amazônia no mundo em 'grande transformação': conhecimento e ignorância, ciência e...
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
IEA-FAU
Amazônia no Mundo em ‘Grande Transformação’:
Conhecimento e Ignorância, Ciência e Poder
José Oswaldo Conti-Bosso
Trabalho de Conclusão da Disciplina Pós-
Graduação: IEA-FAU/USP: Amazônia em
Transformação /AUH 5837- História da
Paisagem Brasileira (2º Semestre/2011).
Orientadores
Prof. Dr. José Pedro de Oliveira Costa
Profa.
Co-orientadora: Dra. Maria José Gomes
Feitosa
São Paulo
2012
Dedico, com carinho, este trabalho à
Raquel Duarte Venturato e a Mamirauá
(RDS), mais um “ponto de mutação” em
minha vida.
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Resumo
Este artigo tem como objetivo, passar o que busco pra mim: uma Ideia, uma Proposta e uma
Aposta. A Amazônia no Mundo em „Grande Transformação‟: Conhecimento e Ignorância,
Ciência e Poder. Amazônia „azul‟, verde‟ e „vermelha‟. O desmanche da catedral do poder
global dos últimos séculos. O ocidente não mais define a agenda global no mundo multipolar.
Gostaria de saber, desejo buscar pela intuição e pelos estudos, do enigma ao conhecimento, da
“Nova Era Vargas” e a utopia do Brasil no cenário global para além da “Nova Era Vargas”:
Brasil, a sociedade afluente dos trópicos na nova economia verde? “Para onde vai São Paulo”
e “Para onde vai o Brasil” na “Nova Era Vargas”? Dobrar a aposta de JK: Desenvolver um
século numa geração? A “influência das grandes ONGs transnacionais conservacionistas
sobre os modelos de ciência da conservação hoje usado no país, sugerem a necessidade de um
estudo mais aprofundado sobre seu papel no mundo globalizado da conservação da natureza”
Modelo “Wall Street Game” ou “Community game" (Cooperação Natural)?
Palavras-chave: Amazônia no Mundo em „Grande Transformação‟, Conhecimento e Ignorância, Ciência e Poder, Desmanche da Catedral do Poder Global, “Nova era Vargas”. CONTI-BOSSO, J. O. (2012) Amazônia no Mundo em „Grande Transformação‟: Conhecimento e Ignorância, Ciência e Poder. Amazônia „azul‟, verde‟ e „vermelha‟. IEA- FAU-Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2012.
Abstract:
This paper has an object to show what I´m looking for to myself: An Idea, a Proposal and a
Bet. The Amazon in a World at „Great Transformation‟: Knowledge and
Ignorance, Science and Power, the “green” Amazon , the “blue” Amazon and the “red”
Amazon . The global power shift. The West no longer sets the global agenda in the multipolar
world. I want to know, I would like to know, by intuition and by research, our knowledge
of reality in “Vargas New Age” and the Brazil utopia in the global scenarios beyond the
“Vargas New Age”: Brazil, the tropical affluent society in new green economy? “Where will
be Sao Paulo” and “Where will be Brazil” in the “Vargas New Age”? Doubling the JK bet: A
century to develop in a generation? “The great influence of NGOs transnational conservation
(the fake of “global good guys” - Bad Samaritans) on conservation science models now
used in the country, suggest the need for a deeper study of its role in the globalized world of
nature conservation”. “Wall Street Game” or Community game model?
Key words: Amazon, „Great Transformation‟, Knowledge and Ignorance, Science and Power
The global shift power, “Vargas New Age”.
CONTI-BOSSO, J. O. (2012) The Amazon in a World at „Great Transformation‟: Knowledge
and Ignorance, Science and Power. The „green‟ Amazon , the „blue‟ Amazon and the „red‟
Amazon. Article. IEA- FAU-Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
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EPICURO escreveu a MENECEU,(há dois mil anos):
“Quanto ao destino, que alguns consideram o senhor de tudo, o sábio ri-se dele. De fato,
mais vale ainda aceitar o mito sobre os deuses do que se sujeitar ao destino dos físicos. Pois
o mito nos deixa a esperança de nos conciliarmos com os deuses através das honras que
nós lhe rendemos, ao passo que o destino tem um caráter de necessidade inexorável”.
Ilya Prigogine, O fim das certezas, 1996.
“Como toda filosofia inicia pela dúvida, assim também inicia pela ironia toda vida que se
chamará digna do homem.”
Kierkegaard, O Conceito de Ironia, 1841.
“Com efeito um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-me uma ideia no
trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer
as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-
la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um
X: decifra-me ou devoro-te.”
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cuba, 1880.
“Eu não sei de nada, mas desconfio de muita coisa”
Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas.
“A clarividência é uma virtude que se adquire pela intuição, mas sobretudo pelos estudos,
tentar ver a partir do presente, o que se projeta no futuro.”
Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá.
“The Future is uncertain.... but this uncertainty is at very heart of human creativity”
(O futuro é incerto .... mas esta incerteza está no coração da criatividade humana)
Ilya Prigogine
“Não tenho um caminho novo. O que eu tenho de novo é um jeito de caminha.”
Poeta Thiago de Mello.
SUMÁRIO
1- Introdução ....................................................................................................................................... 7
2- A vida como teatro ........................................................................................................................ 10
3- Conhecimento e Ignorância: ......................................................................................................... 16
Mamirauá (RDS-Reseva de Desenvolvimento Sustentável) .............. Error! Bookmark not defined.
4- Ciência e Poder: ............................................................................................................................ 20
A ciência no pedestal:“Paradigmas” viram “Paradogmas” ........... 3Error! Bookmark not defined.
5- Amazônia no Mundo em ‘Grande Transformação’: ..................................................................... 41
Amazônia brasileira e sul americana... ......................................... Error! Bookmark not defined.
Amazônia “azul” ......................................................................... Error! Bookmark not defined.
Amazônia “vermelha” ................................................................. Error! Bookmark not defined.
Amazônia “verde” ............................................................................. Error! Bookmark not defined.
Os neomalthusianos catastrofistas ............................................... Error! Bookmark not defined.
Teoria de CO2 e Mercado de Carbono (CO2) .................................... Error! Bookmark not defined.
6- Conclusão: ......................................................................................... Error! Bookmark not defined.
Um Ideia, uma Proposta e uma Aposta ......................................... Error! Bookmark not defined.
Brasil, a sociedade afluente dos trópicos na nova economia verde?Error! Bookmark not defined.
Anexo I ......................................................................................................................................... 0
Palestras e conferências do curso “Amazônia em Transformação”: .............................................. 0
Referências Bibliográficas: ...................................................... Error! Bookmark not defined.
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1. Introdução
“Morre e transforma-te”, GOETHE.
“A substância viva é o ser que é sujeito em verdade.”, HEGEL.
“Gostaria de começar com palavras nuas, palavras do coração”, agradecer os
professores, coordenadores, colegas e novos amigos, e dizer, foi uma honra e um enorme
prazer ter a oportunidade de participar e compartilhar reflexões neste curso com vocês.
O curso „Amazônia em Transformação‟, como bem explicou na aula simbólica de
encerramento, o Professor Coordenador, José Pedro de Oliveira Costa, não teve um foco
específico, pois tivemos a participação de mais de uma dezena de profissionais e especialistas
(lista: Anexo I) sobre os diversos temas e complexidade das florestas tropicais e do universo
amazônico brasileiro e sul americano. Os temas gerais, diria que foi „um mar de
conhecimento‟, com „um dedo de profundidade‟, o que achei excelente, uma visão
panorâmica do todo. “A tendência da especialização é conhecer cada vez mais de cada vez
menos”, e “no fim sabe tudo de nada”. Guardadas as devidas proporções, o fato traz
semelhanças com o que venho procurando entender em minha caminhada e especialmente nos
últimos semestres, diria um período sabático, como o ciclo da terra, ora tempo de plantar, ora
tempo de colher.
Nessa fragmentação do conhecimento nas diversas disciplinas, seja inter-intra-poli-
transdisciplinaridade, que por vezes nos perdemos nas hiperespecializações e nos detalhes
entre as partes e o todo. Outro ponto que creio, tenha relação com o primeiro, e despertou-me,
saltou à vista nessas recentes experiências, é a relação entre o mundo da Academia (o
„academissismo‟), o mundo das empresas e a Sociedade civil. É notável ver as enormes
distâncias entre a realidade da Universidade e a realidade da sociedade.
A parceria entre IEA e a disciplina de Pós-Graduação da FAU: História da Paisagem
Brasileira foi uma oportunidade do acaso, oportunidade única para inscrever-me na disciplina,
como aluno especial. Sou um „cristão novo‟ nessa seara
Tenho consciência que o „modelo‟ de ensino no geral, não é desenhado para pessoas
com o meu perfil, um engenheiro cinquentão, que vem procurando algumas reflexões, entre as
quais, passando e sapeando a seara de diversas áreas, da Filosofia e História da Ciência,
Historiografia (História da história em perspectiva), Sociologia, Física, Economia Política,
Psicologia, Biologia,..., ou seja, não tem uma metodologia especifica, mais a riqueza das
experiências e do panorama geral é de um valor considerável. As vezes, entre o „Super Eu‟ e o
“Ideal de Eu‟, sendo um rapaz vindo do interior, meu „alterego‟ chega a pensar que Villa
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Lobos compôs para mim “O Trenzinho do Caipira”, mas a vida nos ensina também a cidade
da selva de pedra. Ultimamente, em meio às dúvidas, pergunto-me, ainda sou engenheiro? de
quê? Uma pequena histórias da vida cotidiana, minha ex-esposa, certa vez disse, “nossa, mas
você tem um orgulho de ser engenheiro, você só usa o CREA, eu não tenho o mesmo orgulho
da carteira de professora”, a gente usa as estruturas sociais sem consciência, sem saber de
nossa história patrimonialista e de privilégios, desde os tempos imemoriais de nossas raízes e
formação. Nos últimos tempos, na perspectiva de uma “engenharia dos laços socais”, voltei
a ser professor, não como quando era estudante de engenharia e fui professor de escola
técnica, onde sem saber, aprendia mais com os alunos do que ensinava, mas para responder
perguntas, como: Qual o seu cargo? Qual a sua formação? Qual a sua profissão? Confesso que
tem voltado a vontade de dar aulas, para aprender mais, pois ser professor é uma função
privilegiada, se tiver olhos para ver, num ensinar-aprender na relação entre aluno-professor.
Os tempos são outros, mas a dúvida é uma dádiva dos deuses ao ser, “Mudam-se os tempos,
mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança. Todo mundo é feito de mudança,
na busca de novas qualidades” (Luís de Camões).
Os conhecimentos e experiências adquiridos ao longo das jornadas, estão sendo
fundamentais para ampliar minha visão, para uma melhor compreensão do todo e uma melhor
leitura sobre as florestas tropicais e suas histórias, desde os mitos seculares do “paraíso
perdido”, passando no Brasil pela primeira lei, Código Florestal: “A floresta pertence ao
povo” (Governo Vargas, anos 30), Nos anos 60 e 70 com a ditadura militar, e as políticas para
a Amazônia e florestas tropicais no terceiro mundo, das últimas décadas até os nossos dias.
Gostaria de reafirmar, o curso foi plural e fundamental para aprimorar minha formação
e conhecimentos no assunto, fato absolutamente louvável, com a qual parabenizo os
professores, colegas e novos amigos. Meus votos e sinceras saudações a todos, no ano de
2012, como „cristão novo‟ deixo meu muito obrigado.
Portanto, diria que foi uma surpresa muito boa. No início do curso, eu não tinha um
projeto claramente delineado, venho de outras praças, caminhando na estrada da vida,
continuava minha procura, agora as ideias, creio, começam a clarear, entre as partes e o todo,
(...) “a estudar, a escrever ou investigar só se aprende no exercício dessas tarefas”
(ZUBIZARRETA, p. VII, apud ECO, p. 14).
Pensando nas palavras do Professor José Pedro, procurei em meus estudos aqui, dentro
do possível e dos meus parcos conhecimentos, focar e fazer, ao mesmo tempo, uma análise e
uma síntese sobre estudos realizados de cenários futuros sobre a Amazônia, ou seja, o foco
segue a linha do curso, não é pesquisar mais a fundo os temas específicos.
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A narrativa é numa perspectiva mais qualitativa (ciências sociais), além da quantitativa
(ciências naturais), a opção é uma maior abrangência e menor objetividade. A pretensão de
criar um diálogo entre ciências naturais, com métodos mais precisos, eficazes e mais
monótonos, em contraposição as ciências sociais e a história, discurso mais rico e atraente,
procurar tangenciar o limite, a memória social, “temos uma necessidade civilizacional de
acertar contas com o passado” (Johan Huizinga, El concepto de La Historia, 1947).
Procurar distinguir entre fatos e evidências, não um olhar sobre as árvores, mas um
olhar sobre a floresta como um todo, tendo como linha de pensamento, o professor Aziz
Ab´Sáber, “não existe uma Amazônia, existe realidades diferentes que precisam ser
entendidas”. A criatividade inerente a natureza e ao ser. Para mim, é um ponto de partida e
não de chegada. Construir, como a costura materna, uma „colcha de retalho‟, do conhecimento
do todo ao conhecimento do singular, do ser à célula.
Segundo Harold Bloom, William Shakespeare foi o homem que inventou o ser
humano que somos hoje, disse que, “a vida é um palco, somos meros atores”, o vagabundo, o
genial vagabundo, Chaplin, que “a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios”, o
poeta e diplomata, Vinícius, que “a vida não é brincadeira, amigo”. Raymundo Faoro e sua
veia kierkegaardiana, dizia, “não exagere na ironia, as pessoas podem não entender”.
Em geral não temos consciência que estamos participando de um teatro, de uma
grande encenação, muitas vezes sem saber o enredo, participamos em peças, na qual nosso
papel pré-definido é ser um simples figurante, ou mesmo que você perceba no processo, que
seu papel, na verdade, é ser um „figurante mudo‟, leve na “Paciência”, “a vida não para..., a
vida é tão rara...” (Lenine), O poeta trovador Gonzaguinha, perguntou: “o que é a vida?”, “A
vida é o que acontece com você, enquanto você está muito ocupado fazendo outros planos”
(John Lennon).
Eu afirmo aqui, com prazer e esperança (do verbo esperançar -“sorrir para o futuro a
„despeito de‟”), minha conclusão é que, mesmo que você sinta algo além da “sociedade
disciplinar”, da “sociedade do controle” (Foucault & Deleuze), da “sociedade do risco”
(Ulrich Beck), não se deve desistir, jamais, vale à pena participar, mesmo como simples
„figurante mudo‟, mesmo que não seja possível ir além das fronteiras pré-estabelecidas, do
jogo muitas vezes pré-determinado, pois depende de você sair melhor do que entrou na
representação teatral e na encenação do palco da vida. E quem sabe, olhar para trás e sorrir
outras vezes, dos erros e da vida; “depois que tudo for esquecido, o que fica é o aprendido”
(Rubem Alves) e os sorrisos, nos prazeres e nos fracassos, nessa vivessênciaprendiz®.
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2. A vida como teatro
“A engenharia é a arte de dirigir as grandes fontes de energia, para uso e conveniência do
homem”. (1˚ Enciclopédia Britânica, séc. XVIII/ início séc. XIX).
“A primeira revolução prometeica, domesticara o fogo, a segunda revolução prometeica, ,foi a
máquina a vapor”, (Elmar Altvater, 1995).
Ouvi e não esqueci a frase acima sobre a arte da engenharia, na aula de Meio
Ambiente no início dos anos 80, na Escola de Engenharia de Lins, proferida pelo Prof. Jair
Bernardes, um mestre humanista, engenheiro formado no pós-guerra na Escola
Politécnica/USP. Só viria a entender uma dimensão bem mais ampla do contexto das palavras,
anos depois, ao ler sobre o pensamento iluminista do século XVIII. Aí sim, descobri que não
era uma frase de engenheiros, ou só de engenheiros, mas sim um conceito, um pensamento e
visão de mundo do homem iluminista, construído ao longo de séculos. Como afirma Rachel
Carson (Silent Spring, 1961), o controle da natureza é uma sentença concebida na arrogância,
nascida na idade da biologia e da filosofia, quando se supunha que a natureza existia apenas
para “uso e conveniência do homem”. O „Mito‟ do homem moderno, o homem cartesiano,
determinista, da ciência da certeza, a racionalidade reducionista e a “intelligentsia estúpida”.
O fato e a ironia nesse início de século XXI em que vivemos, é que, ainda não
mudamos muito. Thomas Mann descreveu de forma brilhante e mágica: “Existem várias
formas de estupidez, a intelligentsia estúpida é a pior delas”.
Os fatos e as histórias das civilizações, como no século XX, refletem e demonstram
essa ironia perversa. Esse “Ser” cartesiano, determinista, da ciência da certeza. O antropólogo,
A. C. Diegues (2008), cita Edgar Morin, “o pensamento técnico-racional, ainda hoje se vê
parasitado pelo pensamento mítico e simbólico”, (DIEGES, p. 17,).
