2º encontro de ciência e tecnologia do paraná guarapuava, 28 de outubro de 2008 resgate da...

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2º Encontro de Ciência e Tecnologia do Paraná

Guarapuava, 28 de outubro de 2008

Resgate da ciência pela cultura –O papel do jornalismo

Marcelo Leitecienciaemdia.folha@uol.com.brhttp://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br

Sumário da apresentação

1. Ciência e Cultura2. Jornalismo Científico

Fontes Critérios Texto

3. Meios e fins Reportagens Colunas (opinião) Blog Livros

Informações biográficas

Escrevo aos domingos a coluna “Ciência em Dia”, no caderno mais! da Folha, da qual fui editor de Ciência, Opinião, Mundo e Ombudsman (defensor do leitor)

Autor de 12 livros sobre ciência, de Folha Explica/Os alimentos transgênicos (2000) a Ciência, Use com Cuidado (coletânea de colunas, Ed. Unicamp)

No prelo: Fogo Verde (série de ficção infanto-juvenil paradidática “Ciência em Dia”, Ed. Ática)

Blog Ciência em Dia: http://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br

Informações biográficas

Graduado em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP em 1979

Doutorado em Ciências Sociais pela Unicamp em 2005 – tese publicada pela Editora Unesp sob o título Promessas do Genoma (2007)

Prêmio José Reis de Jornalismo Científico de 2005

Em 1997-98, Nieman Fellow na Universidade Harvard (EUA)

Bolsista da Fundação Krupp na Alemanha (1989-90), com estágios na revista Bild der Wissenschaft e no diário Stuttgarter Zeitung

Sumário da apresentação

1. Ciência e Cultura2. Jornalismo Científico

Fontes Critérios Texto

3. Meios e fins Reportagens Colunas (opinião) Blog Livros

CIÊNCIA E CULTURAO que é cultura?

André Lalande: “A. No sentido mais estrito e mais

próximo do sentido material, desenvolvimento (ou resultado do desenvolvimento) de certas faculdades, do espírito ou do corpo, por um exercício apropriado).”

CIÊNCIA E CULTURAO que é cultura?

André Lalande: “B. Mais genericamente e usual: 1.

Característica de uma pessoa instruída e que desenvolveu seu gosto, seu senso crítico e seu juízo por meio dessa instrução; 2. educação que tem por efeito essa característica.”

CIÊNCIA E CULTURAO que é cultura?

Nelson Abbagnano:

“O termo tem dois significados básicos. O primeiro e mais antigo é aquele pelo qual significa a formação do homem, o seu melhorar-se e refinar-se.”

CIÊNCIA E CULTURAO que é cultura?

Nelson Abbagnano: “O segundo significado é aquele pelo

qual se indica o produto dessa formação, isto é, o conjunto dos modos de viver e de pensar cultivados, civilizados, que se costumam também indicar pelo nome civilização. A passagem do primeiro ao segundo significado operou-se no séc. XVIII por obra da filosofia iluminista.”

CIÊNCIA E CULTURAO que é cultura?

Immanuel Kant, Crítica do Juízo:

“A produção, em um ser racional, da capacidade de escolher os próprios fins em geral (e portanto de ser livre) é a cultura”

CIÊNCIA E CULTURAQUEM FOI…?

Machado de Assis, Guimarães Rosa Tarsila do Amaral, Victor Brecheret Ludwig van Beethoven, J.S. Bach Ernesto Nazareth, Heitor Villa-Lobos Platão, Sócrates, Aristóteles Alfred Hitchcock, Ingmar Bergman Cartola, Nelson do Cavaquinho Dom João VI, Dom Pedro I...

CIÊNCIA E CULTURAQUEM FOI…?

Jacques Monod, François Jacob James Watson, Francis Crick Paulo Vanzolini, Aziz Ab´Sáber Erwin Schrödinger, Erwin Chargaff Linus Pauling, Ernst Mayr César Lattes, José Leite Lopes Richard Dawkins, Edward O. Wilson Rosalind Franklin, Barbara

McClintock...

CIÊNCIA X CULTURA?

Para a maioria das pessoas, a ciência natural não faz parte do mundo da cultura

Como ser livre (autônomo), no mundo contemporâneo, sem ter noção do que se passa no campo da pesquisa tecnocientífica?

DEMANDA POR ENTENDIMENTO

Agenda política internacional e de cada país está cheia de temas complexos

mudança climática global dilemas éticos sobre biotecnologias

(células-tronco, pesquisa com embriões humanos, privacidade genética, reprodução assistida, clonagem, transgênicos)

energia nuclear, hidrelétricas na Amazônia e energias alternativas

escassez de água biodiversidade, biopirataria etc.

