ambiental

66
 Data 08/08/09 Disciplina: Direito Penal Especial Prof.: Sílvio Maciel  Aula: 02 Assunto: Crime s Ambientais I Crimes Ambientais Lei 9605/98 Basicamente toda a legislação penal especial relativa a crimes ambientais está contida nessa lei. Proteção do Meio Ambiente na Constituição Federal  Ao contrário das outras Constituições, a CF/ 88 tem um capítulo próprio relativo ao Meio Ambiente e é o c apítulo, segundo doutrina, é o diploma mais avançado do mundo, em matéria de proteção ambiental. Dentre to da s as medidas de prot ão do meio ambi en te pr evist as neste capítulo, nossa CF determina que as condutas lesivas ao meio ambiente sejam punidas também no âmbito penal. É o que Regis Prado chama de Manda to expresso de crimina lizaçã o, ou seja, há uma ordem expressa na CF para punir criminalmente infrações ambientais. Disso se conclui o seguinte: o meio ambiente indiscutivelmente é um bem  jurídico que necessita de tutela penal. A CF determina que sejam punidos criminalmente crimes ambientais, portanto, o meio ambiente deve ser tutelado penalmente – por expressa previsão constitucional.  A Lei de Crimes Ambientais contém uma Parte Geral – artigos 2º a 28 – e uma Parte Especial – artigos 29 e ss. Hoje, nós vamos estudar a Parte Geral da lei penal ambiental. E na próxima aula a gente estuda a parte especial, que estuda os crimes ambientais em espécie. 1

Upload: mariana-machado

Post on 19-Jul-2015

1.179 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 1/66

Data – 08/08/09 Disciplina: Direito Penal Especial Prof.: Sílvio Maciel

 Aula: 02 Assunto: Crimes Ambientais I

Crimes Ambientais

Lei 9605/98

Basicamente toda a legislação penal especial relativa a crimes ambientais está

contida nessa lei.

Proteção do Meio Ambiente na Constituição Federal

 Ao contrário das outras Constituições, a CF/ 88 tem um capítulo próprio relativo

ao Meio Ambiente e é o capítulo, segundo doutrina, é o diploma mais avançado

do mundo, em matéria de proteção ambiental.

Dentre todas as medidas de proteção do meio ambiente previstas neste

capítulo, nossa CF determina que as condutas lesivas ao meio ambiente sejam

punidas também no âmbito penal.

É o que Regis Prado chama de Mandato expresso de criminalização, ou seja,

há uma ordem expressa na CF para punir criminalmente infrações ambientais.

Disso se conclui o seguinte: o meio ambiente indiscutivelmente é um bem

 jurídico que necessita de tutela penal. A CF determina que sejam punidos

criminalmente crimes ambientais, portanto, o meio ambiente deve ser tutelado

penalmente – por expressa previsão constitucional.

 A Lei de Crimes Ambientais contém uma Parte Geral – artigos 2º a 28 – e uma

Parte Especial – artigos 29 e ss.

Hoje, nós vamos estudar a Parte Geral da lei penal ambiental. E na próxima

aula a gente estuda a parte especial, que estuda os crimes ambientais emespécie.

1

Page 2: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 2/66

Obs1: essa parte geral da lei penal ambiental contém regras próprias e

específicas, diferentes da parte geral do CP. Lógico: pelo princ da

especialidade (norma especial prevalece sobre a geral), essas regras gerais da

LPA prevalecem sobre as regras gerais do CP e sobre as regras gerais do

CPP. E no que a LPA for omissa, aplica-se subsidiariamente as regras do CP e

do CPP – é complementada por essas normas – e também a Lei 9099, porque

a grande maioria dos crimes ambientais é de menor potencial ofensivo.

Vamos começar a ver agora as regras próprias da LPA. Isso é o que está dito

no art. 79 da LPA:

Art. 79 - Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as disposições do CódigoPenal e do Código de Processo Penal.

Art. 2º: Responsabilidade penal de pessoas físicas

 Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide

nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o

administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto oumandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir 

a sua prática, quando podia agir para evitá-la.

• 1ª parte :

Essa primeira parte está apenas dizendo que é possível haver concurso de

pessoas em crimes ambientais. E qual foi a teoria sobre concurso de pessoas

adotada aqui?

Teoria monista ou unitário: todos, co-autores e partícipes, respondem pelo

mesmo crime. Ou seja, é a mesma teoria adotada pelo CP no art. 29, caput ,

portanto, era desnecessária essa primeira parte do artigo, pois bastaria aplicar 

subsidiariamente o CP.

Lembrando que a palavra “culpabilidade” aqui não significa a culpabilidade

terceiro substrato do crime (teoria tripartite), e sim, segundo a sua maior oumenor colaboração para o resultado. Todos respondem pelo mesmo crime,

2

Page 3: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 3/66

mas não sofrem necessariamente a mesma pena. O crime é o mesmo para

todos, mas a pena é individualizada, dosada individualmente, de acordo com a

culpabilidade de cada um dos agentes.

• 2ª parte : trata da omissão penalmente relevante

“Bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o

gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de

outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la”.

Esta segunda parte está dizendo que diretores, administradores, gerentes etc.,

de pessoas jurídicas, respondem por crimes ambientais, tanto por ação, quanto

por omissão, ou seja, tanto quando agirem como quando se omitirem num

crime ambiental – quando ele comete o crime ambiental ou quando ele não

evita o crime ambiental, podendo evitar.

Na verdade, o que esse artigo 2º fez foi criar o chamado dever jurídico de agir 

para essas pessoas, que torna a omissão delas penalmente relevante, nos

termos do art. 13, §2º, “a”, do CP:

Relevância da Omissão 

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar 

o resultado. O dever de agir incumbe a quem: (Alterado pela L-007.209-1984)

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

É isso aí: o art. 2º da LPA está impondo aos diretores que ajam para evitar o

crime ambiental, se eles não agirem respondem pela omissão, pois por lei eles

têm o dever jurídico de evitar o crime ambiental.

Voltemos ao art. 2º, segunda parte:

“Bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o

gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de

outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la”.

Para que um diretor, administrador etc. seja punido pela omissão, a lei exige

dois requisitos:

3

Page 4: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 4/66

Que essa pessoa saiba da existência do crime (tenha ciência da conduta

criminosa de outrem);

Que possa agir para impedir o resultado.

 Assim, para que essas pessoas respondam por crime ambiental, tem que haver 

o implemento desses dois requisitos.

Esses dois requisitos, que estão na parte final do art. 2º, impedem a

responsabilidade penal objetiva desses representantes das pessoas jurídicas,

ou seja, impedem a responsabilidade penal sem dolo ou culpa.

Se o gerente não sabia da existência do crime ou não podia evitar a ocorrência

do crime, ele não pode ser responsabilizado pela omissão, sob pena de resp

penal objetiva – sem dolo e sem culpa.

Para evitar a resp penal objetiva, o STF e o STJ vêm rejeitando as chamadas

Denúncia Genéricas.

Denúncia Genérica

É aquela que inclui o diretor, o gerente, o preposto da pessoa jurídica na ação

penal apenas por ele ostentar tal qualidade, mas não descreve qual foi a

conduta criminosa dessa pessoa.

Em outras palavras, usando um termo do STF, não estabelece o mínimo

vínculo entre o comportamento dessa pessoa e o crime.

Veja: se a denúncia genérica não narra qual a conduta criminosa, ela nãoexpõe o fato criminoso, que é um dos requisitos da denúncia (expor o fato

criminoso com todas as suas circunstâncias). Então, a denúncia genérica é

INEPTA e deve ser rejeitada, porque impede o exercício do contraditório e da

ampla defesa

Veja: se a denúncia não narra qual o comportamento criminoso do gerente,

omissiva ou comissiva, ele vai se defender de que? Ele é incluído na ação

4

Page 5: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 5/66

penal pelo só fato de ser gerente da empresa. Só que ele não tem como se

defender se ele não sabe que fatos são a ele imputados.

Ex: uma fábrica no Rio Grande do Sul das indústrias Matarazzo estava

soltando fumaça além do permitido e o MP do RS incluiu na denúncia a

presidente das indústrias Matarazzo, que fica em São Paulo.

Sobre denúncia genérica: HC 86879, STF.

EMENTA: 1. Habeas Corpus. Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei no

7.492, de 1986). Crime societário. 2. Alegada inépcia da denúncia, por ausência de

indicação da conduta individualizada dos acusados. 3. Mudança de orientação

 jurisprudencial, que, no caso de crimes societários, entendia ser apta a denúncia que não

individualizasse as condutas de cada indiciado, bastando a indicação de que os acusados

fossem de algum modo responsáveis pela condução da sociedade comercial sob a qual

foram supostamente praticados os delitos. Precedentes: HC no 86.294-SP, 2a Turma,

 por maioria, de minha relatoria, DJ de 03.02.2006; HC no 85.579-MA, 2a Turma,

unânime, de minha relatoria, DJ de 24.05.2005; HC no 80.812-PA, 2a Turma, por 

maioria, de minha relatoria p/ o acórdão, DJ de 05.03.2004; HC no 73.903-CE, 2a

Turma, unânime, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ de 25.04.1997; e HC no 74.791-RJ, 1a

Turma, unânime, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 09.05.1997. 4. Necessidade de

individualização das respectivas condutas dos indiciados. 5. Observância dos princípios

do devido processo legal (CF, art. 5o, LIV), da ampla defesa, contraditório (CF, art. 5o,

LV) e da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1o, III). Precedentes: HC no 73.590-SP,

1a Turma, unânime, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 13.12.1996; e HC no 70.763-DF,

1a Turma, unânime, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 23.09.1994. 6. No caso concreto,

a denúncia é inepta porque não pormenorizou, de modo adequado e suficiente, a

conduta do paciente. 7. Habeas corpus deferido

(HC 86879, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Relator(a) p/ Acórdão: Min.

GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 21/02/2006, DJ 16-06-2006 PP-

00028 EMENT VOL-02237-02 PP-00278 RTJ VOL-00199-01 PP-00352 LEXSTF v.

28, n. 332, 2006, p. 485-504)

5

Page 6: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 6/66

Obs: denúncia genérica é diferente de denúncia geral Pacelli fala que esses

conceitos não podem ser confundidos. Denúncia geral é aquela que narra o

fato criminoso com todas as suas circunstâncias e o imputa indistintamente

(genericamente) a todos os acusados. A denúncia narra o fato e diz que o fato

foi praticado por todos os acusados. Não temos aqui um caso de inépcia, pois

se todos os acusados praticaram ou não aquele fato criminoso, isso é matéria

de prova e não matéria de admissibilidade da acusação (não é caso de

inépcia). Já a denúncia genérica é aquela que não diz qual foi o

comportamento criminoso praticado por um dos denunciados. Essa, sim, tem

que ser rejeitada por inépcia.

Veja, o STJ, em dois julgados, já fez a distinção entre denúncia genérica e

denuncia geral RHC 24515 e RHC 22593.

1) RHC 24515

PROCESSO PENAL – HABEAS CORPUS – CRIME TRIBUTÁRIO –

 ATRIBUIÇÃO DO DELITO AOS MEMBROS DA DIRETORIA, POR MERA

PRESUNÇÃO - AUSÊNCIA DE VÍNCULO ENTRE UM DETERMINADO ATO

E O RESULTADO CRIMINOSO. DENÚNCIA GENÉRICA E

CONSAGRADORA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA – RECURSO

PROVIDO PARA DECLARAR A INÉPCIA FORMAL DA DENÚNCIA E A

CONSEQUENTE NULIDADE DOS ATOS POSTERIORES.

De nada adiantam os princípios constitucionais e processuais do

contraditório, da ampla defesa, em suma, do devido processo legal na face

substantiva e processual, das próprias regras do estado democrático dedireito, se permitido for à acusação oferecer denúncia genérica, vaga, se não

se permitir a individualização da conduta de cada réu, em crimes

plurissubjetivos.

O simples fato de uma pessoa pertencer à diretoria de uma empresa, só por 

só, não significa que ela deva ser responsabilizada pelo crime ali praticado,

sob pena de consagração da responsabilidade objetiva repudiada pelo nosso

direito penal.

6

Page 7: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 7/66

É possível atribuir aos denunciados a prática de um mesmo ato (denúncia

geral), porquanto todos dele participaram, mas não é possível narrar vários

atos sem dizer quem os praticou, atribuindo-os a todos, pois neste caso não

se tem uma denúncia geral, mas genérica.

Recurso provido para declarar a inépcia da denúncia e a nulidade dos atos

que lhe sucederam.

(RHC 24515/DF, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em 19/02/2009, DJe

16/03/2009)

2) RHC 22593

PROCESSO PENAL. RHC. TENTATIVA DE ESTELIONATO. PEDIDO DE

TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ALEGAÇÃO DE INÉPCIA DA

DENÚNCIA E AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. INOCORRÊNCIA. DENÚNCIA

GERAL QUE NARROU SATISFATORIAMENTE AS CONDUTAS

IMPUTADAS AOS ACUSADOS. EXCESSO NA IMPUTAÇÃO DOS CRIMES

DE FALSIDADE IDEOLÓGICA E USO DE DOCUMENTO FALSO.INCIDÊNCIA DA SÚMULA 17 DO STJ. RECURSO PARCIALMENTE

PROVIDO.

