amor em quatro idiomas

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AMOR EM QUATRO IDIOMAS I Amélia está desenhando novas joias quando Vitor chega e coloca duas passagens de avião em cima do desenho. - Pode começar a arrumar as malas, meu amor... partimos daqui a uma semana. - Vitor... murmura Amélia, quase suspirando. Ela olha as passagens e sorri Florença? - Só pra começar. Depois vamos para Veneza, Milão, Amsterdã, Madri, Barcelona... como combinamos. - Meu Deus, mas assim vamos passar muito tempo fora... e o frigorífico, a Rurbana? - Já está tudo encaminhado Vitor conta tranquilamente A Fátima vai cuidar do frigorífico, e administra também de lá os pedidos da Rurbana. Já combinei também com a Manu, ela e a Pérola vão cuidar da produção das joias em Girassol. - Você pensou em tudo, né? Amélia sorri. - Mas claro! Nós vamos viajar em lua-de-mel, sem pensar em mais nada... só vivendo como se fosse um sonho. - Você é um sonho! Um homem maravilhoso, que faz de mim uma mulher imensamente feliz... Amélia passa os braços em torno do pescoço de Vitor, fitando-o de um jeito apaixonado. - É tudo que eu quero... te fazer feliz! ele devolve o olhar de paixão, e lentamente aproxima seus lábios dos dela, em um beijo intenso. Uma semana depois, Vitor espera na sala, impaciente: - Vamos, Amélia! Assim a gente perde o voo! - Tô indo, é só fechar a mala ela responde do quarto. - Como assim? Sua mala já não estava pronta?

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AMOR EM QUATRO IDIOMAS I Amélia está desenhando novas joias quando Vitor chega e coloca duas passagens de avião em cima do desenho. - Pode começar a arrumar as malas, meu amor... partimos daqui a uma semana. - Vitor... – murmura Amélia, quase suspirando. Ela olha as passagens e sorri – Florença? - Só pra começar. Depois vamos para Veneza, Milão, Amsterdã, Madri, Barcelona... como combinamos. - Meu Deus, mas assim vamos passar muito tempo fora... e o frigorífico, a Rurbana? - Já está tudo encaminhado – Vitor conta tranquilamente – A Fátima vai cuidar do frigorífico, e administra também de lá os pedidos da Rurbana. Já combinei também com a Manu, ela e a Pérola vão cuidar da produção das joias em Girassol. - Você pensou em tudo, né? – Amélia sorri. - Mas claro! Nós vamos viajar em lua-de-mel, sem pensar em mais nada... só vivendo como se fosse um sonho. - Você é um sonho! Um homem maravilhoso, que faz de mim uma mulher imensamente feliz... – Amélia passa os braços em torno do pescoço de Vitor, fitando-o de um jeito apaixonado. - É tudo que eu quero... te fazer feliz! – ele devolve o olhar de paixão, e lentamente aproxima seus lábios dos dela, em um beijo intenso. Uma semana depois, Vitor espera na sala, impaciente: - Vamos, Amélia! Assim a gente perde o voo! - Tô indo, é só fechar a mala – ela responde do quarto. - Como assim? Sua mala já não estava pronta?

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- Estava, mas eu tinha que conferir se não faltava nada – explica Amélia, entrando na sala. - Se faltar algo a gente compra lá. Não sei por que mulher é tão complicada, precisa levar metade da casa na mala... – ele brinca. Amélia olha fixamente para ele, querendo rir: - Porque a gente tem que levar tudo que vocês homens não levam e depois nos pedem! Ah, Vitor, minha mala nem está tão grande assim... Ele examina a mala de Amélia com um olhar zombeteiro: - É, pensando que nós vamos ficar bastante tempo fora, até que você não exagerou... Ela ri e questiona: - E então, você não estava com pressa? - Sim, sim, mas acho que dá tempo de mais uma coisa – ele dá um beijo apaixonado em Amélia, sorri e só então vai abrir a porta. Com um sorriso de encantamento nos lábios, ela o segue. Trilha sonora: Con te partiro – Andrea Bocelli http://www.youtube.com/watch?v=tcrfvP11Hbo

Chegando ao aeroporto, eles vão direto para a fila do check-in. Enquanto esperam a sua vez, Vitor passa os braços em torno da cintura de Amélia e a contempla. - O que foi? – ela questiona, sorrindo. - Só estou olhando o quanto minha mulher é linda... - Ah, Vitor... – ela murmura de um jeito derretido. A fila anda um pouco, Vitor empurra o carrinho com as malas sem soltar totalmente Amélia. Quando param, ele a encara novamente: - Linda! – Vitor sussurra, e se aproxima mais para beijá-la. Amélia empurra delicadamente o rosto dele, com o dedo nos lábios do amado: - Aqui não... - Por quê? – ele reclama com voz me menino manhoso. - Vitor, nós estamos no meio do aeroporto. Vamos ficar nos comportando como um casal adolescente, sem noção de limite? – ela repreende com doçura. Como a fila andou novamente, Vitor dá uns passos à frente antes de responder, trazendo Amélia junto: - É que ao seu lado eu me sinto sempre como um adolescente que está amando pela primeira vez... - Eu também, meu amor. Mas se controla um pouquinho... - Tá bem – ele resigna-se, e fica apenas acariciando o rosto dela, até serem chamados no balcão. Após despacharem as malas, eles vão tomar um café, para esperar até a hora do voo. Vitor fica roçando nos dedos de Amélia sobre a mesa e comenta: - Lembra aquela noite em que jantamos juntos em Juruanã, tendo que disfarçar o que estávamos sentindo? - Lembro. Quando o Max estava no hospital? Vitor faz uma careta ao ouvir o nome do ex-sócio: - É... – ele respira fundo e fica com a expressão amena novamente – Então, naquela noite, eu estava louco para fazer assim...

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Ele entrelaça seus dedos com os de Amélia, e traz a mão dela para junto de seus lábios, percorrendo o dorso da mão dela com beijos. Desce até o pulso beijando, e então olha para Amélia com um sorriso. Ela também está sorrindo, com os olhos brilhando, encantada. - Você me deixa sem palavras... – é só o que ela consegue dizer. - Seu olhar e seu sorriso já dizem tudo que eu preciso. - Ai, Vitor... como você consegue ser sempre assim, tão romântico? - Nem eu sei. Foi você quem me deixou assim, culpa sua – ele ri. Amélia também ri, e fica contemplando Vitor. Ele se levanta: - Você espera aqui um pouquinho, que eu vou buscar uma encomenda e já venho? - Que encomenda? - Você já vai saber curiosa... – ele brinca, dá um beijinho nos lábios dela e sai. Amélia fica ansiosa, a cada pequeno gole de café ela olha para a porta, esperando ver Vitor de volta. Finalmente ele chega, senta-se, e estende uma caixinha de veludo para Amélia: - Mandei fazer especialmente para usarmos durante nossa viagem – explica. Ela abre a caixinha e fica boquiaberta. Há duas medalhas de ouro branco com uma imagem em relevo, junto a correntes do mesmo material. - É São Valentim, o protetor dos apaixonados – Vitor diz, pegando uma das medalhas e olhando na parte de trás – É, essa é a sua. Ele se levanta e coloca a corrente no pescoço de Amélia, que segura a medalha entre os dedos e lê o nome gravado no verso: - Mas aqui está escrito “Vitor”... - Sim. E na minha está escrito Amélia. Nós somos um do outro, não somos? – ele esclarece, pegando a outra medalha para colocar também. Amélia se levanta e o ajuda a fechar a corrente, depois o abraça forte e lhe dá três beijos nos lábios: - Vitor... que lindo! Você não existe... – ela murmura, com a voz embargada, os olhos quase marejados. Algum tempo depois, eles vão para o avião e se acomodam em seus lugares. Quando é dado o aviso de que o avião vai decolar, Vitor segura a mão de Amélia e eles ficam se olhando, e sorrindo, cheios de expectativa. II

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Vitor já havia reservado uma suíte num dos melhores hotéis de Florença. Ao chegarem, Amélia se arruma para almoçarem e depois irem visitar os pontos turísticos da cidade. - Vou tomar um banho antes, está bem? – avisa Vitor. - Vai lá, eu espero – sorri Amélia. Enquanto Vitor vai para o banheiro, Amélia caminha até a sacada do quarto. Observa atentamente a vista por alguns instantes, até que seu olhar vai ficando perdido. Em sua mente, ela vai revendo tudo que viveu com Vitor até aquele instante. Trilha sonora: Eppure Sentire – Elisa

http://www.youtube.com/watch?v=llew0MMIxDo Lembra-se desde quando sentia o chão fugir de seus pés diante dele, mas achava que não passaria de um sentimento platônico... o dia em que seus olhares se encontraram ao experimentar a cama na estalagem... o primeiro beijo... a angústia quando ele desapareceu... a alegria do reencontro... E depois disso, tantos beijos e declarações trocados no quarto da estalagem, às escondidas, o medo da vingança de Max, o começo da sociedade das joias, a revelação aos filhos e o apoio deles, o atentado na noite do lançamento do catálogo, as loucuras de Vitor aparecendo de surpresa em seu quarto, mais beijos e declarações... Ela ri ao recordar do encontro no salão de beleza, onde chegara disfarçada. Naquele dia, Vitor disse que iriam morar na Europa, citando as cidades que agora começavam a visitar. Depois continuaram se encontrando furtivamente até o dia em que Vitor levou o tiro... Amélia engole em seco e não consegue evitar as lágrimas ao lembrar-se daquela noite, da dor de vê-lo ferido, quase perdendo a vida... Ela solta um suspiro, dizendo a si mesma que aquela dor os uniu ainda mais, porque depois daquele momento jamais se separaram. E sorri, recordando dos dias maravilhosos no Jalapão... a vida só de alegrias desde então... Ela estava ainda com o olhar perdido quando Vitor se aproxima e a abraça por trás. Ele fica preocupado ao perceber o rosto úmido dela: - Amélia, você está chorando? - Meu amor... estava lembrando de tudo que vivemos até aqui... nossa, nós passamos por tanta coisa para hoje podermos estar vivendo essa felicidade... - É mesmo. Talvez seja justamente por isso que nosso amor é tão forte... já superou muita coisa – ele responde virando Amélia de frente para ele, e acariciando os cabelos dela, enquanto com a outra mão enxuga uma lágrima que ainda estava caindo. Eles trocam um beijo delicado, e Amélia pergunta: - Está com fome? - Estou... doido por uma legítima pasta italiana. - Andiamo! – ela diz, puxando o pela mão. Vitor a contém, retrucando: - Io non parlo italiano, donna... - Ma... tu stai parlando! - Que nada... – ele ri – só tem uma coisa que eu realmente sei “parlar” – ele olha bem nos olhos de Amélia – Io ti voglio bene, amore mio... Ela solta um suspiro apaixonado e murmura:

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- Tu sei l’amore della mia vita... - Eu sou o amor da sua vida, é isso? Amélia dá um grande sorriso: - Isso! - Ah, essa foi fácil... – Vitor brinca. - Bobo... ou melhor, “scemo”. Andiamo a mangiare... – ela vai puxando-o pela mão. - “Mangiare” eu sei, é comer – ele ri, enquanto deixam o quarto. Após o almoço, Amélia leva Vitor para conhecer vários museus e igrejas de Florença, como o Duomo de Santa Maria dei Fiori, a Galleria degli Uffizi, Palazzo Strozzi e o Palazzo Vechio. Ao passarem pela Ponte Vecchio, sobre o rio Arno, Amélia chama a atenção de Vitor para os vários cadeados colocados na estrutura dela: - Os casais vinham colocar esses cadeados aqui. Existia uma tradição de que ao trancar o cadeado e lançar a chave ao rio, os amantes tornavam-se eternamente ligados. - Onde eu arrumo um cadeado, agora? – diz Vitor, em tom maroto. Ela ri antes de responder: - Como tinha muitos turistas colocando cadeados, a remoção estava estragando a estrutura da ponte. Por isso, hoje há multa para quem é flagrado fazendo isso... - Quanto? - Cinquenta euros. - Ah, mas o que são cinquenta euros perto de uma vida toda ao lado da mulher que eu amo? – ele retruca. Amélia acha graça e devolve: - Nós dois não precisamos de cadeado nenhum... já estamos eternamente ligados – ela passa os braços em torno do pescoço dele. - Estamos – concorda Vitor, aproximando os lábios. Eles trocam um beijo demorado ali mesmo, no meio da ponte, e seguem o passeio. Trilha Sonora: Amare Veramente – Laura Pausini http://www.youtube.com/watch?v=tOfjDd-nQ9c Ainda na ponte, Amélia pára e comenta: - Escuta, essa música... - O que tem ela? - Ela diz muito do que sinto por você. Esse trecho, vou traduzir: “Tudo passa rapidamente ao nosso redor Você pertence a mim agora e eu sei Antes eu tinha o coração adormecido para Amar verdadeiramente” - Nossa... – Vitor balbucia, impressionado. - Espera, tem mais: “Você está em minha vida mais do que nunca Além do muro dos meus silêncios Um suspiro de serenidade

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O amanhecer de uma nova liberdade” - Eu represento tudo isso pra você? – ele pergunta, ficando emocionado. Amélia olha bem nos olhos dele e aponta na direção do som, traduzindo o trecho final: “O que eu nunca entendi Está agora tão claro a meus olhos Você sabe amar de verdade, e você sabe Chegar onde nenhum outro jamais esteve.” Vitor e Amélia se olham, ambos com os olhos marejados, e ao mesmo tempo se juntam em um abraço bem forte, até que os lábios vão se procurando. E eles se beijam de um jeito cheio de amor. - Te amo, te amo... – sussurra Vitor. - Também te amo... – devolve Amélia, também sussurando. Vitor respira fundo, tentando voltar ao normal: - Ai... como você me faz ficar emocionado desse jeito em público? – ele brinca, enxugando uma lágrima do canto do olho. - Não se preocupa... nós estamos na Itália, aqui as emoções ficam à flor da pele. Ninguém vai reparar – ela responde com doçura, sorrindo. - É verdade... você e eu aqui, juntos e felizes - Vitor sorri também – E o que mais você vai me mostrar nessa cidade linda? - Mais palácios e galerias. Ah, e também a Piazzale Michelangelo!

- Então vamos em frente, amore mio... – ele caminha, segurando a mão de Amélia com os dedos entrelaçados. III Logo depois de sair da ponte, eles se deparam com o Palazzo Pitti. - Olha, Vitor, que bonito! – exclama Amélia.

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- É mesmo – ele a abraça por trás, e ficam alguns instantes assim, em silêncio e abraçados, contemplando o palácio – A gente deveria morar num lugar assim... - Um palácio? – ela fica curiosa. - Sim. Você é uma rainha, merece nada menos do que um palácio. - Ah, Vitor... – murmura Amélia, achando aquilo muito fofo. Vitor sorri, lembrando de algo: - E além disso, eu prometi pro Fred que ia tratar você como uma rainha, sabia? - Sério? - Sério. Foi no dia em que ele contou pra Manu sobre nós. Eu disse que não sabia como retribuir o apoio e a confiança deles. E o seu filho nem hesitou – ele imita a voz de Fred – “Eu sei como: tratando a dona Amélia como ela merece, como uma rainha!” - Que bonitinho! – ela exclama, tentando olhar para Vitor. - Mas nem precisava ele dizer isso, né? – Vitor vira Amélia para ele e diz chegando bem perto dos lábios dela – Minha rainha... Ele nem a deixa responder e já cola seus lábios aos dela. Depois de um beijo carinhoso, Amélia diz: - Vamos entrar no palácio? Quero lhe mostrar a Galeria Palatina, cheia de obras renascentistas. Tem vários museus lá dentro também. - E eu consigo dizer não pra você? – ele retruca. Ela ri e puxa Vitor pela mão. Eles passam o restante da tarde vendo as obras da Galeria Palatina e dos muses da Prata e da Porcelana. Saem do palácio já à noite. Trilha sonora: Amo Te – Biagio Antonacci http://www.youtube.com/watch?v=FuPd01DfeeA&feature=related Ao chegarem de volta ao quarto do hotel, Vitor se joga na cama: - Nossa, acho que nunca caminhei tanto! - Exagerado... - Amélia, você quis me mostrar Florença toda num dia! Ela ri: - Ih, tem muito pra ver ainda... em muitos lugares a gente nem entrou. - Ainda bem que a gente não vai ficar muitos dias aqui – ele brinca - Logo vamos para Veneza, depois Milão... - Vitor, como nós já estamos na Itália, podemos passar em Roma também? No Vaticano... pedir uma benção do papa. Vitor senta na cama: - Se você quer, nós vamos. - Quero, sim – ela responde, segurando a medalha de São Valentim. - Então, Roma já está no roteiro. - Obrigada, amor – Amélia atira um beijo e se afasta. - Onde você vai? - Tomar um banho – ela responde já quase na porta do banheiro. - Hummm – ele murmura, com um olhar malicioso – Será que... Amélia o chama fazendo um gesto com o dedo indicador. Vitor levanta e vai depressa até ela: - Ué, não estava cansado? – ela brinca. - Foi só pensar em tomar banho juntinho com você que o cansaço sumiu...

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Amélia ri, e entra no banheiro. Vitor abre o ziper do vestido dela, fazendo-o cair no chão. Depois vai cuidadosamente tirando a roupa íntima de Amélia, contemplando o corpo dela. Enquanto ela entra na banheira, ele tira rapidamente a própria roupa, e entra também, abraçando-a. Vitor passa as mãos pelo corpo de Amélia, esfregando a água misturada com sabonete líquido e sais. Começa massageando o pescoço e vai descendo, até chegar aos pés. Então Amélia aproveita e pega um dos pés dele, começando uma massagem. - Você caminhou muito hoje. Assim vai passar a dor nos pés – ela explica, trocando de pé e pressionando a sola com as pontas de seus dedos. Vitor fecha os olhos por alguns instantes, apenas curtindo aquela sensação. - Humm, isso é bom! Acho que eu vou querer uma massagem dessa todo dia... – ele brinca. - Ah, é? – Amélia ri e joga um pouco de água nele. - Não... eu quero muito mais que a massagem... – Vitor responde, vindo para cima dela até encaixarem seus corpos e seus lábios. O beijo vai ficando mais intenso e eles se amam ali na banheira. Depois Amélia fica aninhada nos braços de Vitor por algum tempo, até que pergunta: - Vitor, há quanto tempo estamos aqui dentro da água? - Que importa? - A gente esqueceu da vida aqui... – ela ri. - E estava tão bom... – ele retruca, com um sorriso travesso. - Estava – Amélia também sorri – Mas já é hora de sair. Ela se levanta e pega uma toalha. Vitor sai da banheira rapidamente e pega o roupão de Amélia, ajudando-a colocar. - Meu Deus, até isso você faz? – ela murmura, encantada. - É, estou tentando ser perfeito – ele brinca. - Bobo... Vitor também veste um roupão. Eles se recostam na cama, e de tão cansados acabam dormindo logo. No dia seguinte, Amélia leva Vitor até o Palazzo Vechio, do qual só tinham passado na frente. Desta vez eles entram para visitar os pátios e salas, com todas as suas obras de arte. Estão contemplando o primeiro pátio quando ouvem uma voz masculina: - Amélia? Os dois se viram e se deparam com um homem alto, de cabelos grisalhos, sorriso cativante, com aquele típico charme dos italianos. - Andrea! Há quanto tempo! – exclama Amélia, reconhecendo-o. - Amélia, é você mesma? Como pode estar ainda mais bonita do que a última vez que nos vimos? Vitor engole em seco, esperando pela resposta da esposa. IV Amélia segura no braço de Vitor e o apresenta: - Andrea, esse é meu marido, Vitor Vilar – ela olha para o marido – Vitor, o Andrea é um velho amigo, aqui de Florença. - Andrea Antonacci, muito prazer – o italiano estende a mão para Vitor, que aperta a mão dele, ainda meio inseguro.

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- Você mora aqui mesmo, em Florença? – pergunta Vitor, analisando o outro com o olhar. - Um pouco em Florença, um pouco em Milão. Tenho uma grife de moda masculina. - O Andrea era modelo também, na mesma época que eu. De vez em quando nos encontrávamos nos bastidores – lembra Amélia, sorrindo para o amigo. - É mesmo... – Andrea também sorri - você era a mais linda de todas, exuberante. Pena que logo parou de desfilar porque casou com um fazendeiro, não foi? - Foi... – ela fica com uma sombra no olhar - larguei tudo por causa do Max. Mas ele morreu tem algum tempo e eu refiz minha vida, casei novamente – ela olha para Vitor, voltando a sorrir – e estou mais feliz do que nunca. - Que bom, Amélia... Fico feliz por você. Eu já não tive a mesma sorte, já me separei duas vezes e estou sozinho há uns cinco anos. Às acho que nunca vou encontrar uma mulher que me deixe perdidamente apaixonado. - Logo você falando assim... as minhas colegas de passarela brigavam por causa do Andrea, sabia, Vitor? – revela Amélia. - Ah, nem tanto... – o italiano ri – Vocês vão ficar quanto tempo em Florença? Podíamos marcar um jantar. - Estamos em lua-de-mel pela Europa, daqui há dois dias já vamos para Roma, não é, amor? – Vitor apressa-se em explicar. - Sim – ela confirma – Mas isso não inviabiliza um jantar. - Amanhã, que tal? Vou levá-los para conhecer o melhor restaurante de Florença – convida Andrea. Amélia olha para Vitor de um jeito de quem pede para ele aceitar. - Está bem. Jantaremos amanhã – ele concorda, tenso. Após trocarem telefones, Andrea se afasta. Trilha sonora: Vivimi – Laura Pausini http://www.youtube.com/watch?v=e1VDNwYg990 Vitor fica calado por alguns instantes, como se estivesse digerindo tudo que ouviu. - Amor... algum problema? – pergunta Amélia, preocupada. - Você e esse Andrea... já tiveram alguma coisa além de amizade? – ele questiona, bastante incomodado. Amélia começa a rir: - Vitor, você ficou com ciúme? – ela continua rindo – Nunca tive nada com o Andrea... e mesmo se tivesse acontecido um namoro, algo assim, teria sido muito antes de te conhecer. - Sei lá, o jeito que olhou pra você, que falou da sua beleza... não gostei, ele parecia que estava cobiçando a minha mulher – Vitor dá enfase ao “minha”. - Mesmo se estivesse, eu não daria importância. – Amélia olha nos olhos dele – É você que eu amo, ouviu? - Eu sei, meu amor, desculpa... – ele a olha com arrependimento – Mas assim como você às vezes pensa que eu possa querer uma mulher mais jovem, da minha idade, eu também fico inseguro de vez em quando, pensando que de repente você pode me achar muito imaturo e querer um homem com mais maturidade, experiência de vida...

