laccedilo afetivo entre professor-aluno muito significativo

pois 100 dos entrevistados responderam que gostam muito das suas

professoras porque elas satildeo muito boas amigas pacientes e ensinam muito

bem e sempre que algum deles tem alguma dificuldade em entender tanto

uma como a outra tem bastante paciecircncia de ensinar novamente ateacute que este

aluno aprenda ldquoElas satildeo muito compreensivas porque eu tenho dificuldade em

chegar no horaacuterio por causa do meu trabalho e elas entendem Quando eu

tenho dificuldade em matemaacutetica ela (professora V) me ajuda e eu entendordquo

(R 42 anos)

Neste contexto podemos averiguar que afetividade e educaccedilatildeo estatildeo

intrinsecamente ligadas A afetividade influecircncia de maneira significativa no

relacionamento entre o educador e o educando

14

Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas

professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e

desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser

professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que

requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa

um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de

conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)

As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho

compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que

enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos

materiais

PermanecircnciaRetorno

Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um

deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica

os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta

incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou

preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na

seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes

mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer

estudarrdquo (RS - 33 anos)

Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por

causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava

muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)

Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO

1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua

existecircncia

Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que

voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando

15

decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

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25

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___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

14

Podemos comprovar na fala dos alunos entrevistados que estas

professoras exercem o verdadeiro papel do educador pois elas valorizam e

desempenham a atividade docente como um ato de amor e competecircncia Ser

professor natildeo constitui uma tarefa simples ao contraacuterio eacute uma tarefa que

requer amor e habilidade O educador natildeo eacute simplesmente aquele que repassa

um tipo de saber para seus alunos como um simples transmissor de

conhecimentos O papel do educador eacute bem mais amplo poisO bom professor eacute o que consegue enquanto fala trazer oaluno ateacute a intimidade do movimento do seu pensamento Suaaula eacute assim um desafio e natildeo uma cantiga de ninar Seusalunos cansam natildeo dormem Cansam porque acompanham asidas e vindas de seu pensamento surpreendem suas pausassuas duacutevidas suas incertezas (FREIRE 1996 p 96)

As duas educadoras fazem isso Exercem suas funccedilotildees com carinho

compreensatildeo flexibilidade e amizade apesar de todas as dificuldades que

enfrentam desde salaacuterios baixos carga horaacuteria excessiva e poucos recursos

materiais

PermanecircnciaRetorno

Segundo Bowlby (1990) quando natildeo haacute vinculaccedilatildeo entre pares um

deles resiste vigorosamente a qualquer tentativa de aproximaccedilatildeo isto justifica

os 70 dos entrevistados responderem que pararam de estudar por falta

incentivo dos professores que natildeo demonstravam nenhum interesse ou

preocupaccedilatildeo ou seja natildeo criavam laccedilos afetivos entre eles como ilustrado na

seguinte fala ldquoa professora era peacutessima chata eu fiquei umas cinco vezes

mas natildeo me sentia bem com aquela professora aiacute perdi a vontade de querer

estudarrdquo (RS - 33 anos)

Os outros 30 restantes responderam que pararam de estudar por

causa do trabalho pois natildeo dava para conciliar trabalho com escola ficava

muito cansativo ldquonatildeo era possiacutevel chegar a tempo na escolardquo (NJ 30 anos)

Assim entendemos que ldquoo adulto natildeo eacute voluntariamente analfabetordquo (PINTO

1997 p82) mas a sociedade o faz assim refletindo nas condiccedilotildees de sua

existecircncia

Quanto ao retorno agrave escola 100 dos entrevistados responderam que

voltaram para a escola pela vontade de aprender a ler e escrever E quando

15

decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

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25

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PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

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SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

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VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

