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UNIVERSIDADE VILA VELHA
LARA BARBOSA COUTO
UM CARROSSEL HOLANDÊS NO JOGO DRAMÁTICO:A CRIAÇÃO DO PAPEL NA DESVINCULAÇÃO ATOR/PERSONAGEM
VILA VELHA
1
2017
2
UNIVERSIDADE VILA VELHA
LARA BARBOSA COUTO
UM CARROSSEL HOLANDÊS NO JOGO DRAMÁTICO:A CRIAÇÃO DO PAPEL NA DESVINCULAÇÃO ATOR/PERSONAGEM
Versão apresentadas aos alunos da disciplina Metodologia Científica como exemplo de anteprojeto
VILA VELHA2017
3
1. INTRODUÇÃO
O presente projeto de pesquisa se dispõe a investigar procedimentos de
composição dos papéis cênicos dentro do contexto da desvinculação
ator/personagens.
Em breves palavras, o termo desvinculação (ROSENFELD, 1986) se refere a
processos teatrais nos quais um ator representa várias personagens ou quando uma
mesma personagem é interpretada vários atores. Em meus estudos, partirei da
hipótese de que o recurso pode servir de instrumento para a formação do ator, visto
que a necessidade de compor diversos papéis o possibilita adotar diferentes
estratégias de composição. Da mesma maneira, quando uma personagem é
interpretada por mais de um ator, ambos podem se beneficiar da experiência,
colaborando mutuamente para a elaboração do papel e aprofundando habilidades
de relacionamento e criação compartilhada.
Historicamente, a desvinculação existe desde a tragédia grega. Na época, os
atores interpretavam diferentes papéis e usavam uma máscara para cada
personagem interpretado. Entretanto, apesar de ser uma estratégia bastante antiga,
foi a partir da segunda metade do século XX que a desvinculação passou por um
processo de retomada de popularidade entre as produções teatrais, podendo ser
observado em diversos espetáculos da atualidade. Em todo o país, grupos e
coletivos de atores realizam experimentações com a desvinculação, a exemplo de:
Grupo Boa Companhia – São Paulo (espetáculo Portela, patrão. Mário, motorista),
Grupo Magiluth – Pernambuco (Viúva, porém honesta), Grupo Maria Cutia – Minas
Gerais (Como a gente gosta), Cia A4 – Bahia (Matilde, la cambiadora de cuerpos),
para citar alguns exemplos.
A presença da técnica em investigações poéticas realizadas por grupos
teatrais possivelmente se encontra em diversas razões. Do ponto de vista
econômico, ela possibilita a diminuição dos custos de encenação, visto que um ator
pode interpretar diversas personagens. O recurso contribuiu para a permanência da
quantidade de atores trabalhando, visto que é o texto teatral que sofre adaptações
de acordo com o elenco, e não o contrário. Além disso, a desvinculação geraria
grande liberdade para a experimentação de diferentes papéis, assim como o
4
treinamento de transições entre as personagens. Em coletivos que visam à
formação contínua do intérprete, tais espaços fazem-se especialmente preciosos,
ainda que o recurso não seja levado à cena.
A desvinculação surge, muitas vezes, durante o processo de adaptação de
textos dramatúrgicos. Entretanto, algumas obras já apresentam de antemão a
proposta de encenação com o uso da técnica. É exemplo disso o espetáculo O
mistério de Irma Vap, de Charles Ludlam. Apesar de ter dezesseis personagens, a
peça foi escrita para ser interpretada por dois atores, de preferência do mesmo sexo.
A montagem brasileira do espetáculo, dirigida por Marília Pera, foi de grande
repercussão, sobretudo pelo desempenho de Marco Nanini e Ney Latorraca na
interpretação de tantos papéis.
É devido ao crescente uso da desvinculação nas montagens contemporâneas
que defendo a relevância de estudos sobre procedimentos de construção da
personagem a partir de espetáculos que fizeram uso do recurso cênico. Visando,
sobretudo o trabalho do ator, a pesquisa pretende seguir por duas vertentes:
Quando um intérprete representa diversos papéis e quando um mesmo papel é
representado por diferentes atores. Para isso, processos criativos referentes a cada
caso servirão de eixo para o desenvolvimento dos questionamentos e reflexões a
respeito da seguinte questão: Quais habilidades relacionadas à atuação podem ser
desenvolvidas através do recurso de desvinculação ator/personagem?