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- Nunca mais pense isso... Como eu poderia não te querer mais? Só se eu fosse muito burra. Eu já tenho o melhor homem do mundo ao meu lado. - Você pensa isso mesmo? – ele devolve com um sorriso emocionado. - O que mais eu preciso fazer pra te convencer? - Nada. Só me beija – ele toma Amélia nos braços e beija seus lábios com paixão. Amélia e Vitor passeiam por todas as salas do palácio, depois almoçam num restaurante ali perto e seguem para outros museus e galerias. No outro dia, eles visitam o centro histórico e mais obras de arte. Ao retornarem ao hotel, no final da tarde, recebem da recepcionista um recado deixado por Andrea, avisando que o jantar teria que ser cancelado, porque ele precisara ir para Milão às pressas. - Ah, que pena... – murmura Amélia. - Eu não acho – retruca Vitor, segurando-se para não rir. - É, eu imagino que você tenha gostado da notícia – ela devolve com leve ironia – Mas quem sabe a gente consegue jantar com o Andrea em Milão? - Tá bem interessada em jantar com esse cara, né? – Vitor não consegue disfarçar o ciúme. Amélia ri: - Não... prefiro jantar com você – ela diz, passando os braços em torno do pescoço dele – Mas eu adoraria poder conversar mais um pouco com meu amigo Andrea... Tenso, Vitor questiona: - Você acha que ele é mais bonito do que eu? - Desde quando você ficou tão inseguro? – devolve Amélia, sem perder a calma. - Não sei... me responde, por favor... – ele implora. - No quarto eu respondo. Vamos – ela o conduz pela mão até o elevador. Eles sobem em silêncio, Vitor bastante ansioso. V

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Após entrarem no quarto, Amélia larga a bolsa num canto e se posiciona bem em frente a Vitor. Ela percorre o rosto dele com os dedos, enquanto vai falando: - Esses olhos profundamente verdes, esse nariz do tamanho exato, esses lábios tão bem desenhados... – ela passa os dedos em torno dos lábios dele, que tenta beijar os dedos dela. Amélia sorri e vai descendo as mãos: - Esses braços fortes, esse peito onde gosto tanto de repousar... – ela acaricia os bíceps e o peitoral de Vitor - Você é tão perfeito que me dá até medo. - Medo de quê? - De que um dia eu descubra que você não é real... – ela sorri. Vitor a puxa para seus braços e responde, sorrindo: - Eu sou real, sim... – ele a beija com intensidade, e vai conduzindo-a até a cama. Amélia desabotoa a camisa de Vitor ao mesmo tempo em que ele tira a blusa dela. Logo se livram das roupas que faltam e sentem seus corpos colados como se fossem se fundir. Vitor beija o pescoço e o colo de Amélia, enquanto suas mãos percorrem o corpo dela, que se entrega totalmente aos carinhos dele. Eles se amam sem pressa, curtindo intensamente cada sensação que provocam um no outro. Eles acordam tarde no dia seguinte, e tomam café no quarto, intercalando morangos e torradas com beijos. Depois arrumam as malas. À tarde, partem para Roma. Trilha sonora: Abbracciami – Nek http://www.youtube.com/watch?v=-iUWn05NFlA&feature=related Já na capital italiana, à caminho do hotel, eles passam em frente à Fontana de Trevi. Amélia grita para o taxista: - Pare, per favore! - Que foi, Amélia? – pergunta Vitor. - Vamos parar aqui um instante – ela se dirige ao taxista – Aspetta un attimo (Espera um momento)? O homem confirma com a cabeça. Amélia desce do carro, seguida por Vitor. - Essa é a Fontana de Trevi. - Sei, já ouvi falar – ele fica pensativo, observando a fonte – Acho que já estive aqui... deve ter sido com meus pais, quando era pequeno. Minha mãe era bastante religiosa, e uma vez meu pai a presenteou com uma viagem a Roma. A única coisa que eu me lembro daquela viagem é de minha mãe chorando de emoção ao ver o papa João Paulo II. - É? Você nunca me contou isso – comenta Amélia, comovida. - Minha mãe rezava tanto, e morreu tão cedo... cheguei a me revoltar contra Deus, na época. Perdi a fé, sabe? Eu procurei esquecer tudo que tivesse a ver com religião. Com o tempo eu fui me reaproximando de novo da igreja... mas ainda guardo uma desconfiança, sabe? - Vitor... – ela o abraça com carinho, e acaricia os cabelos dele.

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- Talvez não seja por acaso que você me fez vir a Roma... e vai me levar ao Vaticano. Será que eu consigo fazer as pazes com Deus? – Vitor questiona com um sorriso meio triste. - Eu te ajudo – Amélia garante, acarinhando o rosto dele. Vitor abraça a esposa com força, e fica abraçado a ela por alguns instantes, em silêncio, até que ao levantar os olhos vê o táxi parado. - O taxista está esperando, meu amor. - Já vamos, só me consegue uma moeda, antes? Vitor encontra apenas duas moedas na carteira, e mostra para Amélia. - Só precisamos de duas, mesmo... – ela sorri, pega uma das moedas da mão dele, e ensina – Agora a gente vira de costas para a fonte, e joga a moeda. Eles se posicionam e jogam as moedas na fonte. - Pronto, garantimos nossa volta a Roma – ela sorri, e puxa Vitor pela mão – Vem aqui, agora... Amélia o leva até uma parte especial da Fontana di Trevi: - Essa é a Fontanina degli Innamorati, ou Fontezinha dos Apaixonados. Reza a lenda que os namorados que beberem juntos dessa fonte se amarão para sempre. - Mas eu vou te amar pra sempre de qualquer jeito... – alega Vitor, com um olhar apaixonado. - Eu também... – ela retribui o olhar – Mas quero cumprir essa tradição com você. Vitor sorri, e os dois se aproximam mais da Fontanina, bebem juntos de sua água, e selam o amor eterno com um beijo. - Será que o taxista ainda está nos esperando ou já desistiu? – Amélia ri. - Espero que não – Vitor também ri. - Tomara, porque ele está com nossas malas! – ela lembra, e corre para o táxi, puxando Vitor pela mão. O taxista continuava à espera, pacientemente. - Scusa, signore, mi sono distratta nella Fontana. (Desculpa, senhor, nos distraímos na Fontana) – diz Amélia, enquanto entram no carro. - Tutto bene. La Fontana é magica per due innamorati. - É vero – concorda Vitor, se esforçando para falar com a entonação bem correta, o que provoca risos em Amélia. - Falei errado? – ele pergunta, preocupa. - Não, você está aprendendo direitinho. - Eu tenho uma boa professora – Vitor dá uma piscadinha para ela. Amélia sorri e acaricia o rosto dele, depois deita a cabeça em seu ombro, ficando assim até chegarem ao hotel. Depois de se acomodarem no quarto, Amélia avisa que vai descansar um pouco. - Enquanto isso, eu vou resolver umas coisas, tutto bene, amore mio? – ele devolve, dando um beijo carinhoso nos lábios dela. Amélia sorri: - Você fica tão lindo falando em italiano... - Allora io voglio aprendere a parlare solo per te. Acertei? - Quase. Não se diz aprendere, se diz imparare – ela explica, recostando-se na cama – Aprendere não está errado, mas é melhor imparare. Vitor sorri e dá mais um beijo em Amélia, dizendo:

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- Ritorno subito, amore mio, razão della mia vita... Amélia fica repousando enquanto Vitor sai um pouco. VI Quando ele volta, ela está penteando os cabelos diante do espelho. Vitor a abraça por trás e lhe dá um beijo no rosto. - Eu consegui – ele avisa. - O quê? – ela se vira, curiosa. - Uma audiência com o papa. Amanhã, no começo da tarde, Sua Santidade vai nos abençoar. Amélia fica alguns instantes apenas olhando para Vitor, com os olhos marejados. - Como você conseguiu isso assim tão fácil? – ela finalmente questiona. - Você não conhece meu poder de convencimento? – ele retruca, brincando. - Conheço muito bem – ela ri, depois fica contemplando-o emocionada novamente – Uma benção do papa... Sabe, uma vez estive em aqui em Roma com o Max, e queria tanto essa benção... mas ele disse que era frescura, que o papa era um padre como qualquer outro, acredita? - Bem típico do Max menosprezar os desejos das outras pessoas... Mas não vamos mais falar dele, né? - É, não vamos estragar esse momento tão lindo lembrando daquele... Ah, Vitor... – ela passa os braços em torno do pescoço dele – Nosso amor será abençoado pelo papa! Vitor acaricia o rosto dela, contemplando o brilho nos olhos de Amélia.

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- Nosso amor já é abençoado... mas o que é importante pra você, é importante pra mim também – ele afirma, beijando-a carinhosamente. Depois de alguns beijos, Vitor pega uma sacola que tinha trazido na rua e largara no chão ao entrar no quarto: - Ah, no caminho de volta eu passei diante de uma loja e resolvi comprar um presente pra você... pra usar hoje à noite. Amélia tira de dentro da sacola um lindo vestido verde escuro, de tecido fluido, com decote em v, cavas profundas, e uma faixa de cetim na cintura, arrematada por um laço. - Vitor... – ela murmura, impressionada – Pra que isso? - Vamos sair para um jantar bem romântico, só nós dois – ele enfatiza o “só nós dois”. Amélia ri, entendendo a indireta: - Nós não vamos encontrar o Andrea aqui em Roma. - Acho bom – devolve Vitor, tentando conter o ciúme. Amélia se olha no espelho com o vestido diante do corpo, depois o coloca sobre a cama e avisa que vai tomar um banho. Depois é a vez de Vitor. Enquanto ele se lava, ela faz a maquiagem, marcando bem os olhos com delineador. Ajeita os cabelos em um coque meio soltinho, finalizado com uma delicada presilha de capim-dourado, criação sua. Só então coloca o vestido e chama Vitor para ajuda-la a fechar o zíper. Ele se aproxima, arrumando a gravata, num tom parecido com o do vestido de Amélia, mas um pouco mais claro. Enquanto fecha o zíper, Vitor aproveita para dar um beijo no pescoço dela. - Humm, que cheiro bom... Acho que vou abrir esse vestido de novo e... - Agora não, amor... – ela responde com doçura, se afastando, colocando as sandálias e finalmente parando diante dele – E então, como estou? - Ma che bella donna! - ele exclama, maravilhado – Aceita a companhia deste humilde ragazzo? Sorrindo, Amélia encaixa seu braço no dele e saem para o jantar. No restaurante, Vitor pede um bom vinho e eles curtem o clima de romance. Trilha sonora: Amarti è L'immenso Per Me – Eros Ramazzotti http://www.youtube.com/watch?v=rSwmnKH9YGc O casal acorda cedo no dia seguinte. Amélia escolhe um vestido longo, de cor creme, com um casaquinho leve quase do mesmo tom, e sapatilhas marrons. Vitor coloca uma calça social quase da cor do vestido de Amélia, e uma camisa branca com camiseta por baixo. Eles saem cedo para passear pelos museus da Basílica de São Pedro. Na Capela Sistina, Vitor fica boquiaberto, contemplando os famosos afrescos de Michelangelo: - Como eu demorei tanto para ver isso de perto? – questiona, sem tirar os olhos do teto. - Talvez porque você tinha que vir comigo... – responde Amélia, sorrindo. Vitor olha para ela: - Com certeza. Eles ficam por alguns instantes paralisados, apenas trocando um olhar cheio de amor. Depois seguem observando os demais afrescos da capela.

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Quando se aproxima o horário da audiência, Vitor avisa: - Vamos, amor? Chegou a hora. - Vamos – ela confirma, soltando um suspiro de ansiedade. Eles caminham de mãos dadas para o local onde receberão a benção. Vitor sente um tremor na mão de Amélia. - Você está tremendo, Amélia? - Estou nervosa... Bobagem minha, né? - Não... este é um momento especial pra você, tem todo o direito de ficar nervosa – ele a tranquiliza. Com a mão que está solta, Amélia mexe na medalha de São Valentim pendurada em seu pescoço, e a ajeita bem no centro de seu colo. Depois faz Vitor parar por um instante e arruma também a medalha dele, que estava escondida sob a camiseta. - Vamos pedir para abençoar nossas medalhas também, para que essa proteção nunca nos falte. - Sim... – concorda Vitor, tentando não demonstrar, mas ansioso também. Diante do papa, ao receber a benção, Amélia deixa algumas lágrimas correrem por seu rosto. Vitor olha para ela e sente os olhos marejados, comovido por vê-la tão emocionada. - Vão em paz, e que Deus os acompanhe – conclui o Santo Padre. - Amém – dizem Amélia e Vitor, ao mesmo tempo. Eles saem de lá devagarinho, sentindo uma paz inexplicável. Só ao chegarem de volta ao pátio da Basílica, é que Amélia comenta: - Acho que foi um dos momentos mais bonitos da minha vida – ela olha nos olhos de Vitor – Obrigada por me proporcionar isso. - Eu é que tenho que agradecer muito a Deus por ter colocado você na minha vida, fazendo de mim um homem melhor. Hoje, aqui nesse lugar, tive certeza que foi obra divina nossos caminhos terem se cruzados. - Eu já tinha essa certeza... – Amélia sorri. Vitor acaricia os cabelos dela antes de continuar: - Já pensou, Amélia? Se você já não fizesse parte de mim, mesmo sem eu perceber, talvez eu tivesse sucumbido naquela mata, quando caí com o avião... Foi por você que eu busquei forças para sair daquela mata, foi você quem salvou minha vida... - Você também salvou a minha – ela devolve, deixando Vitor com um olhar surpreso: - Como? - Me devolvendo a alegria de viver. E me mostrando que eu ainda tinha muita coisa para fazer, para conhecer... – Amélia sorri. Vitor também sorri, e dá um delicado beijo nos lábios dela, depois conclui: - Tinha não... tem. Andiamo, amore mio, temos muito ainda que visitar em la bella Itália.

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VII Depois de mais um dia visitando pontos turísticos e históricos de Roma, como o Campidoglio e o Coliseu, Amélia e Vitor partem para Veneza. Eles chegam ainda de manhã, e saem para conhecer a cidade. Logo encontram a Basilica di San Marco, a mais famosa das igrejas de Veneza, construída em estilo bizantino, e ficam impressionados. - Nossa, nós estamos na Itália mesmo? – brinca Vitor. - Incrível, né? – Amélia ri. O casal passeia pela Piazza San Marco e visita o Palazzo Ducale. Na parte da tarde, chegam ao Palazzo Contarini del Bovolo, conhecido por sua escadaria de caracol no exterior. - Você quer subir, ver a vista lá de cima? – convida Vitor. - Vamos! – ela responde, animada, já puxando o amado pela mão e subindo os primeiros degraus. Eles sobem aos risos, como crianças desbravando um túnel secreto. Enfim alcançam a parte mais alta da escadaria. Vitor abraça Amélia por trás, e eles ficam contemplando a vista por longos minutos, em silêncio, como se o tempo tivesse parado. - Nós estamos em Veneza... – murmura Amélia. - Tá uma vendo uma gôndola, lá adiante? – aponta Vitor. - Sim! Ah, Vitor, vamos passear de gôndola? – ela pede de um jeito meigo. - Claro! Você acha mesmo que a gente viria para Veneza e deixaria de fazer um passeio romântico desses, de novela, de filme? – ele sorri. - Hum, então você já tinha planejado isso também? - Nosso passeio de gôndola está até marcado, combinei tudo por telefone e e-mail antes de virmos pra cá. Amanhã, nesse horário, estaremos no meio do Grande Canal. Amélia se vira para Vitor e olha nos olhos dele: - Você... me deixa sem palavras.

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Ele a enlaça pela cintura e responde: - Já ouviu dizer que o beijo é um artifício que a natureza inventou para quando as palavras se tornam supérfluas? Ela sorri, encantada, e Vitor a puxa para mais perto e beija seus lábios com intensidade. O casal fica namorando no alto da escadaria por algum tempo, até que outro par de turistas chega lá em cima. Só então Amélia e Vitor descem. Trilha sonora: Imbranato – Tiziano Ferro http://www.youtube.com/watch?v=RL8zMj5Xdd4&feature=related No dia seguinte, Vitor leva Amélia até o ponto de partida da gôndola. - Mas cadê o gondoleiro? Está atrasado? – ela questiona, ao ver a embarcação vazia. - Não, meu amor... depois de muito tentar eu consegui, em segredo, uma gôndola emprestada para passearmos sozinhos. Eu é que vou remar. - Mas você sabe controlar essa coisa? – pergunta Amélia, franzindo a testa. - Quê? Eu piloto avião, meu amor... uma gôndola é muito mais simples – ele responde, cheio de si. - Espero que você saiba o que está fazendo... – ela se contém para não rir. - Você não confia em mim? - Claro que eu confio, senão nem entraria nessa gôndola... Vitor ri, e estende a mão para ela: - Andiamo, bella donna... Ele ajuda Amélia a entrar na embarcação, depois assume seu lugar. Ele vai remando tranquilamente, e quando estão bem no meio do grande canal, comenta: - Viu? Não há o que temer. Ela sorri, e olha em volta, maravilhada. Vitor conduz a gôndola para um canal adjacente. - Olha, Vitor, a Ponte dos Suspiros! – exclama Amélia, ainda mais encantada. - Parece que estamos viajando no tempo, né? – ele devolve. - Ah... é muito bonito tudo isso – ela suspira. Logo Vitor traz a embarcação de volta para o Grande Canal. Ele troca olhares apaixonados com Amélia, até que se ergue e inclina um pouco para beijá-la rapidamente. - Cuidado, Vitor... – ela alerta. - Está tudo sob controle – ele garante – Só mais um beijinho... O beijo acaba ficando mais intenso, e sem perceber Vitor larga o remo. Ele logo se dá conta e tenta pegá-lo de volta, mas não dá tempo. O remo cai dentro da água e afunda. Vitor olha para Amélia com um sorriso amarelo, sem saber o que dizer. - E agora? Como vamos sair daqui? – ela pergunta, aflita. - Calma, eu vou ligar para o rapaz que me emprestou a gôndola – ele tenta parecer tranquilo, enquanto tira o celular do bolso. Ao olhar para o aparelho, faz uma careta – Sem sinal. - Ah, meu Deus... – Amélia fica ainda mais angustiada, depois olha para Vitor com um pouco de raiva, e comenta com ironia – É fácil controlar uma gôndola, né? - Foi um acidente... – ele balbucia com cara de cachorro que quebrou o pote. - Não, senhor, foi distração – ela retruca ainda irritada.

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- É, eu me distraí... com você – Vitor admite. - Ah, agora a culpa é minha? - Não... Tudo bem, eu fiz uma besteira. Mas não vamos brigar justamente agora? – ele devolve com olhar de súplica. Amélia respira fundo, tentando-se acalmar. - Está certo, não adianta discutir agora. Estamos à deriva, no meio do Grande Canal... o que vamos fazer? - Esperar. Daqui a pouco alguém vê que estamos à deriva, ou a gôndola vai parar junto da margem. - Ai, Vitor, por que você tinha que se meter a gondoleiro? – ela diz, quase com voz de choro. - Porque eu queria proporcionar um passeio único pra você. - É, e conseguiu – ela devolve meio irônica, e finalmente ri – Será realmente inesquecível. Vitor olha para Amélia meio de canto de olho, ainda envergonhado pelo que fez: - Já que vamos ter que esperar, não sabemos quanto tempo, melhor esperamos bem juntinhos, não acha? - Acho – ela sorri levemente, já quase sem raiva. Ele senta bem ao lado dela e a envolve em seus braços. Fica acariciando os cabelos e o rosto de Amélia, enquanto a gôndola desliza pela água. VIII Depois de algum tempo, a gôndola se aproxima da margem do canal. Vitor amarra a embarcação na primeira coisa possível que encontra, e suspira aliviado. - Vem, amor – ele estende a mão para ajudar Amélia a descer. - Tem certeza? – ela brinca, querendo rir. - E você tem escolha? Prefere ficar aí? – Vitor retruca, levemente irônico. - É, não tem outro jeito... – Amélia devolve, apertando os lábios, e finalmente aceita a ajuda de Vitor. Ela coloca um pé em terra firme, e quando tira o outro da gôndola, seu sapato cai dentro do canal.

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- Ah, não! – ela exclama, ajoelhando-se de na margem e olhando para a água. - Esquece, Amélia, ele já afundou – avisa Vitor, descendo da gôndola também. - E agora, vou ter que caminhar até o hotel com um pé só? Amélia e Vitor se olham e caem na gargalhada, sem conseguir parar de rir até quase perder o fôlego. Ela respira fundo e comenta: - Só me faltava mesmo perder um sapato, para coroar esse passeio atrapalhado... – e cai na risada de novo. - Atrapalhado sou eu... quis bancar o bonzão, o sabe-tudo, e quase provoco uma tragédia – ele ri de si mesmo. - Ah, não exagera... Acabou tudo bem. - É, acabou. Por falar nisso, preciso ligar para o dono da gôndola – Vitor confere o celular, vê que voltou o sinal e faz a ligação, explica onde estão. Depois, conta para Amélia - Ele está aqui perto, já vem. - Que bom. Estou louca para chegar ao hotel, tomar um bom banho e descansar. Em que situação você nos colocou, hein, Vitor? - Minha culpa, minha máxima culpa... já reconheci. Mas pensa por outro lado, essa história vai virar uma lenda na família – ele dá uma risada. - É verdade – Amélia recomeça a rir sem conseguir parar. - Já estou até vendo o quanto que a Mané vai me zoar por causa disso... – brinca Vitor. - Vai mesmo, gondoleiro trapalhão! Eles estão aos risos quando o dono da gôndola chega. Vitor acerta tudo com ele, dando um valor a mais pela perda do remo. E o próprio gondoleiro, numa embarcação a motor, os leva para o outro lado do canal, deixando-os próximo ao hotel. Amélia sai mancando, com um sapato só. - Não, meu amor, você não vai ficar andando assim – diz Vitor, pegando-a no colo. - Vitor, não precisa... – ela murmura, encantada. - Eu te levo. Nós estamos pertinho do hotel. Vitor carrega Amélia até a porta do elevador. Assim que ele a coloca no chão, ela lhe dá um suave beijo nos lábios. - Obrigada, você é verdadeiro cavalheiro... – ela comenta sorrindo. - Eu me esforço – ele ri. Amélia tira o outro sapato, e sobe descalça para o quarto, ainda rindo junto com Vitor de toda a situação daquela tarde. Ao entrarem no quarto, Amélia vai direto começar a encher a banheira. Vitor espia da porta do banheiro: - Vai tomar um banho demorado? - Eu preciso disso – ela responde. - Hum, então vou descer rapidinho, não demoro. Amélia se vira para perguntar aonde ele vai, mas Vitor já sumiu da porta. Ela termina de preparar a banheira e fica algum tempo na água, relaxando. Trilha sonora: Una Poesia Anche Per Te - Elisa http://www.youtube.com/watch?v=gKkL_WZ_ePk

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Amélia veste um roupão e volta para o quarto. No mesmo momento, Vitor chega da rua, trazendo um buquê de rosas vermelhas, cor-de-rosa e amarelas. Amélia fica vendo ele se aproximar, surpresa. - Para a mulher mais linda do mundo... – diz Vitor, entregando o buquê. - Que lindo! – ela murmura, contemplando as flores. - É o mínimo que eu podia fazer depois do que aprontei hoje – ele justifica, com cara de menino arrependido. - Você fez tudo com boa intenção, só se atrapalhou um pouquinho – garante Amélia. - É, mas nunca mais vou querer bancar o gondoleiro, prometo. Ela ri e pega o cartão que está no meio das flores. Abre e lê o poema impresso: - Se avessi la possibilità di nascere e morire di nuovo, lo rifarei solamente per vivere la mia vita insieme a te, per rimediare ad ogni mio errore, per cucire ogni tua ferita, e per cancellare ogni tua sofferenza in modo tale che il mondo possa conoscere solamente il tuo sorriso, che mi ha incendiato il cuore, come dal primo istante che ti ho visto! Amélia olha para Vitor, emocionada, e ele repete a mensagem, mas em português: - Se tivesse a possibilidade de nascer e morrer de novo, o faria somente pra viver minha vida junto a você, para remediar cada erro meu, para cicatrizar cada ferida tua e para apagar todo seu sofrimento, de tal modo que o mundo possa conhecer somente teu sorriso, que me incendiou o coração, como do primeiro instante que te vi! – Vitor solta um suspiro e explica – Fiquei tentando traduzir vários cartões, mas quando encontrei não tive dúvidas de que esse poema era o que eu queria te dizer. - Vitor... – murmura Amélia, se jogando nos braços dele e dando-lhe vários beijos nos lábios. Ele a beija com ardor. O beijo vai ficando mais intenso, até que Vitor desfaz o laço do roupão de Amélia e vai fazendo-o deslizar para o chão. Ele conduz Amélia para a cama ao mesmo tempo em que vai percorrendo o corpo dela com os lábios. Já deitados, Vitor começa a descer pelo colo dela com beijos, mas Amélia traz o rosto dele para junto do seu, juntando os lábios de um jeito

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ardente. Enquanto o beija, ela pressiona seu corpo contra o dele, desejando se juntarem como um só. Ele corresponde, e os dois se entregam àquele desejo, amando-se como se o tempo tivesse parado. Amélia e Vitor partem para Milão. Ao passarem pela Piazza del Duomo, Amélia olha em volta e comenta: - Olha, Vitor, a catedral de Milão... sabia que é a segunda maior igreja da Itália? Só fica atrás da Basílica de São Pedro. Mas Vitor não responde, está pensativo, olhando um cartaz que anuncia um grande show do cantor Andrea Bocelli. IX - Vitor? – insiste Amélia. - Hã? Que foi, amor? - Você ouviu o que eu falei, sobre a catedral? Vitor olha para Amélia e segura às mãos dela: - Desculpa, eu estava distraído... - Dessa vez eu perdoo – ela sorri de um jeito cúmplice – Mas agora olhe a catedral... Ele obedece, e fica boquiaberto: - Nossa... é incrível... - É mesmo... Vamos deixar as malas no hotel e depois voltar para conhecê-la por dentro? - Vamos, sim. Eles dão entrada no hotel e arrumam suas coisas no quarto. Amélia avisa: - Vitor, eu vi que tem um salão de beleza aqui. Preciso fazer minhas unhas, depois vamos para a catedral... pode ser? - Pode, claro. Enquanto você trata de ficar ainda mais linda, vou dar uma volta. - Aonde você vai? – ela pergunta, curiosa. - Depois você vai saber – ele responde com um sorriso enigmático.

