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Data – 08/08/09 Disciplina: Direito Penal Especial Prof.: Sílvio Maciel
Aula: 02 Assunto: Crimes Ambientais I
Crimes Ambientais
Lei 9605/98
Basicamente toda a legislação penal especial relativa a crimes ambientais está
contida nessa lei.
Proteção do Meio Ambiente na Constituição Federal
Ao contrário das outras Constituições, a CF/ 88 tem um capítulo próprio relativo
ao Meio Ambiente e é o capítulo, segundo doutrina, é o diploma mais avançado
do mundo, em matéria de proteção ambiental.
Dentre todas as medidas de proteção do meio ambiente previstas neste
capítulo, nossa CF determina que as condutas lesivas ao meio ambiente sejam
punidas também no âmbito penal.
É o que Regis Prado chama de Mandato expresso de criminalização, ou seja,
há uma ordem expressa na CF para punir criminalmente infrações ambientais.
Disso se conclui o seguinte: o meio ambiente indiscutivelmente é um bem
jurídico que necessita de tutela penal. A CF determina que sejam punidos
criminalmente crimes ambientais, portanto, o meio ambiente deve ser tutelado
penalmente – por expressa previsão constitucional.
A Lei de Crimes Ambientais contém uma Parte Geral – artigos 2º a 28 – e uma
Parte Especial – artigos 29 e ss.
Hoje, nós vamos estudar a Parte Geral da lei penal ambiental. E na próxima
aula a gente estuda a parte especial, que estuda os crimes ambientais emespécie.
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Obs1: essa parte geral da lei penal ambiental contém regras próprias e
específicas, diferentes da parte geral do CP. Lógico: pelo princ da
especialidade (norma especial prevalece sobre a geral), essas regras gerais da
LPA prevalecem sobre as regras gerais do CP e sobre as regras gerais do
CPP. E no que a LPA for omissa, aplica-se subsidiariamente as regras do CP e
do CPP – é complementada por essas normas – e também a Lei 9099, porque
a grande maioria dos crimes ambientais é de menor potencial ofensivo.
Vamos começar a ver agora as regras próprias da LPA. Isso é o que está dito
no art. 79 da LPA:
Art. 79 - Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as disposições do CódigoPenal e do Código de Processo Penal.
Art. 2º: Responsabilidade penal de pessoas físicas
Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide
nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o
administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto oumandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir
a sua prática, quando podia agir para evitá-la.
• 1ª parte :
Essa primeira parte está apenas dizendo que é possível haver concurso de
pessoas em crimes ambientais. E qual foi a teoria sobre concurso de pessoas
adotada aqui?
Teoria monista ou unitário: todos, co-autores e partícipes, respondem pelo
mesmo crime. Ou seja, é a mesma teoria adotada pelo CP no art. 29, caput ,
portanto, era desnecessária essa primeira parte do artigo, pois bastaria aplicar
subsidiariamente o CP.
Lembrando que a palavra “culpabilidade” aqui não significa a culpabilidade
terceiro substrato do crime (teoria tripartite), e sim, segundo a sua maior oumenor colaboração para o resultado. Todos respondem pelo mesmo crime,
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mas não sofrem necessariamente a mesma pena. O crime é o mesmo para
todos, mas a pena é individualizada, dosada individualmente, de acordo com a
culpabilidade de cada um dos agentes.
• 2ª parte : trata da omissão penalmente relevante
“Bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o
gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de
outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la”.
Esta segunda parte está dizendo que diretores, administradores, gerentes etc.,
de pessoas jurídicas, respondem por crimes ambientais, tanto por ação, quanto
por omissão, ou seja, tanto quando agirem como quando se omitirem num
crime ambiental – quando ele comete o crime ambiental ou quando ele não
evita o crime ambiental, podendo evitar.
Na verdade, o que esse artigo 2º fez foi criar o chamado dever jurídico de agir
para essas pessoas, que torna a omissão delas penalmente relevante, nos
termos do art. 13, §2º, “a”, do CP:
Relevância da Omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar
o resultado. O dever de agir incumbe a quem: (Alterado pela L-007.209-1984)
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
É isso aí: o art. 2º da LPA está impondo aos diretores que ajam para evitar o
crime ambiental, se eles não agirem respondem pela omissão, pois por lei eles
têm o dever jurídico de evitar o crime ambiental.
Voltemos ao art. 2º, segunda parte:
“Bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o
gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de
outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la”.
Para que um diretor, administrador etc. seja punido pela omissão, a lei exige
dois requisitos:
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Que essa pessoa saiba da existência do crime (tenha ciência da conduta
criminosa de outrem);
Que possa agir para impedir o resultado.
Assim, para que essas pessoas respondam por crime ambiental, tem que haver
o implemento desses dois requisitos.
Esses dois requisitos, que estão na parte final do art. 2º, impedem a
responsabilidade penal objetiva desses representantes das pessoas jurídicas,
ou seja, impedem a responsabilidade penal sem dolo ou culpa.
Se o gerente não sabia da existência do crime ou não podia evitar a ocorrência
do crime, ele não pode ser responsabilizado pela omissão, sob pena de resp
penal objetiva – sem dolo e sem culpa.
Para evitar a resp penal objetiva, o STF e o STJ vêm rejeitando as chamadas
Denúncia Genéricas.
Denúncia Genérica
É aquela que inclui o diretor, o gerente, o preposto da pessoa jurídica na ação
penal apenas por ele ostentar tal qualidade, mas não descreve qual foi a
conduta criminosa dessa pessoa.
Em outras palavras, usando um termo do STF, não estabelece o mínimo
vínculo entre o comportamento dessa pessoa e o crime.
Veja: se a denúncia genérica não narra qual a conduta criminosa, ela nãoexpõe o fato criminoso, que é um dos requisitos da denúncia (expor o fato
criminoso com todas as suas circunstâncias). Então, a denúncia genérica é
INEPTA e deve ser rejeitada, porque impede o exercício do contraditório e da
ampla defesa
Veja: se a denúncia não narra qual o comportamento criminoso do gerente,
omissiva ou comissiva, ele vai se defender de que? Ele é incluído na ação
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penal pelo só fato de ser gerente da empresa. Só que ele não tem como se
defender se ele não sabe que fatos são a ele imputados.
Ex: uma fábrica no Rio Grande do Sul das indústrias Matarazzo estava
soltando fumaça além do permitido e o MP do RS incluiu na denúncia a
presidente das indústrias Matarazzo, que fica em São Paulo.
Sobre denúncia genérica: HC 86879, STF.
EMENTA: 1. Habeas Corpus. Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei no
7.492, de 1986). Crime societário. 2. Alegada inépcia da denúncia, por ausência de
indicação da conduta individualizada dos acusados. 3. Mudança de orientação
jurisprudencial, que, no caso de crimes societários, entendia ser apta a denúncia que não
individualizasse as condutas de cada indiciado, bastando a indicação de que os acusados
fossem de algum modo responsáveis pela condução da sociedade comercial sob a qual
foram supostamente praticados os delitos. Precedentes: HC no 86.294-SP, 2a Turma,
por maioria, de minha relatoria, DJ de 03.02.2006; HC no 85.579-MA, 2a Turma,
unânime, de minha relatoria, DJ de 24.05.2005; HC no 80.812-PA, 2a Turma, por
maioria, de minha relatoria p/ o acórdão, DJ de 05.03.2004; HC no 73.903-CE, 2a
Turma, unânime, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ de 25.04.1997; e HC no 74.791-RJ, 1a
Turma, unânime, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 09.05.1997. 4. Necessidade de
individualização das respectivas condutas dos indiciados. 5. Observância dos princípios
do devido processo legal (CF, art. 5o, LIV), da ampla defesa, contraditório (CF, art. 5o,
LV) e da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1o, III). Precedentes: HC no 73.590-SP,
1a Turma, unânime, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 13.12.1996; e HC no 70.763-DF,
1a Turma, unânime, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 23.09.1994. 6. No caso concreto,
a denúncia é inepta porque não pormenorizou, de modo adequado e suficiente, a
conduta do paciente. 7. Habeas corpus deferido
(HC 86879, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 21/02/2006, DJ 16-06-2006 PP-
00028 EMENT VOL-02237-02 PP-00278 RTJ VOL-00199-01 PP-00352 LEXSTF v.
28, n. 332, 2006, p. 485-504)
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Obs: denúncia genérica é diferente de denúncia geral Pacelli fala que esses
conceitos não podem ser confundidos. Denúncia geral é aquela que narra o
fato criminoso com todas as suas circunstâncias e o imputa indistintamente
(genericamente) a todos os acusados. A denúncia narra o fato e diz que o fato
foi praticado por todos os acusados. Não temos aqui um caso de inépcia, pois
se todos os acusados praticaram ou não aquele fato criminoso, isso é matéria
de prova e não matéria de admissibilidade da acusação (não é caso de
inépcia). Já a denúncia genérica é aquela que não diz qual foi o
comportamento criminoso praticado por um dos denunciados. Essa, sim, tem
que ser rejeitada por inépcia.
Veja, o STJ, em dois julgados, já fez a distinção entre denúncia genérica e
denuncia geral RHC 24515 e RHC 22593.
1) RHC 24515
PROCESSO PENAL – HABEAS CORPUS – CRIME TRIBUTÁRIO –
ATRIBUIÇÃO DO DELITO AOS MEMBROS DA DIRETORIA, POR MERA
PRESUNÇÃO - AUSÊNCIA DE VÍNCULO ENTRE UM DETERMINADO ATO
E O RESULTADO CRIMINOSO. DENÚNCIA GENÉRICA E
CONSAGRADORA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA – RECURSO
PROVIDO PARA DECLARAR A INÉPCIA FORMAL DA DENÚNCIA E A
CONSEQUENTE NULIDADE DOS ATOS POSTERIORES.
De nada adiantam os princípios constitucionais e processuais do
contraditório, da ampla defesa, em suma, do devido processo legal na face
substantiva e processual, das próprias regras do estado democrático dedireito, se permitido for à acusação oferecer denúncia genérica, vaga, se não
se permitir a individualização da conduta de cada réu, em crimes
plurissubjetivos.
O simples fato de uma pessoa pertencer à diretoria de uma empresa, só por
só, não significa que ela deva ser responsabilizada pelo crime ali praticado,
sob pena de consagração da responsabilidade objetiva repudiada pelo nosso
direito penal.
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É possível atribuir aos denunciados a prática de um mesmo ato (denúncia
geral), porquanto todos dele participaram, mas não é possível narrar vários
atos sem dizer quem os praticou, atribuindo-os a todos, pois neste caso não
se tem uma denúncia geral, mas genérica.
Recurso provido para declarar a inépcia da denúncia e a nulidade dos atos
que lhe sucederam.
(RHC 24515/DF, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em 19/02/2009, DJe
16/03/2009)
2) RHC 22593
PROCESSO PENAL. RHC. TENTATIVA DE ESTELIONATO. PEDIDO DE
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ALEGAÇÃO DE INÉPCIA DA
DENÚNCIA E AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. INOCORRÊNCIA. DENÚNCIA
GERAL QUE NARROU SATISFATORIAMENTE AS CONDUTAS
IMPUTADAS AOS ACUSADOS. EXCESSO NA IMPUTAÇÃO DOS CRIMES
DE FALSIDADE IDEOLÓGICA E USO DE DOCUMENTO FALSO.INCIDÊNCIA DA SÚMULA 17 DO STJ. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.
1- É geral, e não genérica, a denúncia que atribui a mesma conduta a todos
os denunciados, desde que seja impossível a delimitação dos atos praticados
pelos envolvidos, isoladamente, e haja indícios de acordo de vontades para o
mesmo fim.
2- O trancamento de uma ação penal exige que a ausência de comprovação
da existência do crime e dos indícios de autoria, bem como a atipicidade da
conduta ou a existência de uma causa extintiva da punibilidade esteja
evidente, independente de aprofundamento na prova dos autos, situação
incompatível com a estreita via do recurso ordinário em habeas corpus.
3. A falsidade quando se presta a fomentar única e exclusivamente oestelionato, há de ser por este absorvido. Súmula 17 do STJ.
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4. Recurso parcialmente provido para excluir da denúncia a imputação dos
crimes dos artigos 299 e 304 do Código Penal.