2. OBJETO
Não era só questão técnica. Era tática. Era física. Era numérica. Era o fim de uma era no futebol sul-americano. Vírgula, no futebol mundial. [...]A Laranja Mecânica era orgânica por fora, mecânica por dentro.(BETING, 2011)
Na Copa de 1974, o mundo presenciou um dos mais singulares esquemas
táticos já vistos na história mundial do futebol, o chamado Carrossel Holandês. O
esquema recebeu esse apelido, pois nele os jogadores não possuíam posições
fixas, atuando em diversas funções ao longo do jogo. Cada integrante era treinado,
5
portanto, para atuar em diversas frentes: atacar, defender, marcar e armar jogadas,
num desempenho que se fragmentava para dar destaque à performance coletiva.
Para tanto, a tática exigia um trabalho contínuo de entrosamento entre os
jogadores, que solicitava que cada integrante tivesse conhecimento da dinâmica
geral do jogo e do time, não se limitando a executar apenas seu papel. Mais
importante que o desempenho individual, a marca dessa seleção se encontrou na
construção de um grupo coeso “tão solidário que o time parecia um ser único, com
seus jogadores movendo-se simultaneamente como um cardume, como células do
mesmo organismo.” (CUNHA, 2010).
Esta pesquisa toma o exemplo futebolístico como inspiração, por identificar
diversos níveis de proximidade entre a experiência citada e o processo de criação
teatral (aqui também entendido como um jogo), especialmente quando tais
processos fazem uso da desvinculação ator/personagem. Para que essas
semelhanças se tornem mais claras, bem como a delimitação do objeto de estudo
por mim proposto, faz-se necessário definir a que contextos se refere o termo
“desvinculação”, para posteriormente comentar aspectos da criação do papel em tal
contexto:
Conforme a técnica tradicional, cada ator representa um só personagem, [...] havendo tantos atores quanto personagens. Nos moldes da nova poética, alguns poucos atores, alternando entre si a interpretação dos personagens, desempenham todos os papéis, por maior que seja o seu número. (ROSENFELD, 82, p. 12)
A desvinculação redimensiona as funções do ator no processo criativo, na
medida em que coloca a personagem como ponto transitório de seu desempenho.
Em linhas gerais, a técnica pode se dar por duas vias: Quando um ator
representa diversas personagens ou quando uma mesma personagem é
interpretada por diversos atores. Este projeto pretende investigar as duas opções na
busca por procedimentos que contribuam para a construção da personagem no
referido contexto.
A inquietação em torno deste tema me acompanha desde minha pesquisa de
mestrado, quando analisei o processo de criação das personagens do espetáculo
Dorotéia, dirigido por Hebe Alves, no qual atuei junto ao meu grupo, o Panacéia
6
Delirante. Na peça, todas as atrizes se revezam na interpretação das personagens
principais da trama, numa estrutura de desvinculação que chamei de “rotação de
papéis”.
Além de discutir as estratégias de composição das personagens de Dorotéia,
em minha investigação para mestrado apresentei questionamentos sobre as
implicações geradas pela desvinculação no processo criativo e as diferentes
modalidades da técnica. Contudo, os quatro semestres de vigência do curso não
foram suficientes para esgotar minhas inquietações em torno do tema, sobretudo no
que se refere aos procedimentos metodológicos que poderiam auxiliar o ator a criar
dentro de tal contexto.
A necessidade de colocar em prática o conhecimento adquirido, experimentar
e aprender novas possibilidades de uso da técnica me incentivou a formular esse
anteprojeto para o doutorado, e propor um estudo na área de ensino, voltada
especialmente para a formação do ator e a construção da personagem.
Inicialmente serão escolhidos dois processos criativos baianos nos quais
identifico a presença da desvinculação: a peça Sebastião e o espetáculo Larilará
Macunaíma Saravá.
Sebastião é um solo do ator Fábio Vidal. A encenação apresenta uma
situação vivida pelos moradores da cidade de São Sebastião do Passé, na
localidade de Maracangalha, no interior da Bahia. Em março de 2007, um avião caiu
na região com cerca de R$ 5,6 milhões em cédulas, que foram saqueadas pela
população. A partir deste ocorrido, a região foi invadida por repórteres, ladrões e
policiais corruptos, gerando enormes transtornos aos habitantes do vilarejo. O
espetáculo retrata o fato através da ótica de várias personagens, todas interpretadas
por Vidal. A peça lhe rendeu o prêmio Braskem de melhor ator em 2010.