A história e o momento cultural em que vivemos. Certamente não é nada fácil termos
a percepção das mudanças na história em seu próprio tempo. O que dirá de se aventurar no
tempo futuro?
Há 2400 anos, Aristóteles, disse, “O homem é um animal racional”, e nós repetimos
suas palavras desde então. Michel de Montaigne disse no século XVI, “O homem é um animal
que crê”, a percepção que se têm é que foi pouco compreendido, há exceções, Ortega Y
Gasset é um deles, outro, o poeta T. S. Eliot, que em meados do século passado, afirmou,
“persistimos em crer”.
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“O tempo é a substância de que sou feito. O tempo é um rio que me arrasta, mas eu sou o rio;
é um tigre que me destroça, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o
fogo”. Jorge Luís Borges, “Nova Refutação do Tempo”, Obras Completas, II, p.144.
A temporalidade “Sobre o Tempo” (Norbert Elias). O tempo cronológico e o tempo
geológico. O tempo do historiador e o tempo do sociólogo. O tempo do instante (agora), o
tempo breve (Humano), o tempo de curta duração (político) e o tempo de longa duração, a
pluralidade do tempo social para entender a história, a história é uma dialética de longa
duração, conjuntural, estrutural e matematização social (Escola dos Annales).
Os gregos nos legaram também, pelo menos três importantes sentidos do Tempo, A
primeira, arcaica, é Aiôn, o tempo da eterna presença, privilégio dos deuses, a segunda, a mais
difundida, é Cronos, o tempo da sequência das épocas, vida dos mortais, o “relógio
mecânico” da modernidade ocidental. E o terceira, Kairós, o tempo da ocasião oportuna,
simbolizada pela estrada que bifurca. “Quiçá não haja erro excessivo em afirmar que, nas
Ciências contemporâneas, está ocorrendo um deslocamento ou desfocamento das linhas de
pesquisa, de Cronos para Kairós (e Aiôn)”, (Luiz Alberto Oliveira, Dr. Cosmologia,
Mutações elogio a preguiça, 2011, org. Adauto Novais).
O tempo da chuva. Em Belém do Pará, a população tem o hábito de marca os
encontros para “após a chuva da tarde”. Se você perguntar-se qual é a hora cronológica da
chuva? É porque sua vida urbano-industrial perdeu referências com a natureza.
No meu tempo de menino, menino de engenho, e lá se vão décadas, o tempo da vida
era o tempo da escola, era o tempo da rua, era o tempo do jogo de bola na rua, o tempo do
jogo de bola era em „gols‟, o tempo era „vira dois e acaba quatro‟, ou „vira cinco e acaba dez‟,
um jeito de ser da “Dialética da Malandragem” (Antonio Candido) do corpo, do inconsciente.
Albert Einstein dizia e nos fez crer por um bom tempo que: “O tempo é uma ilusão”.
Décadas passadas, na outra ponta da equação, Ilya Prigogine afirmou: “O tempo precede a
existência” (1985).
“A mente é um caos de deleite”, assim anotou em seus escritos um jovem,
contemplando e desfrutando a visão do horizonte do alto do navio ancorado na baía, olhava a
floresta tropical brasileira. O ano era 1832, a floresta tropical era na Bahia (Baía de Todos-os-
Santos), o navio chamava-se, Beagle Ship, o jovem era Charles Darwin.
“Olhar, ver e reparar”, o legado dos pensadores gregos. O olhar numa perspectiva
secular da modernidade, entre o “o mal estar da civilização” (Sigmund Freud), “o mal estar
da modernidade” (Zigmont Bauman), e “o mal estar na sala” da elite brasileira (Roberto
Schwarz).
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Tradução live, Paul Valery:
"Todas as nações que pensávamos ser sólidas, todos os valores da vida civilizada, tudo o que fez para a
estabilidade nas relações internacionais, tudo o que fez a regularidade na economia. . . em uma
palavra, tudo o que tende feliz para limitar a incerteza do amanhã, tudo o que deu às nações e
indivíduos alguma confiança no amanhã. . . tudo isso
parece muito comprometida. Tenho consultado todos os sinais que eu poderia encontrar, de cada
espécie, eu tenho ouvido apenas palavras vagas, profecias contraditório, garantias curiosamente
fraca. Nunca a humanidade combinou tanto poder com tanta desordem, tanta ansiedade com
tantos brinquedos, tantos conhecimentos com tanta incerteza ".
“All the nations we thought solid, all the values of civilized life, all that made for stability in
international relations, all that made for regularity in the economy . . . in a word, all that tended
happily to limit the uncertainty of the morrow, all that gave nations and individuals some confidence in
the morrow . . . all this seems badly compromised. I have consulted all the augurs I could find, of every
species, and I have heard only vague words, contradictory prophecies, curiously feeble assurances.
Never has humanity combined so much power with so much disorder, so much anxiety with so many
playthings, so much knowledge with so much uncertainty”.
(Paul Valery, “Historical Fact”, 1932, The Art of the Long View, 1996 p. xviii).
Nos anos 60, a negra americana, Nina Simone, cantava no tempo da contracultura e da
guerra fria, “nós estamos no meio de uma revolução, porque eu vejo a face das coisas que
virão”.
A crise global que começou sendo negada por quase todos, principalmente nos EUA,
passando por uma leve aceitação de crise financeira, depois uma crise que poderia ser similar
à depressão 1929 e a comparação com a depressão do século XIX (1873-1884), evoluindo
para a terceira grande crise do capitalismo global, (David McNally, Global Slump) e agora
uma crise sistêmica, “caminhando para um mundo pós-ocidental, onde o Ocidente não mais
definirá a agenda global como nos últimos séculos, são mudanças de placas tectônicas”.
(MOÏSI, p.).
A procura de uma visão sistêmica global com Euclides, Pascal, Descartes, Morin e
Kierkegaard, seja na dúvida, nas partes e no todo:
Euclides (Axioma): “O todo é maior que as partes”
Pascal:
“Como todas as coisas são causadas e causadoras, ajudadas e ajudantes, mediatas e imediatas, e todas
são sustentadas por um elo natural e imperceptível, que liga as mais distantes e as mais diferentes,
considero impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, tanto quanto conhecer o todo sem
conhecer, particularmente, as partes.” (Morin, 2003, p. 88)
Descartes: “Duvide de tudo”, mas não era essencialmente só cartesiano:
“Poderia surpreender que os pensamentos profundos sejam encontrados nos escritos dos poetas, e não
nos dos filósofos. O motivo é que os poetas se servem do entusiasmo e exploram a força da imagem.”
(Descartes, Cogitationes privatae, Morin, 2003, p. 92)
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Morin:
(...) “A idéia sistêmica, oposta à idéia reducionista, é que “o todo é mais do que a soma das partes”.
Do átomo à estrela, da bactéria ao homem e à sociedade, a organização de um todo produz qualidades
ou propriedades novas, em relação às partes consideradas isoladamente: as emergências. Assim
também, a organização do ser vivo produz qualidades desconhecidas no que se refere a seus
constituintes físico-químicos. Acrescentemos que o todo é, igualmente, menos que a soma das partes,
cujas qualidades são inibidas pela organização do conjunto.”
Morin, 2003, p. 94.
Kierkegaard:
“Em nosso tempo, tem-se falado frequentemente na importância da dúvida para a ciência; mas o que a
dúvida é para a ciência, a ironia é para a vida pessoal. E assim como os homens da ciência afirmam
que não é possível uma verdadeira ciência sem a dúvida, assim também se pode, com inteira razão,
afirmar que nenhuma vida autenticamente humana é possível sem ironia.”
(...) “Na medida, enfim, que a questão pudesse ser a da “validade eterna” da ironia, aí esta questão só
poderia encontrar sua resposta quando se entrasse no terreno do humor. Humor contém um ceticismo
muito mais profundo do que a ironia; ..., ele não se contenta em fazer do homem um homem, mas quer
fazer do homem um homem-deus.”
Kierkegaard. O conceito de ironia. 1841, p. 277-80.
“A dúvida é a jactância dos intelectuais” (Aldo Rico), ou deveria sê-lo, questionar o saber, o
saber escrito, o saber dos povos tradicionais e o saber do tempo da oralidade, tentar entender
as coisas da vida, o Brasil, as Américas e o mundo, a geoeconomia, a geopolítica, o
aquecimento global, as florestas tropicais, a Amazônia e as políticas para a Amazônia, os
nossos modelos de vida e os “modelos estatísticos médios” (Sistema Complexo) de
modelagens do mundo, as fronteiras das ciências naturais e sociais e suas relações:
conhecimento, ignorância, ciência e poder.
“Aos intelectuais cabe-lhes aprofundar a percepção da realidade social para evitar que se alastrem as
manchas de irracionalidade que alimentam o aventureirismo político, cabe-lhes projetar luz sobre os
desvãos da história onde se ocultam os crimes cometidos pelos que abusam do poder; cabe-lhes
auscultar e traduzir as ansiedades e aspirações das forças sociais ainda sem meios próprios de
expressão”.
Celso Furtado e o Brasil.
Alguém já disse, em algum lugar, que a coisa mais importante e preciosa inventada
pelo ocidente nos últimos séculos, foi à criação do „Pensamento Crítico‟, tudo o mais foi
inventado pelos chineses e o oriente, inclusive o jogo de golf, há mais de mil anos. Entrando
nos movimentos milenares, até mesmo a ideia bíblica cristã, à virgem dar à luz a um profeta,
não é uma ideia de origem ocidental.
“Uma imagem vale mais que mil palavras” (provérbio Chinês).
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Foto: proporção de tamanho entre a caravela chinesa e Colombo/Vasco da Gama: ZHENG HE
“Tudo já foi dito antes, mas como ninguém escuta, é preciso dizer de novo”
André Gide, Nobel de literatura, 1947.
A primeira década do início do século XXI foram anos de experiências intensas e
frutíferas para mim, fora e no Brasil. De repente, descobrir a vida como um verdadeiro teatro,
uma representação, uma ficção, como um show (“The Truman Show”, 1998), o filme; você
não sabe ao certo onde todo o processo começou, se na sua mente, se no que você viu e vê, ou
o mais provável, na interação entre a vida cotidiana, as experiências adquiridas e as práticas.
“Nada era mais irreal que a realidade”, assim, num estralar de dedos, comecei a ver a vida
nos EUA no início do século XXI, como num passe de mágica, seja numa loja para uma
simples decisão entre uma TV de tela plana, LCD ou Plasma, ou assistindo um debate na TV
sobre o mercado financeiro (entre os „Bears‟ e os „Bulls‟), tudo era absoluta representação.
Claro, isso também acontecia no Brasil, mas a percepção da mistura entre ficção e realidade
foi despertada nos anos de experiência vividos fora. Essa percepção ficou transparente e
cristalina nos anos vividos no “Tio Sam”, e principalmente após dois fatos que ocorreram
quase de forma simultânea para mim, a leitura do livro de John Kennety Glbraith, The
Economics of Innocent Fraud (Truth for our Time), 2004, e o discurso do escritor inglês,
Harold Pinter, Prêmio Nobel de literatura em 2005, foram marcos e divisores de águas, foi
uma verdadeira mudança de paradigma, por um bom tempo senti o chão sumir. “O sapo não
pula por boniteza e sim por precisão” (Guimarães Rosa):
John Kenneth Galbraith:
“Por quase setenta anos, minha vida profissional tem sido a preocupação com as questões econômicas,
com freqüentes serviços prestados na área pública e política que tinham aspectos econômicos e uma
passagem pelo jornalismo. Durante esse tempo eu aprendi que para estar certo e ser útil, deve-se
aceitar uma contínua divergência entre a crença da sociedade, que eu tenho chamado de conhecimento
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convencional (conventional wisdom) e a realidade. E no final, sem surpresa, é a realidade que conta.
Este pequeno livro é o resultado de muitos anos de reflexão, valorizando e utilizando esta distinção, e
minha conclusão é que, a realidade social é mais obscurecida pela habitual preferência pessoal ou
grupos pecuniária (financeiro) e pessoal em vantagens economias e políticas, do que em qualquer
outro assunto. Nada mais tem capturado meu pensamento, e o que se segue é uma visão considerada
dessa diferença.”
(...) “A preocupação neste ensaio é a forma como, fora das pressões politicas, financeiras e modas de
época, os sistemas econômicos e políticos cultivam a sua própria versão da verdade. Esta última, não
tem necessariamente, relação com a realidade.”
Kenneth Galbraith: The economics of innocent fraud: truth for our time
Introduction and a Personal Note, John Kenneth Galbraith, pages ix/x, 2004
tradução minha).
Harold Pinter inicia assim seu discurso na academia da Suécia:
“Em 1958, escrevi o seguinte: „Não existem distinções concretas entre o que é real e o que é irreal,
nem entre o que é verdadeiro e o que é falso. Uma coisa não é necessariamente ou verdadeira ou falsa;
pode ser verdadeira e falsa a um só tempo‟.
Acredito que essa alegação continue a fazer sentido e continue a se aplicar à exploração da realidade
por intermédio da arte. Portanto, como escritor eu reafirmo o que disse. Mas não posso fazê-lo como
cidadão. Em minha condição de cidadão, me cabe perguntar: O que é verdadeiro? O que é falso?”
(...) “O que aconteceu à nossa sensibilidade moral? Será que um dia ela existiu? O que quer dizer essa
expressão? Refere-se a um termo raramente empregado nos nossos dias, a consciência? Uma
consciência que se relaciona não apenas aos nosso atos mas à responsabilidade de que
compartilhamos pelos atos alheios? Será que isso tudo morreu?”
Harold Pinter: Art, Truth & Politics, Nobel Lecture, Dez./2005.)
John Maynard Keynes e a linha dos pensamentos reflexivos acima: “sempre que a
realidade muda, eu mudo minha opinião.”
As histórias no tempo: O INDIANO E EIKE BATISTA
Uma idéia, depois de lançada no ar, pertence a todos, e quem tem o poder de
amplificá-la, geralmente acaba ficando com os louros, “papagaio come milho piriquito leva
fama”. Uma história de mais de seis anos, vem a baila, volta a dar a luz da graça meses atrás.
Em março de 2006, meu amigo ouviu de um engenheiro indiano, que morava a um bom
tempo nos EUA, disse o indiano, “o Brasil nessas próximas duas décadas, será como os EUA
nos anos sessenta e setenta para desenvolvimento”. Acompanhavamos as noticias da “terra
brasilis”, estavamos em plena balburdia da reeleição e do vulgo “mensalão”. Fui
absolutamente pessimista, disse ao meu amigo, “cara, esse indiano da viajando”. Fui para casa
após o expediente, e as palavras do indiano a torturar-me a pestana, não saiam da mente ao
colocar a cabeça no travesseiro, comecei a refletir entre o que ouvi sobre as palavras do
indiano e a minha posição pessimista. Levei dias, mas veio o peso da consciência, pois o
indiano era um engenheiro que tinha uma visão do Brasil, eu era um engenheiro que não tinha
uma visão da Índia. Portanto o cara poderia (e era) mais preparado do que eu no assunto, os
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dias e as noites foram longas, não dormi naquela noite e os meus dentes doem até hoje. Meses
atrás, quarto trimestre de 2011, ouvi as mesmas palavras do indiano, amplificada pelo
empresário Eike Batista, como diria Nelson Rodrigues, “A vida como ela é”.
Em outubro do mesmo ano (2006), lia na mídia (NYT, W. Post e TV a Cabo, etc.) que
os gringos estavam massacrando um tal de “Dr. Doom” (louco), fui pesquisar para saber sobre
o assunto, era um economista, um tal de Noriel Roubini, ele tinha proferido uma palestra no
FMI no mês de setembro de 2006, na qual alertava sobre uma crise financeiro forte que viria
nos próximos anos. As três palavras de ordem era “War on Terror”. Em agosto de 2007, os
mercados financeiros globais, tiveram o primeiro crash, o FMI chamou novamente o “Dr.
Doom” (Roubini) em setembro de 2007, para outra palestra. O mundo já tinha mudado, mas o
pensamento do “conventional wisdom” (Kenneth Galbraith), a ideologia, a cegueira, a
ignorância e a “intelligentsia estúpida” do pensamento dos neoconservadores, se recusavam a
olhar a realidade, o resto é história.
3. Conhecimento e Ignorância:
“A escola não produz apenas conhecimento e elucidação, produz também ignorância e cegueira”
Os sete saberes necessários à educação do futuro, Edgar Morin.
“Mas o início e o fim de toda ciência não estão envoltos em obscuridade?”, Kleist, apud Morin, 2003.
Esse pensamento me acompanha também há algum tempo, como explicar essa nossa
aparente contradição entre conhecimento e ignorância?