(RHC 22593/SP, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA
CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 25/09/2008, DJe
13/10/2008)
Art. 3º: Responsabilidade penal das pessoas jurídicas
A polêmica sobre a resp penal da pessoa jurídica começou com a CF/ 88 (até
então não se falava em resp penal da pessoa jurídica no Brasil), que em seu
art. 225, §3º:
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão osinfratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
Essa discussão ganhou força de vez com o art. 3º da LCA, que dispõe da
seguinte forma:
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente
conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de
seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício
da sua entidade.
Ora, se está escrito na CF e na LCA que a pessoa jurídica tem resp, então, não
há discussão?
Sem embargo dessas previsões constitucionais e legais, ainda há muita
discussão acerca da resp penal da pessoa jurídica.
Vamos dividir essas opiniões em três correntes:
1ª corrente: sustenta que a CF/ 88 não prevê a responsabilidade penal da
pessoa jurídica. A CF não criou a resp penal da pessoa jurídica. Portanto, para
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a primeira corrente sequer se discute se pessoa jurídica pratica ou não crime.
Os argumentos dessa corrente são dois:
1) A correta interpretação do art. 225, §3º, da CF leva à conclusão de que
não está prevista a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Veja o
raciocínio: voltemos ao art. 225, §3º:
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão osinfratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
Eles dizem que o que a CF diz é que conduta é praticada por pessoa
física, que sofre sanção penal e que pessoa jurídica exerce atividade,
sofrendo sanção administrativa, sendo que ambas têm obrigação de
reparar o dano – responsabilidade civil.
Condutas pessoas físicas sanções penais.
Atividades pessoas jurídicas sanções administrativas.
Pessoa física + pessoa jurídica responsabilidade civil.
2) O princípio da personalidade da pena, previsto no art. 5º, XLV, da CF
impede a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Por que impede?
Porque esse princípio diz que a pena não passará da pessoa do
infrator e o infrator é sempre pessoa física. Portanto, não é possível
transferir a responsabilidade penal da pessoa física, que é o infrator,
para a pessoa jurídica. E o que fazer com o art. 3º da LCA? Sob a
ótica desta primeira corrente, o art. 3º da LCA é inconstitucional, porque
ele ofende materialmente os artigos 225, §3º e 5º, XLV, ambos da CF,
que interpretados sistematicamente proíbem a responsabilidade penal
da pessoa jurídica. Perceba que a para a primeira corrente, o problema
está na Constituição, que não permite a resp penal da pessoa jurídica.
São adeptos dessa primeira corrente: Regis Prado, Bittencourt, Miguel Reale,
Pierangelli, entre outros.
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2ª corrente: sustenta que pessoa jurídica não pode cometer crimes, de acordo
com o brocardo societas delinquere non potest . Esta corrente tem seu ponto
forte de argumentação na Teoria Civilista da Ficção Jurídica, de Savigny e
Feuerbach. Essa teoria sustenta que as pessoas jurídicas são entes fictícios,
irreais, ou seja, puras abstrações jurídicas desprovidas de consciência e
vontade próprias. Logo, não podem cometer atos tipicamente humanos, como
as condutas criminosas. Esta primeira corrente, partindo do pressuposto que a
pessoa jurídica é uma ficção, é algo que não tem vontade/ consciência, levanta
os seguintes argumentos:
1) As pessoas jurídicas não têm capacidade de conduta. Perceba que
todos os argumentos dessa 2ª corrente tem como pressuposto a idéia
de que a pessoa jurídica é algo fictício. Por que pessoa jurídica não tem
capacidade de conduta? Porque não tem vontade e finalidade (no
sentido humano), logo, não atuam como dolo ou culpa. Portanto, punir
penalmente a pessoa jurídica significa responsabilidade penal objetiva
(punir sem dolo ou culpa), vedada no Direito Penal.
2) Pessoas jurídicas não agem com culpabilidade (os elementos da
culpabilidade são: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude eexigibilidade de conduta diversa). As pessoas jurídicas não têm
imputabilidade – capacidade de querer e pode – nem potencial
consciência da ilicitude – não tem capacidade de entender o caráter
criminoso do fato. Se as pessoas jurídicas não têm culpabilidade, não
podem sofrer penas, pois independente da teoria adota, a culpabilidade
é pressuposto para aplicação de pena – se não houver culpabilidade, o
CP fala “é isento de pena”.3) As penas, ainda que pudessem ser aplicadas às pessoas jurídicas, não
têm nenhuma finalidade em relação às pessoas jurídicas. Por quê? ->
Porque se as pessoas jurídicas são entes fictícios, elas são incapazes
de assimilar os efeitos de uma sanção penal. As finalidades da pena de
prevenção geral, prevenção especial, ressocialização, em nada atingem
a pessoa jurídica.
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Se pessoa jurídica não tem dolo nem culpa, não tem culpabilidade, etc. sob a
perspectiva dessa segunda corrente, o art. 225, §3º, da CF – que prevê a
responsabilidade penal das pessoas jurídica – é uma norma constitucional não
auto-aplicável, não auto-executável, isto é, depende de regulamentação
infraconstitucional.
E qual seria essa regulamentação infraconstitucional? A criação de uma
teoria do crime e da pena e de institutos processuais próprios e compatíveis
com a natureza fictícia da pessoa jurídica.
Um dos argumentos mais utilizados hoje em dia é que a França criou a resp
penal das pessoas jurídicas. Só que lá foi feita a chamada: lei de adaptação, ouseja, uma lei com institutos próprios à pessoa jurídica. Porque, tal como aqui, o
CP francês não tinha uma teoria própria às pessoas jurídicas – eram
específicas às pessoas físicas.
Os autores que defendem a segunda corrente são todos os que defendem a
primeira corrente e ainda LFG, Zaffaroni, Rogério Greco, Delmanto, Clóvis
Beviláqua.
3ª corrente: as pessoas jurídicas cometem crimes – societas delinquere
poteste. Essa terceira corrente tem seu ponto forte de argumentação na Teoria
da Realidade ou da Personalidade Real, de Otto Gierke. Essa teoria, também
civilista, se opõe à teoria da ficção jurídica de Savigny. A teoria da realidade
sustenta que as pessoas jurídicas são entes reais, com capacidade e vontade
próprias, distintas das pessoas físicas que as compõe. Portanto, para essa
teoria da realidade, as pessoas jurídicas não são meras ficções jurídicas ouabstrações legais. Logo, elas podem cometer crimes e sofrer penas.
E quanto à culpabilidade? Quanto à culpabilidade, essas pessoas sofrem o
que STJ chama de Culpabilidade Social ou também chamada de Culpa
Coletiva: parte da idéia que a empresa é um centro autônomo de emanação de
decisões, portanto, pode sofrer responsabilidade penal. Nucci diz que pessoa
jurídica tem vontade própria, portanto, não há resp penal objetiva em puni-la.
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Outros argumentos dessa terceira corrente:
1) O art. 225, §3º, da CF prevê, sim, a responsabilidade penal da pessoa
jurídica. Assim como, o art. 3º da LCA também a prevê. Portanto, aqui,
vem o argumento puramente dogmático: se a CF e a lei prevêem é obvia
a possibilidade de resp penal da pessoa jurídica. Se a CF, norma do
poder constituinte originário, e a LCA prevêem a resp penal da pessoa
jurídica, esta é, sim, possível.
2) Não ocorre violação ao princ da personalidade da pena, porque a resp
penal está recaindo sobre o autor do crime, que é a pessoa jurídica,
então, não está sendo transferida a responsabilidade penal. Não há se
falar em transferência de responsabilidade penal da pessoa física para a
pessoa jurídica, a resp penal está recaindo sobre o autor do crime, que é
a pessoa jurídica, a qual pode cometer crimes, pois ela é uma realidade.
Essa terceira corrente é adotada pelos penalistas ambientalistas, Paulo Afonso
Machado, Herman Benjamim, Damásio, Sérgio Salomão Schecaira, Ada
Pellegrini, Nucci, entre outros.
Requisitos legais para a responsabilização da pessoa jurídica.
Mesmo que se admita resp penal da pessoa jurídica, para se punir a pessoa
jurídica no Brasil, a lei exige dois requisitos:
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente
conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de
seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício
da sua entidade.
Sem esses dois requisitos exigidos pela própria lei – que são cumulativos, não
há que se falar em responsabilidade penal da pessoa jurídica:
i. Decisão de representante legal ou contratual ou do órgão colegiado da
pessoa jurídica;
ii. Infração praticada no interesse ou em benefício da pessoa jurídica.
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Sem esses dois requisitos exigidos pelo art. 3º, não há que se responsabilizar a
pessoa jurídica.
Ex: o funcionário da motosserra, por sua conta e risco, resolve invadir Área de
Preservação Permanente (APP) e cortar árvores ilegalmente. Dá para punir a
pessoa jurídica? Não, porque a decisão do crime foi do funcionário, que não é
nem representante legal, nem órgão colegiado da pessoa jurídica, embora esta
tenha sido beneficiada pelo crime.
A JURISPRUDÊNCIA, além disso, VEM EXIGINDO QUE DENÚNCIA, SOB PENA DE INÉPCIA, INDIQUE
QUAL FOI A DECISÃO DO REPRESENTANTE LEGAL OU ÓRGÃO COLEGIADO E QUAL FOI O BENEFÍCIO OU
INTERESSE DA PESSOA JURÍDICA NO CRIME. Se a denúncia contra a pessoa jurídica nãotiver esses requisitos, é inepta.
Jurisprudência sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica
O STF em sua composição atual ainda não se manifestou sobre a resp penal
da pessoa jurídica.
O que nós temos são posicionamentos dos Ministros, que durantes debatesenvolvendo crimes ambientais, acabam se posicionando obter dicta (de
passagem), contra ou a favor.
Já o STJ tem posição firmada: ele admite a resp penal da pessoa jurídica. O
STJ admite que a pessoa jurídica seja denunciada por crime ambiental, desde
que ela seja denunciada juntamente com a(s) pessoa(s) física(s)
responsável(eis) pela infração. Em outras palavras: o STJ não admite denúncia
isolada contra a pessoa jurídica – denúncia isolada contra a pessoa jurídica.
Há vários julgados do STJ nesse sentido: RESP 889528.
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. CRIMES CONTRA O MEIO
AMBIENTE. DENÚNCIA REJEITADA PELO E. TRIBUNAL A QUO. SISTEMA
OU TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO.
Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde que
haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou
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em seu benefício, uma vez que "não se pode compreender a responsabilização do ente
moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo
próprio" cf. Resp nº 564960/SC, 5ª Turma, Rel. Ministro Gilson Dipp, DJ de
13/06/2005 (Precedentes).Recurso especial provido.
(REsp 889528/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
17/04/2007, DJ 18/06/2007 p. 303)
O que acontece se a pessoa física for excluída da ação?
Ex: o MP denunciou os diretores da empresa e a pessoa jurídica. Os diretores
impetraram HC alegando que eles não sabiam do crime e não podiam evitar –resp penal objetiva. O STJ concedeu o HC para os diretores, entendendo que
se tratava de denúncia genérica e excluiu os diretores da ação. Sobrou apenas
a pessoa jurídica na ação, então, o STJ trancou de ofício a ação penal contra a
pessoa jurídica – RMS 16696.
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO
PROCESSUAL PENAL.
CRIME AMBIENTAL. RESPONSABILIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA.
POSSIBILIDADE. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. INÉPCIA DA
DENÚNCIA.
OCORRÊNCIA.
1. Admitida a responsabilização penal da pessoa jurídica, por força de sua previsão
constitucional, requisita a actio poenalis, para a sua possibilidade, a imputação
simultânea da pessoa moral e da pessoa física que, mediata ou imediatamente, no
exercício de sua qualidade ou atribuição conferida pelo estatuto social, pratique o fato-
crime, atendendo-se, assim, ao princípio do nullum crimen sine actio humana.
2. Excluída a imputação aos dirigentes responsáveis pelas condutas incriminadas, o
trancamento da ação penal, relativamente à pessoa jurídica, é de rigor.
3. Recurso provido. Ordem de habeas corpus concedida de ofício.
(RMS 16696/PR, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA,
julgado em 09/02/2006, DJ 13/03/2006 p. 373)
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Os TRF’s todos admitem resp penal da pessoa jurídica. Portanto, na
jurisprudência, o entendimento é pela resp penal da pessoa jurídica.
Mas para concurso você deve adotar a posição do STJ.