15

decidiram voltar a estudar ao contraacuterio do que acontecera no passado de

alguns a famiacutelia dos entrevistados os apoiaram plenamente neste retorno

Essa mudanccedila de comportamento deve-se ao fato de quando estes alunos

pararam de estudar muitos deles moravam com seus pais maridos esposas

ou tinham filhos muito pequenos o que ocasionou uma possiacutevel resistecircncia da

famiacutelia Atualmente esses alunos jaacute estatildeo mais velhos tecircm maturidade seus

filhos jaacute estatildeo crescidos e muitos deles incentivam os pais a voltarem a

estudar como eacute o caso desta aluna ldquoQuando eu decidi voltar a estudar a

minha filha me deu o maior apoio inclusive foi ela que fez a minha matriacutecula

porque eu tinha vergonhardquo (R S 42 anos) Neste sentido fica claro que a

famiacutelia influecircncia muito na permanecircncia e no retorno do aluno da EJA alunos

que carregam consigo uma bagagem de conhecimento e de vivecircncias

Um olhar aguccedilado as peculiaridades do educando como um ser uacutenico eacute

importante para ajudaacute-los a se libertarem da timidez e da baixa estima dando-

lhes oportunidade de reaver a sua autoconfianccedila e promover a sua auto-

estima Estrateacutegias diferenciadas como salienta a profa V em sua fala

ldquodiferente das crianccedilas que satildeo mais faacuteceis de conquistar com os adultos vocecirc

tem que se abrir com eles trazer eles pra perto de vocecirc ele tem que se sentir

seu amigo senatildeo vocecirc natildeo consegue fazer com que ele produzardquo Esta atitude

segundo Bowlby (1990) permite aos alunos adquirir uma postura de

autoconfianccedila equiliacutebrio iniciativas e capacidade de busca que contribui para

uma aprendizagem mais efetiva e faz com que os alunos se sintam

estimulados evitando a evasatildeo escolar

Notamos pelas entrevistas que os alunos que permaneceram na sala de

aula natildeo pensam em desistir pelo desenvolvimento do viacutenculo afetivo mantido

entre aluno-aluno e alunos-professoras o que contribui para a vontade de

continuar os seus estudos e de permanecer na escola

Projeccedilatildeo Futura

A partir dos dados colhidos constatamos que dos sete alunos seis dos

entrevistados pretendem cursar o ensino meacutedio e um desses fala ainda que

pretende ir mais aleacutem ldquopretendo fazer faculdade pretendo simrdquo (R S 33 anos)

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997

CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006

CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria

DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996

GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002

GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005

KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005

LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986

MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985

25

MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999

OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992

PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

16

Apenas A de 75 anos natildeo deseja prosseguir os estudos pois objetiva

aprender a ler e escrever e se considera muito velha e cansada para outros

investimentos educacionais Apesar disto ela mesma revela que se a

professora ldquo disser que eu tenho condiccedilotildees de progredir de ir em frente eu

iardquo com isto ela prova que a natureza das expectativas que uma pessoa tem eacute

importante para influenciar as pessoas com quem ela se associa (BOWLBY

1990) e os caminhos que segue

Os alunos entrevistados acham que a escola ajuda a progredir na vida

jaacute que eacute atraveacutes dela que se adquire conhecimento e eacute isso que justamente

todos os que foram entrevistados estatildeo buscando pois com ele se abre um

caminho para um crescimento profissional e para uma projeccedilatildeo social Essa

compreensatildeo do papel de possiacutevel inclusatildeo social proporcionada pela escola

aparece assim como importante para a manutenccedilatildeo do aluno nesse contexto

educacional natildeo eliminando com isso a importacircncia de vinculaccedilatildeo afetiva

Clima emocional

Quando perguntamos qual era o motivo que faziam com que eles

(alunos) viessem todos os dias para a escola trecircs dos alunos entrevistados

responderam exclusivamente que iam para a escola pela vontade de aprender

Enquanto que a maioria (04) aleacutem da vontade de aprender tecircm como estiacutemulo

a amizade o que nos sinaliza que os viacutenculos afetivos incitam a permanecircncia

deles na escola pois soacute haacute manutenccedilatildeo da proximidade quando haacute vinculaccedilatildeo

(BOWLBY 1990) sendo a amizade fundamental para que a permanecircncia

ocorra

Todos os entrevistados responderam que foram bem recebidos tanto

pela turma como pelas professoras e que na chegada de uma pessoa novata

(aluno ou professor) eles tambeacutem procuram recepcionaacute-los muito bem

Constamos assim que estes alunos possuem um clima amistoso e de

solidariedade comum de pessoas que apresentam uma auto-estima positiva

que vecircem as pessoas como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas pois como Rego

