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AMEL DO ESPIRITO SANTO O PERFIL DO INDICIADO PELO CRIME DE TRÁFICO DE MULHERES NO ÂMBITO DA POLÍCIA FEDERAL Artigo apresentado ao Concurso II Prêmio Libertas: Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Categoria Graduados. Brasília 2011

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AMEL DO ESPIRITO SANTO

O PERFIL DO INDICIADO PELO CRIME DE TRÁFICO DE MULHERES NO ÂMBITO DA POLÍCIA FEDERAL

Artigo apresentado ao Concurso II Prêmio Libertas: Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Categoria Graduados.

Brasília

2011

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar o perfil dos indiciados no crime de tráfico de mulheres no âmbito da Polícia Federal. Trata-se de um crime com grande impacto social, tendo sido matéria de estudo em diversas pesquisas nacionais e, atualmente, é objeto de políticas públicas por parte do governo federal. A pesquisa utiliza como uma das principais ferramentas o Sistema Nacional de Informações Criminais, que cataloga diversas informações pertinentes àquelas pessoas que foram indiciadas e, por conseqüência, identificadas em inquéritos policiais. Para a execução de políticas públicas, em especial as relacionadas à segurança pública no aspecto criminal, são de grande importância as informações pertinentes aos autores de crimes. O estudo de perfis é uma área da criminologia relativamente nova e que deve ser continuamente explorada. Este é um momento inicial. São avaliados pormenores que envolvem o volume de inquéritos instaurados e com indiciados, os crimes usualmente cometidos por este tipo de infrator, bem como suas características sociais. Palavras-Chave: Tráfico de Pessoas, Tráfico de Mulheres, Perfil do Indiciado., Segurança Pública, Sistema Nacional de Informações Criminais.

ABSTRACT

The present work aims at analyzing the profile of those indicted in the crime of Trafficking of Women in the ambit of the Federal Police. The Trafficking of Women is a crime with great social impact; it is subject of study of several national researches and is presently object of public policies on the part of the federal government. This research uses as its main tool the National System of Criminal Information, which catalogues several information regarding those indicted and, consequently, identified in police inquiries. In order to guide the execution of public policies, especially those related to public safety, in the criminal aspect, the information related to perpetrators of crimes is of great importance. The study of profiles is a relatively new area in criminology and should be continuously explored. This is a starting point. Details that involve the volume of inquiries instituted and with indictments, the crimes usually committed by this kind of infringer, as well as social characteristics are evaluated.

Keywords: Human Trafficking, Women Trafficking, Indictee Profile, Public Safety, National System of Criminal Information.

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INTRODUÇÃO

O crime de tráfico de mulheres tem sido objeto de atenção em âmbito

mundial, sendo atualmente, a terceira maior fonte de renda ilegal do crime

organizado. Os traficantes de mulheres atuam em todos os continentes e,

neste aspecto, o Brasil é considerado um grande “exportador” deste tipo de

“mercadoria”, principalmente para países da Europa. As autoridades

brasileiras nos últimos anos vêm buscando conhecer um pouco melhor a

dinâmica de atuação destes criminosos, o que motivou diversas pesquisas no

âmbito do Ministério da Justiça, bem como alterações legislativas com impacto

no Código Penal Brasileiro.

A apuração deste tipo de delito é uma das atribuições mais nobres da

Polícia Federal (PF), devido tanto à característica internacional do delito,

quanto ao fato de que o objetivo final de sua atuação fortalece ações nacionais

de valorização dos direitos humanos.

Diante deste cenário, é patente a necessidade de acrescentar novos

conhecimentos a respeito do tema, por parte da Polícia Federal, mais

especificamente, por intermédio do Instituto Nacional de Identificação

(INI/DITEC) e das informações por este acumuladas ao longo dos anos e em

decorrência da continua alimentação de registros de indiciados criminalmente

pela PF junto ao Sistema Nacional de Informações Criminais – SINIC, assim

como do envio dos Boletins de Identificação ao INI para arquivamento. Estes

dados, com as informações sobre os inquéritos instaurados e seus respectivos

indiciados, sempre estiveram disponíveis para a pesquisa, auxiliando assim

num melhor conhecimento sobre diversos tipos de crimes, em especial os de

atribuição da Polícia Federal.

O presente trabalho foi realizado com o objetivo de estabelecer o perfil

dos indiciados pelo crime de tráfico de mulheres no âmbito da Polícia Federal,

considerando a série histórica de 1994 a 2004, totalizada em 187 inquéritos

policiais, com 345 indiciados (pessoas), e 367 indiciamentos, até agosto de

2008. Almeja, portanto, encontrar padrões nas informações contidas no SINIC

por intermédio dos Prontuários de Identificação Criminal dos indiciados no

crime do art. 231 do Código Penal, com o fim de possibilitar ações de

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prevenção e repressão a este crime pelos órgãos competentes, bem como

outras informações que indiquem particularidades desta atividade, tais como:

detectar a prática de outros crimes correlacionados ao de tráfico de mulheres,

verificar a existência de um modus operandi, bem como a relação entre

caracteres sociais e o crime de Tráfico de Mulheres, assim como as tendências

prováveis, nos próximos anos, em termos de procedimentos apuratórios deste

tipo de delito no Brasil, a partir das informações levantadas.

JUSTIFICATIVA

O tráfico de pessoas, por meio do Decreto nº 5.948, de 26 de outubro

de 2006, acabou por se consolidar como um importante alvo de política

nacional (Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas), contendo

princípios, diretrizes e ações com o foco em três eixos considerados

estratégicos: prevenção, repressão e responsabilização, e atenção às vítimas.

Dentre estas é importante destacar para o presente estudo (grifo nosso):

DIRETRIZES ESPECÍFICAS [...] Art. 6º São diretrizes específicas de repressão ao tráfico de pessoas e de responsabilização de seus autores: I - cooperação entre órgãos policiais nacionais e internacionais; II - cooperação jurídica internacional; III - sigilo dos procedimentos judiciais e administrativos, nos termos da lei; e IV - integração com políticas e ações de repressão e responsabilização dos autores de crimes correlatos. [...] AÇÕES Art. 8º Na implementação da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, caberá aos órgãos e entidades públicos, no âmbito de suas respectivas competências e condições, desenvolver as seguintes ações: I - na área de Justiça e Segurança Pública: [...] c) fomentar a cooperação entre os órgãos federais, estaduais e municipais ligados à segurança pública para atuação articulada na prevenção e repressão ao tráfico de pessoas e responsabilização de seus autores; (BRASIL, 2006).

Recentemente, e objetivando concretizar esta política nacional, foi

instituído por intermédio do Decreto nº 6347/2008 o “Plano Nacional de

Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas”. O grupo de trabalho de caráter

interministerial que o desenvolveu, quando trata da responsabilização dos

autores deste tipo de tráfico, menciona uma de suas prioridades: “Ampliar e aperfeiçoar o conhecimento sobre o enfrentamento ao tráfico de pessoas nas

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instâncias e órgãos envolvidos na repressão ao crime e responsabilização dos autores” (grifo nosso).

Diante do exposto, os resultado alcançados no presente trabalho

poderão servir como elemento de comparação às pesquisas anteriores

realizadas, subsidiando ainda ações governamentais específicas, assim como

poderão servir como referências para futuros estudos, uma vez que o

conhecimento científico ocorre de maneira sistemática e contínua. Neste

contexto também as ações envolvendo investigações e a execução de políticas

públicas, para tornarem-se efetivas, devem subsidiar-se em pesquisas com

metodologia e objeto bem definidos, como os aqui almejados.

Neste contexto, cabe ressaltar que somente será possível estabelecer

ações públicas preventivas adequadas, quando tivermos bem delimitados

todos aspectos que envolvem cada um dos três vértices do crime: os autores,

as vítimas e o fato.

O presente estudo traz ainda benefícios diretos à Polícia Federal por

meio do conhecimento das características dos indiciados neste delito,

auxiliando as autoridades policiais no andamento dos procedimentos

investigativos, uma vez que permite uma melhor compreensão de quem são e

como agem os traficantes de mulheres.

Finalmente, aspira comprovar a viabilidade do Sistema Nacional de

Informações Criminais como fonte de dados para a pesquisa de perfis

criminais.

POLÍTICAS PÚBLICAS E CIENCIAS AUXILIARES

Praticamente todos os ramos do conhecimento humano têm o condão

de auxiliar na formatação de políticas públicas, independentemente da área de

atuação. No âmbito do Sistema de Justiça Criminal, valiosas contribuições têm

sido dadas pelo Direito Penal, Criminologia e Política Criminal. Molina (1992)

considera que “a Criminologia, a Política Criminal e o Direito Penal são os três

pilares do sistema das ciências criminais, inseparáveis e interdependentes”.

Estas três áreas do saber, extrapolando1 o pensamento de Silva (2003, p. 50-

51), contribuem “para a produção de conhecimentos de cunho científico e 1 Na obra “Segurança Pública e Polícia”, Jorge da Silva prioriza a criminologia com este propósito.

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técnico para dar suporte à elaboração e execução das políticas públicas na

área de segurança pública, com vistas a adequar os meios empregados aos

fins perseguidos [...]”.

O Direito Penal constitui-se como o responsável pela construção

normativa do crime, por intermédio de um conceito formal, sendo um ramo das

ciências jurídicas. Seu objeto é a própria norma legal, fornecendo um juízo

valorativo do fato criminoso. É o Direito Penal que demarca o objeto da

Criminologia. No dizer de Fernandes (2002, p. 32), “o Direito Penal é

fundamentalmente abstrato, preocupando-se tão somente com a coibição do

delito como fenômeno individual ou coletivo, nenhuma contribuição ofertando

no campo da prevenção criminal”. Ressalta ainda o referido autor que,

providenciada a execução da pena, deixa de interessar ao Direito Penal o

homem que delinqüiu, salvo se reincidir.

Para Molina (1992), a Criminologia é uma ciência voltada para o estudo

do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do

comportamento delitivo. Volta-se também para programas de prevenção

eficazes e processos de intervenção positiva no homem que delinqüe. É,

portanto, a pesquisa científica do crime, da sua origem e dos elementos que o

compõe. Seu objetivo é prevenir e controlar a incidência delitiva. Importante

salientar que em sua composição utiliza-se de outras ciências, tais como a

biologia, a sociologia,a estatística, a antropologia, a psicanálise e a psicologia.

Gunther (apud FERNANDES, 2002, p. 36) vê a criminologia como a “aplicação

das ciências humanas e sociais na contenção e reeducação do indivíduo anti-

social e na prevenção da criminalidade”.

Quanto ao estudo do delinqüente, na criminologia moderna, deve ser

analisada a sua interdependência social visando uma Política Criminal eficaz,

pois a experiência diária – e as estatísticas – constatam que os indivíduos

normais são os que cada vez mais delinqüem. Esta evidência é percebida

quando se estuda a criminalidade econômico-financeira, a de funcionários e

profissionais, bem como a de tráfico, dentre outras (MOLINA, 1992, p.41). O

estudo do delinqüente é um dos campos de pesquisa mais prósperos da

criminologia atual.

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Ésta es problemente el área de estudio que há dado lugar a um mayor número de investigationes criminológicas.[...], se há analizado la influencia que sobre los delincuentes tienen los factores socioculturales, situacionales, educacionales, familiares, biológicos, de personalidad, etc. Pese a todo, el perfil del delincuente dependerá, em todo o caso, de como definamos inicialmente La delincuencia. (REDONDO, 2006, p. 72).

A Política Criminal, terceiro pilar do sistema criminal, é a ciência e a

arte da qual dispõe o Estado, seja no âmbito do Poder Legislativo, Executivo ou

Judiciário, para o controle da criminalidade. Apoiando-se, dentre outras, de

duas áreas da Criminologia: antropologia e estatística criminal, busca

transformar os conhecimentos de uma realidade pesquisada pelas ciências

criminológicas em soluções sociais e assim estabelecendo estratégias, por

intermédio de programas de ação estatal. Representa a Política Criminal o

liame entre a Criminologia e o Direito Penal, agindo como facilitador para que a

Criminologia ultrapasse um contexto científico e pedagógico para o técnico e o

administrativo (FERNANDES, 2002, p. 35).

Segundo Nilo Batista (apud SILVA, 2003, p. 148) a Política Criminal vai

mais além, pois por intermédio de seus princípios e recomendações tem o

condão de reformar ou transformar a legislação criminal, assim como os órgãos

encarregados de sua aplicação.

Diante dos aspectos apresentados, evidente a importância de conhecer

ou consolidar conhecimentos a respeito de quem são os indiciados no crime de

tráfico de pessoas, mais particularmente, no tráfico de mulheres, objeto do

presente trabalho. Delimitando o seu perfil, fortalece-se um dos objetos do

estudo criminológico e, por conseguinte, estabelecem-se mais elementos

capazes de prevenir e reprimir este tipo de delito, construindo políticas

criminais eficientes.

O papel da Polícia Federal e o tráfico de pessoas

Consoante as normas constitucionais, cabe a Polícia Federal, dentre

outras atribuições, apurar as infrações cuja prática tenha repercussão

interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser

em lei. Mais que isto, deve responder pela prevenção e repressão ao crime

organizado, incluindo-se o tráfico de seres humanos. Vinculado à Interpol como

representante do Brasil, a Polícia Federal contempla dentre as competências

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específicas de Coordenações, Divisões e Serviços, atenção especial ao

atendimento de tratados e acordos internacionais que envolvam a repressão a

atividades de organizações criminosas internacionais2.

Art. 25. À Coordenação-Geral de Defesa Institucional compete: [...] II - planejar, orientar, coordenar, avaliar e promover as operações policiais correlatas à proteção assecuratória de depoentes especiais e de dignitários, as relativas à prevenção, à investigação e à persecução a crimes de violação da dignidade da pessoa e integridade dos Direitos Humanos, genocídio, pedofilia, tráfico de seres humanos e de órgãos humanos e outros relacionados à área social e política de atribuição do DPF, a que o País se comprometeu a reprimir em decorrência de tratados e acordos internacionais, praticados por organização criminosa, que tenham repercussão interestadual ou internacional e que exijam repressão uniforme; [...] Art. 26. À Divisão de Direitos Humanos compete: I - planejar, orientar, controlar e avaliar a implementação de medidas de proteção assecuratória da integridade física e psicológica do Depoente Especial, bem como as operações policiais relativas a crimes contra a dignidade e integridade da pessoa, genocídio, pedofilia, tráfico de seres humanos e de órgãos humanos e a outros crimes relacionados à violação dos Direitos Humanos, de atribuição do DPF, previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente, praticados por organização criminosa, que tenham repercussão interestadual ou internacional e que exijam repressão uniforme; [...] Art. 27. Ao Serviço de Proteção aos Direitos Humanos e ao Depoente Especial compete: I - planejar, controlar, orientar, avaliar e executar as medidas de proteção ao Depoente Especial e as operações policiais relacionadas a crimes contra a dignidade e integridade da pessoa, genocídio, pedofilia, tráfico de seres humanos e de órgãos humanos e a outros crimes relacionados à violação dos Direitos Humanos, de atribuição do DPF, previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente, praticados por organização criminosa, que tenham repercussão interestadual ou internacional e que exijam repressão uniforme; (grifo nosso) [...]. (DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL, 2005).