Para pinçar um exemplo em nossa recente história, no início do século XX e durante a
grande depressão da crise global de 1929. Surgiram três grandes forças políticas no mundo, o
“New Deal” americano, o “Nacional Socialismo” na Alemanha, e a Revolução Proletária
Soviética de 1917, na qual somente uma teve um período de êxito. A Alemanha nas décadas
de 20 e 30, já era uma sociedade em que não se tinha analfabetismo há um bom tempo, era um
dos países onde se mais liam livros, uma sociedade aparentemente evoluída, culta e complexa,
no entanto, essa sociedade produziu o nazismo, deixou-se guiar por um real “Dr. Doom”
(Hitler). A revolução soviética, como sabemos, foi outro exemplo catastrófico. Os EUA hoje
estão imersos numa sociedade completamente dividida, e cada vez mais, na cegueira
ideológica e na “intelligentsia estúpida”. A China, o sistema chinês hoje, é a dúvida, a
incógnita que paira no mundo. Como entender essas nossas contradições do espírito humano?
“O saber não é nada além do que as pessoas sabem”, Lévy (1999, p. 29).
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“Se você comete a fraqueza de pensar que alguém é ignorante, procure em que contexto o que essa
pessoa sabe é ouro”, Pierre Lévy (1999, p. 29).
Mamirauá- Tefé – Amazônia – Brasil e Raquel Duarte Venturato:
Esse curso teve um momento, o momento mais importante na minha concepção, “o
ponto de mutação”, como disse mais acima, quando você chega em casa e ao colocar a cabeça
no travesseiro, fechar os olhos, ele continua a ver, foi um momento de profunda reflexão
sobre o Brasil profundo: A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá- Amazonas.
A experiência da bióloga Raquel Duarte Venturato em Mamirauá. O fato também poderia ser
sobre as tribos indígenas e comunidades caboclas e ribeirinhas em torno da grande São Paulo.
O choque da civilização urbano-industrial e a vida dos povos tradicionais no campo, creio não
ser a mesma pessoa depois dessa experiência vivida em sala de aula. A Bióloga Raquel, teve
quase dois anos de vivência na comunidade de Mamirauá (a principal experiência brasileira
de reserva sustentável), no curso, Raquel foi convidada pelo Professor José Pedro a fazer uma
apresentação sobre a Reserva Mamirauá. Abaixo alguns slides da apresentação da Raquel para
que tenhamos uma visualização do local, localização da área e da vida na comunidade.
Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
TEFÉ – AMAZONAS – BRASIL
18
CORREDOR DA AMAZÔNIA CENTRAL
Missão Instituto Mamirauá
Promover pesquisa científica para a conservação da biodiversidade, através de manejo participativo e sustentável dos recursos naturais na Amazônia
Pesquisa
Manejo participativo de RNs
Monitoramento
Instituto Mamirauá
Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável
www.mamiraua.org.br
Raquel Duarte Venturato
Obrigada!
Ao terminar a apresentação nossa colega foi bombardeada de perguntas pelas pessoas
da civilização urbano-industrial presentes na sala, como eu, pois tínhamos a convicção, foi
nos ensinado, é a nossa tradição de longa data, na qual o modelo da ciência dos últimos
19
séculos, o modelo de vida na cidade, nos intui que somos povos – urbano industrial -
melhores, desde nossa colonização. Os Europeus, os “bons samaritanos” mais avançados que
nós, descobriram e trouxeram a civilização avançada do “homem branco” e agora também
queremos “ensinar” os caipiras, caboclos e povos da floresta, os ignorantes, que mal sabem
escrever, não é mesmo?
A bióloga ficou constrangida pelo bombardeamento de perguntas inquisitórias: Mas
eles tem que fazer isso, por quê não fazem? Por quê você não exige? Por quê isso e porque
aquilo? A pobre coitada da jovem moça, começou a ficar vermelha, suas bochechas rosadas,
transparecia seu constrangimento, lembrei das bochechas rosadas de minha avó italiana, mas
ela entrou no embate das idéias: eu não por quê vocês não vão morar lá e dizer isso a eles?
Raquel segurou a peteca, mas também não apareceu mais no curso, da qual não sei o motivo.
Pela oportunidade e pela experiência, a qual fiz questão de dizer em pessoa à ela após aq
apresentação e o debate, que tinha sido até aquele momento, o principal acontecimento do
curso, e, creio, continuou sendo. Pelo fato e pelos colegas, que chegamos ao final do curso
com uma nova visão do campo, da vida no campo e dos povos tradicionais, dediquei esse
trabalho a Raquel e a Mamirauá, pois foi mais um ponto de mutação em minha vida.
O fato acima trouxe memórias, no meu primeiro ano de engenharia, discutíamos em
classe, antes da aula, a queda de um Boing (a morte das centenas de pessoas devido a queda,
era um detalhe sem importância no ponte de vista do debate), um dos argumentos falado, era
que a empresa Boing tinha orgulho de dizer que nunca aconteceu erro técnico (nunca admitiu)
nas quedas de suas aeronaves. Já trazíamos, em nossa cultura, antes da universidade, o
pensamento da certeza e a prepotência do saber e “saber mais”. A fala entre nós, também era
de orgulho de quem seria futuro engenheiro eletrônico. Começou ali, o sonho, o orgulho de
vir a ser engenheiro, que vinha desde o ano que o homem pisou na lua, com nove anos, a ver
que a vida não era bem assim como as pessoas e instituições demosntram que são, as
aparências enganam. Uma tênue separação entre o “mito” que tinha criado e realidade.
Três exemplos para refletirmos sobre Conhecimento e Ignorância, com Einstein, Paulo
Freire e Sócrates, como ensina-nos Guimarães Rosa, “é junto dos bão que o cê fica mió”:
A nossa ignorância é infinita. O senso comum tende a pensar que conhecimento e
ignorância é uma relação inversamente proporcional, ou seja, quanto mais conhecimento se
adquire, menos ignorante ficamos. Ledo engano, é uma relação diretamente proporcional,
“quanto mais cresce nosso círculo de conhecimento, cresce proporcional nossa circunferência
e experiência com a ignorância”. (Albert Einstein).
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“(…) A fourth issue concerns the relationship between knowledge and ignorance, in that this is the
inverse of what is conventionally presumed. Even if the above assumptions are avoided, it may be
reasonable to expect that increasing knowledge will decrease ignorance. This is why risk assessment
frequently makes provision for further research to increase confidence in resulting knowledge.
Unfortunately, hard-won but oft-forgotten experience also shows this to be unfounded.
For example, advances in research and computing power reveal chaotic nonlinear dynamics in even the
most highly determinate systems. Knowledges of specific outcomes in fields like climatology,
oceanography and ecology have thus been recognized as less well-founded after such advances than
before. Einstein‟s much-credited analogy of a „circle‟ of knowledge helps illuminate this: as the circle
grows, so also increases the associated „circumference‟ of experienced ignorance. This recognition of
correlated (rather than inverse) relations between knowledge and ignorance, helps resolve apparent
contradictions between the „knowledge society‟ and the „risk society‟. (STIRLING, 2009.)
Paulo Freire: um educador reconhecido mundialmente, o intelectual brasileiro com
mais títulos “Honoris Causa” conquistados pelo mundo em toda nossa história (36), nos diz
em sua Pedagogia da Autonomia: “Não há saber mais ou saber menos, há saberes
diferentes.”
Sócrates, o pensador grego, talvez seja o exemplo mais vivo e conhecido no mundo
ocidental: “Só sei que nada sei” (quanto mais sei, mais descubro que nada sei, ou seja, nossa
sabedoria é limitada à nossa própria ignorância).
4. Ciência e Poder:
“A mente intuitiva é uma dádiva sagrada,...., e a mente racional é um
servo fiel”, Albert Einstein.
"Criamos uma sociedade que honra o servo, mas esqueceu a
essência/o presente", Iain McGilchrist.
Aristóteles e a ciência (episteme), “o saber”: o saber produtivo (fazer), o saber prático
(atuar) e o saber contemplativo (demonstrar).
O mundo e os modelos de representação do mundo, em Aristóteles e Galileu. Em
Aristóteles, por quase dois mil anos, a visão de mundo foi o “modelo” hierarquizado
aristotélico, onde a terra era o centro (modelo geocêntrico) e a tendência dos objetos era
permanecer em seu estado natural, em repouso. No “modelo” de Galileu, o sol é o centro
(modelo heliocêntrico, de Nicolau Copérnico) e a tendência dos objetos é manter seu estado
de movimento (movimento uniforme ou repouso). Galileu lançou o “Princípio da Inércia” e as
bases da Física Clássica (com variável do tempo), e conseqüentemente, o fim do „modelo‟ da
física aristotélica.
O mundo, na verdade, não mudou nada (o mundo físico lá fora permanece o mesmo há
milhares, milhões de anos), exceto numa coisa, uma ideia, essa nova ideia de Galileu, esse
novo “modelo” de representar o mundo, em oposição ao “modelo” de representar o mundo de
Aristóteles, é que fez a revolução. Disse Galileu, “essa nova ideia deve ser expressa em
21
termos matemáticos, (...), os segredos da natureza estão escritos em linguagem matemática, de
modo que, sem conhecer essa linguagem, não poderemos conhecer mais profundamente o
mundo em que vivemos.”
Axioma de Galileu:
“O livro da natureza está escrito em caracteres matemáticos”, Galileu. Il Saggiatore, (ALVES,
Rubem. Filosofia da Ciência, 1981, p.67).
A escola pitagórica grega foi precursora no espírito que anima nossa ciência: “o que
caracterizava os pitagóricos era sua firme certeza de que, para se compreender a natureza, era
necessário contemplá-la na busca de relações numéricas.” (ALVES, 1981, p. 60).
Hoje, como sabemos, quando temos uma ideia, seja em casa, ou um CEO numa
empresa, ou uma decisão política importante, um projeto de negócios, um projeto de vida, a
primeira questão que vem à mente, na família, na empresa, no governo, nas decisões
importantes, são os valores, os custos envolvidos para a ideia ser executada, tornar-se
realidade. Um homem de decisão diz: “mostre-me os valores envolvidos”, “eu preciso ver os
números, as probabilidades e viabilidades do negócio”.
De onde vêm as origens dessa linguagem? Claro, do Renascimento, de Galileu e o
“modelo” de representar o mundo em “números matemáticos”. Nasceu com Galileu o modelo
da „catedral mecânica‟ de representa o mundo em números.
“Galileu, ao propor a matemática como a linguagem a ser usada para traduzir a natureza, na realidade
construiu uma rede cujas malhas deixam passar cheiros, sons, cores, sensações táteis – por razões
óbvias: estes não eram os peixes que Galileu queria. No seu aquário só podiam sobreviver relações
matemáticas. Por isto, sua rede só segurava objetos matematizáveis.” (ALVES, Rubem. Filosofia da
Ciência, 1981, p.76).
Vou demonstrar, mais abaixo, quando o “modelo” de representar o mundo em
“números matemáticos” vira “mito”:
Mais de um século depois dos estudos de Henri Poincaré (século XIX) ter
demonstrado a presunção reducionista do mundo mecânico, onde não havia acaso (variância,
perturbabilidade, incerteza, indeterminação), tudo tinha causa e efeito. Começou com
Poincaré o conhecido e famoso “desabamento” da catedral mecânica do Renascimento, a
ciência cartesiana, determinista e reducionista da certeza, que ainda hoje vive em nossas ações
e pensamentos, Poincaré constatou, demonstrou aos físicos e ao mundo o “Problema dos três
corpos”, o cálculo dos corpos celestes no espaço, não era computável ao longo do tempo, é
indeterminado, no mundo da matemática pura, da precisão exata (quantitativa), - que nasceu
22
com o „modelo‟ de mundo de Galileu - não era possível fazer os cálculos com precisões
exatas entre as posições dos corpos no tempo, pois os erros acumulados se tornavam maiores
que as distâncias entre os corpos. Como dizia o poeta fingidor, “Navegar é preciso, viver não
é preciso”. (de precisão, exatidão).
Porém, em contrapartida, Poincaré introduziu no mundo prático, uma descrição
„qualitativa‟ de padrões de acontecimentos que, segundo ele, se dividem em três tipos de
tendências: tendência de estado mínimo, tendência cíclica e tendência caótica. Esse é um
ponto muito importante, e pouco entendido até hoje entre nós.
Foi com Henry Poincaré, século XIX, a primeira vez na história na qual a ideia de
Galileu encontrou seu limite. A ideia originalmente formulada e concebida por Galileu, no
espírito renascentista, na qual o seu (e nosso) “modelo” de representar o mundo, “tudo”
deveria ser traduzido em “números matemáticos” encontrou seu limite, seus questionamentos,
seus estremecimentos, foi o início do “desabamento” da catedral mecânica. Mesmo assim,
temos todo o fantástico desenvolvimento da ciência no século XX, como a teoria da
relatividade (com equações deterministas), a mecânica quântica (com equações
deterministas), a chegada do homem a sua lua, e todos os avanços da ciência, tudo ocorreu em
bases do pensamento cartesiano e determinista da ciência da certeza.
Recorrendo a uma citação Ilya Prigogine, Nobel laureado, por considerar
indispensável, pela forma brilhante e clara com explana os fatos históricos, e para meus
propósitos aqui. Seu primeiro trabalho em termodinâmica data da década de 40, foi um dos
pioneiros no debate sobre a necessidade de buscar um caminho para o “Fim da Certeza” na
ciência galeana-cartesiana-newtoniana, em que nossos “modelos” matemáticos de representar
o mundo, divergiam da realidade física e existencial:
PRÓLOGO - UMA NOVA RACIONALIDADE
“Segundo Karl Popper, o senso comum tende a afirmar “que todo evento é causado por uma evento que o
precede, de modo que se poderia predizer ou explicar qualquer evento... Por outro lado, o senso comum atribui
às pessoas sadias e adultas a capacidade de escolher livremente entre várias vias de ação distintas...”. Está
tensão no interior do senso comum traduz-se no pensamento ocidental por um problema maior, que William
James chamou de “dilema do determinismo”. Este dilema tem como desafio nossa relação com o mundo e
particularmente com o tempo. O futuro é dado ou está em perfeita construção? É uma ilusão a crença em nossa
liberdade? É uma verdade que nos separa do mundo? A questão do tempo está na encruzilhada do problema da
existência e do conhecimento. O tempo é a dimensão fundamental de nossa existência, mas está também no
coração da física, pois foi a incorporação do tempo no esquema conceitual da física galeana o ponto de partida
da ciência ocidental. Por certo, este ponto de partida é um trunfo do pensamento humano, mas está também na
origem do problema que constitui o objeto deste livro. Sabe-se que Einstein afirmou muitas vezes que o “tempo
é uma ilusão”. E, de fato, o tempo tal qual foi incorporado nas leis fundamentais da física, da dinâmica clássica
newtoniana até a relatividade e a física quântica não autoriza nenhuma distinção entre passado e o futuro.
23
Ainda hoje, para muito físicos, esta é um verdadeira profissão de fé: em termos da descrição fundamental da
natureza, não há flecha do tempo.
E no entanto, em toda parte, na química, na geologia, na cosmologia, na biologia, ou nas ciências humanas, o
passado e o futuro desempenham papéis diferentes. Como poderia a fecha do tempo emergir de um mundo a que
a física atribui uma simetria temporal?
Este é o paradoxo do tempo, que transpõe para a física o “dilema do determinismo”. O paradoxo do tempo está
no centro deste livro. O paradoxo do tempo só foi identificado tardiamente, na segunda metade do século XIX,
graças aos trabalhos do físico vienense Ludwig Boltzmann. Ele acreditara poder seguir o exemplo de Charles
Darwin na biologia e fornecer uma descrição evolucionista dos fenômenos físicos. Sua tentativa teve como
efeito pôr em evidência a contradição entre as leis da física newtoniana, baseadas na equivalência entre futuro
e passado. Na época, as leis da física newtoniana eram aceitas como a expressão de um conhecimento ideal,
objetivo e completo. Já que as leis afirmavam a equivalência entre passado e futuro, toda tentativa de conferir
um significado fundamental á fecha do tempo aparecia como uma ameaça contra esse ideal. A situação não
mudou hoje. Assim muitos físicos consideram a mecânica quântica no campo da microfísica, como a formulação
definitiva da física, assim como os físicos da época de Bolztmann julgavam definitivas as leis da física
newtoniana. Por isso, a questão permanece: como incorporar a fecha do tempo sem destruir essas construções
grandiosos do espírito humano?
Desde a época de Boltzmann, a fecha do tempo foi, portanto, relegada ao domínio da fenomenologia. Nós,
humanos, observadores limitados, seríamos responsáveis pela diferença entre passado e futuro. Esta tese, que
reduz a fecha do tempo ao caráter aproximado de nossa descrição da natureza, ainda é defendida na maior
parte dos livros recentes. Outros autores renunciam a pedir às ciências a chave do mistério insolúvel que
constituiria o surgimento da fecha do tempo. Ora, desde Boltzmann, a situação mudou profundamente. O
desenvolvimento espetacular da física de não-equilíbrio e da dinâmica dos sistemas instáveis associados à ideia
de caos força-nos a revisar a noção de tempo tal como é formulada por Galileu.