(2002) afirma um ambiente com clima afetivo positivo eacute ideal para o

desenvolvimento de viacutenculos e um aprendizado significativo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997

CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006

CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria

DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996

GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002

GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005

KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005

LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986

MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985

25

MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999

OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992

PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

17

Concepccedilatildeo do Professor

Com base nas entrevistas realizadas com os alunos 100 dos

entrevistados consideram que ambas as professoras satildeo bem quistas pelos

educandos e que segundo estes elas ensinam muito bem e que natildeo querem

mudar nada nelas pois elas satildeo pacientes compreensivas calmas amigas e

conseguem aprender com elas ldquoEu gosto muito da paciecircncia e da calma delas

aleacutem de serem muito amigas Natildeo eu natildeo mudaria nada elas satildeo muito

boas elas ensinam muito bemrdquo(R S 42 anos)

Os dados comprovam que nesta sala de aula as professoras

desempenham as suas funccedilotildees com amor carinho e amizade o que facilita o

aprendizado dos alunos e faz com que eles criem um elo positivo com a escola

Segundo Vygotsky (2000) o professor eacute o mediador entre o

conhecimento e o aluno e essa mediaccedilatildeo favorece o desenvolvimento de

habilidades e de capacidades procurando compreender como ele analisa

organiza e estabelece relaccedilotildees com o objeto de conhecimento para que suas

intervenccedilotildees possam ser planejadas visando facilitar o processo de ensino-

aprendizagem

42 As Professoras

Profissatildeo

As duas professoras entraram na aacuterea em busca de uma formaccedilatildeo

identificando-se posteriormente com a profissatildeo e natildeo se arrependem de

estarem ensinando Ambas satildeo poacutes-graduadas profa E 35 anos eacute graduada

em licenciatura em histoacuteria com especializaccedilatildeo na mesma aacuterea Jaacute profa V 38

anos eacute graduada em pedagogia e especialista em EJA

As professoras na questatildeo da metodologia acreditam que quando se

estaacute trabalhando com adultos o meacutetodo tem que ser diferente e o

redirecionamento dos conteuacutedos eacute inevitaacutevel ldquosatildeo pessoas que natildeo querem

mais lsquoperder temporsquo (E 35 anos) De acordo com Dantas (1992) em cada accedilatildeo

positiva como na preocupaccedilatildeo de fazer o melhor para o aluno consta o

componente permanente chamado afetividade reveladas nas relaccedilotildees afetivas

pessoais e sociais da sala de aula

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997

CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006

CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria

DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996

GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002

GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005

KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005

LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986

MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985

25

MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999

OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992

PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

18

Segundo a profa E ensinar significa contribuir na formaccedilatildeo do outro Jaacute

a profa V deposita toda uma carga afetiva com o EJA pois identificou-se com

essa modalidade de ensino desde seu estaacutegio no magisteacuterio e continuou

investindo nessa aacuterea na faculdade Ela ensina EJA porque ama e acredita

estar contribuindo ldquoacho que a gente tem que fazer tudo que puder para poder

ajudar a classe (social) que eacute a minha porque sou de famiacutelia bem pobre

tambeacutem Ela se identifica com seus alunos poisldquoA professora democraacutetica coerente competente quetestemunha seu gosto de vida sua esperanccedila no mundomelhor que atesta sua capacidade de luta seu respeito agravesdiferenccedilas sabe cada vez mais o valor que tem para amodificaccedilatildeo da realidade a maneira consistente com que vivesua presenccedila no mundo de que sua experiecircncia na escola eacuteapenas um momento mas um momento importante queprecisa de ser autenticamente vividordquo (FREIRE p113 1996)