É evidente a importância levantada pela Polícia Federal com relação ao

tráfico de seres humanos, pois segundo Siqueira (2004, p. 13), “governos e

especialistas no estudo do tráfico de seres humanos afirmam que [...] essa

atividade é a terceira maior fonte de renda ilegal”. Ressalta ainda, conforme

seminário realizado pelo Departamento de Estado norte-americano, que a partir

de 2008/2009, tenderia a ser a mais lucrativa no mundo do crime,

2 A Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional (Convenção de Palermo)

definiu em um de seus Protocolos Adicionais o Tráfico de Pessoas, conceituando-o.

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ultrapassando o tráfico de armas e drogas. Para a autora, este tipo de tráfico é

uma transação comercial que segue as regras do mercado. Sua configuração

pode ser demonstrada por meio de um triângulo eqüilátero, cujos lados

simbolizariam os itens que devem ser combatidos: oferta, demanda e

impunidade.

Cabe ainda lembrar os dados da Organização Internacional do

Trabalho, comunicando que quase 1 milhão de pessoas são traficadas no

mundo anualmente com a finalidade de exploração sexual, sendo que 98% são

mulheres. O tráfico chega a movimentar 32 bilhões de dólares por ano3.

Complementarmente ao apresentado, na construção de políticas e

ações de segurança pública, no âmbito da Polícia Federal, prevalecem ainda

dois órgãos: A Academia Nacional de Polícia – ANP, em face da existência em

sua estrutura organizacional da Coordenação de Altos Estudos de Segurança

Pública, e a Diretoria Técnico-Científica - DITEC, por intermédio do Instituto

Nacional de Identificação - INI.

Art. 128. À Coordenação de Altos Estudos de Segurança Pública compete: I - planejar, dirigir, coordenar, controlar e concentrar os estudos e pesquisas institucionais sobre doutrina policial de segurança pública; II - promover e acompanhar a gestão do conhecimento e pesquisas sobre temas de segurança pública e outros considerados relevantes e aplicáveis na operacionalização das atividades do DPF e de instituições congêneres; [...] XI - divulgar publicação científica sobre as pesquisas produzidas em seu âmbito (grifo nosso). (DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL, 2005).

O Instituto Nacional de Identificação contempla dentre suas atribuições

a centralização das informações criminais de pessoas indiciadas, por

intermédio de dois Sistemas: O Sistema Nacional de Informações Criminais –

SINIC4, bem como o Sistema de Gerenciamento Eletrônico de Dados – GED5.

O primeiro encontra-se atualmente normatizado por intermédio da Instrução

Normativa nº 005/2008 – DG/DPF, estando sob os cuidados do Serviço de 3 Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, 2008. 4 O SINIC é um banco de dados do DPF, gerenciado pelo INI/DITEC e tem por objetivo a centralização

e a disseminação de informações criminais de indiciados pela Polícia Federal e das polícias civis, buscando atender ao determinado no art. 809 do Código de Processo Penal.

5 O Sistema GED compõe-se de um banco de imagens digitalizadas dos Boletins, Prontuários e demais documentos que alimentam o SINIC. Sua finalidade é facilitar o acesso as imagens dos documentos originais. Trata-se, portanto, de um Gerenciador Eletrônico de Documentos, sendo assim usualmente conhecido.

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Informações Criminais. O segundo (GED) é de responsabilidade do Serviço de

Identificação de Impressões Digitais.

Tanto o Serviço de Informações Criminais quanto o Serviço de

Identificação de Impressões Digitais estão vinculados à Divisão de

Identificação, de Informações Criminais e de Estrangeiros - DINCRE. Esta, por

sua vez, detém a importante competência de “organizar e elaborar estatística

criminal, para publicação, aos órgãos de segurança, visando à melhoria das

políticas de segurança pública”. Atende assim a uma atribuição do INI elencada

no Art.98:

Art. 98. Ao Instituto Nacional de Identificação compete: [...] III - centralizar informações e impressões digitais de pessoas indiciadas em inquéritos policiais ou acusadas em processos criminais no território nacional e de estrangeiros sujeitos a registro no Brasil; [...] XV - coordenar, manter e difundir estatística criminal aos órgãos de segurança visando à melhoria das políticas de segurança pública; [...] (grifo nosso). (DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL, 2005).

Diante do exposto, Sobrinho (2003, p. 108-109), destaca que a “análise

da estatística criminal possibilita a obtenção de dados para estudo das causas

do crime e da criminalidade, facilitando inclusive, a formulação de proposta

mais adequada na área de política criminal”.

O principal instrumento à disposição do INI/DITEC para alcançar estas

informações relevantes sobre o fato criminoso, seu autor e o respectivo

inquérito policial, alimentando o SINIC e o GED, é o Boletim de Identificação

Criminal. Sua previsão legal, assim como a da própria estatística criminal,

encontra-se no art. 809 do Código de Processo Penal.

Art. 809. A estatística judiciária criminal, a cargo do Instituto de Identificação e Estatística ou repartições congêneres, terá por base o boletim individual, que é parte integrante dos processos e versará sobre: I - os crimes e as contravenções praticados durante o trimestre, com especificação da natureza de cada um, meios utilizados e circunstâncias de tempo e lugar; II - as armas proibidas que tenham sido apreendidas; III - o número de delinqüentes, mencionadas as infrações que praticaram, sua nacionalidade, sexo, idade, filiação, estado civil, prole, residência, meios de vida e condições econômicas, grau de instrução, religião, e condições de saúde física e psíquica; IV - o número dos casos de co-delinqüência;

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V - a reincidência e os antecedentes judiciários; VI - as sentenças condenatórias ou absolutórias, bem como as de pronúncia ou de impronúncia; VII - a natureza das penas impostas; VIII - a natureza das medidas de segurança aplicadas; IX - a suspensão condicional da execução da pena, quando concedida; X - as concessões ou denegações de habeas corpus. § 1o Os dados acima enumerados constituem o mínimo exigível, podendo ser acrescidos de outros elementos úteis ao serviço da estatística criminal. § 2o Esses dados serão lançados semestralmente em mapa e remetidos ao Serviço de Estatística Demográfica Moral e Política do Ministério da Justiça. § 3o O boletim individual a que se refere este artigo é dividido em três partes destacáveis, conforme modelo anexo a este Código, e será adotado nos Estados, no Distrito Federal e nos Territórios. A primeira parte ficará arquivada no cartório policial; a segunda será remetida ao Instituto de Identificação e Estatística, ou repartição congênere; e a terceira acompanhará o processo, e, depois de passar em julgado a sentença definitiva, lançados os dados finais, será enviada ao referido Instituto ou repartição congênere. (BRASIL, 2008).

O momento de preenchimento do Boletim é conhecido por

identificação, sendo usualmente um fato imediato ao do indiciamento e,

portanto, uma conseqüência deste. Entretanto não se confundem. Ressalte-se

que diante da realização seqüencial do ato de indiciamento e da identificação

criminal, no interior da mesma repartição policial, não é incomum tomar um

deles pelo outro (SOBRINHO, 2003, p. 102).

Com o preenchimento do Boletim e a inserção dos seus dados no

Sistema Nacional de Informações Criminais, assim como a sua digitalização e

inserção no Sistema de Gerenciamento Eletrônico de Dados, o Instituto

Nacional de Identificação pode disponibilizar, proceder e analisar tipos penais e

características do inquérito e dos seus indiciados, inclusive os tipificados no

artigo 231 do Código Penal Brasileiro.

O PERFIL CRIMINOLÓGICO

Conceito e objetivo

O perfil criminológico, segundo Vicente Garrido Genovés (2007), é um

estudo das características biográficas e estilo de vida de um criminoso,

inclusive o local onde vive e a base a partir da qual comete aquele delito e

quais são as áreas prováveis em que voltará a atuar.

O objetivo é delimitar as características de um presumido criminoso

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com o fim de auxiliar a polícia, restringindo as possibilidades da investigação

relativas à autoria, permitindo-a centrar-se nas possibilidades mais realistas.

No mesmo sentido, são válidos os ensinamentos de Holmes e Holmes

(apud GENOVÉS, 2007, p. 2), onde caracteriza a técnica do perfil ou avaliação

utilizada na investigação criminal como um “esforço elaborado de proporcionar

às equipes de investigação informação específica em torno do tipo de indivíduo

que cometeu um certo crime”.

É importante acrescentar que o estudo do perfil criminológico,

enquanto ciência vem em auxilio à própria criminologia, permitindo além dos

aspectos investigativos imediatos, uma visão ampla do fenômeno do crime,

auxiliando, de maneira mediata, nas soluções sociais preventivas.

Evolução histórica

O perfil criminológico tem suas raízes na Criminologia e em todas as

demais ciências que, de alguma forma, fundamentam as ciências criminais.

Historicamente, considera-se o pesquisador italiano Cesare Lombroso

(1835-1909) como um dos primeiros criminólogos a tentar classificar os

delinqüentes de um modo formal para realizar comparações estatísticas. Seu

equívoco ocorreu na medida em que acreditava que indivíduos com

determinado biótipo eram propensos à prática de certos delitos. Acerca do

trabalho de Lombroso, Genovés escreve:

Es obvio que Lombroso se sintió influido por la teoría de la evolución de Darwin, quien señaló cómo los simios y los hombres estaban emparentados en la línea evolutiva. De ahí a pensar que los delincuentes tenían más rasgos propios de “monos” que del hombre culto contemporáneo, no había un gran paso, eso sí, si se dejaba llevar uno por la imaginación más que por el rigor de los datos tomados. (GENOVÉS, 2007, p. 4).

Em 1893, o professor alemão Hanz Gross, publicou sua obra, “A

investigação criminal: um manual prático para juízes, policiais e advogados”,

em que oferecia vários métodos para estabelecer a conduta de criminosos de

acordo com o tipo de delito. Uma idéia importante de sua filosofia de

investigação, ainda muito atual, é que os criminosos são compreendidos

fundamentalmente através de seus crimes e, por isso, deve-se dar atenção

especial à conduta do delinqüente.

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Genovés (2007) menciona ainda outro trabalho de grande importância

no estudo do perfil criminológico, realizado pelo chefe de polícia de Nova York,

John O'Connell, juntamente com o professor sueco Hary Soderman,

oferecendo, numa obra chamada “A investigação criminal moderna”, um estudo

preciso do modo em que as evidências físicas e as condutas dos delinqüentes

podem levar a identificação precisa dos suspeitos de um crime. Foram os

primeiros a reconhecer a importância de analisar minuciosamente o motivo do

crime, armas empregadas, meios utilizados e objetos recolhidos na cena do

crime.

Por fim, cabe lembrar que, historicamente, continuam tendo

importância e sendo pesquisados e informados nos perfis criminais, a idade,

sexo, relacionamento e educação, dentre outros itens.

Escola indutiva e dedutiva do perfil criminológico

Para Vicente Garrido Genovés (2007), a escola indutiva parte da

premissa de que se certos crimes cometidos por pessoas diferentes possuem

características comuns, então os criminosos que os praticam devem possuir

traços de personalidade comuns entre si. A escola indutiva analisa crimes

passados, criminosos conhecidos e outras fontes de comunicação, como

notícias divulgadas pelos meios de comunicação. Ainda no método indutivo, as

características comuns levantadas através do estudo de numerosos casos de

determinado delito e o delinqüente que o pratica, resultam na formação do

perfil característico geral daquele tipo de criminoso específico, por exemplo, o

homicida em série ou estuprador.

Segundo o citado autor, o método dedutivo, por outro lado, procura

estudar exaustivamente a cena do crime e as evidências deixadas ali. Não

apenas evidências físicas, como vestígios, armas e meios empregados, como

os atos do agressor, a forma como ele atuou no cenário do crime.

Quanto ao tema, como ocorre com toda ciência jovem, num estágio de

formação de conhecimento científico, é comum a existência de escolas,

metodologias de trabalho que nem sempre são compatíveis entre si. Indo mais

além, o posicionamento de Vicente Garrido Genovés (2007) é o de que dois

sistemas que se opõem em pontos fundamentais são úteis nos pontos de

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integração entre eles.

Percebe-se, portanto, que método indutivo busca reduzir o universo de

suspeitos. O dedutivo, tendo por base esse universo reduzido, procura

encontrar elementos que individualizem o criminoso.

Finalmente, para Genovés (2007), parece óbvio que a combinação dos

dois métodos produz o melhor resultado. Segundo ele, observando a cena do

crime e valendo-se dos conhecimentos da criminologia sobre a personalidade

dos delinqüentes, é possível deduzir aspectos relevantes sobre a psicologia do

criminoso. Porém, igualmente, podemos obter uma valiosa informação indutiva

mediante o conhecimento de outros casos semelhantes.

A delimitação do perfil, no presente trabalho, está amparada no método

indutivo de análise do perfil criminológico, uma vez que, o detalhamento

estatístico, tanto de inquéritos, quanto dos dados pertinentes aos traficantes de

mulheres, busca evidenciar características comuns de pessoas que praticam

este delito.

Limitações inerentes ao crime de tráfico de mulheres

Preliminarmente, cabe observar uma tendência na utilização do perfil

criminológico para investigar delitos seriais violentos. Tal situação decorre da

necessidade de uma resposta rápida dos organismos de segurança pública na

preservação da paz social. É acima de tudo uma resposta as pressões da

sociedade em esclarecer os crimes que tendem a se repetir enquanto não se

identifica o seu autor, Douglas (1997). Sobre este enfoque, o objetivo final é

primeiramente auxiliar as forças policiais na investigação.