De fato, ao longo das últimas décadas, nasceu uma nova ciência, a física dos processos de não-equilíbrio. Esta
ciência levou a conceitos novos, como a auto-organização e as estruturas dissipativas, que são hoje amplamente
utilizados em áreas que vão da cosmologia, até a ecologia e as ciências sociais, passando pela química e pela
biologia. A física de não-equilíbrio estuda os processos dissipativos caracterizados por um tempo unidirecional,
e, com isso, a fecha do tempo estava associada a processos muito simples, como a difusão, o atrito, a
viscosidade. Podia-se concluir que esses processos eram compreensíveis com o auxilio simplesmente das leis da
dinâmica. O mesmo não ocorre hoje em dia. A irreversibilidade não aparece mais apenas em fenômenos novos,
como a formação dos turbilhões, das oscilações químicas ou da radiação laser. Todos esses fenômenos ilustram
o papel construtivo fundamental da fecha do tempo. A irreversibilidade não pode mais ser identificada como
uma mera aparência que desapareceria se tivéssemos acesso a um conhecimento perfeito. Ela é uma condição
essencial de comportamento coerentes em populações de bilhões de bilhões de moléculas. Segundo uma frase
que gosto de repetir: a matéria é cega ao equilíbrio ali onde a fecha do tempo não se manifesta, longe do
equilíbrio, a matéria começa a ver! Sem a coerência dos processos irreversíveis de não-equilíbrio, o
aparecimento da vida na Terra seria inconcebível. A tese de que a fecha do tempo é apenas fenomenologia
tornar-se absurda. Não somos nós que geramos a fecha do tempo. Muito pelo contrário, somos seus filhos.
O segundo desenvolvimento á revisão do conceito de tempo na física foi o dos sistemas dinâmicos instáveis. A
ciência clássica privilegiava a ordem, a estabilidade, ao passo que em todos os níveis de observação
reconhecemos agora o papel primordial das flutuações e da instabilidade. Associadas a essas noções, aparecem
também as escolhas múltiplas e os horizontes de previsibilidade limitada. Noções como a de caos tornaram-se
populares e invadem todos os campos da ciência, da cosmologia à economia. Mas, como mostraremos neste
livro, os sistemas dinâmicos clássicos instáveis levam também a uma extensão da dinâmica clássica e da física
quântica e, a partir daí, a uma formulação nova das leis fundamental da física. Esta formulação quebra a
simetria entre passado e futuro que a física tradicional afirmava, inclusive a mecânica quântica e a relatividade.
Esta física tradicional unia conhecimento completo e certeza: desde que fossem dadas condições iniciais
apropriadas, elas garantiam a previsibilidade do futuro e a possibilidade de retrodizer o passado. Desde que a
instabilidade é incorporada, a significação das leis da natureza ganha uma novo sentido. Doravante, elas
exprimem possibilidades.
(...) Como já ressaltamos, tanto na dinâmica clássica quanto na física quântica, as leis fundamentais exprimem
agora possibilidades e não mais certezas. Temos não só leis, mas também eventos que não são dedutíveis das
leis, mas atualizam as suas possibilidades.
(...) Chegamos aí às fronteiras de nosso conhecimento, numa área em que raciocínio físico e especulação
dificilmente se demarcam. Sem dúvida, é prematuro falar de demonstração ou prova, mas é interessante
analisar as possibilidades conceituais...
(...)E satisfatório o fato de que, mesmo em suas fronteiras, a física possa afirmar o caráter primordial da fecha
do tempo, mas o essencial de nossa tarefa continua sendo a formulação das leis da natureza em que se situa
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principalmente o nosso diálogo experimental, a área das baixas energias, a da física macroscópica, da química
e da biologia. É exatamente aí que se atam os laços que unem a existência humana à natureza.
A questão do tempo e do determinismo não se limita às ciências, mas está no centro do pensamento ocidental
desde a origem do que chamamos de racionalidade e que situamos na época pré-socrática. Como conceber a
criatividade humana ou como pensar a ética num mundo determinista? Esta questão traduz uma tensão
profunda no interior da nossa tradição, que se pretende, ao mesmo tempo, promotora de um saber objetivo e
afirmação do ideal humanista de responsabilidade e liberdade. A democracia e as ciência modernas são ambas
herdeiras da mesma história, mas essa história levaria a uma contradição se as ciências fizessem triunfar uma
concepção determinista da natureza, ao passo que a democracia encarna o ideal de uma sociedade livre.
Considerarmo-nos estrangeiros à natureza implica um dualismo estranho à aventura das ciências, bem como à
paixão de inteligibilidade própria do mundo ocidental. Essa paixão consiste, segundo Richard Tarnas, em
“reencontrar sua unidade com as raízes de seu ser”. Pensamos situar-nos hoje num ponto cricial dessa
aventura no ponto de partida de uma nova racionalidade que não mais identifica ciência e certeza,
probabilidade e ignorância.
Neste fim de século, a questão da ciência é muitas vezes colocada. Para alguns, como Stephen Hawking em sua
“Breve história do tempo” (1988), estamos próximos do fim, do momento em que seremos capazes de decifrar o
pensamento de Deus. Creio, pelo contrário, que estamos apenas no começo da aventura. Assistimos ao
surgimento de uma ciência que não mais se limita a situações simplificadas, idealizadas, mas nos põe diante da
complexidade do mundo real, uma ciência que permite que se viva a criatividade humana como a expressão
singular de um traço fundamental comum a todos os níveis da natureza.
Tentei apresentar esta transformação conceitual, que implica a abertura de um novo capítulo na fecunda
história das relações entre física e matemática, sob uma forma legível e acessível a todo leitor interessado na
evolução de nossas ideias sobre a natureza... (...) Embora este livro seja fruto de décadas de trabalho, estamos
apenas no início deste novo capitulo da história de nosso diálogo com a natureza. Mas o tempo de vida de cada
um de nós é limitado, e decidi apresentar os resultados como eles existem hoje. Não é à visita de um museu de
arqueologia que o leitor está convidado, mas sim a uma excursão por uma nova ciência em evolução.”
Ilya Prigogine, O fim das certezas, Cap. I, p:9-15, 1996. (inglês-1996).
Gostaria de citar mais um exemplo e fato, para que possamos ter mais uma noção de
como a percepção humana, a crença (é cientistas também têm crenças, muitos), não muda
rápido no tempo, demora a cair na nova realidade, para corroborar com o exemplo de Ilya
Prigogine sobre o físico, Ludwig Boltzmann, que intuiu, desejou que a física seguisse a
evolução de Charles Darwin.
A Carta de Voltaire” (fins do século XVIII), escreveu ele:
“Na França eu estava num mundo plena (no mundo de Descartes - meados do século XVII), em
Londres estou num mundo diferente, em que atuam forças (mundo da Teorias -“Leis” de Newton”).
É notável ver e constatar, que mais de um século depois da teoria da física clássica
(“Leis de Newton” – escrito em Latim: Philosophiae Naturalis Principia Mathematica), a
França ainda continuava com o paradigma das ideias de Descartes (em Latim: Principia
philosophiae)., ou seja, ainda não havia incorporado a física clássica de Newton.
As bases, a formação do pensamento ocidental, o „modelo‟ ocidental de nossas origens
mítica, a nossa Genealogia dos Deuses (Teogonia) de Hesíodo, que começa revelando no
início do poema, há quase três mil anos, o princípio das coisas: “No início de tudo, era um
caos”. O poema se constitui no mito cosmogônico (descrição da origem do mundo) dos
gregos, que se desenvolve com gerações sucessivas dos deuses, e na parte final, com o
25
envolvimento destes com os homens, originando assim os heróis. Nesse mito, as deidades
representam fenômenos ou aspectos básicos da natureza humana, expressando assim as ideias
dos primeiros gregos sobre a constituição do universo. Hoje sabemos que os egípcios também
tinham seu modelo, embora mais simples de representação do que os Deuses gregos, mas há
dois mil anos antes de Hesíodo. Falamos aqui em tempo de quatro a cinco mil anos, histórias
de tempos e movimentos milenares, ou tempo de longuíssima duração (Escola de Annales).
Desde que o passado deixou de lançar sua luz sobre o futuro, a mente do homem
vagueia em trevas”, (TOCQUEVILLE.apud ARENDT, p. 3).
Hoje, nas novas ciências, vale a linguagem kafkaniana, o discurso do „caos‟ é o tom, é
a música de fundo, a linguagem do medo e do caos expressa nas novas ciências,
principalmente nas novas ciências naturais (Climatologia, Ecologia, Oceanográfica,
Cosmologia, Astrobiologia). São evidentes as proporções alarmistas, pergunto, até onde vai a
ciência e onde começa o excesso de ideologia? Como sabemos, há uma crise também nas
ciências, pois as bases de nossa formação mítica, à tendência histórica era: “da desordem para
a ordem”, agora a sinalização é o inverso: “da ordem para desordem”, mas como num
“pêndulo” ou a “exuberância irracional”, o “Wall Street Game”, há claras evidências de
exageros e mal entendidos. A linha tênue, entre ciência e poder.
Ilya Prigogine lança novas reflexões para contrapor essa tendência (ciências naturais e
sociais), escreveu:
“Ao longo das últimas décadas, um conceito novo tem conhecido êxito cada vez maior: a noção de
instabilidade dinâmica associada ao „caos‟. Este último sugere desordem, imprevisibilidade, mas
veremos que não é assim. É possível (...) incluir o caos nas leis da natureza, mas contanto que
generalizemos essa noção para nela incluirmos as noções de probabilidade e de
irreversibilidade.”(Prigogine, 2002, p. 8).
Agora na passagem do século XX para o XXI, temos os supercomputadores,
desenhados em „modelos matemáticos estatísticos‟, para fazer a computabilidade, simulações
e estimativas. Em princípio creio não haver nada de errado com eles, pelo contrário, os
modelos matemáticos estatísticos médios (que é onde a ciência chega, a fronteira da ciência
hoje, “possibilidades”), claro que as vezes nos defrontamos com as linguagens dos cientistas
que nos lembram passagens na novela de Tom Wolfe, “A Fogueira das Vaidades” e seus
„Master of the Universe‟. „Modelagem‟ são cálculos que nos mostram tendências, estimativas
médias, por exemplo, que poderemos vir a ter aumento da temperatura na terra, seja de dois,
26
três ou quatro graus num período de tempo e/ou aumento do nível de água dos oceanos (fim
do século XXI, uma mera referência).
A questão é o que se faz depois com os resultados, com essa fronteira da ciência, com
essas „estimativas estatísticas médias‟, ou seja, depende também da perspectiva se a pessoa
está numa perspectiva otimista ou numa perspectiva pessimista. E aí, como diria o caipira do
interior de onde eu vim, “agora é que a porca torce o rabo”, pois a perspectiva não depende
só do humor, a perspectiva também depende dos interesses que estão em jogo, como aquela
velha e antiga pergunta, na geoeconomia, na geopolítica e governança global do pensamento
convencional, de décadas, para não dizer séculos: “Quem vai controlar o mundo e em quais
termos?”
Sabemos também que, muito depende da relação entre „ciência e poder‟, Raymundo
Faoro cita em “Os Donos do Poder”: “O poder é o poder”.
O poder da linguagem e o poder das leis fundamentais para o estudo da condição
humana:
“A contribuição da cultura das humanidades para o estudo da condição humana continua sendo
fundamental.
Em primeiro lugar, o estudo da linguagem; sob a forma mais consumada, que é a forma literária
poética, ele nos leva diretamente ao caráter mais original da condição humana, pois, como disse Yves
Bonnefoy, “são as palavras, com seu poder de antecipação, que nos distinguem da condição animal”.
E Bonnefoy enfatiza que a importância da linguagem está em seus poderes, e não em suas leis
fundamentais (3).”
A CABEÇA BEM-FEITA, p. 43, Edgar Morin.
O sociólogo alemão, Ulrich Beck, (The Risk Rociety, 1980´s) também entra nessa
seara do debate:
Tradução minha:
“O discurso sobre política do clima até agora é um discurso de especialistas e elitistas, em que as
pessoas, as sociedades, os cidadãos, trabalhadores, eleitores e os seus interesses, pontos de vista
e vozes são muito negligenciados. Assim, a fim de transformar a política de mudança climática da
cabeça aos pés, você tem que levar em conta a sociologia. Há uma suposição de fundo importante que
partilhamos na ignorância em geral sobre as questões ambientais e, paradoxalmente, isto é
incorporado na especialidade da sociologia do meio ambiental em si - esta é a categoria do meio
ambiente. Se o “meio ambiente” só inclui tudo o que não é humana, não social, então o
conceito é sociologicamente vazio. Se o conceito inclui a ação humana e a sociedade, então
é cientificamente errada e politicamente suicida.”
(…)“O que quer dizer afinal mudança climática? „É a modernização reflexiva, estúpido!‟ (Latour,
2008) ou para colocar a questão de outra forma: Como criar um esverdeamento (ecologização) da
modernidade?”
“The discourse on climate politics so far is an expert and elitist discourse in which peoples, societies,
citizens, workers, voters and their interests, views and voices are very much neglected. So, in order to
turn climate change politics from its head onto its feet you have to take sociology into account. There is
an important background assumption which shares in the general ignorance concerning environmental
issues and, paradoxically, this is incorporated in the specialism of environmental sociology itself – this
is the category of „the environment‟. If „the environment‟ only includes everything which is not human,
27
not social, then the concept is sociologically empty. If the concept includes human action and society,
then it is scientifically mistaken and politically suicidal.”
(…) “So what is climate change all about? „It‟s reflexive modernization, stupid!‟ (Latour, 2008) or, to
put it in the form of a question: How to create a greening of modernity?”(BECK, 2010, p.).
Gostaria de recorrer também a outro estudo recente sobre os nossos modelos de
mundo. Yochai Benkler, em seu artigo, “Unselfish Gene” (julho-2011), e o livro, “The
Penguin and the Leviathan: How Cooperation Triumph over Self-Interest (The science and
practice of HUMAN COOPERATION)” (agosto/11), brinda-nos com uma nova reflexão,
Yochai Benkler volta em Thomas Hobbes (1588/1679), Adam Smith (1723/1790), J. J.
Rousseau (1712/1778) e David Hume (1711/1776).
Thomas Hobbes parte da premissa do “gen egoísta”, ele assume que “o home é um ser
egoísta”, e propõe a criação do Estado, para controlar e evitar que as pessoas não se matem
entre si; Adam Smith parte da mesma premissa, ou seja, também assume que “o homem é um
ser egoísta”, por isso ao competirem no mercado, a “mão invisível” equaciona o problema; já
J. J. Rousseau parte do princípio que “o homem é bom por natureza, é a sociedade que o
corrompe”, ou seja, temos por um lado, Thomas Hobbes e Adam Smith, e por outro lado,
Rousseau, que ele sintetiza entre os modelos “Wall Street game” e Community Game
(cooperação natural - Cooperação natural é o terceiro princípio fundamental da evolução,
depois de mutações e seleção natural),
Transcrição e tradução da fala de Benkler :
(...) “Se você deseja, como eu, construir uma sociedade em que os indivíduos cooperem generosamente
e sem egoísmo, para o bem comum, você pode esperar uma pequena ajuda da natureza biológica.
Vamos tentar ensinar generosidade e altruísmo, porque nós nascemos egoístas”. (Richard Dawkins.
The Selfish Gene, 1976). “Em 2006, a maré começou a virar, Harvard Matemático biologista, Martin
Nowak, declara uma sua visão na Science Magazine, talvez o aspecto mais notável da evolução é a sua
capacidade de gerar cooperação em um mundo competitivo. Assim, poderíamos acrescentar
„Cooperação Natural‟ como o terceiro princípio fundamental da evolução, ao lado de mutação e
seleção natural”
“Vivemos em um mundo construído por uma motivação humana em torno de modelos enganosos,
incorretos. Temos quatro décadas de refinamento requintado de sistemas a partir de nossos locais de
trabalho, para um sistema bancário, para as nossas estruturas de rede, que são todos construídos em
torno desse núcleo e fundamental erro, ...., o erro básico não é que às vezes temos interesses-próprio,
isso é correto, o erro básico é a ideia de que podemos corretamente modelar e construir nossos
sistemas assumindo que faremos isso muito bem, e desenhando nossos sistemas se for construído de
acordo com um modelo que assume que parte de nossa racionalidade é interesse-próprio, que
estaremos nos aproximamos de quem somos, ao dizer que somos „mais ou menos uniforme‟ e „ mais ou
menos auto-interessado‟, nós não estaremos indo muito errado,....”
(...) Nada é mais sedutor do que ver nossos pontos de vista morais e políticos serem justificados e
reflitam cientificamente a natureza humana. O fim da era da guerra fria tornou possível ver novas
observações científicas pelo que elas são: progresso em vez de ameaça ao capitalismo.”