Praacutetica docentemetodologia

Confirmamos com as educadoras o que jaacute nos havia declarado os

alunos que quando eles tecircm duacutevidas ou natildeo entendem o assunto elas voltam

a explicar e persistindo a dificuldade buscam o contato individual sendo este

segundo Oliveira (2003) a soluccedilatildeo quando o educando natildeo progride pois cada

sujeito eacute singular em suas reaccedilotildees agraves influecircncias gerais

As duas entendem o valor do planejamento e o fazem seja organizando

antes do inicio do ano letivo para dar tempo de buscar materiais que seja em

cima dos temas e interdisciplinariamente

Nas atividades em grupo ambas entendem que os grupos formados por

afinidade satildeo bons poreacutem eacute a interaccedilatildeo ldquoque estimula o crescimento

(cognitivo)rdquo (Prof E 35 anos) Na interaccedilatildeo ldquoagraves vezes o outro consegue fazer

com que outro aluno entenda melhor do que o professor (foi capaz de explicar)rdquo

(Prof V 38 anos) Podemos justificar esta fala em Oliveira (2003) quando diz

que o aprendizado do individuo eacute conseguido atraveacutes da interaccedilatildeo com outros

humanos

As professoras acreditam que tecircm agrave disposiccedilatildeo delas um curriacuteculo

aberto e pronto para mudanccedilas e adequaccedilatildeo ao publico Voli (1998) afirma que

os programas e curriacuteculos devem ser modificados visando agrave auto-realizaccedilatildeo e

agrave auto-estima estimulando o aluno a confiar em si e na possibilidade de

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997

CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006

CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria

DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996

GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002

GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005

KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005

LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986

MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985

25

MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999

OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992

PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

19

crescer e aprender A ideacuteia do autor eacute expressa na fala da Prof V 38 anos

quando nos diz que o ldquocurriacuteculo por si soacute natildeo eacute suficienterdquo e entendemos que

principalmente na EJA natildeo pode secirc-lo

Formaccedilatildeo Profissional

As duas acreditam que conhecimento para trabalhar com EJA ldquonunca eacute

o bastanterdquo (Prof E 35 anos) para isso ldquotodo profissional tem que taacute buscando

informaccedilotildeesrdquo (Prof V 38 anos) pois como nos afirma Freire (1996 p 29)

pesquisamos ldquopara constatar constatando intervenho intervindo educo e me

educordquo

Ambas participam e entendem o valor do aperfeiccediloamento por meio de

capacitaccedilotildees e cursos demonstrando a preocupaccedilatildeo com o melhor para elas e

para os seus educandos

Relaccedilatildeo professor-aluno

Ambas tecircm uma relaccedilatildeo saudaacutevel com seus alunos enquanto a Prof E

35 anos salienta importacircncia de troca e respeito a Prof V 38 anos chama a

atenccedilatildeo para a inicial conquista seguido de manutenccedilatildeo num relacionamento

franco aberto e afetuoso pois ldquoafetividade estaacute em primeiro lugarrdquo

As professoras discordam quando se referem agraves datas e horaacuterios de

trabalho A Profa V eacute flexiacutevel cobrando mais de quem natildeo trabalha e sugere

atividades em duplas para troca de conhecimentos Jaacute a Profa E eacute riacutegida com

as datas determinadas poreacutem nos horaacuterios eacute flexiacutevel de acordo com as

responsabilidades dos alunos

Vemos a cobranccedila de tarefas de forma positiva no EJA no sentindo que

ela valoriza o aluno e natildeo o pune acreditando assim como Rego (2002) que

se o meio natildeo exige um desafio e um estiacutemulo do intelecto do individuo o

processo cognitivo pode ser atrasado e ateacute natildeo se completar dificultando a

conquista de niacuteveis mais complexos de raciociacutenio impedindo a evoluccedilatildeo

satisfatoacuteria

Quanto a gostar ou natildeo dos alunos as duas confirmam que gostam

embora acima de tudo deve estar ldquoa necessidade de respeitordquo (Prof E) e a

sensibilidade ao diferenciar que a questatildeo ldquonatildeo eacute natildeo gostar das pessoas mais

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do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997

CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006

CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria

DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996

GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002

GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005

KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005

LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986

MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985

25

MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999

OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992

PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

20

do que elas fazem das atitudes delasrdquo (Prof V)