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Trilha sonora: Nel Cuore Lei – Andrea Bocelli http://www.youtube.com/watch?v=d2JHOJH5vkY Quando Vitor volta, não acha Amélia no salão. Ele sobe ao quarto, e ao entrar já se depara com a amada penteando os cabelos diante do espelho. - Voltei, amore mio... – ele diz, abraçando-a por trás e dando-lhe um beijo no pescoço. Ela se vira para Vitor, sorrindo: - O que você foi aprontar agora? - Isso – ele entrega dois papéis a ela. Amélia lê quase sem acreditar: - Ingressos para o show do Andrea Bocelli no Teatro alla Scala? - Sim, para amanhã à noite. - Vitor... eu adoro o Bocelli! - Eu também gosto muito... principalmente de uma música, que parece inspirada no que sinto por você... chama “Nel Cuore Lei”. - “No Coração Dela”? - É... – Vitor se aproxima e canta baixinho no ouvido dela, enquanto dançam bem juntinhos: “Ti prenderà il cuore Ti vincerà Lei sarà la tua strada Che non puoi lasciare mai A lei Ti legherai finchè vivrai, a lei…” (Te prenderá ao coração Te vencerá Ela será a tua estrada Que não poderá deixar nunca A ela Te prenderá enquanto viver, a ela...) Amélia solta um suspiro, com os olhos marejados, e vai aproximando seus lábios dos de Vitor. Eles trocam um beijo demorado, antes de saírem para passear pela Piazza del Duomo. No restante da tarde, eles visitam a catedral e também a galeria Vittorio Emanuele II, do outro lado da praça. Voltando para o hotel, eles passam diante de uma grande loja de calçados. - Vamos entrar – avisa Vitor – quero te dar um sapato novo, para compensar aquele que você perdeu em Veneza. - Ah, Vitor... não precisa. - Eu faço questão. - Está bem – ela concorda, sorrindo. Eles entram na loja, e Amélia não consegue se decidir, pois havia muitos modelos lindos. Ela experimenta vários pares enquanto Vitor espera, tentando ser paciente. Por fim, Amélia fica indecisa entre três modelos. - Qual você prefere, Vitor? - Os três ficaram igualmente lindos. Também, né, o que não fica bonito em você? - Ah, me ajuda... não sei qual deles escolho.

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Vitor olha para os sapatos por um instante e depois diz para a vendedora: - Vamos levar os três. - Mas, Vitor... – murmura Amélia. Ele não a deixa terminar: - Aproveita que eu tô bonzinho... – ele ri, depois a olha de um jeito apaixonado – Você merece tudo que eu puder te dar. A vendedora quase solta um suspiro, comovida com a cena, mas se contém e pergunta: - Vão os três pares, mesmo? - Sim – confirma Vitor. - Então me acompanhem – ela avisa, conduzindo o casal para fazer o pagamento. Depois de acertarem tudo, Amélia vai pegar as sacolas, mas Vitor se antecipa: - Não, não, deixa que eu levo... Não é essa uma das funções do homem, carregar as sacolas? – ele brinca. - Bobo... Obrigada, viu? Mas sabe qual foi o presente mais valioso que já ganhei até hoje? - Qual? – ele olha para ela. Amélia responde olhando nos olhos dele: - Você. Vitor sorri, e eles trocam um rápido beijo, antes de saírem da loja, de mãos dadas. Chegando ao hotel, Amélia marca um horário no salão para o dia seguinte, para se arrumar para o show. - Vitor, nós vamos numa das maiores casas de ópera do mundo, assistir ao Andrea Bocelli, já pensou? - É, e isso nem estava na nossa programação inicial... Essa viagem tem sido ainda mais emocionante do que eu imaginei. Sabe, planejei tudo para que fosse uma lua-de-mel de sonho pra você... - E está sendo um sonho pra você também, né? – ela completa, passando os braços em torno do pescoço dele. - Está... amore mio... – ele confirma, colando seus lábios aos dela. X

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No outro dia, Amélia nem quer passear, de tanta expectativa. Passa a tarde escolhendo o vestido, os sapatos, as joias, depois vai para o salão arrumar o cabelo. Quando ela volta para o quarto, Vitor está no banho. Amélia confere o penteado e a maquiagem no espelho, satisfeita com o resultado. Coloca o vestido, longo e estampado discretamente em tons de branco, preto e cinza, e joga sobre os ombros uma estola leve de cor vermelha bem escura, quase marrom. Calça as sandálias de salto e põe os brincos, um anel e pulseira. Vitor sai do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e abre um grande sorriso ao ver Amélia toda arrumada: - Nossa, será que eu estou à altura de uma mulher dessas? - Você ainda está assim? – ela sorri. - Me apronto num minuto. Ele põe um terno escuro, com uma camisa cinza claro e gravata. Ajeita os cabelos com gel, deixando-os bem alinhados. - Que lindo... – comenta Amélia, admirando-o – Nem vi que você tinha colocado esse terno na mala. Depois do acidente, você só usa roupas claras... - Eu trouxe para alguma ocasião especial... como essa. Ela ajeita a gravata dele: - Acho que hoje sou eu que vou ficar com ciúme. Você vai ser o homem mais bonito da plateia, não tenho dúvida. - Então estamos quites, por que... ai, meu Deus, não queria nem pensar, mas vai ter muito homem virando o pescoço por sua causa... Precisava ficar tão linda, hein? – ele brinca. Amélia chega mais perto e toca no rosto dele: - Que olhem... porque eu só vou ver você. E o Andrea Bocelli, claro – ela ri. - Espero que a gente não encontre um outro Andrea por lá... – Vitor pensa alto. - Vitor... isso é bobagem sua – ela repreende com doçura. - Eu sei. Não está mais aqui quem falou – ele oferece o braço – Andiamo, amore mio? - Andiamo – responde Amélia, encaixando seu braço no dele. Trilha Sonora: Vivo Per Lei – Andrea Bocelli http://www.youtube.com/watch?v=DKa0wN31OD4 Eles chegam ao teatro e vão logo tomar seus lugares. O show começa, e Amélia e Vitor assistem emocionados. Quando Andrea Bocelli começa “Vivo Per Lei”, Vitor sussurra no ouvido de Amélia: - Essa também é dedicada a você... – ele canta junto um trecho, no ouvido dela: Vivo per lei perché mi da

Pausa e note in libertà

Ci fosse un'altra vita la vivo

La vivo per lei

(Vivo por ela porque me da

Pausas e notas em liberdade

Se tivesse outra vida eu a vivo

Eu vivo por ela)

Amélia aperta a mão dele, ainda mais emocionada.

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No intervalo entre uma música e outra, Amélia olha para Vitor, e os dois trocam

um rápido e delicado beijo. Logo Bocelli canta “Nel Cuore Lei”.

- Ah, essa música diz tudo... – Vitor sussurra de novo, cantando junto baixinho: E non c'è niente come lei E non c'è niente da capire E'tutta lì La sua grandezza In quella leggerezza Che solo lei ti dà (E não há nada como ela E não há nada para entender Está tudo ali A sua grandeza Naquela leveza Que só ela te dá). Amélia, com uma lágrima correndo pelo rosto, deita a cabeça no ombro de Vitor, e eles ficam assim o restante do show, bem juntinhos. - Ah, Vitor, foi maravilhoso! – exclama Amélia, quando chegam ao foyer do teatro. - Foi mesmo. Parecia que a gente estava em outra dimensão, né? A voz desse cara não parece desse mundo... - É... – ela sorri, com o olhar iluminado. Eles são interrompidos por uma voz: - Amélia e Vitor! Nos encontramos de novo... O casal se vira na direção da voz e vê Andrea Antonacci. - Andrea! – Amélia cumprimenta o amigo com um rápido abraço – Você estava no show também? - Claro! Acha que eu ia perder Bocelli no Scala? - Por que eu fui falar... – murmura Vitor, entredentes. - Tudo bem, Vitor? – cumprimenta o italiano. - Tudo. Estávamos comentando que o show foi incrível. - Foi mesmo – concorda Andrea, que para em silêncio por alguns instantes contemplando Amélia – Meu Deus... hoje você está especialmente linda. Com todo o respeito, Vitor. Vitor passa o braço em torno da cintura dela: - Está mesmo – ele diz, se esforçando para não ser hostil. - Assim eu fico sem graça... – comenta Amélia, tentando amenizar o clima tenso. - Não tive a intenção de constranger ninguém, me desculpem... - Tudo bem... né, Vitor? – pergunta Amélia. - Tudo – ele confirma, apertando os dentes. - Para me desculpar, convido vocês para um jantar... me acompanham? Vitor olha para Amélia e percebe que ela quer ir, mas está com receio de deixa-lo aborrecido. Então pega na mão dela: - Vamos, sim. Estamos devendo aquele jantar que ficou pendente em Florença, não é? – ele responde, tentando conter a vontade de ser irônico. - Que bom. Tem um restaurante ótimo bem aqui perto – devolve o italiano.

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Durante o jantar, Amélia e Andrea relembram várias histórias dos tempos de passarela, entre risos. Vitor sente-se deslocado, quase o tempo todo, mesmo que a esposa tente a todo o momento incluí-lo na conversa. Mas por consideração à Amélia, ele tenta ser simpático com o italiano. Quando retornam ao quarto do hotel, Amélia fica bem diante de Vitor e olha nos olhos dele: - Obrigada... por ter tentado ser compreensivo, passado por cima da sua insegurança... O Andrea é apenas um amigo querido, que eu fiquei anos sem encontrar, nada mais. Que bom que você entendeu isso. - Você está feliz, né? É isso que importa – ele afirma, acariciando os cabelos dela. Amélia sorri e beija os lábios dele, que corresponde com intensidade e depois a olha de um jeito malicioso: - Mas agora eu quero algo em troca... deixa eu tirar seu vestido? Ela devolve um olhar travesso e se vira de costas, para que Vitor abra o fecho do vestido. Ele beija a nuca de Amélia várias vezes, a fazendo arrepiar, e vai descendo até chegar ao vestido. Conforme abre a roupa, vai beijando o corpo dela. Ao terminar o fecho, faz o vestido deslizar para o chão e vira Amélia de frente para si, beijando-a com paixão. Enquanto se beijam, ela vai tirando a gravata dele e desabotoando a camisa. Vitor a pega no colo e leva até a cama, onde terminam de desfazer das roupas, se entregando completamente ao desejo. Depois se amarem, dormem abraçados. Na manhã seguinte, Vitor deixa uma bandeja de café da manhã no quarto e sai. Quando Amélia acorda e procura por ele, encontra um bilhete na bandeja: “Fui preparar a surpresa desta tarde. Te amo muito. Vitor.” XI Amélia suspira: - Surpresa da tarde? O que pode ser?

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Ansiosa, ela toma o café da manhã e começa a se arrumar. Escolhe um vestido com delicada estampa floral, longo e leve. Depois, penteia os cabelos, prendendo-os num rabo baixo com uma presilha de capim dourado. Faz uma maquiagem leve e coloca brincos e pulseiras também de capim dourado, da produção da Rurbana. Vitor chega quase na hora do almoço. Amélia está sentada sobre a cama, e levanta-se rápido ao vê-lo: - Vitor! - Buongiorno, amore... – ele se aproxima calmamente e dá um beijinho nela, depois a olha de cima a baixo – Está linda... Pronta para sair? - Não sei aonde a gente vai... – ela retruca. - Acho que este vestido está ótimo para o passeio que a gente vai fazer. As sapatilhas também, o ideal é um calçado confortável. - Ai, Vitor, para de me deixar curiosa! Ele ri: - Então, andiamo... Vitor leva Amélia até o Parque Sempione. Eles passeiam por seus bosques, lagos e alamedas, até chegarem num recanto meio afastado da área central. Na grama, à sombra de uma grande árvore, há uma grande toalha xadrez com pratinhos de diversos petiscos, como biscoitos salgados e doces, mini pão-de-queijo, pedacinhos de pão italiano, geleias, além de uma jarra de suco de uva e uma garrafa de vinho. E de um pequeno aparelho de som sai uma bela música. Trilha sonora: Il Regalo Più Grande – Tiziano Ferro http://www.youtube.com/watch?v=boK3pjUMNbE&playnext=1&list=PL47166BE43431FE61 Amélia fica por alguns instantes paralisada, admirando aquilo tudo. - Vitor... foi você que preparou tudo isso? – ela finalmente balbucia. - Não fiz sozinho, mas... foi ideia minha. - Eu amei – ela sorri – Um piquenique no Sempione... - É. Para encerrar em grande estilo nossa passagem pela Itália – ele completa. Vitor dispensa o rapaz que havia ficado cuidando do piquenique, e conduz Amélia para sentar num canto da toalha. - Tem até bombons, olha – ele mostra, pegando um bombom e levando até a boca de Amélia. Ela morde um pedaço, e Vitor come o restante, enquanto ficam com os olhos fixos um no outro. Depois Amélia analisa os quitutes: - Nossa, nem sei por onde começar... – ela acaba se decidindo por um pedaço de pão com geleia de morango. Vitor ajeita as duas taças à sua frente e abre a garrafa de vinho. Põe um pouquinho da bebida na própria taça e experimenta: - Humm... perfeito. Só então ele serve a ambos, e passa um das taças para a mão de Amélia, dizendo: - Vamos fazer um brinde... ao nosso amor, que não precisa de cadeados, fontes, nada disso, para ser eterno. - Ao nosso amor – confirma ela, tocando a taça dele com a sua.

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Após beberem um gole do vinho, eles trocam um beijo apaixonado. Amélia pega um pão-de-queijo e leva à boca de Vitor, que retribui. O casal fica algum tempo assim, dividindo aquele lanche e trocando carinhos. Depois de satisfeitos, Vitor se recosta no tronco da árvore, com Amélia nos braços dele. Ela solta um suspiro: - Tão bom ficar assim com você... - Vamos ficar assim pra sempre? Abraçadinhos, nesse lugar lindo... – ele ri, estreitando Amélia em seus braços. - Dá vontade, né? – ela sorri, se aconchegando no peito de Vitor. Eles ficam em silêncio, apenas curtindo a sensação daquele momento, até que Amélia se ergue e olha nos olhos dele: - Enquanto te esperava, no hotel, fiquei lendo um livro de poemas em italiano que comprei aquele outro dia, lembra? Teve um poema que li até decorar, porque parece que escreveram o que sinto por você: “Sei come una colomba bianca che, volando nel cielo più cupo, porta la luce. Quella stessa luce che ho trovato, per la prima volta, nei tuoi occhi dello stesso colore dell'oceano. Riempi il mio cuore sempre.” – Ela sorri e traduz – “Você é como uma pomba branca voando no céu escuro traz a luz. Essa mesma luz que eu encontrei, pela primeira vez, em seus olhos da mesma cor do oceano. Enche meu coração para sempre.”. - Nossa... – ele murmura, com os olhos marejados – Você também me trouxe luz, fez de mim um homem melhor... - E você, faz de mim uma mulher feliz, plenamente feliz, como nunca fui... Ambos emocionados, eles juntam os lábios em um beijo sem pressa, como se não existisse mais nada além do amor que os une. No outro dia, partem para Amsterdã. O primeiro passeio é ao museu Van Gogh, que reúne obras do pintor holandês. Ao chegarem diante do quadro “Os Girassóis”, Amélia comenta: - Como será que estão todos lá em Girassol? Que saudade dos meus filhos... Vitor a abraça por trás e responde: - Antes de voltar à vida “normal”, prometo que vamos passar uns dias em Girassol. Também estou com saudade dos meus enteadinhos... – ele ri – e da

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Terê, da Lurdinha... de todo o pessoal. Mas essa tela lembra muito a estância, né? - É mesmo. O Solano tinha até uma cópia desse quadro na sala. - Tinha, é verdade! - Mas agora vamos voltar para a Holanda? Ainda temos muita coisa para ver. Depois de Van Gogh, quero ir ao Stedelijk Museum ver Picasso, Monet, Chagall, Matisse... que acha? - Você estudou todos os guias turísticos, é? – ela ri. - Fiz a lição de casa direitinho... – Vitor também dá uma risada. Enquanto caminham pelos corredores do museu, ele comenta: - E amanhã, você se prepare... nós vamos num dos lugares mais bonitos da Holanda. XII Vitor acorda Amélia com beijinhos no rosto. Ela abre os olhos e sorri: - Oi, amor... - Hora de acordar... – ele dá um beijo nos lábios dela. - Tão cedo? - Precisamos sair cedo para aproveitar melhor o passeio. - Está bem – ela concorda, sentando na cama e se espreguiçando. Vitor contempla a cena, achando lindo o jeito de Amélia se espreguiçar. Ela levanta e escolhe um vestido branco longo de malha, com um colete de crochê por cima, também branco. Ele se troca também, vestindo calça cinza e camisa gelo. Amélia termina de se arrumar e eles descem para tomar o café-da-manhã antes de sair.

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Depois, Vitor leva Amélia aos campos de tulipas de Keukenhof. Eles andam entre os canteiros, maravilhados com as flores de diversas cores. Trilha sonora: Angel of mine – Evanescence http://www.youtube.com/watch?v=e7fVuAetyBQ&feature=related De repente, Vitor para e fica observando Amélia, que caminha próximo às tulipas. Ela logo percebe a ausência dele ao seu lado e vira para trás: - Vitor? O que houve? – pergunta Amélia, fazendo menção de voltar para junto dele. Ele sinaliza com mão para que ela pare onde está: - Fique aí. Estava te olhando... Você, com este vestido branco, os cabelos voando com o vento, em meio a essas flores todas... você está parecendo um anjo – ele se aproxima de Amélia, emocionado – O meu anjo... Ela sorri, ficando emocionada também. Vitor chega mais perto e toca o rosto dela, acariciando levemente como se tocasse uma pétala de rosa. Ele olha para os lábios dela e devagarinho vai aproximando os seus, num beijo delicado. Depois Vitor pega Amélia pela mão e eles continuam passeando pelos campos de tulipas, parando de vez em quando para tirar fotos. Ela posa entre as flores e Vitor maneja câmera, encantado com a combinação da beleza de Amélia e das tulipas. No final da tarde, quando estão caminhando pelas ruas de Amsterdã de volta ao hotel, eles passam em frente ao Museu do Sexo. Ao ler o nome na fachada, Vitor se empolga: - Olha isso, um museu do sexo! Vamos entrar Amélia? - Ai, Vitor, não... – ela olha para baixo, encabulada. Ele dá uma gostosa risada: - Você está com vergonha? Deixa disso, vamos só ver o que tem aí dentro... - Esse é o problema. Sabe lá o que a gente vai encontrar? - Nada de mais, ora... Sexo é algo que todo mundo faz. Tá, quase todo mundo. Vamos lá, quero conhecer! – ele tenta convencê-la. - Não sei... – Amélia hesita. - Por favor... – Vitor pede de um jeito que ela não consegue recusar. Ao entrarem, se deparam com estátuas, objetos e imagens relacionados ao tema sexo. Algumas peças fazem Amélia tapar os olhos, constrangida: - Que é isso, Vitor... - Ah, você não conhece? – ele retruca aos risos. - Para, seu bobo! – ela se contém para não rir também, mas mais de nervoso do que por achar engraçado. Depois de olharem mais alguns corredores, Amélia implora: - Chega, Vitor... vamos embora. - Eu achei bem divertido – ele continua rindo do jeito dela. - Pra mim é estranho ver essas coisas... – ela argumenta. - Está bem, vamos – Vitor tenta controlar as risadas. Ao chegarem no quarto, Amélia vai tomar um banho, depois Vitor faz o mesmo. Ela está sentada cama, de roupão, terminando de passar creme no corpo,

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quando ele se aproxima, recém-saído do chuveiro, com o corpo ainda úmido e uma toalha enrolada na cintura. - Aquele museu me deixou inspirado... – Vitor comenta, olhando para Amélia com desejo. - Até parece que você precisa de alguma coisa para se inspirar... – ela retruca, devolvendo o olhar. - Não preciso mesmo... é só olhar para você... – ele se inclina sobre Amélia e passa os dedos no pescoço dela, descendo até o colo – sentir essa pele macia... – ele olha nos olhos dela e depois para os lábios, com a respiração já ofegante – esses lábios... Vitor cola seus lábios aos de Amélia e vai se debruçando sobre ela, fazendo-a deitar na cama, onde se amam até, exaustos, pegarem no sono. Algumas horas depois, já tarde da noite, Vitor acorda com fome. Amélia continua dormindo, tão tranquila que ele decide não acordá-la. Veste uma roupa simples e sai, voltando pouco tempo depois com sacolas. Amélia desperta quando ele fecha a porta, percebe que Vitor não está ao seu lado e ergue um pouco o corpo, vendo-o se aproximar com as sacolas: - Vitor? Você saiu? - Fui comprar alguma coisa para a gente comer aqui na cama mesmo... Já está muito tarde para pedir um jantar. Mas acordei com fome... - É, agora que você falou, também senti uma fominha... - Trouxe sanduíches, frutas secas, e um vinho – ele explica, se ajeitando na cama e tirando as compras da sacola. - Vinho? - Sim... é tão gostoso tomar vinho a dois... Onde estão aquelas taças personalizadas que a gente comprou em Milão? - Na minha mala. Vitor pega as taças e volta para cama, servindo o vinho. Enquanto fazem o lanche, ele comenta: - Amanhã, eu sugiro que você use uma daquelas suas calças de montaria. Você fica linda nelas, realça seu corpo. - Por quê? O passeio de amanhã não dá pra fazer de vestido? - Acho que não. Ainda mais com esses seus vestidos compridos... pode ser perigoso. - Perigoso por quê? - Você já está querendo saber demais... espere até amanhã – ele conclui com um sorriso travesso, e antes que ela pergunte mais alguma coisa, ocupa os lábios dela com mais um beijo. XIII

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Ao saírem do hotel, no dia seguinte, Vitor sorri ao ver o céu azul e o sol iluminando tudo: - O dia está perfeito! - Pra quê? – questiona Amélia, ansiosa, e vestida como ele recomendara, de calças. - Você já vai saber. Chegando ao Vondelpark, Vitor pede que Amélia espere um instante. Logo volta trazendo duas bicicletas: - Olha o que aluguei para nós... - Então é isso, nós vamos pedalar? – ela diz, sorrindo. - Você não disse uma vez que gosta de andar de bike? Não tem lugar melhor para fazer isso do que Amsterdã. - Pois é, até de bicicleta eu fugi pra te ver... – ela ri. - Mas valeu a pena, né? - Valeu. Aquele dia... aquela noite foi tão linda e também tão horrível. Quando vi você caído no chão, ensanguentado, tive tanto medo de te perder... – lembra Amélia, franzindo a testa. Vitor acaricia o rosto dela: - Não pensa mais nisso. Eu sobrevivi. - Graças ao Dr. Gabriel... - E ao seu amor. Foi por você que eu lutei para continuar vivo. - Que bom... não sei se eu teria suportado ficar sem você, ainda mais sabendo que teria por culpa daquele... monstro. Ele olha nos olhos de Amélia: - Você nunca vai me perder, ouviu? Agora vamos esquecer tudo de ruim que a gente viveu, e curtir esse dia lindo, sentir o vento no rosto... enquanto conhecemos as belezas do Vondelpark. - Vamos lá, então – ela concorda, sentando no selim e se posicionando para partir. - Finalmente vou ver você andando de bike! – Vitor ri. - Você quer ver, é? – Amélia sai pedalando, e Vitor vai atrás. Trilha sonora: Love's Lookin' Good On You – Lady Antebellum http://www.youtube.com/watch?v=OMsZVxnSJqA Eles pedalam curtindo a visão das árvores, lagos e flores. De vez em quando, param para contemplar as obras de artes espalhadas ao longo do parque, como uma estátua de autoria de Pablo Picasso chamada em holandês de “De vis” (o peixe). Param também no coreto, que Amélia acha muito bonito e pede para tirarem fotos nele. Seguindo o passeio, Vitor quase se desequilibra da bicicleta ao fazer uma curva. Amélia ri tanto que precisa parar para recuperar o fôlego. Vitor, que já estava um pouco à frente, volta para junto dela: - Está rindo de mim, é? - Você quase caiu no meio do Voldenpark... desaprendeu a fazer curva, é? – ela continua rindo. - Admito, fazia bastante tempo que eu não pedalava, acho que perdi um pouco a prática. E eu prefiro percorrer outras curvas, se é que você me entende... – ele olha para Amélia de um jeito malicioso.