Generalmente, el uso del perfil criminológico se restringe generalmente a crímenes importantes tales como homicidios y violaciones. Como mencionamos anteriormente, las características de estos hechos hace que la policía deba trabajar contrarreloj para resolver estos casos. Cuando se trabajan en homicidios donde el culpable es un desconocido para la víctima, el perfil puede ayudar a dar luz sobre el crimen y encaminar a la policía en sus investigaciones.(SERRANO, 2008, p.6).

Todavia nada impede a utilização desta ciência em outros tipos de

crimes, objetivando resultados mais amplos, de caráter preventivo.

A dificuldade de se estabelecer um perfil do traficante de mulheres

reside naquela que seja, talvez, a principal característica do crime: a atuação

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de diversos agentes concorrendo para o mesmo objetivo. Outra característica,

relacionada a esta, é a divisão do tráfico em etapas, isto é, cada membro

geralmente participa do crime em um determinado lapso temporal e de

execução do processo, que vai do recrutamento à exploração.

Pode-se identificar o explorador na figura do consumidor, do aliciador ou daquele que ajuda a cooptar a vítima para a rede criminosa do tráfico. Esta é organizada por diferentes atores, que desempenham papéis no crime organizado, com vistas a movimentar o mercado do sexo e a mobilizar a demanda. [...] Considera-se explorador qualquer pessoa que demande mulheres, crianças e adolescentes para explorá-las através das redes de favorecimento do tráfico para fins sexuais ou para consumir os serviços sexuais ofertados por estas redes. [...] De acordo com Davidson (2001) “...é impossível falar sobre o explorador sexual como um tipo de pessoa com características particulares ou únicas”. Isto significa que distinguir características específicas do explorador é uma tarefa complexa. (LEAL, 2002, p. 51)

Ao contrário dos delitos praticados individualmente, no tráfico de

pessoas, principalmente no tráfico internacional, é quase imperativa a atuação

de pessoas diversas, com funções muito diferentes, algumas naturais dos

países de origem da mulher traficada; outras, do país de destino, ocorrendo

inclusive que, muitas vezes, esses agentes sequer se conheceram

pessoalmente.

Facilitado pela tecnologia, pela migração, pelos avanços dos sistemas de transportes, pela internacionalização da economia e pela desregulamentação dos mercados, o tráfico, no contexto da globalização, articula-se com redes de colaboração global, interconectando-se a mercados e a atividades criminosas, movimentando enormes somas de dinheiro. Os mercados locais e globais do crime organizado, das drogas e do tráfico para fins sexuais, como por exemplo a Yakusa, as Tríades Chinesas, a Máfia Russa e os Snake Heads, são responsáveis pela transação de quase um bilhão de dólares no mercado internacional de tráfico humano. (LEAL, 2002, p. 49).

Diversos trabalhos mencionam inclusive, que em paralelo às atividades

principais do tráfico, como o aliciamento e a exploração direta da mulher, existe

toda uma rede internacional de favorecimento, envolvendo uma cadeia de

atores com diversas funções, com o fim de obter, indiretamente, algum lucro.

São empresas comerciais legais ou ilegais, voltadas para o ramo do turismo,

como agências de viagens, hotéis, spas, empresas de taxi; do ramo de

entretenimento, como prostíbulos, agências de acompanhantes, casas de

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shows, boates, etc.; agências de emprego para empregadas domésticas,

babás, acompanhantes de viagens, dançarinas, cantoras, etc.; agências de

casamento, produtoras de vídeos; agências de tele sexo, e outros, que facilitam

a prática do tráfico para fins de exploração sexual.

Com respeito aos ramos de atuação das redes criminosas, o manual

“Tráfico de pessoas para fins de exploração sexual” (DIAS, 2005, p. 54-55),

elaborado pela Organização Internacional do Trabalho numa parceria com o

Governo Federal, elenca as funções dos principais agentes que exercem

atividades no tráfico (Tabela 1).

Tabela 1 – As posições e funções nas redes de tráfico mais complexas Posição Função

Investidores Aplicam recursos e supervisionam todo o empreendimento. Esses indivíduos não têm sua identidade conhecida pelos integrantes que trabalham em posições inferiores, garantindo-se, assim, o desvinculamento do comando da organização com os braços responsáveis pelas atividades ilícitas.

Aliciadores Identificam pessoas vulneráveis, fazem falsas propostas de trabalho, pagam as despesas iniciais do deslocamento e podem arcar até com outras despesas, como presentes ou cestas básicas, para obter a confiança da vítima ou de sua família. Desconhecem, na maioria das vezes, os detalhes das rotas de tráfico e, geralmente, são pagos “por cabeça”, ou seja, por pessoa aliciada.

Transportadores Levam as vítimas de suas cidades de origem até a cidade de destino [...] ou anda até a cidade de onde serão levadas para o país de destino ou de trânsito.

Servidores Públicos Corruptos

Em troca de suborno, fornecem documentos falsos à organização e outros meios de possibilitar o deslocamento das vítimas.

Informantes Armazenam dados sobre os serviços de repressão, sobre as rotinas de fiscalização da imigração e qualquer outra informação que se fizer necessária.

Guias Recepcionam as vítimas e as acompanham de um ponto de trânsito ao outro. Algumas vezes o acompanhamento é até o local de destino.

Seguranças Imigrantes ilegais que mantêm a ordem durante o trajeto, geralmente por meio da força física ou ameaças.

Cobradores Cobram os custos da viagem até o país de destino, geralmente por meio de violência e ameaças, ou mesmo através da intimidação de amigos ou familiares da vítima.

Lavadores de dinheiro

Cobrem o rastro do dinheiro, o qual pode ser reaplicado em atividades criminosas complementares ou em atividades legais dispersas.

Especialistas e pessoal de apoio

Pessoas contratadas para atuarem em demandas pontuais, sem relação direta e contínua com a organização criminosa.

Fonte: Manual “Tráfico de pessoas para fins de exploração sexual”.

Um agente importante, também mencionado no manual, é o explorador,

que atua no país-fim, diretamente no ramo da prostituição e demanda os

serviços do traficante. Ele é quem manterá a mulher na atividade, empregando,

para isso, todos os meios necessários. “Como há no mercado do sexo uma

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grande rotatividade devido a sempre presente demanda por ‘novas meninas’, o

explorador, visando maiores lucros, mantém contatos permanentes com a rede

de aliciamento, objetivando ‘renovar o grupo de mulheres’” (DIAS, 2005, p. 58).

Na relação entre os agentes e as etapas do crime, cabe listar, de

maneira sucinta, as seguintes fases (Tabela 2):

Tabela 2 – Etapas do Tráfico Etapa Situação Tipo de Agente Envolvidos

Recrutamento É a etapa onde atua o agenciador, ou aliciador, que arregimenta mulheres, muitas destas, em total desconhecimento acerca da atividade que irá realizar. Outras, já sabem que atuarão no ramo da prostituição, mas que serão, muitas vezes, enganadas a respeito das condições em que trabalharão. Mais raramente, existem os casos de mulheres seqüestradas para fins de tráfico.

Agenciador (Aliciador)

Transporte Dependendo do país de destino, o transporte pode ser por via aérea, marítima ou terrestre, inclusive à pé. Nessa etapa, atuam o transportador, agentes públicos que falsificarão documentos, facilitarão a transposição de fronteiras, etc, informantes, guias e seguranças.

Transportador Agentes Público Informantes Guias Seguranças

Exploração É a etapa final do processo do tráfico, em que, dependendo do local de destino, a mulher será explorada nos mais diversos tipos de atividades, tendo suas atividades vigiadas por seguranças, sob controle direto do seu “proprietário”, aquele que a adquiriu do traficante.

Seguranças Explorador (Proprietário)

Fonte: Manual “Tráfico de Pessoas para fins de exploração sexual”

Na atividade obviamente existe uma etapa de preparação, anterior ao

aliciamento, onde atua a figura do “agenciador de aliciadores”, do financiador

do tráfico e daquele que têm, antes do aliciamento, a demanda por mulheres, o

comprador, o que liga o início do processo ao seu fim, fechando o ciclo.

Assim, muito antes de iniciado o recrutamento de mulheres, há, em

algum estabelecimento ou “empresa do sexo” em algum país, uma

necessidade por novas mulheres, que leva o empresário a contatar o chefe do

tráfico que, por sua vez, acionará toda a rede, escolhendo o país em que

atuará e, por conseguinte, o aliciador com quem contará, e providenciará toda

a estrutura necessária a fim atender a necessidade do seu cliente.

O bando era dirigido pelos espanhóis Raúl Pascual Salceda e Juan Carlos Haza Pérez, que dispunham de quatro colaboradores no Brasil, dois na Colômbia e um delegado na Hungria. A missão destes “representantes” era conseguir garotas jovens e bonitas para atuar –

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nem sempre voluntariamente – no mercado catalão do sexo. (SALAS, 2007, p. 121).

Quando o tema envolve o tráfico de mulheres, pode-se dizer que existe

uma rede complexa de agentes em atuação. A situação ideal seria aquela em

que fosse possível estabelecer o perfil criminal de cada um dos atuantes na

rede do tráfico. Entretanto, o presente trabalho tem por base uma fonte de

informação onde não é possível encontrar um nível de detalhamento tal que

permita esse grau de aprofundamento. Com base nas informações levantadas,

apenas um único perfil genérico pode ser estabelecido, que não revelará o

perfil de cada categoria de agente envolvido no tráfico, mas do grupo como um

todo.

Revisão bibliográfica sobre o tema

Sob a denominação de I Diagnóstico Sobre o Tráfico de Seres

Humanos: São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Ceará - I DSTSH e coordenado

por Marcos Colares em 2004, foi realizado breve estudo, por intermédio de um

instrumento quantitativo (formulário), preenchido a partir de informações

extraídas de 14 inquéritos e 22 processos criminais, no período entre 2000 e

2003. Obteve-se um mapeamento de dados pertinentes ao perfil da vítima e do

indiciado ou réu6.

É importante destacar também a Pesquisa Sobre Tráfico de Crianças,

Mulheres e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial no Brasil:

Relatório Nacional, organizado por Maria Lúcia Leal e Maria de Fátima Leal, no

ano de 2002 (PESTRAF). Apesar de mencionar 86 inquéritos federais que

investigam o tema no período de 1996 a 2002, foi dada maior ênfase a outras

metodologias, como informações obtidas junto aos meios de comunicação e

entrevistas.

Na publicação do Manual “Tráfico de pessoas para fins de exploração

sexual”, sob a coordenação de Cláudia Dias (2005), encontra-se uma

importante síntese do fenômeno, com dados mais recentes, inclusive

mencionando os inquéritos instaurados no período de 1990 a 2004.

6 Nos moldes do presente trabalho.

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Nesta mesma linha de pesquisa, pode-se mencionar o relatório: O

Tráfico de Seres Humanos no Estado do Rio Grande do Sul, publicado em

2006 e coordenado por Jacqueline Silva que, dentre os itens levantados,

menciona a descrição dos aliciadores.

O I DSTSH (COLARES, 2004, p. 30-36), que contou inclusive com o

apoio da Polícia Federal como fonte de informação para a pesquisa, concluiu

que o traficante de mulheres é, a partir de dados coletados de inquéritos e

processos criminais, predominantemente, do sexo masculino, apesar da

presença significativa de mulheres. Segundo a pesquisa, isso se deve ao fato

de que, historicamente, o rufianismo é uma prática eminentemente masculina,

mas, sendo a mulher o objeto do crime, a atuação de mulheres no pólo ativo

facilita o aliciamento, levantando menos suspeitas acerca da atividade final.

A desigualdade da oferta de empregos e salários entre homens e

mulheres também é apontada como causa da presença das mulheres nos dois

pólos dessa atividade criminosa.

Um dado bastante interessante foi a constatação de que nos casos de

indiciamento onde foram várias as mulheres traficadas, o gênero do traficante

era, majoritariamente, o masculino. Nos casos onde ocorriam vítimas isoladas,

as mulheres eram a maioria das acusadas. Concluiu-se com isso que o

aliciador que atua no fato tendo por objeto várias vítimas é normalmente, um

homem, voltando à figura histórica do “rufião” e, em casos isolados,

predominava o incentivo de uma mulher que já havia passado por uma

experiência pessoal na prostituição internacional e servia como exemplo de

sucesso a outra.

Também o PESTRAF (LEAL, 2002, p. 62), apesar de utilizar-se de

fontes de informação das mais diversas, chegou a resultado semelhante, com

predominância do sexo masculino, sem nenhuma conclusão a respeito das

causas, cabendo destacar que sua pesquisa limita-se aos

aliciadores/agenciadores, sem referências a características de outros atores do

tráfico.

Quanto à faixa etária, o I DSTSH aponta para implicados, na maioria

dos casos, com mais de 30 anos, concluindo ser esse dado uma conseqüência

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da necessidade de manutenção da família, a redução das oportunidades no

mercado de trabalho e a possibilidade de lucro rápido.

O estado civil predominante é o casado ou em união estável, dado

relacionado diretamente à faixa etária, onde predominam entre os maiores de

30 anos aqueles que já constituíram família. Concluiu-se como aspecto

motivacional para o crime a necessidade de manutenção das necessidades

familiares.

Quanto à ocupação, este I Diagnóstico conclui que a atividade

predominante é a de empresário, que envolve negócios como casa de shows,

comércio, casa de encontros, bares, agências de turismo, salões de beleza e

cassinos. Por contar com uma base de dados pequena, isto é, 22 processos

judiciais e 14 inquéritos policiais (p.18), um processo envolvendo mais de 40

policiais federais em curso na Justiça Federal à época da pesquisa influenciou

bastante no resultado geral referente à ocupação, trazendo para a estatística

um numero expressivo de policiais envolvidos no tráfico.

Para o I DSTSH, são predominantes as atividades profissionais mais

lucrativas, concluindo-se que o tráfico de pessoas é um negócio que demanda

muito recurso financeiro e que, aqueles envolvidos que possuem ocupações

menos lucrativas são, na maioria das vezes, intermediários e não financiadores

do tráfico.

No mesmo sentido, PESTRAF (LEAL, 2002, p. 63), sem estabelecer

um grau de predominância de ocupações, acusa a atuação de elites

econômicas com empresários proprietários de boates e demais

estabelecimentos da rede de favorecimento do tráfico e respectivos

funcionários.