Já Larilará Macunaíma Saravá reuniu vinte atores para encenar a história de
Macunaíma, romance do escritor brasileiro Mário de Andrade. A adaptação
dramatúrgica é de Marcos Barbosa e foi encenada em Salvador pelo módulo V do
Bacharelado em Interpretação Teatral da Escola de Teatro da UFBA, em 2008. O
espetáculo apresenta diversas modalidades de uso da desvinculação ator
personagem, havendo trocas e representações simultâneas de um mesmo papel,
além de personagens que são construídas a partir de um coletivo, como a Boiuna
7
Capei (uma cobra formada por cinco atores) e Naipi (uma cascata formada por seis
atrizes). Por ser uma mostra acadêmica, acredito que se possa aprender muito com
a experiência de Larilará, especialmente do ponto de vista metodológico. O
espetáculo tem ainda a direção da professora Hebe Alves, provavelmente uma das
profissionais que mais tem realizado experimentações cênicas com a presença da
desvinculação em Salvador.
Terminada a primeira fase da pesquisa, caracterizada pelo estudo
bibliográfico e análise dos processos criativos, planejo inaugurar a etapa de
experimentação dos procedimentos estudados. Para isso, pretendo elaborar uma
oficina para atores sobre a construção da personagem em casos de desvinculação.
As aulas terão a duração de dois meses, se realizando duas vezes por semana
(totalizando uma carga de 36 horas/aula).
3. OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
INVESTIGAR procedimentos de composição do papel em casos de
desvinculação ator/personagem, usando como ponto de partida a análise dos
processos criativos dos espetáculos Sebastião, de Fábio Vidal e Larilará Macunaíma
Saravá, dirigida por Hebe Alves.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
PESQUISAR procedimentos para a criação da personagem nos casos em
que um ator representa múltiplos papéis
PESQUISAR procedimentos para a composição do papel nos casos em que
dois ou mais atores representam uma mesma personagem
ANALISAR o processo de criação do espetáculo Sebastião.
ANALISAR o processo de criação do espetáculo Larilará Macunaíma Saravá.
ELABORAR um plano de oficina teatral sobre a composição da personagem
no contexto da desvinculação ator/personagem
APLICAR uma oficina com 36 horas/aula sobre o tema acima citado.
8
AVALIAR os resultados obtidos com as oficinas, relacionando com os
processos criativos observados.
FOMENTAR discussões, reflexões e trabalhos investigativos sobre a
construção da (s) personagem (s) nos casos de desvinculação.
4. JUSTIFICATIVA
[...] Os tipos de seres ficcionais aqui examinados abrem possibilidade de utilização de diferentes elementos, procedimentos e matrizes em seu processo de construção. A utilização de materiais de diferentes naturezas deverá gerar, por sua vez, a necessidade de inserir transições entre esses materiais. A busca de sentido de cada material e das possíveis transições entre eles envolve, dessa forma, uma competência especifica do ator. (BONFITTO, 2006, p. 140)
Uma das principais dificuldades de pesquisar procedimentos de composição
da personagem se encontra no aspecto singular de cada processo criativo. Cada
ator tem o seu modo particular de gerir a própria criação, de contracenar com os
demais colegas, de enfrentar as dificuldades que surgem ao longo do trajeto. Da
mesma maneira, cada contexto apresenta suas especificidades, suas demandas,
questões e problemas a serem superados.
São muitas variáveis que interferem no processo de elaboração de uma
personagem. Talvez por isso seja necessário ao ator buscar por múltiplas
estratégias de composição, transitando entre elas, como um bricoleur (LÉVI-
STRAUSS) que escolhe e se utiliza de diversos materiais artísticos na construção de
sua arte.
Para isso, entretanto, é necessário conhecer diversos procedimentos, entrar
em contato com variadas maneiras de abordar um papel, na tentativa de criar um
repertório que lhe auxilie da melhor maneira possível na execução de seu oficio.