Temas finais:
A) Sistema da dupla imputação ou de imputações paralelas:
Esse sistema está no art. 3º, parágrafo único da Lei Ambiental:
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas,
autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.
O sistema da dupla imputação significa o seguinte: pode ser denunciada
apenas a pessoa física ou pode ser denunciada a pessoa física e a pessoa
jurídica, pelo mesmo fato.
Ou seja, pelo mesmo crime podem ser denunciadas: as pessoas jurídica e
física ou só a pessoa física.
Esses sistemas de imputações paralelas não geram bis in idem (que
significa punir duas vezes pelo mesmo fato)?
Punir duas vezes pelo mesmo fato, bis in idem, não é possível em direito
penal. Carlos Constantino diz que o sistema da dupla imputação gera bis in
idem, mas só ele acha isso.
O bis in idem proíbe punir duas vezes pelo mesmo fato a mesma pessoa e
no sistema da dupla imputação pune-se pelo mesmo fato pessoas
diferentes – pessoa física e pessoa jurídica. Portanto, não há dupla punição
sobre a mesma pessoa. O STJ decidiu isso, em 2005.
Agora, é possível denunciar apenas a pessoa jurídica, nos termos desse
art. 3º, parágrafo único?
Nós já vimos que o STJ disse que não – não por causa do sistema da duplaimputação, é por causa do caput , que diz que a pessoa jurídica só tem resp
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penal se o crime foi cometido por decisão de seu representante legal ou
contratual ou órgão colegiado.
Ou seja, a pessoa jurídica sofre a chamada responsabilidade penal por
ricochete ou de empréstimo (sistema francês de resp penal da pessoa
jurídica) resp penal por atos de seu representante ou de seu órgão
colegiado.
Não escreva que a pessoa jurídica tem que ser denunciada com a pessoa
jurídica por conta do sistema da dupla imputação, mas sim pela resp penal
por ricochete, a qual gera, a seu turno, a dupla imputação.
B) Responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes CULPOSOS
O professor Edis Milaré sustenta que pessoa jurídica não pode ser
responsabilizada penalmente em crime culposo, porque essa
impossibilidade de punição é uma decorrência lógica do art. 3º, porque a
pessoa jurídica só pode ser responsabilizada se houver uma decisão de seu
representante legal ou órgão colegiado. E essa decisão tem que ser
necessariamente uma decisão dolosa, tem que ser uma vontade livre e
consciente de praticar atos que compõe o tipo penal.
É esse o entendimento que prevalece? Não, tanto que a Petrobrás é
denunciada por vazamento de óleo culposo.
Assim, a jurisprudência admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica,
inclusive, em crimes culposos. Desde que haja uma decisão culposa do seu
representante legal ou órgão colegiado e o nexo de causalidade entre essa
decisão e o resultado culposo.
Ex: um gerente da empresa, para diminuir custos, não instala os aparelhos
adequados para o escoamento de substâncias poluentes. Isso causa um
acidente que polui o rio. Veja que ele tomou uma decisão culposa,
negligente, de não instalar os aparelhos e essa decisão negligente foi a
causa do vazamento e da poluição. Isso é perfeitamente possível, pois se
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trata de uma decisão culposa tem pleno nexo de causalidade com o
resultado culposo – poluição do rio.
Obviamente tudo isso tem que ficar demonstrado no processo; tem que
estar narrada na denúncia qual foi a conduta culposa e o nexo de
causalidade com o resultado.
C) Responsabilidade penal de pessoas jurídicas de direito Público
Pessoa jurídica de direito público pode ser ou não punida criminalmente?
Nem a CF nem a LCA especificam a pessoa jurídica que pode ser punida,
sem especificar se são de direito público ou de direito privado.
Como a CF e a LCA mencionam genericamente as pessoas jurídicas, há
duas correntes:
1ª corrente: pessoa jurídica de Direito Público pode ser responsabilizada
penalmente. Porque se CF e a LCA não distinguiram entre pessoa jurídica
de direito privado e direito público, não cabe ao intérprete distinguir.
Entendem assim Nucci, Paulo Afonso Machado.
LFG admite a responsabilidade de pessoa jurídica de direito público, mas
não a responsabilidade penal, mas sim o que chamamos de direito penal
sancionador.
2ª corrente: não é possível responsabilidade penal de pessoa jurídica de
Direito Público. Argumentos: (a) o estado não pode punir a si mesmo, pois
ele já tem o monopólio do direito de punir; (b) as duas penas possíveis de
serem aplicadas à pessoa jurídica são inviáveis em relação às pessoas
jurídicas de direito público. Essas penas são: multa e restritiva de direitos. A
multa aplicada a uma pessoa jurídica de direito público recairia sobre os
próprios cidadãos, pois ela seria paga com o dinheiro dos cofres públicos,
ou seja, em ultima análise, essa pena recairia sobre os próprios cidadãos.
Já as penas restritivas de direitos são inúteis, porque já é função do poder
público prestar serviços sociais; é próprio de o estado prestar serviços à
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comunidade. Adotam essa corrente: Edis Milaré, Vladimir e Gilberto Passos
de Freitas.
Não há corrente majoritária, pois a doutrina se divide e não há decisões da
jurisprudência sobre o assunto.
Art. 4º: Desconsideração da Pessoa jurídica
Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo
ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.
Hoje é uma realidade no Direito Civil e no Direito do Consumidor a
desconsideração, mas para efeitos de responsabilidade civil.
É possível aplicar a desconsideração para efeitos penais?
A doutrina penalista diz que não é possível aplicar a desconsideração da
pessoa jurídica para efeitos de responsabilização penal, tendo em vista o
princípio da intranscendência da responsabilidade penal ou princ da personalidade da pena. Ou seja, tendo em vista o art. 5º, XLV:
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar odano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aossucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
Se a resp penal não pode passar da pessoa do infrator, assim, você não pode
desconsiderar a pessoa jurídica para transferir a sanção penal aplicada a ela
para a pessoa física.
Essa transferência que estaria ocorrendo com a desconsideração da
personalidade jurídica, estaria ferindo o princ da personalidade da pena.
Teoria da Pena nos crimes ambientais
O juiz aplica a pena em três etapas:
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• 1ª etapa: o juiz fixa a quantidade da pena, utilizando o critério trifásico ou
critério Nelson Hungria, do art. 68 do CP:
a) Fixa a pena-base: tomando em conta as circunstâncias judiciais do
art. 59 do CP.
b) Pena-intermediária: sobre a pena-base ele aplica atenuantes e
agravantes genéricas.
c) Pena-definitiva: sobre a pena-intermediária aplica as causas de
aumento e de diminuição de pena.
• 2ª etapa: fixada a pena, o juiz fixa o regime inicial de cumprimento da
pena.• 3ª etapa: o juiz verifica a possibilidade de substituição por restritiva de
direitos ou concessão de sursis.
Vamos aplicar essa teoria da pena aos crimes ambientais – vamos falar o que
tem de diferente; no que a LCA for omissa, aplica-se o CP>
Fixação da pena-base
O juiz utiliza as circunstâncias judiciais do art. 6º da LCA:
Art. 6º Para imposição e gradação (= pena-base) da penalidade, a autoridade competente
observará:
I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas conseqüências
para a saúde pública e para o meio ambiente;
No art. 59 do CP fala-se em conseqüências do crime para a vítima ou seusdependentes; aqui, o juiz leva em conta as conseqüência do crime para o meio
ambiente e para a saúde pública.
II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse
ambiental;
O juiz vai ver se o réu tem bons ou maus antecedentes ambientais.
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Cuidado: bons ou maus antecedentes ambientais não se referem
exclusivamente a crimes ambientais, mas também ao cumprimento da
legislação ambiental.
Ex: suponha que o autor nunca tenha sido processado por crime ambiental,
mas já tem 20 multas administrativas por violação à lei ambiental ele tem
maus antecedentes ambientais, pois ele é um contumaz descumpridor da
legislação administrativa ambiental.
III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.
A situação econômica do infrator se for pena de multa, funciona como
circunstância judicial nos crimes ambientais.
Supletivamente, o juiz vai utilizar-se das circunstâncias judiciais do art. 59 do
CP.
Aplicação de agravantes e atenuantes
A lei ambiental tem as suas próprias agravantes e atenuantes, previstas nos
artigos 14 e 15.
Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:
I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;
É atenuante de pena nos crimes ambientais. Mas o que é baixo grau de
escolaridade ou de instrução?
É o juiz que vai decidir no caso concreto.
Obs: se esse baixo grau de instrução ou de escolaridade retirar a potencial
consciência da ilicitude do agente, estaremos diante de erro de proibição (art.
21 do CP).
II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano,
ou limitação significativa da degradação ambiental causada;
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Reparação do dano ambiental, portanto, é atenuante genérica de pena.
A reparação do dano em crime cometido sem violência, por ato espontâneo do
agente, antes do recebimento da denúncia, é arrependimento posterior – art.
16 do CP:
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,
reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da
queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
Isso é melhor que atenuante? Sim, pois essa causa de diminuição pode reduzir
a pena abaixo do mínimo legal, ao passo que a atenuante não pode.
Se o infrator ambiental repara o dano antes do recebimento da denúncia aplica-
se o CP ou a LCA?
Resp A doutrina diz que a reparação do dano, seja antes ou depois do
recebimento da denúncia, é sempre atenuante genérica nos crimes ambientais.
Ou seja: não se aplica o art. 16 do CP – do arrependimento posterior – aos
crimes ambientais.
Quem sustenta isso é Delmanto.
III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental;
Veja: se o infrator comunicou às autoridades ambientais sobre a possível
degradação – perigo da degradação isso é atenuante de pena nos crimes
ambientais.
IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle
ambiental.
Essa colaboração com as autoridades ambientais é na apuração dos crimes
ambientais. Essa colaboração espontânea é chamada por Delmanto de
delação premiada ambiental.
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Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena , quando não constituem ou
qualificam o crime:
I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;
Veja a importância aqui: nos crimes ambientais, só existe agravante se for
reincidência específica em crime ambiental. Isso significa que o criminoso
ambiental só é reincidente se ele possuir condenação definitiva anterior por
outro crime ambiental. Se ele não tiver condenação definitiva por outro crime
ambiental, não é reincidente.
Ex: condenação definitiva por furto + crime ambiental não é reincidente,
porque não é reincidência em crime ambiental.
E o contrário, é ou não reincidente (crime ambiental + crime comum)?
SIM, porque aí se aplica a reincidência do CP. Será reincidente nos termos no
do art. 63, do CP se o infrator tem uma condenação definitiva por crime
ambiental e comete outro crime.
Obs1: a reincidência específica não exige que sejam ambos os crimes da Lei9605, pode ser qualquer crime de natureza ambiental, pois o inciso I não diz
“reincidência nos crimes desta lei”, mas sim “nos crimes de natureza
ambiental”.
Obs2: se o réu tem condenação definitiva ambiental e comete um crime
ambiental, não é reincidente, porque condenação por contravenção não gera
reincidência na prática de crime.
II - ter o agente cometido a infração:
a) para obter vantagem pecuniária;
b) coagindo outrem para a execução material da infração;
c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio
ambiente;
d) concorrendo para danos à propriedade alheia;
e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial de uso;
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f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;
g) em período de defeso à fauna;
h) em domingos ou feriados;
i) à noite;
j) em épocas de seca ou inundações;
l) no interior do espaço territorial especialmente protegido;
m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;
n) mediante fraude ou abuso de confiança;
o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;
p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas
públicas ou beneficiada por incentivos fiscais;
q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades
competentes;
r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.
Causas de aumento e de diminuição
Devem ser levadas em conta as causas de aumento e de diminuição de pena
previstas no CP. Por exemplo, tentativa e crime continuado são causas de
diminuição e aumento, respectivamente, previstas no CP e que se aplicam aos
crimes ambientais.
Fixação de regime inicial de cumprimento de pena:
O juiz só vai fixar o regime inicial de cumprimento de pena, se for pessoa física.
Como a legislação ambiental não tem nenhuma regra específica, aplica-se
inteiramente o CP nesse ponto.
Possibilidade de substituição por pena restritiva de direito
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO DAS PESSOAS FÍSICAS: requisitos art. 7º, da LCA:
Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de
liberdade quando:
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I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade inferior a
quatro anos;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a
substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime.