1- É geral, e não genérica, a denúncia que atribui a mesma conduta a todos

os denunciados, desde que seja impossível a delimitação dos atos praticados

pelos envolvidos, isoladamente, e haja indícios de acordo de vontades para o

mesmo fim.

2- O trancamento de uma ação penal exige que a ausência de comprovação

da existência do crime e dos indícios de autoria, bem como a atipicidade da

conduta ou a existência de uma causa extintiva da punibilidade esteja

evidente, independente de aprofundamento na prova dos autos, situação

incompatível com a estreita via do recurso ordinário em habeas corpus.

3. A falsidade quando se presta a fomentar única e exclusivamente oestelionato, há de ser por este absorvido. Súmula 17 do STJ.

7

Page 8: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 8/66

4. Recurso parcialmente provido para excluir da denúncia a imputação dos

crimes dos artigos 299 e 304 do Código Penal.

(RHC 22593/SP, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA

CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 25/09/2008, DJe

13/10/2008)

Art. 3º: Responsabilidade penal das pessoas jurídicas

 A polêmica sobre a resp penal da pessoa jurídica começou com a CF/ 88 (até

então não se falava em resp penal da pessoa jurídica no Brasil), que em seu

art. 225, §3º:

§  3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão osinfratores,  pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

Essa discussão ganhou força de vez com o art. 3º da LCA, que dispõe da

seguinte forma:

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente

conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de

seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício

da sua entidade.

Ora, se está escrito na CF e na LCA que a pessoa jurídica tem resp, então, não

há discussão?

Sem embargo dessas previsões constitucionais e legais, ainda há muita

discussão acerca da resp penal da pessoa jurídica.

Vamos dividir essas opiniões em três correntes:

1ª corrente: sustenta que a CF/ 88 não prevê a responsabilidade penal da

pessoa jurídica. A CF não criou a resp penal da pessoa jurídica. Portanto, para

8

Page 9: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 9/66

a primeira corrente sequer se discute se pessoa jurídica pratica ou não crime.

Os argumentos dessa corrente são dois:

1) A correta interpretação do art. 225, §3º, da CF leva à conclusão de que

não está prevista a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Veja o

raciocínio: voltemos ao art. 225, §3º:

  § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão osinfratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

Eles dizem que o que a CF diz é que conduta é praticada por pessoa

física, que sofre sanção penal e que pessoa jurídica exerce atividade,

sofrendo sanção administrativa, sendo que ambas têm obrigação de

reparar o dano – responsabilidade civil.

Condutas pessoas físicas sanções penais.

 Atividades pessoas jurídicas sanções administrativas.

Pessoa física + pessoa jurídica responsabilidade civil.

2) O princípio da personalidade da pena, previsto no art. 5º, XLV, da CF

impede a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Por que impede?

Porque esse princípio diz que a pena não passará da pessoa do

infrator e o infrator é sempre pessoa física. Portanto, não é possível

transferir a responsabilidade penal da pessoa física, que é o infrator,

para a pessoa jurídica. E o que fazer com o art. 3º da LCA? Sob a

ótica desta primeira corrente, o art. 3º da LCA é inconstitucional, porque

ele ofende materialmente os artigos 225, §3º e 5º, XLV, ambos da CF,

que interpretados sistematicamente proíbem a responsabilidade penal

da pessoa jurídica. Perceba que a para a primeira corrente, o problema

está na Constituição, que não permite a resp penal da pessoa jurídica.

São adeptos dessa primeira corrente: Regis Prado, Bittencourt, Miguel Reale,

Pierangelli, entre outros.

9

Page 10: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 10/66

2ª corrente: sustenta que pessoa jurídica não pode cometer crimes, de acordo

com o brocardo societas delinquere non potest . Esta corrente tem seu ponto

forte de argumentação na Teoria Civilista da Ficção Jurídica, de Savigny e

Feuerbach. Essa teoria sustenta que as pessoas jurídicas são entes fictícios,

irreais, ou seja, puras abstrações jurídicas desprovidas de consciência e

vontade próprias. Logo, não podem cometer atos tipicamente humanos, como

as condutas criminosas. Esta primeira corrente, partindo do pressuposto que a

pessoa jurídica é uma ficção, é algo que não tem vontade/ consciência, levanta

os seguintes argumentos:

1) As pessoas jurídicas não têm capacidade de conduta. Perceba que

todos os argumentos dessa 2ª corrente tem como pressuposto a idéia

de que a pessoa jurídica é algo fictício. Por que pessoa jurídica não tem

capacidade de conduta? Porque não tem vontade e finalidade (no

sentido humano), logo, não atuam como dolo ou culpa. Portanto, punir 

penalmente a pessoa jurídica significa responsabilidade penal objetiva

(punir sem dolo ou culpa), vedada no Direito Penal.

2) Pessoas jurídicas não agem com culpabilidade (os elementos da

culpabilidade são: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude eexigibilidade de conduta diversa). As pessoas jurídicas não têm

imputabilidade – capacidade de querer e pode – nem potencial

consciência da ilicitude – não tem capacidade de entender o caráter 

criminoso do fato. Se as pessoas jurídicas não têm culpabilidade, não

podem sofrer penas, pois independente da teoria adota, a culpabilidade

é pressuposto para aplicação de pena – se não houver culpabilidade, o

CP fala “é isento de pena”.3) As penas, ainda que pudessem ser aplicadas às pessoas jurídicas, não

têm nenhuma finalidade em relação às pessoas jurídicas. Por quê? ->

Porque se as pessoas jurídicas são entes fictícios, elas são incapazes

de assimilar os efeitos de uma sanção penal. As finalidades da pena de

prevenção geral, prevenção especial, ressocialização, em nada atingem

a pessoa jurídica.

10

Page 11: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 11/66

Se pessoa jurídica não tem dolo nem culpa, não tem culpabilidade, etc. sob a

perspectiva dessa segunda corrente, o art. 225, §3º, da CF – que prevê a

responsabilidade penal das pessoas jurídica – é uma norma constitucional não

auto-aplicável, não auto-executável, isto é, depende de regulamentação

infraconstitucional.

E qual seria essa regulamentação infraconstitucional? A criação de uma

teoria do crime e da pena e de institutos processuais próprios e compatíveis

com a natureza fictícia da pessoa jurídica.

Um dos argumentos mais utilizados hoje em dia é que a França criou a resp

penal das pessoas jurídicas. Só que lá foi feita a chamada: lei de adaptação, ouseja, uma lei com institutos próprios à pessoa jurídica. Porque, tal como aqui, o

CP francês não tinha uma teoria própria às pessoas jurídicas – eram

específicas às pessoas físicas.

Os autores que defendem a segunda corrente são todos os que defendem a

primeira corrente e ainda LFG, Zaffaroni, Rogério Greco, Delmanto, Clóvis

Beviláqua.

3ª corrente: as pessoas jurídicas cometem crimes – societas delinquere

 poteste. Essa terceira corrente tem seu ponto forte de argumentação na Teoria

da Realidade ou da Personalidade Real, de Otto Gierke. Essa teoria, também

civilista, se opõe à teoria da ficção jurídica de Savigny. A teoria da realidade

sustenta que as pessoas jurídicas são entes reais, com capacidade e vontade

próprias, distintas das pessoas físicas que as compõe. Portanto, para essa

teoria da realidade, as pessoas jurídicas não são meras ficções jurídicas ouabstrações legais. Logo, elas podem cometer crimes e sofrer penas.

E quanto à culpabilidade? Quanto à culpabilidade, essas pessoas sofrem o

que STJ chama de Culpabilidade Social ou também chamada de Culpa

Coletiva: parte da idéia que a empresa é um centro autônomo de emanação de

decisões, portanto, pode sofrer responsabilidade penal. Nucci diz que pessoa

 jurídica tem vontade própria, portanto, não há resp penal objetiva em puni-la.

11

Page 12: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 12/66

Outros argumentos dessa terceira corrente:

1) O art. 225, §3º, da CF prevê, sim, a responsabilidade penal da pessoa

 jurídica. Assim como, o art. 3º da LCA também a prevê. Portanto, aqui,

vem o argumento puramente dogmático: se a CF e a lei prevêem é obvia

a possibilidade de resp penal da pessoa jurídica. Se a CF, norma do

poder constituinte originário, e a LCA prevêem a resp penal da pessoa

 jurídica, esta é, sim, possível.

2) Não ocorre violação ao princ da personalidade da pena, porque a resp

penal está recaindo sobre o autor do crime, que é a pessoa jurídica,

então, não está sendo transferida a responsabilidade penal. Não há se

falar em transferência de responsabilidade penal da pessoa física para a

pessoa jurídica, a resp penal está recaindo sobre o autor do crime, que é

a pessoa jurídica, a qual pode cometer crimes, pois ela é uma realidade.

Essa terceira corrente é adotada pelos penalistas ambientalistas, Paulo Afonso

Machado, Herman Benjamim, Damásio, Sérgio Salomão Schecaira, Ada

Pellegrini, Nucci, entre outros.

Requisitos legais para a responsabilização da pessoa jurídica.

Mesmo que se admita resp penal da pessoa jurídica, para se punir a pessoa

 jurídica no Brasil, a lei exige dois requisitos:

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente

conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de

seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício

da sua entidade.

Sem esses dois requisitos exigidos pela própria lei – que são cumulativos, não

há que se falar em responsabilidade penal da pessoa jurídica:

i. Decisão de representante legal ou contratual ou do órgão colegiado da

pessoa jurídica;

ii. Infração praticada no interesse ou em benefício da pessoa jurídica.

12

Page 13: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 13/66

Sem esses dois requisitos exigidos pelo art. 3º, não há que se responsabilizar a

pessoa jurídica.

Ex: o funcionário da motosserra, por sua conta e risco, resolve invadir Área de

Preservação Permanente (APP) e cortar árvores ilegalmente. Dá para punir a

pessoa jurídica? Não, porque a decisão do crime foi do funcionário, que não é

nem representante legal, nem órgão colegiado da pessoa jurídica, embora esta

tenha sido beneficiada pelo crime.

 A JURISPRUDÊNCIA, além disso, VEM EXIGINDO QUE DENÚNCIA, SOB PENA DE  INÉPCIA, INDIQUE 

QUAL FOI  A DECISÃO DO REPRESENTANTE LEGAL OU ÓRGÃO COLEGIADO E QUAL FOI O BENEFÍCIO OU 

INTERESSE DA PESSOA JURÍDICA NO CRIME. Se a denúncia contra a pessoa jurídica nãotiver esses requisitos, é inepta.

Jurisprudência sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica

O STF em sua composição atual ainda não se manifestou sobre a resp penal

da pessoa jurídica.

O que nós temos são posicionamentos dos Ministros, que durantes debatesenvolvendo crimes ambientais, acabam se posicionando obter dicta (de

passagem), contra ou a favor.

Já o STJ tem posição firmada: ele admite a resp penal da pessoa jurídica. O

STJ admite que a pessoa jurídica seja denunciada por crime ambiental, desde

que ela seja denunciada juntamente com a(s) pessoa(s) física(s)

responsável(eis) pela infração. Em outras palavras: o STJ não admite denúncia

isolada contra a pessoa jurídica – denúncia isolada contra a pessoa jurídica.

Há vários julgados do STJ nesse sentido: RESP 889528.

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. CRIMES CONTRA O MEIO

AMBIENTE. DENÚNCIA REJEITADA PELO E. TRIBUNAL A QUO. SISTEMA

OU TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO.

Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde que

haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou

13

Page 14: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 14/66

em seu benefício, uma vez que "não se pode compreender a responsabilização do ente

moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo

 próprio" cf. Resp nº 564960/SC, 5ª Turma, Rel. Ministro Gilson Dipp, DJ de

13/06/2005 (Precedentes).Recurso especial provido.

(REsp 889528/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em

17/04/2007, DJ 18/06/2007 p. 303)

O que acontece se a pessoa física for excluída da ação?

Ex: o MP denunciou os diretores da empresa e a pessoa jurídica. Os diretores

impetraram HC alegando que eles não sabiam do crime e não podiam evitar –resp penal objetiva. O STJ concedeu o HC para os diretores, entendendo que

se tratava de denúncia genérica e excluiu os diretores da ação. Sobrou apenas

a pessoa jurídica na ação, então, o STJ trancou de ofício a ação penal contra a

pessoa jurídica – RMS 16696.

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO

PROCESSUAL PENAL.

CRIME AMBIENTAL. RESPONSABILIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA.

POSSIBILIDADE. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. INÉPCIA DA

DENÚNCIA.

OCORRÊNCIA.