Com respeito ao grau de instrução, o I Diagnóstico observa a

expressiva predominância de pessoas com nível superior e médio, alertando

para a influência, no resultado, do indiciamento de policiais federais (com nível

superior) entre os pesquisados. Neste tema, o Manual do Trafico de Pessoas

para Fins de Exploração Sexual (DIAS, 2005, p. 23), com respeito às

informações levantadas pelo I DSTSH, conclui que o grau de escolaridade

explica-se, em parte, pela complexidade do crime, que envolve operações em

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diferentes países.

A nacionalidade dos réus e indiciados, segundo o I Diagnóstico,

demonstra ampla predominância da brasileira, seguida da espanhola. Segundo

a PESTRAF, a predominância brasileira é a mesma, entretanto, a presença de

estrangeiros em sua pesquisa é maior. A discrepância pode ser explicada,

conforme o Manual (DIAS, 2005, p. 24), pela diferença entre as fontes de

informação da PESTRAF, onde predominaram reportagens da mídia e o I

DSTSH, onde foram contabilizados apenas aqueles contra os quais havia

inquérito ou processo judicial, o que poderia demonstrar a dificuldade de se

chegar aos traficantes estrangeiros, atuantes no país.

Com relação ao envolvimento em outras modalidades criminosas, o

Manual relata que a maioria dos brasileiros acusados estão associados ao

tráfico de drogas, prostituição, lavagem de dinheiro e contrabando, sem

detalhes acerca de quantitativos.

Outro dado relevante, levantado pelo I DSTSH, comum em pesquisas

sobre perfil criminológico, é a existência ou não de relação entre a vítima e o

traficante. Segundo as informações coletadas, na maioria absoluta dos casos,

não existia nenhum grau de relacionamento, mas em um número considerável

de casos foi relatado um grau de relacionamento no qual o criminoso já

conhecia a vítima, o que, segundo a pesquisa, é um fator que poderia facilitar a

arregimentação da mulher para o tráfico, devido à confiança existente entre

eles.

METODOLOGIA

Abordagem

A operacionalização do presente trabalho envolve a descrição do perfil

dos indiciados no tráfico de mulheres, por intermédio dos métodos estatístico e

quantitativo, utilizando-se dos dados existentes no Boletim de Identificação

Criminal – BIC, estando estes agrupados no Sistema Nacional de Informações

Criminais e no Sistema de Gerenciamento Eletrônico de Dados.

Esta análise tem por população os indiciados, no âmbito da Polícia

Federal, no artigo 231 do Código Penal e indicados como sujeitos ativos deste

tipo de delito em inquéritos policiais instaurados no período de 1994 a 2004,

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perfazendo um total de 187 inquéritos policiais, com 345 indiciados (pessoas),

em 367 indiciamentos, até agosto de 2008.

A abordagem quantitativa, consoante Oliveira (2005), diz respeito à

determinação da quantidade de um fenômeno específico. Para Lakatus (2003),

a estatística viabiliza a redução de fenômenos, dentre estes o criminológico, a

limites quantitativos, permitindo manipulações estatísticas.

A natureza descritiva da pesquisa visa obter uma percepção das

características destes criminosos, comparando-os com levantamentos de

outros estudos já realizados. Ressalte-se que “nesses casos, o pesquisador

não concentra sua atenção no porquê de observar certa distribuição, mas no

que é tal distribuição” (RICHARDSON, 1999, p. 146).

Quanto ao delineamento, por intermédio dos recursos bibliográfico e

documental, foram realizadas pesquisas objetivando conhecer a ciência

atualmente existente a respeito das características dos autores deste tipo de

delito.

Cumpre destacar que a atenção especialmente dispensada ao período

de 1994 a 2004 envolve dois aspectos: O primeiro deles diz respeito ao fato de

que, tanto o SINIC quanto o GED, são arquivos dinâmicos, tendo usualmente

suas informações atualizadas. Em face da extensão temporal existente entre

2004 e 2008, os registros sob estudo já estariam mais bem consolidados. O

segundo aspecto envolve o artigo 231 do Código Penal e as alterações

designadas pela lei nº 11.106/2005, onde o tipo penal passou a ter como

vítimas não só mulheres, mas todo o gênero humano. Para o presente

trabalho, optou-se por uma abordagem mais restrita quanto ao gênero da

vítima. A ampliação do gênero, decorrente da nova redação imposta pela lei nº

11.106/2005, poderia ocasionar alterações no perfil criminológico do sujeito

ativo do delito, uma vez que o traficante de mulheres pode não ter o mesmo

perfil que o traficante de homens.

Descrição da técnica utilizada

A técnica utilizada envolve a tabulação, por intermédio do SINIC e do

GED, das variáveis elencadas no presente estudo, pertinentes a todos os

indiciamentos no artigo 231 do Código Penal Brasileiro, de inquéritos

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promovidos pela Polícia Federal no período de 1994 a 2004. Estes dados

geraram tabelas e gráficos passíveis de conclusões e comparações, tanto com

referencia aos inquéritos instaurados com indiciados7, o quantitativo destes

indiciados e as infrações que cometeram.

O documento que agrega todas estas informações, o Boletim de

Identificação8 Criminal, tem recebido várias formatações no transcurso dos

últimos anos (Anexo A). Entretanto, em seu conteúdo, manteve os campos de

preenchimento praticamente inalterados.

O Boletim depois de preenchido é encaminhado ao Núcleo de

Identificação ou área correspondente das unidades descentralizadas da Polícia

Federal para alimentação do Sistema Nacional de Informações Criminais -

SINIC, sendo num segundo momento encaminhado ao Instituto Nacional de

Identificação, órgão que compõe a Diretoria Técnico-Científica da Polícia

Federal, viabilizando a geração da folha de antecedentes e procedida a

digitalização do Boletim. O conteúdo do Boletim alcança as seguintes

informações: delegacia ou órgão instaurador do inquérito policial, dados

pessoais do indiciado, informações genéricas sobre quem foi a vítima e a

infração penal cometida. Quanto ao indiciado é ainda relatado de maneira

complementar os dados antropológicos, coletadas as impressões digitais ou

anexado o seu prontuário civil.

O formulário procura ser auto-explicativo, todavia alguns tópicos

acabaram por ficarem sujeitos a uma possível análise subjetiva em seus

conceitos pelo responsável por este preenchimento.

Dentre possíveis dificuldades existentes na compilação destes registros

é importante destacar a possibilidade da autoridade policial não encaminhar o

Boletim ao órgão de identificação, a sua não inclusão ou inserção em atraso no

Sistema, assim como o preenchimento incompleto do mesmo.

No presente estudo, foram também analisados os registros de crimes

tentados, uma vez que a codificação do SINIC não diferencia tentativa da

consumação.

7 No SINIC constam apenas inquéritos com indiciados. Trata-se de um subconjunto, dentro do universo

de inquéritos instaurados e tendo por objeto (no caso em tela) o tráfico de pessoas. 8 Durante alguns anos, também teve a denominação de Prontuário de Identificação Criminal.

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Finalmente cumpre destacar a diferença terminológica entre

“indiciamento” e “indiciado”. Indiciado é o indivíduo, que pode ter mais de um

indiciamento em seu histórico criminal.

Indiciamento pode ser entendido como incidência, registro,

“passagem”, ocorrência criminal. O indiciamento estabelece o vínculo do

indivíduo ao inquérito.

Ressalte-se finalmente, que num mesmo inquérito poderemos ter mais

de um indivíduo, mais de uma pessoa indiciada.

Variáveis

Todas as variáveis constantes no presente trabalho foram extraídas do

Boletim de Identificação Criminal, contendo este, questões tanto abertas,

quanto fechadas9 (LAKATOS, 2003, p. 204). Estas grandezas foram

subdivididas em três tópicos: as referentes ao inquérito policial, as que tratam

de características do indiciado, bem como as pertinentes a reiteração

criminosa.

Inquéritos policiais

Estas variáveis apontam o volume de inquéritos policiais com

indiciados na tipificação do tráfico de mulheres, formalizados pela Polícia

Federal. Indicam ainda as respectivas unidades da federação a que estão

relacionados, bem como outros crimes vinculados, ou ao tráfico de mulheres,

ou aos seus autores.

Nome da delegacia, cidade e uf

Diz respeito à unidade da Polícia Federal responsável pelo inquérito

policial, bem como a cidade com a respectiva unidade da federação em que

está localizada. Usualmente informa-se no campo “nome da delegacia”,

quando situada na capital do estado, como sendo a superintendência regional.

Quando no interior, será a respectiva delegacia da PF. Cabendo lembrar que,

seja a superintendência ou determinada delegacia, podem acabar por ter como

circunscrição mais de uma cidade.

9 Questões abertas permitem responder livremente. Questões fechadas contêm alternativas fixas para

preenchimento.

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Número dos autos e data de autuação

São dados de grande importância para individualizar o inquérito, bem

como para definir a quantidade de incidências de determinada pessoa.

O número dos autos corresponde a uma numeração única do inquérito,

dentro do respectivo órgão da Polícia Federal. A data de autuação diz respeito

à indicação do dia, mês e ano em que o inquérito foi autuado. Não trata do

momento em que o fato ocorreu, nem da data em que determinada pessoa foi

indiciada. Procura indicar o início do procedimento investigatório.

Infração penal

Diz respeito os tipos penais ocorridos no fato objeto da investigação

policial e, por conseguinte, constante no respectivo inquérito policial. Para cada

artigo do código penal, assim como para cada lei penal especial, existe uma

codificação específica no SINIC. Esta codificação permite apartar para estudos

os inquéritos que detenham como objeto um mesmo delito, bem como

correlacionar crimes entre si e entre inquéritos diferentes.

Indiciados

São variáveis por meio das quais se procura estabelecer

características dos indiciados. Envolvem dados físicos e sociais. No presente

trabalho, viabilizam estabelecer determinadas características gerais do perfil do

traficante de mulheres.

Sexo

Aborda o gênero do indiciado, definindo-o como masculino ou feminino.

Data de nascimento

Corresponde ao dia, mês e ano relatado como a data de nascimento do

indiciado.

País de nascimento

Trata do país onde o indivíduo nasceu, não sendo necessariamente o

país de sua nacionalidade. Têm codificação própria no SINIC.

Pais de nacionalidade

Em direito, nacionalidade é o vínculo jurídico de direito público interno

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entre uma pessoa e um Estado10. No Boletim, identifica-se pelo nome de

determinado país, tendo também codificação específica no SINIC.

Profissão

É a atividade legal com fins lucrativos exercida pelo indiciado. Deve

caracterizar o seu meio de subsistência. No SINIC também existe, consoante a

informação declarada, um código próprio abrangendo a atividade, por grupos

de profissões semelhantes.

Endereço residencial

Trata do endereço de residência do indiciado e constante no Boletim de

Identificação. Envolve inclusive a unidade da federação e até mesmo o país de

moradia.

Grau de instrução

Assinala as características da educação do indiciado. É uma questão

fechada, cujas opções vão de “não alfabetizado” até “superior completo”.

Estado civil

Estado civil é a situação de uma pessoa em relação ao matrimônio ou

à sociedade conjugal11. Para o Boletim de Identificação Criminal, engloba uma

das seguintes possibilidades: casado, solteiro, separado, desquitado, viúvo,

amigado ou divorciado.

Número de dependentes

Informa se existem dependentes e a sua quantidade.

Crimes correlacionados

Permite a realização de correlações entre crimes, sejam eles

diretamente vinculados ao tráfico de mulheres e num mesmo inquérito, ou até

mesmo outros delitos cometidos por estes indiciados, mas em outros inquéritos

desvinculados do artigo 231 do Código Penal Brasileiro.

10 Fonte: Wikipédia. Acesso em 09/09/2008. 11 Fonte: Wikipédia. Acesso em 10/09/2008.

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Incidências

São os registros constantes na folha de antecedentes. Cada registro

envolve um inquérito policial específico, com as suas respectivas infrações

penal vinculadas.

ANALISE DOS RESULTADOS

Inquéritos instaurados e indiciamentos

Para a construção deste tópico, foram compilados dados de todo o

Brasil e pertinentes ao crime de tráfico de mulheres no âmbito da Polícia

Federal. Uma visão detalhada sobre o tema pode ser obtida analisando os

apêndices A e B do presente estudo.

A primeira análise diz respeito ao volume de inquéritos instaurados no

âmbito da Polícia Federal com indiciamentos no artigo 231 do Código Penal

Brasileiro (tráfico de mulheres) e constantes no Sistema Nacional e

Informações Criminais – SINIC. O período envolve os inquéritos com data de

autuação entre 1994 e 2004. Em linhas gerais e números sucintos, formatou-se

a Tabela 3, abaixo.

Tabela 3 – Indiciamento e inquéritos no Art. 231 CPB Indiciamentos e Inquéritos instaurados na PF - Brasil - Tráfico de Mulheres - 1994 a 2004

Ano 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Total INDICIAMENTOS 7 10 24 7 13 24 54 81 40 39 68 367

INQUÉRITOS 4 5 10 6 8 15 27 37 20 24 31 187Fonte: SINIC/INI/DITEC

Portanto, no período de 1994 a 2004, houve 367 indiciamentos, nos

187 inquéritos policiais instaurados. O Gráfico 1 demonstra de maneira clara a

evolução destes tipos de ocorrência ao longo da série histórica apresentada.

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Gráfico 1 – Evolução da quantidade de indiciamentos e inquéritos no período de 1994 a 2004 Fonte: SINIC/INI/DITEC

Exceção ao ano de 1997, onde praticamente ocorreu um indiciamento

por inquérito, percebe-se um volume de indiciamentos superior ao de inquéritos

em toda a faixa histórica. Isto indica uma característica do crime: ter,

normalmente, mais de uma pessoa envolvida por fato delituoso. Em breves

períodos, entre os anos de 1996 e 1997, assim como 2001 e 2002, ocorreu

uma pequena queda no número de inquéritos e por conseqüência, de

indiciamentos. Entretanto, uma análise geral demonstra um aumento no

número de inquéritos com indiciamentos, bem como o acréscimo de indiciados

por inquérito. Percebe-se ainda que o ano de 2001 se destaca como aquele em

que houve um maior número de registros.

É interessante comparar os registros da Tabela 3, com os dados

constantes no Manual “Tráfico de pessoas para fins de exploração

sexual”(DIAS, 2005, p.19). No Manual está relacionado o quantitativo de

inquéritos policiais instaurados neste período pela PF (Tabela 4). A

comparação entre as informações levantadas do SINIC e do Manual podem ser

vistas no Gráfico 2.