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- Vitor! Você não sossega nunca? - Não – ele retruca, ainda olhando para o corpo dela. - Ai... melhor voltarmos a pedalar. Vamos – ela parte novamente. Vitor a segue, mas logo diz: - Vamos descansar um pouco ali, ó – ele sugere, apontando uma árvore diante de um lindo lago. Amélia concorda com a cabeça. Eles largam as bicicletas na grama e se recostam na árvore, abraçados. Ficam em silêncio, ele acariciando os cabelos dela, até que Amélia aponta para a água: - Olha lá, os patos! Que bonitinhos... - Que é isso, parece que nunca viu pato... – ele ri do entusiasmo dela – Você não morava numa fazenda, não? - Chato... – ela acaba rindo também – Claro que tinha patos na fazenda, mas não bonitos, assim, nadando num lago... - É, lá eles iam pra panela... humm, agora me lembrei do pato ensopado que a Lurdinha faz... quando formos pra Girassol, vou pedir pra ela fazer pra mim. Amélia apenas ri, e Vitor continua: - Por falar em comida, você não está com fome? Já passou da hora do almoço. - Estou. - Então vem, tem um restaurante aqui no parque – ele avisa, ajudando-a a levantar. Após almoçarem, eles continuam pedalando pelo parque, parando de vez em quando para descansar, até ficarem exaustos. De volta ao hotel, tomam banho e se jogam na cama. - Não consigo mais mexer minhas pernas hoje – comenta Amélia. - Nem eu. Acho que pedalamos demais – Vitor ri. Eles se olham e caem na risada juntos. Amélia se aconchega nos braços de Vitor, e logo os dois estão dormindo, vencidos pelo cansaço. O casal parte para Madri. No primeiro dia, já visitam o Museo del Prado, vendo de perto obras como “As Meninas”, de Velásquez, além de telas de Rafael, El Greco, Rembrant... Ficam horas no museu, contemplando os quadros. Depois, Vitor deixa Amélia no hotel e avisa que vai sair por alguns instantes, prometendo voltar logo. - Só concordo porque meus pés estão doendo, senão ia com você – ela ressalta. - Aproveita para ficar quietinha... quero você bem descansada hoje à noite. - Ah, mais surpresas? - Claro. Deixa providenciar tudo, logo estou de volta – ele dá um delicado beijo nos lábios de Amélia, que fecha os olhos para repousar. Como prometido, Vitor retorna em pouco tempo, trazendo uma sacola. Amélia ainda está cochilando. Ele senta na beirada da cama e fica observando o sono dela, achando lindo. Amélia abre os olhos, e sorri ao vê-lo: - Vitor... – ela senta-se na cama – Dormi muito? - Não, acho que não demorei mais do que meia hora. Acabei de chegar. - É? Conseguiu arrumar tudo que você queria? - Consegui... a começar por isto – ele entrega a sacola para Amélia.

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XIV Ela tira de dentro da sacola um vestido de seda, rosa-chá, levemente plissado, longo e com decote profundo, com a cintura alta marcada por uma faixa da mesma cor. - É lindo! – ela murmura, ainda contemplando o vestido. - Vamos sair para jantar mais tarde. - E você comprou esse vestido só para eu usar no jantar? - Gosto de ver ainda mais linda... como se isso fosse possível, porque você é linda de todo jeito. Amélia sorri: - Vou tomar um banho, então, e começar a me preparar. Vitor a acompanha com o olhar até que ela entre no banheiro. Depois do banho, Amélia prende os cabelos em um coque baixo, bem alinhado, faz uma maquiagem ressaltando os olhos e finalmente coloca o vestido. Vitor, que havia entrado no banheiro logo que ela saiu, volta enxugando os cabelos com uma toalha e para ao vê-la já vestida: - Você está maravilhosa! E agora, como eu me visto para merecer acompanhar uma mulher tão linda? - Deixa que eu escolho sua roupa – ela responde sorrindo. Vitor coloca terno e gravata, e eles partem para o restaurante. Logo que se acomodam numa mesa, Vitor pede um vinho, e eles fazem um brinde, trocando olhares apaixonados. - Adorei esse lugar, com música ambiente... – comenta Amélia. - Tem espaço para dançar também, você viu? - É mesmo... – ela fica olhando para a pista de dança por alguns instantes. - Espera um pouco – ele se levanta e vai até o responsável pela aparelhagem de som, e pede uma música.

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Trilha sonora: Adoro – Alejandro Sanz e Chavela Vargas http://www.youtube.com/watch?v=YaqkIW2qn9M&feature=player_embedded Vitor retorna até a mesa e estende a mão para Amélia: - Me concede essa dança? Ela sorri e vai com ele para a pista, onde dançam de rosto colado, se deixando levar pelo ritmo da melodia. Vitor sussurra trechos da música no ouvido dela: “Y me muero por tenerte junto a mí, cerca, muy cerca de mí, no separarme de ti Y es que eres mi existencia, mi sentir, eres mi luna, eres mi sol, eres mi noche de amor Yo, yo te adoro, vida, vida mía...” Amélia escuta com os olhos fechados, como se estivesse sonhando. Quando a música termina, Vitor ainda sussurra, cantando: - Yo te adoro, vida mía... E finaliza beijando-a com cuidado, ali mesmo no meio da pista de dança. Eles se olham como se tivesse acabado de viver um momento mágico, e Amélia sorri de um jeito apaixonado. Depois Vitor a conduz de volta para a mesa, puxando a cadeira para que Amélia sente-se. Dá um beijo na mão dela e só então toma seu lugar de novo. - Quanto eu sonhei dançar assim com você, sem precisar se preocupar com nada... – ele comenta, contemplando-a. - É mesmo? – ela pergunta com doçura. - Naqueles tempos em Girassol, cada música romântica que eu ouvia, eu imaginava nós dois dançando de rosto colado, como fizemos agora. - Eu também imaginava... embora eu tivesse tantos problemas familiares naquela época que nem me restava muito tempo para sonhar... Vitor acaricia a mão dela sobre a mesa, e se inclina um pouco para a frente, baixando o tom de voz: - Teve uma noite que eu até chorei, sozinho no quarto. Foi quando ouvi essa música que acabamos de dançar... Você estava presa na fazenda, e eu ali, precisando tanto de você ao meu lado para continuar vivendo... Amélia aperta a mão dele: - Nunca mais nós vamos ficar separados, nunca... - Nunca mesmo. Eu não vou deixar você sair de perto de mim. “Eres mi luna, eres mi sol...” – Vitor cantarola novamente. Amélia olha fixamente para ele: - Te amo. - Te amo – ele retribui, beijando a mão dela outra vez – Vamos pedir agora? Já escolheu seu prato? - Você escolhe pra mim? – ela pede de um jeito meigo. - Ah, que responsabilidade... - Confio em você – assegura Amélia. Vitor sorri e faz o pedido, com pratos iguais para os dois. Após o jantar, enquanto voltam para o hotel, Vitor comenta: - Amanhã quero te levar no Real Jardim Botânico. Você, que gosta tanto de flores, vai adorar. Tem plantas do mundo todo, cerca de 5000 mil espécies de árvores, plantas e rosas coloridas.

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- Jura? – ela pergunta, boquiaberta – Mas nós vamos conseguir ver tudo num dia? - A gente vai duas vezes, então. Tem outro lugar que precisamos visitar, o Centro de Arte Reina Sofia. É lá que está a famosa “Guernica”, de Picasso. Eu já estive lá, e acho que fiquei uma meia hora só diante dessa tela, examinando cada detalhe, quase hipnotizado. - Ah, quero ver também! Quando eu vinha para a Europa, ficava mais entre a França e a Itália, quase não conheço nada da Espanha. - Já comigo era o contrário. Pouco conhecia da Itália, mas de Madri e Barcelona, modéstia à parte, eu entendo. Quase namorei uma espanhola, sabia? - Como assim? – Amélia questiona sem perder o sorriso. - Ih, faz muito tempo isso, acho que foi na primeira vez que vim pra cá, não tinha nem 20 anos ainda. Me apaixonei perdidamente por uma moça, aqui de Madri, inclusive. Mas ficamos juntos uma vez só, e já tive que voltar para o Brasil. Até trocamos telefones, mas acabamos perdendo totalmente o contato, nunca mais soube dela. - Ah... coisa do passado, então? - É, passado remoto. Meu presente agora é levar a mulher da minha vida aos lugares mais bonitos dessa cidade que eu adoro. Eles trocam um rápido beijo e continuam o caminho, abraçados. Amélia e Vitor passam os dias seguintes nesses passeios. No terceiro dia, eles estão chegando de volta ao hotel quando são abordados por uma bela moça de longos cabelos castanho-escuros. - Vitor e Amélia Vilar? XV Os dois se viram para a moça: - Sim? - São vocês mesmos? O casal da Rurbana? - Em carne e osso – brinca Vitor.

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- Eu vi vocês no catálogo... Amélia, suas peças são maravilhosas! Mas até hoje só pude comprar essas pulseiras – a espanhola ergue o braço, mostrando três pulseiras de capim dourado. - Obrigada. Logo nós vamos lançar uma nova coleção – agradece Amélia. A moça olha fixamente para Vitor, e fica por alguns instantes parecendo hipnotizada. Finalmente, diz, ainda paralisada: - Você é ainda mais bonito ao vivo do que nas fotos... Vitor baixa os olhos, constrangido. Amélia o abraça e olha com firmeza para a moça, esforçando-se para não ser hostil: - É, eu também acho. A espanhola se dá conta da gafe: - Ah, desculpa! Não queria causar nenhum constrangimento... é melhor eu ir embora. Adorei conhecer vocês pessoalmente – ela dá um sorriso amarelo e se afasta. Amélia a acompanha com um olhar nada amigável até que a moça suma da vista deles. Ao seu lado, Vitor aperta os lábios para não rir. Eles entram no hotel, e pegam o elevador, apenas os dois. Amélia ainda está com cara de raiva, e Vitor não se contém mais, cai na risada, quase chora de tanto rir. - Qual é a graça? – pergunta Amélia, ainda zangada. - Você está tão bonitinha, assim, com ciúme... – ele brinca, entre risos. - Aquela zinha estava te devorando com os olhos! – ela exclama, impaciente. - E daí? Ela não vai pôr mais do que os olhos em mim... Amélia se desarma: - É verdade, desculpa... sou uma boba, né? - A coitada ficou com medo do seu olhar fuzilante... – comenta Vitor, ainda se divertindo com a situação. Ela retruca com altivez: - Era para ficar mesmo... assim ela aprende a respeitar o meu homem. Ele muda de expressão, fica com a respiração quase suspensa: - Como, Amélia? O que eu sou? Repete pra mim... - O meu homem... só meu. Vitor puxa Amélia para os braços dele quase bruscamente e a beija com ardor. - Assim você me deixa louco... – murmura no ouvido dela, voltando em seguida a beijar-lhe os lábios cada vez com mais intensidade, ao mesmo tempo em que as mãos percorrem o corpo dela como se quisessem tirar-lhe a roupa ali mesmo. Amélia tenta reagir, mas não consegue, o desejo toma conta dela também. Trilha sonora: Fuego en el fuego – Eros Ramazzoti http://www.youtube.com/watch?v=V9zb5G5sidc O elevador para no andar deles, que continuam aos beijos quando a porta abre. Eles saem para o corredor sem se soltar. - Calma, Vitor! – ela sussurra, tentando afastá-lo até chegarem ao quarto. Ofegante, ele a pega nos braços e anda o mais rápido possível para o quarto. Mal tranca a porta e já a coloca no chão, tirando-lhe a blusa com pressa, e descendo com beijos pelo colo, enquanto empurra-a até a cama. Amélia também vai abrindo a camisa de Vitor, que termina de tirá-la sem abrir todos os botões. Eles vão deitando na cama de qualquer jeito, tomados por um desejo

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mais forte do nunca. E se amam intensamente, com urgência, como se tivessem ficado muito tempo longe do corpo um do outro e não soubessem quando estariam juntos de novo. Quando despertam do sono depois do amor, Vitor contempla Amélia ali ao seu lado e pede: - Diz de novo? - O quê? – ela se faz de desentendida, com um olhar travesso. - Você sabe... - ele retruca – Me chama do que você me chamou antes, vai... Amélia olha para ele como se estivesse pensando se ele merecia ou não, ainda com um jeito travesso. Morde o lábio e enfim, diz: - Meu homem... - Amélia... – ele murmura, trazendo para o mais perto possível de si e a beijando com paixão. Depois, olha nos olhos dela – Sou seu, sim... todo seu. Ela sorri, e ele continua, perguntando com ar de quem já sabe a resposta: - E você, é minha? - Você tem alguma dúvida? - Não... – ele afirma, juntando seus lábios aos dela novamente. Eles se deixam ficar na cama por mais algum tempo, trocando beijos e carícias, de um jeito mais ameno do que no início. Mais tarde, ainda na cama, eles conversam. - Aonde vamos amanhã? Ainda temos mais um dia em Madri, né? – pergunta Amélia. - Estava pensando em te levar no Parque de El Retiro. É o maior parque de Madri. A gente pode alugar um barco e passear pelo lago que tem lá... - Barco? Desde que você não queira conduzi-lo... – ela ri. - Ah, só porque eu deixei cair o remo da gôndola em Veneza? Mas uma coisa dessa não acontece duas vezes... – ele tenta argumentar. - Melhor não arriscar – ela continua rindo. - Está bem, você venceu. Sem barco, então. Se bem que, eu até preferia ter alguém remando por mim, assim eu posso concentrar toda a minha atenção em você! - Devia ter pensado assim em Veneza... – ela provoca. - Tá, eu sei que fui culpado, que deixei a gente à deriva no meio do canal... não precisa ficar me lembrando de disso – Vitor reage, um pouco chateado. - Estou brincando, amor... – Amélia se justifica, mas Vitor continua sério, parecendo incomodado. Então ela começa a dar beijinho pelo rosto dele, até que ele sorri e junta seus lábios aos dela. XVI

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Depois de passearem boa parte do dia pelo Parque de el Retiro, eles voltam ao hotel para arrumarem as malas, pois partem no final da tarde. Enquanto conferem se nada ficou esquecido no quarto do hotel, Vitor comenta: - Que pena que já estamos indo embora. Se a gente ficasse mais uns dias, podia ver as touradas na Plaza de Las Ventas, que começam amanhã. Amélia olha para ele, surpresa: - Não acredito que você gosta de touradas... não tem pena dos touros? - Amélia, eu sou dono de frigorífico... Se eu tivesse pena de boi, já tinha mudado de ramo, não acha? – ele retruca com calma. - É mesmo... mas é diferente, você não maltrata os bois por esporte. - Entendo. Também não gosto daquelas touradas em que espetam o touro por todo lado, o fazem sangrar... bonito é ver o toureiro manejando a capa vermelha, fazendo quase uma dança com o touro – Vitor explica com o olhar meio distante, de quem está relembrando cenas já vistas. - Acho que eu nunca vou compreender o prazer que algumas pessoas têm com esse tipo de espetáculo, desculpa – devolve Amélia, sem saber mais o que dizer. - Tudo bem, amor... – Vitor a abraça – É a sua forma de pensar, eu respeito. Além do mais, não vamos ver touradas mesmo... Barcelona nos espera. Trilha sonora: Por amarte – Enrique Iglesias http://www.youtube.com/watch?v=Sgs5_4clCpQ&feature=player_embedded Eles chegam a Barcelona à noite, e ficam descansando no hotel. No dia seguinte, logo cedo, Vitor leva Amélia para o porto da cidade. - É por aqui que você vai começar a conhecer Barcelona. Vamos subir na torre de Cristovão Colombo, tem um mirante lá em cima – ele explica. Quando alcançam o mirante, Vitor abraça Amélia por trás e diz: - Olha... daqui a gente tem um vista panorâmica do centro da cidade. Bem-vinda a Barcelona, meu amor... - É linda... Eles ficam algum tempo olhando a vista da cidade, abraçados. Depois vão descendo as escadas lentamente, enquanto Vitor avisa: - Saindo daqui, nós vamos subir o monte Montjuic. Lembra da Olimpíada de 92? - Lembro, sim. - O Montjuic foi a sede do Parque Olímpico. Lá também fica o Museu de Miró, você quer conhecer? Amélia para na escada e contém Vitor, passando os braços em torno do pescoço dele: - Quero conhecer tudo que você quiser me mostrar. - Ah, é? Tudo mesmo? – ele devolve com um sorriso malicioso. - Tudo – ela garante, aproximando seus lábios dos dele. Eles trocam um beijo apaixonado ali mesmo, no meio da escada. São interrompidos por um grupo de turistas que tenta subir ao mirante. Amélia e Vitor dão passagem e descem os degraus restantes aos risos, como um casal adolescente flagrado num beijo escondido.

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No dia seguinte, eles passam algumas horas no Museu Picasso, admirando as obras do grande pintor espanhol, dispostas em ordem cronológicas. Depois almoçam num dos restaurantes do Parc Guell e saem a caminhar pelo parque, que, como fica no alto de uma colina, proporciona uma bela vista da cidade. Vitor avista um banco e convida Amélia para sentarem um pouco. Após se acomodarem no banco, ela olha em volta: - Quem lugar bonito, né? Esses jardins... - É, a gente pode vir pra cá um dia fazer um catálogo da Rurbana. Embora eu ache que se a gente decidir mesmo fazer as fotos em Barcelona, o Parc de la Ciutadella pode ser um cenário ainda melhor. Diante da Fonte da Cascata! Vamos para o Ciutadella amanhã? - Vamos. Fiquei curiosa para conhecer essa fonte... Vitor fica pensativo por alguns instantes, olhando para Amélia: - Sabe o que lembrei agora? Daquele dia em que você e as meninas fotografaram para o primeiro catálogo. Fiquei te olhando de longe... doido para chegar mais perto. - Mas tinha um cão de guarda me vigiando... – ela recorda, com o olhar meio sombrio. - Não ia ter cão de guarda que me impedisse de ao menos te olhar naquele dia. Você estava tão linda! Tão linda... que naquela noite até sonhei que você chegou no meu quarto da estalagem vestida com a mesma roupa do ensaio, a maquiagem, o cabelo... Mas no sonho não era um aplique, eu desfiz o seu penteado e admirei os cabelos caindo por seus ombros, mergulhei no meio deles para beijar sua nuca... - Nossa... – murmura Amélia – Sabe que também sonhei com você naquela noite? No sonho, só havia nós dois, eu posando e você me fotografando. A cada clique você chegava mais perto, até dar um close nos meus lábios... Vitor a corta: - E aí larguei a câmera e te beijei, não foi? - Como você sabe? – ela ri. - Se você estivesse na minha frente, tão perto, eu não ia ficar só te fotografando, com certeza! – ele também ri. Ainda rindo, eles trocam um beijo. Mais tarde, os dois estão andando em direção à saída do parque quando uma moça que vem na direção contrária exclama: - Vitor?! O casal para, e Vitor olha para a moça, intrigado: - Desculpa, eu... - Você não está me reconhecendo? – ela interrompe, achando graça. Ele analisa atentamente o rosto dela, de traços fortes, adornado por cabelos castanhos muito lisos, na altura dos ombros. De repente, fica surpreso: - Penélope? É você? - Estou tão diferente assim? - Muito. Eu lembrava de uma menina com cabelos pela cintura, rosto de boneca... Amélia escuta a tudo com a respiração quase suspensa. - É, meus cabelos estão bem mais curtos – responde Penélope, rindo. - Você está muito bonita – ele devolve com educação. - Obrigada. Já você não mudou tanto, continua com o mesmo rostinho de anjo.