1. Admitida a responsabilização penal da pessoa jurídica, por força de sua previsão

constitucional, requisita a actio poenalis, para a sua possibilidade, a imputação

simultânea da pessoa moral e da pessoa física que, mediata ou imediatamente, no

exercício de sua qualidade ou atribuição conferida pelo estatuto social, pratique o fato-

crime, atendendo-se, assim, ao princípio do nullum crimen sine actio humana.

2. Excluída a imputação aos dirigentes responsáveis pelas condutas incriminadas, o

trancamento da ação penal, relativamente à pessoa jurídica, é de rigor.

3. Recurso provido. Ordem de habeas corpus concedida de ofício.

(RMS 16696/PR, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA,

 julgado em 09/02/2006, DJ 13/03/2006 p. 373)

14

Page 15: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 15/66

Os TRF’s todos admitem resp penal da pessoa jurídica. Portanto, na

 jurisprudência, o entendimento é pela resp penal da pessoa jurídica.

Mas para concurso você deve adotar a posição do STJ.

Temas finais:

A) Sistema da dupla imputação ou de imputações paralelas:

Esse sistema está no art. 3º, parágrafo único da Lei Ambiental:

Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas,

autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.

O sistema da dupla imputação significa o seguinte: pode ser denunciada

apenas a pessoa física ou pode ser denunciada a pessoa física e a pessoa

 jurídica, pelo mesmo fato.

Ou seja, pelo mesmo crime podem ser denunciadas: as pessoas jurídica e

física ou só a pessoa física.

Esses sistemas de imputações paralelas não geram bis in idem (que

significa punir duas vezes pelo mesmo fato)?

Punir duas vezes pelo mesmo fato, bis in idem, não é possível em direito

penal. Carlos Constantino diz que o sistema da dupla imputação gera bis in

idem, mas só ele acha isso.

O bis in idem proíbe punir duas vezes pelo mesmo fato a mesma pessoa e

no sistema da dupla imputação pune-se pelo mesmo fato pessoas

diferentes – pessoa física e pessoa jurídica. Portanto, não há dupla punição

sobre a mesma pessoa. O STJ decidiu isso, em 2005.

 Agora, é possível denunciar apenas a pessoa jurídica, nos termos desse

art. 3º, parágrafo único?

Nós já vimos que o STJ disse que não – não por causa do sistema da duplaimputação, é por causa do caput , que diz que a pessoa jurídica só tem resp

15

Page 16: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 16/66

penal se o crime foi cometido por decisão de seu representante legal ou

contratual ou órgão colegiado.

Ou seja, a pessoa jurídica sofre a chamada responsabilidade penal por 

ricochete ou de empréstimo (sistema francês de resp penal da pessoa

 jurídica) resp penal por atos de seu representante ou de seu órgão

colegiado.

Não escreva que a pessoa jurídica tem que ser denunciada com a pessoa

 jurídica por conta do sistema da dupla imputação, mas sim pela resp penal

por ricochete, a qual gera, a seu turno, a dupla imputação.

B) Responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes CULPOSOS

O professor Edis Milaré sustenta que pessoa jurídica não pode ser 

responsabilizada penalmente em crime culposo, porque essa

impossibilidade de punição é uma decorrência lógica do art. 3º, porque a

pessoa jurídica só pode ser responsabilizada se houver uma decisão de seu

representante legal ou órgão colegiado. E essa decisão tem que ser 

necessariamente uma decisão dolosa, tem que ser uma vontade livre e

consciente de praticar atos que compõe o tipo penal.

É esse o entendimento que prevalece? Não, tanto que a Petrobrás é

denunciada por vazamento de óleo culposo.

 Assim, a jurisprudência admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica,

inclusive, em crimes culposos. Desde que haja uma decisão culposa do seu

representante legal ou órgão colegiado e o nexo de causalidade entre essa

decisão e o resultado culposo.

Ex: um gerente da empresa, para diminuir custos, não instala os aparelhos

adequados para o escoamento de substâncias poluentes. Isso causa um

acidente que polui o rio. Veja que ele tomou uma decisão culposa,

negligente, de não instalar os aparelhos e essa decisão negligente foi a

causa do vazamento e da poluição. Isso é perfeitamente possível, pois se

16

Page 17: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 17/66

trata de uma decisão culposa tem pleno nexo de causalidade com o

resultado culposo – poluição do rio.

Obviamente tudo isso tem que ficar demonstrado no processo; tem que

estar narrada na denúncia qual foi a conduta culposa e o nexo de

causalidade com o resultado.

C) Responsabilidade penal de pessoas jurídicas de direito Público

Pessoa jurídica de direito público pode ser ou não punida criminalmente?

Nem a CF nem a LCA especificam a pessoa jurídica que pode ser punida,

sem especificar se são de direito público ou de direito privado.

Como a CF e a LCA mencionam genericamente as pessoas jurídicas, há

duas correntes:

1ª corrente: pessoa jurídica de Direito Público pode ser responsabilizada

penalmente. Porque se CF e a LCA não distinguiram entre pessoa jurídica

de direito privado e direito público, não cabe ao intérprete distinguir.

Entendem assim Nucci, Paulo Afonso Machado.

LFG admite a responsabilidade de pessoa jurídica de direito público, mas

não a responsabilidade penal, mas sim o que chamamos de direito penal

sancionador.

2ª corrente: não é possível responsabilidade penal de pessoa jurídica de

Direito Público. Argumentos: (a) o estado não pode punir a si mesmo, pois

ele já tem o monopólio do direito de punir; (b) as duas penas possíveis de

serem aplicadas à pessoa jurídica são inviáveis em relação às pessoas

 jurídicas de direito público. Essas penas são: multa e restritiva de direitos. A

multa aplicada a uma pessoa jurídica de direito público recairia sobre os

próprios cidadãos, pois ela seria paga com o dinheiro dos cofres públicos,

ou seja, em ultima análise, essa pena recairia sobre os próprios cidadãos.

Já as penas restritivas de direitos são inúteis, porque já é função do poder 

público prestar serviços sociais; é próprio de o estado prestar serviços à

17

Page 18: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 18/66

comunidade. Adotam essa corrente: Edis Milaré, Vladimir e Gilberto Passos

de Freitas.

Não há corrente majoritária, pois a doutrina se divide e não há decisões da

 jurisprudência sobre o assunto.

Art. 4º: Desconsideração da Pessoa jurídica

 Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo

ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.

Hoje é uma realidade no Direito Civil e no Direito do Consumidor a

desconsideração, mas para efeitos de responsabilidade civil.

É possível aplicar a desconsideração para efeitos penais?

 A doutrina penalista diz que não é possível aplicar a desconsideração da

 pessoa jurídica para efeitos de responsabilização penal, tendo em vista o

 princípio da intranscendência da responsabilidade penal ou princ da personalidade da pena. Ou seja, tendo em vista o art. 5º, XLV:

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar odano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aossucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

Se a resp penal não pode passar da pessoa do infrator, assim, você não pode

desconsiderar a pessoa jurídica para transferir a sanção penal aplicada a ela

para a pessoa física.

Essa transferência que estaria ocorrendo com a desconsideração da

personalidade jurídica, estaria ferindo o princ da personalidade da pena.

Teoria da Pena nos crimes ambientais

O juiz aplica a pena em três etapas:

18

Page 19: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 19/66

• 1ª etapa: o juiz fixa a quantidade da pena, utilizando o critério trifásico ou

critério Nelson Hungria, do art. 68 do CP:

a) Fixa a pena-base: tomando em conta as circunstâncias judiciais do

art. 59 do CP.

b) Pena-intermediária: sobre a pena-base ele aplica atenuantes e

agravantes genéricas.

c) Pena-definitiva: sobre a pena-intermediária aplica as causas de

aumento e de diminuição de pena.

• 2ª etapa: fixada a pena, o juiz fixa o regime inicial de cumprimento da

pena.• 3ª etapa: o juiz verifica a possibilidade de substituição por restritiva de

direitos ou concessão de sursis.

Vamos aplicar essa teoria da pena aos crimes ambientais – vamos falar o que

tem de diferente; no que a LCA for omissa, aplica-se o CP>

Fixação da pena-base

O juiz utiliza as circunstâncias judiciais do art. 6º da LCA:

Art. 6º Para imposição e gradação (= pena-base) da penalidade, a autoridade competente

observará:

I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas conseqüências

 para a saúde pública e para o meio ambiente;

No art. 59 do CP fala-se em conseqüências do crime para a vítima ou seusdependentes; aqui, o juiz leva em conta as conseqüência do crime para o meio

ambiente e para a saúde pública.

II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse

ambiental;

O juiz vai ver se o réu tem bons ou maus antecedentes ambientais.

19

Page 20: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 20/66

Cuidado: bons ou maus antecedentes ambientais não se referem

exclusivamente a crimes ambientais, mas também ao cumprimento da

legislação ambiental.

Ex: suponha que o autor nunca tenha sido processado por crime ambiental,

mas já tem 20 multas administrativas por violação à lei ambiental ele tem

maus antecedentes ambientais, pois ele é um contumaz descumpridor da

legislação administrativa ambiental.

III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.

 A situação econômica do infrator se for pena de multa, funciona como

circunstância judicial nos crimes ambientais.

Supletivamente, o juiz vai utilizar-se das circunstâncias judiciais do art. 59 do

CP.

Aplicação de agravantes e atenuantes

 A lei ambiental tem as suas próprias agravantes e atenuantes, previstas nos

artigos 14 e 15.

Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:

I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;

É atenuante de pena nos crimes ambientais. Mas o que é baixo grau de

escolaridade ou de instrução?

É o juiz que vai decidir no caso concreto.

Obs: se esse baixo grau de instrução ou de escolaridade retirar a potencial

consciência da ilicitude do agente, estaremos diante de erro de proibição (art.

21 do CP).

II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano,

ou limitação significativa da degradação ambiental causada;

20

Page 21: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 21/66

Reparação do dano ambiental, portanto, é atenuante genérica de pena.

 A reparação do dano em crime cometido sem violência, por ato espontâneo do

agente, antes do recebimento da denúncia, é arrependimento posterior – art.

16 do CP:

Art.  16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,

reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da

queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

Isso é melhor que atenuante? Sim, pois essa causa de diminuição pode reduzir 

a pena abaixo do mínimo legal, ao passo que a atenuante não pode.

Se o infrator ambiental repara o dano antes do recebimento da denúncia aplica-

se o CP ou a LCA?

Resp A doutrina diz que a reparação do dano, seja antes ou depois do

recebimento da denúncia, é sempre atenuante genérica nos crimes ambientais.

Ou seja: não se aplica o art. 16 do CP – do arrependimento posterior – aos

crimes ambientais.

Quem sustenta isso é Delmanto.

III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental;

Veja: se o infrator comunicou às autoridades ambientais sobre a possível

degradação – perigo da degradação isso é atenuante de pena nos crimes

ambientais.

IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle

ambiental.

Essa colaboração com as autoridades ambientais é na apuração dos crimes

ambientais. Essa colaboração espontânea é chamada por Delmanto de

delação premiada ambiental.

21

Page 22: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 22/66

Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena , quando não constituem ou

qualificam o crime:

I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;

Veja a importância aqui: nos crimes ambientais, só existe agravante se for 

reincidência específica em crime ambiental. Isso significa que o criminoso

ambiental só é reincidente se ele possuir condenação definitiva anterior por 

outro crime ambiental. Se ele não tiver condenação definitiva por outro crime

ambiental, não é reincidente.

Ex: condenação definitiva por furto + crime ambiental não é reincidente,

porque não é reincidência em crime ambiental.

E o contrário, é ou não reincidente (crime ambiental + crime comum)?

SIM, porque aí se aplica a reincidência do CP. Será reincidente nos termos no

do art. 63, do CP se o infrator tem uma condenação definitiva por crime

ambiental e comete outro crime.

Obs1: a reincidência específica não exige que sejam ambos os crimes da Lei9605, pode ser qualquer crime de natureza ambiental, pois o inciso I não diz

“reincidência nos crimes desta lei”, mas sim “nos crimes de natureza

ambiental”.

Obs2: se o réu tem condenação definitiva ambiental e comete um crime

ambiental, não é reincidente, porque condenação por contravenção não gera

reincidência na prática de crime.

II - ter o agente cometido a infração:

a) para obter vantagem pecuniária;

b) coagindo outrem para a execução material da infração;

c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio

ambiente;

d) concorrendo para danos à propriedade alheia;

e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder  Público, a regime especial de uso;

22

Page 23: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 23/66

f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;

g) em período de defeso à fauna;

h) em domingos ou feriados;

i) à noite;

j) em épocas de seca ou inundações;

l) no interior do espaço territorial especialmente protegido;

m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;

n) mediante fraude ou abuso de confiança;

o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;

p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas

 públicas ou beneficiada por incentivos fiscais;

q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades

competentes;

r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.