28
English:
(…) “If you wish, as I do, to build a society in which individuals cooperate generously and unselfishly
towards a common good, you can expect little help from biological nature. Let us try to teach generosity
and altruism, because we are born selfish” (The Selfish Gene, Richard Darwkins, 1976). “By 2006, the
tide had started to turn, Harvard mathematical biologist Martin Nowak could declare, in an overview of
the evolution of cooperation in science magazine, “perhaps the most remarkable aspect of evolution is
its ability to generate cooperation in a competitive world. Thus, we might add „natural cooperation‟ as
a third fundamental principle of evolution beside mutation and natural selection.”
“We live in a world build around a mistaking model of a human motivation. We have a four decades of
exquisite refinement of systems from our work places to a banking systems to our networking structures
that are all build around this core fundamental error...., and that basic error is not we are sometimes
self-interest, that is correct, that basic error as the idea that we can properly modeling and build our
systems on assuming that we will do well enough and design our systems if we build them according to
a model that assumes that part of our rationality is self-interest, that we approximate who we are by say
that we are more or less uniformly, more or less self interested, we will not go too wrong….”
(...) “Nothing is more seductive than seeing our moral and political views vindicated as those that
sciebtifically reflect human nature. The end of the Cold War era has made it possible to see new
scientific observations for what they are: progress rather than a threat to capitalism”
São inúmeros e variados pensadores que vêem questionando os rumos e a forma do
debate das novas ciências naturais, para citar alguns: Marilena Chauí, Antonio Carlos
Diegues, Edgar Morin, Zigmont Bauman, Luc Ferry, Ilya Prigogine, Ulrich Beck e Yochai
Benkler. A qual reputo ser reflexões importantes e questionadoras de nosso tempo, presente e
futuro. Yochai Benkler faz breve conclusão, diz que nesses últimos 10 a 15 anos a tese de
Rousseau vem ganhando terreno, mas que mudança leva tempo. Benkler especula entre uma
ou duas gerações.
Martin Heidegger: Quando a Tecnologia e o Dinheiro.....:
“Quando a tecnologia e o dinheiro tiverem conquistado o mundo; quando qualquer acontecimento em
qualquer lugar e a qualquer tempo se tiver tornado acessível com rapidez; quando se puder assistir em
tempo real a um atentado no ocidente e a um concerto sinfônico no oriente; quando tempo significar
apenas rapidez online; quando o tempo, como história, houver desaparecido da existência de todos os
povos, quando um esportista ou artista de mercado valer como grande homem de um povo; quando as
cifras em milhões significarem triunfo, - então, justamente então – reviverão como fantasma as
perguntas: para quê? Para onde? E agora? A decadência dos povos já terá ido tão longe, que quase
não terão mais força de espírito para ver e avaliar a decadência simplesmente como... Decadência.
Essa constatação nada tem a ver com pessimismo cultural, nem tampouco, com otimismo... O
obscurecimento do mundo, a destruição da terra, a massificação do homem, a suspeita odiosa contra
tudo que é criador e livre, já atingiu tais dimensões, que categorias tão pueris, como pessimismo e
otimismo, já haverão de ter se tornado ridículas.”(HEIDEGGER, apud ABUJAMRA)
Ilya Prigogine: O DILEMA DE EPICURO
(...) “O universo é regido por leis deterministas? Qual o papel do nosso tempo? – foram formuladas pelos pré-
socráticos na aurora do pensamento ocidental. Elas nos acompanham já há dois mil anos. Hoje, os
desenvolvimentos da Física e das Matemáticas do caos e da instabilidade abrem um novo capítulo nessa longa
história. Atualmente percebemos esses problemas sob um novo ângulo. Podemos a partir de agora evitar as
contradições do passado.”
“Foi Epicuro o primeiro a estabelecer os termos do dilema a que a física moderna conferiu o peso de sua
autoridade. Sucessor de Demócrito, ele imaginava o mundo constituído por átomos em movimento vazio.
(...)Para Epicuro, o problema da ciência, da inteligibilidade da natureza e o do destino dos homens eram
29
inseparáveis. Que podia significar a liberdade humana no mundo determinista dos átomos? Escreveu ele a
Meneceu”:
“Quando ao destino, que alguns consideram o senhor de tudo, o sábio ri-se dele. De fato, mais vale
ainda aceitar o mito sobre os deuses do que se sujeitar ao destino dos físicos. Pois o mito nos deixa a
esperança de nos conciliarmos com os deuses através das honras que nós lhe rendemos, ao passo que o
destino tem um caráter de necessidade inexorável”.
Embora os físicos de que fala Epicuro sejam os filósofos estóicos, esta citação soa de maneira espantosamente
moderna! Repetidas vezes, os grandes pensadores da tradição ocidental como Kant, Whitehead ou Heidegger,
defenderam a existência humana contra uma representação objetiva do mundo que ameaçava o seu sentido.
Mas nenhum deles conseguiu propor uma concepção que satisfizesse as paixões contrárias, que reconciliasse
nossos ideais de inteligibilidade e de liberdade. Assim, a solução proposta pelo próprio Epicuro, o „clinamen‟,
que em momentos imprevisíveis perturba imperceptivelmente a queda paralela do átomo, permaneceu na
história do pensamento como o exemplo mesmo de uma hipótese arbitrária, que salva um sistema pela
introdução de um elemento ad hoc.
Mas precisamos de um pensamento da novidade? Toda novidade não é ilusão? Também aqui, a questão
remonta às origens. Para Heráclito, tal qual o entendeu Popper, “a verdade é ter apreendido o ser essencial da
natureza, tê-la concebido como implicitamente infinita, como o processo mesmo”. Por contraste o célebre
poema de Parmênides afirma a realidade única do ser, que não morre, nem morre nem evolui. E para Platão,
como sabemos pelo Sofista, precisamos tanto do ser quanto do devir, pois se a verdade está ligada ao ser, a uma
realidade estável, não podemos conceber nem a vida nem o pensamento se descartarmos o devir.
Desde sua origem, a dualidade do ser e do devir foi uma obsessão para o pensamento ocidental, a tal ponto que
Jean Wahl pode caracterizar a história da filosofia como uma história infeliz, que oscila continuamente entre
um mundo autômato e um universo governado pela vontade divina.
A formação das “leis da natureza” (Teorias, grifo meu), trouxe um elemento crucial a esse debate antigo. De
fato, as leis enunciadas pela física não têm como objeto negar o devir em nome da verdade do ser. Muito pelo
contrário, elas visam descrever a mudança, os movimentos caracterizados por uma velocidade que varia ao
longo do tempo. E, no entanto, seu enunciado constitui um triunfo do ser sobre o devir. O exemplo por
excelência é a lei de Newton, que liga a força à aceleração: é ao mesmo tempo determinista e reversível no
tempo. Se conhecermos as condições iniciais de um sistema submetido a essa lei, ou seja, seu estado num
instante qualquer, poderemos calcular todos os estados seguintes, bem como todos os estados precedentes. Mais
ainda, passado e futuro desempenham o mesmo papel, pois a lei é invariante em relação à inversão dos tempos
t- -t. A lei de Newton justifica bem, portanto, o famoso demônio de Laplace, capaz de observar o estado presente
do universo e de dele deduzir toda evolução futuro.
Todos sabem que a física newtoniana foi destronada no século XX pela mecânica quântica e pela relatividade.
Mas os traços fundamentais da lei de Newton, seu determinismo e sua simetria temporal, sobreviveram.
Evidentemente, a mecânica quântica já não descreve trajetória, mas sim funções de onda; sua equação de base,
porém, a equação de Schrödinger, também é determinista e de tempo reversível.
As leis da natureza enunciadas pela física são da esfera, portanto, de um conhecimento ideal que alcança a
certeza. Uma vez que as condições iniciais são dadas, tudo é determinado. A natureza é um autômato que pode
controlar, pelo menos em princípio. A novidade, a escolha, a atividade espontânea são apenas aparências
relativas apenas ao ponto de vista humano.
30
“Muitos historiados ressaltaram o papel essencial desempenhado pela figura do Deus cristão, entendido no
século XVII como um legislador todo-poderoso, nessa formulação das leis da natureza. A teologia e a ciência
convergiam, na época. Escreveu Leibniz:
“na menor das substâncias, olhos tão penetrante quanto os de Deus poderiam ler imediatamente toda a
sequência das coisas do universo. Quae sint, quae furint, quase mox futura trahantur (Que são, que
foram, que acontecerão no futuro). A submissão da natureza a leis deterministas aproximava, assim o
conhecimento humano do ponto de vista divino temporal.”
“A concepção de uma natureza passiva, submetida a leis deterministas (Teorias, grifo meu), é uma
especificidade do Ocidente. Na China e no Japão, “natureza” significa “o que existe por si mesmo”. Joseph
Needham lembrou-nos a ironia com a qual os letrados chineses receberam a exposição dos triunfos da ciência
moderna. Talvez o grande poeta indiano Tagore também tenha sorrido quando tomou conhecimento da
mensagem de Einstein:
“Se a lua enquanto efetua o seu eterno curso ao redor da Terra, fosse dotada de consciência de si
mesma, estaria profundamente convencida de que se move por sua própria vontade, em função de uma
decisão tomada de uma vez por todas. Da mesma forma, um ser dotado de uma percepção superior e de
uma inteligência mais perfeita, ao olhar o homem e suas obras, sorriria da ilusão que esse homem tem
de agir segundo a sua própria vontade livre. Está é a minha convicção, embora saiba que ela não é
plenamente demonstrável. Se pensassem até suas últimas consequências o que sabem e o compreendem,
poucos seres humanos permaneceriam insensíveis a esta ideia, na medida que o amor de si mesmo não
os fizesse rebelar-se contra ela. O homem defende-se contra a ideia de que é um objeto impotente no
curso do universo. Mas o caráter legal dos eventos, que se afirma de maneira mais ou menos clara na
natureza inorgânica, deveria cessar de se verificar ante as atividades de nosso cérebro.”
Para Einstein, essa posição era a única comparável com os ensinamentos da ciência. Mas, para nós, essa
concepção é tão difícil de aceitar quanto o era para Epicuro. E isto tanto mais que, desde o século XIX, o
pensamento filosófico vem interrogando-se cada vez mais sobre a dimensão temporal de nossa existência. Como
testemunham Hegel, William James, Bergson, Whitehead, ou Heidegger. Enquanto para os físicos que seguiam
Einstein o problema do tempo estava resolvido, para os filósofos ele continuava sendo a questão por excelência,
aquela em que estava em jogo a significação da existência humana.
Num de seus últimos livros, L´univers Irrêsolu, escreveu Karl Popper:
“Considero o determinismo laplaciano – confirmado, como parece estar, pelo determinismo das teorias
físicas e pelo brilhante sucesso delas – o obstáculo mais sólido e mais sério no caminho de uma
explicação e de uma apologia da liberdade, da criatividade e da responsabilidade humana. Para
Popper, porém, o determinismo não põe somente em causa a liberdade humana. Ele torna impossível o
encontro com a realidade, que é a vocação mesma de nosso conhecimento. Popper escreve mais
adiante que a realidade do tempo e da mudança sempre foi para ele “o fundamento essencial do
realismo”
Em “O possível e o real”, Henri Bergson pergunta: “De que serve o tempo? ... o tempo é o que impede que tudo
seja dado de uma só vez. Ele atrasa, ou adianta, ele é o atraso. Deve, pois, ser elaboração. Não seria, então, o
veículo de criação e de escolha? A existência do tempo não provaria que há certa indeterminação nas coisas?
Para Bergson, como para Popper, o realismo e o indeterminismo são solidários. Mas essa convicção choca-se
com o triunfo da física moderna, com o fato de que o mais fértil e o mais rigoroso dos diálogos que travamos
com a natureza desemboca na afirmação do determinismo.
A oposição entre o tempo reversível e determinista da física e o tempo dos filósofos levou a conflitos abertos.
Hoje, a tentação é mais de um recuo, que se traduz por ceticismo geral quanto ao significado de nossos
conhecimentos. Assim, a filosofia pós-moderna defende a “desconstrução”. Rorty, por exemplo, convida a
transformar os problemas que dividiram a nossa tradição em temas de conversação civilizada. Evidentemente,
para ele, as controvérsias cientificas, demasiado técnicas, não têm lugar nessa conversação.
31
Mas o conflito não opõe apenas a ciência e a filosofia. Contrapõe a física a todos os nossos outros saberes. Em
outubro de 1994, Scientific American dedicou um número especial à “vida no universo”. Em todos os níveis,
tanto no da cosmologia, da geologia, quanto no da biologia ou da sociedade, o caráter evolutivo da realidade se
afirma cada vez mais. Seria de esperar, portanto, que se colocasse a pergunta: como entender esse caráter no
quadro das leis físicas? Ora, um único artigo, escrito pelo célebre físico Weinberg, discute este aspecto. Escreve
Weinberg:
Seja qual for o nosso desejo de ter uma visão unificada da natureza, não cessamos de nos chocar com a
realidade do papel da vida inteligente no universo... Por um lado, há a equação de Schrödinger, que
descreve de maneira perfeitamente determinista como a função de onda de qualquer sistema evolui no
tempo. E depois, de maneira perfeitamente independente, há um conjunto de princípios que nos dizem
como utilizar a função de onda para calcular as probabilidade dos diferentes resultados possíveis
produzidos por nossa medições.
Nossas medições? Sugere-se, então, que somos nós, com nossas medições, que seríamos responsáveis pelo que
escapa pelo determinismo universal, que estaríamos, pois, na origem da evolução cósmica? Este é o ponto de
vista defendido também por Stephen Hawking em “Uma breve história do tempo”. Ele expõe nesse livro uma
interpretação puramente geométrica da cosmologia: o tempo seria apenas, por assim dizer, um acidente do
espaço. Mas Hawking compreende que isso não é suficiente: precisamos de uma fecha do tempo para darmos
conta da vida inteligente. E, portanto como muitos cosmologistas, Hawking se volta para o principio
“antrópico”, um princípio pelo menos tão arbitrário quanto o clinamen de Epicuro. Realmente, como
compreender que um tal princípio possa surgir de um universo geometricamente estático? Ele nos leva de volta
diretamente ao dualismo cartesiano. Enquanto Einstein, ao aceitar em nome da unidade da natureza reduzir o
homem a um autômato, se referira a Espinosa, os físicos contemporâneos, que querem conservar um homem
capaz de ser o observador requerido pela mecânica quântica, fazem intervir um princípio tão alheio à sua
concepção do universo quanto a “res cogitans” de Descartes o era em relação à “res extensa”.
Em The Emperor´s New Mind, Roger Pensore escreve que “é a nossa compreensão atualmente insuficiente das
leis fundamentais da física que nos impede de exprimir a noção de mente (mind) em termos físicos e lógicos”.
Concordo com Penrose: precisamos de uma nova formulação das leis fundamentais da física (Teorias, grifo
meu), mas esta não deve necessariamente descrever a noção de mente, deve primeiro incorporar em nossas leis
físicas à dimensão evolutiva, sem a qual estamos condenados a uma concepção contraditória da realidade.
Arraigar o indeterminismo e a assimetria do tempo nas leis da física é a resposta que podemos dar hoje ao
dilema de Epicuro. Senão, essas leis são incompletas, tão incompletas quanto se ignorassem a gravitação ou
eletricidade.
O objetivo deste livro é apresentar uma formulação da física que satisfaça a essas condições, familiarizar o
leitor com uma descrição da natureza que dê seu lugar às leis, mas também à novidade e à criatividade.
No início do capítulo, mencionamos os pensadores pré-socráticos. Na realidade os antigos gregos legaram-nos
dois ideais que guiaram nossa história: o da inteligibilidade da natureza ou, como escreveu Whitihead, de
“formar um sistema de ideias gerais que seja necessário, lógico, coerente, e em função do qual todos
os elementos de nossa experiência possam ser interpretados; e o da democracia baseada no
pressuposto da liberdade humana, da criatividade e da responsabilidade”.
32
Sem dúvida, estamos muito longe da realização destes dois ideais, mas pelo menos podemos doravante concluir
que eles não são contraditórios.
(PRIGOGINE, 1996, p. 17-24)
Quando o “modelo” de representar o mundo (“números matemáticos”), começa a virar
“mito”:
A primeira vez na história, como vimos acima, com Poincaré, em que o “modelo” de
Galileu foi questionado em cálculos matemáticos, demonstrado o limite do de representar o
mundo em “números matemáticos”, criado por Galileu, mas a ideia foi questionada por vezes
ao longo da história do pensamento cartesiano e determinista (Ilya Prigogine), o exemplo
também famoso do físico vienense, Ludwig Boltzmann, que desejou que a física seguisse a
evolução de Charles Darwin, quase ao mesmo tempo de Poincaré, ideia aceita quase um
século depois, com resistências.