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- Ah, mudei sim, mais do que parece. Deixa eu te apresentar... – ele segura Amélia pela cintura – essa é Amélia, minha esposa. - Prazer, Penélope – a moça cumprimenta Amélia. - Lembra que te contei que quase namorei uma espanhola? Foi a Penélope. - Ah... – murmura Amélia, discretamente analisando a moça. XVII Vitor continua se explicando: - Você viu, nem a reconheci de cara... - É, percebi – responde Amélia, ainda meio desconfiada, mas tentando ser simpática. Ela se dirige à moça – Você está morando aqui em Barcelona? - Sim, me mudei faz alguns anos. E vocês, passeando? - Estamos viajando pela Europa em lua-de-mel, não é, Vitor? – ela olha para o marido. - Isso mesmo – ele devolve meio sem graça, percebendo que Amélia estava com um pouco de ciúme de Penélope. - Achei que vocês tinham vindo divulgar as peças da Rurbana. Elas fazem o maior sucesso aqui na Espanha, sabiam? Vitor sorri: - Está vendo, Amélia... não disse que a gente ia ganhar a Europa? Não é por ser minha esposa, não, mas você a melhor designer de joias do mundo! - Ai, Vitor, não exagera... – ela retruca meio encabulada. - Se posso dar a minha opinião, acho suas peças lindíssimas, Amélia – comenta Penélope, mostrando o brinco que está usando, da Rurbana – Uso muito esse brinco, sabia? - É mesmo? Obrigada... – Amélia fica ao mesmo tempo feliz pelo elogio e sem graça por ter sido quase hostil com a moça. Vitor fica olhando para a ex-namorada por alguns instantes, ainda surpreso por tê-la encontrado: - Penélope... há quanto tempo, né? - É, Vitor Vilar... faz anos que a gente perdeu o contato, aliás, que você não me ligou mais – ela acusa em tom de brincadeira. - Quando voltei para o Brasil tive que assumir o frigorífico do meu pai, e daí em diante minha vida foi só trabalho... – ele olha para a esposa - até conhecer a Amélia. Enquanto o casal troca um olhar apaixonado, Penélope os observa com admiração. Depois ela convida: - Vamos tomar um café e conversar mais um pouco? Tem um café muito bom aqui pertinho. - Vamos, sim! – Vitor se empolga – Quero saber mais de você, o que tem feito esses anos todos... - Então me acompanhem – Penélope sorri. Amélia segue Vitor, pensativa. Por mais que soubesse que não havia motivo para ciúme, sentia-se incomodada. No café, Vitor e Penélope recordam do curto namoro: - Lembra, Vitor, que nos conhecemos numa tourada? - Claro que eu lembro... vi você toda concentrada olhando os movimentos do toureiro, e não tirei mais os olhos de cima de você, esqueci completamente da arena.

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- Depois você tentou saber de mim através dos amigos que tinha feito em Madrid, não foi? - Eu quase subornei o Diego para que ele te levasse ao Real Jardim Botanico – Vitor dá uma risada. - Aquele que nós visitamos? – Amélia, sentindo-se deixada de lado, tenta entrar na conversa. - Aquele mesmo. Nós passeamos bastante por lá, sabia, Penélope? Achei o Jardim ainda mais bonito do que eu lembrava. - Imagino. Mas quando passamos uma tarde lá acho que você nem reparou muito nas flores... – a moça ri. - O Jardim eu tinha certeza que veria de novo. Já você... – retruca Vitor, rindo também. - Mas foi tudo como tinha de ser, não acha? Tínhamos que viver aquele momento, apenas aquele – pondera Penélope – É uma lembrança bonita que carrego da minha adolescência. - Eu também. Sempre lembrei com muito carinho de você. Se tivéssemos insistido numa relação à distância, poderíamos ter nos machucado, deixado marcas não tão boas um no outro – ele concorda. - É... espero que você seja muito feliz com a Amélia. Vocês formam um casal muito bonito – afirma a moça. Vitor olha para a esposa enquanto responde: - Eu já sou imensamente feliz, muito mais do que imaginei que pudesse ser. Amélia sorri para ele, lisonjeada. Penélope observa, achando lindo, e comenta: - Nossa, Amélia, não é qualquer homem que faz uma declaração dessas... - É, eu sou uma mulher de sorte – devolve Amélia, sem tirar os olhos de Vitor. - Bom, está na minha hora – avisa a moça – Felicidades pra vocês. Foi bom te ver, Vitor. - Também gostei de te encontrar, Penélope – ele retribui. Trilha sonora: La Unica - Juanes http://www.youtube.com/watch?v=8_sUuOx6MJU Depois que a moça vai embora, Vitor acerta a conta e sai do café com Amélia também. Eles caminham pela rua, abraçados, enquanto Vitor vai falando dos locais por onde passam. Amélia apenas escuta. Ele para e fica de frente para ela. - O que você tem, Amélia? Está tão calada... - Ah, Vitor, eu sei que é bobagem minha, mas... você ficou tão feliz em rever essa sua antiga namorada que eu cheguei a pensar que você tivesse se sentido balançado por ela – Amélia confessa meio constrangida, sem conseguir olhar para ele direito. - Não acredito que você pensou nisso, meu amor... – ele diz com ternura, e levanta o rosto dela – Olha pra mim... É você que eu amo e que vou amar pelo resto da minha vida. - Eu sei, me desculpa. Você me perdoa? - Perdoo, sim... mas quero um beijo. - Aqui, no meio da rua? - Aqui mesmo... vem cá – ele a puxa para seus braços, segura em sua nuca e a beija com paixão, depois desce os braços para a cintura dela, e ergue Amélia

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do chão, rodopiando com ela, que ri, feliz. Quando a coloca no chão de novo, Vitor a beija novamente e depois diz: - Sabia que a cada dia te amo mais? - É? Eu também – ela responde olhando nos olhos dele. - Então vem, chega de passeio por hoje. Vamos logo pro hotel – ele a puxa pela mão, fazendo Amélia correr com ele pela rua. XVIII Eles chegam ao hotel aos risos, e ofegantes. Ao entrarem no quarto, Amélia tranca a porta, e Vitor fica logo atrás dela. Quando ela se vira, ele coloca as duas mãos espalmadas sobre a porta, não deixando Amélia sair dali: - Você está presa – ele ri. - Ah, meu Deus... e agora, o que você vai fazer comigo? – ela responde, entrando na brincadeira. - Deixa ver... – Vitor chega mais perto, juntando seu corpo ao dela, pressionando-a contra a porta. Depois roça a barba no pescoço dela, fazendo Amélia arrepiar. Chega seus lábios perto dos dela, mas quando Amélia tenta beijá-lo, ele se afasta e sorri de um jeito malicioso – Não... ainda não - Ah... – ela reclama, devolvendo o olhar. Vitor se aproxima de novo dos lábios dela, mas em vez de beijá-la desce para o pescoço, que vai percorrendo com suaves beijos. Desce mais um pouco pelo colo, depois vai subindo pelo outro lado do pescoço, até chegar perto dos lábios. Afasta o rosto outra vez e contempla Amélia, sorrindo ao ver os olhos dela brilhando de desejo. Só então toca os lábios dela com os seus, primeiro de leve, depois ambos se entregam a um beijo intenso. Vitor vai recuando,

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trazendo Amélia junto, sem parar de beijá-la, até caírem sobre a cama. Sem pressa, vão tirando as roupas um do outro, sem pensar em mais nada além daquela vontade de terem seus corpos cada vez mais juntos. No dia seguinte, Amélia acorda com o barulho de uma leve batida na porta. Quando ela se ergue na cama, Vitor já está indo atender. Ele volta carregando uma bandeja de café da manhã, que coloca diante de Amélia: - Pedi para trazerem para nós – explica. - Humm, estou cheia de fome – ela comenta, analisando a bandeja. - Então vamos aproveitar – ele diz, colocando um pouco de mel num pedacinho de pão e levando até a boca de Amélia. Enquanto saboreiam o café da manhã, Vitor comenta: - Não visitamos ainda a igreja da Sagrada Família, que é a atração turística mais popular de Barcelona. Esta catedral está sendo construída há mais de 100 anos, sabia? - Sério? - Sim, e ela é uma das obras que Gaudi deixou pela cidade. Você vai ver a riqueza de detalhes dela, vai ficar impressionada. - Fiquei curiosa – responde Amélia, servindo-se de mais café com leite. - Combinado, então: primeira parada, Sagrada Família. Depois vamos para o Parc de la Ciutadella, namorar diante da cascata... - Você quer namorar mais? Não vai enjoar de mim desse jeito? – ela brinca. - Enjoar de você? Não, meu amor... sabe que quanto mais eu te beijo, mais eu gosto dos seus lábios? – ele devolve, aproximando seu rosto do dela. - Gosta mesmo? Tanto quanto eu gosto dos seus? – ela rebate, olhando para os lábios dele. - Tanto ou até mais... – ele finaliza, beijando Amélia com paixão. No dia seguinte, quase no final da tarde, eles estão andando pelas Ramblas, famosas avenidas cheias de lojas, bares, restaurantes e cafés, comprando lembranças para os amigos de Girassol, quando Vitor olha a hora no celular e avisa: - Precisamos ir, amor, senão não chegamos a tempo no aeroporto. - As malas já estão prontas, é só passar no hotel e fechar a conta. - Então vamos logo. Ao saírem do hotel, pegam um pequeno engarrafamento no caminho, mas o taxista os tranquiliza, garantindo que chegarão à tempo. Quase em cima da hora, eles correm para fazer o check-in. Quando a atendente olha as passagens, acha estranho: - Mas o voo de vocês acabou de sair. - Como assim? Vamos pegar o voo das 18 horas – contesta Vitor. - Não, o voo era às 17h, olhem aqui – a moça aponta para o campo do horário na passagem. - Não acredito que me enganei no horário – suspira Vitor, levando a mão à testa. - E agora? – questiona Amélia, preocupada. - Vamos comprar outra passagem. Pode me esperar ali com as malas, Amélia – ele aponta para as cadeiras logo adiante – Eu fiz a confusão, eu resolvo – afirma, irritado consigo mesmo.

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Vitor volta logo depois e senta-se ao lado de Amélia, com cara de quem tem notícias não muito boas. - Só consegui passagem para amanhã cedo – ele revela. - Mas nós já fechamos a conta no hotel... vamos ter que passar a noite aqui no aeroporto? - Que jeito... – ele fica pensativo – Que acha de deixarmos as malas num guarda-volumes e sairmos caminhando pela cidade? - Melhor do que ficar aqui, parados... – ela devolve. - Vamos fazer um belo passeio noturno, você vai ver – ele tenta animá-la. Depois de andarem mais de uma hora pelas ruas do centro, contemplando os prédios iluminados, Amélia se queixa: - Estou cansada, vamos sentar em algum lugar? - Vamos... Nós temos bastante tempo ainda. A gente pode até o Ciutadella, que acha? - À noite? - Sim! Vamos, vou comprar um vinho, a gente escolhe um cantinho aconchegante no parque e fica lá passando o tempo... Trilha sonora: Experiencia Religiosa – Enrique Iglesias http://www.youtube.com/watch?v=3DV57Y4tEAM&feature=player_embedded Chegando ao parque, eles sentam na grama, próximos a uma árvore. Intercalam goles de vinho com beijos. Vitor acaricia o rosto de Amélia, já meio quente por causa do vinho. Com cuidado, a faz deitar sobre a grama, e vai percorrendo o rosto dela com suaves beijos, descendo até o pescoço. Depois ele sobe até os lábios novamente, num beijo carinhoso que Amélia corresponde igualmente, enroscando os dedos nos cachos do cabelo dele. Eles se aconchegam num abraço bem apertado, e ficam algum tempo assim, apenas sentindo o calor um do outro. Aos poucos vão roçando os rostos, até os lábios se encontrarem de novo, num beijo demorado, como se o tempo já não existisse mais. Entorpecidos pelo cansaço e pelo vinho, eles acabam adormecendo ali mesmo, abraçados. XIX

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Amélia acorda com os raios de sol, ainda tênues, tocando seu rosto. Ela ergue a cabeça e olha em volta, tentando entender onde está e lembra-se do voo perdido, a decisão de ir para o parque, o vinho... - Que loucura... – murmura, rindo sozinha. Com cuidado, ela toca no rosto de Vitor, chamando: - Amor, acorda... já amanheceu. - Hã? O que foi? – ele pergunta, ainda sem despertar direito, e esfrega os olhos. - Nós estamos deitados no meio do Ciutadella, e precisamos ir para o aeroporto – ela explica com calma, ainda achando graça da situação. - Nós dormimos aqui? – Vitor ri, e Amélia confirma com a cabeça. Ele continua – Sabe que foi bem gostoso? - Foi... eu nunca imaginei que fosse fazer isso – ela sorri – Mas não está na hora de voltarmos para o aeroporto? - Está! – ele levanta rápido, ajudando-a a se levantar também – Quase que a gente dorme demais e perde o voo de novo. - Nem brinca... – ela retruca, enquanto saem depressa para procurar um táxi. Check-in feito, eles aguardam na sala de embarque. Amélia olha nos olhos de Vitor: - Essa foi a melhor viagem da minha vida. Você conseguiu, foi um sonho mesmo. Pena que chegou a hora de acordar, né? - É... quem sabe a gente sonha mais um pouco? – ele devolve, com olhar de quem está aprontando algo. - Eu adoraria, mas já vão anunciar nosso voo. Mal Amélia termina de falar, eles ouvem a chamada para o voo Barcelona – Salvador. - Acabaram de anunciar – Vitor ri e se levanta, estendendo a mão para ela – Vamos? - Como assim, Vitor? Chamaram o voo para Salvador! - Sim, é nesse mesmo que nós vamos. Já que nós perdemos o voo para casa, resolvi esticar nossa lua-de-mel... - Você é louco... – Amélia ri – Como me leva assim, de susto, para Salvador? - Vai dizer que não gosta das minhas loucuras? – ele retruca, com um sorriso travesso. - Adoro... – ela devolve beijando os lábios dele rapidamente. Trilha sonora: O que é o amor? – Maria Rita http://www.youtube.com/watch?v=eQXl5cANEZs

Ao chegarem a Salvador, eles vão direto procurar um hotel para se hospedar. Logo encontram, e depois de tudo acertado sobem ao quarto para guardar as malas. - Que calor... – comenta Amélia, rindo – E ainda devemos ter grama do Ciutadella nas nossas roupas. Preciso urgente de um banho. - Eu também. Que tal se... você ajudar a esfregar minhas costas e eu ajudar a esfregar as suas? – Vitor sugere com ar malicioso. - Hum, deixa eu pensar... – Amélia faz charme – Será que você merece dividir o chuveiro comigo? – ela sorri com um ar maroto – Merece. - Oba! – ele comemora, já empurrando Amélia para o banheiro.

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Após um banho demorado, em que trocam muitos carinhos embaixo do chuveiro, ele veste apenas uma bermuda, senta na beirada da cama e fica olhando Amélia se arrumar. Depois de pentear os cabelos molhados, ela escolhe um vestido fresquinho, logo acima do joelho. Já vestida, Amélia para diante de Vitor, perguntando: - Que acha? - Linda! Essas pernas... – ele responde, olhando para as pernas dela de um jeito devorador e estende a mão – Vem aqui. Amélia dá a mão para Vitor, que a puxa, fazendo-a sentar no colo dele. Ele toca num dos tornozelos dela, e desliza sua mão até a coxa, depois faz o mesmo na outra perna. Amélia fica com a respiração alterada e olha para Vitor com desejo. Ele retribui o olhar, e ela desce os olhos para o peitoral dele. Amélia percorre com os dedos os músculos do peito dele, depois repete o trajeto com suaves beijos, até que Vitor não consegue mais resistir, levanta a cabeça dela e a beija com bastante intensidade. Em instantes o vestido e a bermuda já estão caídos no chão. Depois do amor, Amélia fica aconchegada nos braços de Vitor, passando as pontas dos dedos pelo peitoral dele. - Agora estamos suados de novo... vamos precisar de outro banho – ele comenta, fingindo inocência. - Mas agora eu vou tomar banho sozinha, depois você vai. Se não, não vamos conseguir sair desse quarto hoje – ela ri, já se levantando. Ele senta na cama: - Então a gente não sai, fica aqui, na cama, o resto dia... hein? – sugere, malicioso, levantando as sobrancelhas. - Você não quis me trazer para Salvador? Agora quero conhecer a cidade – ela retruca, entrando no banheiro – E estou com fome! - Está bem, eu me rendo – devolve Vitor, resignado. Eles vão para o Pelourinho, almoçam num restaurante de lá e depois passeiam pelas ruas, passando diante das igrejas históricas e das casas coloridas. - Acho encantadores esses sobrados, cada um de uma cor... dá uma vida a esse local, né? – comenta Amélia. - É verdade – concorda Vitor. Andando mais um pouco, eles encontram uma roda de capoeira e Vitor fica empolgado: - Vem, Amélia, vamos olhar o pessoal jogando! – ele chama, puxando-a para mais perto da roda. Amélia fica observando em silêncio por alguns instantes, até que diz: - Nossa, é tão bonito de ver... - É mesmo... sabia que eu jogava capoeira quando era moleque? – conta Vitor, com um sorriso travesso. - Você tá brincando, né? – duvida Amélia. - Hã, não acredita? Olha só – ele faz o gingado da capoeira e de repente passa a perna por cima da cabeça dela, que ri. Alguém da roda vê a cena e chama Vitor para o meio. Ele olha para Amélia: - Será que eu vou? – estufa o peito – Eu vou.

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XX Vitor se dirige ao meio da roda, começa a gingar junto com o desafiante e avisa: - Começa de leve que eu estou destreinado... O outro balança a cabeça afirmativamente e eles começam a jogar. Depois de alguns movimentos bem executados, Vitor levanta a perna bem no alto e acaba se desequilibrando. Cai sentado no chão, provocando risos de toda a roda. Amélia corre até ele, se segurando para não rir também: - Amor, você está bem? - Estou, foi só um tombinho de nada – ele se levanta, limpa um pouco a bermuda e se dirige ao desafiante – Vamos continuar? - Não, Vitor, por favor... chega – implora Amélia. - Só mais um pouquinho, Amélia... Senão eu vou sair desmoralizado, poxa! Amélia se afasta, resignada, e Vitor joga mais um pouco, sem errar mais, e sai de cabeça erguida. - Viu, eu disse que sabia jogar... – comenta Vitor, enquanto ele e Amélia se afastam da roda. - Ahã, eu vi... – ela devolve, querendo rir. Ele percebe o leve tom de deboche na resposta de Amélia e retruca: - Aquele tombinho foi um acidente de percurso. Calculei mal o movimento, só isso. Mas pra quem não jogava há anos, eu mandei muito bem, admite... - Mandou... mandou... Ah, Vitor, na hora levei um susto, achei que você tinha se machucado... mas agora, lembrando-se da cena... – ela não consegue se conter mais e cai na risada. Vitor a encara com um olhar de leve censura, mas ao mesmo tempo de brincadeira: - Amélia... quando eu te conheci você não era assim, tão risonha. Agora de qualquer coisa você ri, inclusive da minha cara. - Culpa sua. Faz de mim uma mulher tão feliz que eu tenho vontade de rir o tempo todo. - Ah, se saiu bem... espertinha – ele a enlaça pela cintura – Minha espertinha... Você fica linda quando está rindo, sabia? Ela dá um grande sorriso. - E sorrindo assim, então... eu não resisto! – completa Vitor, puxando-a para mais perto e a beijando apaixonadamente. Trilha sonora: Alegre – Jorge Vercilo http://www.youtube.com/watch?v=pH9CXpatDQM

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O casal continua andando pelo Pelourinho, até que encontra uma baiana do acarajé. Vitor olha para Amélia: - E então? Vamos experimentar o famoso acarajé? - Vamos. Eles se aproximam e pedem os acarajés. - Completos? – questiona a baiana. - Acho que sim, né, Vitor? – agora é Amélia quem olha para ele, que confirma com a cabeça. Logo a moça entrega os quitutes. Vitor fica olhando enquanto Amélia morde o acarajé. Imediatamente ela começa a abanar a boca e pedir, desesperada: - Água, água! A baiana rapidamente alcança uma garrafinha de água mineral para Amélia. Vitor aperta os lábios tentando segurar os risos, mas não consegue se conter e põe a mão na frente da boca para disfarçar. Um pouco mais calma, mas ainda bebendo água, Amélia percebe que Vitor não para de rir. - Está achando engraçado, é? Prova seu acarajé, então – ela desafia. - Só você que pode rir? Agora é minha vez – ele ainda se diverte. A baiana interfere: - Moça, desculpa se botei pimenta demais. Eu troco seu acarajé, lhe dou um sem pimenta. - Ah, obrigada – Amélia sorri, devolvendo o quitute. - Pode trocar o meu também? – pede Vitor. - Vai fugir, espertinho? Está com medo da pimenta? – provoca Amélia. - Medo? Você vai ver – sem querer dar o braço a torcer, ele prova o acarajé. Mal sente o gosto, já arregala os olhos, fazendo caretas, tenta se manter forte, mas não aguenta – Passa essa água pra cá! - Agora sim, pode trocar o acarajé dele, moça – avisa Amélia, rindo, enquanto Vitor esvazia a garrafinha de água e pede mais uma. Os dois se olham e não conseguem parar de rir até que a baiana entrega os acarajés sem pimenta. Eles agradecem e saem caminhando enquanto comem. - Mais uma para a nossa história... – brinca Vitor, quando terminam de comer. - No final das contas foi engraçado... mas parecia que minha boca estava pegando fogo – Amélia ainda ri. - Precisamos vir pra cá mais vezes, assim a gente acostuma com o tempero baiano – ele sugere. - Ah, estou adorando passear aqui, mas... não tem comida como a da Lurdinha. - É, não tem mesmo. A da Terê também! - No começo você não gostava das refeições da estalagem... – lembra Amélia. - Verdade. Mas nada como passar dias tendo que procurar comida na mata para dar valor aos pratos mais simples. Nossa, quando eu consegui voltar, tudo que a Terê servia parecia a melhor comida do mundo. Acho que antes eu nem sentia o sabor das coisas direito. Aliás, não só dos alimentos... eu não sentia o sabor da vida. - Por mais estranho que seja dizer isso, o acidente fez bem a você... Você se tornou uma pessoa melhor. - Isso mesmo. Mas não foi só por causa do acidente. Acho que eu também quis me tornar um homem melhor para merecer você. Amélia para e fica olhando para Vitor, sem palavras. Ele se aproxima e toca no rosto dela com carinho. Os lábios naturalmente se encontram em mais um beijo.

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Na manhã seguinte, logo que acordam, Vitor pergunta: - Amor, você trouxe biquíni na mala? - Não, porque achei que a gente ia só para a Europa. - Hum, então vamos passar em alguma loja e comprar um. Quero conhecer as praias de Salvador. - Está bem. Então vamos nos apressar, para aproveitar bem o dia – ela responde, já se levantando. - Vai ser até bom você comprar um biquíni novo, junto comigo. Assim, quem sabe te convenço a comprar um menorzinho, porque seus biquínis são muito grandes, Amélia. - Vitor! Não sou mais uma menininha pra usar biquíni pequeno. Aliás, eu não gostava nem quando era mocinha – Amélia retruca, quase chocada com a sugestão dele. - Estava brincando... – Vitor ri – Não quero mesmo que você fique expondo muito o corpo, não quero outros homens de olho grande pra cima de você... não mesmo. Ih, já estou até me arrependendo dessa ideia de praia. - Agora que você me entusiasmou? Tarde demais. Nós vamos à praia. Sai logo dessa cama e vai se arrumar! – ela devolve, atirando nele uma almofada que estava na poltrona. XXI Na loja, Amélia escolhe alguns biquínis e vai para o provador. Vitor fica junto à porta, e pergunta: - Posso ver? - Não! Espera, me deixa escolher sossegada – ela responde. - Ah... – ele resmunga de um jeito manhoso. - Não adianta fazer manha – Amélia ri. Após alguns minutos, ela sai do provador vestida como entrou, carregando os biquínis: - Já experimentei todos, e vou levar este – ela mostra um modelo com sutiã tomara-que-caia. - Eu não tenho direito nem de dar minha opinião? – ele brinca. - Nesse caso não – ela ri de novo. Mais tarde, eles chegam a uma praia de águas tranquilas, e Vitor já vai tirando a camiseta e a bermuda, ficando só de sunga.