Causas de aumento e de diminuição

Devem ser levadas em conta as causas de aumento e de diminuição de pena

previstas no CP. Por exemplo, tentativa e crime continuado são causas de

diminuição e aumento, respectivamente, previstas no CP e que se aplicam aos

crimes ambientais.

Fixação de regime inicial de cumprimento de pena:

O juiz só vai fixar o regime inicial de cumprimento de pena, se for pessoa física.

Como a legislação ambiental não tem nenhuma regra específica, aplica-se

inteiramente o CP nesse ponto.

Possibilidade de substituição por pena restritiva de direito

PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO DAS PESSOAS FÍSICAS: requisitos art. 7º, da LCA:

Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de

liberdade quando:

23

Page 24: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 24/66

I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade inferior a

quatro anos;

II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do

condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a

substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime.

São dois requisitos:

• Que a condenação seja crime culposo ou, se for crime doloso, que a

pena seja inferior a 04 anos (no CP cabe substituição por restritivas de

direito nas condenações iguais ou inferiores a 04 anos; ao passo que na

LCA só as condenações inferiores a 04 anos). Significa dizer que se oindivíduo for condenado a 04 anos por crime ambiental, não terá direito

à substituição por restritiva de direitos.

• Circunstâncias judiciais favoráveis.

LCA CP• Crime culposo; ou

• Crime doloso: condenação < 04

anos.

• Crime culposo; ou

• Crime doloso: condenação = ou

< 04 anos.Circunstâncias judiciais favoráveis. Circunstâncias judiciais favoráveis.(Os crimes ambientais são cometidos

contra a fauna e contra a flora e não

contra a pessoa).

Que o crime seja sem violência ou

grave ameaça à pessoa.

Que o condenado não seja

reincidente em crime doloso.

Observações:

i. Na lei ambiental, as penas restritivas de direitos têm duas

características: autonomias e substitutividade – art. 7º, caput :

 Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade

quando:

É como no CP.

24

Page 25: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 25/66

ii. A pena restritiva de direitos tem a mesma duração da pena de prisão

substituída – parágrafo único do art.7º:

Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo terão a mesma

duração da pena privativa de liberdade substituída.

Exceção a pena de interdição temporária de direitos.

Espécies de penas restritivas de direitos nos crimes ambientais

Vejamos o art. 8º:

Art. 8º As penas restritivas de direito são:

I - prestação de serviços à comunidade;

II - interdição temporária de direitos;

III - suspensão parcial ou total de atividades;

IV - prestação pecuniária;

V - recolhimento domiciliar.

Essas são as cinco penas restritivas de direitos da lei ambiental. Os artigosseguintes definem o que é cada uma dessas penas restritivas.

Vamos comparar as penas restritivas da lei ambiental com as do CP.

LCA CPPrestação de serviços à

comunidade – art. 9º:

 Art. 9º A prestação de serviços à comunidade

consiste na atribuição ao condenado de

tarefas gratuitas junto a parques e jardins

públicos e unidades de conservação, e, no

caso de dano da coisa particular, pública ou

tombada, na restauração desta, se possível.

Prestação de serviços à

comunidade – art. 46, §2º:

§ 2º A prestação de serviço à comunidade dar-

se-á em entidades assistenciais, hospitais,

escolas, orfanatos e outros estabelecimentos

congêneres, em programas comunitários ou

estatais.

Interdição temporária de direitos (é Interdição temporária de direitos –

25

Page 26: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 26/66

a única que não tem o mesmo prazo

da pena de prisão)  – art. 10:

 Art. 10. As penas de interdição temporária de

direito são a proibição de o condenadocontratar com o Poder Público, de receber 

incentivos fiscais ou quaisquer outros

benefícios, bem como de participar de

licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso

de crimes dolosos, e de três anos, no de

crimes culposos.

 A interdição temporária de direitos

dura:

• 05 anos crimes dolosos;

• 03 anos crimes culposos.

Veja que ela não tem a mesma

duração que a pena de prisão, ela é

maior.

art. 47, I a IV:

Art. 47 - As penas de interdição temporária de

direitos são:

I - proibição do exercício de cargo, função ouatividade pública, bem como de mandato

eletivo;

II - proibição do exercício de profissão,

atividade ou ofício que dependam de

habilitação especial, de licença ou autorização

do poder público;

III - suspensão de autorização ou de

habilitação para dirigir veículo.

IV - proibição de freqüentar determinados

lugares.

Suspensão parcial ou total de

atividades – art. 11:

 Art. 11. A suspensão de atividades será

aplicada quando estas não estiverem

obedecendo às prescrições legais.

Não existe correspondente.

Prestação pecuniária – art. 12:

 Art. 12. A prestação pecuniária consiste nopagamento em dinheiro à vítima ou à entidade

pública ou privada com fim social, de

importância, fixada pelo juiz, não inferior a um

salário mínimo nem superior a trezentos e

sessenta salários mínimos. O valor pago será

deduzido do montante de eventual reparação

civil a que for condenado o infrator.

Obs1: se o beneficiário aceitar, essa

Prestação pecuniária – art. 45, §1º:

§ 1º A prestação pecuniária consiste nopagamento em dinheiro à vítima, a seus

dependentes ou a entidade pública ou privada

com destinação social, de importância fixada

pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo

nem superior a 360 (trezentos e sessenta)

salários mínimos. O valor pago será deduzido

do montante de eventual condenação em ação

de reparação civil, se coincidentes os

beneficiários.

26

Page 27: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 27/66

prestação em dinheiro pode ser 

substituída por prestação de outra

natureza (ex: serviços, materiais de

construção). É a chamada prestação

inominada, que substitui a prestação

pecuniária.

Obs2: se a prestação pecuniária não

for paga pode ser convertida em

prisão? SIM, é pacífico no STJ que

a prestação pecuniária quando nãofor paga pode ser convertida em

prisão (porque esta também é pena

privativa de direitos).

Veja que a LCA só fala na vítima, ao

passo que o CP fala na vítima e seus

sucessores.

Recolhimento domiciliar – art. 13:

 Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se na

autodisciplina e senso de responsabilidade do

condenado, que deverá, sem vigilância,trabalhar, freqüentar curso ou exercer 

atividade autorizada, permanecendo recolhido

nos dias e horários de folga em residência ou

em qualquer local destinado a sua moradia

habitual, conforme estabelecido na sentença

condenatória.

Limitação de fim de semana  –

art.48:

Art. 48 - A limitação de fim de semana

consiste na obrigação de permanecer, aossábados e domingos, por 5 (cinco) horas

diárias, em casa de albergado ou outro

estabelecimento adequado.

Não confunda pena de prestação pecuniária, que, se não for paga, pode ser 

convertida em prisão, porque é espécie de pena restritiva de direitos; com apena pecuniária, a multa, que não pode ser convertida em prisão. Isso é

pacífico no STJ e no STF.

PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS DAS PESSOAS JURÍDICAS: art.21

Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas,

de acordo com o disposto no art. 3º, são:

I - multa;II - restritivas de direitos;

27

Page 28: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 28/66

III - prestação de serviços à comunidade.

 A pessoa jurídica só pode sofrer dois tipos de penas, a multa e a restritiva de

direitos.

Obs1: as penas restritivas de direitos das pessoas jurídicas não são

substitutivas, são penas principais. Então, as penas restritivas de direito das

pessoas jurídicas não têm a mesma duração da pena de prisão, simplesmente

porque elas não substituem a pena de prisão.

Vejamos o art. 22:

Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são:

I - suspensão parcial ou total de atividades;

II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;

III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,

subvenções ou doações.

§ 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou

doações não poderá exceder o prazo de dez anos.

Nós vimos que essa pena existe também para a pessoa física (03 anos para

crime culposo e 05 anos para crime culposo); no caso da pessoa jurídica será

de até 10 anos, seja o crime doloso ou culposo.

 Assim,  A  PENA  DE  PROIBIÇÃO  DE  CONTRATAR  COM  O  PODER  PÚBLICO  OU  RECEBER  SUBSÍDIOS,

SUBVENÇÕES OU DOAÇÕES TEM  A DURAÇÃO DE  ATÉ 10  ANOS, SEJA CRIME DOLOSO OU CULPOSO.

Sursis nos crimes ambientais

Sursis é a suspensão condicional da execução da pena. O réu é processado,

condenado e a pena não é executado se ele se submeter a determinadas

condições. Ou seja: a execução fica suspensa sob condição.

Nos crimes ambientais, cabem as três espécies de sursis:

Sursis Simples   art. 77 do CP

28

Page 29: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 29/66

CP LCACondenações até 02 anos. Condenações até 03 anos

Sursis Especial art. 78, §2º do CP

CP LCACondenações até 02 anos. Condenações até 03 anos.Submissão do beneficiário às

condições do art. 78, §2, “a”, “b” e

“c”:

§  2º - Se o condenado houver reparado odano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e seas circunstâncias do Art. 59 deste Códigolhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do parágrafoanterior pelas seguintes condições, aplicadascumulativamente:a) proibição de freqüentar determinadoslugares;b) proibição de ausentar-se da comarca ondereside, sem autorização do juiz;c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.

Submissão do beneficiário às

condições referentes à proteção do

meio ambiente, fixadas pelo juiz –

art. 17:

 Art. 17. A verificação da reparação a que se

refere o § 2º do art. 78 do Código Penal será

feita mediante laudo de reparação do dano

ambiental, e as condições a serem impostas

pelo juiz deverão relacionar-se com a

proteção ao meio ambiente.

Sursis Etário/ Humanitário  art. 77, §2º do CP

Não há nenhuma diferença.

§  2º - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro

anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado

seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a

suspensão.

Veja que o sursis na lei ambiental está tratado em dois artigos, quais seja,

artigos 16 e 17:

29

Page 30: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 30/66

Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão condicional da pena pode ser 

aplicada nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não superior a três anos.

Art. 17. A verificação da reparação a que se refere o § 2º do art. 78 do Código Penal

(sursis especial) será feita mediante laudo de reparação do dano ambiental, e as

condições a serem impostas pelo juiz deverão relacionar-se com a proteção ao meio

ambiente.

Ele não vai ficar submetido àquelas condições do CP; o beneficiário do sursis

especial ficará submetido a condições relativas à proteção do meio ambiente,

que serão fixadas pelo juiz.

Só tem direito a sursis especial quem fez reparação do dano (salvoimpossibilidade de reparar) e tem circunstâncias judiciais favoráveis.

Obs: na lei ambiental, essa reparação do dano só pode ser comprovada por 

meio de Laudo de Reparação Ambiental, ou seja, a reparação do dano para

fins de concessão de sursis especial não admite outro meio de prova; sob pena

de não ter direito ao sursis especial.

Pena de multa nos crimes ambientais

Está prevista no art. 18:

 Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se revelar-se ineficaz,

ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o

valor da vantagem econômica auferida.

 A multa será calculada de acordo com o CP.

Segunda parte ainda que a multa seja aplicada no máximo, pode ser 

aumentada em três vezes, tendo em vista a vantagem econômica auferida.

Vejamos o art. 60, §1º do CP:

§ 1º -  A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em

virtude da situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo.

30

Page 31: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 31/66

Esse artigo está dizendo que a multa pode ser aplicada tendo em vista a

situação econômica do réu.

Veja, portanto, que na lei ambiental, o juiz leva em conta a vantagem auferida

com o crime, pouco importando a situação econômica do réu. Enquanto no CP,

o juiz leva em conta a situação econômica do réu.

• Multa calculada de acordo com o CP (art. 18, 1ª parte);

De 10 a 360 dias-multa;

Para cada dia multa: 1/30 a 5 vezes o salário mínimo vigente.

Isso está no art. 49 do CP:

Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da

quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de

10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.

Qual a multa máxima que o juiz pode aplicar? 360 dias-multa, cada qual

no valor de 5 vezes o salário mínimo. Ou seja, a multa máxima é de 1800

salários mínimos.

Só que o juiz ainda pode triplicar essa multa máxima.

•  A multa, mesmo que aplicada no máximo, pode ser triplicada, tendo em

vista o valor da vantagem econômica auferida com o crime.

Att! No CP, o juiz também pode triplicar a multa máxima, só que nesse

caso levando em conta a situação econômica do autor.

Há quem sustente (Luis Paulo Sirvinskas) que nos crimes ambientais o juiz

pode triplicar a multa máxima duas vezes: tendo em vista a vantagem

econômica auferida com o crime e depois triplicar tendo em vista a situação

econômica do autor.

31

Page 32: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 32/66

Data máxima vênia, esse entendimento é insustentável, porque a lei ambiental

está dispondo de forma diversa e dispondo de forma diversa aplica-se a lei

ambiental em detrimento do CP – a lei ambiental não está sendo omissa.

Perícia em crimes ambientais e Prova emprestada

Esses dois assuntos estão no art. 19 da lei ambiental:

Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o

montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.

Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser 

aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório.

A) PERÍCIA

Para que serve perícia no processo?

Especialmente para constatar a materialidade delitiva.