Ambas estimulam o diaacutelogo sabendo escutar sendo sincera e com

cuidados com o tempo de modo que todos possam se expressar sem tomar a

vez do outro

A profa E na entrevista demonstrou preocupaccedilatildeo de sempre responder

as perguntas dos alunos da melhor forma e quando o aluno erra reflete com

ele os caminhos que o levam ao acerto pois entende que para crescer eacute

necessaacuterio esforccedilo pessoal

Jaacute a Prof V tem um carinho especial pelos alunos preocupando-se muito

com eles descobrindo motivos de falta por doenccedila tenta descobrir endereccedilos

vai atraacutes e os estimula positivamente ao retorno a escola

Clima emocional

Na recepccedilatildeo aos novos alunos as duas agem de uma forma que

denominamos de ldquoafetivamente orientadardquo A Profa V diz que tenta deixa-los

seguros e queridos para que produzam satisfatoriamente porque como nos diz

Barros (2004) eacute o clima da sala que vai favorecer ou natildeo a aprendizagem

quanto mais trocas afetuosas e cordiais mais seguro se sentiraacute o aluno diante

de seus medos

Ambas expressam seus sentimentos poreacutem Prof a E o faz quando estaacute

agrave vontade (segura) e a Prof a V tem facilidade de falar por que o adulto a

entende e compreende melhor pois baseada na perspectiva rogeriana

(BARROS 2004) cabe ao educador ser autecircntico e revelar seus sentimentos

Quando haacute conflitos em sala as duas interferem e mediam a situaccedilatildeo

com conversas por ser um ambiente com adultos agindo com ldquouma atitude

intermediaacuteria entre afeiccedilatildeo e a severidaderdquo (MARCHAND 1985 p 96) elas

conseguem atraveacutes desta sensiacutevel ambiguumlidade a harmonia na sala de aula

Eacute afirmando que a afetividade humana eacute constituiacuteda culturalmente que

entendemos o valor intriacutenseco do pensar e sentir revelado quando as duas

professoras atestam que a afetividade eacute uma caracteriacutestica importante na sala

de aula (microcultura) De acordo com a Prof a E o afeto ajuda o aprendizado e

proporciona um ambiente propiacutecio a construccedilatildeo do conhecimento sendo a

afetividade importante porque a aprendizagem passa pelo afetivo portanto

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997

CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006

CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria

DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996

GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002

GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005

KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005

LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986

MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985

25

MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999

OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992

PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

21

ldquonatildeo separam afetivo e cognitivo como dimensotildees isolaacuteveisrdquo (OLIVEIRA 2002

p76)

A Prof a E tenta na sala de aula fazer com que os alunos se sintam agrave

vontade para expressar e expor opiniotildees sem repressatildeo e pressatildeo buscando

ouvir o que cada um tem a dizer Estimula expressividade dos sentimentos daacute

espaccedilo natildeo eacute autoritaacuteria quando haacute recusa Ela acredita ser importante

valorizar conhecimentos dos adultos do EJA por que eles tecircm a experiecircncia da

proacutepria vida para oferecer

A Prof V percebe na rede municipal um ambiente propicio ao contato

afetivo com o educando pois para ela numa escola estadual eacute difiacutecil o

professor ter proximidade com o aluno por haver um nuacutemero elevado de

estudantes

Assim vemos como atesta Guedes (1979) que eacute necessaacuterio um

ambiente com clima permissivo (mas resguardando certos limites)

proporcionado pela escola no sentido macro e pelo educador num sentido

micro para que o educando se sinta livre pra assumir posturas e sentimentos

que o permitem avanccedilar

Concepccedilatildeo de aluno de EJA

As duas descrevem seus alunos como indiviacuteduos com sede de

aprendizado ldquoeles tecircm uma forccedila muito grande uma forccedila de vontade mas que

agraves vezes estaacute adormecida E a gente precisa fazer com que ela renasccedila dentro

delerdquo (Prof V 38 anos)