Tabela 4 – Comparativo entre dados do SINIC e Manual INQUERITOS POLICIAIS INSTAURADOS ENTRE 1994 E 2004

Fonte 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Total Manual 6 8 10 7 11 20 35 48 39 56 72 312 SINIC 4 5 10 6 8 15 27 37 20 24 31 187

Fonte: SINIC/INI/DITEC e Manual “Trafico de pessoas para fins de exploração sexual”.

Gráfico 2 – Correlação entre inquéritos instaurados pela PF (Manual) e inquéritos do SINIC com indiciamentos Fonte: SINIC/INI/DITEC e Manual “Trafico de pessoas para fins de exploração sexual”.

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Preliminarmente, cumpre lembrar que as informações de inquéritos

instaurados existentes junto ao Manual têm por fonte a própria Polícia Federal.

Portanto, uma explicação para o fato de existirem menos inquéritos no SINIC

está em uma das características do Sistema Nacional de Informações

Criminais, que é constar apenas inquéritos com pessoas indiciadas.

A simples existência de um inquérito não quer dizer que tenham ou que

venham a ter indivíduos indiciados. O fato pode ainda estar em processo de

investigação e sem uma autoria definida ou ser encerrado sem nenhuma

definição neste sentido. À primeira vista, observa-se (Gráfico 2), no decorrer do

período analisado, um crescimento uniforme de inquéritos instaurados e dentre

estes, aqueles em que houveram indiciamentos. Por outro aspecto, percebe-se

também, a partir do ano 2000, um aumento constante da diferença entre o

número de inquéritos instaurados (Manual) e o número de inquéritos com

indiciados (SINIC).

Cumpre ressaltar que, na medida em que a autoria delitiva é definida,

os indiciados são incluídos no SINIC. Não obstante, este é um resultado direto

do sucesso da investigação. Um inquérito instaurado, não necessariamente

corresponde a uma investigação concluída com êxito. O simples aumento de

inquéritos instaurados por si só não deve ser considerado como um indicativo

de combate eficiente a determinado tipo de crime.

A distribuição dos inquéritos instaurados pela PF e por região pode ser

visualizada na Tabela 5, bem como a respectiva disposição por estados

encontra-se no Gráfico 3.

Tabela 5 – Inquéritos da PF instaurados referente ao tráfico de mulheres e com indiciados por região

Distribuição dos Inquéritos da PF por região do país Região Inquéritos Percentual

Norte 20 10,70% Nordeste 19 10,16% Centro-Oeste 64 34,22% Sudeste 60 32,09% Sul 24 12,83%

Total 187 100,00% Fonte: SINIC/INI/DITEC

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Gráfico 3 – Distribuição dos inquéritos PF instaurados e com indiciados por Estado Fonte: SINIC/INI/DITEC

Em âmbito nacional, quanto aos inquéritos instaurados e com pessoas

indiciadas, merecem destaque os estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo,

Rio de Janeiro e Paraná, como sendo as unidades da federação com mais

registros. Cabe especial atenção ainda, o fato de que, nos estados de Sergipe

e Amapá, durante este período, não foi consignado no SINIC um único

indiciamento e, por conseguinte, inquérito instaurado.

Com referência às unidades da Polícia Federal, adéquam-se os

números apresentados com as amostras objeto de estudo do I Diagnóstico

Sobre o Tráfico de Seres Humanos. A exceção, entretanto, encontra-se no

estado de Minas Gerais, cujo quantitativo de inquéritos o colocaria como uma

importante referência para o citado diagnóstico. Na região sul, o destaque é o

estado do Paraná, onde o total de inquéritos é superior ao dos estados de

Santa Catarina e Rio Grande do Sul juntos.

Em termos de volume de indiciamentos, o quadro exposto é muito

semelhante, porém com algumas particularidades que merecem ser

apresentadas, consoante Tabela 6 e Gráfico 4 a seguir.

Tabela 6 – Indiciamentos da PF no tráfico de mulheres por região Distribuição dos indiciamentos da PF por região do país

Região Indiciamentos Percentual Norte 41 11,17%

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Nordeste 34 9,26% Centro-Oeste 138 37,61% Sudeste 106 28,88% Sul 48 13,08% Total 367 100,00% Fonte: SINIC/INI/DITEC

Gráfico 4 – Distribuição dos indiciamentos PF por Estado Fonte: SINIC/INI/DITEC

É interessante ainda, o conteúdo apresentado na Tabela 7, com a

média de indiciamentos por inquérito em cada região.

Tabela 7 – Média de indiciamentos por inquérito por Região Média de Indiciados por Inquérito

Região Indiciamentos Inquéritos Média Norte 41 20 2,05 Nordeste 34 19 1,78 Centro-Oeste 138 64 2,15 Sudeste 106 60 1,76 Sul 48 24 2,00

Total 367 187 1,96 Fonte: SINIC/INI/DITEC

Entre as razões para os focos de tráfico de mulheres distribuídos de

forma diferenciada nas diversas regiões do país, a PESTRAF levantou

indicativos, principalmente de ordem social e econômica:

Assim, neste estudo, o tráfico de mulheres, crianças e adolescentes para fins sexuais, configura-se a partir de indicadores sócio-econômicos, construídos nas relações de mercado/projetos de

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desenvolvimento/trabalho/consumo e migração. A relação entre estes indicadores mostra que as desigualdades sociais, de gênero, raça/etnia e geração determinam o processo de vulnerabilização de mulheres, crianças e adolescentes. Neste contexto, a taxa de pobreza no Brasil atinge cerca de 40% da população e está relacionada com os estágios diferenciados de desenvolvimento econômico e social das regiões. Proporcionalmente, o Nordeste, o Norte e o Centro-Oeste, em relação ao Sul e ao Sudeste, apresentam maiores índices de pobreza e desigualdades sociais. (LEAL, 2002, p. 54)

Conforme a mesma pesquisa foi confirmada uma relação direta entre

pobreza, desigualdades regionais e as rotas de tráfico de mulheres, com

destaque para as regiões Norte e Nordeste, com um maior número de rotas,

seguidas das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul (LEAL, 2002, p.55), valendo

ressaltar que a referida pesquisa trata de tráfico nacional e internacional de

mulheres, adolescentes e crianças. Na Tabela 8, observa-se a relação

estabelecida entre pobreza, proporção e rotas.

Tabela 8 – Regiões, número de pobres, proporção e rotas de tráfico

REGIÕES Nº DE POBRES (X MIL)

PROPORÇÃO DE POBRES (%)

ROTAS (NACIONAL E INTERNACIONAL)

NORTE 2.220 43,2 76

NORDESTE 18.894 45,8 69

SUDESTE 13.988 23,0 35

SUL 4.349 20,1 28

CENTRO-OESTE 2.469 24,8 33

BRASIL 41.919 30,2 241 Fonte: PESTRAF

Nota-se, portanto, uma discrepância clara entre os resultados

alcançados pela PESTRAF e o presente trabalho em termo de inquéritos

instaurados. No que pese o fato de que a PESTRAF se refere a rotas de tráfico

por região e não ao número de indiciados ou inquéritos, era de se esperar uma

certa congruência entre os dados, o que não ocorre se observarmos a

prevalências das regiões sudeste e centro-oeste nos Gráficos 3 e 4.

Uma justificativa seria pelo fato de que a referida Pesquisa toma como

base fontes de informação referentes a toda a atividade criminosa na região, e

não apenas àquela cuja ação foi investigada pela polícia, estando incluídas

entre essas fontes matérias publicadas na mídia, informações coletadas de

ONGs, famílias das mulheres traficadas, denúncias anônimas e informações da

própria força policial que, conhecendo a situação, não possui, por algum

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motivo, meios para combatê-la, ao passo em que o presente trabalho é um

demonstrativo do quê a Polícia Federal efetivamente fez no período para

combater o tráfico de mulheres, excluindo-se da pesquisa, inclusive, como já foi

dito anteriormente, inquéritos policiais que não levaram a nenhum indiciamento.

Vislumbra-se, portanto, que existe uma diferença bastante acentuada

entre o que se acredita ser a realidade acerca do tráfico de mulheres no Brasil

e a efetiva ação da polícia no combate ao delito.

Sem deixar de lado o objetivo do trabalho, que é obter o perfil

criminológico do traficante e, brevemente tomando por base a ciência criminal

no que diz respeito à vitimologia12, isto é, o estudo dos meios de identificação

de um indivíduo que apresenta tendência a tornar-se vítima de um determinado

delito, entende-se que o traficante atuará, a partir de critérios próprios de

conveniência e oportunidade, onde estiverem aquelas mulheres cuja situação

esteja mais favorável a que alcance seus objetivos, incluindo-se, além da

atitude vitimológica, facilidade de transporte e atividade policial na região.

Destaca-se ainda, no campo da vitimologia, a existência não só de

aspectos sociais e psicológicos que influenciam na escolha de determinada

mulher para fins de tráfico, mas também aspectos físicos. Eduardo Mayr13

assim conceitua:

Vitimologia é o estudo da vítima no que se refere à sua personalidade, quer do ponto de vista biológico, psicológico e social, quer o de sua proteção social e jurídica, bem como dos meios de vitimização, sua inter-relação com o vitimizador e aspectos interdisciplinares e comparativos. (MAYR, 2008).

Assim, delineia-se ainda outro aspecto passível de pesquisa e

relacionado aos atributos físicos da mulher, que poderiam estar relacionados

também a escolha por vítimas desta ou daquela região, de acordo com o

interesse da rede internacional de tráfico. Neste sentido, a afirmação de

Antônio Salas (2007, p. 161) é enfática: “naturalmente, o bom traficante deve

saber escolher a mercadoria. Isso lembra uma forma de nazismo. Só as

bonitas e os melhores corpos têm uma possibilidade.”

Outra hipótese investigativa estaria na verificação do indiciamento

12 Wikipédia. Acesso em 22/09/2008 13 Idem.

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correlacionado ao gênero. Como se encontra esta distribuição em termos de

inquérito instaurado e com indiciamentos? Este aspecto esta exposto na

Tabela 9 e Gráfico 5.

Tabela 9 – Distribuição dos gêneros nos inquéritos e indiciamentos pela PF

Gênero

Número de Indiciamentos e Inquéritos no artigo 231 do CPB entre 1994 e 2004 realizados pela PF pelo Sexo dos Indiciados

Nº de inquéritos Nº de indiciamentos Freqüência % Freqüência %

Somente Homens 51 27,27% 71 19,35% Somente Mulheres 77 41,18% 110 29,97% Ambos 59 31,55% 186 50,68% TOTAL 187 100,00% 367 100,00%Fonte: SINIC/INI/DITEC

Foram instaurados 51 inquéritos (71 indiciamentos) com a presença

exclusiva de homens. Por outra vertente, encontramos somente mulheres em

77 inquéritos, com 110 indiciamentos.

A presença de ambos os gêneros14 é encontrada em 59 inquéritos,

com respectivos 186 indiciamentos. Fica a observação, portanto, de que

somente em 31,55% dos inquéritos constaram a presença de ambos os sexos.

Estes inquéritos, todavia, abarcaram 50,68% dos indiciamentos. Daí, podemos

concluir que a maioria dos indiciamentos está distribuída nos inquéritos que

tinham homens e mulheres indiciados.

Gráfico 5 – Distribuição dos Gêneros nos inquéritos e indiciamentos pela PF Fonte: SINIC/INI/DITEC

Outro aspecto a ser analisado, em face do exposto no Manual “Tráfico

de pessoas para fins de exploração sexual” (DIAS, 2005, p. 23), ao ressaltar

14 Evidente neste caso a presença de no mínimo duas pessoas. Nos casos de somente homens ou somente

mulheres, deve-se levar em consideração a predominância um ou uma indiciada por inquérito.

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que “há também uma alta presença de mulheres [...], que atuam principalmente

no recrutamento das vítimas” e também no I DSTSH (COLARES, 2004, p. 30),

ao mencionar que “em se tratando de tráfico internacional de pessoas, e sendo

a mulher o principal objeto deste crime, ter uma mulher como aliciadora poder

conferir maior credibilidade à proposta de trabalho ou menor suspeita de

prostituição”; é a questão sobre qual a função, na rede de tráfico, dos

indiciados do gênero masculino nos casos onde foram indiciados, num mesmo

inquérito, ao menos um homem e uma mulher, visto que à mulher cabe, na

rede, conforme exposto, o papel de aliciadora. Essa resposta poderia

esclarecer, por exemplo, se a PF estaria alcançando, além do aliciador,

elementos posicionados em níveis mais elevados dentro da rede.

Crimes correlacionados

Para análise dos crimes correlacionados, foi estabelecido um estudo

referente aos crimes cometidos em conjunto com o artigo 231 CPB e em um

mesmo inquérito da Polícia Federal, por indiciado, conforme demonstrado nos

Gráficos 6, 7 e 8. São fatos detectados na mesma apuração delituosa, na

mesma investigação e, portanto, que constam no Boletim de Identificação

quando do indiciamento. O SINIC permite uma listagem de até seis crimes por

Boletim. Foram considerados para a construção dos Gráficos, um mínimo de 4

registros (quadro geral), 3 registros (homens) e 2 registros (mulheres).

‐ 10  20  30  40  50  60  70  80  90  100 

Quadrilha ou Bando

Favorecimento da Prostituição

Rufianismo

Seqüestro e Cárcere Privado

Crimes Previstos no E.C.A.

Casa de Prostituição

Falsificação de Documento Público

Entorpecentes

Mediação p/ Servir à Lascívia de Outrem

Gráfico 6 – Crimes mais comuns cometidos juntamente com o tráfico de mulheres – Todos os Indiciados Fonte: SINIC/INI/DITEC

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Gráfico 7 – Crimes mais comuns cometidos juntamente com o tráfico de mulheres – Mulheres Indiciadas Fonte: SINIC/INI/DITEC

Gráfico 8 – Crimes mais comuns cometidos juntamente com o tráfico de mulheres – Homens Indiciados Fonte: SINIC/INI/DITEC

Da análise dos gráficos apresentados, o crime de “Quadrilha ou Bando”

e “Favorecimento a Prostituição” encontram-se nos primeiros lugares, tanto no

quadro geral, quanto por gênero. Na terceira colocação do quadro geral

localiza-se o crime de “Rufianismo”, mesma posição do gráfico de mulheres

indiciadas. Já no Gráfico 8 (homens indiciados) o terceiro crime mais presente

é o de “Seqüestro e Cárcere Privado” e o quarto de “Rufianismo”. Interessa

destacar ainda que os homens também tenham cometido os crimes de

“Falsificação de Documento Público” e “Contra o Sistema Financeiro Nacional”.