 A PERÍCIA  AMBIENTAL, NO  ENTANTO,  ALÉM  DE  CONSTATAR  A  MATERIALIDADE  DELITIVA, DEVE, SE 

POSSÍVEL, FIXAR  O  VALOR  DO  PREJUÍZO  CAUSADO  PELO  CRIME  AMBIENTAL. E esse valor do

prejuízo apontado no laudo serve para duas coisas, tem duas finalidades:

a) Cálculo de fiança;

b) Cálculo da multa penal.

Para calcular a multa, o juiz leva em conta:

 A situação econômica do infrator – art. 6º, III:

Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente

observará: a situação econômica do infrator, no caso de multa.

O valor do prejuízo causado pelo crime – art. 19:

32

Page 33: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 33/66

 Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o

montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.

B) PROVA EMPRESTADA

Data – 22/08/09 Disciplina: Direito Penal Especial Prof.: Sílvio Maciel

 Aula: 04  Assunto: Crimes Ambientais II

Perícia em crimes ambientais e Prova emprestada

Vejamos o art. 19:

Art. 19 - A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o

montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.

C) PERÍCIA

Para que serve perícia no processo?

Especialmente para constatar a materialidade delitiva.

 A PERÍCIA  AMBIENTAL, NO  ENTANTO,  ALÉM  DE  CONSTATAR  A  MATERIALIDADE  DELITIVA, DEVE, SE 

POSSÍVEL, FIXAR  O  VALOR  DO  PREJUÍZO  CAUSADO  PELO  CRIME  AMBIENTAL. E esse valor do

prejuízo apontado no laudo serve para duas coisas, tem duas finalidades:

c) Cálculo de fiança;d) Cálculo da multa penal.

Para calcular a multa, o juiz leva em conta:

 A situação econômica do infrator – art. 6º, III:

Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente

observará: a situação econômica do infrator, no caso de multa.

33

Page 34: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 34/66

O valor do prejuízo causado pelo crime – art. 19:

 Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o

montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.

 A perícia, nos crimes ambientais, serve para, além de fixar a materialidade do

crime, apurar o montante dos danos causados, sendo que este valor serve

para: o arbitramento da fiança e cálculo da multa.

Combinando o art. 19 com o art. 6º, III, verificamos que os parâmetros para o

cálculo da multa nos crimes ambientais são dois: a situação econômica do

autor e o valor do dano ambiental.

D) PROVA EMPRESTADA

Parágrafo único - A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá

ser 

aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório.

Problema: o art. 19, parágrafo único está permitindo que a perícia feita no

inquérito civil instaurado pelo MP ou na Ação Civil, proposta pelo MP ou por umdos legitimados, seja trasladada para o processo penal, como prova

emprestada.

Diz a lei: “instaurando-se o contraditório”. O art. 19, parágrafo único da LCA

está permitindo que a perícia feita em inquérito ou em ação civil seja

aproveitada no processo penal como prova emprestada, instaurando-se o

contraditório. Esta expressão é interpretada como contraditório diferido ou

posterior: o contraditório não é feito no processo onde a prova foi produzida, o

contraditório só é feito quando a prova é juntada no processo penal.

Há uma crítica da doutrina a esse artigo: no inquérito não há contraditório (do

mesmo modo que no inquérito policial não há contraditório e ampla defesa, no

inquérito civil não há). Uma parte da doutrina (Delmanto) diz que a perícia feita

no inquérito civil só pode ser emprestada para o processo penal se for uma

prova não repetível. Em outras palavras, se a perícia pode ser feita novamente

34

Page 35: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 35/66

no processo penal, ela deve ser feita. Não se deve aproveitar a perícia que foi

feita no inquérito civil, pois lá não houver sequer contraditório e ampla defesa.

Esse entendimento está em consonância com o art. 155, caput do CPP: diz

que o juiz não pode fundamentar sua convicção com elementos colhidos

apenas na investigação, salvo se esses elementos forem cautelares, não

repetíveis ou antecipados.

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em

contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos

informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e

antecipadas.

Essa perícia para alguns autores, portanto, como foi feita em investigação, só

pode ser emprestada para o processo penal se for não repetível.

E a perícia feita na ação civil? A perícia feita na ação civil, dizem alguns

autores, só pode ser utilizada no processo penal se as partes forem as

mesmas ou, pelo menos, se a parte contra a qual será utilizada a perícia, tenha

participado desta na ação civil.

 Agora, esse “instaurando-se o contraditório”: suponha que as partes sejam as

mesmas e a prova foi emprestada para ou processo penal ou que a perícia é

não repetível; no processo penal, terá que ser instaurado o contraditório.

O que significa “instaurado o contraditório”?

Para uma parte da doutrina, significa apenas que sejam dadas vistas às partes

para se manifestarem sobre o laudo.

Já uma outra parcela da doutrina diz que “instaurando-se o contraditório” deve

ser dado vista para as partes se manifestarem sobre o laudo e oferecerem

novos quesitos para que o laudo seja complementado. Esse é o entendimento,

por exemplo, de Delmanto.

Não se esqueça de conjugar esse artigo 19 com o CPP, pois pela reforma doCPP, as partes podem agora indicarem assistente técnico para acompanharem

35

Page 36: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 36/66

a elaboração do laudo. Agora, é direito expresso das partes a indicação de

assistentes técnicos para darem pareceres sobre os laudos – art. 159, §3º do

CPP:

§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao

querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.

 Antes não era direito das partes indicarem assistente técnico, o juiz, em busca

da verdade real, poderia aceitar a indicação desses assistentes; antes da

reforma, a indicação de assistente técnico não era um direito processual das

partes, agora, trata-se de um direito processual das partes, não podendo o juiz

indeferir.

 Assim, esse “instaurando-se o contraditório”, tem que ser entendido hoje como

a possibilidade de as partes indicarem assistente técnico para se manifestarem

sobre o laudo ambiental, pois o CPP aplica-se subsidiariamente à lei ambiental

(como ela própria expressamente diz).

Sentença penal condenatória ambiental

Vejamos o art. 20 da LCA:

Art. 20 - A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo

 para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo

ofendido ou pelo meio ambiente.

Parágrafo único - Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá

efetuar-se pelo valor fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liqüidação para

apuração do dano efetivamente sofrido.

Pela reforma do CPP, há permissão para que, em qualquer processo, o juiz

verifique valor de prejuízo (art. 387, IV, do CPP:  Art. 387. O juiz, ao proferir sentença

condenatória: fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,

considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido). Em qualquer sentença condenatória,

36

Page 37: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 37/66

o juiz pode fixar valor de prejuízo. Essa é uma novidade introduzida pela Lei

11719/08.

Todos os comentaristas da reforma do CPP, dizem que essa possibilidade de

fixar danos na sentença é uma coisa inédita, mas não é, pois essa

possibilidade existe na lei dos crimes ambientais desde 2008.

Voltemos ao art. 20:

Art. 20 - A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo

 para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo

ofendido ou pelo meio ambiente.

Veja que não é requisito obrigatório da sentença: o juiz vai fixar o valor dos

prejuízos na sentença penal “sempre que possível”.

E o juiz tem que fixar “valor mínimo” e, no que se refere a esse valor mínimo, a

sentença é um título executivo certo, líquido e exigível.

 A sentença condenatória é título executivo no cível (ela torna certa a obrigação

de indenizar o dando), só que aqui ela não precisa nem ser liquidada no juízo

cível, quanto ao valor mínimo, ela já passa a ser um título líquido, certo e

exigível – já pode ser executada no cível.

E se a parte quiser receber além do valor mínimo? E para apurar o restante:

Parágrafo único - Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução

 poderá efetuar-se pelo valor fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liqüidação

 para apuração do dano efetivamente sofrido.

 Assim, quanto ao restante do valor do prejuízo sofrido, a sentença será

liquidada no juízo cível.

Conclusão: a sentença é em parte líquida, quanto ao valor mínimo dos

prejuízos nela indicados; e em parte ilíquida, quanto ao restante do valor do

prejuízo.

37

Page 38: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 38/66

Liquidação forçada da pessoa jurídica

Art. 24 - A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua

liqüidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal

 perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional.

É uma pena aplicável à pessoa jurídica – é uma sanção penal aplicável

exclusivamente à pessoa jurídica.

 Agora, essa sanção penal pode ser aplicada a qualquer pessoa jurídica?

Não, apenas pode ser aplicada à pessoa jurídica que tenha como atividade

principal (preponderante) a prática de crimes ambientais e não para uma

pessoa jurídica que eventualmente delinqüiu. Ex: madeireira clandestina,

indústria pesqueira ilegal.

 A atividade principal da empresa é cometer crimes ambientais, ainda que ela

desenvolva em parte uma atividade lícita.

Conseqüência: a liquidação forçada gera a extinção da pessoa jurídica, pois

todo o seu patrimônio (não apenas aquele envolvido na execução do crime)

será considerado instrumento de crime e, conseqüentemente, confiscado/

perdido para o fundo penitenciário nacional.

 A doutrina critica, dizendo que essa perda deveria ser em favor de algum órgão

ambiental, mas não é.

 Alguns autores dizem que essa liquidação forçada é inconstitucional, pois ela

equivale à pena de morte da pessoa jurídica, que é vedada pela Constituição.

O raciocínio deles é que a pessoa jurídica existe, tem vontade própria e pode

praticar crimes, podendo morrer juridicamente (no sentido social).

Veja que essa doutrina é minoritária, mas a maioria (Luis Regis Prado) diz queessa sanção equivale à pena de morte da pessoa jurídica, mas não diz que

38

Page 39: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 39/66

essa pena é inconstitucional. Diz ele que só pode ser utilizada como última

medida penal: quando todas as outras sanções penais não funcionarem (deve

ser a última medida dentro da última medida que é o direito penal).

Como se aplica essa sanção de liquidação forçada?

Quanto ao mecanismo de aplicação da sanção de liquidação forçada, a

doutrina diverge:

1ª corrente: se essa sanção pressupõe a prática de crime, então, essa

liquidação forçada só pode ser aplicada em sentença penal condenatória

transitada em julgado. Porque tem que ficar comprovado o crime e a atividade

preponderantemente criminosa para que seja aplicada a sanção.

2ª corrente: essa sanção só pode ser aplicada, se for objeto de pedido

expresso na denúncia. Em outras palavras, o juiz penal não pode aplicar essa

pena se ela não foi expressamente requerida na denúncia. E se ela não foi

expressamente requerida na denúncia? Ela poderá ser aplicada em uma

ação civil de liquidação da pessoa jurídica proposta pelo MP.

Essa segunda corrente admite que essa pena seja aplicada, tanto em uma

sentença penal condenatória, como em uma ação civil de liquidação.

Conclusão: para essa corrente, não se trata a liquidação de uma sanção

criminal, mas sim de uma pena ambiental. Adotam essa corrente: Vladimir e

Gilberto Passos de Freitas.

Para Sílvio, o princ do estado de inocência, como todas as garantias

fundamentais, aplicável às pessoas jurídicas, entende que não é possível

aplicar liquidação forçada numa ação civil.

Confisco de instrumentos de crimes ambientais

Art. 25 - Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos,

lavrando-se os respectivos autos.

39

Page 40: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 40/66

§ 1º - Os animais serão libertados em seu habitat ou entregues a jardins zoológicos,

fundações ou entidades assemelhadas, desde que fiquem sob a responsabilidade de

técnicos habilitados.

§ 2º - Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e doados a

instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes.

§ 3º - Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou doados a

instituições científicas, culturais ou educacionais.

§ 4º - Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garantida a sua

descaracterização por meio da reciclagem.

O problema está nesse §4º, que em verdade está falando de confisco, pois os

instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos (confiscados).

O art. 91, II, “a”, do CP, só permite confisco de instrumento de crime, se o

objeto, por si só, for ilícito. Ou seja: quando ele é de fabrico, alienação, uso,

porte ou detenção ilícitos. Não é qualquer instrumento de crime que você pode

confiscar no direito penal.

Exemplo: o soco inglês utilizado numa lesão pode ser confiscado? Sim,

porque ele, isoladamente, configura arma branca (objeto ilícito).

Do mesmo modo, a arma ilegal do porte de arma pode ser confiscada, pois ela

por si só é objeto ilícito.

 Agora, um automóvel utilizado como instrumento no furto não pode ser 

confiscado, pois ele não é objeto ilícito.

 Agora, o art. 25, §4º, da LCA permite o confisco de qualquer instrumento de

crime ambiental, seja lícito ou ilícito.

Portanto, a doutrina, a exemplo de Capez, diz que o instrumento de crime

ambiental deve ser sempre confiscado, seja ou não um objeto ilícito.

Ex: o barco do pescador que pescou além do permitido tem que ser confiscado.

40

Page 41: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 41/66

Ex2: o caminhão do trabalhador que transportou o agrotóxico proibido deve ser 

confiscado.