São dois requisitos:
• Que a condenação seja crime culposo ou, se for crime doloso, que a
pena seja inferior a 04 anos (no CP cabe substituição por restritivas de
direito nas condenações iguais ou inferiores a 04 anos; ao passo que na
LCA só as condenações inferiores a 04 anos). Significa dizer que se oindivíduo for condenado a 04 anos por crime ambiental, não terá direito
à substituição por restritiva de direitos.
• Circunstâncias judiciais favoráveis.
LCA CP• Crime culposo; ou
• Crime doloso: condenação < 04
anos.
• Crime culposo; ou
• Crime doloso: condenação = ou
< 04 anos.Circunstâncias judiciais favoráveis. Circunstâncias judiciais favoráveis.(Os crimes ambientais são cometidos
contra a fauna e contra a flora e não
contra a pessoa).
Que o crime seja sem violência ou
grave ameaça à pessoa.
Que o condenado não seja
reincidente em crime doloso.
Observações:
i. Na lei ambiental, as penas restritivas de direitos têm duas
características: autonomias e substitutividade – art. 7º, caput :
Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade
quando:
É como no CP.
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ii. A pena restritiva de direitos tem a mesma duração da pena de prisão
substituída – parágrafo único do art.7º:
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo terão a mesma
duração da pena privativa de liberdade substituída.
Exceção a pena de interdição temporária de direitos.
Espécies de penas restritivas de direitos nos crimes ambientais
Vejamos o art. 8º:
Art. 8º As penas restritivas de direito são:
I - prestação de serviços à comunidade;
II - interdição temporária de direitos;
III - suspensão parcial ou total de atividades;
IV - prestação pecuniária;
V - recolhimento domiciliar.
Essas são as cinco penas restritivas de direitos da lei ambiental. Os artigosseguintes definem o que é cada uma dessas penas restritivas.
Vamos comparar as penas restritivas da lei ambiental com as do CP.
LCA CPPrestação de serviços à
comunidade – art. 9º:
Art. 9º A prestação de serviços à comunidade
consiste na atribuição ao condenado de
tarefas gratuitas junto a parques e jardins
públicos e unidades de conservação, e, no
caso de dano da coisa particular, pública ou
tombada, na restauração desta, se possível.
Prestação de serviços à
comunidade – art. 46, §2º:
§ 2º A prestação de serviço à comunidade dar-
se-á em entidades assistenciais, hospitais,
escolas, orfanatos e outros estabelecimentos
congêneres, em programas comunitários ou
estatais.
Interdição temporária de direitos (é Interdição temporária de direitos –
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a única que não tem o mesmo prazo
da pena de prisão) – art. 10:
Art. 10. As penas de interdição temporária de
direito são a proibição de o condenadocontratar com o Poder Público, de receber
incentivos fiscais ou quaisquer outros
benefícios, bem como de participar de
licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso
de crimes dolosos, e de três anos, no de
crimes culposos.
A interdição temporária de direitos
dura:
• 05 anos crimes dolosos;
• 03 anos crimes culposos.
Veja que ela não tem a mesma
duração que a pena de prisão, ela é
maior.
art. 47, I a IV:
Art. 47 - As penas de interdição temporária de
direitos são:
I - proibição do exercício de cargo, função ouatividade pública, bem como de mandato
eletivo;
II - proibição do exercício de profissão,
atividade ou ofício que dependam de
habilitação especial, de licença ou autorização
do poder público;
III - suspensão de autorização ou de
habilitação para dirigir veículo.
IV - proibição de freqüentar determinados
lugares.
Suspensão parcial ou total de
atividades – art. 11:
Art. 11. A suspensão de atividades será
aplicada quando estas não estiverem
obedecendo às prescrições legais.
Não existe correspondente.
Prestação pecuniária – art. 12:
Art. 12. A prestação pecuniária consiste nopagamento em dinheiro à vítima ou à entidade
pública ou privada com fim social, de
importância, fixada pelo juiz, não inferior a um
salário mínimo nem superior a trezentos e
sessenta salários mínimos. O valor pago será
deduzido do montante de eventual reparação
civil a que for condenado o infrator.
Obs1: se o beneficiário aceitar, essa
Prestação pecuniária – art. 45, §1º:
§ 1º A prestação pecuniária consiste nopagamento em dinheiro à vítima, a seus
dependentes ou a entidade pública ou privada
com destinação social, de importância fixada
pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo
nem superior a 360 (trezentos e sessenta)
salários mínimos. O valor pago será deduzido
do montante de eventual condenação em ação
de reparação civil, se coincidentes os
beneficiários.
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prestação em dinheiro pode ser
substituída por prestação de outra
natureza (ex: serviços, materiais de
construção). É a chamada prestação
inominada, que substitui a prestação
pecuniária.
Obs2: se a prestação pecuniária não
for paga pode ser convertida em
prisão? SIM, é pacífico no STJ que
a prestação pecuniária quando nãofor paga pode ser convertida em
prisão (porque esta também é pena
privativa de direitos).
Veja que a LCA só fala na vítima, ao
passo que o CP fala na vítima e seus
sucessores.
Recolhimento domiciliar – art. 13:
Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se na
autodisciplina e senso de responsabilidade do
condenado, que deverá, sem vigilância,trabalhar, freqüentar curso ou exercer
atividade autorizada, permanecendo recolhido
nos dias e horários de folga em residência ou
em qualquer local destinado a sua moradia
habitual, conforme estabelecido na sentença
condenatória.
Limitação de fim de semana –
art.48:
Art. 48 - A limitação de fim de semana
consiste na obrigação de permanecer, aossábados e domingos, por 5 (cinco) horas
diárias, em casa de albergado ou outro
estabelecimento adequado.
Não confunda pena de prestação pecuniária, que, se não for paga, pode ser
convertida em prisão, porque é espécie de pena restritiva de direitos; com apena pecuniária, a multa, que não pode ser convertida em prisão. Isso é
pacífico no STJ e no STF.
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS DAS PESSOAS JURÍDICAS: art.21
Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas,
de acordo com o disposto no art. 3º, são:
I - multa;II - restritivas de direitos;
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III - prestação de serviços à comunidade.
A pessoa jurídica só pode sofrer dois tipos de penas, a multa e a restritiva de
direitos.
Obs1: as penas restritivas de direitos das pessoas jurídicas não são
substitutivas, são penas principais. Então, as penas restritivas de direito das
pessoas jurídicas não têm a mesma duração da pena de prisão, simplesmente
porque elas não substituem a pena de prisão.
Vejamos o art. 22:
Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são:
I - suspensão parcial ou total de atividades;
II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;
III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,
subvenções ou doações.
§ 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou
doações não poderá exceder o prazo de dez anos.
Nós vimos que essa pena existe também para a pessoa física (03 anos para
crime culposo e 05 anos para crime culposo); no caso da pessoa jurídica será
de até 10 anos, seja o crime doloso ou culposo.
Assim, A PENA DE PROIBIÇÃO DE CONTRATAR COM O PODER PÚBLICO OU RECEBER SUBSÍDIOS,
SUBVENÇÕES OU DOAÇÕES TEM A DURAÇÃO DE ATÉ 10 ANOS, SEJA CRIME DOLOSO OU CULPOSO.
Sursis nos crimes ambientais
Sursis é a suspensão condicional da execução da pena. O réu é processado,
condenado e a pena não é executado se ele se submeter a determinadas
condições. Ou seja: a execução fica suspensa sob condição.
Nos crimes ambientais, cabem as três espécies de sursis:
Sursis Simples art. 77 do CP
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CP LCACondenações até 02 anos. Condenações até 03 anos
Sursis Especial art. 78, §2º do CP
CP LCACondenações até 02 anos. Condenações até 03 anos.Submissão do beneficiário às
condições do art. 78, §2, “a”, “b” e
“c”:
§ 2º - Se o condenado houver reparado odano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e seas circunstâncias do Art. 59 deste Códigolhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do parágrafoanterior pelas seguintes condições, aplicadascumulativamente:a) proibição de freqüentar determinadoslugares;b) proibição de ausentar-se da comarca ondereside, sem autorização do juiz;c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
Submissão do beneficiário às
condições referentes à proteção do
meio ambiente, fixadas pelo juiz –
art. 17:
Art. 17. A verificação da reparação a que se
refere o § 2º do art. 78 do Código Penal será
feita mediante laudo de reparação do dano
ambiental, e as condições a serem impostas
pelo juiz deverão relacionar-se com a
proteção ao meio ambiente.
Sursis Etário/ Humanitário art. 77, §2º do CP
Não há nenhuma diferença.
§ 2º - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro
anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado
seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a
suspensão.
Veja que o sursis na lei ambiental está tratado em dois artigos, quais seja,
artigos 16 e 17:
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Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão condicional da pena pode ser
aplicada nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não superior a três anos.
Art. 17. A verificação da reparação a que se refere o § 2º do art. 78 do Código Penal
(sursis especial) será feita mediante laudo de reparação do dano ambiental, e as
condições a serem impostas pelo juiz deverão relacionar-se com a proteção ao meio
ambiente.
Ele não vai ficar submetido àquelas condições do CP; o beneficiário do sursis
especial ficará submetido a condições relativas à proteção do meio ambiente,
que serão fixadas pelo juiz.
Só tem direito a sursis especial quem fez reparação do dano (salvoimpossibilidade de reparar) e tem circunstâncias judiciais favoráveis.
Obs: na lei ambiental, essa reparação do dano só pode ser comprovada por
meio de Laudo de Reparação Ambiental, ou seja, a reparação do dano para
fins de concessão de sursis especial não admite outro meio de prova; sob pena
de não ter direito ao sursis especial.
Pena de multa nos crimes ambientais
Está prevista no art. 18:
Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se revelar-se ineficaz,
ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o
valor da vantagem econômica auferida.
A multa será calculada de acordo com o CP.
Segunda parte ainda que a multa seja aplicada no máximo, pode ser
aumentada em três vezes, tendo em vista a vantagem econômica auferida.
Vejamos o art. 60, §1º do CP:
§ 1º - A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em
virtude da situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo.
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Esse artigo está dizendo que a multa pode ser aplicada tendo em vista a
situação econômica do réu.
Veja, portanto, que na lei ambiental, o juiz leva em conta a vantagem auferida
com o crime, pouco importando a situação econômica do réu. Enquanto no CP,
o juiz leva em conta a situação econômica do réu.
• Multa calculada de acordo com o CP (art. 18, 1ª parte);
De 10 a 360 dias-multa;
Para cada dia multa: 1/30 a 5 vezes o salário mínimo vigente.
Isso está no art. 49 do CP:
Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da
quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de
10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.
Qual a multa máxima que o juiz pode aplicar? 360 dias-multa, cada qual
no valor de 5 vezes o salário mínimo. Ou seja, a multa máxima é de 1800
salários mínimos.
Só que o juiz ainda pode triplicar essa multa máxima.
• A multa, mesmo que aplicada no máximo, pode ser triplicada, tendo em
vista o valor da vantagem econômica auferida com o crime.
Att! No CP, o juiz também pode triplicar a multa máxima, só que nesse
caso levando em conta a situação econômica do autor.
Há quem sustente (Luis Paulo Sirvinskas) que nos crimes ambientais o juiz
pode triplicar a multa máxima duas vezes: tendo em vista a vantagem
econômica auferida com o crime e depois triplicar tendo em vista a situação
econômica do autor.
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Data máxima vênia, esse entendimento é insustentável, porque a lei ambiental
está dispondo de forma diversa e dispondo de forma diversa aplica-se a lei
ambiental em detrimento do CP – a lei ambiental não está sendo omissa.
Perícia em crimes ambientais e Prova emprestada
Esses dois assuntos estão no art. 19 da lei ambiental:
Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o
montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.
Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser
aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório.
A) PERÍCIA
Para que serve perícia no processo?
Especialmente para constatar a materialidade delitiva.
A PERÍCIA AMBIENTAL, NO ENTANTO, ALÉM DE CONSTATAR A MATERIALIDADE DELITIVA, DEVE, SE
POSSÍVEL, FIXAR O VALOR DO PREJUÍZO CAUSADO PELO CRIME AMBIENTAL. E esse valor do
prejuízo apontado no laudo serve para duas coisas, tem duas finalidades:
a) Cálculo de fiança;
b) Cálculo da multa penal.
Para calcular a multa, o juiz leva em conta:
A situação econômica do infrator – art. 6º, III:
Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente
observará: a situação econômica do infrator, no caso de multa.
O valor do prejuízo causado pelo crime – art. 19:
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Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o
montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.