A ALIENAÇÃO DA CIÊNCIA

Especialização desenfreada: até os cientistas são leigos nas áreas em que não são... especialistas

Acesso cortado a uma das áreas mais vivas da cultura (Iluminismo)

Vocações científicas sufocadas no berço

A ALIENAÇÃO DA CIÊNCIA

Imperativo: resgatar ciência natural para a esfera da cultura

O resgate se faz por meio de tradução

Tradutores “juramentados”: Educação científica (a praia dos professores) Divulgação científica (revistas, ensaios,

museus, documentários etc.) Jornalismo científico (e crítica de ciência...)

A CIÊNCIA NÃO É INFALÍVEL

Como qualquer outra atividade humana, a ciência é:

imperfeita interessada inconclusiva incompreendida

Em uma palavra, discutível

ATITUDE CRÍTICA

Debater a ciência é a missão primeira do jornalismo científico

E não reproduzir acriticamente uma ideologia de objetividade, consenso ou clarividência

Os próprios cientistas não operam mais com base nessa ideologia

A ARMADILHA DA POLARIZAÇÃO

Exemplo de fracasso: controvérsia sobre transgênicos no Brasil

Jornalistas chegaran muito tarde ao tema (soja RoundupReady aprovada em set/1998)

Debate definitivamente polarizado entre fundamentalistas (irracional)

INFORMAÇÃO PARA CIDADANIA

Mínima condição do público para participar, de maneira informada e democrática, do debate acerca de transgênicos, genômica, mudança climática, florestas tropicais etc.

Erro: concluir que isso diminua seu direito de participar no debate

Dever de todos os atores, sobretudo jornalistas: fornecer informação compreensível, qualificada, contextualizada

Sumário da apresentação

1. Ciência e Cultura2. Jornalismo Científico

Fontes Critérios Texto

3. Meios e fins Reportagens Colunas (opinião) Blog Livros

PAPEL DO JORNALISMO CIENTÍFICO

O papel do jornalista é fazer pensar, em qualquer seção do jornal – inclusive na de ciência, tecnologia e ambiente

Divertir, maravilhar e revelar, também, mas o objetivo principal deve sempre ser reflexão

Jornalismo científico – não é um compêndio de curiosidades, nem livro didático em prestações, mas informação básica para que o cidadão possa pensar, participar e exercer seus direitos

CIÊNCIAS NATURAISAlguns conceitos básicos

Periódicos (journals) – revistas indexadas, com peer-review

Indexação – Controle de periodicidade, comitê editorial, peer-review, pelo ISI Thomson (cerca de 25 mil publicações)

Peer-review (revisão por pares) – leitura crítica por especialistas anônimos

CIÊNCIAS NATURAISAlguns conceitos básicos

Citações – nº de vezes que artigo é citado por outros = indicador de qualidade e repercussão

Fator de impacto – nº médio de citações que um periódico traz

Primeiro autor (carrega o piano); último autor (dono do piano)

Periódicos (Nature, Science) X revistas de divulgação científica (Ciência Hoje, New Scientist)

COMO ENCONTRAR – FONTESNewsletters

Jornal da Ciência Online (SBPC)

Boletim da Agência Fapesp

Notícias da ABC (Academia Brasileira de Ciências)

Manchetes Socioambientais (ISA, Instituto Socioambiental)

COMO ENCONTRAR – FONTESRevistas de divulgação científica

Pesquisa Fapesp

Ciência Hoje

Scientific American Brasil

New Scientist

COMO ENCONTRAR – FONTESPeriódicos científicos (Journals)

Nature

Science

Cell

PNAS

COMO ENCONTRAR – FONTESPortais

Portal Periódicos (Capes)

SciELO

Eurekalert

Eurekalert também em Alemão, Espanhol, Francês e até Japonês

COMO ENCONTRAR – FONTESBlogs

Ciência em Dia

Ciência e Idéias

Ciência Brasil

The Loom

Qualquer um deles pode ser o início de uma longa navegação (blogroll)

COMO SELECIONAR – CRITÉRIOSRegra geral

O papel do jornalismo científico é:

Tornar interessante o que é importante

E não... Tornar importante o que (só) é interessante

COMO SELECIONAR – CRITÉRIOSRelevância para a ciência

Peer-review e destaque em journals é pista importante, mas falível

Sempre é bom verificar com especialista de confiança

Com o tempo, repórter desenvolve familiaridade com o setor e pode ele próprio julgar (por conta e risco)