Art. 91, II, “a” do CP Art. 25, da LCA

Art. 91 - São efeitos da condenação:II - a perda em favor da União, ressalvado odireito do lesado ou de terceiro de boa-fé:a) dos instrumentos do crime, desde queconsistam em coisas cujo fabrico, alienação,uso, porte ou detenção constitua fato ilícito;

§ 4º - Os instrumentos utilizados na prática

da infração serão vendidos, garantida a sua

descaracterização por meio da reciclagem.

Diante dessas proporções, diz a jurisprudência, o art. 25, §4º da LCA deve ser 

entendido da seguinte forma: O  OBJETO  SÓ  DEVE  SER  APREENDIDO  QUANDO  ELE  FOR 

USUALMENTE UTILIZADO NA PRÁTICA DE CRIME  AMBIENTAL. Ex: a motosserra da madeireira

clandestina.

 Agora, quando o objeto foi eventualmente utilizado na prática de um crime

ambiental, ele pode ou não ser confiscado, dentro de um juízo de razoabilidade

(TRF 1ª e 2ª Regiões).

Ex: o barco do pescador que eventualmente pescou peixe proibido não deve

ser confiscado, pois não se trata de instrumento de crime, mas sim de

instrumento de sustento da família.

Aspectos processuais

Interrogatório da pessoa jurídica

Como se faz interrogatório da pessoa jurídica?

Nucci diz que o interrogatório da pessoa jurídica deve ser feito por meio do

preposto ou gerente da empresa que tenha conhecimento do fato, aplicando-se

por analogia o art. 843, §1º da CLT.

Obs: o entendimento da professora Ada Pelegrini não é mais esse, ela mudou

de entendimento (cuidado que continuam citando ela com esse entendimento).

 A professora Ada até 2003 entendia que o interrogatório da pessoa jurídicadeveria ser do preposto ou gerente da empresa com conhecimento do fato. Ela

41

Page 42: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 42/66

entendia desse modo, pois ela via o interrogatório como um meio de prova.

Então, deveria ser interrogado aquele que tivesse conhecimento do fato, com

condições de fornecer provas ao juiz. Só que, a partir de 2003, com a reforma

do interrogatório no CPP, o interrogatório passou a ser preponderantemente

(ou exclusivamente, para alguns, como a professora Ada) meio de defesa do

acusado. Então, ela diz que quem deve ser interrogado é o gestor da pessoa

 jurídica, com condições de exercer a defesa dela (que tenha interesse na

defesa da pessoa jurídica).

Habeas Corpus em favor de pessoa jurídica

Ex: a pessoa jurídica é denunciada por um crime ambiental prescrito e o juiz dizque não prescreveu, como trancar essa ação?

O entendimento do STF, pacificado, é que não cabe HC a favor da pessoa

 jurídica: o HC protege exclusivamente a liberdade de locomoção, que não

existe em relação às pessoas jurídicas (HC 92921/ STF).

O ministro-relator foi voto vencido, pois o julgamento do HC da pessoa jurídica

reflete na esfera de liberdade da pessoa física, já que ambas sempre serãodenunciadas conjuntamente.

Qual a medida cabível, então?

Para trancar ação em favor de pessoa jurídica, cabe Mandado de Segurança.

Competência nos crimes ambientais

O STF criou uma regra geral de competência nos crimes ambientais, que

passou a ser seguida fielmente pelo STJ:

Em regra, que julga crime ambiental é a Justiça Estadual.

 A Justiça Federal só julga crimes ambientais quando houver interesse

direto e específico da União. 

42

Page 43: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 43/66

Se houver  interesse apenas indireto e genérico da União, é a

 justiça estadual quem vai julgar o crime.

Como o STF chegou a essa regra? Utilizando-se de dois raciocínios:

(1º) A proteção do meio ambiente é de competência comum da União, estados,

municípios e DF – artigos 23 e 24 da CF. Não é competência exclusiva da

União proteger o meio ambiente, trata-se de competência de todas as pessoas

políticas.

(2º) Não há nenhuma regra específica sobre competência em crimes

ambientais, nem na CF, nem na LCA, nem no CPP.

Conclusão: se a proteção do meio ambiente é dever de todas as pessoas

políticas e não há regra específica de competência, então, segue a regra geral:

competência da Justiça Estadual. Somente será de competência da Justiça

Federal, se houver interesse direito e específico da União que justifique a

mudança da competência.

Obs: se durante a ação penal sobrevier interesse da União, que não havia noinício, desloca-se a competência para a justiça federal.

Regra:

• Interesse genérico e indireto da União Justiça Estadual.

• Interesse direito e específico da União Justiça Federal.

Ex: o crime foi cometido em área pertencente ao município de Itajaí, em SantaCatarina. Durante a ação, essa área, que era do município, foi incorporada ao

Parque Nacional de Itajaí, que é pertencente à União e a competência foi

deslocada para a justiça federal (CC 88013/ STJ).

Questões específicas sobre competência

1) Vejamos o art. 225, §4º da CF:

43

Page 44: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 44/66

§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-

Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma

da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive

quanto ao uso dos recursos naturais.

Os crimes cometidos nessas áreas, quem julga? Em regra, a justiça

estadual, porque patrimônio nacional não significa patrimônio da União. Só irá

para a justiça federal, se houver interesse direto e específico da União.

 A expressão “patrimônio nacional” significa patrimônio da nação brasileira e

não patrimônio da União. Nesse sentido também entendem José Afonso da

Silva e Tourinho.

2) Crimes cometidos em áreas fiscalizadas pelo IBAMA ou qualquer outro

órgão federal.

Diz o STF que o fato de a área ser fiscalizada por órgão federal (ex: IBAMA),

por si só, não fixa a competência da justiça federal. O interesse da União aí é

genérico e indireto.

Esse mesmo raciocínio se aplica para crimes cometidos em área de

preservação permanente (APP) e em cerrado. Ou seja: o simples fato de o

crime ocorrer em APP ou em cerrado, não justifica, por si só, a competência da

 justiça federal.

3) Crime cometido em rio estadual, interestadual e em mar territorial

Se o crime foi cometido em rio estadual, que banha apenas um estado  justiça estadual. Mesmo que tenha sido uma pesca ilegal, com petrechos

proibidos numa norma federal, por exemplo, (ex: decreto ou portaria do

ministério do meio ambiente).

Se o crime for cometido em rio interestadual ou mar territorial, que são bens da

União justiça federal. Ex: pesca de camarão ilegal no mar territorial brasileiro

 – justiça federal; pesca no Rio Mogiguaçu, que banha MG e SP, vai para a

 justiça federal.

44

Page 45: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 45/66

Vejamos o art. 20, III:

Art. 20. São bens da União:

III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que

 banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a

território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias

fluviais;

Trata-se, neste caso, de um interesse direto e específico da União.

4) Tráfico internacional de animais

 A competência é da justiça federal, pois o Brasil é signatário de tratados e

convenções internacionais comprometendo-se a reprimir o tráfico internacional

de animais.

5) Crime de liberação ilegal de OGM no meio ambiente

O que vem a ser OGM? Organismos geneticamente modificados

(transgênicos).

Ex: liberação de semente geneticamente modificada no meio ambiente.

Liberar OGM no meio ambiente é crime previsto no art. 27 da Lei 11105/05 (Lei

de Biossegurança).

O STJ foi chamado a se manifestar sobre isso e decidiu que a competência

para julgar esses crimes é da Justiça Federal, pois a liberação de OGM’s não

causa danos apenas no estado em que ocorreu, mas afeta (pode afetar) a

saúde pública de toda a humanidade. Além disso, a CTNBIO é órgão ligado

diretamente à Presidência da República, havendo interesse da União.

Ex: clonagem humana é crime.

6) Quem julga uma contravenção ambiental que atinge a interesse da

União (ex: fazer fogo no interior de parque nacional)? Justiça

ESTADUAL, porque o art. 109, IV da CF diz que justiça federal não julga

45

Page 46: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 46/66

contravenção. Então, mesmo que a contravenção ambiental atinja

interesse direito e específico da União, a competência é da Justiça

federal.

Existe alguma possibilidade de a JF julgar contravenção penal? Em apenas

uma hipótese a JF julga uma contravenção: se o contraventor tem foro especial

na JF previsto na CF. Ex: juiz federal que pratica contravenção ambiental.

Ação penal nos crimes ambientais

Art. 26 - Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação penal é publica

incondicionada.

Portanto, todos os crimes são de ação penal pública INCONDICIONADA.

Cabe ação penal privada subsidiária da pública? Se houver vítima

determinada, CABE. Pois a ação penal subsidiária é um direito fundamental da

pessoa.

Dica: Em todas as leis penais especiais, os crimes são de ação incondicionada(exceção: lesão culposa de trânsito – ação condicionada à representação).

Transação penal nos crimes ambientais

Art. 27 - Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação

imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26

de setembro de 1995 (= TRANSAÇÃO PENAL), somente poderá ser formulada desde

que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesmalei, salvo em caso de comprovada impossibilidade.

Veja que a transação penal só pode ser formula se houver a previa composição

do dano ambiental.

Na Lei 9099, há dois institutos despenalizadores que se aplicam às infrações

de menor potencial ofensivo (contravenções e crimes com pena de até 2 anos):

46

Page 47: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 47/66

• Composição civil de danos (art. 74) tem a finalidade de reparar a

vítima do dano, por isso, ela é feita entre a vítima e o infrator (autor do

fato).

Transação penal (art. 76)

tem a finalidade de evitar encarceramentodesnecessário, por isso ela é aplicação de pena não privativa de

liberdade: multa ou restritiva de direitos. Até porque a liberdade é um

bem indisponível.

Na sistemática da Lei 9099, o infrator de menor potencial ofensivo tem direito a

fazer transação penal com o MP, mesmo que não tenha feito composição civil

com a vítima.

Ex: ameaça – o ameaçador se recusa a fazer composição civil. O MP propõe a

transação e o ameaçador aceita. Veja que ele fez transação sem ter feito

composição civil.

Em outras palavras: a composição civil não é requisito para o cabimento da

transação, nos termos da Lei 9099.

 Agora, na LCA, nos termos do art. 27, somente é cabível transação (do art. 76da Lei 9099) se o infrator fez composição civil dos danos ambientais (art. 74 da

Lei 9099).

Portanto, NOS  CRIMES  AMBIENTAIS  DE  MENOR  POTENCIAL  OFENSIVO,  A  COMPOSIÇÃO  CIVIL  DE 

DANOS DO  ART. 74 DA LEI 9099 É REQUISITO PARA O CABIMENTO DA TRANSAÇÃO.

O MP não pode sequer oferecer a transação se não foi feita a prévia

composição dos danos de que trata o art. 76 da Lei 9099.

O que significa essa prévia composição do dano ambiental?

Resp Diz a doutrina que a prévia composição do dano ambiental não

significa a efetiva reparação do dano, mas apenas o compromisso firmado de

reparar.

47

Page 48: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 48/66

Ex: o infrator fez um TAC (termo de ajustamento de conduta) com o MP

comprometendo-se a fazer o reflorestamento. Esse TAC já é prévia

composição do dano ambiental, sendo suficiente para o cabimento da

transação penal.

Muitas vezes o dano ambiental demora anos para reparar e se você exige a

efetiva reparação do dano para fazer a transação, não haveria nunca

transação. Por isso, não dá para exigir prévia reparação dos danos.

Suspensão condicional do processo nos crimes ambientais

 A suspensão condicional do processo está prevista na Lei 9099, em seu art. 89

(é mais um dos institutos despenalizadores dessa lei): a suspensão é cabível

para todos os crimes com pena mínima não superior a 1 ano (veja que não

importa a pena máxima).

Este instituto, apesar de estar na Lei 9099, não é aplicado somente às

infrações de menor potencial ofensivo. Essa suspensão do processo se aplica

a qualquer crime com pena mínima não superior a 1 ano.

Ex: furto simples – pena de 1 a 4 anos; estelionato – pena de 1 a 5 anos.

Vem a LCA e trata da suspensão do processo no art. 28:

Art. 28 - As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 (=

SUSPENSÃO CONDICIONAL NO PROCESSO), aplicam-se aos crimes de menor 

 potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:

Veja que o legislador limitou a suspensão condicional do processo aos crimes

de menor potencial ofensivo, quando a gente sabe que a suspensão se aplica a

todos os crimes com

 A doutrina diz que houve menor potencial ofensivo e que onde o legislador 

disse “aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta lei”, ele quis

dizer “aos crimes definidos nesta lei”.

48

Page 49: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 49/66

Art. 28 - As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 (=

SUSPENSÃO CONDICIONAL NO PROCESSO), aplicam-se aos crimes de menor 

 potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:

Ou seja, a suspensão condicional do processo nos crimes ambientais segue a

regra geral: cabe em relação a todos os crimes com pena mínima não superior 

a 1 ano. Dizem isso: Edis Milaré, Cezar Roberto Bittencourt, Vladimir e Gilberto

Passos Freitas e Delmanto.