Ambas entendem que os alunos tecircm capacidades de avanccedilo e

acreditam no progresso sequumlencial deles Na entrevista em muitos momentos a

Prof V demonstra alegria ao lembrar de atitudes de seus alunos quanto ao

avanccedilo e progresso nos estudos Aqui a Prof a V percebe sensivelmente as

experiecircncias dos alunos (compreensatildeo empaacutetica) atitude que pode vir a

promover no educando uma transformaccedilatildeo pessoal

A Prof a V constata que como as turmas de EJA comeccedilam grandes e

diminuem muito com o decorrer do ano se natildeo tiver feito um trabalho de

resgate de auto-estima com o aluno perdem-se muitos correndo o risco de natildeo

haver uma segunda chance

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997

CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006

CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria

DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996

GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002

GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005

KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005

LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986

MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985

25

MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999

OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992

PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

22

5 Consideraccedilotildees Finais

Em funccedilatildeo dos dados analisados percebemos que a mediaccedilatildeo afetiva

positiva aleacutem de ser a accedilatildeo para a cogniccedilatildeo revelou-se um aspecto importante

para a criaccedilatildeo de um ambiente agradaacutevel de interaccedilotildees autecircnticas que

melhoram o niacutevel de aprendizagem e possibilita vislumbrar uma educaccedilatildeo de

qualidade

Evidenciamos sentimentos de compreensatildeo aceitaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

outro e de si mesmo o que nos leva a concluir que as experiecircncias vividas

nesta sala de aula com trocas afetivas positivas fortalecem a confianccedila e a

autonomia dos educandos

Atraveacutes dos resultados percebe-se a valorizaccedilatildeo que as educadoras datildeo

a expressatildeo afetiva na sala de aula Elas demonstram carinho e paciecircncia bem

como apreciam a reciprocidade de respeito e a troca de conhecimentos de

modo que quanto melhor for o cultivo de sentimentos positivos mais intenso

seratildeo os relacionamentos e a efetivaccedilatildeo da aprendizagem

Sem desconsiderarmos a contribuiccedilatildeo de outros fatores para a

permanecircncia do aluno de EJA nesse contexto de aprendizagem mas

centrando nosso olhar sobre a afetividade podemos atraveacutes da nossa

pesquisa confirmar que as atitudes positivas das professoras para com seus

alunos eacute um dos pontos primordiais para o aprendizado e a permanecircncia dos

educandos na escola Assim o afeto desencadeia a accedilatildeo que impulsiona a

cogniccedilatildeo bem como a ausecircncia deste e a falta de incentivo do educador

podem resultar na dificuldade na aprendizagem e numa possiacutevel evasatildeo Deste

modo torna-se essencial que o professor de EJA cative seus alunos fazendo

com que eles permaneccedilam autoconfiantes atraveacutes de um ensino efetivo de

accedilotildees compreensivas e pacientes e valorizando seus conhecimentos jaacute

existentes

Concluiacutemos que aleacutem da vontade que o aluno da EJA sente de

aprender a amizade entre o grupo o carinho e a paciecircncia com que o

professor os trata satildeo fatores primordiais para a permanecircncia deles na escola e

ajuda significativamente na construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel para o

ensino-aprendizado pois este clima emocional positivo faz com que os alunos

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997

CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006

CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria

DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996

GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002

GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005

KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005

LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986

MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985

25

MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999

OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992

PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

23

se sintam mais a vontade para interagir na aula e se expor quando com

duacutevidas ou seja perdendo seus medos e vergonhas e tornando-se

autoconfiantes

Assim atraveacutes das ideacuteias aqui apresentadas que reforccedilam a

necessidade da valorizaccedilatildeo da dimensatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica na EJA

buscaremos dar continuidade a esta pesquisa para a nossa dissertaccedilatildeo de

mestrado uma vez que existem poucos estudos a respeito da afetividade na

EJA poreacutem de modo mais profundo buscando ampliar o nosso campo de

pesquisa que neste trabalho se restringiu apenas a uma escola

24

REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997

CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006

CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria

DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996

GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002

GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005

KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005

LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986

MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985

25

MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999

OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992

PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

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Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

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REFEREcircNCIAS

BARROS Ceacutelia Guimaratildees Silva Pontos de Psicologia Escolar 5ordf ed SatildeoPaulo Aacutetica 2004