Já as mulheres são tipificadas no crime de “Mediação para servir a Lascívia de

Outrem”. Por fim, lembramos à existência no quadro geral, assim como no

grupo do gênero feminino, a presença de delitos relacionados à Lei nº 6368/76

(então lei de entorpecentes).

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Importante destacar ainda, quando do estudo dos crimes usualmente

mais cometidos, que os delitos de “Rufianismo” e “Favorecimento da

Prostituição” são mais praticados pelo gênero feminino, quando em conjunto

com o 231 CPB, do que pelos homens (aproximadamente o dobro de

indivíduos). Mais interessante ainda é perceber que o crime de “Mediação para

servir a Lascívia de Outrem”, sequer consta na relação dos oito delitos mais

cometidos por homens. A hipótese levantada (que confirma estudos já

realizados) é que o universo da prostituição sempre foi dominado

principalmente pelo gênero masculino, onde o papel da mulher é de submissão

e exploração. A atuação de outra mulher no momento do aliciamento, onde são

praticados os delitos acima citados, é vista como uma estratégia poderosa das

redes de tráfico, pois a decisão de aventurar-se em outro país não seria

tomada caso houvesse certo nível de desconfiança. Esta desconfiança no caso

é menor ou não existe, quando o convite ou sugestão parte de outra mulher

que, no inconsciente da aliciada, não deveria induzir uma “igual a ela” ao

sofrimento, à escravidão.

Quanto aos indiciados do gênero masculino, em comparação com

gênero feminino, ocorrem mais atividades delituosas “paralelas” ao aliciamento,

tais como a “Falsificação de Documento Público” e crimes contra o “Sistema

Financeiro Nacional” (possível lavagem de dinheiro). Uma associação

interessante estaria na vinculação destes crimes com as funções nas redes de

tráfico.

Finalmente, cabe dizer que foram levantados, como crimes comuns

aos dois gêneros, os delitos tipificados no Estatuto da Criança e Adolescente –

ECA, assim como envolvendo entorpecentes (Lei nº 6368/76). A presença de

delitos definidos no ECA, encontra-se de acordo com pesquisas que relatam o

tráfico de menores para o estrangeiro, viabilizado pela falsificação de

documentos (crime também relacionado dentre os usualmente cometidos pelos

dois gêneros, com destaque para o masculino, conforme citado).

Nos casos de tentativa de tráfico de adolescentes, houve a identificação, pela Polícia Federal, de falsificação de documento e/ou falsidade ideológica. Este artifício era usado na tentativa de retirar do país pessoas com menos de 18 anos e desacompanhadas de seus pais ou responsáveis [...]. (COLARES, 2004, p. 27-28).

A fim de abordar outro enfoque de estudo, cabe lembrar que, em

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alguns casos, o indivíduo também é indiciado em outros inquéritos que apuram

crimes diversos ao do tráfico de mulheres. O conjunto de inquéritos de

determinado indiciado compõe as incidências penais, formando a respectiva

folha de antecedentes. Objetivando esta visão mais ampla da ação criminosa,

envolvendo o indiciado no tráfico de mulheres, foi gerada a Tabela 10, onde é

possível visualizar a reiteração, tanto no artigo 231 CPB, quanto em outros

delitos.

A Tabela 10 nos permite visualizar a atuação dos 354 indivíduos, no

aspecto do histórico criminal. Deste total, 294 pessoas estão indiciadas uma

vez e em inquéritos pertinentes ao artigo 231 CPB. Outros 14 indivíduos,

possuem tão somente, 2 indiciamentos, ambos relacionados no artigo de tráfico

de mulheres. Perfaz-se assim que 308 pessoas, no âmbito do SINIC15, têm sua

ficha criminal restrita ao tema sob análise. Já outros 37 indiciados envolveram-

se em inquéritos com outros delitos, além dos pertinentes ao tráfico de

mulheres.

Tabela 10 – Total de indiciados no âmbito da PF Número total de indiciados no Artigo 231 do CPB (no período) em conjunto com outros

indiciamentos (incluídos no SINIC até Agosto de 2008)

Artigo 231 do CPB - Tráfico de Mulheres

Apenas no Art. 231 do CPB

Demais indiciamentos sem o Artigo 231 CPB Total

Um Dois Três Sete Total %

Um indiciamento 294 18 9 3 1 325 94,2%

Dois indiciamentos 14 4 - - - 18 5,2%

Três indiciamentos - 2 - - - 2 0,6%

Total 308 24 9 3 1 345 100,0%

% do Total 89,28% 6,96% 2,61% 0,87% 0,29% Fonte: SINIC/INI/DITEC

O alto percentual de 89,28% de indivíduos com inquéritos vinculados

apenas ao tráfico de mulheres e crimes afins, permite o exercício de diversas

hipóteses para explicá-lo, todas passíveis de comprovação, dentre as quais

podemos citar: Dificuldades na alimentação de um banco de dados nacional,

com prejuízo na catalogação das incidências criminais, refletindo em um

15 Cumpre destacar que o SINIC também é alimentado com informações pertinentes às polícias civis,

poder judiciário e Ministério Público, quando existem Acordos de Cooperação ou Convênios entre os órgãos. A ausência destes pode inviabilizar, em tese, o conhecimento de todo o histórico criminal do indivíduo.

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histórico criminal incompleto; as investigações policiais que estariam

alcançando tão somente um determinado perfil de traficante, cujo elemento

característico envolveria a ausência de uma ficha criminal conhecida. A

“ausência de uma ficha criminal” seria de grande utilidade, por exemplo, nos

casos onde não seja interessante o levantamento de suspeitas quanto à

idoneidade do indivíduo.

O I DSTSH (COLARES, 2004, p. 36) ao tratar do tema, também é

enfático quando nos relata que “a presença de outros crimes (da formação de

quadrilha, à falsificação de documentos e evasão de divisas ao tráfico de

drogas) demonstra que o tráfico internacional de pessoas funciona como um

evento em teia, com resultados em cadeia”.

Perfil dos indiciados

Para a análise do perfil dos indiciados, foram estudadas características

antropológicas e sociais dos 345 indiciados por tráfico de mulheres, no período

de 1994 a 2004, no âmbito dos inquéritos instaurados pela Polícia Federal.

Indivíduos que constaram em mais de um inquérito (mais de um indiciamento)

tiveram seus dados compilados em um único registro. Ressalte-se aqui, que

nas variáveis onde houve alteração no dado catalogado, levou-se em

consideração o primeiro registro (idade, por exemplo). Para definição entre

brasileiros e estrangeiros, foram compilados num só tópico os dados referentes

ao país de nascimento e nacionalidade, definido como “origem” da pessoa.

Origem, idade e gênero (sexo)

Para o estudo da origem, idade e gênero, os registros dos 345

indiciados foram compilados na Tabela 11, sendo melhor visualizados nos

Gráficos 9,11,13,14 e 16.

Tabela 11 – Origem, idade e gênero dos indiciados

Indiciados por Origem, Idade e Gênero

FAIXA ETÁRIA Brasileiros Estrangeiros HOMENS MULHERES HOMENS MULHERES

18 a 21 anos 6 11 1 0

22 a 30 anos 30 81 7 2

31 a 40 anos 38 55 15 5

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41 a 50 anos 15 30 14 1

51 a 60 anos 6 12 7 0

Mais de 60 anos 3 1 1 0

Não Informado 0 1 3 0

Total Gênero 98 191 48 8

Total Origem. 289 56

Total Geral 345 Fonte: SINIC/INI/DITEC

No presente trabalho, foi encontrado um percentual de 84% como

sendo brasileiros (289 casos) e 16% estrangeiros (56 casos) – Gráfico 9.

Gráfico 9 – Percentual entre brasileiros e estrangeiros indiciados - PF Fonte: SINIC/INI/DITEC

Neste aspecto, uma primeira análise deve ser realizada, envolvendo os

percentuais mencionados em outros estudos. Consoante o Manual “Tráfico de

pessoas para fins de exploração sexual” (DIAS, 2005, p. 24), temos que “a

pesquisa MJ-UNIDOC traz larga predominância de brasileiros entre os

indiciados (88,2%), a PESTRAF aponta que 33,3% dos recrutadores

identificados em reportagens da mídia são do exterior”. Neste contexto, em

vista dos percentuais expostos no Gráfico 10, percebe-se a semelhança entre

os números apresentados neste trabalho, com os do I DSTSH, em decorrência,

possivelmente, da origem semelhante dos dados (indiciados).

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Gráfico 10 – Análise comparativa entre os resultados das pesquisas envolvendo a origem Fonte: SINIC/INI/DITEC - MANUAL

Gráfico 11 – Gênero em números Fonte: SINIC/INI/DITEC

No gráfico 11, pode-se visualizar os quantitativos do gênero aqui

estudados. A maioria dos indiciados foi do gênero feminino, com 199

ocorrências. Interessante comparação poderá ser feita com o resultado obtido

no I DSTSH, que considerou o gênero masculino como prevalente (Gráfico 12).

Esta diferença pode ter sua explicação na pequena amostra (36

inquéritos/processos, de 4 estados) estudada pelo I Diagnóstico.

Outro aspecto interessante, que o I DSTSH não menciona, está na

comparação entre os gêneros dos nacionais e estrangeiros (Gráfico 13).

Quando melhor discriminado o gênero, de acordo com a origem,

observa-se que dentre os nacionais, a discrepância entre homens e mulheres

foi bem mais significativa. Quanto aos estrangeiros, predominou o gênero

masculino.

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Gráfico 12 – Sexo do réu/indiciados por tráfico de seres humanos (em números) Fonte: I DSTSH

Gráfico 13 – Distribuição dos indiciados segundo a origem e o gênero em números Fonte: SINIC/INI/DITEC

Gráfico 14 – Faixa etária por gênero e origem Fonte: SINIC/INI/DITEC

No estudo das faixas etárias, o Gráfico 14 aborda por gênero e origem.

Entre os nacionais do gênero masculino, predominam indivíduos da faixa etária

de 31 a 40, seguido pelos de 22 a 30 anos. Para os estrangeiros teremos um

perfil mais “velho”, sobressaindo as faixas etárias de 31 a 40 e 41 a 50,

respectivamente. No caso das mulheres brasileiras o predomínio foi da faixa e

54

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22 a 30 anos. Já as estrangeiras, em sua maioria, estão entre 31 e 40 anos.

Nos Gráficos 15 e 16, podemos comparar os resultados obtidos no

presente estudo, com os dados do I DSTSH, respectivamente, referentes a

todo o universo de indivíduos.

Gráfico 15 – Faixa etária do indiciado por tráfico de seres humanos em números Fonte: SINIC/INI/DITEC

Gráfico 16 – Faixa etária do réu/indiciado por tráfico de seres humanos em números Fonte: I DSTSH

Enquanto no Gráfico 16 prevalece à faixa etária de 31 a 40 anos (I

DSTSH), no atual estudo, descrito no Gráfico 15, predominaram indivíduos

entre 18 e 30 anos. A diferença de resultados pode ter como justificativa, mais

uma vez o pequeno quantitativo analisado pelo I Diagnóstico, acentuado pelo

alto número de “não relatados” (NI). Por outra vertente, esta informação é

comum nos Boletins de Identificação inseridos no SINIC, demonstrado pelo

baixo número de não informados (NI) do Gráfico 15.

Finalmente, cabe apresentar os países de origem (nacionalidade / país

de nascimento) dos estrangeiros indiciados (Tabela 12 e Gráfico 17).

Tabela 12 - Total de indiciados no âmbito da PF

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Origem (Nacionalidade / País de Nascimento)

País Masculino Feminino Total

Espanha 23 1 24

Alemanha 8 0 8

Argentina 4 1 5

Portugal 4 0 4

França 2 0 2

Coréia do Sul 1 0 1

Israel 1 0 1

Rep. Popular da China (Taiwan)16 1 0 1

Suíça 1 0 1

Suriname 1 0 1

Venezuela 1 0 1

Bolívia 0 1 1

Hungria 0 1 1

Chile 0 1 1

Não Informado 1 2 3

República Dominicana 0 1 1

Total 48 8 56

Fonte: SINIC/INI/DITEC

Dentre as nacionalidades levantadas em outros estudos, o I DSTSH

(COLARES, 2004, p. 34) menciona, além dos brasileiros, sete espanhóis, dois

portugueses e um chinês. O relatório sobre tráfico de seres humanos no estado

do Rio Grande do Sul (SILVA, 2006, p. 27), menciona argentinos, paraguaios e

chineses, além dos próprios brasileiros, como aliciadores.

Consoante o Gráfico abaixo, no presente trabalho foi constatada a

prevalência de espanhóis, seguidos por alemães, argentinos e portugueses. A

presença de um maior número de pessoas originadas da Espanha, como

indiciadas, encontra-se em consonância com o I Diagnóstico.

16 Único caso de divergência entre o país de nascimento (Taiwan) e o país de nacionalidade (República

Popular da China).

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Gráfico 17 – Distribuição dos Indiciados estrangeiros pela PF segundo a origem e o gênero Fonte: SINIC/INI/DITEC

Grau de instrução

Para o estudo da escolaridade, encontraremos na Tabela 13 a

distribuição dos diversos graus de instrução por gênero e origem.

Tabela 13 – Grau de instrução dos indiciados segundo o gênero e origem GRAU DE

INSTRUÇÃO Gênero / Origem

Masc. Brasil Fem. Brasil Masc. Estrangeiro Fem. Estrangeiro VALORES Absolutos % Absolutos % Absolutos % Absolutos % ANALFABETO 0 0% 1 0.5% 0 0% 0 0% 1º GRAU INCOMPLETO 23 24 43 22.5% 1 2% 0 0% 1º GRAU COMPLETO 7 7% 30 15.7% 4 9% 0 0% 2º GRAU INCOMPLETO 7 7% 8 4% 0 0% 0 0% 2º GRAU COMPLETO 20 20% 38 20% 8 16% 2 25% SUPERIOR INCOMPLETO 7 7% 7 3.7% 4 9% 0 0% SUPERIOR COMPLETO 9 9% 5 2.6% 7 14% 1 13% NÃO INFORMADO 25 26% 59 31% 24 50% 5 62% TOTAL 98 100% 191 100% 48 100% 8 100% Fonte: GED/INI/DITEC

Descartando as situações onde não foram informados os dados, foi

elaborado o Gráfico 18, abaixo.