Resolvido o problema do caput , vamos enfrentar os incisos desse artigo:

Na Lei 9099, o processo fica suspenso por um período de 2 a 4 anos; nesse

período, o denunciado fica sujeito ao cumprimento das condições previstas no

art. 89, §1º, I a V e §2º da Lei 9099.

Se o réu cumprir todas as condições durante este período, o juiz decreta a

extinção da punibilidade.

Na suspensão condicional do processo nos crimes ambientais é diferente: para

o juiz declarar a extinção da punibilidade, não basta o cumprimento dessascondições;  A  PUNIBILIDADE  SOMENTE  SERÁ  DECLARADA  EXTINTA, SE  HOUVER  REPARAÇÃO  DO 

DANO  AMBIENTAL.

E essa reparação tem que ficar comprovada por laudo de reparação do dano

ambiental.

Art. 28 - As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 (=

SUSPENSÃO CONDICIONAL NO PROCESSO), aplicam-se aos crimes de menor  potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:

I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5º do artigo referido no

caput (art. 89 da Lei 9099), dependerá de laudo de constatação de reparação do

dano ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1º do mesmo

artigo;

Veja: a extinção da punibilidade depende de reparação do dano ambiental,

SALVO se o dano for irreparável.

49

Page 50: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 50/66

Mas essa constatação da reparação não é demorada?

II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o

 prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo

referido no caput , acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição;

Por quanto tempo fica suspenso o processo? 2 a 4 anos. Findo esse

período, o juiz manda fazer o laudo; se o laudo disser que houve reparação

completa do dano ambiental, o juiz extingue a punibilidade; se o laudo disser 

que não houve reparação completa do dano ambiental, o juiz vai prorrogar  a

suspensão do processo por mais 5 anos (prazo máximo de 4 anos, acrescido

de mais 1 ano) e suspende a prescrição.

Laudo1

Pergunta: nesse período de mais 5 anos, o réu ainda fica sujeito às condiçõesdo sursis processual?

Resp Não, durante esse período de prorrogação da suspensão, o réu não

fica sujeito às condições do sursis processual, restando tão-somente obrigado

a reparar o dano.

III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do §

1º do artigo mencionado no caput ;

 Ao final desses cinco anos, deve o juiz mandar fazer outro laudo. Se esse novo

laudo concluir que houve reparação do dano, o juiz extingue a punibilidade. Se

o laudo disser que não houve reparação integral do dano, o juiz tem duas

opções: (a) retomar o processo e revogar a suspensão; (b) prorrogar a

suspensão do processo por mais 5 anos.

Laudo2

50

Reparação

 Não reparação

Extinção da punibilidade.

Suspensão do processo por mais5 anos.

Reparação Extinção da punibilidade

a) Retomar o processo + Revogar asuspensão.

 b) Prorrogação da suspensão por mais5 anos.

Page 51: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 51/66

Se o juiz optar por prorrogar a suspensão por mais 5 anos, findo este prazoserá feito um novo laudo (terceiro). Neste novo laudo, a extinção da

punibilidade dependerá de prova de que houve a reparação do dano ou não

houve a reparação, apesar do acusado ter feito tudo para reparar (ou seja, o

dano era irreparável).

Se o terceiro laudo disser: não houve a reparação e o acusado não fez tudo o

que podia para reparar , o juiz revoga a suspensão e retoma o processo.

Laudo3

IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de constatação

de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste artigo,

observado o disposto no inciso III;

V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade

dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências

necessárias à reparação integral do dano.

Qual o prazo máximo de suspensão condicional no processo nos crimes

ambientais? 14 anos (um período de 2 a 4 anos + 2 períodos de

prorrogação 5 anos).

Crimes ambientais em espécie

É possível aplicar o princ da insignificância nos crimes ambientais?

51

 Não reparação

Reparação ouDano irreparável

 Não reparação eAcusado não feztudo ue odia

Extinção da punibilidade

Revogação da suspensão +retomada do processo

Page 52: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 52/66

1ª corrente: não é possível, pois toda lesão é significante na medida em que

desequilibra o meio ambiente como um todo. Ou seja, a lesão ao meio

ambiente provoca um dano ambiental desencadeado. Os TRF´s costumam

adotar essa posição.

2ª corrente: é possível princípio da insignificância nos crimes ambientais. Esse

é o entendimento do STJ.

Os crimes ambientais em espécie estão divididos em cinco capítulos:

• Crimes contra a fauna;

• Crimes contra a flora;

• Crimes de poluição;

• Crimes contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural;

• Crimes contra a administração ambiental.

 A Lei ambiental, assim como a CF protege, tutela penalmente o meio ambiente

em sua acepção ampla, isto é, tutela penalmente o meio ambiente natural

(fauna, flora e poluição), o meio ambiente artificial (são as edificações

construídas pelo homem) e o meio ambiente cultural e histórico.

Crimes contra a fauna

Conceito de fauna: é o conjunto de animais terrestres e aquáticos que vivem

em uma determinada região.

Todos os crimes contra a fauna estão concentrados na Lei 9605/98, exceto o

crime previsto na Lei 7643/87.

Conclusão: todos os crimes contra a fauna previstos em outras normas foram

tacitamente revogados pela Lei Ambiental.

Quem julga crimes contra a fauna?

52

Page 53: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 53/66

Competência para julgamento de crimes contra a fauna: segue a regra

geral de competência. A Súmula 91 do STJ dizia que os crimes contra a fauna

eram de competência da justiça federal. Só que essa súmula foi revogada em

2000.

Súmula: 91

COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL PROCESSAR E JULGAR OS CRIMES

PRATICADOS CONTRA A FAUNA.(*)

(*) Na sessão de 08/11/2000, a Terceira Seção deliberou pelo CANCELAMENTO da

Súmula n. 91.

Crime do art. 29

Art. 29 - Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos

ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade

competente, ou em desacordo com a obtida:

Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.

Bem jurídico protegido: apenas a fauna silvestres, terrestre ou aquática.

Esse tipo penal não protege animal doméstico ou domesticado.

Objeto material: espécimes da fauna silvestre.

Espécime é um exemplar da espécie.

E o que são animais silvestres? Está no art. 29, §3º, que é uma norma

explicativa:

§ 3º - São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas,

migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu

ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais

 brasileiras.

Veja que o tipo só protege os animais que tenha todo ou parte do ciclo de vida

no Brasil.

53

Page 54: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 54/66

Por conta disso, alguns autores sustentam que esse tipo não protege, além dos

animais domésticos e domesticáveis, os animais exóticos, que são os animas

estrangeiros.

Ex: utilizar animais em espetáculos de circo sem a devida autorização.

Elemento normativo do tipo: está na expressão “sem a devida permissão,

licença ou autorização da autoridade competente ou em desacordo com a

obtida”. Veja que o só haverá o crime, se o agente atuar sem autorização/

permissão/ licença ou extrapolar os limites dela.

Consumação: se dá com a prática de qualquer das condutas do tipo (Matar,

perseguir, caçar, apanhar, utilizar).

Tentativa: toda a doutrina, exceto Delmanto, diz que é possível a tentativa. Diz

Delmanto que dada a pluralidade de núcleos verbais, não é possível a

tentativa.

Pergunta: se o agente mata ou caça o animal com uma arma de fogo ilegal?

Haverá concurso entre o crime ambiental e o porte ilegal de arma.

Obs: o Estatuto do Desarmamento diz que os moradores de áreas rurais que

necessitem da arma para caça de subsistência (para prover a subsistência da

família) devem obter o porte de caçador junto à Polícia Federal. Daí, se o

indivíduo tiver o porte de “caçador de subsistência” não comete o crime de

porte ilegal de arma.

Guarda doméstica e Perdão judicial:

 Art. 29, §2º: No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não

considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as

circunstâncias, deixar de aplicar a pena.

54

Page 55: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 55/66

Como fica a guarda doméstica de animal silvestre?

Se o animal não for ameaçado de extinção, o juiz pode deixar de aplicar a

pena, ou seja, pode conceder perdão judicial considerando as circunstâncias

do caso concreto.

§ 4º - A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:

I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local

da infração;

Agora, se o animal for ameaçado de extinção, não cabe o perdão judicial e o

fato de o animal se ameaçado de extinção ainda é causa de aumento de pena.

Como saber se o animal é ameaçado de extinção?  Tem que verificar as

listas oficiais de IBAMA (trata-se de norma penal em branco).

Se esse crime for cometido em exercício de caça profissional, a pena poderá

ser aumentada até o triplo.

Caça profissional é aquela realizada com habitualidade e intenção de lucro. A

caça profissional é proibida em todo o território nacional.

§ 5º - A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça

 profissional.

Att! Esse artigo 29 não se aplica aos atos de PESCA.

§ 6º - As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.

55

Animal silvestre

Não ameaçado deextin ão

Ameaçado de extinção

Possibilidade de perdão judicial.

 Não pode haver perdão é crimecom aumento de pena.

Page 56: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 56/66

Pergunta: o crime protege os animais aquáticos e terrestres, mas não se aplica

aos crimes de pesca? Não, porque os crimes de pesca estão tipificados nos

artigos 34 a 36.

E como esse crime se aplica aos animais aquáticos? Ex: perseguir uma

tartaruga marinha.

Art. 30: Tráfico internacional de peles e couros

Art. 30 - Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a

autorização da autoridade ambiental competente:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Conduta: exportar para o exterior, ou seja, exportar para o estrangeiro. Se

exportar para dentro do próprio país, não é crime. Assim, a lei está punindo no

art. 30 o tráfico internacional.

Objeto material: somente peles e couros de anfíbios e repteis em bruto, isto é,

in natura, sem estar industrializado, transformado em objetos.

Elemento normativo: “sem autorização da autoridade competente”.

Problemas: a lei não pune nem a importação nem o tráfico interno de peles e

couros de répteis e anfíbios. Qual crime caracteriza a conduta de importar ou

traficar internamente as peles e couros de répteis e anfíbios?

Caracteriza a conduta do art. 29, §1º, III:

§ 1º - Incorre nas mesmas penas:

III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou

depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em

rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros

não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade

competente.

 Aquele que está importando ou fazendo o tráfico interno está comprando eadquirindo respectivamente.

56

Page 57: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 57/66

Outro problema: o art. 30 só tem como objeto material in natura; e quem

exporta o produto já transformado?

Responde também pelo crime do art. 2º, §1º, III:

§ 1º - Incorre nas mesmas penas:

III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou

depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em

rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros

não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade

competente.

 Aquele que vende, por exemplo, uma bolsa de jacaré, não pode responder pelo

crime do art. 30, pois este só pune a exportação do couro in natura, mas pode

responder pelo art. 29, §1º, III (exportar produtos oriundos das espécimes da

fauna silvestre).

Crime do art. 32: abusos e maus tratos contra animais

Art. 32 - Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Condutas:

•  Ato de abuso – ex: submeter o animal a trabalhos excessivos e

transporte inadequado

Maus tratos: causar sofrimento desnecessário ao animal• Ferir 

• Mutilar 

Animais protegidos pelo tipo: todos os animais – silvestres, domésticos,

domesticados, nativos ou nacionais, exóticos ou estrangeiros.

57

Page 58: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 58/66

Problema: quem mata um animal doméstico responde por que crime? -> O art.

32 não prevê o verbo “matar” e não pode aplicar o art. 29, pois este não pode

proteger o animal doméstico.

Mas o crime é do art. 32, sim, pois antes de matar ele necessariamente tem

que ferir o animal, portanto, matar animal doméstico configura o art.32.

Brigas de galo (rinhas), Farra do Boi, Vaquejada etc.: há uma minoria que

entende que essas manifestações populares estão protegidas pelo direito à

cultura, garantidos pelo art. 215 da CF.

O que aconteceu foi que vários estados, a exemplo do Rio Grande do Norte,

Rio de Janeiro, Santa Catarina, editaram leis regulamentando a briga de galo,

galinhas e passarinhos. A justificativa é que se eles brigam ficam mais fortes.

Veja: o STF declarou todas essas leis inconstitucionais por violação ao art. 225,

§1º, VII, da CF:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e àcoletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em

risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a

crueldade.

Rodeios: provocam abusos aos animais? Com absoluta certeza, sim, o

problema é que a Lei 10519/02 autoriza os rodeios no Brasil. Esta lei, em seus

artigos 3º e 4º, exige várias providências para evitar que o animal seja

submetido a sofrimento (ex: veda esporas com lança, o animal tem que ser 

transportado com cuidado).

Conclusão: se o rodeio for exercido em observância dessa lei (de acordo com

as normas da Lei 10519), trata-se de exercício regular de direito; já se o rodeio

for realizado em desconformidade com os requisitos da lei, é crime ambiental.

58

Page 59: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 59/66

Obs: em São Paulo, em vários municípios, a Lei 10519 foi declarada

incidentalmente inconstitucional. Quem diz isso é Luis Paulo Sirvinskas.

 A mutilação (que é uma conduta do tipo) de animais para fins estéticos

configura ou não crime?