BOWLBY John Formaccedilatildeo e Rompimento dos Laccedilos Afetivos 2aEd SatildeoPaulo Martins Fontes 1990

BRASIL Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo edo Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB Rio deJaneiro Qualitymark 1997

CORREA Liciacutenia Maria Os Significados que Jovens e Adultos Atribuem agraveExperiecircncia Escolar 26a Reuniatildeo Anual da ANPEd Poccedilos de CaldasOutubro de 2003 Disponiacutevel em ltwwwanpedorgbrgt Acesso em 29 jul2006

CRETELLA Jr Joseacute Constituiccedilatildeo Brasileira 1988 Rio de JaneiroForenseUniversitaacuteriaForense Universitaacuteria

DANTAS Heloysa A Afetividade e a Construccedilatildeo do Sujeito naPsicogeneacutetica de Wallon In LA TAILLE Yves de (orgs) Piaget VygotskyWallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo Satildeo Paulo Summus 1992

FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessaacuterios agrave PraacuteticaEducativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1996

GIL Antocircnio Carlos Como Elaborar Projetos de Pesquisa 4ordf ed Satildeo PauloAtlas 2002

GUEDES Sulami Pereira Educaccedilatildeo Pessoa e Liberdade PropostasRogerianas para Uma Praacutexis Psico-Pedagoacutegica Centrada no Aluno SatildeoPaulo Cortez e Moraes 1979

HADDAD Seacutergio Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil (1986-1998)Seacuterie Estado do Conhecimento MECINEPComped Brasiacutelia 2002 Disponiacutevelem wwwacao educativaorg Acesso em 14 de abr de 2005

KUPFER Maria Cristina Freud e a Educaccedilatildeo O Mestre do Impossiacutevel SatildeoPaulo Scipione 2005

LUumlDKE M ANDREacute M E D A Pesquisa em Educaccedilatildeo AbordagensQualitativas Satildeo Paulo EPU 1986

MARCHAND Max A Afetividade do Educador Satildeo Paulo Summus Editorial1985

25

MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999

OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992

PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

26

Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

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MOURA Tacircnia Maria de Melo A Praacutetica Pedagoacutegica dos Alfabetizadores deJovens e Adultos Contribuiccedilotildees de Freire Ferreiro e Vygotsky editoraEDUFAL Maceioacute 1999

OLIVEIRA Maria Marly de Como Fazer Projetos Relatoacuterios Monografiasdissertaccedilotildees e teses 3aEd Rio de Janeiro Elsevier 2005

OLIVEIRA Marta Kohl Vygotsky e as Complexas Relaccedilotildees entre Cogniccedilatildeoe Afeto In ARANTES Valeacuteria Amorim (org) Afetividade na escolaalternativas teoacutericas e praacuteticas Satildeo Paulo Summus 2003

___ O Problema da Afetividade em Vygotsky In LA TAILLE Yves de(orgs) Piaget Vygotsky Wallon Teorias Psicogeneacuteticas em Discussatildeo SatildeoPaulo Summus 1992

PINTO Alvaro Vieira Sete Liccedilotildees Sobre Educaccedilatildeo de Adultos 10 ed SatildeoPaulo Cortez 1997

REGO Teresa Cristina Rego Vygotsky Uma Perspectiva Histoacuterico-Culturalda Educaccedilatildeo 13aEd Rio de Janeiro Vozes 2002

ROGERS Carl R Liberdade para Aprender Minas Gerais Interlivros 1977

SOUZA Joatildeo Francisco A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Brasil e noMundo NUPEP Recife Bargaccedilo 2000

SZYMANSKI Heloisa (orgs) A Entrevista na Pesquisa em Educaccedilatildeo aPraacutetica Reflexiva Brasiacutelia Plano Editora 2002

VOLI Franco A Auto-estima do Professor Manual de Reflexatildeo e AccedilatildeoEducativa Satildeo Paulo Loyola 1998

VYGOTSKY LS Psicologia Pedagoacutegica Porto Alegre Artmed 2003

___ Pensamento e Linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1989

___ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

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Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

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Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