B) PROVA EMPRESTADA
Data – 22/08/09 Disciplina: Direito Penal Especial Prof.: Sílvio Maciel
Aula: 04 Assunto: Crimes Ambientais II
Perícia em crimes ambientais e Prova emprestada
Vejamos o art. 19:
Art. 19 - A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o
montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.
C) PERÍCIA
Para que serve perícia no processo?
Especialmente para constatar a materialidade delitiva.
A PERÍCIA AMBIENTAL, NO ENTANTO, ALÉM DE CONSTATAR A MATERIALIDADE DELITIVA, DEVE, SE
POSSÍVEL, FIXAR O VALOR DO PREJUÍZO CAUSADO PELO CRIME AMBIENTAL. E esse valor do
prejuízo apontado no laudo serve para duas coisas, tem duas finalidades:
c) Cálculo de fiança;d) Cálculo da multa penal.
Para calcular a multa, o juiz leva em conta:
A situação econômica do infrator – art. 6º, III:
Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente
observará: a situação econômica do infrator, no caso de multa.
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O valor do prejuízo causado pelo crime – art. 19:
Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o
montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.
A perícia, nos crimes ambientais, serve para, além de fixar a materialidade do
crime, apurar o montante dos danos causados, sendo que este valor serve
para: o arbitramento da fiança e cálculo da multa.
Combinando o art. 19 com o art. 6º, III, verificamos que os parâmetros para o
cálculo da multa nos crimes ambientais são dois: a situação econômica do
autor e o valor do dano ambiental.
D) PROVA EMPRESTADA
Parágrafo único - A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá
ser
aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório.
Problema: o art. 19, parágrafo único está permitindo que a perícia feita no
inquérito civil instaurado pelo MP ou na Ação Civil, proposta pelo MP ou por umdos legitimados, seja trasladada para o processo penal, como prova
emprestada.
Diz a lei: “instaurando-se o contraditório”. O art. 19, parágrafo único da LCA
está permitindo que a perícia feita em inquérito ou em ação civil seja
aproveitada no processo penal como prova emprestada, instaurando-se o
contraditório. Esta expressão é interpretada como contraditório diferido ou
posterior: o contraditório não é feito no processo onde a prova foi produzida, o
contraditório só é feito quando a prova é juntada no processo penal.
Há uma crítica da doutrina a esse artigo: no inquérito não há contraditório (do
mesmo modo que no inquérito policial não há contraditório e ampla defesa, no
inquérito civil não há). Uma parte da doutrina (Delmanto) diz que a perícia feita
no inquérito civil só pode ser emprestada para o processo penal se for uma
prova não repetível. Em outras palavras, se a perícia pode ser feita novamente
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no processo penal, ela deve ser feita. Não se deve aproveitar a perícia que foi
feita no inquérito civil, pois lá não houver sequer contraditório e ampla defesa.
Esse entendimento está em consonância com o art. 155, caput do CPP: diz
que o juiz não pode fundamentar sua convicção com elementos colhidos
apenas na investigação, salvo se esses elementos forem cautelares, não
repetíveis ou antecipados.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.
Essa perícia para alguns autores, portanto, como foi feita em investigação, só
pode ser emprestada para o processo penal se for não repetível.
E a perícia feita na ação civil? A perícia feita na ação civil, dizem alguns
autores, só pode ser utilizada no processo penal se as partes forem as
mesmas ou, pelo menos, se a parte contra a qual será utilizada a perícia, tenha
participado desta na ação civil.
Agora, esse “instaurando-se o contraditório”: suponha que as partes sejam as
mesmas e a prova foi emprestada para ou processo penal ou que a perícia é
não repetível; no processo penal, terá que ser instaurado o contraditório.
O que significa “instaurado o contraditório”?
Para uma parte da doutrina, significa apenas que sejam dadas vistas às partes
para se manifestarem sobre o laudo.
Já uma outra parcela da doutrina diz que “instaurando-se o contraditório” deve
ser dado vista para as partes se manifestarem sobre o laudo e oferecerem
novos quesitos para que o laudo seja complementado. Esse é o entendimento,
por exemplo, de Delmanto.
Não se esqueça de conjugar esse artigo 19 com o CPP, pois pela reforma doCPP, as partes podem agora indicarem assistente técnico para acompanharem
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a elaboração do laudo. Agora, é direito expresso das partes a indicação de
assistentes técnicos para darem pareceres sobre os laudos – art. 159, §3º do
CPP:
§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao
querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.
Antes não era direito das partes indicarem assistente técnico, o juiz, em busca
da verdade real, poderia aceitar a indicação desses assistentes; antes da
reforma, a indicação de assistente técnico não era um direito processual das
partes, agora, trata-se de um direito processual das partes, não podendo o juiz
indeferir.
Assim, esse “instaurando-se o contraditório”, tem que ser entendido hoje como
a possibilidade de as partes indicarem assistente técnico para se manifestarem
sobre o laudo ambiental, pois o CPP aplica-se subsidiariamente à lei ambiental
(como ela própria expressamente diz).
Sentença penal condenatória ambiental
Vejamos o art. 20 da LCA:
Art. 20 - A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo
para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo
ofendido ou pelo meio ambiente.
Parágrafo único - Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá
efetuar-se pelo valor fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liqüidação para
apuração do dano efetivamente sofrido.
Pela reforma do CPP, há permissão para que, em qualquer processo, o juiz
verifique valor de prejuízo (art. 387, IV, do CPP: Art. 387. O juiz, ao proferir sentença
condenatória: fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido). Em qualquer sentença condenatória,
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o juiz pode fixar valor de prejuízo. Essa é uma novidade introduzida pela Lei
11719/08.
Todos os comentaristas da reforma do CPP, dizem que essa possibilidade de
fixar danos na sentença é uma coisa inédita, mas não é, pois essa
possibilidade existe na lei dos crimes ambientais desde 2008.
Voltemos ao art. 20:
Art. 20 - A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo
para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo
ofendido ou pelo meio ambiente.
Veja que não é requisito obrigatório da sentença: o juiz vai fixar o valor dos
prejuízos na sentença penal “sempre que possível”.
E o juiz tem que fixar “valor mínimo” e, no que se refere a esse valor mínimo, a
sentença é um título executivo certo, líquido e exigível.
A sentença condenatória é título executivo no cível (ela torna certa a obrigação
de indenizar o dando), só que aqui ela não precisa nem ser liquidada no juízo
cível, quanto ao valor mínimo, ela já passa a ser um título líquido, certo e
exigível – já pode ser executada no cível.
E se a parte quiser receber além do valor mínimo? E para apurar o restante:
Parágrafo único - Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução
poderá efetuar-se pelo valor fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liqüidação
para apuração do dano efetivamente sofrido.
Assim, quanto ao restante do valor do prejuízo sofrido, a sentença será
liquidada no juízo cível.
Conclusão: a sentença é em parte líquida, quanto ao valor mínimo dos
prejuízos nela indicados; e em parte ilíquida, quanto ao restante do valor do
prejuízo.
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Liquidação forçada da pessoa jurídica
Art. 24 - A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua
liqüidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal
perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional.
É uma pena aplicável à pessoa jurídica – é uma sanção penal aplicável
exclusivamente à pessoa jurídica.
Agora, essa sanção penal pode ser aplicada a qualquer pessoa jurídica?
Não, apenas pode ser aplicada à pessoa jurídica que tenha como atividade
principal (preponderante) a prática de crimes ambientais e não para uma
pessoa jurídica que eventualmente delinqüiu. Ex: madeireira clandestina,
indústria pesqueira ilegal.
A atividade principal da empresa é cometer crimes ambientais, ainda que ela
desenvolva em parte uma atividade lícita.
Conseqüência: a liquidação forçada gera a extinção da pessoa jurídica, pois
todo o seu patrimônio (não apenas aquele envolvido na execução do crime)
será considerado instrumento de crime e, conseqüentemente, confiscado/
perdido para o fundo penitenciário nacional.
A doutrina critica, dizendo que essa perda deveria ser em favor de algum órgão
ambiental, mas não é.
Alguns autores dizem que essa liquidação forçada é inconstitucional, pois ela
equivale à pena de morte da pessoa jurídica, que é vedada pela Constituição.
O raciocínio deles é que a pessoa jurídica existe, tem vontade própria e pode
praticar crimes, podendo morrer juridicamente (no sentido social).
Veja que essa doutrina é minoritária, mas a maioria (Luis Regis Prado) diz queessa sanção equivale à pena de morte da pessoa jurídica, mas não diz que
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essa pena é inconstitucional. Diz ele que só pode ser utilizada como última
medida penal: quando todas as outras sanções penais não funcionarem (deve
ser a última medida dentro da última medida que é o direito penal).
Como se aplica essa sanção de liquidação forçada?
Quanto ao mecanismo de aplicação da sanção de liquidação forçada, a
doutrina diverge:
1ª corrente: se essa sanção pressupõe a prática de crime, então, essa
liquidação forçada só pode ser aplicada em sentença penal condenatória
transitada em julgado. Porque tem que ficar comprovado o crime e a atividade
preponderantemente criminosa para que seja aplicada a sanção.
2ª corrente: essa sanção só pode ser aplicada, se for objeto de pedido
expresso na denúncia. Em outras palavras, o juiz penal não pode aplicar essa
pena se ela não foi expressamente requerida na denúncia. E se ela não foi
expressamente requerida na denúncia? Ela poderá ser aplicada em uma
ação civil de liquidação da pessoa jurídica proposta pelo MP.
Essa segunda corrente admite que essa pena seja aplicada, tanto em uma
sentença penal condenatória, como em uma ação civil de liquidação.
Conclusão: para essa corrente, não se trata a liquidação de uma sanção
criminal, mas sim de uma pena ambiental. Adotam essa corrente: Vladimir e
Gilberto Passos de Freitas.
Para Sílvio, o princ do estado de inocência, como todas as garantias
fundamentais, aplicável às pessoas jurídicas, entende que não é possível
aplicar liquidação forçada numa ação civil.
Confisco de instrumentos de crimes ambientais
Art. 25 - Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos,
lavrando-se os respectivos autos.
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§ 1º - Os animais serão libertados em seu habitat ou entregues a jardins zoológicos,
fundações ou entidades assemelhadas, desde que fiquem sob a responsabilidade de
técnicos habilitados.
§ 2º - Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e doados a
instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes.
§ 3º - Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou doados a
instituições científicas, culturais ou educacionais.
§ 4º - Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garantida a sua
descaracterização por meio da reciclagem.
O problema está nesse §4º, que em verdade está falando de confisco, pois os
instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos (confiscados).
O art. 91, II, “a”, do CP, só permite confisco de instrumento de crime, se o
objeto, por si só, for ilícito. Ou seja: quando ele é de fabrico, alienação, uso,
porte ou detenção ilícitos. Não é qualquer instrumento de crime que você pode
confiscar no direito penal.
Exemplo: o soco inglês utilizado numa lesão pode ser confiscado? Sim,
porque ele, isoladamente, configura arma branca (objeto ilícito).
Do mesmo modo, a arma ilegal do porte de arma pode ser confiscada, pois ela
por si só é objeto ilícito.
Agora, um automóvel utilizado como instrumento no furto não pode ser
confiscado, pois ele não é objeto ilícito.
Agora, o art. 25, §4º, da LCA permite o confisco de qualquer instrumento de
crime ambiental, seja lícito ou ilícito.
Portanto, a doutrina, a exemplo de Capez, diz que o instrumento de crime
ambiental deve ser sempre confiscado, seja ou não um objeto ilícito.
Ex: o barco do pescador que pescou além do permitido tem que ser confiscado.
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Ex2: o caminhão do trabalhador que transportou o agrotóxico proibido deve ser
confiscado.
Art. 91, II, “a” do CP Art. 25, da LCA
Art. 91 - São efeitos da condenação:II - a perda em favor da União, ressalvado odireito do lesado ou de terceiro de boa-fé:a) dos instrumentos do crime, desde queconsistam em coisas cujo fabrico, alienação,uso, porte ou detenção constitua fato ilícito;
§ 4º - Os instrumentos utilizados na prática
da infração serão vendidos, garantida a sua
descaracterização por meio da reciclagem.
Diante dessas proporções, diz a jurisprudência, o art. 25, §4º da LCA deve ser
entendido da seguinte forma: O OBJETO SÓ DEVE SER APREENDIDO QUANDO ELE FOR
USUALMENTE UTILIZADO NA PRÁTICA DE CRIME AMBIENTAL. Ex: a motosserra da madeireira
clandestina.