Nesse sentido, a desvinculação ator/personagem talvez tenha muito a contribuir ao
trabalho do ator, visto que o recurso o coloca em confronto com suas próprias
técnicas de elaboração dos papéis. Quando um ator precisa construir diferentes
personagens num mesmo empreendimento artístico, ele encontra a oportunidade de
experimentar diferentes estratégias de abordagem do papel, explorando as
diferenças entre os procedimentos escolhidos e os aspectos característicos de cada
composição. Da mesma maneira, quanto lhe é demandado “dividir” uma
9
personagem com outro ator e gerir a criação em consenso com este, o artista tende
a se deparar com hábitos e modos de desempenho distintos aos seus.
Pensando ainda no desenvolvimento do artista e no alargamento de seu
repertório de possibilidades, o recurso também poderia surgir apenas como
ferramenta metodológica, a exemplo de Brecht, que sugere a troca de papéis em
seu livro, Teatro dialético (1967, p. 209):
[...] Os atores deveriam trocar entre si papéis durante os ensaios, de forma que todas as personagens fossem possibilitadas de receber uma das outras, tudo aquilo que necessitam reciprocamente. Convém, alem disso, que os atores vejam seus personagens representados por outros, que as vejam em outras figurações.
Ainda que não fosse levada à cena, a desvinculação, em suas múltiplas
modalidades, poderia ser um aliada ao processo de criação, na medida em que
permitiria ao ator observar diferentes aspectos da personagem a ser interpredada. A
técnica permitiria ao ator se aprofundar em todas as personagens do espetáculo ou
observar de que maneira outros atores poderiam construir tais figuras dramáticas, o
que poderia ajudar a esclarecer certas conjunturas do drama, pequenos conflitos e a
relação existente entre os papéis.
Outro argumento que vem reforçar a necessidade de gerar espaços para a
discussão da desvinculação se encontra no fato de que ela requisita da equipe um
entrosamento para dar conta da transição entre papéis. Assim como o Carrossel
Holandês que inspira essa pesquisa, a fragmentação das funções na desvinculação
solicita um esforço de articulação e trabalho em conjunto, pois se trata de um
processo que tende a dar destaque ao desempenho do coletivo, na qual atores
compartilham papeis e se ajudam mutuamente no processo de condução e
elaboração das personagens do espetáculo.
Por último, não poderia deixar de apresentar um breve panorama sobre a
presença do recurso na Escola de Teatro da UFBA. Ao longo de minha pesquisa de
mestrado, perguntei a alunos do curso do Bacharelado em Interpretação Teatral1 se
eles conseguiam identificar a presença da desvinculação ator/personagem em
alguma das mostras acadêmicas por eles apresentadas. O resultado mostrou que,
das quarenta e cinco mostras contabilizadas, a média de encenações com o recurso
1 Alunos que ingressaram na Escola entre os anos de 2004 a 2011
10
ultrapassava os cinquenta por cento.2 Apesar disso, ao menos em meu processo de
graduação, pouco se discutiu em sala de aula sobre a presença do recurso para a
formação do ator, suas implicações e possibilidades de desdobramento. O fomento
aos debates em torno da desvinculação poderia, acredito, contribuir para dar maior
consistência ao uso do recurso, beneficiando atores, professores e diretores na
condução de processos artísticos nesses moldes.
5. HORIZONTE TEÓRICO
Como já foi dito, as origens do uso da desvinculação remetem ao princípio do
próprio teatro ocidental. Assim destaca Rosenfeld (1982, p. 13), quando relembra
que há mais de dois mil anos, no teatro grego, os atores já se dividiam na
interpretação de diferentes papéis, usando, para isso, diferentes máscaras. Não se
pode afirmar, portanto, que existe ineditismo no uso do recurso, embora ela esteja
constantemente presente, em processos de grande destaque do ponto de vista
criativo.
Está presente nos espetáculos desenvolvidos por Denise Stoklos (Preferiria
não, ou Maria Stuart, para citar alguns), na pesquisa estética da Companhia dos
Atores (Ensaio.Hamlet ou In on It), no bem criticado A Descoberta da Américas, com
Júlio Adrião, em Sete Conto, de Luiz Miranda e no recém estreado A vida de
Gonzagão de João Falcão. Da mesma forma, o assunto surge em pesquisas que
versam sobre o trabalho desses grupos, companhias ou atores, inspirando novas
investigações, dentro e fora da academia, a exemplo deste projeto de estudo.