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Gráfico 18 – Distribuição do grau de instrução por gênero e origem Fonte: GED/INI/DITEC

Percebe-se como resultado do Gráfico acima, a existência de dois

grupos distintos de pessoas: o primeiro deles, com baixa escolaridade, detendo

em sua maioria indivíduos com no máximo o primeiro grau completo, e um

segundo grupo, onde prevalece uma melhor formação, contendo indiciados

com o 2º grau completo e superior, seja ele completo ou incompleto.

Pesquisas aqui mencionadas, tais como o I Diagnóstico sobre o tráfico

de seres humanos (COLARES, 2004, p. 33) e o Manual “Trafico de pessoas

para fins de exploração sexual” (DIAS, 2005, p. 23-24), nos informam que

“Entre os acusados há uma presença maior de pessoas com nível médio e

superior. Isso se explica, em parte, pela característica internacional do crime

que exige maior escolaridade para possibilitar operações que podem

ramificações em diferentes países”. Este argumento pode ser válido para o

segundo grupo já citado, apesar de não ser a maioria. Quanto ao estudo dos

estrangeiros, cuja maioria teria a formação no âmbito do segundo grau e

superior, denota-se a particularidade da característica internacional do crime,

bem como a possibilidade da sua participação no tráfico, em atividades mais

complexas. Por fim, em decorrência da complexidade do tráfico de pessoas,

conforme citado, questiona-se: Como se explica a existência de um grupo

majoritário de indiciados com tão baixa escolaridade?

Duas premissas podem ser levantadas, ambas relacionadas à vitima e

seu nível de escolaridade. Neste aspecto específico, a PESTRAF assim aborda

a questão:

Geralmente, estas mulheres são oriundas de classes populares, apresentam baixa escolaridade, habitam em espaços urbanos

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periféricos com carência de saneamento, transporte (dentre outros bens sociais comunitários), moram com algum familiar, têm filhos e exercem atividades laborais de baixa exigência. Muitas já tiveram passagem pela prostituição. (LEAL, 2002, p. 58)

A primeira possibilidade seria uma relação de proximidade entre a

vítima e seu aliciador, seja familiar, social ou profissional, o que justificaria a

semelhança do nível de escolaridade. A segunda estabeleceria que a própria

vítima, num segundo momento, passa a atuar como aliciadora, como relatado

em testemunho levantado pela PESTRAF (LEAL, 2002, p. 128).

Profissão

Para desenvolver uma analise pertinente a profissão dos indiciados,

houve a necessidade de agrupar as atividades semelhantes, por intermédio do

GED. Foi listado um grupo de ocupações mais comuns, consoante a Tabela

14, constando inclusive os registros onde não foi possível obter estas

informações. As ocupações com menos de 4 ocorrências foram agrupadas com

o título de “outras ocupações”.

Tabela 14 - Profissões

Fonte: GED/INI/DITEC

No Gráfico 19, pode-se observar esta distribuição em percentuais, com

o índice de “não informados” de 19%, sendo este valor mais relevante entre as

mulheres (36 brasileiras e 4 estrangeiras).

PROFISSÕES MAIS INFORMADAS - BANCO GED Total Não Informado 67 comerciante 33 do lar 30 vendedora 25 moto boy / motorista de taxi /motorista profissional 12 agente de turismo / viagem 12 cabeleireiro / esteticista 12 estudante 11 empresária 9 doméstica 7 garçom / camareiro 4 Outras ocupações 123 Total 345

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Gráfico 19 – Percentual das profissões – todos os indiciados Fonte: GED/INI/DITEC

Analisando a Tabela 14 e o Gráfico 19, observa-se preliminarmente o

percentual de 37% dos registros, envolvendo outras ocupações diversas. Em

seguida temos as atividades de comerciante (9%), “do lar” (9%) e de

vendedora (7%), sendo estas duas últimas, atividades eminentemente

femininas.

No Gráfico 20 encontraremos a distribuição por gênero e origem, onde

foram desconsiderados os registros não informados.

Gráfico 20 – Distribuição das ocupações mais usuais – todos os indiciados Fonte: GED/INI/DITEC

As atividades mais usuais no grupo de nacionais do gênero masculino

foram as de motorista (motoboy, taxista ou motorista profissional), comerciante,

agente de turismo ou de viagem, cabeleireiro ou esteticista e garçom ou

camareiro. No agrupamento feminino e de brasileiras, encontraremos a

atividades “do lar”, vendedora, estudante, agente de viagem e doméstica.

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Uma característica comum as atividades dos brasileiros, independente

do gênero, está na possibilidade de contato pessoal com potenciais vítimas,

com destaque para os grupos de ocupações pertinentes à viagem, estética,

comércio, transporte e hospedagem. Especial atenção pode ser dada aos três

primeiros grupos, constando nestes, uma atuação de ambos os gêneros.

Outro destaque deve ser dado aos estrangeiros do gênero masculino,

onde predominaram as ocupações de empresário e comerciante, atividades

que envolvem maior poder aquisitivo e possivelmente também estariam

vinculadas a sua atuação na rede do tráfico.

Os resultados da pesquisa publicada no I Diagnóstico (COLARES,

2004, p. 33) mencionam que “[...] a atividade notadamente mais indicada como

a ocupação dos acusados foi a de empresário, que envolve negócios como

casa de show, comércio (inespecífico), casa de encontros, bar, agência de

turismo, salão de beleza e cassino”. Todavia, mostra-se interessante um maior

detalhamento sobre o tema, uma vez que ocupações díspares como

“comerciante”, “do lar” e “motoristas”, foram aqui elencadas dentre as

principais.

É possível ainda vislumbrar um paralelo entre as ocupações elencadas

e os dois pólos observados quando ao grau de escolaridade. Seriam profissões

que exigiram um menor grau de capacitação em contraposição a outras mais

que exigiriam maior grau.

Estado Civil

Foi também estudado o estado civil do indiciado, cujos números e

percentuais podem ser vislumbrados na Tabela 15 e Gráficos 21 (somente por

gênero e origem) e 22 (todos os valores com percentual).

Tabela 15 – Estado civil por gênero e origem

ESTADO

CIVIL

Gênero / Origem

Masc. Brasil Fem. Brasil Masc. Estrangeiro Fem. Estrangeiro

VALORES Absolutos % Absolutos % Absolutos % Absolutos % AMASIADO / AMIGADO 10 10% 11 6% 0 0% 0 0% DIVORCIADO / SEPARADO 5 5% 18 9% 3 6% 1 13%

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CASADO 31 32% 36 19% 16 33% 1 13%

SOLTEIRO 31 32% 77 40% 4 9% 1 13%

VIÚVO 2 2% 5 3% 1 2% 0 0%

Não Informado 19 19% 44 23% 24 50% 5 61%

TOTAL 98 100% 191 100% 48 100% 8 100% Fonte: GED/INI/DITEC

Constatou-se que dentre os brasileiros encontramos o percentual de

32% tanto de casados quanto de solteiros, sendo os dois grupos

predominantes. Já as brasileiras são em sua maioria solteiras (40%). Dentre os

estrangeiros prevalecem os casados (33%) e as estrangeiras, apesar do alto

percentual de 61% não informados, estão divididas em iguais proporções de

casadas, solteiras e separadas (13% cada).

Gráfico 21 – Distribuição do estado civil por gênero e origem Fonte:GED/INI/DITEC

Um estudo comparativo entre as informações oriundas do I Diagnóstico

(COLARES, 2004, p. 32), presente no Gráfico 23 e os dados coletados neste

trabalho, quanto ao estado civil dos indiciados, demonstrou muitas

semelhanças. Em ambas pesquisas, o índice de solteiros foi o maior: 33% e

29%, no GED/INI e I DSTSH respectivamente. Em segundo lugar;

encontraremos os casados com 24% e 27%. Também os registros de viúvo,

com 2% e 1%; assim como divorciados/separados, 8% e 11% ficaram

próximos. As divergências maiores foram encontradas nos casos não

relatados, e de amasiado/amigado e união estável.

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Gráfico 22 – Percentual do estado civil – todos os indiciados Fonte: GED/INI/DITEC

Gráfico 23 – Estado civil do réu/indiciado por tráfico de seres humanos Fonte: I DSTSH

Presença de dependentes versus estado civil

A partir do campo “número de dependentes” existente no Boletim de

Identificação, foi possível estabelecer o quantitativo de indiciados com

dependentes e sem dependentes. Por conseguinte, correlacionou-se com o

estado civil e gênero (Tabela 16). Para o presente trabalho, o enfoque

estabelecido foi o da presença ou não de dependência17. Com o intuito de

facilitar a compreensão não se estabeleceu uma distinção pela origem

(nacionais e estrangeiros).

Tabela 16 – Correlação entre o estado civil e a presença ou não de dependentes Dependentes de acordo com o gênero e o estado civil

Estado civil Masculino Feminino

S/ Dependentes C/ Dependentes NI S/ Dependentes C/ Dependentes NI Amasiado. Amigado 3 6 1 2 7 2 Divorciado. 0 6 2 3 11 5 17 Quanto aos indiciados, foi constatado que os homens brasileiros tem, em sua maioria (32,7%), de 2 a 3

dependentes. Já quanto às mulheres brasileiras (32,5%), possuem entre 1 e 2 dependentes. Com referência aos estrangeiros, independentemente do gênero, prevaleceu a existência de 2 ou 3 dependentes.

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Separado Casado 2 37 8 4 24 9 Solteiro 7 14 14 14 41 23 Viúvo 0 1 2 0 2 3 Não Informado 2 1 40 1 3 45 TOTAL 14 65 67 24 88 87

Fonte: GED/INI/DITEC

Foram gerados ainda os Gráficos 24 e 25, que melhor demonstram a

correlação entre o estado civil e a existência ou não de dependentes.

Gráfico 24 – Correlação entre a existência de dependentes e estado civil – Gênero Masculino Fonte: GED/INI/DITEC

Gráfico 25 – Correlação entre a existência de dependentes e estado civil - Gênero Feminino Fonte: GED/INI/DITEC

Uma primeira avaliação a ser realizada está na constatação de que a

maioria dos indiciados tem dependentes, não importando qual o seu estado

civil. Outro fato interessante constatado está no alto percentual de mulheres

solteiras com dependentes, assemelhando-se neste caso, ao perfil das vítimas.

Com relação ao perfil das vítimas, no artigo “Máfia Européia Loteia

Brasil” (2008), a gerente de projetos da Subsecretaria de Enfrentamento à

Violência contra a Mulher, órgão da presidência da república, citou pesquisas

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demonstrando que a maioria das vítimas são mulheres, de 18 a 40 anos e

mães solteiras.

Local de residência

A partir do preenchimento do campo de endereço de residência, foram

extraídos os dados UF de residência (Brasil) e País de residência (com

residência no exterior), a partir de então foram formatadas as Tabelas 17 e 18,

assim como os Gráficos 26 e 28.

Tabela 17 – País de residência segundo o gênero e origem dos indiciados

País Masc. Brasil Fem. Brasil Masc.

Estrangeiro Fem. Estrangeiro VALORES Absolutos % Absolutos % Absolutos % Absolutos %

ALEMANHA 0 0,0% 1 0,5% 1 2,1% 0 0,0% ARGENTINA 1 1,0% 1 0,5% 4 8,3% 1 12,5% BOLÍVIA 1 1,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% CORÉIA DO SUL 0

0,0% 0 0,0% 1 2,1% 0 0,0% ESPANHA 1 1,0% 9 4,7% 18 37,5% 2 25,0% ISRAEL 0 0,0% 0 0,0% 1 2,1% 0 0,0% ITÁLIA 0 0,0% 1 0,5% 0 0,0% 0 0,0% PARAGUAI 2 2,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% PORTUGAL 1 1,0% 0 0,0% 2 4,2% 0 0,0% RUSSIA 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 12,5% SUÍÇA 0 0,0% 1 0,5% 0 0,0% 0 0,0% SURINAME 0 0,0% 1 0,5% 0 0,0% 0 0,0% VENEZUELA 0 0,0% 0 0,0% 1 2,1% 0 0,0% Não Informado 8 8,2%

26 13,6% 7 14,6% 2 25,0% BRASIL 84 85,7% 151 79,1% 13 27,1% 2 25,0% TOTAL 98 100,0% 191 100,0% 48 100,0% 8 100,0%

Fonte: GED/INI/DITEC

Merece ser citado, tendo por referência a Tabela 17, o percentual de

7,3% (14 casos) de mulheres brasileiras que foram indiciadas e residiam no

exterior. Esta informação passa a ter uma especial apreciação, se

compararmos com o exposto por Antonio Salas (2007, p. 88), ao descrever

funções dentro da rede do tráfico de mulheres da máfia nigeriana, que atua na

Espanha: “Madame ou Mamy: feminino de máster. Muitas vezes, trata-se de

ex-prostitutas que pagaram sua dívida ou compraram sua liberdade e se

tornaram traficantes”. O citado autor destaca a existência de mulheres

estrangeiras na Espanha, que passaram a assumir um novo papel junto ao

tráfico, ou seja, o de proprietária de mulheres traficadas. Situação semelhante

poderia estar ocorrendo com as brasileiras: outrora traficadas, estariam agora

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exercendo uma nova função, mais elevada, entre os traficantes. Por outra

vertente, cabe citar que 15 estrangeiros de ambos os gêneros, declararam

residir no Brasil.

Interessa anda realizar estudo comparativo entre as informações

levantadas na presente pesquisa (Gráfico 26)18 e os dados constantes no I

Diagnóstico (Gráfico 27) quanto ao local de residência do indiciado.

Gráfico 26 – Local de residência do indiciado por tráfico de seres humanos (em percentuais) Fonte: GED/INI/DITEC

Em ambos os estudos, ocorreu à prevalência do Brasil, seguido pela

Espanha, como país mais comum de residência. No presente trabalho,

entretanto, ocorre em seguida a Espanha, a Argentina e posteriormente,

Portugal. No I Diagnóstico, Portugal ocupa o terceiro lugar.

Gráfico 27 – Local de residência do réu/indiciado por tráfico de seres humanos (em percentuais) Fonte: I DSTSH

Por fim, elaborou-se uma comparação entre a UF de residência

e a UF de autuação do Inquérito Policial, estabelecendo-se o percentual dos

indivíduos que se encontravam em “trânsito”, quando do indiciamento, ou eram

moradores nas localidades em que foram autuados – Tabela 18 e Gráfico 28.