 A doutrina diz que não, pois não há intenção específica de maltratar e

submeter o animal a sofrimento. Dizem isso Vladimir e Gilberto Passos de

Freitas, bem como Nucci.

§ 1º - Incorre nas mesma penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal

vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

Esse artigo está proibindo: experiência dolorosa com animal vivo, que é

chamada de vivissecção.

Veja que é crime mesmo que a experiência dolorosa se dê para fins didáticos

ou científicos, SALVO se não houver outro recurso alternativo.

E se não tiver outro recurso? Se não houver outro recurso científico ou

didático, pode fazer a vivissecção, porém observando a Lei 11794/08 (que

revogou a Lei6638/79). Essa Lei 11974 regula o uso de animal em experiências

e uma das exigências dela é o uso obrigatório de anestésico.

Obs: um aluno do Rio Grande do Sul ingressou na justiça requerendo a

dispensa das aulas de anatomia (em que eram utilizados animais), alegando

escusa de consciência. A juíza concedeu a tutela antecipada.

Artigos 34 a 36: Crimes de Pesca

Art. 34 - Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados

 por órgão competente:

Conduta: “pescar”.

Pergunta: O indivíduo arma uma rede no rio e não pega nada, ele cometeu o

crime ou não? Ele pescou (a conduta é pescar)?

59

Page 60: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 60/66

Resp Ele não pescou o peixe, mas comete o crime, veja o conceito de pesca

do art. 36 (norma penal explicativa):

Art. 36 - Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a retirar,

extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes,

crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento

econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais

da fauna e da flora.

Juridicamente, pescar não é retirar o peixe da água, não é efetivamente

apanhar a espécie animal. Juridicamente, pescar é apenas “algum ato tendente

a”.

Ex: armar rede no rio e não pegar peixe – comete o crime, pois armar rede no

rio é ato tendente a coletar peixe.

Tem alguma corrente divergente? Sim, Nucci: diz que só se configura o

crime se houver a efetiva apanha do animal (mas este é um entendimento

isolado, não é o entendimento da doutrina, nem da jurisprudência).

Voltemos ao art. 34:

Art. 34 - Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados

 por órgão competente:

Qual é o período de proibição? Havia uma lei que proibia a pesca em todo o

território nacional no período de 1º de outubro a 30 de janeiro – Lei 7679/88.

Essa lei foi revogada por reivindicação de pescadores, que argumentaram que

a piracema não ocorre em todos os locais do país na mesma época.

E hoje qual o período de pesca proibida? Esses períodos são definidos em

atos normativos, geralmente em portarias conjuntas do IBAMA e órgão

estaduais.

“Pescar em lugar interditado por órgãos competentes”: só há o crime se ainterdição do local se der por órgão competente. E o que é órgão competente?

60

Page 61: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 61/66

São os órgãos integrantes do SISNAMA – Sistema Nacional do Meio

 Ambiente.

Ex: a CEMIG (companhia de energia de Minas) interditou a pesca em um local

próximo à usina hidrelétrica. Alguém pescou nesse lugar e foi denunciado pelo

crime. O STJ trancou a ação, sob o fundamento de que o fato é atípico, pois o

local não estava interditado por órgão competente (do SISNAMA) – HC 42528.

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME AMBIENTAL. PESCAR EMLUGAR INTERDITADO POR ÓRGÃO COMPETENTE (LEI Nº 9.605/98, ART. 34).TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA (CPP, ART.43, INC. I). ORDEM CONCEDIDA.1. A interdição da área na qual o denunciado foi abordado, quando do patrulhamentorealizado por policiais militares no Rio São Francisco, no dia do fato narrado nadenúncia, nada tem com a preservação do meio ambiente, mas apenas com a garantia defuncionamento da barragem de Três Marias, da própria represa e com a integridadefísica de terceiros, traduzindo-se, em suma, numa medida de segurança adotada pelaCompanhia Energética de Minas Gerais – CEMIG.2. Assim sendo, não há justa causa para a instauração de ação penal, tendo em vista queo fato narrado na peça acusatória não constitui crime contra o meio ambiente, uma vezque a área não foi interditada por quaisquer dos órgãos a que se refere a Lei nº 9.605/98,ou seja, aqueles que constituem o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA(Lei nº 6.938/81, art. 6º), configurando constrangimento ilegal, por esse motivo, o

recebimento da denúncia ofertada pelo Ministério Público contra o paciente, pela prática, em tese, de delito ambiental.3. De fato, os órgãos ou entidades competentes são somente aqueles responsáveis pela

 proteção e melhoria da qualidade ambiental, na esfera da União, dos Estados, doDistrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas

 pelo Poder Público, que compõem o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA,nos termos da legislação de regência.4. Portanto, considerando que a CEMIG não tem competência para interditar área parafins de proteção do meio ambiente, o fato atribuído ao paciente não constitui crimeambiental, impondo-se a rejeição da denúncia com base no art. 43, inc. I, do Código deProcesso Penal.

5. Ordem concedida, para trancar a ação penal instaurada contra o paciente, comextensão dos efeitos desta decisão ao outro denunciado.(HC 42528/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, Rel. p/ Acórdão Ministro ARNALDOESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 07/06/2005, DJ 26/09/2005 p. 423)

Esse crime é punido na forma dolosa, portanto, se o pescador não sabe que o

local é interditado ou a época é proibida, não há a crime. A interdição do local

ou a proibição da época devem estar no dolo do agente, senão não há crime

por ausência de dolo.

Figuras equiparadas:

61

Page 62: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 62/66

Parágrafo único - Incorre nas mesmas penas quem:

I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferiores aos

 permitidos;

Essas espécies que devam ser preservadas ou em tamanhos inferiores aos

permitidos são definidas em atos normativos (trata-se de norma penal em

branco).

II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos,

 petrechos, técnicas e métodos não permitidos;

Ex: redes de arrasto com sensor (fecham e pescam todos os peixes de uma

vez).

III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta,

apanha e pesca proibidas.

Não está punindo o pescador.

Art. 35 - Pescar mediante a utilização de:

I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante;

Não se pode pescar com explosivo ou com substâncias de efeito explosivo.

II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente:

Crime da Lei 7643: Pescar ou molestar cetáceos

O que são cetáceos?

É a baleia, o golfinho.

Art. 1º Fica proibida a pesca, ou qualquer forma de molestamento intencional, de toda

espécie de cetáceo nas águas jurisdicionais brasileiras.

Esse crime está tacitamente revogado pela Lei Ambiental?

Resp Edis Milaré e Luis Regis Prado dizem que sim, que a lei foi tacitamente

foi revogada. Mas o STJ disse que o crime está em vigor.

62

Page 63: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 63/66

CRIMINAL. HC. CRIME CONTRA A FAUNA MARINHA. MOLESTAMENTOINTENCIONAL DE CETÁCEOS (BALEIAS). FILMAGEM PARA O PROGRAMA"AQUI E AGORA". NULIDADE DO ACÓRDÃO. FALTA DE PERÍCIA EM FITADE VÍDEO. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. DEFESA QUEPERMANECEU INERTE DURANTE A INSTRUÇÃO PROCESSUAL.

CONDENAÇÃO BASEADO EM OUTROS ELEMENTOS DE AUTORIA EMATERIALIDADE. ORDEM DENEGADA.Pacientes que estariam fazendo filmagem para o programa "Aqui e Agora", quandoteriam molestado baleias, visando à gravação de "cenas espetaculares", chegando a

 provocar uma colisão do barco com os animais. Não procede a alegação de nulidade por ausência de exame pericial em fita de vídeo, seevidenciado que a defesa permaneceu inerte durante toda a instrução criminal, quando

 poderia requerer a perícia no prazo da defesa prévia ou na oportunidade do art. 499 doCPP.Ressalva de que o pedido de realização da diligência só foi formulado em sede derecurso de apelação.Material (fita de vídeo) que não era desconhecido pelos pacientes, ao contrário, foi por eles mesmos produzido, motivo pelo qual deveriam ter formulado pedido de realizaçãode perícia durante a instrução do feito, caso considerassem importante para a defesa.Ausência de ilegalidade na sentença condenatória, mantida pelo Tribunal de origem,que se baseou em outros elementos existentes nos autos, formando a convicção do d.Julgador pela existência do crime e sua autoria, o que já dispensa o referido exame.Ordem denegada.(HC 19.279/SC, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em17/12/2002, DJ 10/03/2003 p. 256)

Causas excludentes de ilicitude nos crimes contra a fauna

Art. 37 - Não é crime o abate de animal, quando realizado:

I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família;

É desnecessária essa norma, porque já configura estado de necessidade do

CP.

II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que

legal e expressamente autorizado pela autoridade competente;

Veja que tem que ter autorização para abater o animal predatório. Portanto,

abater animal predatório ou destruidor com autorização, não é crime.

IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.

O animal tem que ser nocivo por definição de órgão competente.

63

Page 64: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 64/66

Crimes contra a FLORA

Conceito de FLORA: é a totalidade das espécies vegetais de umadeterminada região, sem qualquer expressão de importância individual.

Compreende também as algas e fitoplânctons marinhos flutuantes (Edis

Milaré).

 As infrações contra a flora eram contravenções previstas no art. 26 do Código

Florestal (Lei 4771/65). Essas contravenções estavam no art. 26, “a” a “q”.

Com a Lei dos Crimes Ambientais, só permaneceram em vigor as

contravenções penais das letras “e”, “j”, “l” e “m” do art. 26; as demais foram

tacitamente revogadas, passando a ser crime da LCA.

Art. 26. Constituem contravenções penais, puníveis com três meses a um ano de prisãosimples ou multa de uma a cem vezes o salário-mínimo mensal, do lugar e da data dainfração ou ambas as penas cumulativamente:

e) fazer fogo, por qualquer modo, em florestas e demais formas de vegetação, semtomar as precauções adequadas;

É diferente de incendiar a floresta.j) deixar de restituir à autoridade, licenças extintas pelo decurso do prazo ou pela

entrega ao consumidor dos produtos procedentes de florestas;l) empregar, como combustível, produtos florestais ou hulha, sem uso de

dispositivo que impeça a difusão de fagulhas, suscetíveis de provocar incêndios nasflorestas;

m) soltar animais ou não tomar precauções necessárias para que o animal de sua propriedade não penetre em florestas sujeitas a regime especial;

Crime do art. 38

Art. 38 - Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo

que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:

Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

Condutas: são três:

• Destruir: é aniquilar, fazes desaparecer;

Danificar: causar danos sem aniquilar;• Utilizar ilegalmente: utilizar infringindo normas de proteção.

64

Page 65: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 65/66

Objeto material do crime: apenas as florestas de preservação permanente (e

não qualquer floresta), adulta ou em formação.

O que é floresta? Florestas são grandes extensões de terra, cobertas por 

árvores de grande porte, não inclui vegetações rasteiras. Esse conceito é dado

pela doutrina e pelo STJ (RESP 783652).

PENAL. RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE. ART. 38,DA LEI Nº 9.605/98. EXTENSÃO DA EXPRESSÃO FLORESTA.O elemento normativo "floresta", constante do tipo de injusto do art. 38 da Lei nº9.605/98, é a formação arbórea densa, de alto porte, que recobre área de terra mais oumenos extensa. O elemento central é o fato de ser constituída por árvores de grande

 porte.

Dessa forma, não abarca a vegetação rasteira.Recurso desprovido.(REsp 783652/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em16/05/2006, DJ 19/06/2006 p. 196)

O que marca a floresta são as árvores de grande porte.

 Agora, o que são florestas de preservação permanente?

Floresta de preservação permanente é espécie do gênero área de preservação

permanente.

Quais são as florestas de preservação permanente? São todas que estão no

rol do art. 2º do Código Florestal e todas que sejam declaradas pelo poder 

público como de preservação permanente (art. 3º do Código Florestal).

Que poder público? Pode ser o poder público federal, estadual, municipal ou

distrital.

“Florestas das nascentes de rio”: também são de preservação permanente –

Lei 7754/89.

Art. 1º São consideradas de preservação permanente, na forma da Lei nº 4.771, de 15 de

setembro de 1965, as florestas e demais formas de vegetação natural existentes nas

nascentes dos rios.

65

Page 66: AMBIENTAL

5/16/2018 AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ambiental-55ab59f7d4e31 66/66

Florestas situadas em áreas indígenas: são de preservação permanente –

art. 3º, §2º Lei 4771/65:

§ 2º As florestas que integram o Patrimônio Indígena ficam sujeitas ao regime de preservação

permanente (letra g) pelo só efeito desta Lei.

Florestas artificiais: são florestas que foram feitas pelo homem (este fez o

florestamento ou reflorestamento) e podem ser declaradas como área de

preservação permanente.

Elemento subjetivo: dolo e culpa.

Parágrafo único - Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.

Obs: cortar árvores em floresta de preservação permanente configura o crime

do art. 39:

Art. 39 - Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem

 permissão da autoridade competente:

Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

 A única diferença é o verbo do núcleo do tipo, que é “cortar”, mas veja que

cortar é danificar.

66