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Anexos

Entrevista Alunos

Relaccedilatildeo Aluno-alunoPara vocecirc eacute importante fazer amizade na escola por queVocecirc conhece todos ou a maioria de seus colegasE como eacute o seu relacionamento com os seus colegas de classeVocecirc acha que a turma eacute unida ou poderia melhorarVocecirc gosta de fazer trabalho em dupla ou em grupo

Relaccedilatildeo aluno-professorVocecirc gosta da sua professoraDo jeito que a sua professora ensina vocecirc consegue aprenderQuando vocecirc estaacute com duacutevida vocecirc costuma tirar essa duacutevida com a professoraQual a sua relaccedilatildeo com a professora

PermanecircnciaRetornoQual o motivo que te fez parar de estudar antesQual foi a reaccedilatildeo de sua famiacutelia quando vocecirc decidiu voltar a estudar Todos apoiaram seuretorno

Projeccedilatildeo FuturaVocecirc pretende continuar os estudos fazendo o ensino meacutedio e ateacute mesmo uma faculdadeVocecirc acredita que a escola pode ajudar a progredir (crescer na vida)Vocecirc busca adquirir quais qualidades pessoais na escolaPor que para vocecirc eacute importante estudar

Clima emocionalQual o motivo que te faz vir todos os dias para a escolaQuando surge um aluno ou um professor novo vocecirc eacute bem receptivaVocecirc considera que foi bem ou mal recebida pela turma e pela professoraSempre vecirc as pessoas de modo geral como amigaacuteveis e natildeo como ameaccedilas

Concepccedilatildeo do ProfessorQual a caracteriacutestica do seu professor que vocecirc julga facilitar sua aprendizagemVocecirc gostaria de mudar alguma coisa no seu professor O que seriaQual a caracteriacutestica que vocecirc gostaria que tivesse no seu professor para facilitar oaprendizado

Entrevista Professora

ProfissatildeoPor que vocecirc resolveu ser professor (a)Vocecirc se arrepende em ser professor (a) ou jaacute pensou em seguir outra profissatildeoQual a sua formaccedilatildeoVocecirc acha que a maneira de ensinar EJA eacute diferente de ensinar os outros niacuteveis Por quePor que vocecirc ensina a EJA

Praacutetica docentemetodologia

27

Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo

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Quando vocecirc esta explicando um assunto e percebe que apenas um aluno natildeo entendeu oassunto o que vocecirc fazComo vocecirc planeja sua aula Vocecirc acha importante planejar Por queVocecirc acha que o curriacuteculo da EJA deve ser diferente da educaccedilatildeo fundamentalVocecirc estimula a atividade em grupo criados por afinidade ou estimula interaccedilatildeo

Formaccedilatildeo ProfissionalVocecirc acha que o conhecimento que vocecirc tem eacute o bastante para ensinar a EJAVocecirc costuma participar de capacitaccedilotildees ou fazer cursos de aperfeiccediloamento profissional

Relaccedilatildeo professor-alunoComo eacute a sua relaccedilatildeo com seus alunosVocecirc costuma ser riacutegida com os horaacuterios e com a entrega de trabalhos ou vocecirc eacute flexiacutevelVocecirc deixa claro para o aluno que gosta dele ou que natildeo gostaVocecirc estimula o diaacutelogo construtivo com seus alunosComo vocecirc trata as perguntas de seu alunoVocecirc tem preferecircncias por algum aluno(s) seu(s) ou para vocecirc todos satildeo iguais

Clima emocionalVocecirc estimula livre expressatildeo dos sentimentos Percebe quando haacute bloqueio de liberdadeVocecirc acredita que a afetividade entre professor-aluno atrapalha ou eacute importante para oaprendizado do aluno Por queQuando surge novo aluno como vocecirc costuma recepcionaacute-loSe existem conflitos na sua sala de aula vocecirc interfere e argumenta mediando os diversospontos de vistaVocecirc acha importante valorizar os conhecimentos que os alunos da EJA tecircm em relaccedilatildeo agravevida

Concepccedilatildeo de aluno de EJAComo vocecirc descreveria seus alunosVocecirc acredita na capacidade de progresso de seus alunosVocecirc acha que seus alunos estatildeo capacitados para avanccedilarem para o proacuteximo ciclo