Entre tantos espetáculos e grupos que fazem uso do recurso, optei em
escolher prioritariamente dois processos baianos e isso se deu por duas razões: a
primeira se refere à viabilidade de acesso a registros dos processos, tanto por meio
de entrevista, como por consulta a cadernos de anotações (ou diários de bordo) dos
atores. O segundo consiste na valorização da produção local, que muito tem a
contribuir na construção de conhecimento sobre a criação da personagem e o
aprendizado do ator.
2 Em pesquisa realizada junto ao alunado, pude contabilizar que os estudantes identificavam a presença da desvinculação em pelo menos vinte e três mostras acadêmicas
11
Seguindo os pré-requisitos acima citados, escolhi Larilará Macunaíma Saravá
e Sebastião, pelo apreço que tenho por ambos e por terem sido dois processos
criativos documentados desde o seu princípio, fornecendo material que relata seu
desenvolver em todas as etapas. Da mesma maneira, compreendo que são
espetáculos com estruturas que se contrastam e, por isso, se complementam: Em
contraponto ao solo de Fábio Vidal, Macunaíma apresenta um vasto elenco,
composto por vinte atores.
Em relação às referências teóricas, o estudo parte primeiramente de
conteúdos sobre o trabalho do ator, sobretudo no que diz respeito à construção da
personagem. Para tanto, se faz presente no corpo teórico autores que tentaram
sistematizar suas técnicas de abordagem do papel, como Constantin Stanislavski,
Michael Chekhov e Stella Adler. Na mesma linha, agregam o estudo encenadores
que fizeram o uso do recurso da desvinculação, a exemplo de Augusto Boal e
Bertold Brecht. Por fim, tendo em vista os espetáculos analisados, também compõe
a pesquisa o estudo da dissertação de mestrado de Fabio Vidal intitulada: Percurso
múltiplo uno: Estudo do modo cênico e do processo de criação geradores da
encenação Velosidade Máxima. Da mesma maneira, se faz necessário o estudo da
tese de doutorado de Hebe Alves: Processos de Encenação e Formação do Ator: O
Desdobramento de Personagens, O Continuum de Reflexo de Susto e o Gesto
Psicológico na Composição Cênica de Textos de Nelson Rodrigues. Ambos os
trabalhos versam sobre procedimentos poéticos utilizados pelos respectivos artistas.
6. METODOLOGIA
a) Revisão bibliográfica
O primeiro passo da pesquisa consiste na revisão do material bibliográfico
já presente (em sua maioria, vindos de minha pesquisa de mestrado) e na
procura por outras fontes de referência para o estudo da construção da
personagem. Neste período, prevejo a necessidade de encontro com o
orientador para a indicação de material de leitura ou a necessidade de
acompanhamento através da disciplina TIO (Trabalho Individual Orientado).
b) Estudo do processo criativo de Sebastião:
12
Como foi anteriormente descrito, o espetáculo Sebastião teve toda a sua
trajetória de construção documentada no blog do projeto. A primeira atividade
de estudo da obra consistirá, portanto, na leitura desses escritos e registro
das estratégias de composição por mim observadas. Também será analisado
o vídeo do espetáculo3 e materiais adjacentes, como depoimentos e críticas a
respeito da peça. Todo material anteriormente descrito, após o tratamento
analítico servirá de base para a estruturação da entrevista a ser realizada com
Fábio Vidal na fase posterior do estudo.
c) Entrevista a Fábio Vidal.4
O objetivo da entrevista consiste em esclarecer ou reforçar algumas
opções metodológicas presentes no processo e compreender de que maneira
elas interferiaram no espetáculo final. Esta seria ainda uma oportunidade de
obter informações que por ventura não foram registradas no diário de bordo,
coletar opiniões e inquirir sobre possíveis lacunas ou dificuldades que ainda
podem ser superadas ou aprimoradas.
d) Estudo do processo criativo de Larilará Macunaíma Saravá.