18 Foram considerados até 2 indiciados por país.

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Tabela 18 – Residência dos Indiciados segundo a UF de Autuação

Local de residência do indiciado Total

Residentes na UF de autuação 218

Residentes fora da UF de autuação (inclusive outro país) 83

Não Informados 44

Total 345 Fonte: GED/INI/DITEC

Gráfico 28 – Local de residência do réu/indiciado por tráfico de seres humanos (em percentuais) Fonte: GED/INI/DITEC

Dentre os 301 indivíduos indiciados, cujos dados permitiram

estabelecer este comparativo, em 28% destes, a pessoa foi indiciada em uma

unidade da Polícia Federal localizada em uma unidade da federação diferente

do estado (ou país) que declarou residir.

CONCLUSÕES

O principal fator de sucesso no estabelecimento de um perfil

criminológico está relacionado à obtenção de um maior número possível de

características relacionadas a um tipo criminoso, de modo a permitir, em

situações ideais, a individualização ou, ao menos, um universo mais limitado de

suspeitos.

A presente pesquisa contribui positivamente para o estabelecimento

das características do traficante de mulheres, não desejando, em virtude das

limitações naturais estabelecidas pelas fontes de informações escolhidas, ser

exaustivo no assunto.

A grandiosidade de estudos que buscam apresentar uma visão ampla

do fenômeno do tráfico de mulheres como, por exemplo, a PESTRAF, se

contrapõe às poucas informações pesquisadas até o momento acerca do

traficante, do autor do delito. Neste aspecto, é louvável o I Diagnóstico sobre o

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tráfico de seres humanos, pelo seu empenho em apresentar as primeiras

pesquisas envolvendo o tema.

A diversidade constante no banco de dados do Sistema Nacional de

Informações Criminais - SINIC e do Gerenciamento Eletrônico de Documentos

- GED, fruto da quantidade e variedade de indivíduos, com representantes de

quase todos os estados da Federação, certamente influenciou para que, ao fim

dessa pesquisa, fosse possível apresentar resultados bastante significativos,

alguns dos quais em discordância com outras pesquisas.

Um aspecto importante e que decorre de características próprias do

delito do art. 231 do CPB, está na variedade de pessoas envolvidas em etapas

diferentes da prática criminosa. Esta conjuntura demonstra a impossibilidade

de se estabelecer um único perfil que englobe todos os participantes em todas

as fases. Entretanto é perfeitamente possível, dentro de cada fase, delimitar o

perfil de quem nela atua.

Atualmente o SINIC não contempla esta possibilidade, pois o

tratamento que um delito multifacetado como o estudado e todos os demais,

recebem do SINIC, é o mesmo, isto é, no momento do preenchimento do

Boletim de Identificação Criminal, são descritas as mesmas características,

assinalados os mesmos campos e fornecidas as mesmas informações, quer

trate-se de um traficante de mulheres, um ladrão ou um homicida.

Entretanto, a partir dos dados estatísticos coletados e o cruzamento

destes com as diversas informações provenientes das demais pesquisas

acerca do tráfico de pessoas, tornou-se viável levantar algumas possibilidades,

todas passíveis de uma melhor confirmação, em futuros estudos.

Outra opção relevante de pesquisa ocorreu a partir da existência de

variáveis, dentre estas as vinculadas ao gênero e origem, onde foi possível

analisar de maneira isolada cada grupo (como nacionais e estrangeiros),

estabelecendo relações dentro destes e entre ambos.

A predominância de mulheres brasileiras em, praticamente, o dobro de

indiciamentos, se comparadas aos homens brasileiros é um dado inovador,

mas cuja tendência já havia sido indicada quando observadas as demais

pesquisas que já apontavam para uma presença considerável de mulheres no

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tráfico, ainda mais se compararmos este a outros delitos onde a presença de

homens é dominante.

A quantidade de mulheres, agora demonstrada como muito superior à

que se supunha, indica para a consolidação de uma estratégia das grandes

redes de tráfico que seria a utilização da própria mulher como aliciadora de

outras mulheres, quer, como se acredita, para levantar menos suspeitas, quer

por transmitir mais confiança ou mesmo experiência. Com relação a esta última

característica, a hipótese levantada é a de que mulheres que já tiveram alguma

vivência no tráfico seriam utilizadas para aliciar outras mulheres, transmitindo

seus conhecimentos, “dicas” e “macetes” de como sobreviver no mundo da

prostituição no exterior.

Se comparados os dados referentes à parcela de estrangeiros

indiciados e de nacionais, verificamos a forte presença masculina entre os não

nacionais, sendo estes classificados como empresários e comerciantes,

possivelmente, do próprio mercado da prostituição e, no lado brasileiro, um

enorme número de mulheres que, devido ao grau de escolaridade e ocupação,

poderiam pertencer ao grupo de risco inerente às vítimas da prostituição, o que

corrobora a idéia de que, mais uma vez, uma parcela considerável do tráfico é

retroalimentado pelas próprias mulheres, que passam do pólo passivo para o

ativo do delito.

Em inquéritos onde foi indiciada mais de uma pessoa, na maior parte

das vezes ocorre que uma dessas seja do gênero feminino. Assim, consolida-

se a idéia de que, independente do tamanho do grupo a atuar no país, a

presença de uma mulher é sempre um facilitador.

Com relação ao grau de escolaridade versus ocupação podemos

verificar nitidamente a existência de dois pólos: um apenas alfabetizado ou

semi-alfabetizado e, possivelmente, com ocupações mal remuneradas,

condizentes com a formação escolar inadequada e um grupo com a formação

de 2º Grau completo e atividades mais bem remuneradas. Um pequeno grupo

também pode ser observado com formação superior, onde predominam os

estrangeiros.

Ao contrário das pesquisas anteriores, os resultados deste trabalho

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apontam para a atuação majoritária de indivíduos com baixa escolaridade,

derrubando o mito de que a atuação neste delito exige conhecimentos mais

avançados. De fato há, conforme indicado em outras pesquisas, um grupo

especializado e com conhecimentos para atuar no mercado mundial de

pessoas, mas este é minoritário e possivelmente situa-se em camadas mais

elevadas da rede criminosa, enquanto a atividade de base, o aliciamento, é

feito principalmente por pessoas sem nenhum preparo específico, mas cuja

proximidade, seja familiar, seja social, seja pelo contato com as mulheres,

muitas das quais já atuantes no ramo da prostituição, proporcionado pela

atividade que exerce, acaba sendo o fator mais relevante para que aquele

indivíduo seja “usado” como aliciador.

A escolha por este ou aquele aliciador, conforme hipótese levantada no

decurso do trabalho pode estar relacionada à localidade de origem da mulher

aliciada, cujas características interessam ao traficante internacional naquele

momento. Essa hipótese explica o fato de que, mesmo o tráfico de mulheres

estando normalmente relacionado, em outras pesquisas, às piores condições

econômicas e sociais, a maioria dos indiciados não o foram nos estados e

regiões mais pobres do país, como Norte e Nordeste, mas no Sudeste e

Centro-Oeste, o que indicaria certa preferência por mulheres dessas regiões.

Estudos já citados indicam a grande relação entre o tráfico de mulheres

e outros crimes, o que deveria ser sinônimo de elevada reincidência. Tal fato

não foi constatado nesta pesquisa, mas sim, verificou-se um elevado índice de

indivíduos “primários.

A enumeração em ordem decrescente dos crimes mais cometidos

juntamente com o tráfico de pessoas, isto é, no mesmo inquérito, indica

pequenas diferenças entre gêneros, mas que poderiam ser indicativos de

funções na rede do tráfico, como a falsificação de documentos e crimes contra

o sistema financeiro, estes mais comumente praticados por homens, e a

mediação para servir à lascívia de outrem, prática mais comum entre as

mulheres.

A discrepância entre estrangeiros indiciados e a quantidade de

estrangeiros atuando no Brasil (conforme apontado pela PESTRAF), pode

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indicar a complexidade que é para a Polícia Federal, alcançar elementos que

estariam em posições mais elevadas na rede do tráfico. Outro entendimento

seria o de que é mais segura uma atuação à distância, fora do Brasil, muitas

vezes valendo-se da tecnologia disponível, deixando para os nacionais a tarefa

de atuarem no próprio país, no contato direto com as vítimas. Fica clara assim,

a importância da cooperação internacional entre polícias e governos para a

repressão do tráfico de mulheres, pois uma polícia contida pelas fronteiras do

seu país torna-se, cada dia que passa, mais limitada e ineficaz, caso atue

sozinha num mundo de crimes globalizados.

Por fim, fica demonstrado que mesmo com relação a um fenômeno

complexo e multifacetado como tráfico de pessoas, é possível, por meio do

estudo de características individuais de um grande número de delinqüentes,

estabelecer pontos comuns, quer a todos, quer a grupos destes e conhecer

melhor quem é e, até mesmo, preventivamente, quem poderá ser o próximo

traficante.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÃFICAS

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APÊNDICE A – INDICIAMENTOS POR TRÁFICO DE MULHERES REALIZADOS PELA PF NA SERIE HISTÓRICA

Brasil, Regiões Geográficas e Unidades da

Federação

Número de Indiciamentos no Artigo 231 do CPB feito pela Polícia Federal - entre 1994 e 2004

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Total - % Brasil 7 10 24 7 13 24 54 81 40 39 68 367 100,00%

Norte - 3 - - 6 1 11 3 7 5 5 41 11,17%

Acre - - - - - - - 1 - - - 1 0,27%

Amapá - - - - - - - - - - - - 0,00%

Amazonas - - - - 2 - 4 - 1 4 - 11 3,00%

Pará - 3 - - - 1 4 - - 1 4 13 3,54%

Rondônia - - - - 1 - - 2 6 - - 9 2,45%

Roraima - - - - - - 3 - - - 1 4 1,09%

Tocantins - - - - 3 - - - - - - 3 0,82%

Nordeste - 3 - 2 2 1 3 2 2 1 18 34 9,26%

Alagoas - - - - - - - - 1 - - 1 0,27%

Bahia - - - 2 - - 1 2 - 1 1 7 1,91%

Ceará - 1 - - 2 - 1 - - - 8 12 3,27%

Maranhão - - - - - - - - 1 - - 1 0,27%

Paraíba - 2 - - - - - - - - - 2 0,54%

Pernambuco - - - - - - 1 - - - 6 7 1,91%

Piauí - - - - - 1 - - - - - 1 0,27%

Rio Grande do Norte - - - - - - - - - - 3 3 0,82%

Sergipe - - - - - - - - - - - - 0,00%

Sudeste 6 4 18 1 2 3 14 29 3 11 15 106 28,88%

Espírito Santo - - - - - - 4 6 - - - 10 2,72%

Minas Gerais - - 3 - - 1 8 15 3 4 3 37 10,08%

Rio de Janeiro 5 1 12 - 2 2 1 6 - 7 - 36 9,81%

São Paulo 1 3 3 1 - - 1 2 - - 12 23 6,27%

Sul 1 - - 2 - 12 5 9 7 4 8 48 13,08%

Paraná - - - - - 6 5 3 5 3 4 26 7,08%

Rio Grande do Sul 1 - - 2 - 6 - 6 - 1 4 20 5,45%

Santa Catarina - - - - - - - - 2 - - 2 0,54%

Centro-Oeste - - 6 2 3 7 21 38 21 18 22 138 37,60%

Distrito Federal - - - - - 4 2 10 - 2 - 18 4,90%

Goiás - - 6 2 3 3 19 26 20 14 22 115 31,34%

Mato Grosso - - - - - - - - - 1 - 1 0,27%

Mato Grosso do Sul - - - - - - - 2 1 1 - 4 1,09%

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APÊNDICE B - INQUÉRITOS POR TRÁFICO DE MULHERES, COM INDICIADOS REALIZADOS PELA PF NA SERIE HISTÓRICA

Brasil, Regiões Geográficas e Unidades da Federação

Número de Inquéritos no Artigo 231 do CPB feito pela Polícia Federal - PF entre 1994 e 2004

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Total - % Brasil 4 5 10 6 8 15 27 37 20 24 31 187 100,00%

Norte - 1 - - 3 1 3 3 3 3 3 20 10,70%

Acre - - - - - - - 1 - - - 1 0,53%

Amapá - - - - - - - - - - - - 0,00%

Amazonas - - - - 1 - 1 - 1 2 - 5 2,67%

Pará - 1 - - - 1 1 - - 1 2 6 3,21%

Rondônia - - - - 1 - - 2 2 - - 5 2,67%

Roraima - - - - - - 1 - - - 1 2 1,07%

Tocantins - - - - 1 - - - - - - 1 0,53%

Nordeste - 2 - 2 1 1 3 1 2 1 6 19 10,16%

Alagoas - - - - - - - - 1 - - 1 0,53%

Bahia - - - 2 - - 1 1 - 1 1 6 3,21%

Ceará - 1 - - 1 - 1 - - - 1 4 2,14%

Maranhão - - - - - - - - 1 - - 1 0,53%

Paraíba - 1 - - - - - - - - - 1 0,53%

Pernambuco - - - - - - 1 - - - 3 4 2,14%

Piauí - - - - - 1 - - - - - 1 0,53%

Rio Grande do Norte - - - - - - - - - - 1 1 0,53%

Sergipe - - - - - - - - - - - - 0,00%

Sudeste 3 2 7 1 2 3 8 15 2 7 10 60 32,09%

Espírito Santo - - - - - - 1 2 - - - 3 1,60%

Minas Gerais - - 1 - - 1 5 8 2 4 3 24 12,83%

Rio de Janeiro 2 1 3 - 2 2 1 4 - 3 - 18 9,63%

São Paulo 1 1 3 1 - - 1 1 - - 7 15 8,02%

Sul 1 - - 2 - 6 3 4 3 3 2 24 12,83%

Paraná - - - - - 3 3 2 2 2 1 13 6,95%

Rio Grande do Sul 1 - - 2 - 3 - 2 - 1 1 10 5,35%

Santa Catarina - - - - - - - - 1 - - 1 0,53%

Centro-Oeste - - 3 1 2 4 10 14 10 10 10 64 34,22%

Distrito Federal - - - - - 2 1 2 - 1 - 6 3,21%

Goiás - - 3 1 2 2 9 11 9 7 10 54 28,88%

Mato Grosso - - - - - - - - - 1 - 1 0,53%

Mato Grosso do Sul - - - - - - - 1 1 1 - 3 1,60%

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ANEXO A – MODELOS DE BOLETIM DE IDENTIFICAÇÃO

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