As ideias à frente do seu tempo, como o gênio do Renascimento, Leonardo da Vinci,
com os desenhos de helicópteros; e as idéias polêmica hoje, questões de nossos dias: a quebra
da velocidade da luz (a base, a “âncora” da Teoria de Einstein) pela partícula de neutrinos e a
partícula de “Deus”- bóson de Higgs (arrogância pouca é bobagem). Só mesmo buscar
reflexão nos mestres, “as ideias fora do lugar” (Roberto Schwartz).
Hoje, seja quando apresentamos um estudo de cenário futuro (A, B e C), alternativas
que podem ou não ocorrer, pois o futuro é incerto, é não terminada, assim mesmo, a tendência
é as pessoas, em casa ou em posição de decisão, solicitar os números, no caso, quais são as
probabilidades ou possibilidades, o que se torna impossível, pois em “cenários futuros” não
existe um número mágico de probabilidade, ou possibilidades, o homem e suas leis (Teorias)
de representar o mundo, não controla a natureza, a natureza existe por si (Visão oriental, “Tal
da Físic”, o “Ponto de Mutação”).
E quando os cientistas, com os supercomputadores desenhados no “estado da arte”, a
ciência dos sistemas complexos, a fronteira da ciência, que rodam seus “modelos” de mundo,
que são simulações, estimativas, “modelos matemáticos estatísticos médios” (possibilidades),
a estreita relação entre ciência e o poder, “conventional wisdow”, monstram a sociedade civil
(“Antes de mais nada é necessário acabar com o mito de que o cientista é uma pessoa que
pensa melhor do que as outras”, ALVES, Filosofia da Ciência), os “números” e fazem desses
“números matemáticos”, dessas “possibilidades”, uma “profissão de fé”, uma “verdade
absoluta”, disseminando na sociedade, na linguagem do medo, o caos social, por interesses
escusos, aí sim temos, a distorção muito além da ideia original, concebida por Galileu, a
33
“realidade-ficção”, pois são quando a estreita relação da “ciência e poder” fazem “números
matemáticos” (possibilidades) virar “mito”. Em muitas situações, vem a dúvida e o
questionamento: será que não estamos vivendo está percepção da realidade hoje?
(...) “A lei de Newton justifica bem, portanto, o famoso demônio de Laplace, capaz de
observar o estado presente do universo e de dele deduzir toda evolução futuro.”
Temos o demônio de Laplace e também, agora o demônio da interpretação e da
divulgação dos “modelos matemáticos estatísticos médios” (possibilidades) da “ciência da
complexidade”. Trata-se do “estado da arte” do marketing da “ciência e poder”, a relação
promiscua e escusas dos interesses do poder do pensamento convencional econômico,
“conventional wisdow”, que está além da razoabilidade, da nova racionalidade. O demônio
“neomito” neoliberal de nosso tempo.
A nossa história, do homem e do pensamento cientifico, é cheia, repleta de exemplos e
fatos dessa natureza ao longo do tempo, “Religião e mito são impulsos humanos tão naturais
e universais quanto o sexo”, Daniel Gómez.
É preciso dizer novamente, sem xenofobismo de qualquer natureza, não se trata de ser
extremista ou “negacionista”, muito pelo contrário, como veremos mais abaixo, o homem
urbano-industrial vem destruindo o planeta há décadas, séculos, “O mundo moderno está
fundamentado em recursos minerais advindos de todas as partes da terra.”. É disso que se
trata, a terra está se aquecendo? sim senhor, o homem tem responsabilidade e culpa? Sim
senhor, mas como demonstra pesquisa da NASA de 2007, “O planeta Marte está se
aquecendo devido aos raios cósmicos do sol” (ver abaixo), e também, pesquisas de
laboratórios, que demonstram, os raios cósmicos, raios solares, são majoritários na formação
das nuvens no planeta Terra e por consequência, no aquecimento da Terra (ver estudo,
experiências e documentário abaixo sobre esse debate extremamente importante de nossos
dias). Assistimos o desmanche da catedral do poder global em nossos dias, os interesses são
outros, que não podem ser declarados à luz do dia, como diz a história de séculos da
humanidade e do pensamento cartesiano, determinista da ciência da certeza e sua
„intelligentsia estúpida”, como a frase do pensamento convencional: façam o que eu falo, mas
não faça o que faço ou o que fiz (Chutando a Escada, CHANG).
34
A ciência no pedestal: Paradigmas” viram “Paradogmas”
Teoria de CO2: Como tapar o sol com a peneira e
Como a história é escrita pelas potências econômicas hegemônicas
Comparação entre os tamanhos do Sol e da Terra: teoricamente, caberiam 1.300.000 planetas Terras dentro do Sol.
Miguel de Unamuno: “As variações da ciência dependem das variações das necessidades humanas, e os homens de ciência
costumam trabalhar, quer queiram, quer não, consciente ou inconscientemente, a serviço dos
poderosos ou do povo, que lhes pedem confirmação de suas aspirações.”
Filosofia da Ciência, Rubem Alves, p. 150.
Thomas S. Kuhn: “Normalmente os cientistas não têm por objetivo inventar novas teorias e são, freqüentemente,
intolerantes para com aquelas inventadas por outros. Ao contrário, a pesquisa científica normal tem
por objetivo a articulação daqueles fenômenos e teorias que o paradigma proporciona. A ciência
normal não busca novidades de fato ou de teoria e, quando bem sucedida, não encontra nenhuma”
(Idem, p. 86, 114).
Filosofia da Ciência, Rubem Alves, p. 155, 158.
Frederick Perls: “A ciência, por mais pura que seja, é o produto de seres humanos engajados na fascinante aventura de
viver suas vidas pessoais” (Frederick Perls, et al. Gestalt Therapy. p. 24).
Filosofia da Ciência, Rubem Alves, p. 137.
Rubem Alves: “A ciência é um fato social, como muitos outros, tais como religião, família, exércitos, partidos
políticos: instituições que se organizaram em torno de certos problemas e estabeleceram regras para o
seu funcionamento.”
(...) “Preconceito e resistência parecem ser mais a regra do que a exceção no desenvolvimento
científico avançado.”
Filosofia da Ciência, Rubem Alves, p. 155, 160.
Para iniciar, lembremos Goethe, “Toda teoria é cinzenta” e Hegel, “Teoria é cinza
sobre cinza”. Certamente esse é um debate extremamente acalorado, são as relações entre
Ciência, Poder e Ideologia. Quando os “paradigmas” se tornam “paradogmas”. “Às vezes
conhecimento científico da lugar a novas mitologias. A ciência nasce da ideologia. A ciência
transforma a ideologia. A referência da ciência é a realidade objetiva” (Pablo Lorenzano).
35
Como bem disse o Professor Ignacy Sachs, “Tudo indica que antes do Rio+20,
programado para meados de 2012, a Comissão Estratigráfica Internacional vai oficialmente
proclamar que, desde o início da Revolução Industrial, no século XVII, entramos numa nova
era geológica, o antropoceno, caracterizado por um forte impacto das atividades humanas
sobre o porvir da Nave Espacial Terra” (CartaCapital, CartaVerde, p. 48, 28 de setembro de
2011).
Tudo indica também que, aparentemente existe um acordo tácito entre o sistema
econômico hegemônico central e as elites da periferia do poder e das instituições científicas,
estamos, talvez, diante de uma das maiores escândalos dos últimos tempos entre Ciência e
Poder.
Como nos lembra também Miguel de Unamuno, citado acima, (...) “os homens da
ciência, costumam trabalhar, quer queiram, quer não, consciente ou inconscientemente, a
serviço dos poderosos ou do povo, que lhes pedem confirmação de suas aspirações”, isso nos
leva a uma realidade anterior, como diria Jean Walch, ao nosso “narcisismo originário” e
linear do homem como centro do mundo, apesar de séculos após Copérnico, em essência volta
à baila a visão aristotélica, dominante e enraizado em nós de longa data, mas aparentemente
no caso, por interesses escusos e não declarados a luz do dia, o mote aqui deve ser buscado
nas palavras de EPICURO e Kierkegaard, para além da ironia, só o humor:
Escreveu EPICURO a Meneceu” (há dois mil anos): “Quando ao destino, que alguns consideram o senhor de tudo, o sábio ri-se dele. De fato, mais vale
ainda aceitar o mito sobre os deuses do que se sujeitar ao destino dos físicos. Pois o mito nos deixa a
esperança de nos conciliarmos com os deuses através das honras que nós lhe rendemos, ao passo que o
destino tem um caráter de necessidade inexorável.”
Kierkegaard: “Na medida, enfim, que a questão pudesse ser a da “validade eterna” da ironia, aí esta questão só
poderia encontrar sua resposta quando se entrasse no terreno do humor. Humor contém um ceticismo
muito mais profundo do que a ironia; pois tudo nele gira não mais ao redor da finitude, e sim da
pecabilidade; o ceticismo do humor se relaciona com o da ironia da mesma maneira que a ignorância
se relaciona com a antiga proposição: credo quia absurdom (creio porque é absurdo); mas o humor
contém também uma positividade muito mais profunda, pois ele se movimenta não em determinações
humanas, mas sim teantrópicas (i theanthropiske Bestemmenser), ele não se contenta em fazer do
homem um homem, mas quer fazer do homem um homem-deus.”
Kierkegaard. O conceito de ironia, 1841, p. 280
Continuando nossa reflexão sobre a Teoria do Aquecimento Global, mas para que
tenhamos um equilíbrio entre os extremos, é bom lembrar o Professor A. C. Diegues e os
fundamentos da nossa civilização urbano-industrial dos últimos séculos, “o mundo moderno
está fundamentado em recursos minerais advindos de todas as partes da terra”, ou seja,
36
estamos „saqueando‟ os recursos do planeta Terra devido ao modo de produção, faz um bom
tempo.
O debate entre posições extrema, “é uma controvérsia estéril” (is a sterile
controversy), essa é a posição do Professor Ildo Sauer e equipe (Precautionary principle,
economic and energy systems and social equity: J. F. de Carvalho et al./Energy Policy
38(2010)5399–5402, p. 5401), na qual concordo inteiramente, mas discordo da posição na
qual afirma que, “é pouco provável que a variação do sol é um fator majoritário no
aquecimento global” (Therefore, it is unlikely that solar variability is a major factor in global
warming), pois como veremos, esta provado desde 2006, por testes de laboratório, e em
agosto de 2011, também os primeiros resultados dos estudos de laboratório europeu, CERN,
que confirmam resultados publicados em 2006.
O Professor Ildo Sauer e equipe, demonstram que esse assunto da influência do CO2 e
da variação da temperatura atmosférica da Terra já foi estudado por cientistas desde dois
séculos atrás, começando com o matemático Joseph Fourrier (1824), Físico Heinrich Hertz
(1885), e Químico Syante Arrhenius (1896), mas somente em tempos recente o debate atraiu a
atenção de fórum políticos, econômicos e diplomáticos. O debate do “Princípio da
Precaução”, começou a se fortalecer a partir de leis aprovadas na Alemanha para preservação
do meio ambiente, anos 70, ou seja, o Estado deve agir legalmente, como forma de prevenção
e precaução aos danos causados pela ação do homem ao meio ambiente, independentemente
de se ter ou não provas científicas, antes que os danos causados se tornem, assumam
proporções irreversíveis para o homem e as alterações climáticas danosas ao clima no planeta.
Na década seguinte, “World Chapter of Nature” (1982) e “Montreal Protocol” (1987), foi o
primeiro apoio internacional sobre o Princípio da Precaução.
Como diz Ildo Sauer, o termo “Prevenção” adquiriu o sentido (meaning) de
“proibição”. Em 1986 surgiu a doença da vaca louca (mad cow disease) na Europa e América
do Norte, em 1995 a contaminação do vírus da AIDS por transfusão virou lei na França
(Princípio da precaução). Em 2000, a União Européia adota também “Princípio da Precaução”
e antes, o “Tratado de Maastricht” também adotou como fundamental elemento de Política de
Estado como segue:
“„Union policy on the environment shall aim at a high level of protection taking into account the
diversity of situations in the various regions of the Union. It shall be based on the precautionary
principle and on the principles that preventive action should be taken, that environmental damage
should as a priority be rectified at source and that the polluter should pay.‟‟
37
Aqui vou incluir alguns dados da história político-social do período, extra „paper‟, na
qual o governo da Inglaterra, Margareth Thatcher, que assumiu o poder em meio à crise do
petróleo internacional, fim dos anos 70 e início dos anos 80, com baixa popularidade, reverteu
a situação da popularidade com a vitória arrasadora na guerra das Malvinas contra a
Argentina (1982), posterior quebra de braço com o sindicato dos mineiros, minas de carvão
(1984-85), e também com vitória arrasadora, na qual o sindicato perdeu a quebra de braço e o
rumo. Nesse clima efervescente, “turmoil”, e ascensão política, chega as mãos de Margareth
Thatcher, a informação de que havia uma nova “Teoria” sobre aquecimento global, devido a
queima de carbono promovida pelo homem, na qual ela embarcou de primeira, disse, “mas
um argumento para a luta contra os sindicatos dos mineiros, contra a dependência do
petróleo árabe e a favor dos nossos projetos para construir novas plantas nucleares.”
Em fins da década, Margareth Thatcher já estava de corpo e alma na “fronteira da
ciência política” global, descrita de forma magistral por Miguel de Unamuno (acima). O
sistema econômico hegemônico e os neoliberais, nadando em céu de brigadeiro.
Em 1988, já com agenda global para promover o debate do “aquecimento”, numa
reunião com os cientistas na Royal Society of Science, que até então tinham poucos recursos,
disse, “estou colocando dinheiro na mesa para pesquisa, para que os senhores provem esta
“Tese” sobre o aquecimento global por emissão de CO2” (Global Warming: How It All Began),
meses depois, no mesmo ano, Thatcher já coordenando a primeira reunião de criação do IPCC
( IPCC History). Que continuou a ganhou força, “momentum”, com a queda do murro de Berlin
(1989), queda do totalitarismo na União Soviética (1991), o “Consenso de Washington”, o
encontro da ONU no Rio em 1992, o “Protocolo de Kyoto” (1997), e na sequência, dos
eventos, a coroação da “meritocracia” na sociedade moderna, o Nobel com Al Gore e os
cientistas do IPCC (2007).
Podemos dizer a essa altura dos acontecimentos, claramente essa é uma posição que
configura um debate filosófico e ideológico antigo, secular entre nós, entre Hobbes e
Rousseau, “Wall Street Game” ou “Communty game”, mas que tomou proporções extremas
nas últimas décadas neoliberais, onde tudo no mundo e na vida social e pessoal é resumido ao
modelo “Wall Street Game” (Unselfish Gene, Yochai Benkler, 2011).
O outro lado da história, pouco conhecida e não divulgada, evidentemente. Em 1991, o
cientista, Eigil Friis-Christensen, Universidade da Dinamarca, descobriu que existia uma
relação muito próxima e similar entre a variação da temperatura do sol e da variação da
temperatura da Terra, nos últimos 140 anos, conforme gráfico abaixo, mas não sabia o motivo
dessa relação.
38
Em 1996, o cientista Henrik Svensmark que trabalhou com Eigil, levantou a hipótese,
a “Tese”, de que a variação da temperatura da Terra dependia da formação das nuvens, as
nuvens são formadas por ação de partículas de íons na atmosfera, que por sua vez dependia da
ação de raios cósmicos (Cosmic Rays) e da atividade solar, ou seja, a atividade solar é
majoritária no efeito da temperatura da Terra, tese publicada em 1998, a essas alturas dos
acontecimentos, porém, o mundo científico com abundância de recursos financeiros (dez
vezes mais que uma década antes), desde que, seja para seguir a linha do poder econômico (“a
serviço dos poderosos”), evidentemente sua “TESE” não foi bem recebi pela comunidade
científica global, pois a “Tese” da Teoria do CO2, aquecimento da temperatura da Terra pelo
efeito da emissão de carbono da civilização urbano-industrial, já ganhara o mundo da política
científica global. Diante da negativa da comunidade científica, ele partiu para fazer testes em
laboratório de sua “tese”, como ele diz, “para demonstrar, inclusive para mim, se a Tese esta
correto ou não”. Após comprovar em laboratório sua tese e finalizar os trabalhos em 2005,
nenhuma grande revista aceitou publicar seus estudos, recusaram-se até mesmo a fazer
qualquer comentário, simplesmente era ignorado. Levou mais de 16 meses para conseguir
publicar online na Royal Society of Science, em fins de 2006, publicação impressa em 2007.
O calvário dessa jornada que levou mais de 10 anos esta no doc. The Cloud Mystery. Em
agosto de 2011, o CERN, laboratório europeu publicou a primeira parte das pesquisas que
comprovam a tese de Henrik Svensmark.