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- Vem, vamos cair na água! – ele chama, estendendo a mão. Amélia tira o vestido que usa por cima do biquíni, e dá a mão a Vitor. Eles correm para o mar Mergulham e brincam nas ondas até que Vitor enlaça Amélia pela cintura. - Que foi? – ela pergunta sorrindo e olhando nos olhos dele. - Nada não, só me deu uma vontade de te beijar... – ele responde com um ar maroto, puxando-a para mais junto de si, terminando em um beijo intenso. Eles ficam namorando dentro da água, até resolvem sair para caminhar pela beira da praia. Juntam as roupas e vão andando. De repente Vitor encontra um graveto e se abaixa, desenhando um coração na areia e escrevendo dentro “Amélia e Vitor”. Ela sorri, enquanto ele analisa a própria obra por alguns instantes, depois comenta, rindo: - Olha como você está me deixando cafona... - Não, não é cafona... Achei bem bonitinho – Amélia garante – Nunca ninguém tinha feito isso pra mim. - Também, você foi casar justo com o Max, o ser mais sem sentimentos que eu já vi... – Vitor fala sem pensar, e ele mesmo se repreende – Ah, por que eu fui lembrar dele? - Você tem razão, o Max era incapaz ser romântico assim, quase cafona – ela brinca. - Quase, é? Está admitindo minha cafonice – ele ri. Amélia passa os braços em torno do pescoço dele: - Que importa se é cafona ou não? O importante é que eu achei bonito – ela sorri e aproxima os lábios, beijando Vitor com carinho. Eles vestem as roupas e seguem o passeio, indo até uma outra praia de águas mais agitadas, impróprias para banho, mas que é muito bonita. Sentam na areia, abraçados, e ficam olhando as ondas quebrarem, em silêncio, por alguns instantes, curtindo a sensação de paz proporcionada por aquele lugar. Logo um grupo de jovens também chega à praia e senta um pouco distante do casal. Alguns rapazes trazem consigo violões, e o grupo forma uma rodinha para ouvi-los tocar. Vitor fica pensativo observando o grupo, e em seguida se levanta, avisando para Amélia: - Espera um pouco. Ele vai até os rapazes e pede um violão emprestado, prometendo devolver em seguida. Um dos jovens lhe estende o instrumento, e Vitor volta para junto de Amélia, que olha para ele surpresa, quase sem acreditar no que acabou de ver. Ele senta bem em frente a ela e acomoda o violão. - Você sabe tocar? – Amélia finalmente questiona. - Sei um pouco. O suficiente para tocar uma música que esse momento me fez lembrar... nós dois aqui, diante desse mar... Ela observa, atenta, enquanto Vitor começa a tocar e cantar “Você é linda”, de Caetano Veloso. Trilha sonora: Você é linda – Caetano Veloso http://www.youtube.com/watch?v=3tcY9rE_Cjs

Quando ele termina, Amélia tem uma lágrima correndo por seu rosto. Vitor coloca o violão de lado e ela chega mais perto, enchendo o amado de beijos.

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- Que lindo, meu amor, que lindo... – ela murmura. - Que bom que você gostou – ele diz retribuindo os beijos – e que eu consegui lembrar de toda a letra! – Vitor ri e afasta Amélia com cuidado – Deixa eu devolver o violão. Ele vai rapidamente até o grupo, entrega o instrumento e agradece. Amélia o espera em pé, e o enche de beijos novamente. - Nossa, se eu soubesse que ia ser recompensado assim, tinha tocado pra você antes... – Vitor brinca. - Bobo... – retruca Amélia, com os olhos brilhando e aproximando os lábios dos dele de novo. Saem caminhando pela beira do mar, abraçados, parando a cada poucos passos para trocarem mais beijos. Depois de caminharem um bom tempo, eles encontram um restaurante simples, mas aconchegante. Pedem uma moqueca de camarão e sentam próximo a uma janela, de onde podem ver o mar. Enquanto esperam o prato, Vitor fica observando Amélia, em silêncio. Ela sorri: - Por que está me olhando assim? - Não canso de te olhar... – ele explica, enlevado, e beija o dorso da mão dela. Eles ficam naquele clima de namoro até que o almoço chega. Comem tranquilos por algum tempo, até que Vitor para, prestando atenção em algo do outro lado do restaurante. Ele come mais um pouco e olha para o mesmo ponto outra vez. Amélia percebe: - Algum problema? - Aquele cara não tira os olhos de você. Caramba, ele não enxerga que você está acompanhada? – ele responde, irritado. - Vitor, eu não percebi nada, e não estou olhando para ele. Relaxa, vamos comer em paz – ela tenta acalmá-lo. Vitor olha para o prato e respira fundo, tentando seguir o conselho de Amélia. Mas dali a pouco olha na direção do tal homem novamente, e fica ainda mais nervoso ao ver que ele continua olhando para Amélia: - O que esse sujeito está pensando? – diz Vitor, levantando-se bruscamente, quase empurrando a cadeira longe. - Vitor, o que você vai fazer? – Amélia fica assustada. - Vou resolver isso – ele responde, partindo em direção à mesa do outro. - Não, volta aqui! – ela pede, angustiada, mas Vitor não lhe dá ouvidos. Ele chega diante da mesa e olha para o homem com raiva: - Escuta aqui: tira os olhos da MINHA mulher! Minha, entendeu? Não te ensinaram a respeitar a mulher alheia? Se não ensinaram, vamos lá pra fora que eu te ensino! - Desculpa, rapaz... não quero violência – responde o sujeito, saindo de fininho, enquanto Vitor fica bufando. Quando ele retorna para a mesa, Amélia está de pé, com olhar de decepção: - Acerta a conta e vamos embora. - Mas, Amélia... - Então fica aí que eu estou indo. - Espera – ele segura o braço dela – Eu vou. Vitor tira algumas notas da carteira e larga sobre a mesa, saindo em seguida do restaurante junto com Amélia.

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XXII Já do lado de fora do restaurante, Vitor tenta se explicar: - Amélia, eu... Ela o corta, ríspida: - Não fala nada agora. Vamos pro hotel. - Mas... – ele tenta insistir, mas Amélia sai andando. Vitor suspira e vai atrás dela, que fica calada até chegarem ao quarto do hotel. Só então diz o que estava segurando: - Por que você fez aquela cena, Vitor? Precisava daquilo? Apelar pra violência? Nosso dia estava tão lindo, e você estragou tudo... - Eu perdi a cabeça, me perdoa... mas aquele... – ele se contém para não dizer um palavrão – aquele sujeito ficou olhando pra você o tempo todo. - E daí? – ela aumenta o tom de voz - Ele ia só olhar, e se você não tivesse me falado, eu nem teria notado! - Amélia, não era um olhar inocente... Eu sou homem, eu sei o que um homem está pensando quando olha para uma mulher do jeito que ele te olhava, como se... – ele fecha os olhos, sofrendo para prosseguir – como se estivesse imaginando o que havia embaixo do seu vestido. Ele estava desejando você, entende? - E por acaso passou pela sua cabeça que eu pudesse pensar em dar uma chance àquele homem? - Não! – Vitor fica chocado com a pergunta – Eu sei que não, eu confio em você. - Então por que você se alterou tanto? Por quê? Nunca vi você se descontrolar assim... - Não sei, meu amor, não sei... – ele responde quase chorando – Me perdoa, isso não vai se repetir, eu juro. - Não precisa jurar nada. A nossa história não vai terminar por causa disso, eu acredito no seu arrependimento – ela afirma, ainda com olhar de decepção –

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Mas a nossa viagem... não quero mais ficar aqui nessa cidade, vamos arrumar nossas malas e pegar o primeiro voo para Goiânia ou Brasília. - Amélia... nossa lua-de-mel não pode terminar desse jeito... Vamos para outro lugar, então? Você escolhe. - Não sei – ela senta na cama, de costas para ele. Vitor dá a volta na cama e se ajoelha diante de Amélia, com olhar de súplica: - Por favor... me dá uma chance de consertar o que eu fiz, de terminar nossa viagem do jeito que você merece... Amélia solta um suspiro: - Está bem. Vamos pro Sul, então. Liga para o aeroporto e vê se tem passagem ainda pro próximo voo a Porto Alegre. De lá nos vamos para Canela. - Fica na serra, né? - Fica – Ela levanta e vai pegar as malas. Vitor consegue as passagens e desce para fechar a conta do hotel. Depois sobe para buscar Amélia, que ainda está aborrecida. - Tudo pronto? Podemos ir? – ela pergunta, tentando ser fria. - Podemos – ele responde, angustiado. Amélia se dirige para a porta, e Vitor vai mais rápido e para diante dela. - Meu amor... não vamos ficar assim, nesse clima... Eu não aguento. - Pensasse antes de dar vexame – ela devolve, parecendo triste – Acha que eu queria brigar com você? Estou sofrendo também. Ele acaricia o rosto dela: - Me perdoa... me perdoa... - Eu perdoo... mas preciso de tempo pra apagar da minha cabeça aquela cena lamentável. - Eu vou fazer de tudo pra você esquecer isso logo, tá? - Tá – ela finalmente esboça um sorriso. Vitor também sorri, e beija os lábios dela com cuidado. Eles saem de mãos dadas, tentando aos poucos recuperar o clima perdido. Trilha sonora: Ainda bem – Vanessa da Mata http://www.youtube.com/watch?v=kenOHjdUK4U

Já hospedados em Canela, Amélia comenta: - Quero te levar num lugar lindo que eu conheci há alguns anos, quando estive aqui com o... – ela interrompe, não querendo dizer o nome do ex-marido. - Com o Max, pode falar. Estou até merecendo ouvir o nome dele. Que lugar é esse? - Cascata do Caracol. - Hum, cascata me lembra cachoeira... – ele brinca. - Nem se anima, porque lá não dá pra tomar banho – Amélia ri. - Ah... Mas não tem problema, ainda vou te levar para uma cachoeira antes de voltar pra casa, esteja certa disso. - Vai, vai... mas agora nós dois vamos ficar aqui quietinhos, descansando da viagem, para amanhã passarmos o dia no Parque do Caracol. - Quer ficar quietinha? – ele se recosta na cama – Então vem aqui... juntinho de mim.

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Amélia sorri e se aconchega nos braços dele, que fica acariciando os cabelos dela. Na manhã do dia seguinte, eles passeiam pelo parque, conhecendo todos os atrativos antes de visitarem a cascata. - Ah, Vitor, olha o trenzinho... que graça! – comenta Amélia ao se aproximarem da Estação Sonho Vivo. - Vamos lá! – Vitor a puxa pela mão, empolgado. Os dois escolhem o segundo vagão e sentam abraçadinhos. O trem passa pela Vila dos Imigrantes, que mostra um pouco da história da imigração no Rio Grande do Sul. - Outra vez, parece que estamos viajando no tempo... – diz Amélia. - É mesmo... Você gostaria de ter vivido em outra época? – devolve Vitor. - Não sei... talvez. E você? Ele olha nos olhos dela para responder: - Eu viveria em qualquer tempo e qualquer lugar, desde que você estivesse comigo. - Vitor... – Amélia suspira, aproximando os lábios dos dele. Eles se desligam um pouco da paisagem, trocando um beijo carinhoso. Após o almoço, eles seguem para a Cascata do Caracol. - É ali, Vitor, o mirante. Vem ver que coisa linda! – chama Amélia, indo na frente. Ele a segue. Ela segura na grade do mirante, e Vitor a abraça. Ficam por alguns instantes em silêncio, apenas observando a queda d’água. - É linda mesmo – concorda Vitor. - Sabia que tem como chegar lá em baixo, na base dela? – conta Amélia. - Sério? - Sim, tem uma escadaria. Da outra vez não pude descer, porque com o Max, né, você imagina... Vem, acho que ainda lembro onde fica o topo da escada – ela o puxa pela mão. Ao chegarem no começo da escadaria, Vitor lê um cartaz com algumas advertências, e arregala os olhos: - Amélia, são 927 degraus! Você tem certeza que quer descer? - Tenho – ela responde com firmeza. XXIII

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- Pensa bem, amor... vai ser puxado. Não esquece que depois de descer tudo isso, a gente vai ter subir todos esses degraus de volta – Vitor tenta convencê-la a desistir. - Eu sei, nós vamos voltar mortos... – Amélia ri – Mas quero ir mesmo assim. Nem que seja sozinha. Ela tenta se dirigir ao primeiro degrau, mas Vitor corre na frente dela: - Nem pensar. Acha que vou deixar a minha mulher descer sozinha essa escadaria toda? Que espécie de homem eu seria? E eu vou à frente, conferindo o estado dos degraus – ele avisa, e começa a descer. - Que bom ter um homem que cuida de mim... – ela brinca, seguindo Vitor. Trilha sonora: É Você – Marisa Monte http://www.youtube.com/watch?v=wSgpPA7KD6Q

Eles vão descendo devagar. Quando já venceram quase 500 degraus, Vitor avança um pouco, ficando mais adiante de Amélia, e se vira para trás, esperando-a: - Essa escada não tem fim, não? Ela ri, e desce depressa para alcançá-lo: - Tem, falta só mais uns 400 degraus. Amélia está chegando junto de Vitor quando pisa em falso e se desiquilibra, projetando o corpo para frente. Vitor a ampara, apavorado: - Cuidado, Amélia! Pelo amor de Deus, não vai cair aqui... Ele a abraça forte, firmando os pés no degrau. Ela ainda está tremendo do susto, pálida, sem conseguir dizer nada. - Amélia, vamos voltar... Essa escada é perigosa – ele pede, também assustado. - Não, já estamos na metade, vamos até o fim – ela responde, ainda ofegante – Vou tomar cuidado, não se preocupa. - Ai, se eu tivesse problema de coração tinha empacotado agora... não posso perder você, meu amor... Ainda bem que eu fui à frente, e consegui te segurar – Vitor continua nervoso. - Justamente, se eu caísse te levava junto – ela ri, tentando amenizar o clima – Foi só um susto, não aconteceu nada... fica calmo. Amélia acaricia o rosto dele, tentado tranquiliza-lo. Vitor respira fundo e pergunta: - Você está bem, mesmo? - Estou – ela garante, sorrindo – Vamos em frente. Vitor segura firme na mão dela: - Vamos, mas não solta mais a minha mão, tá bem? - Tá... mas foi você que correu na minha frente – ela retruca. - Fui olhar melhor quanta escada ainda temos pela frente... como me arrependo de ter saído do seu lado – ele balança a cabeça, parecendo chateado consigo mesmo. - Não, meu amor, você não teve culpa... eu que não olhei direito onde estava pisando, coisa que não se faz numa escadaria dessas. - Ainda bem que você sabe... Não me dá outro susto desses, por favor... – Vitor implora. - Não dou... meu herói – ela sorri.

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Ele finalmente sorri de volta, e os dois seguem descendo a escada, de mãos dadas. Ao chegarem à base da escada, eles ficam alguns instantes estáticos, admirando o que veem: - Não valeu a pena o esforço? – diz finalmente Amélia. - Valeu, sim – concorda Vitor, a abraçando por trás – Mas vamos achar um canto para sentar? Daqui a pouco a gente vai ter que subir tudo isso... haja pernas. - É mesmo – ela ri. Ele olha atentamente para as pedras em torno da queda d’água, e franze a testa, engolindo em seco: - Se você tivesse caído podia rolar até bater nessas pedras... meu Deus. - Não pensa mais nisso, meu amor... não aconteceu nada. - Não aconteceu porque eu te segurei, né? – retruca Vitor, apertando mais os braços em torno da cintura de Amélia – Tá vendo como você precisa de mim, como tem que ficar juntinho de mim o tempo todo? – ele brinca, tentando amenizar a tensão. - Convencido... – ela se vira de frente para Vitor, rindo – Mas é verdade, eu não posso mais viver sem você... o que eu faço agora? - Fica comigo – responde Vitor, puxando-a para junto de si e beijando-a apaixonadamente. Eles sentam numa grande pedra e ficam descansando por algum tempo, curtindo a paisagem. Depois iniciam a subida. Após pouco mais de 100 degraus, Amélia se queixa: - Nossa, estou começando a me arrepender... - Ah, é? – Vitor ri. - Eu sei, você avisou – ela retruca, rindo também, enquanto se segura com força no corrimão buscando apoio para continuar subindo – Minhas pernas estão mais pesadas a cada passo... será que consigo chegar lá em cima? - Vem cá, eu te ajudo... se apoia em mim – ele a segura pela cintura, e continuam a subir abraçados. Quando chegam de volta ao início da escada, eles se jogam no chão, exaustos, e caem na risada. - Socorro... como a gente faz para caminhar até o hotel? – brinca Amélia, aos risos. - Boa pergunta... eu também não sei – Vitor está quase chorando de tanto rir. Ele respira fundo e continua: - Sabe o que eu preciso? De um prato enorme de massa, para conseguir me recuperar desse exercício todo. - Acho que até eu estou precisando – Amélia continua rindo – Tem restaurantes ótimos aqui, é uma região de colonização italiana. - Ah, una buona pasta... é tudo que eu quero. - Mas não podemos ir assim, precisamos passar no hotel para tomar um banho – ela lembra. - Precisamos, é verdade – ele responde, levantando-se e estendendo a mão para Amélia – Vamos logo, porque se a gente ficar mais tempo aqui, não consegue mais levantar.

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Vitor ajuda Amélia a fica de pé e eles seguem para o hotel, ainda aos risos. Ao chegar no quarto, eles estão tão cansados que acabam cochilando por cerca de uma hora. Depois se arrumam e saem para jantar. Em frente ao restaurante, uma loja do outro lado da rua chama a atenção de Amélia, e ela diz a Vitor: - Vai entrando e escolhendo a mesa, que eu quero ver uma vitrine ali e já te encontro. - Eu vou com você – ele afirma. - Não, Vitor, quero ir sozinha. Por favor, vá escolhendo a mesa? – Amélia pede com doçura, convencendo-o. - Está bem, mas não demora – Vitor concorda, a contragosto. Amélia dá um beijinho nele, e espera que entre no restaurante. Só então ela atravessa a rua. XXIV Vitor está impaciente, batendo com as pontas dos dedos sobre a mesa, quando Amélia retorna e senta a sua frente. - Já pedi um vinho. E você, achou o que queria? – ele pergunta, bastante sério. - Não exatamente – ela devolve, sorrindo. - Você foi mesmo olhar vitrine? Não encontrou nenhum conhecido? – Vitor questiona, levemente irônico. - Vitor, não começa... – Amélia fica zangada. - Desculpa, meu amor, me perdoa... – ele segura a mão dela sobre a mesa – Foi besteira minha perguntar isso, sou um idiota mesmo. - Tudo bem... – ela esboça um sorriso – Não encontrei nenhum conhecido, se é isso que te preocupa, ciumento... O Andrea está lá na Itália, bem longe daqui. - Ah, e ele é seu único amigo? – Vitor retruca – Mas chega desse assunto, né? - É. Vamos pedir? – Amélia pega o cardápio e escolhe – Vou querer penne ao molho branco. E você? - Estou entre o talharim ao pesto e o espaguete à carbonara. Eles fazem o pedido e ficam conversando, lembrando de detalhes do passeio à cascata, até os pratos chegarem. - Humm, isso está um delícia... Prova, amor – Vitor aproxima seu garfo da boca de Amélia, com um pouquinho do talharim.

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- Humm, bom mesmo – ela concorda – Mas o meu também está maravilhoso, experimenta – Amélia retribui, dando um pouco de penne na boca de Vitor. - Delicioso... – ele olha para ela de um jeito malicioso – Só não é mais delicioso que seu beijo. - Pára, Vitor... não fica falando essas coisas assim, em público. Alguém pode ouvir – ela pede, encabulada. Ele ri, e os dois continuam a refeição, trocando olhares. Trilha sonora: Nós Dois Aqui – Flávio Venturini http://www.4shared.com/audio/3DvPvKR_/09_Ns_dois_aqui.htm Chegando ao hotel, a recepcionista chama Amélia: - Dona Amélia, deixaram isto para a senhora – a moça lhe entrega uma sacola. - Ah, obrigada. Vitor fica curioso: - Que tem aí? Quem será que deixou essa sacola para você? - Calma... Fui eu mesma quem pedi para entregar aqui. Não fui ver vitrine... eu estava preparando uma surpresa para você. - Uma surpresa? – repete ele, boquiaberto. - Sim – ela sorri – Só você pode fazer surpresas? Vem, você só vai ver o que tem nessa sacola lá dentro do quarto. Vitor segue Amélia. Ao entrarem no quarto, ela tira os sapatos, sem largar a sacola, enquanto ele senta no sofá que fica próximo à cama. - E então, meu amor? – Vitor pergunta, ansioso. - Você já vai saber o que tem aqui dentro... – Amélia se aproxima devagarinho, com um sorriso travesso, e senta no colo dele, entregando-lhe a sacola – Pronto, pode abrir. Ele tira lá de uma cesta com algumas caixinhas onde se veem frases escritas com chocolate, usando pequenos quadrados com letras em relevo. Entre as caixinhas, também há também bombons em forma de coração. Vitor vai pegando as frases, uma por uma, e lendo:

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- Essa é a declaração de amor mais gostosa que eu já recebi... – ele comenta, com um grande sorriso. Amélia ri: - Então você gostou? - Claro, amor! Achei lindo... mas vou ter que desmanchar essas frases. Vitor abre bem o celofane que embrulha a cesta, depois vai separando as letras e colocando sobre o plástico. Amélia fica observando, curiosa, enquanto ele monta outra frase. Ao terminar, estende a caixinha: - Essa é pra você... - Ah, Vitor... – Amélia fica relendo a frase, encantada. - Que pena que não vou poder guardar esse presente, porque, né, não dá pra ficar só olhando para esse chocolate... – brinca Vitor, pegando uma letra A e levando até a boca de Amélia – O primeiro vai para você... A de amor e de Amélia... Ela sorri, degustando o chocolate, e também dá uma das letras para ele. - V... de Vitor e de vida. Vitor olha nos olhos dela e aproxima os lábios, beijando-a demoradamente. - Hummm, que beijo bom, com sabor de chocolate... – ele diz, quando descolam os lábios – Quero mais. - É? Também quero... – ela devolve. Eles ficam comendo chocolate e trocando beijos até que Amélia deita a cabeça no ombro dele, sentindo o cansaço daquele dia. Ela fecha os olhos por um instante, depois abre de novo e avisa: - Amor, vou colocar uma camisola, antes que eu acabe dormindo assim mesmo... Nós gastamos muita energia hoje na cascata... - Você deve estar cansada mesmo. Também estou. Vamos cair na cama, então. Após trocarem mais um beijo, Amélia vai para o banheiro, se preparar para dormir. Quando volta, Vitor já está deitado na cama. Ela se troca, vestindo a camisola, e deita ao lado dele. - Já coloquei os chocolates aqui, ó – ele aponta para o criado-mudo – Vamos continuar a brincadeira?