Agora, quando o objeto foi eventualmente utilizado na prática de um crime
ambiental, ele pode ou não ser confiscado, dentro de um juízo de razoabilidade
(TRF 1ª e 2ª Regiões).
Ex: o barco do pescador que eventualmente pescou peixe proibido não deve
ser confiscado, pois não se trata de instrumento de crime, mas sim de
instrumento de sustento da família.
Aspectos processuais
Interrogatório da pessoa jurídica
Como se faz interrogatório da pessoa jurídica?
Nucci diz que o interrogatório da pessoa jurídica deve ser feito por meio do
preposto ou gerente da empresa que tenha conhecimento do fato, aplicando-se
por analogia o art. 843, §1º da CLT.
Obs: o entendimento da professora Ada Pelegrini não é mais esse, ela mudou
de entendimento (cuidado que continuam citando ela com esse entendimento).
A professora Ada até 2003 entendia que o interrogatório da pessoa jurídicadeveria ser do preposto ou gerente da empresa com conhecimento do fato. Ela
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entendia desse modo, pois ela via o interrogatório como um meio de prova.
Então, deveria ser interrogado aquele que tivesse conhecimento do fato, com
condições de fornecer provas ao juiz. Só que, a partir de 2003, com a reforma
do interrogatório no CPP, o interrogatório passou a ser preponderantemente
(ou exclusivamente, para alguns, como a professora Ada) meio de defesa do
acusado. Então, ela diz que quem deve ser interrogado é o gestor da pessoa
jurídica, com condições de exercer a defesa dela (que tenha interesse na
defesa da pessoa jurídica).
Habeas Corpus em favor de pessoa jurídica
Ex: a pessoa jurídica é denunciada por um crime ambiental prescrito e o juiz dizque não prescreveu, como trancar essa ação?
O entendimento do STF, pacificado, é que não cabe HC a favor da pessoa
jurídica: o HC protege exclusivamente a liberdade de locomoção, que não
existe em relação às pessoas jurídicas (HC 92921/ STF).
O ministro-relator foi voto vencido, pois o julgamento do HC da pessoa jurídica
reflete na esfera de liberdade da pessoa física, já que ambas sempre serãodenunciadas conjuntamente.
Qual a medida cabível, então?
Para trancar ação em favor de pessoa jurídica, cabe Mandado de Segurança.
Competência nos crimes ambientais
O STF criou uma regra geral de competência nos crimes ambientais, que
passou a ser seguida fielmente pelo STJ:
Em regra, que julga crime ambiental é a Justiça Estadual.
A Justiça Federal só julga crimes ambientais quando houver interesse
direto e específico da União.
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Se houver interesse apenas indireto e genérico da União, é a
justiça estadual quem vai julgar o crime.
Como o STF chegou a essa regra? Utilizando-se de dois raciocínios:
(1º) A proteção do meio ambiente é de competência comum da União, estados,
municípios e DF – artigos 23 e 24 da CF. Não é competência exclusiva da
União proteger o meio ambiente, trata-se de competência de todas as pessoas
políticas.
(2º) Não há nenhuma regra específica sobre competência em crimes
ambientais, nem na CF, nem na LCA, nem no CPP.
Conclusão: se a proteção do meio ambiente é dever de todas as pessoas
políticas e não há regra específica de competência, então, segue a regra geral:
competência da Justiça Estadual. Somente será de competência da Justiça
Federal, se houver interesse direito e específico da União que justifique a
mudança da competência.
Obs: se durante a ação penal sobrevier interesse da União, que não havia noinício, desloca-se a competência para a justiça federal.
Regra:
• Interesse genérico e indireto da União Justiça Estadual.
• Interesse direito e específico da União Justiça Federal.
Ex: o crime foi cometido em área pertencente ao município de Itajaí, em SantaCatarina. Durante a ação, essa área, que era do município, foi incorporada ao
Parque Nacional de Itajaí, que é pertencente à União e a competência foi
deslocada para a justiça federal (CC 88013/ STJ).
Questões específicas sobre competência
1) Vejamos o art. 225, §4º da CF:
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§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-
Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma
da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive
quanto ao uso dos recursos naturais.
Os crimes cometidos nessas áreas, quem julga? Em regra, a justiça
estadual, porque patrimônio nacional não significa patrimônio da União. Só irá
para a justiça federal, se houver interesse direto e específico da União.
A expressão “patrimônio nacional” significa patrimônio da nação brasileira e
não patrimônio da União. Nesse sentido também entendem José Afonso da
Silva e Tourinho.
2) Crimes cometidos em áreas fiscalizadas pelo IBAMA ou qualquer outro
órgão federal.
Diz o STF que o fato de a área ser fiscalizada por órgão federal (ex: IBAMA),
por si só, não fixa a competência da justiça federal. O interesse da União aí é
genérico e indireto.
Esse mesmo raciocínio se aplica para crimes cometidos em área de
preservação permanente (APP) e em cerrado. Ou seja: o simples fato de o
crime ocorrer em APP ou em cerrado, não justifica, por si só, a competência da
justiça federal.
3) Crime cometido em rio estadual, interestadual e em mar territorial
Se o crime foi cometido em rio estadual, que banha apenas um estado justiça estadual. Mesmo que tenha sido uma pesca ilegal, com petrechos
proibidos numa norma federal, por exemplo, (ex: decreto ou portaria do
ministério do meio ambiente).
Se o crime for cometido em rio interestadual ou mar territorial, que são bens da
União justiça federal. Ex: pesca de camarão ilegal no mar territorial brasileiro
– justiça federal; pesca no Rio Mogiguaçu, que banha MG e SP, vai para a
justiça federal.
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Vejamos o art. 20, III:
Art. 20. São bens da União:
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que
banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a
território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias
fluviais;
Trata-se, neste caso, de um interesse direto e específico da União.
4) Tráfico internacional de animais
A competência é da justiça federal, pois o Brasil é signatário de tratados e
convenções internacionais comprometendo-se a reprimir o tráfico internacional
de animais.
5) Crime de liberação ilegal de OGM no meio ambiente
O que vem a ser OGM? Organismos geneticamente modificados
(transgênicos).
Ex: liberação de semente geneticamente modificada no meio ambiente.
Liberar OGM no meio ambiente é crime previsto no art. 27 da Lei 11105/05 (Lei
de Biossegurança).
O STJ foi chamado a se manifestar sobre isso e decidiu que a competência
para julgar esses crimes é da Justiça Federal, pois a liberação de OGM’s não
causa danos apenas no estado em que ocorreu, mas afeta (pode afetar) a
saúde pública de toda a humanidade. Além disso, a CTNBIO é órgão ligado
diretamente à Presidência da República, havendo interesse da União.
Ex: clonagem humana é crime.
6) Quem julga uma contravenção ambiental que atinge a interesse da
União (ex: fazer fogo no interior de parque nacional)? Justiça
ESTADUAL, porque o art. 109, IV da CF diz que justiça federal não julga
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contravenção. Então, mesmo que a contravenção ambiental atinja
interesse direito e específico da União, a competência é da Justiça
federal.
Existe alguma possibilidade de a JF julgar contravenção penal? Em apenas
uma hipótese a JF julga uma contravenção: se o contraventor tem foro especial
na JF previsto na CF. Ex: juiz federal que pratica contravenção ambiental.
Ação penal nos crimes ambientais
Art. 26 - Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação penal é publica
incondicionada.
Portanto, todos os crimes são de ação penal pública INCONDICIONADA.
Cabe ação penal privada subsidiária da pública? Se houver vítima
determinada, CABE. Pois a ação penal subsidiária é um direito fundamental da
pessoa.
Dica: Em todas as leis penais especiais, os crimes são de ação incondicionada(exceção: lesão culposa de trânsito – ação condicionada à representação).
Transação penal nos crimes ambientais
Art. 27 - Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação
imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26
de setembro de 1995 (= TRANSAÇÃO PENAL), somente poderá ser formulada desde
que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesmalei, salvo em caso de comprovada impossibilidade.
Veja que a transação penal só pode ser formula se houver a previa composição
do dano ambiental.
Na Lei 9099, há dois institutos despenalizadores que se aplicam às infrações
de menor potencial ofensivo (contravenções e crimes com pena de até 2 anos):
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• Composição civil de danos (art. 74) tem a finalidade de reparar a
vítima do dano, por isso, ela é feita entre a vítima e o infrator (autor do
fato).
•
Transação penal (art. 76)
tem a finalidade de evitar encarceramentodesnecessário, por isso ela é aplicação de pena não privativa de
liberdade: multa ou restritiva de direitos. Até porque a liberdade é um
bem indisponível.
Na sistemática da Lei 9099, o infrator de menor potencial ofensivo tem direito a
fazer transação penal com o MP, mesmo que não tenha feito composição civil
com a vítima.
Ex: ameaça – o ameaçador se recusa a fazer composição civil. O MP propõe a
transação e o ameaçador aceita. Veja que ele fez transação sem ter feito
composição civil.
Em outras palavras: a composição civil não é requisito para o cabimento da
transação, nos termos da Lei 9099.
Agora, na LCA, nos termos do art. 27, somente é cabível transação (do art. 76da Lei 9099) se o infrator fez composição civil dos danos ambientais (art. 74 da
Lei 9099).
Portanto, NOS CRIMES AMBIENTAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO, A COMPOSIÇÃO CIVIL DE
DANOS DO ART. 74 DA LEI 9099 É REQUISITO PARA O CABIMENTO DA TRANSAÇÃO.
O MP não pode sequer oferecer a transação se não foi feita a prévia
composição dos danos de que trata o art. 76 da Lei 9099.
O que significa essa prévia composição do dano ambiental?
Resp Diz a doutrina que a prévia composição do dano ambiental não
significa a efetiva reparação do dano, mas apenas o compromisso firmado de
reparar.
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Ex: o infrator fez um TAC (termo de ajustamento de conduta) com o MP
comprometendo-se a fazer o reflorestamento. Esse TAC já é prévia
composição do dano ambiental, sendo suficiente para o cabimento da
transação penal.
Muitas vezes o dano ambiental demora anos para reparar e se você exige a
efetiva reparação do dano para fazer a transação, não haveria nunca
transação. Por isso, não dá para exigir prévia reparação dos danos.
Suspensão condicional do processo nos crimes ambientais
A suspensão condicional do processo está prevista na Lei 9099, em seu art. 89
(é mais um dos institutos despenalizadores dessa lei): a suspensão é cabível
para todos os crimes com pena mínima não superior a 1 ano (veja que não
importa a pena máxima).
Este instituto, apesar de estar na Lei 9099, não é aplicado somente às
infrações de menor potencial ofensivo. Essa suspensão do processo se aplica
a qualquer crime com pena mínima não superior a 1 ano.
Ex: furto simples – pena de 1 a 4 anos; estelionato – pena de 1 a 5 anos.
Vem a LCA e trata da suspensão do processo no art. 28:
Art. 28 - As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 (=
SUSPENSÃO CONDICIONAL NO PROCESSO), aplicam-se aos crimes de menor
potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:
Veja que o legislador limitou a suspensão condicional do processo aos crimes
de menor potencial ofensivo, quando a gente sabe que a suspensão se aplica a
todos os crimes com
A doutrina diz que houve menor potencial ofensivo e que onde o legislador
disse “aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta lei”, ele quis
dizer “aos crimes definidos nesta lei”.
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Art. 28 - As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 (=
SUSPENSÃO CONDICIONAL NO PROCESSO), aplicam-se aos crimes de menor
potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:
Ou seja, a suspensão condicional do processo nos crimes ambientais segue a
regra geral: cabe em relação a todos os crimes com pena mínima não superior
a 1 ano. Dizem isso: Edis Milaré, Cezar Roberto Bittencourt, Vladimir e Gilberto
Passos Freitas e Delmanto.
Resolvido o problema do caput , vamos enfrentar os incisos desse artigo:
Na Lei 9099, o processo fica suspenso por um período de 2 a 4 anos; nesse
período, o denunciado fica sujeito ao cumprimento das condições previstas no
art. 89, §1º, I a V e §2º da Lei 9099.
Se o réu cumprir todas as condições durante este período, o juiz decreta a
extinção da punibilidade.