COMO TRADUZIR – TEXTOAbertura e títulos

Em jornalismo, compete-se pela atenção do leitor

Títulos e primeiro parágrafo (lide) são a porta de entrada do leitor

Devem ser ao mesmo tempo informativo e chamativos

COMO TRADUZIR – TEXTOAbertura e títulos

ASSIM SIM: Homens andam na Lua

ASSIM NÃO: A Lua no bolso

COMO TRADUZIR – TEXTOAbertura e títulos

ASSIM SIM (abertura de revista):É estranho pensar que eu ainda consigo me lembrar do cheiro depois de todo esse tempo. O ano era 1978, não muito depois de meu aniversário de 15 anos, e eu tinha me esgueirado até o quarto de meu irmão. Ali ficavam, numa parede de prateleiras que se erguiam até o teto, os livros mais pesados que tínhamos em casa – 24 volumes da Encyclopedia Britannica. As lombadas castanhas estavam recobertas de um filme de poeira, recordo. As páginas cheiravam como se uma almofada velha tivesse sido recoberta de menta. (continua)

COMO TRADUZIR – TEXTOAbertura e títulos

(continuação): Puxei com cuidado o volume marcado

HALICARNASSUS a IMMINGHAM e fui até o verbete sobre mal de Hodgkins. Demorou um tempão para eu ler a meia dúzia de parágrafos, o livro pesado aberto sobre o colo como uma Bíblia. Havia uma conversa de um misterioso “sistema linfático”, de “granulomas” e “raios gama”, como se a doença – aquela que o doutor acabara de dizer que eu tinha – fosse algo saído da ficção científica. Mas a última linha eu entendi muito bem: 75% das pessoas com ela morreriam dentro de cinco anos.

COMO TRADUZIR – TEXTOAbertura e títulos

ASSIM NÃO (nariz-de-cera, num diário):A astronomia já viveu grandes revoluções em sua história. Das esferas de cristal que sustentavam os astros em seus postos fixos à revolução de Nicolau Copérnico (1473-1543) e às elipses de Johannes Kepler (1571-1630), muitos séculos de observação foram necessários para mudar a imagem do céu.O século 20 não poderia fugir à regra. Uma descoberta anunciada ontem...

COMO TRADUZIR – TEXTOMetáforas e analogias

Leitor comum não domina jargão

Texto precisa encontrar equivalências no universo cultural para reencarnar conceitos e processos

O preço da metáfora é a eterna vigilância

COMO TRADUZIR – TEXTOMetáforas e analogias

ASSIM SIM

A informação genética que fica armazenada no DNA pode ser comparada com os verbetes de uma enciclopédia, que as células de um organismo consultam sempre que necessitam.

COMO TRADUZIR – TEXTOMetáforas e analogias

ASSIM NÃO

O DNA contém o Livro da Vida, a chave para desvendar todas as características e problemas que um organismo vai enfrentar durante sua existência.

Sumário da apresentação

1. Ciência e Cultura2. Jornalismo Científico

Fontes Critérios Texto

3. Meios e fins Reportagens Colunas (opinião) Blog Livros

MEIOS E FINSReportagem de jornal ou revista

Temas mais “quentes” = atuais e de interesse ou repercussão geral

Exs: células-tronco no STF; taxa de desmatamento; estudo sobre regeneração de Mata Atlântica (UFPR)

Problema: contar, descrever e explicar tudo em 4.000 caracteres

Desafio: escrever para o leigo e para o especialista ao mesmo tempo

Simplificar sem empobrecer

MEIOS E FINS Coluna de jornal ou revista

Tema inédito ou quase, de interesse público, mas nem sempre notícia

Menos perecível; propício para suscitar reflexão e opinião

Exs.: prêmios Nobel de ciências; livro recém-lançado; relatório sobre CT&I

Texto: mais expressivo, registro mais “elevado”, tom mais pessoal

MEIOS E FINS Blog ou página de internet

Blog <= weblog (diário na rede) Espaço para notas e comentários

pessoais (de um jornalista...) Temas similares aos da coluna, mas

com liberdade para idiossincrasia Leitor vai lá porque quer, sabe

quem escreve e o que esperar Sem limitação de espaço (ex.: listas

com índices h de cada área da ABC)

MEIOS E FINS Paradidáticos de ficção ou não-ficção

Temas que vão permanecer no ar: Transgênicos Biomas brasileiros (Amazônia, Cerrado,

Mata Atlântica) DNA, genética, genômica Biotecnologias (clonagem,

experimentos com animais etc.) Biocombustíveis: energia, alimentos

Foco: interface ciência/sociedade

MENSAGEM PARA GUARDAR

Tornar interessante o que é importante, e não

Tornar importante o que (só) é interessante

OBRIGADO

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