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- Vai comer sobre a cama e dormir sem escovar os dentes? Que coisa feia... – ela brinca. - Ah, quem disse isso? - Do jeito que estamos cansados, não vamos conseguir levantar mais dessa cama hoje... – Amélia ri. - Tem razão. Eu já volto – Vitor vai depressa para o banheiro. Amélia está com os olhos pesados, mas fazendo um esforço para mantê-los abertos. Vitor retorna e, em vez de deitar no seu lado da cama, vem de quatro por cima de Amélia, se encaixando sobre ela. Quando está com o rosto bem junto ao dela, pergunta: - Agora posso te dar um beijo de boa noite? - Pode – ela sorri. Eles trocam um beijo demorado, depois se acomodam na cama, bem juntinhos, e logo estão dormindo, vencidos pelo cansaço. Vitor acorda, no meio da manhã, e se ergue na cama para contemplar o sono de Amélia. Ela também acorda e olha para ele: - Bom dia, meu amor... - Bom dia... – ele se vira de lado para olhar melhor para ela, e sente o corpo dolorido, principalmente as pernas – Ai, parece que corri duas maratonas ontem... estou quebrado. - Nem me fala... mal consigo mexer as pernas, dói tudo. - Foi ideia sua descer aquela escada... – ele ri. - Eu sei, e não estou arrependida. Só não sei como vou conseguir levantar dessa cama hoje... - Não levanta. Vamos ficar aqui o dia inteiro – ele sugere, com um olhar travesso. - É? – Amélia ri – E vamos nos alimentar de quê? - De chocolate! – Vitor se vira, pega a cesta no criado-mudo e coloca na cama, entre os dois – Está servida? Ainda rindo, ela pega um bombom de coração, enquanto Vitor pega outro. - Acho que o jeito vai ser tirar o dia para descansar, mesmo... Depois, mais tarde, a gente podia sair para comer uma fondue... que acha? – Amélia sugere. - Gostei da ideia – ele concorda, pegando mais chocolate. - Também quero passar naquela loja de novo, comprar alguns presentes para a Manu e o Fred. - Ah, sim, tem que levar chocolate para as crianças... – diz Vitor, rindo. - Bobo! Quero levar alguma coisa pra Lurdinha também, uma caixa de bombons daquelas bem bonitas, sabe? - Ih, ela vai ficar toda metida, dizendo que ganhou chocolate “muito do chique”... – ele brinca, imitando a empregada. - Vai mesmo – Amélia ri – Mas ela merece... a Lurdinha nos ajudou tanto! Sabe, desconfio que ela percebeu que estava acontecendo algo entre nós dois desde o começo. - É? - Sim, quando você sofreu o acidente, ficou desaparecido, ela viu a minha aflição... acho que desde aí ela já suspeitava de alguma coisa. E nunca disse nada, nunca me entregou pro Max. Pelo contrário, depois ela me ajudava a fugir pra ver você.

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- Verdade, ela me ajudou também, no dia que me escondi no seu quarto, lembra? - Lembro... – ela ri novamente – Então ela merece duas caixas de bombons! - Está certo – ele também ri – E depois de comprar chocolate, o que a gente vai fazer? - Não sei... você tem alguma sugestão? - Tenho. Está tão boa essa lua-de-mel que eu quero estica-la mais um pouquinho... - Vitor... desse jeito a gente não volta mais para casa – Amélia acha graça. - Volta sim, só mais uns dias. Dois lugares, apenas... prometo. - Para onde a gente vai? - Mais tarde vou organizar tudo, depois te digo – ele sorri. - Vitor... – ela murmura, ansiosa. - Adoro ver você curiosa... – ele diz com um olhar travesso, enquanto aproxima seus lábios dos dela para mais um beijo. XXV Vitor pede um café-da-manhã reforçado, para ser entregue no quarto. Ele e Amélia ficam na cama até meados da tarde. Só então Vitor toma um banho rápido e se arruma para sair, enquanto Amélia ainda se alonga na cama. - Mas o que eu vou fazer na rua? Tenho que resolver à distância de qualquer forma... – ele pensa alto, pegando o celular e sentando-se no sofá. - Que foi, amor? – pergunta Amélia, levantando-se. - Nada, não, estava só pensando alto. Pode tomar seu banho tranquila que eu vou ficar aqui dando alguns telefonemas. Ela sorri e entra no banheiro. Demora-se no banho, e quando retorna para o quarto, Vitor continua no sofá, esperando por ela. - Está tudo certo. Depois de amanhã vamos para Foz do Iguaçu, visitar as famosas cataratas. - Jura? Ah, eu estive lá uma vez com o Fred e a Manu, eles eram pequenos... - Então faz mesmo bastante tempo, né? – ele ri. - Faz... e a gente só olhou um pouco as cataratas do mirante, mais nada.

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- Hum, dessa vez vamos conhecer tudo que temos direito – Vitor se aproxima, enlaçando Amélia pela cintura, e a beija. Enquanto se arruma, ela pergunta: - Você disse que vamos depois de amanhã, né? Então temos mais um dia aqui? - Isso mesmo. Tem mais algum lugar que você quer me mostrar em Canela? Desde que não tenha escada de 900 degraus... – ele começa a rir de novo. - Não, nem pensar – Amélia ri também – A gente podia passar o dia em Gramado, que acha? - Se você quer, nós vamos – Vitor sorri, admirando-a. - Então amanhã vamos a Gramado. Agora, podemos ir saborear aquela fondue de queijo que combinamos? - De queijo? Achei que seria de chocolate... – ele brinca. - Não comeu chocolate que chega ainda, não? – ela retruca, rindo. - Não! – Vitor ri – Mas tudo bem, fondue de queijo... No dia seguinte, eles vão cedo para Gramado. O primeiro destino é o Lago Negro, com pedalinhos em formato de cisne. - Quer andar de pedalinho? – pergunta Vitor, achando graça. - Ah... não fica meio ridículo pra uma mulher da minha idade? – Amélia devolve, insegura. - Que ridículo nada, meu amor... É romântico. Vem... – ele a puxa pela mão. Trilha sonora: O infinito amor – Jorge Vercilo http://www.youtube.com/watch?v=mHToGFQHl4E&feature=fvsr

Vitor pedala o cisne até chegarem no meio do lago. Então para e se vira para Amélia. Fica algum tempo em silêncio, olhando para ela, pensativo. Amélia fica intrigada: - Que foi? Ele sorri: - Estava lembrando de quando te conheci... A Manu tinha avisado que você era muito bonita, mas eu não imaginava que fosse tanto. Fiquei surpreso, te achei linda, encantadora... Mas naquele momento jamais passaria pela minha cabeça me apaixonar por você... Eu amava a Manuela, ou achava que amava. Nos meus planos, você seria minha sogra. Só que, parece que quanto mais a Manu se afastava de mim, mais você entrava na minha vida... pra não sair nunca mais. Ela olha para baixo, como se lembrasse de algo guardado há muito tempo: - Sabe, eu me achava uma péssima mãe, porque quando via você sofrendo por causa da Manu, tinha vontade de te dizer que eu podia te dar todo o amor que ela não conseguia te dar... Mas parecia uma loucura, um despropósito tão grande, eu gostar de você desse jeito... Vitor levanta o rosto dela, segurando em seu queixo, e olha em seus olhos: - Não era loucura... A gente estava destinado um ao outro, hoje eu tenho certeza disso. Não foi por acaso que nós dois nos sentimos tão à vontade um com o outro desde o começo... já existia algo que nos ligava, mesmo sem a gente saber.

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- Eu acredito nisso também. Mas foi difícil, logo no início, encarar que minha felicidade não estava em nada do que eu tinha construído. Você virou minha vida do avesso... - Não, ela estava do avesso antes... – ele sorri. - É verdade. Você virou para o lado certo – ela concorda, com os olhos brilhando – Obrigada por ter me dado força e coragem para ser feliz. - Ah, Amélia... eu não te dei nada... só amor – Vitor devolve, emocionado. Amélia segura às mãos dele: - Mas era só disso que eu precisava, que eu não tinha... só com você eu conheci o que é ser amada. Ele acaricia o rosto dela: - Como pode, uma mulher tão linda e tão doce não ser amada? - Não sei... acho que tinha que ser você, só você – ela sorri, com os olhos marejados. Vitor também sorri, e vai aproximando os lábios. Primeiro roça seu rosto no dela, de leve, e devagarinho vai encontrando os lábios. Eles trocam um beijo carinhoso e demorado, enquanto o pedalinho flutua no meio do Lago Negro. Depois Vitor volta a conduzir o cisne, dando a volta pela margem do lago, e volta e meia trocando olhares com Amélia. Saindo do Lago Negro, eles passam em uma loja dos tradicionais chocolates de Gramado. Enquanto Amélia escolhe os presentes para os filhos, Vitor coloca uma porção de bombons e barras numa cestinha. - Pra que tudo isso, Vitor? – ela questiona, ao ver a cesta quase cheia. - Ora, pra nós... – ele se aproxima e sussurra no ouvido dela – Quero mais beijos com chocolate. - Ah, é? – Amélia ri, olhando para ele de um jeito cúmplice, e depois volta à atenção para a cesta – E o presente da Lurdinha? Não esqueceu, né? - Não... está aqui – ele mostra a caixa de bombons – E olha o que achei para a minha enteadinha... – Vitor pega um cavalinho de chocolate. - Que graça... é a cara da Manu, mesmo. Acho que já chega... senão vai faltar espaço na mala para tanto chocolate. - Mas isso é fácil de resolver... te garanto que boa parte desses bombons não vão chegar até Foz – ele brinca. - Que é isso... parece criança que nunca viu chocolate... – ela se diverte. - Fazia tempo que eu não me esbaldava assim... mas agora eu viciei nos seus beijos doces, quero mais, e mais, e mais... – ele retruca, dando beijinhos nos lábios dela. - Mas é um bobo... – Amélia sorri e o puxa pela mão – Vem, vamos para o caixa. - E agora? – pergunta Vitor na saída da loja, carregando as sacolas – Para onde vamos? Você conhece algum bom restaurante aqui, pra gente almoçar? - Hum... – Amélia pensa por alguns instantes – Almoço, não. Vamos fazer algo diferente, bem típico da região... tomar um café colonial. - Café colonial? - É, vem comigo, você já vai ver do que se trata. Eles entram num café perto dali e escolhem uma mesa. Logo em seguida, os garçons trazem diversos pratos: bolos de chocolate, milho, coco, banana, laranja, limão e cenoura, pasteizinhos de queijo e de frango, waffer, cuca,

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queijadinhas, pão sovado, geleias diversas, uma tábua de frios, polenta frita, e até frango à milanesa e lombo de porco, entre outros quitutes, além de café com leite, chocolate quente, suco de uva e vinho. - Nossa, por onde a gente começa? – surpreende-se Vitor. XXVI - Você eu não sei, mas eu vou começar por este pastel de queijo – responde Amélia, servindo-se. Vitor nem retruca, já está de boca cheia e escolhendo mais coisas para colocar no prato. Amélia ri do jeito dele, enquanto explica: - O café colonial foi inspirado nas mesas fartas dos colonos italianos e alemães. E assim, nessa dinâmica de restaurante, começou aqui em Gramado. - E bota mesa farta nisso... – ele se diverte. - Ainda tem um buffet de sobremesas lá no canto, com tortas, musses, sagu, ambrosia, pudim de leite.. – ela ri. - Isso chega a ser maldade... – brinca Vitor – Não tem como uma pessoa só provar tanta coisa. - Não precisa provar tudo, escolhe o que te agrada mais – Amélia acha graça. - Ah, mas não dá vontade de experimentar um pouco de cada? - Dá! Os dois caem na risada. Vitor respira fundo e serve vinho para ambos: - Um brinde... a esse momento, que é simples e rico ao mesmo tempo – ele segura a mão de Amélia antes de continuar – Porque todo momento é rico se nós dois estamos juntos. - Vitor... – ela murmura, emocionada. Eles tocam as taças e continuam comendo, como se estivesse em lugar onde só existe felicidade. Quando saem do café, Vitor passa a mão sobre a barriga: - Acho que comi demais... – ele diz, fazendo uma careta. - Guloso! – Amélia dá uma risada. Vitor a olha de um jeito malicioso e passa os braços em volta da cintura dela, sem largar as sacolas dos chocolates:

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- Sou guloso, sim... mas por outra coisa – ele cola seus lábios aos dela, em um beijo apaixonado. - Vitor... nós estamos no meio da calçada... – ela diz com dificuldade, assim que consegue se esquivar um pouco. - Tá certo... – ele solta um suspiro – Já é hora de voltarmos pro hotel em Canela, mesmo. Amanhã partimos bem cedo. No quarto do hotel, Amélia toma um banho e depois fica arrumando as malas, enquanto Vitor se lava. Vestindo apenas um roupão, ele se aproxima dela e a abraça por trás: - Depois a gente arruma o que falta... Agora eu quero continuar aquele assunto que começamos em Gramado. - Que assunto? – ela se faz de desentendida, com um sorriso travesso, enquanto Vitor a faz virar de frente para ele. - Esse... – ele a beija com intensidade. Amélia se entrega ao beijo, colocando as mãos dentro do roupão dele, pressionando-lhe as costas e os ombros. Vitor vai conduzindo ela até a cama, sem descolarem os lábios. Ainda aos beijos, ele deita Amélia, se colocando sobre ela, até se encaixarem, numa sensação de necessidade de terem seus corpos cada vez mais juntos. Trilha sonora: Bem Maior – Roupa Nova http://www.youtube.com/watch?v=Qr1iw31_N8o

Mal amanhece, eles já deixam o hotel de Canela, rumo à Foz do Iguaçu. Lá, eles se hospedam no Hotel das Cataratas, de onde partem as trilhas para as famosas quedas d’água. Eles saem para o passeio à tarde, após o almoço. Ao chegarem num dos principais mirantes, Amélia fica encantada com vista, com a combinação da espuma branca das águas com o verde da vegetação das encostas. Naquele momento, a paisagem está ainda mais bela, adornada por um arco-íris. - Meu Deus... é lindo! – balbucia Amélia, emocionada – E com esse arco-íris, ainda... - Gostou? – Vitor sorri e brinca – Mandei fazer especialmente pra você... - Bobo... – ela retruca de um jeito todo derretido, beijando os lábios dele. Eles seguem pela trilha, encantando-se com as plantas, flores e animais que veem pelo caminho. Borboletas coloridas aparecem a todo momento, tornando ainda mais bonito o percurso. Uma borboleta pousa no braço de Amélia. - Olha, Vitor! Dizem que quando uma borboleta pousa na gente, é sinal de sorte... Será que é possível ter mais sorte do que eu já tenho, por ter encontrado você? - Quem sabe? Muita coisa pode acontecer ainda nas nossas vidas... Nossa história ainda está só começando – ele sorri. - É verdade... mas nossa história é tão intensa que já parece que estamos juntos há muitos anos. - Mas estamos... juntos há muitos séculos. Nós dois não nos encontramos, nossas almas se reencontraram... tenho certeza disso. Ela olha nos olhos dele, emocionada:

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- Eu também. Talvez eu tivesse algumas contas para pagar antes desse reencontro, por isso vim um pouco antes para esse mundo... - Ou talvez eu não tenha merecido vir antes... mas o que importa é que estamos juntos outra vez, e nada mais vai nos separar. Ambos com os olhos marejados, eles aproximam os lábios num beijo tranquilo, como só experimentam aqueles que têm certeza do amor. O casal percorre a passarela que leva para perto das cataratas. Ali, as palavras se tornam desnecessárias. Eles ficam em silêncio, de mãos dadas, olhando para aquela água abundante e ouvindo o som que ela faz, um som que os faz sentir quase em outra dimensão. Depois de algum tempo, Vitor abraça Amélia por trás, e sussurra no ouvido dela: - Parece que a gente está mais perto do céu... - Parece mesmo – ela sorri e solta um suspiro – Que bom que você está aqui comigo... que bom que posso compartilhar tudo isso com você. Ele beija o rosto dela, e a abraça mais apertado, ficando com os rostos colados lado a lado. Assim eles permanecem mais alguns instantes, como que hipnotizados pelas águas das cataratas. XVII Os dois estavam tão absortos com o que viam e ouviam que nem tinham percebido que estavam se molhando com os respingos da catarata. É Vitor quem se dá conta primeiro: - Meu amor, olha como você está, com a roupa úmida... Vamos, não quero que você pegue um resfriado – ele avisa, com de um jeito todo cuidadoso. Amélia olha para ele, com um sorriso de quem se sente em paz: - Você também está molhado... – ela mexe nos cabelos dele, e fala com suavidade – Também precisa se trocar... - Então vamos voltar para o hotel – responde Vitor.

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Eles dão uma última olhada para as cataratas e fazem o caminho de volta na passarela, de mãos dadas. Trilha sonora: Vieste – Lenine http://www.youtube.com/watch?v=9u6iTGeVfWE

Já no quarto do hotel, Vitor começa a tirar o leve casaco que Amélia usa, enquanto ela desabotoa a camisa dele. - Até sua camiseta está úmida... Melhor você tomar um banho... – ela recomenda. - Sozinho? Não... vem comigo – ele a conduz até o banheiro. Amélia se deixa conduzir, sorrindo. Vitor abre o chuveiro, confere a temperatura da água e puxa Amélia, beijando-a enquanto a água cai sobre eles. - Vitor! Que ideia é essa, entrar de roupa no chuveiro? – ela ri. - Deu vontade – ele também ri, tirando a camiseta molhada, depois ajudando Amélia a também tirar as roupas. - Seu maluco... – ela murmura, sorrindo. Vitor a puxa para junto de si, dizendo: - Maluco por você! – e a beija intensamente. Após um longo beijo, ele pega o sabonete e passa pelo corpo de Amélia com cuidado. Logo em seguida ela tira o sabonete da mão dele e retribui, deslizando pelo peito, braços, costas... Eles curtem aquele momento num clima de total carinho e cuidado mútuo. Após o banho, eles se recostam na cama, aconchegados. Ficam trocando beijinhos e carinhos até que Vitor diz: - Vamos jantar aqui no quarto? - Por quê? - Ah, não queria sair... está tão bom ficar assim de chamego com você... - É, não dá vontade de sair mesmo... – ela concorda, aconchegando-se ainda mais nos braços dele, que a abraça forte. - Lembra quando a gente ficava assim, no meu quarto da estalagem? - Claro que lembro... – ela sorri – Era tão difícil levantar daquela cama para ir embora, nem sei como eu conseguia. Acho que era o medo de que acontecesse algo com você que me movia. - Agora não existe mais medo, só amor – ele levanta o rosto de Amélia e a beija mais uma vez. No dia seguinte, logo de manhã, eles saem para o Macuco Safari, onde na primeira etapa do passeio andam numa carreta aberta que permite uma visão geral do cenário ao longo da trilha, cheia de árvores centenárias e flores típicas das matas. - Amor, olha aquelas orquídeas... que lindas! – aponta Amélia, encantada – Adoro orquídeas! - Eu sabia que seriam elas que iam mais chamar sua atenção – ele ri. - Ah, é? - É. Uma vez, antes até da gente se apaixonar, fiquei te olhando enquanto você cuidava das suas orquídeas lá na fazenda... cuidava com tanto carinho, quase como se fossem suas filhas. – Vitor olha para ela de um jeito contemplativo -

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Fiquei um bom tempo te admirando naquele dia. Acho que eu já estava me apaixonando, só não tinha percebido... - Vitor... – Amélia sorri, e dá um delicado beijo nele. Depois voltam a apreciar a trilha, que é atravessada de vez em quando por alguns animais silvestres. Ao final do trajeto, ela suspira: - Amei, Vitor! Achei tudo lindo! - Mas ainda não acabou, essa foi só a primeira parte do passeio aqui. Vem! – ele a puxa pela mão. - Onde você está me levando? – ela pergunta, enquanto o segue. - Você só vai saber quando chegar lá – Vitor responde com um sorriso travesso. Eles chegam ao cais do Macuco Safari, na margem brasileira do rio Iguaçu. Ali, um barco inflável bimotor está ancorando, esperando pelos turistas para partir. - Você quer me levar para passear nesse barco? – Amélia questiona, um pouco insegura. - Não se preocupa, não sou eu quem vai conduzir – brinca Vitor. - Ainda bem! – ela ri. - Ah, mas será que você nunca vai esquecer a minha trapalhada na gôndola? - Difícil, né? Quem mais vai me deixar à deriva no meio do Grande Canal de Veneza? – Amélia se diverte. - Eu mereço, eu mereço... – ele balança a cabeça, rindo – Mas não foi tão ruim assim, foi? - Agora tudo parece engraçado... – ela continua aos risos. - Já estou até vendo... quando a gente chegar a Girassol, a primeira coisa que você vai contar pro pessoal é que eu tentei bancar o gondoleiro e perdi o remo... Vou ser a piada do dia – Vitor reclama em tom de brincadeira. - Ah, Vitor, aquela foi histórica! Tem como não contar? – ela ri mais um pouco, depois passa os braços em torno do pescoço dele – Mas a primeira coisa que eu vou dizer é que essa foi à viagem mais linda da minha vida... mesmo com trapalhadas. Vitor sorri, e Amélia aproxima os lábios. O casal troca um rápido beijo. - Vamos logo colocar os coletes salva-vidas, que o barco já vai partir – ele diz, pegando primeiro um colete para Amélia e a ajudando a colocar. Depois ela também o ajuda a colocar o seu salva-vidas, e os dois se acomodam no barco. Ela solta um suspiro, enquanto esperam a partida. Vitor sorri e aponta: - Tá vendo ali, ó? É barco a motor, não vai ter problema com remos... - Eu nem falei nada... – ela ri. - Mas pensou, eu sei... Conheço seus suspiros – ele também ri. Antes que Amélia consiga responder, os motores do barco começam a fazer barulho. - Preparada? Vamos chegar perto da base das cataratas – avisa Vitor, segurando a mão de Amélia. - Preparadíssima – ela sorri, enquanto o barco começa a subir o rio.

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XXVIII O barco atravessa o canyon, enfrentando as corredeiras, até chegar perto da chamada “grande ferradura”, também conhecida como Garganta do Diabo, na base das cataratas. Vitor e Amélia admiram a tudo, encantados. Estando tão perto das quedas d’água, são inevitáveis os respingos. Mas o casal não se importa, pelo contrário, sentem como se tivessem sendo abençoados pela natureza. Quando começam o trajeto de volta, Vitor olha para Amélia: - Molhou aqui... e aqui... aqui... – ele diz enquanto vai enxugando o rosto dela com as pontas dos dedos. Ela sorri: - Aqui também... – devolve, passando os dedos no rosto dele. Vitor sorri de volta e beija os lábios dela com carinho. Depois Amélia acaricia o rosto dele de novo: - Obrigada por ter me trazido aqui... nesse lugar lindo. Estou sentindo uma paz! Sinto como se nada pudesse nos fazer mal, sabe? Ele a estreita em seus braços: - Sei... estou me sentindo assim também. Acho que uma paz assim só senti quanto estávamos no Jalapão. - É mesmo. Naquelas dunas, cachoeiras... só nós dois... – Amélia chega a ficar emocionada de lembrar. - ...e o nosso amor – Vitor completa, e fica pensativo – Queria ficar assim de novo com você, sozinhos em meio à natureza... - Seria maravilhoso – ela concorda. - Vou planejar isso. Mas para daqui a alguns dias... ainda temos coisas lindas para ver aqui em Foz.