Na suspensão condicional do processo nos crimes ambientais é diferente: para
o juiz declarar a extinção da punibilidade, não basta o cumprimento dessascondições; A PUNIBILIDADE SOMENTE SERÁ DECLARADA EXTINTA, SE HOUVER REPARAÇÃO DO
DANO AMBIENTAL.
E essa reparação tem que ficar comprovada por laudo de reparação do dano
ambiental.
Art. 28 - As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 (=
SUSPENSÃO CONDICIONAL NO PROCESSO), aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:
I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5º do artigo referido no
caput (art. 89 da Lei 9099), dependerá de laudo de constatação de reparação do
dano ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1º do mesmo
artigo;
Veja: a extinção da punibilidade depende de reparação do dano ambiental,
SALVO se o dano for irreparável.
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Mas essa constatação da reparação não é demorada?
II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o
prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo
referido no caput , acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição;
Por quanto tempo fica suspenso o processo? 2 a 4 anos. Findo esse
período, o juiz manda fazer o laudo; se o laudo disser que houve reparação
completa do dano ambiental, o juiz extingue a punibilidade; se o laudo disser
que não houve reparação completa do dano ambiental, o juiz vai prorrogar a
suspensão do processo por mais 5 anos (prazo máximo de 4 anos, acrescido
de mais 1 ano) e suspende a prescrição.
Laudo1
Pergunta: nesse período de mais 5 anos, o réu ainda fica sujeito às condiçõesdo sursis processual?
Resp Não, durante esse período de prorrogação da suspensão, o réu não
fica sujeito às condições do sursis processual, restando tão-somente obrigado
a reparar o dano.
III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do §
1º do artigo mencionado no caput ;
Ao final desses cinco anos, deve o juiz mandar fazer outro laudo. Se esse novo
laudo concluir que houve reparação do dano, o juiz extingue a punibilidade. Se
o laudo disser que não houve reparação integral do dano, o juiz tem duas
opções: (a) retomar o processo e revogar a suspensão; (b) prorrogar a
suspensão do processo por mais 5 anos.
Laudo2
50
Reparação
Não reparação
Extinção da punibilidade.
Suspensão do processo por mais5 anos.
Reparação Extinção da punibilidade
a) Retomar o processo + Revogar asuspensão.
b) Prorrogação da suspensão por mais5 anos.
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Se o juiz optar por prorrogar a suspensão por mais 5 anos, findo este prazoserá feito um novo laudo (terceiro). Neste novo laudo, a extinção da
punibilidade dependerá de prova de que houve a reparação do dano ou não
houve a reparação, apesar do acusado ter feito tudo para reparar (ou seja, o
dano era irreparável).
Se o terceiro laudo disser: não houve a reparação e o acusado não fez tudo o
que podia para reparar , o juiz revoga a suspensão e retoma o processo.
Laudo3
IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de constatação
de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste artigo,
observado o disposto no inciso III;
V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade
dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências
necessárias à reparação integral do dano.
Qual o prazo máximo de suspensão condicional no processo nos crimes
ambientais? 14 anos (um período de 2 a 4 anos + 2 períodos de
prorrogação 5 anos).
Crimes ambientais em espécie
É possível aplicar o princ da insignificância nos crimes ambientais?
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Não reparação
Reparação ouDano irreparável
Não reparação eAcusado não feztudo ue odia
Extinção da punibilidade
Revogação da suspensão +retomada do processo
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1ª corrente: não é possível, pois toda lesão é significante na medida em que
desequilibra o meio ambiente como um todo. Ou seja, a lesão ao meio
ambiente provoca um dano ambiental desencadeado. Os TRF´s costumam
adotar essa posição.
2ª corrente: é possível princípio da insignificância nos crimes ambientais. Esse
é o entendimento do STJ.
Os crimes ambientais em espécie estão divididos em cinco capítulos:
• Crimes contra a fauna;
• Crimes contra a flora;
• Crimes de poluição;
• Crimes contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural;
• Crimes contra a administração ambiental.
A Lei ambiental, assim como a CF protege, tutela penalmente o meio ambiente
em sua acepção ampla, isto é, tutela penalmente o meio ambiente natural
(fauna, flora e poluição), o meio ambiente artificial (são as edificações
construídas pelo homem) e o meio ambiente cultural e histórico.
Crimes contra a fauna
Conceito de fauna: é o conjunto de animais terrestres e aquáticos que vivem
em uma determinada região.
Todos os crimes contra a fauna estão concentrados na Lei 9605/98, exceto o
crime previsto na Lei 7643/87.
Conclusão: todos os crimes contra a fauna previstos em outras normas foram
tacitamente revogados pela Lei Ambiental.
Quem julga crimes contra a fauna?
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Competência para julgamento de crimes contra a fauna: segue a regra
geral de competência. A Súmula 91 do STJ dizia que os crimes contra a fauna
eram de competência da justiça federal. Só que essa súmula foi revogada em
2000.
Súmula: 91
COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL PROCESSAR E JULGAR OS CRIMES
PRATICADOS CONTRA A FAUNA.(*)
(*) Na sessão de 08/11/2000, a Terceira Seção deliberou pelo CANCELAMENTO da
Súmula n. 91.
Crime do art. 29
Art. 29 - Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos
ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente, ou em desacordo com a obtida:
Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.
Bem jurídico protegido: apenas a fauna silvestres, terrestre ou aquática.
Esse tipo penal não protege animal doméstico ou domesticado.
Objeto material: espécimes da fauna silvestre.
Espécime é um exemplar da espécie.
E o que são animais silvestres? Está no art. 29, §3º, que é uma norma
explicativa:
§ 3º - São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas,
migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu
ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais
brasileiras.
Veja que o tipo só protege os animais que tenha todo ou parte do ciclo de vida
no Brasil.
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Por conta disso, alguns autores sustentam que esse tipo não protege, além dos
animais domésticos e domesticáveis, os animais exóticos, que são os animas
estrangeiros.
Ex: utilizar animais em espetáculos de circo sem a devida autorização.
Elemento normativo do tipo: está na expressão “sem a devida permissão,
licença ou autorização da autoridade competente ou em desacordo com a
obtida”. Veja que o só haverá o crime, se o agente atuar sem autorização/
permissão/ licença ou extrapolar os limites dela.
Consumação: se dá com a prática de qualquer das condutas do tipo (Matar,
perseguir, caçar, apanhar, utilizar).
Tentativa: toda a doutrina, exceto Delmanto, diz que é possível a tentativa. Diz
Delmanto que dada a pluralidade de núcleos verbais, não é possível a
tentativa.
Pergunta: se o agente mata ou caça o animal com uma arma de fogo ilegal?
Haverá concurso entre o crime ambiental e o porte ilegal de arma.
Obs: o Estatuto do Desarmamento diz que os moradores de áreas rurais que
necessitem da arma para caça de subsistência (para prover a subsistência da
família) devem obter o porte de caçador junto à Polícia Federal. Daí, se o
indivíduo tiver o porte de “caçador de subsistência” não comete o crime de
porte ilegal de arma.
Guarda doméstica e Perdão judicial:
Art. 29, §2º: No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não
considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
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Como fica a guarda doméstica de animal silvestre?
Se o animal não for ameaçado de extinção, o juiz pode deixar de aplicar a
pena, ou seja, pode conceder perdão judicial considerando as circunstâncias
do caso concreto.
§ 4º - A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:
I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local
da infração;
Agora, se o animal for ameaçado de extinção, não cabe o perdão judicial e o
fato de o animal se ameaçado de extinção ainda é causa de aumento de pena.
Como saber se o animal é ameaçado de extinção? Tem que verificar as
listas oficiais de IBAMA (trata-se de norma penal em branco).
Se esse crime for cometido em exercício de caça profissional, a pena poderá
ser aumentada até o triplo.
Caça profissional é aquela realizada com habitualidade e intenção de lucro. A
caça profissional é proibida em todo o território nacional.
§ 5º - A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça
profissional.
Att! Esse artigo 29 não se aplica aos atos de PESCA.
§ 6º - As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.
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Animal silvestre
Não ameaçado deextin ão
Ameaçado de extinção
Possibilidade de perdão judicial.
Não pode haver perdão é crimecom aumento de pena.
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Pergunta: o crime protege os animais aquáticos e terrestres, mas não se aplica
aos crimes de pesca? Não, porque os crimes de pesca estão tipificados nos
artigos 34 a 36.
E como esse crime se aplica aos animais aquáticos? Ex: perseguir uma
tartaruga marinha.
Art. 30: Tráfico internacional de peles e couros
Art. 30 - Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a
autorização da autoridade ambiental competente:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Conduta: exportar para o exterior, ou seja, exportar para o estrangeiro. Se
exportar para dentro do próprio país, não é crime. Assim, a lei está punindo no
art. 30 o tráfico internacional.
Objeto material: somente peles e couros de anfíbios e repteis em bruto, isto é,
in natura, sem estar industrializado, transformado em objetos.
Elemento normativo: “sem autorização da autoridade competente”.
Problemas: a lei não pune nem a importação nem o tráfico interno de peles e
couros de répteis e anfíbios. Qual crime caracteriza a conduta de importar ou
traficar internamente as peles e couros de répteis e anfíbios?
Caracteriza a conduta do art. 29, §1º, III:
§ 1º - Incorre nas mesmas penas:
III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou
depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em
rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros
não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente.
Aquele que está importando ou fazendo o tráfico interno está comprando eadquirindo respectivamente.
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Outro problema: o art. 30 só tem como objeto material in natura; e quem
exporta o produto já transformado?
Responde também pelo crime do art. 2º, §1º, III:
§ 1º - Incorre nas mesmas penas:
III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou
depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em
rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros
não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente.
Aquele que vende, por exemplo, uma bolsa de jacaré, não pode responder pelo
crime do art. 30, pois este só pune a exportação do couro in natura, mas pode
responder pelo art. 29, §1º, III (exportar produtos oriundos das espécimes da
fauna silvestre).
Crime do art. 32: abusos e maus tratos contra animais
Art. 32 - Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Condutas:
• Ato de abuso – ex: submeter o animal a trabalhos excessivos e
transporte inadequado
•
Maus tratos: causar sofrimento desnecessário ao animal• Ferir
• Mutilar
Animais protegidos pelo tipo: todos os animais – silvestres, domésticos,
domesticados, nativos ou nacionais, exóticos ou estrangeiros.
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Problema: quem mata um animal doméstico responde por que crime? -> O art.
32 não prevê o verbo “matar” e não pode aplicar o art. 29, pois este não pode
proteger o animal doméstico.
Mas o crime é do art. 32, sim, pois antes de matar ele necessariamente tem
que ferir o animal, portanto, matar animal doméstico configura o art.32.
Brigas de galo (rinhas), Farra do Boi, Vaquejada etc.: há uma minoria que
entende que essas manifestações populares estão protegidas pelo direito à
cultura, garantidos pelo art. 215 da CF.
O que aconteceu foi que vários estados, a exemplo do Rio Grande do Norte,
Rio de Janeiro, Santa Catarina, editaram leis regulamentando a briga de galo,
galinhas e passarinhos. A justificativa é que se eles brigam ficam mais fortes.
Veja: o STF declarou todas essas leis inconstitucionais por violação ao art. 225,
§1º, VII, da CF:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e àcoletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade.
Rodeios: provocam abusos aos animais? Com absoluta certeza, sim, o
problema é que a Lei 10519/02 autoriza os rodeios no Brasil. Esta lei, em seus
artigos 3º e 4º, exige várias providências para evitar que o animal seja
submetido a sofrimento (ex: veda esporas com lança, o animal tem que ser
transportado com cuidado).
Conclusão: se o rodeio for exercido em observância dessa lei (de acordo com
as normas da Lei 10519), trata-se de exercício regular de direito; já se o rodeio
for realizado em desconformidade com os requisitos da lei, é crime ambiental.
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Obs: em São Paulo, em vários municípios, a Lei 10519 foi declarada
incidentalmente inconstitucional. Quem diz isso é Luis Paulo Sirvinskas.
A mutilação (que é uma conduta do tipo) de animais para fins estéticos
configura ou não crime?
A doutrina diz que não, pois não há intenção específica de maltratar e
submeter o animal a sofrimento. Dizem isso Vladimir e Gilberto Passos de
Freitas, bem como Nucci.
§ 1º - Incorre nas mesma penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal
vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
Esse artigo está proibindo: experiência dolorosa com animal vivo, que é
chamada de vivissecção.