39
Isso demonstra também que a correlação entre aumento de concentração de CO2 e
temperatura da Terra é na verdade um efeito secundário, de menor importância se comparado
com o efeito da temperatura da Terra perante o efeito solar, absolutamente majoritário. Isso
não quer dizer que o debate sobre a devastação do planeta devido a atividade do homem
“urbano-industrial” deve ser abandonado, ou de menor importância, pelo contrário, a
preocupação com a devastação do planeta deve seguir adiante, é um fator importante nesse
contexto, porém o debate deve voltar, ou deveria voltar ao curso normal, sem o viés
ideológico que tem sido a característica das últimas décadas neoliberais.
“Só as evidências podem nos deixar atônitos” (Roland Barthes), para entendermos a
posição humilhante da ciência diante dos fatos, vejamos a aula do Diretor da FAPESP, Carlos
Henrique Brito Cruz, em Dezembro de 2011, na UNIVESP TV, sobre mudanças climáticas
(UNIVESP TV, Dez-2011: Mudança Climática Global - 1/5 ), na qual, em todas as aulas dele
(cinco aulas de meia hora), não foi mencionado uma única vez a teoria e testes de laboratório
que comprovaram os fatos acima, muito menos os testes do CERN.
É pouco provável que a essas alturas os cientistas não tenham conhecimento dos fatos
dos últimos anos, mas o cerco ideológico, o medo de perda de recursos internacionais e a
subserviência ao poder, ao sistema econômico hegemônico, em contraposição a realidade dos
fatos, coloca a ciência no pedestal da vergonha e da humilhação como à muito tempo não se
via. Aparentemente não temos mais as fogueiras, como as enfrentou Giordano Bruno, mas o
texto que Galileu teve que assinar em 1632, continua atualíssimo, na mais absoluta falta de
vergonhosa, e de caráter, do mundo científico moderno:
“... Tendo diante de meus olhos o Santo Evangelho, e tocando-o com minhas mãos, juro que sempre
acreditei, acredito e, com a ajuda de Deus, acreditarei no futuro em tudo o que é afirmado, pregado e
ensinado pela Santa Igreja Católica e Apostólica... Que devo abandonar por completo a falsa opinião
de que o Sol é o centro do mundo e é imóvel e que a Terra não é o centro do mundo e se move, e que
não devo crer, defender ou ensinar a dita doutrina de qualquer maneira, seja verbalmente ou por
escrito..”
Voltemos às citações acima, com Perls, Unamuno, Kuhn, Alves, ou como dizia
Raymundo Faoro em sua obra de 1958 (“Os Dono do Poder”) : “o poder é o poder”, e a
ciência um mero instrumento, com bem dito por Miguel de Unamuno:
“As variações da ciência dependem das variações das necessidades humanas, e os homens de ciência
costumam trabalhar, quer queiram, quer não, consciente ou inconscientemente, a serviço dos
poderosos ou do povo, que lhes pedem confirmação de suas aspirações.”
Aqui referências do Paper (2006) e documentário (2007) do cientista Henrik
Svensmark, e seu calvário de 10 anos, juntamente com outras cientistas; CERN (2011) e Doc.
BBC4 (2007).
40
-) Experimental evidence for the role of ions in particle nucleation under atmospheric conditions (1.
Henrik Svensmark1*, 2. Jens Olaf P Pedersen1, 3. Nigel D Marsh1, 4. Martin B Enghoff1 and 5.
Ulrik I Uggerhøj1,2). 1Centre for Sun-Climate Research, Danish National Space Centre 2100
Copenhagen, Denmark Paper. 2 Institute of Physics and Astronomy, University of Aarhus 8000 Aarhus,
Denmark Author for correspondence ([email protected])
http://rspa.royalsocietypublishing.org/content/463/2078/385.short
-) Documentário produzido pelos próprios cientistas explicando o estudo, teoria e práticas, e a
dificuldade para publicação. Colaboração de cientistas de várias universidades: USA, Canadá, Israel,
Dinamarca). The Cloud Mistery, Doc.-2007: ("In this film, the UN climate concensus is seriously
challenged - watch it, and judge for yourself. The duration of the documentary is in 6 parts - called
Cloud Mystery 1/6 - 6/6). http://www.youtube.com/watch?v=dKoUwttE0BA
-) CERN Releases Details About its CLOUD Climate Change Experiment (30/08/2011)
Dr. Jasper Kirkby talks about the results of the study that indicates solar activity has played a larger
role in climate change than the global warming alarmists would like us to know.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ZPNt30zKA-A
-) The great global warming swindle, BBC4:Documentary on 8 march 200.7
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=YtevF4B4RtQ
Sabe-se que a atividade solar no século XX foi o dobro dos séculos anterior, isso quer
dizer que uma maior atividade solar, consequentemente significa menor atividade de raios
cósmicos, menor íons de partículas e menor formação de nuvens na atmosfera, portanto
aumento da temperatura da Terra, dependência diretamente e majoritária, com atividade solar.
Gráfico que mostra a relação entre as temperaturas, Terra e Sol em 400 anos (1600-2000):
41
Esse gráfico mostra a relação entre Raios Cósmicos e a temperatura em 500 milhões
de anos, pela analise de reconstrução geológica, realizados por Vir Shaviv (The Hebrew Univ.
of Jerusalem) e Jan Veizer (Univ. Ottawa):
Em 2007, a NASA divulgou estudo que afirma, os efeitos dos raios cósmicos do sol
estão provocando aquecimento no planeta Marte, que fica no sistema orbital, como se sabe,
após nosso planeta Terra em relação à distância com o sol. Na teoria do IPCC (Modelo-2007),
o cálculo dos supercomputadores, “a modelagem matemática estimativa média”, considera
que os efeitos dos raios cósmicos na terra, é de apenas 0,1%, ou seja, com esses „inputs‟, o
modelo começa a „rodar‟, a partir dos dados assumidos por nós (cientistas), ou como diz
Yochai Benkler,
“Vivemos em um mundo construído por uma motivação humana em torno de modelos enganosos,
incorretos. Temos quatro décadas de refinamento requintado de sistemas a partir de nossos locais de
trabalho, para um sistema bancário, para as nossas estruturas de rede, que são todos construídos em
torno desse núcleo e fundamental erro, ...., o erro básico não é que às vezes temos interesses-próprio,
isso é correto, o erro básico é a ideia de que podemos corretamente modelar e construir nossos
sistemas assumindo que faremos isso muito bem, e desenhando nossos sistemas se for construído de
acordo com um modelo que assume que parte de nossa racionalidade é interesse-próprio, que
estaremos nos aproximamos de quem somos, ao dizer que somos mais ou menos uniforme, mais ou
menos auto-interessado, nós não estaremos indo muito errado,....”
Ulrich Beck, sociólogo alemão: (...) “O que quer dizer afinal mudança climática? É a modernização reflexiva, estúpido! (Latour, 2008)
Ou para colocar a questão de outra forma: Como criar um ecologização da modernidade?”
(...) “So what is climate change all about? „It‟s reflexive modernization, stupid!‟ (Latour, 2008) or, to
put it in the form of a question: How to create a greening of modernity?” (Urich Beck, 2010).
42
Bresser-Pereira: “A paixão dos intelectuais por modelos platonistas, absolutamente abstratos, independentes da
realidade concreta, é muito forte. Há muitos intelectuais que acham que todo o poder e o prestígio
deles vem do fato de serem capazes de fazerem ideias loucas e absurdas.
(...) Mas os intelectuais platonistas são uma desgraça endêmica do mundo.” (Bresser-Pereira e os
intelectuais platonistas, 05/01/2012).
5. Amazônia no Mundo em „Grande Transformação‟:
(...) “Observa-se um processo de mercantilização da natureza. Elementos da natureza estão se
transformando em mercadorias fictícias, usando a expressão de Karl Polanyi, em seu livro A grande
transformação. Fictícias por quê? Porque elas não foram produzidas para venda no mercado – o ar, a
água, a biodiversidade. Mas, no entanto, através desta ficção são gerados mercados reais e isto se deu,
como Polanyi mostra muito bem, no início da industrialização, quando terra, dinheiro e trabalho foram
transformados em mercadorias fictícias, gerando mercados reais.
O que é o protocolo de Kyoto se não o mercado do ar? É a tentativa de estabelecer cotas de emissão de
carbono nos países fortemente industrializados e poluidores em troca de manutenção de florestas em
países com elas dotadas. O mercado do ar é o mais avançado. Em outras palavras, esses mercados
reais tentam se institucionalizar em fóruns globais, o que também é uma vertente nova dentro do
Direito Internacional.
Não é fantasia o fato de que está em curso na Amazônia a transformação de bens da natureza em
mercadorias.” (Bertha Becker, ESTUDOS AVANÇADOS 19 (53), 2005 p. 77, Conf. IEA-2004).
A SEGUNDA “REVOLUÇÃO PROMETEICA” E A INVENSÃO DA DES-ORDEM AMBIENTAL
MUNDIAL
A revolução no imaginário europeu, causada pelo Renascimento e por sua crítica ao teocentrismo e
afirmação do antropocentrismo, teve importante implicação na relação da sociedade com a natureza.
Até então acreditava-se que a Physics estava povoada por deuses, e a sua dominação estava, até certo
ponto, interligada aos homens. Com a crença cada vez maior na ciência e na técnica desenvolvidas
pelo homem, os deuses foram explusos para os céus e, aqui na Terra, o homem passou a reinar todo-
poderosos sobre uma natureza-objeto dessacralizada- antropocentrismo. (Haesbaert&Porto-Golçalves,
2005).
Buscar outras perspectivas, outra visão crítica da globalização com ajuda de
intelectuais orgânicos de nosso tempo, mas não procura simplificar em meras dicotomias
(branco ou preto, verdadeiro ou falso); “O centro do mundo está em todo lugar, o mundo é o
que se vê de onde se está” (Milton Santos), olhar, ver e reparar nossos modelos e modos de
vida, que foram construídos ao longo do tempo e que permanecem enraizados em nós. Traçar
ou analisar cenários para a „Amazônia no Mundo em Transformação‟; claro que, fácil não é,
mas cenários não são previsões:
“Cenários não são previsões. Simplesmente não é possível prever o futuro com certeza. Um
velho provérbio árabe diz que, „aquele que prediz o futuro, está mentindo, mesmo se ele diz a
verdade‟ Pelo contrário, os cenários são veículo para ajudar as pessoas a aprender.”
“Scenarios are not predictions. Its simply not possible to predict the future with certainty. An
old Arab proverb says that, „he who predicts the future lies even if he tells the truth.‟ Rather,
scenarios are vehicle for helping people learn.
”(The Art of the Long View, 1966, p. 06).
43
Os Egípcios estão entre os primeiros povos da antiguidade que trabalharam para
entender e predeterminar os elementos de incertezas:
(...) “Como Pierre Wack (muitas vezes contou esta história na Shell) diria, os sacerdotes do
Nilo sudanês foram os primeiro meteorologistas do mundo a fazer cenários de longo
prazo. Eles entenderam o significado de pré-determinadar elementos de incertezas críticas.”
(...) “As Pierre Wack (would often told this story at Shell) would say, the priests of the
Sudanese Nile were the world‟s first long-term forecasters. They understood the meaning of
predetermined elements and critical uncertainties.”(The Art of the Long View, 1996, p. 101-
102)
Amazônia brasileira e sul americana
“O global é o local sem muros” (Jorge Amado), “o mundo vivo, o mundo físico e o
mundo social”, “durar é mudar” (Gabriel Tatic). Os países Latinos e as fronteiras da
Amazônia continental sul americano.
O Brasil e a Amazônia brasileira. Pegando carona na linguagem figurativa usada pela
Petrobrás, após a descoberta da imensa riqueza na costa marítima brasileira, o “Pré-sal”, o
“ouro negro”, também chamado, batizado figurativamente, de Amazônia “azul”. Diante do
fato, decidi batizar outra realidade do Brasil, a realidade social, usando a mesma linguagem
figurativa: a nossa área social: Amazônia “vermelha”. Portanto o Brasil possui várias
“Amazônias”:
A Amazônia “verde”: das riquezas da floresta, biodiversidade, água, minérios, do
saber das culturas tradicionais e seculares dos povos da floresta.
A Amazônia “azul”: energias, Petrobrás e Pré-sal.
A Amazônia “vermelha”: vermelha de vergonha, das favelas, da pobreza secular, da
desigualdade, do pretobrás, da elite com pouca-vergonha.
AMAZÔNIA „AZUL‟: energias, Petrobrás e Pré-sal
Não poderia deixar passar em branco, o sonho da Amazônia “azul”, é um sonho
antigo, é o sonho de Monteiro Lobato, e nosso, ele não teve a menor dúvida sobre a
locomotiva do progresso dos EUA, quando lá chegou e viu, em Chicago e New York dos anos
20 do século XX, os primeiros olhares, as primeiras percepções, e vaticinou, a pujança, o
motor do progresso nos EUA, era o ouro negro, e desejou o mesmo para seu país, é uma
revolução silenciosa que finalmente se realiza, o poço de “Visconde de Sabugosa” jorrou na
“Amazônia azul” do “Sítio do Pica Pau Amarelo brasileiro”.
A Petrobrás levou 57 anos para produzir dois milhões de barris de petróleo por dia,
entre 2011-2011 (cinco anos), irá dobrar essa capacidade de produção e triplicar entre 2016-
44
2020, vale comentar que o pico de produção só será atingido na década dos anos 2030, de
acordo com as reservas provadas hoje, ou seja, a análise é baseado no planejamento da
Petrobrás (2011) para essa década, sem considerar as demais.
A “Nova Era Vargas” (Wanderlei Guilherme dos Santos, 2011) e a ironia da história, a
outra revolução em curso, São Paulo sempre foi o ícone do desenvolvimento do país,
principalmente no século XX, simbolizado nos dizeres da bandeira paulista, em latim, “Non
Ducor, duco” (não sou conduzido, conduzo), como dizemos usualmente e ao longo do século
XX, a “locomotiva” que puxa os “vagões” do Brasil. Agora temos outras locomotivas para
ajudar a impulsionar o desenvolvimento do país, como a locomotiva do Agronegócio e da
Petrobrás. E para provocar o debate e os paulistas, como eu, e uma reflexão a nossa latinidade
brasileira, mas o foco é a elite paulista de Sampa, “a elite branca e burra” (Cláudio Lembo,
Gov. de São Paulo, 2006) e anti-Vargas: Seria a Petrobrás uma nova locomotiva ou “trem
bala”?
O estado americano do Texas tem um hábito que eles adoram contar, é uma pequena
história criada pelos texanos, uma piada, uma parábola, em relação a seu país, os EUA,
dizem: “O Texas tem um problema sério com os EUA, nós nunca nos entendemos”. Pois me
ocorreu, depois de anos fora, percebi por diversas vezes, que essa parábola serve como uma
luva para nós, entre São Paulo e o Brasil, tamanha são as diferenças de realidades entre a elite
paulista anti-Vargas e o Brasil. O Brasil da Petrobrás e São Paulo, apenas mais um detalhe,
solto na “História em perspectiva” da sociedade paulista, o primeiro curso de engenharia de
petróleo da maior e melhor classificada Universidade latina (pelas “listas do norte” - nossas
elites não fazem quase nada sem essa referência, ainda é nossa bússola, perde-la é perder-se),
a Universidade de São Paulo (Poli-USP), começou em 2002, meio século depois da criação da
Petrobras o primeiro curso de Engenharia de Petróleo (USP: Depto POLI _PMI 10-01-2012),
este ano de 2012, começa em Santos outro curso de Engenharia de Petróleo. “As idéias fora
do lugar” (R. Schwarz) e as ideias que envelhecem antes de nós. O silêncio não é neutro.
O projeto do “Pró-Alcool”, anos 70, no início a preocupação do Estado brasileiro era
essencialmente com o problema gigantesco que o Brasil tinha com a balança de pagamento,
devido à crise mundial do petróleo, 80% da nossa balança de pagamento era devido à
importação do óleo negro, a solução encontrada pelo Brasil, no início virou piada no mundo
industrializado, passado décadas, é evidente a contribuição do Brasil ao mundo em energias
renováveis, o Brasil mostrou ao mundo que energias renováveis são viáveis, esse trunfo
brasileiro é inquestionável. Assim como a revolução da EMBRAPA no campo, desde sua
criação no início dos anos 70.
45
AMAZÔNIA „VERMELHA‟ (social): vermelha de vergonha, das favelas, da pobreza
secular, da desigualdade, do pretobrás, da elite sem-vergonha.
O sonho da Amazônia “vermelha”, também é sonho antigo de nossa história, que não
pode ser esquecido, como fora por inúmeras vezes, sempre ficamos na retórica dos “Donos do
Poder”.