A montagem do espetáculo Larilará Macunaíma Saravá, em 2008, foi o
resultado final do módulo V do bacharelado em Interpretação pela
Universidade Federal da Bahia. Como parte de suas obrigações com o
componente, os alunos precisavam manter atualizados os seus diários de
bordo e enviá-los regularmente para Hebe Alves, diretora da peça e
coordenadora do módulo. Por essa razão, o primeiro passo dessa etapa da
pesquisa é perguntar aos atores do processo quais estariam à vontade em
compartilhar seus diários para a realização do estudo e se eles teriam
interesse em participar da entrevista num momento futuro. Da mesma
maneira como aconteceu em Sebastião, o conteúdo adquirido a partir da
análise dos diários e das referências bibliográficas servirá se suporte para a
elaboração das entrevistas.
3 Fábio Vidal já se encontra a par das intenções da pesquisa, tendo se mostrado aberto a compartilhar os materiais do espetáculo, a exemplo dos vídeos de apresentações. 4 Da mesma maneira, o ator se mostrou bastante disponível para a realização da entrevista.
13
e) Entrevista ao elenco de Larilará Macunaíma Saravá 5
Partindo das observações formuladas nas fases anteriores da pesquisa,
pretende-se formular e aplicar uma entrevista aos integrantes do elenco, à
diretora e ao assistente de direção. No total, pretende-se realizar dez
entrevistas a partir da qual se espera esclarecer alguns pontos do processo e
perceber de que maneira os procedimentos aplicados são entendidos e qual a
opinião sobre eles após tantos anos do fim do processo.
f) Elaboração das oficinas
Após a realização, registro e análise de todas as etapas anteriores,
espera-se que a pesquisa alcance um nível de fundamentação suficiente para
a elaboração de uma oficina teatral sobre a construção do papel em
processos em que há a desvinculação ator/personagem. Esta oficina terá
duração de dois meses e carga horária de 36 horas/aula. Caso haja a
necessidade de maior experimentação antes da oficina, a presente pesquisa
não exclui a realização de workshops preparatórios. Um deles foi
recentemente realizado e em muito contribuiu para a estruturação deste
anteprojeto.6
A oficina será registrada por meio de diários de bordo a serem elaborados
por mim e pelos alunos como atividade inerente às aulas. Embora seja
exigida a todos os alunos a escrita dos diários, seu compartilhamento com o
estudo será se livre escolha. Da mesma maneira, respeitarei a vontade dos
alunos de estarem ou não presentes nas atividades filmadas e/ou
fotografadas.
Por fim, as diferentes formas de registro das oficinas (diários, fotos e
vídeos) serão analisadas e comporão o restante do material de estudo no
qual se ancorará a escrita da tese.
5 Assim como Vidal, Hebe Alves também se mostrou receptiva com a realização das entrevistas. Já a escolha dos atores a serem entrevistados será decidida com base nos diários de bordo estudados e a disponibilidade de cada artista. 6 No Carrossel holandês: criação da personagem na mudança de papéis, oficina de dois dias ministrada por mim durante os dias 20 a 21 de outubro, na Casa Preta, durante a programação do Empuxo- Zona de Encontro de Artes Cênicas.
14
7. CRONOGRAMA
Atividades 2013.1 2013.2 2014.1 2014.2 2015.1 2015.2 2016.1 2016.2Revisão de literatura X X X X
Cumprimento das disciplinas obrigatórias
X
Cumprimento das disciplinas optativas
X
Reestruturação do projeto de pesquisa X X
Leitura do material bibliográfico seguida de fichamento dos aspectos mais relevantes
X X
X X
Leitura e análise do diário de bordo do espetáculo Sebastião
X
Revisão parcial do conteúdo para a elaboração das perguntas que comporão a entrevista a Fabio Vidal
X
Realização da primeira entrevista (Com Fábio Vidal)
X
Revisão de material e escrita de um artigo sobre o processo criativo de
X
15
Sebastião.Leitura e análise dos diários de bordo cedidos pelos atores do espetáculo Larilará Macunaima Saravá
X
Revisão parcial do conteúdo para a estruturação da entrevista aos artistas de Larilará Macunaima Saravá
X
Realização da entrevista com a equipe de Larilará Macunaima Saravá
X
Revisão de material e escrita de um artigo sobre o processo criativo de Larilará Macunaima Saravá
X
Estudo preparatório e planejamento da oficina
X
Realização da oficina e/ou tirocínio docente.
X
Escrita do relatório da oficina e/ou tirocínio docente
X
REDAÇÃO DA TESE X X X
16
Exame de qualificação X
REDAÇÃO FINAL E DEFESA
X X
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