Veja que é crime mesmo que a experiência dolorosa se dê para fins didáticos
ou científicos, SALVO se não houver outro recurso alternativo.
E se não tiver outro recurso? Se não houver outro recurso científico ou
didático, pode fazer a vivissecção, porém observando a Lei 11794/08 (que
revogou a Lei6638/79). Essa Lei 11974 regula o uso de animal em experiências
e uma das exigências dela é o uso obrigatório de anestésico.
Obs: um aluno do Rio Grande do Sul ingressou na justiça requerendo a
dispensa das aulas de anatomia (em que eram utilizados animais), alegando
escusa de consciência. A juíza concedeu a tutela antecipada.
Artigos 34 a 36: Crimes de Pesca
Art. 34 - Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados
por órgão competente:
Conduta: “pescar”.
Pergunta: O indivíduo arma uma rede no rio e não pega nada, ele cometeu o
crime ou não? Ele pescou (a conduta é pescar)?
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Resp Ele não pescou o peixe, mas comete o crime, veja o conceito de pesca
do art. 36 (norma penal explicativa):
Art. 36 - Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a retirar,
extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes,
crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento
econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais
da fauna e da flora.
Juridicamente, pescar não é retirar o peixe da água, não é efetivamente
apanhar a espécie animal. Juridicamente, pescar é apenas “algum ato tendente
a”.
Ex: armar rede no rio e não pegar peixe – comete o crime, pois armar rede no
rio é ato tendente a coletar peixe.
Tem alguma corrente divergente? Sim, Nucci: diz que só se configura o
crime se houver a efetiva apanha do animal (mas este é um entendimento
isolado, não é o entendimento da doutrina, nem da jurisprudência).
Voltemos ao art. 34:
Art. 34 - Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados
por órgão competente:
Qual é o período de proibição? Havia uma lei que proibia a pesca em todo o
território nacional no período de 1º de outubro a 30 de janeiro – Lei 7679/88.
Essa lei foi revogada por reivindicação de pescadores, que argumentaram que
a piracema não ocorre em todos os locais do país na mesma época.
E hoje qual o período de pesca proibida? Esses períodos são definidos em
atos normativos, geralmente em portarias conjuntas do IBAMA e órgão
estaduais.
“Pescar em lugar interditado por órgãos competentes”: só há o crime se ainterdição do local se der por órgão competente. E o que é órgão competente?
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São os órgãos integrantes do SISNAMA – Sistema Nacional do Meio
Ambiente.
Ex: a CEMIG (companhia de energia de Minas) interditou a pesca em um local
próximo à usina hidrelétrica. Alguém pescou nesse lugar e foi denunciado pelo
crime. O STJ trancou a ação, sob o fundamento de que o fato é atípico, pois o
local não estava interditado por órgão competente (do SISNAMA) – HC 42528.
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME AMBIENTAL. PESCAR EMLUGAR INTERDITADO POR ÓRGÃO COMPETENTE (LEI Nº 9.605/98, ART. 34).TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA (CPP, ART.43, INC. I). ORDEM CONCEDIDA.1. A interdição da área na qual o denunciado foi abordado, quando do patrulhamentorealizado por policiais militares no Rio São Francisco, no dia do fato narrado nadenúncia, nada tem com a preservação do meio ambiente, mas apenas com a garantia defuncionamento da barragem de Três Marias, da própria represa e com a integridadefísica de terceiros, traduzindo-se, em suma, numa medida de segurança adotada pelaCompanhia Energética de Minas Gerais – CEMIG.2. Assim sendo, não há justa causa para a instauração de ação penal, tendo em vista queo fato narrado na peça acusatória não constitui crime contra o meio ambiente, uma vezque a área não foi interditada por quaisquer dos órgãos a que se refere a Lei nº 9.605/98,ou seja, aqueles que constituem o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA(Lei nº 6.938/81, art. 6º), configurando constrangimento ilegal, por esse motivo, o
recebimento da denúncia ofertada pelo Ministério Público contra o paciente, pela prática, em tese, de delito ambiental.3. De fato, os órgãos ou entidades competentes são somente aqueles responsáveis pela
proteção e melhoria da qualidade ambiental, na esfera da União, dos Estados, doDistrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas
pelo Poder Público, que compõem o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA,nos termos da legislação de regência.4. Portanto, considerando que a CEMIG não tem competência para interditar área parafins de proteção do meio ambiente, o fato atribuído ao paciente não constitui crimeambiental, impondo-se a rejeição da denúncia com base no art. 43, inc. I, do Código deProcesso Penal.
5. Ordem concedida, para trancar a ação penal instaurada contra o paciente, comextensão dos efeitos desta decisão ao outro denunciado.(HC 42528/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, Rel. p/ Acórdão Ministro ARNALDOESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 07/06/2005, DJ 26/09/2005 p. 423)
Esse crime é punido na forma dolosa, portanto, se o pescador não sabe que o
local é interditado ou a época é proibida, não há a crime. A interdição do local
ou a proibição da época devem estar no dolo do agente, senão não há crime
por ausência de dolo.
Figuras equiparadas:
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Parágrafo único - Incorre nas mesmas penas quem:
I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferiores aos
permitidos;
Essas espécies que devam ser preservadas ou em tamanhos inferiores aos
permitidos são definidas em atos normativos (trata-se de norma penal em
branco).
II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos,
petrechos, técnicas e métodos não permitidos;
Ex: redes de arrasto com sensor (fecham e pescam todos os peixes de uma
vez).
III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta,
apanha e pesca proibidas.
Não está punindo o pescador.
Art. 35 - Pescar mediante a utilização de:
I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante;
Não se pode pescar com explosivo ou com substâncias de efeito explosivo.
II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente:
Crime da Lei 7643: Pescar ou molestar cetáceos
O que são cetáceos?
É a baleia, o golfinho.
Art. 1º Fica proibida a pesca, ou qualquer forma de molestamento intencional, de toda
espécie de cetáceo nas águas jurisdicionais brasileiras.
Esse crime está tacitamente revogado pela Lei Ambiental?
Resp Edis Milaré e Luis Regis Prado dizem que sim, que a lei foi tacitamente
foi revogada. Mas o STJ disse que o crime está em vigor.
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CRIMINAL. HC. CRIME CONTRA A FAUNA MARINHA. MOLESTAMENTOINTENCIONAL DE CETÁCEOS (BALEIAS). FILMAGEM PARA O PROGRAMA"AQUI E AGORA". NULIDADE DO ACÓRDÃO. FALTA DE PERÍCIA EM FITADE VÍDEO. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. DEFESA QUEPERMANECEU INERTE DURANTE A INSTRUÇÃO PROCESSUAL.
CONDENAÇÃO BASEADO EM OUTROS ELEMENTOS DE AUTORIA EMATERIALIDADE. ORDEM DENEGADA.Pacientes que estariam fazendo filmagem para o programa "Aqui e Agora", quandoteriam molestado baleias, visando à gravação de "cenas espetaculares", chegando a
provocar uma colisão do barco com os animais. Não procede a alegação de nulidade por ausência de exame pericial em fita de vídeo, seevidenciado que a defesa permaneceu inerte durante toda a instrução criminal, quando
poderia requerer a perícia no prazo da defesa prévia ou na oportunidade do art. 499 doCPP.Ressalva de que o pedido de realização da diligência só foi formulado em sede derecurso de apelação.Material (fita de vídeo) que não era desconhecido pelos pacientes, ao contrário, foi por eles mesmos produzido, motivo pelo qual deveriam ter formulado pedido de realizaçãode perícia durante a instrução do feito, caso considerassem importante para a defesa.Ausência de ilegalidade na sentença condenatória, mantida pelo Tribunal de origem,que se baseou em outros elementos existentes nos autos, formando a convicção do d.Julgador pela existência do crime e sua autoria, o que já dispensa o referido exame.Ordem denegada.(HC 19.279/SC, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em17/12/2002, DJ 10/03/2003 p. 256)
Causas excludentes de ilicitude nos crimes contra a fauna
Art. 37 - Não é crime o abate de animal, quando realizado:
I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família;
É desnecessária essa norma, porque já configura estado de necessidade do
CP.
II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que
legal e expressamente autorizado pela autoridade competente;
Veja que tem que ter autorização para abater o animal predatório. Portanto,
abater animal predatório ou destruidor com autorização, não é crime.
IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.
O animal tem que ser nocivo por definição de órgão competente.
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Crimes contra a FLORA
Conceito de FLORA: é a totalidade das espécies vegetais de umadeterminada região, sem qualquer expressão de importância individual.
Compreende também as algas e fitoplânctons marinhos flutuantes (Edis
Milaré).
As infrações contra a flora eram contravenções previstas no art. 26 do Código
Florestal (Lei 4771/65). Essas contravenções estavam no art. 26, “a” a “q”.
Com a Lei dos Crimes Ambientais, só permaneceram em vigor as
contravenções penais das letras “e”, “j”, “l” e “m” do art. 26; as demais foram
tacitamente revogadas, passando a ser crime da LCA.
Art. 26. Constituem contravenções penais, puníveis com três meses a um ano de prisãosimples ou multa de uma a cem vezes o salário-mínimo mensal, do lugar e da data dainfração ou ambas as penas cumulativamente:
e) fazer fogo, por qualquer modo, em florestas e demais formas de vegetação, semtomar as precauções adequadas;
É diferente de incendiar a floresta.j) deixar de restituir à autoridade, licenças extintas pelo decurso do prazo ou pela
entrega ao consumidor dos produtos procedentes de florestas;l) empregar, como combustível, produtos florestais ou hulha, sem uso de
dispositivo que impeça a difusão de fagulhas, suscetíveis de provocar incêndios nasflorestas;
m) soltar animais ou não tomar precauções necessárias para que o animal de sua propriedade não penetre em florestas sujeitas a regime especial;
Crime do art. 38
Art. 38 - Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo
que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
Condutas: são três:
• Destruir: é aniquilar, fazes desaparecer;
•
Danificar: causar danos sem aniquilar;• Utilizar ilegalmente: utilizar infringindo normas de proteção.
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Objeto material do crime: apenas as florestas de preservação permanente (e
não qualquer floresta), adulta ou em formação.
O que é floresta? Florestas são grandes extensões de terra, cobertas por
árvores de grande porte, não inclui vegetações rasteiras. Esse conceito é dado
pela doutrina e pelo STJ (RESP 783652).
PENAL. RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE. ART. 38,DA LEI Nº 9.605/98. EXTENSÃO DA EXPRESSÃO FLORESTA.O elemento normativo "floresta", constante do tipo de injusto do art. 38 da Lei nº9.605/98, é a formação arbórea densa, de alto porte, que recobre área de terra mais oumenos extensa. O elemento central é o fato de ser constituída por árvores de grande
porte.
Dessa forma, não abarca a vegetação rasteira.Recurso desprovido.(REsp 783652/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em16/05/2006, DJ 19/06/2006 p. 196)
O que marca a floresta são as árvores de grande porte.
Agora, o que são florestas de preservação permanente?
Floresta de preservação permanente é espécie do gênero área de preservação
permanente.
Quais são as florestas de preservação permanente? São todas que estão no
rol do art. 2º do Código Florestal e todas que sejam declaradas pelo poder
público como de preservação permanente (art. 3º do Código Florestal).
Que poder público? Pode ser o poder público federal, estadual, municipal ou
distrital.
“Florestas das nascentes de rio”: também são de preservação permanente –
Lei 7754/89.
Art. 1º São consideradas de preservação permanente, na forma da Lei nº 4.771, de 15 de
setembro de 1965, as florestas e demais formas de vegetação natural existentes nas
nascentes dos rios.
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Florestas situadas em áreas indígenas: são de preservação permanente –
art. 3º, §2º Lei 4771/65:
§ 2º As florestas que integram o Patrimônio Indígena ficam sujeitas ao regime de preservação
permanente (letra g) pelo só efeito desta Lei.
Florestas artificiais: são florestas que foram feitas pelo homem (este fez o
florestamento ou reflorestamento) e podem ser declaradas como área de
preservação permanente.
Elemento subjetivo: dolo e culpa.
Parágrafo único - Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.
Obs: cortar árvores em floresta de preservação permanente configura o crime
do art. 39:
Art. 39 - Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem
permissão da autoridade competente:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
A única diferença é o verbo do núcleo do tipo, que é “cortar”, mas veja que
cortar é danificar.
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