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Eles saem do Macuco Safari e vão procurar um restaurante para almoçar. Já é quase metade da tarde, mas os dois estavam tão envolvidos com o passeio que nem sentiram fome. - A gente precisa ir ao Parque das Aves. Dizem que é muito bonito. Mas podemos deixar para amanhã, assim podemos ver tudo com muita calma – Vitor sugere. - Sim, amanhã... Hoje eu queria ir de novo naquele mirante perto do hotel, pode ser? - Claro que pode! Após o almoço, Vitor leva Amélia para o mirante. Ela fica em silêncio, contemplando as quedas d’água, até que ele comenta: - Se você está tão encantada com as cataratas, imagina quando chegarmos em Bonito... Amélia se vira para ele, surpresa: - Hã? - Isso mesmo, Bonito, no Mato Grosso do Sul. É lá que vamos terminar nossa lua-de-mel – Vitor sorri. - Nem sei o que dizer... – ela murmura, boquiaberta. Ele acaricia os cabelos dela: - Não precisa dizer nada, não... me basta ver que você está feliz. - E estou, muito... – ela põe os braços em torno do pescoço dele – Te amo, sabia? - Sabia... mas é sempre bom ouvir de novo – retruca Vitor, com um sorriso travesso. Amélia ri e vai aproximando os lábios, para um beijo que acontece entre sorrisos. Trilha sonora: Tudo - Gonzaguinha http://www.youtube.com/watch?v=UdBNorXfVp4

No outro dia, eles chegam cedo ao Parque das Aves. Logo na entrada, conhecem a Árvore da Vida. Junto dela, há uma placa com uma lenda que Vitor lê em voz alta: “Em suas andanças pelo mundo, o jovem deus Wotan se depara com a Árvore da Vida. Entre as raízes da árvore nasce a Fonte do Saber”. O Deus oferece um olho em sacrifício para beber da água e então com sua espada corta um pedaço do tronco. Com esta madeira ele cria uma lança, na qual entalha as regras do mundo. Com esta lança ele domina o mundo. Mas… A árvore ao ser ferida morre e a Fonte do Saber seca. A árvore pega fogo, se espalha e consome toda a Terra. Depois a água inunda tudo… extinguindo homens, gigantes, anões e deuses. As águas descem… e a natureza ressurge, porém desta vez sem seres humanos.” - Sabe o que quer dizer essa lenda, Amélia? Que a natureza não precisa de nós, somos nós que precisamos dela. - É verdade... – ela concorda, ainda refletindo sobre a história, enquanto contempla os pássaros que voam em torno da Árvore da Vida.

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Em seguida eles visitam viveiros de araras e papagaios. Uma placa avisa que uma arara azul, encolhida no tronco, teve as asas amputadas por traficantes antes de ser resgatada pela polícia florestal. - Meu Deus! Como pode alguém ser tão cruel? – Amélia fica chocada. - É, não dá nem pra chamar um ser desses de humano... – responde Vitor. - Não dá mesmo... é muita maldade. Amputar um bicho tão lindo, só por dinheiro? Imagina a dor que essa pobre arara sentiu? – ela diz, quase chorando. - Calma, Amélia... – Vitor a abraça – Também não me conformo. Mas essa arara, pelo menos, foi salva. - É... – Amélia esboça um sorriso, olhando para a ave – Espero que ela nunca mais passe por nenhum sofrimento. Andando mais um pouco, encontram um lago com flamingos e cisnes. - Olha os cisnes, Vitor! Que lindos! - exclama Amélia. - Isso me lembra O Patinho Feio, sabia? Eu gostava muito dessa história quando era criança... - Por quê? Você devia ser uma criança linda, loirinho assim, com esses olhos verdes... – ela se surpreende. - Justamente por isso. Eu era aquela criança que os adultos acham linda... E que os outros meninos invejam. Meus colegas viviam me zoando, implicando comigo. E eu, pra querendo me impor, tentava resolver na porrada – ele ri – Geralmente era por causa das brigas que eu voltava esfolado do colégio... - Não consigo imaginar você brigando com os coleguinhas... - Melhor assim, nem tente... Continue com a imagem de bom moço que você tem de mim – Vitor dá outra risada. - Sei... – Amélia também ri. Depois de visitarem mais viveiros de aves, eles chegam à área dos répteis, onde veem jiboias, sucuris e jacarés. Vitor se encanta com uma iguana: - Olha só... queria ter uma dessas de bichinho de estimação. - Para, Vitor... – Amélia não leva a sério. - Quero mesmo, dá pra criar no apartamento – ele insiste, querendo rir. - Não, o lugar delas é na natureza – ela censura. - Tá certo, desisto – Vitor não consegue mais segurar os risos. Seguindo a trilha, eles visitam o borboletário, onde Amélia fica fascinada com as diversas cores das borboletas. Junto dali ficam também os beija-flores. - Adoro beija-flores! Me sentia recompensada quando aparecia algum para beijar as minhas flores lá na fazenda... – ela comenta. - São lindos mesmo – Vitor concorda – Mas vamos em frente, que eu quero ver as corujas. Acho fascinantes... elas têm um ar misterioso, né? - Têm. E são o símbolo da sabedoria, você sabia? - Sabia, sim, professora – ele brinca. - Bobo! – Amélia dá um tapinha nele. Vitor a segura pela cintura: - Sabe que eu gosto quando você me chama assim? - De bobo? - É – ele ri – Fico com vontade de te mostrar que não sou tão bobo assim... Vitor puxa Amélia para junto de si e a beija apaixonadamente.

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XXIX Após um longo beijo, Amélia afasta Vitor com dificuldade: - Ai, Vitor... você fica me roubando beijos e agora olha lá, o guia e os outros turistas já foram adiante e nós ficamos para trás... – ela censura brincando. - Você não gostou? – ele retruca com um olhar travesso. - Gostei – Amélia ri, e puxa Vitor pela mão – Mas agora vamos, rápido. Eles dão uma corridinha, aos risos, alcançando o grupo. Depois de visitarem os últimos viveiros, Amélia suspira: - Que lugar lindo, Vitor! Todos esses pássaros... e outros animais... - Aqui a gente vê que somos só uma pequena parte de algo muito maior, né? Às vezes a gente se distancia tanto da natureza que se esquece disso. - Verdade... - ela fica pensativa – A Rurbana podia apoiar algum projeto como esse parque, não acha? Algo no Araguaia ou no Jalapão. - Vamos ver isso, sim, assim que chegarmos em casa – ele concorda, com um sorriso entusiasmado – Agora vamos almoçar, para voltar cedo ao hotel... partimos ainda hoje para Bonito. Eles chegam ao Mato Grosso do Sul à noite, e vão direto para o quarto que Vitor já havia reservado num hotel-pousada. Após se acomodarem, Vitor se joga na cama: - Chega por hoje, né? - Chega do quê? – Amélia pergunta, sentando na cama, perto dele. - De sair, andar, ver coisas... quero olhar só pra você agora. Vem cá – ele a puxa, fazendo-a deitar junto dele. Ele percorre o rosto dela com os dedos, delicadamente, depois cola seus lábios dela. O beijo começa suave, mas vai ficando mais intenso. Já com a respiração alterada, Vitor vai tirando a roupa de Amélia, beijando o corpo dela. Ao mesmo tempo, ela vai subindo a camiseta dele, e apertando suas costas com as pontas dos dedos. Vitor encaixa seu corpo ao de Amélia, e eles se amam até adormecerem nos braços um do outro.

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Trilha sonora: As Coisas Tão Mais Lindas – Cássia Eller http://www.youtube.com/watch?v=jOowmbyhZnk

Na manhã do dia seguinte, Vitor leva Amélia para o Aquário Natural. Primeiro eles treinam numa piscina o uso de máscara e snorkel. Só depois eles vão para o rio Baía Bonita praticar a flutuação, onde se usa o equipamento necessário para não tocar no fundo e nas plantas, assim evitando que a água turve. Os pedriscos do leito do rio refletem a luz do sol em tonalidades que variam do azul ao prata. Como se estivessem num imenso aquário, Amélia e Vitor flutuam entre várias espécies de peixes, que nadam entre as plantas aquáticas ondulantes. Quando voltam para o barco de apoio, Amélia comenta, ainda encantada: - Vitor... acho que nunca vi nada tão lindo quanto esse rio. Ele sorri, olhando para ela: - Eu já vi... você! Amélia dá um sorriso iluminado e o beija com carinho, emocionada. Saindo dali, eles pegam a trilha até o rio Formoso. - Vamos, Amélia, soube que tem algo muito legal aqui... – avisa Vitor, sorrindo de um jeito travesso e puxando-a pela mão. - O quê? – ela pergunta, seguindo-o sem escolha. - Isso! – já na margem do rio, ele aponta para um pula-pula inflável dentro da água. - Você não está querendo que eu suba nisso? - Vai ser divertido... vem! - Não, Vitor... - Vem, não tem perigo... eu cuido de você. Sem conseguir resistir, Amélia se deixa conduzir até o pula-pula. Vitor segura as duas mãos dela, à sua frente, e vai dando impulso de leve. Nos primeiros pulinhos ela ainda está tensa, mas logo relaxa e pulam juntos com mais força, aos risos. Vitor vai chegando mais perto de Amélia sem parar de pular, e de repente a abraça. Assim, com os corpos colados, continuam pulando mais um pouco, até que ele a “derruba” no meio do brinquedo, caindo junto, por cima dela. - Vitor! Por que você fez isso? – ela reclama. Ele dá um sorriso travesso: - Pra fazer outra brincadeira... – Vitor junta seus lábios aos dela, e sem parar de beijá-la vai rolando até caírem na água. Entre risos, eles trocam mais beijos dentro do rio, até que Amélia comenta: - Vitor... só você pra me colocar numa dessa... brincar num pula-pula! - Mas não foi divertido? - Foi! – ela ri. - É bom voltar a ser criança de vez em quando... você está com um sorriso tão lindo! – ele a contempla. - Estou me sentindo leve... Vitor olha para Amélia com paixão e abraça forte: - Humm, como é gostoso estar na água com você! Adoro! Que pena que não estamos sozinhos... – ele afasta o rosto o suficiente para encará-la com um olhar malicioso.

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- Vitor! – ela o censura. - Eu sei, vou me comportar... Dá só um beijinho? - Só um – ela sorri, aproximando os lábios. À noite, enquanto Amélia se prepara para dormir, Vitor conta: - Amanhã quero te levar na Gruta do Lago Azul... Mas preciso saber se você está disposta a um certo exercício, porque para chegar à gruta tem que descer uma escadaria rústica. - Quantos degraus? - Só 300. - Só? – ela ri. - Amor, nós sobrevivemos aos mais de 900 degraus da Cascata do Caracol... 300 vai ser moleza! - Ah, vai... – Amélia ainda acha graça. Os dois ficam apenas rindo juntos por alguns instantes, até que ela diz com convicção: - Você tem razão, a gente aguenta essa escada. - Assim é que eu gosto, corajosa... – ele sorri, mas logo muda para um ar preocupado – Ah, mas toma cuidado, viu, presta bastante atenção onde pisa! - Pode deixar, eu cuido... e qualquer coisa, você me salva – Amélia responde com um sorriso travesso. - Não brinca com isso – ele retruca, muito sério – E se eu não conseguir te salvar, hein? Não quero nem pensar... - Desculpa... não brinco mais – ela se aproxima dele com um olhar de arrependimento, e o beija delicadamente – Não vai acontecer nada, tá? Vitor olha para ela, ainda com um jeito angustiado: - Não posso te perder, Amélia... não consigo nem imaginar isso. - Não, isso não vai acontecer – ela segura o rosto dele entre suas mãos e olha fixamente em seus olhos – Também não posso ficar sem você... Ele finalmente dá um leve sorriso, e tira as mãos dela de seu rosto, beijando-lhe as palmas, depois a puxa para junto de si, beijando-a, primeiro de leve, depois com avidez, como se tivesse uma necessidade imensa daquele beijo. Depois, Vitor acaricia o rosto dela enquanto diz: - Vai ser mais um dia lindo, sabia? Já estou imaginando você, naquelas águas azuis... XXX

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Ansiosos, Vitor e Amélia seguem o guia até a entrada da Gruta do Lago Azul. Vitor desce os primeiros degraus da escadaria e chama: - Vem, Amélia... com cuidado. Eles vão descendo devagar. Ao chegarem à base da escada, ficam boquiabertos com o que veem: um lago de águas intensamente azuladas, cercado por formações rochosas como estalagmites e estactites, no teto e no piso da gruta. - Meu Deus... esse lugar é de verdade? – murmura Amélia, ainda impressionada. - É sim, meu amor... – responde Vitor, também maravilhado. Ele puxa a mão dela – Vem... Os dois chegam mais perto da água e se ajoelham na margem do lago. Ficam algum tempo apenas mexendo naquelas águas com as mãos, vendo aquele azul infinito ondular-se com o movimento. - Cuidado, a profundidade do lago pode chegar a 80 metros – avisa o guia. - Obrigado, não vamos sair da margem – garante Vitor. Amélia faz uma concha com as mãos e pega um pouco de água do lago, despejando no rosto. Vitor a observa, sorrindo. Ela pega mais um pouco de água, e despeja no rosto dele, depois sorri. Ele a olha com jeito de quem vai aprontar algo, e de repente começa a jogar água na direção dela, feito uma criança brincando na piscina. Ela ri e joga também água nele. Ficam os dois brincando assim por algum tempo, até que, bem molhados, param e ficam apenas rindo. - O que foi isso, Vitor? – Amélia pergunta, sem conseguir parar de rir. - Não sei – ele também continua aos risos – Será que a gente encontrou a fonte da juventude e voltou a ser criança? - Não... – ela sorri de um jeito iluminado, e abre bem os braços – Acho que estamos só nos sentindo livres! Sorrindo também, Vitor chega mais perto e a beija, depois ajeita os cabelos dela, que ficaram bagunçados na brincadeira: - Olha só, está toda molhada... - Você também, dá pra torcer sua camiseta... – Amélia ri. - Hora de voltar, então? – ele faz um bico. - Ah, que bonitinho... Mas não adianta fazer essa cara, o guia já está nos esperando lá na escada. Vitor se levanta e estende as mãos para Amélia, ajudando-a a se levantar. Eles seguem passeando por Bonito. No final do outro dia, Amélia está no quarto, se arrumando depois do banho, quando Vitor entra: - Amor, já fechei a conta. - Como assim? Vamos embora hoje? - Não, só amanhã. - Mas... não estou entendendo. Ele sorri: - Vamos passar essa noite em outro lugar – ele vai até o armário e tira um saco – Está vendo essa barraca? Eu aluguei. - Você está querendo dizer que... – ela balbucia, incrédula. Vitor balança a cabeça afirmativamente: - É, nós vamos acampar. Consegui um local bem tranquilo, perto do rio. - Vitor... você está brincando, né?

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- Não, Amélia. Já está tudo preparado: colchonetes, lanternas, mantimentos... - Como você providenciou tudo isso sem eu ver? – ela parece lembrar-se de algo – Ontem, enquanto eu estava no banho, você foi pra rua... ah... - Eu já tinha encomendado tudo por telefone. Sou eficiente, meu amor... – ele dá uma piscadinha. - E convencido! – Amélia ri, e olha para o saco da barraca, nós pés deles, depois volta o olhar para Vitor – Ai... eu ainda acho isso uma loucura, mas... eu vou passar a noite com você na beira do rio, claro que eu vou. - Vai ser uma noite linda, te prometo. Até encomendei um céu estrelado, sabia? – ele diz com um sorriso. - Bobo... – derrete-se Amélia. Vitor sorri e dá um beijo nela, interrompendo repentinamente: - Ah, nossas malas vão ficar aqui no hotel, antes de partir definitivamente de Bonito a gente vem busca-las – ele volta até o armário – Agora vamos levar só algumas roupas, nessa mochila. Não esquece o biquíni, hein? - Vou precisar, é? – ela pergunta achando graça. - Vai... Mas se você preferir tomar banho de rio sem biquíni, acho até melhor... – ele devolve com um olhar malicioso. - Até parece... – ela ri – Vou pegar as roupas... e o biquíni, tá? Aos risos, eles arrumam o que falta antes de deixarem o hotel. Trilha sonora: É Necessário – Almir Sater http://www.youtube.com/watch?v=pF_5jwnegrQ

Vitor monta a barraca no local reservado, depois estende os colchonetes do lado de fora. Ele liga um pequeno tocador de música portátil, colocando para tocar a canção “É Necessário”, de Almir Sater. Amélia ainda está de pé, observando tudo. Vitor senta no colchonete e chama: - Vem! Vai ficar aí só olhando? Ela ri e senta ao lado dele, que acaricia o rosto dela: - Olha em volta... – Amélia obedece, e ele continua – Só nós e a natureza. - Você disse que ia planejar outro momento assim, como no Jalapão... e cumpriu – ela sorri, encantada. - Isso mesmo... Essa noite é totalmente nossa. Ele beija de leve os lábios dela, depois convida: - Deita aqui, juntinho de mim – Vitor ajuda Amélia a se aconchegar nos braços dela – Agora olha pra cima... não disse que o céu estaria cheio de estrelas? Amélia fica algum tempo em silêncio, contemplando aquele céu salpicado de estrelas, como se estivesse imersa nele. Quando se volta para Vitor, ela tem os olhos marejados: - Lindo, lindo... olhando assim, desse jeito, parece que estamos mergulhados nesse céu... Ele acaricia o rosto de Amélia de novo, e sussurra: - Mas a estrela mais linda está aqui do meu lado... Ela sorri, e os lábios vão se aproximando até se juntarem. Beijam-se sem pressa, como se tivessem todo o tempo do mundo para ficarem ali, entregues àquele momento. Sem pensar em mais nada, Vitor vai tirando a roupa de Amélia devagar, acariciando cada parte do corpo dela que descobre. Ele para por um instante e contempla o corpo de Amélia diante dele. Então, ela vai tirando a camiseta dele, deslizando as mãos por seu tórax. Ofegante, Vitor vê

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Amélia desabotoar a calça dele, e ajuda a tirar o que falta. Com cuidado, eles vão colando seus corpos, e se amam ali mesmo, sob as estrelas. Já é madrugada quando Amélia acorda, e se junta mais a Vitor. - Tá com frio, amor? – ele pergunta com voz de sono, percebendo que ela instintivamente busca se aquecer abraçando-o. - Sim... - Também, nós acabamos adormecendo aqui fora, desse jeito... – ele sorri, passando a mão pela máxima extensão do corpo dela que consegue – Vamos pra barraca, vem... Eles juntam as roupas e entram. Amélia tenta vestir a blusa, mas Vitor a impede: - Larga isso... – ele murmura, tirando a blusa das mãos dela e jogando num canto da barraca, Em seguida, começa a beijar o colo dela, subindo até encontrar os lábios. Amélia se entrega aos beijos, sem pensar em mais nada, e eles se amam mais uma vez, depois dormem abraçados. XXXI O sol já está alto quando Vitor acorda e abre a portinha da barraca, espiando para fora. Ele sorri ao ver o céu muito azul, sem nenhuma nuvem. Depois volta para junto de Amélia e diz, perto do ouvido dela: - Acorda, amor... vem ver como o dia está lindo! Ela abre os olhos e sorri ao vê-lo: - Bom dia... - O dia vai ficar melhor ainda depois que você colocar seu biquíni e me acompanhar – ele diz com ar travesso. Amélia se espreguiça, depois procura o biquíni na mochila. Quando ela está pronta, os dois saem da barraca. Amélia olha em volta, encantada com o céu profundamente azul, a água do rio brilhando com a luz do sol, a vegetação emoldurando tudo. - Está lindo mesmo... – ela comenta. - É... – Vitor concorda, e sem aviso a pega no colo. - Vitor! O que você vai fazer? – reage Amélia, pega de surpresa. Vitor apenas ri, e pula dentro do rio com Amélia nos braços. Já dentro da água, a enlaça pela cintura e a beija demoradamente, mergulhando e voltando à tona sem parar de beijar. - Pronto, agora acordamos pra valer – ele explica entre risos. - Eu digo que você é maluco... – ela também ri. - Vai dizer que não gosta das minhas maluquices? Ela põe os braços em torno do pescoço dele: - Adoro! – responde sorrindo, e o beija. Quando saem da água, Vitor liga o fogareiro e bota água para esquentar. Depois vai tirando uma porção de coisas da mochila: - Ó, tem café solúvel e leite em pó, e também biscoitos doces e salgados, bolo inglês, barrinhas de cereal... Não sei se vai ser uma refeição à sua altura, minha linda dama, mas temos um café da manhã – ele brinca. - Você não existe, Vitor... pensou em cada detalhe!

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- Claro, pensei em tudo com muito cuidado, para saísse nada menos do que perfeito... - Você que é perfeito, sabia? – suspira Amélia. - Não... eu tento ser... pra você! Só pra você. Ela sorri e se joga nos braços dele, enchendo-o de beijos. - Você disse que nossa viagem ia ser um sonho... e foi mesmo! Muito mais do que eu podia imaginar. Essa última noite, então, foi algo que nunca passou pela minha cabeça... acampar, dormir num lugar desses... - Você gostou? – ele pergunta sorrindo. - Achei maravilhoso! Nunca vou esquecer dessa noite... obrigada por ter me proporcionado tudo isso, meu amor... – ela responde quase emocionada. - Tá achando que acabou? Não... ainda tenho mais uma surpresa pra você. - Mais? – ela fica boquiaberta. - É, mas primeiro vamos tomar nosso café – ele pega o sachê de café solúvel e começa a ler as instruções – Você sabe como se prepara esse negócio? É só misturar na água? - Dá aqui que eu faço... – ela ri, colocando as canecas perto de si. Amélia prepara o café com leite dos dois, e eles fazem a refeição num clima de pura alegria. Depois Vitor desmonta a barraca e guarda todas as coisas na mochila, enquanto Amélia coloca uma blusa e uma calça sobre o biquíni. Vitor também veste uma bermuda sobre a sunga e uma camiseta, coloca a mochila às costas, e então estende a mão à Amélia: - Vem, amor, a gente vai pegar uma trilha agora... - Pra onde? - Surpresa, lembra? - Ah... – ela sorri, dando a mão à Vitor, e os dois seguem em direção à trilha. Depois de caminhar algum tempo, um som chama a atenção de Amélia: - Amor, esse barulho... é o que estou pensando? - É... – ele sorri – Estamos chegando. - Eu devia ter imaginado... você não iria embora sem fazer isso – ela ri. - Claro que não! Olha lá, já está dando pra ver...

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A cada passo, Amélia fica mais maravilhada com que vê: várias quedas d’água agrupadas numa linda cachoeira que quase forma uma parede de água, com outras cachoeiras menores por perto. Ao chegarem à margem do rio, Vitor larga a mochila e tira as roupas, enquanto Amélia permanece estática, contemplando aquela paisagem. - Amor? - Hã? Que foi? – ela parece despertar de um transe. - Tira essa roupa logo, vamos tomar banho de cachoeira! Amélia ri da empolgação dele, que parece um menino ansioso, e tira calça e blusa rapidamente. Com cuidado, vão entrando na água de mãos dadas. Vitor a conduz até a cachoeira, onde primeiro apenas sentem a água caindo sobre seus corpos, depois trocam beijos apaixonados debaixo da água. Eles se recostam numa pedra, bem junto da cachoeira, sem saírem totalmente de dentro do rio. Vitor percorre o corpo de Amélia com o olhar: - Você está tão linda assim, com os cabelos molhados, as gotinhas de água brilhando em sua pele... Ele a traz para mais junto de si e a beija com paixão. Ficam trocando beijos e carinhos, sem pressa, depois mergulham de novo e se banham mais uma vez na cachoeira. Ainda dentro da água, Vitor diz: - Agora sim, nós podemos voltar pra casa... Amélia sorri: - Como eu vou me acostumar com a vida normal, depois de tudo isso? - Não precisa se acostumar. De vez em quando a gente pega um avião e foge por alguns dias... – ele responde, sorrindo também. - Ah, é? Você vai continuar me fazendo surpresas? - Sempre! Vou continuar te surpreendendo, te amando, querendo você bem juntinho de mim... – Vitor fala aproximando os lábios de Amélia, terminando em um beijo intenso e demorado. Trilha sonora: Soneto do Teu Corpo http://www.youtube.com/watch?v=ypicmQUKJJw

* FIM *