Como fica evidente nos fatos acima, nossa elite sempre foi competente, para consigo
mesmo, excluindo o povo, desde os tempos do Segundo Reinado, em que tivemos cinco
“Projetos Viários” de integração nacional, promovidos pelo império, em quatro décadas
(1840-1880), um deles, do engenheiro negro e abolicionista, André Rebouças, hoje Avenida
em São Paulo e Túnel no Rio de Janeiro, poucos podem associar o nome à história. Os
“Projetos Viários” de integração incluíam a Amazônia, cortando o Brasil de norte a sul e de
leste a oeste, com navios e estradas de ferro, seja para “inglês ver” e para dissolver os
interesses e olhos de cobiças do mundo na imensidão do território amazônico brasileiro. Os
projetos não saíram do papel e a retórica ajudou nos objetivos do império. O império
português e brasileiro, sempre foi competente nessa questão territorial. O Brasil, “gigante pela
própria natureza”, não é por acaso.
Raymundo Faoro, o ciclo ferroviário e o conto do mestre, Machado de Assis:
“(...) O centro da economia se desloca para as ferrovias, “o maior - dizia o ministro da
Fazenda do Governo Provisório - dos instrumentos de civilização e o mais generoso de todos
os sistemas de proteção ao trabalho, em todas as suas aplicações nacionais” (Rui Barbosa.
Relatório do ministro da Fazenda. Obras Completas, v. XVII, t. II, p. 27). Sem as garantias
de juros e a proteção estatal não haveria a estrada de ferro.....
“Num conto de 1884, Machado de Assis faz a caricatura do ciclo ferroviário, tocando em
suas três notas. Em primeiro lugar, a estrada de ferro é o progresso: “o Brasil está
engatinhando, só andará com estradas de ferro”. Depois, a estrada de ferro é a própria
indústria. Em terceiro lugar: o País deve dedicar-se “exclusivamente notai que digo
exclusivamente, diz o personagem, enfaticamente aos melhoramentos materiais”. O advérbio
exclui a questão servil e o debate institucional.”
“As estradas de ferro não trouxeram o progresso, nem o País começou a andar.” (A questão
nacional: a modernização, Raymundo Faoro, IEA-USP, 1992.
A revisão da história do Brasil e o caso raro, considerando o tamanho do país, o
império brasileiro que pagou a dívida da coroa portuguesa para a cora britânica, para tornar-se
independente, ou seja, compramos nossa independência.
(...) “O que é essa negociação triangular?
Portugal tinha uma dívida com a Inglaterra relativa ao custo militar da expulsão dos
franceses, e dizia que não tinha dinheiro. A Inglaterra negociava: “O Brasil deve pagar a
Portugal uma indenização pela Independência”. O Brasil pagou. Tomando dinheiro
emprestado de quem? Dos Rothschild, banqueiros ingleses. O dinheiro nem saiu de lá e o
Brasil carregou essa dívida até a República. É um dos raros países do mundo que pagou a
46
Independência! Como o empréstimo brasileiro junto aos Rothschild estava garantido pela
renda da alfândega do Brasil, recolhidos na importação e, sobretudo, na exportação do Rio
de Janeiro, a Inglaterra também não tinha interesse em que o governo se fragmentasse.”
(REVISTA da FAPESP:Luiz Felipe de Alencastro: O observador do Brasil no Atlântico Sul,
Out-2011.) Enquanto financiávamos empréstimos junto ao banco Rothschild, via coroa britânica,
nos EUA, o Presidente Andrew Jackson fez o mundo da família Rothschild desabar, o banco
Rothschild quebrou na década de 1830 nos EUA. Diz a história americana, que as tentativas
de assassinato de Andrew Jackson no período, têm relação com o fato, com a quebra do banco
dos Rothschild.
Mas no Brasil tudo é possível, até mesmo comprarmos nossa independência. O que
nunca entrou, ainda, “notai que digo ainda”, na equação de nossa elite, do “estamento” do
poder, foi a questão social, a Amazônia “vermelha”. O “modelo” do país sempre foi
“desenhado” para uma pequena elite, o povo nunca entrou nessa equação, realidade válida
ainda hoje, como dizia Raymundo Faoro, “um país para 20 milhões de pessoas”. No
Segundo Reinado, menos de 1% da população brasileira tinha direito a voto, o voto era
censitário (Os Donos do Poder), mesmo na República da Pedantocracia, no período da
República Velha, até fins dos anos 20, menos de 3% da população brasileira tinha direito a
voto. Nos anos 50, JK foi eleito Presidente com menos de 5% dos votos em relação a
população brasileira (1955). Hoje aproximadamente dois terço (66%) da população brasileira
tem título de eleitor, é outra revolução silenciosa que está em curso na “República Inacabada”
do Brasil.
Uma história entre JK, e Bush Junior, O Presidente JK construiu Brasília, criou o
“Plano de metas”e tinha uma mensagem clara, quanto eleito, “Desenvolver 50 anos em 5 de
governo”. Bush Junior, guardadas as devidas proporções, fez o oposto, em cinco anos de
governo, antecipou em meio século, no mínimo, o debate da hegemonia americana, um feito
colossal e inacreditável. “Se os americanos querem viver o „american dream‟, eles devem mudar-se para a
Dinamarca”, Richard Wilkinson: How economic inequality harms societies (July
2011).
“We are just not good anymore” (The Broken Contract - Inequality and American
Decline, Foreign Affairs:by George Paker, Nov.-Dez. 2011).
Pensando alto nessas décadas neoliberais, seriam uma obra secreta da elite tupiniquim
para a elite global, a exportação de “know how” das nossas mazelas e desigualdades seculares
ao mundo do norte. Convenhamos, seria eficiência demais e presunção minha, é uma
extrapolação, evidentemente.
Mas os desafios são enormes, a Amazônia “vermelha” é o calcanhar de Aquiles de
nossa história, é a via cruzes do povo, há séculos. No meu tempo de estudante universitário,
47
no início dos anos 80, na escola de engenharia, a mensagem da camiseta de bicho, dizia:
“liberdade não se mendiga, se conquista”, eram anos da reconquista da democracia, nossa
história republicana é de períodos espasmos e curtos de democracia, tanto que hoje já estamos
vivendo no maior período democrático de nossa história desde a Proclamação da República,
não é pouco, mas não é o bastante, é preciso entrar na equação das estratégias do país, da
geoeconomia, da geopolítica, de um projeto de país (furtadiano?), a Amazônia “verde”, a
Amazônia “azul” e a Amazônia “vermelha”.
AMAZÔNIA „VERDE‟
(...) “É o espaço-mundo em sua totalidade que precisa ser levado em conta, para que possamos
entender por que o pensamento europeu privilegia o tempo em detrimento do espaço. Desse modo, os
europeus puderam se considerar avançados em relação a outros povos e regiões que seriam
atrasados e, para isso, reduziram as diferentes temporalidades do mundo ao seu próprio tempo, ao
seu relógio que, acreditaram, seria universal. Marcaram a Terra e tentaram impor-lhe uma “ordem”,
ora com o meridiano de Tordesilhas, com o qual o Papa, em nome de Deus, dividiu o mundo entre
Portugal e Espanha (1493), ora como meridiano de Greenwich, quando a Europa Norte Atlântica
resolveu marcar a Terra com seu próprio meridiano, a partir de um subúrbio de Londres, Greenwich
(18884).
Há um poder marcando a Terra (geo+grafia), impondo ao mundo um princípio, um marco zero.
Tordesilhas e Greenwich são a expressão da disputa pela hegemonia no mundo moderno-colonial. De
início sob o manto da Cruz e das fianças do comércio – o mundo sob a hegemonia ibérica de
Tordesilhas – e, depois, sob o manto da ciência e das finanças da indústria – o mundo sob a
hegemonia inglesa. Ambas, entretanto, com uma boa armada dando suporte à igreja, à Técnica
(Ciência) e ao Dinheiro. Afinal, sem esta tecnologia de guerra em evolução permanente não se
conseguiria dominar tão vastos territórios. Tecnologia, desde então e cada vez mais, é poder .”
(...) “Enfim, para desgosto da tradição antropocêntrica, tão ao sabor ao pensamento europeu, a
lógica da distribuição dos recursos naturais não é a mesma lógica dos que querem exercer o domínio
do mundo. Tudo passa a ser removido e movido por todo o mundo, submetido a lógica de produção de
mercadorias, sob o comando dos grandes monopólios industriais financistas pelos grandes bancos,
dividindo territorialmente o mundo em áreas de influência entre diversos imperialismos nacionais – o
imperialismo inglês, o alemão, o francês, o holandês, o belga, o italiano, o ianque, o japonês.”
(Haesbaert & Porto-Golçalves, 2005).
Tentando entender os debates sobre a Amazônia “verde” nesses últimos anos, na qual
me dediquei a ler alguns livros, estudos e debates sobre a floresta, como este curso, e outros
livros relidos de tempo anteriores, entre os livros, um organizado pelo Prof. Aziz Ab´Sáber,
“Leituras Indispensáveis 2”, 2010, que considero importante no contexto aqui. Entre os
diversos artigos do livro, um artigo do Professor de Economia, Manfred Nitsch - O Futuro da
Amazônia: Questões Críticas, Cenários Críticos (Alemanha- 2000, e IEA-USP 2002).
Os novos conhecimentos adquiridos foram importantes para uma nova leitura e
releitura sobre artigos da Amazônia e o artigo de Manfred Nitsch, que de certa forma, traz um
resumo (até 2000 e cenários futuros), uma pequena síntese sobre o que se tentou fazer, o que
se fez, e ainda se procura fazer sobre as políticas para a Amazônia nas últimas décadas,
décadas de intensas atividades para novas políticas para Amazônia e as florestas tropicais do
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terceiro mundo de forma geral, seja no nível das políticas internacionais (com a participação
do Governo Brasileiro) e das potências, principalmente da Alemanha e EUA. O artigo tem
trinta e cinco referências bibliográficas, sendo que quase a metade são na língua alemã, a qual
não domino. Destacarei e citarei alguns para esse trabalho.
O projeto ARPA- Áreas Protegidas da Amazônia (WWF e Banco Mundial): Iniciativa
que previa ampliar, aumentar áreas protegidas na Amazônia em 10% até 2010 é fruto desse
debate (que vem desde os estudos da Amazônia do governo da Alemanha dos anos 80, como
veremos mais abaixo).
Assim como, o “novo passo”, a estratégia global da geopolítica das potências, foi o
protocolo assinado em Nagoya em 2010 que pede a ampliação, para 17% da superfície
planetária, das áreas de conservação da biodiversidade em terra e para 10% das de
ecossistemas marinhos e costeiros, incluídos os mangues.
Em síntese, esse artigo do Prof. Manfred Nitsch, será o meu principal foco de estudo e
análise sobre os cenários e estudos descritos por ele e suas referências como norte.
O Professor Mafred Nitsch inicia seu artigo, assim:
“Debruçando-se sobre a Amazônia aqui de Berlim, vemos que ela se mostra de maneiras muito
diferentes nas escalas local, regional, nacional e global. Em suas raízes...”, (p. 9).
Em resumo ele traça quatro cenários: “Futuros alternativos para a Amazônia”, (p. 11-
12), citando:
1. PIOR CENÁRIO POSSÍVEL: Destruição acelerada da floresta e permanência das
condições miseráveis de vida para a maior parte da população;
2. CENÁRIO A PARTIR DA PROJEÇÃO DA SITUAÇÃO ATUAL: Persistência da
condição de periferia, dependência e destruição gradual da floresta, com algumas áreas
protegidas;
3. CENÁRIO ALTERNATIVO: Um arquipélago territorial, com economia monetária e
crescimento autônomo dentro e ao redor das cidades, e conservação rigorosa de grandes
extensões de terra hinterlândia;
4. CENÁRIO DE CONTRASTE: Moratória no desflorestamento, conservação em
grande escala, remuneração internacional pelos serviços ambientais da floresta e enclaves
urbanos como pólo de desenvolvimento.
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Ele prossegue, em seguida diz:
“Esses quatro cenários destoam de um antigo dito dos caboclos, “Deus é grande, mas a floresta é
maior”, que expressa sucintamente a experiência de quase cinco séculos”. (...) “Porém a partir dos
anos 1980, os deuses da tecnologia moderna e os padrões de povoamento indubitavelmente se
revelaram “maiores” do que a floresta, de modo que não temos mais a esperança de confiar na
autorrepulsão e na autorregeneração de um ecossistema resistente de florestas primárias.”
O olhar de longe, “de longe todo mundo é igual”, tenho a impressão que essa frase
atribuída aos „caboclos‟ é um mero devaneio, de um olhar fora de foco e fora da realidade, um
olhar superficial, de quem olha de cima e de longe. Novamente, sem xenofobismo de qualquer
natureza. Esse olhar do Professor de economia, Mafred Nitsch, não seria o olhar do Deus do
homem branco?
Aparenta claramente que, o Prof. Manfred Nisch, procura uma justificativa, no caso,
um bode expiatório para justificar a degradação das florestas e destruição da natureza, que é
em grande parte, se não na essência, devido ao modo de vida da civilização urbano-industrial
dos últimos séculos (A. C. Diegues, 2008). Além do que a contradição à frase que ele atribui a
um dito dos „caboclos‟, aparece logo em seguida na segunda parte do próprio texto (acima) e
também na p. 18:
(...) “Não só a floresta em si não é mais forte que os deuses do progresso ocidental, como também
experimentos bem intencionados de agricultura “sustentável” não serão suficientes para impedir
desflorestamento em larga escala e promover o desenvolvimento agroflorestal. Enquanto as medidas
ambientalistas forem tão frágeis e, em si, tão ambíguas (se não contraproducentes), o que se pode
esperar do paralelogramo de forças quando programas “desenvolvimentistas” contrários, como o
Avança Brasil, são tão fortes quanto são?!”
Analisarei duas histórias brasileiras, a caricatura e estereótipo falso criado por
Monteiro Lobato sobre o caipira e caboclo, o personagem “JÉCA TATÚ”, e a visão de
Euclides da Cunha, sobre a Amazônia “verde”, para que possamos refletir, como cidadão, na
linha do inglês e Nobel Laureado, Harold Pinter, o que é mero devaneio (ficção) e o que é
realidade
No próprio livro organizado pelo Prof. Aziz Ab´Sáber, “Leituras Indispensáveis 2,”
há, entre os textos selecionados, um artigo de Euclides da Cunha. Como nos lembra
Raymundo Faoro, Euclides da Cunha foi o que nos restou da „República da Pedantocracia‟,
que veio a ocupar o espaço vago do estamento do império em fins do século XIX e início do
século XX, formando um novo estamento, presente até hoje em nossa “República Inacabada”.
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Certamente Euclides da Cunha é o maior expoente de sua geração, como confirma o rodapé
sobre o artigo: “Euclides da Cunha (1866-1909) foi escritor, repórter jornalístico, sociólogo,
historiador, geógrafo e engenheiro brasileiro. Ficou conhecido internacionalmente por sua
obra, Os Sertões, que retrata a Campanha de Canudos.”
Euclides da Cunha era pau pra toda obra, foi a ele que o Barão do Rio Branco
recorreu, pois necessitava de uma análise realista sobre as terras do Acre, então pertencentes a
Bolívia, ocupada pelos seringueiros brasileiros, que viviam nelas e de onde tiravam seu
sustento no ciclo da borracha. O mensageiro do Barão do Rio Branco foi enviando ao
Amazonas, para ajudar a entender e a equacionar a questão dos seringueiros, no que se
tornaria nosso futuro Estado, o Acre, capital Rio Branco.
O que Euclides da Cunha viu em suas experiências vividas na Amazônia no início do
século XX? Qual foi o olhar e seus relatos sobre os caipiras? Os caboclos? Sobre os
ribeirinhos? Sobre os Seringueiros? Sobre os povos tradicionais da floresta?
Vejamos em parte que “pincei” do livro, um olhar, oposto ao de Manfred Nisch:
“No sábado de Aleluia os seringueiros do Alto-Purus desforram-se de seus dias tristes. É um desafogo.
Ante a concepção rudimentar da vida santificam-se-lhes, nesse dia, todas as maldades. Acreditam
numa sanção litúrgica aos máximos deslizes.
Nas alturas, o Homem-Deus, sob o encanto da vinda do filho ressureto e despeado das insídias
humanas, sorri, complacentemente, à alegria feroz que arrebenta cá embaixo. E os seringueiros
vingam-se, ruidosamente, dos seus dias tristes.
Não tiveram missas solenes, nem procissões luxuosas, nem lava-pés tocantes, nem prédicas comovidas.
Toda a semana santa correu-lhes na mesmice torturante daquela existência imóvel, feita de idênticos
dias de penúrias, de meios-jejuns permanentes, de tristezas e de pesares, que lhe parecem uma
interminável sexta-feira da Paixão, a estirar-se, angustiosamente, indefinida, pelo ano todo afora.
Alguns recordam que nas paragens nativas, durante aquela quadra fúnebre, se retraem todas as
atividades – despovoando-se as ruas, paralisando-se os negócios, ermando-se os caminhos – e que as
luzes agonizam nos círios bruxuleantes, e as vozes se amortecem nas rezas e nos retiros, caindo um
grande silêncio misterioso sobre as cidades, as vilas e os sertões profundos onde as gentes entristecidas
se associam à mágoa prodigiosa de Deus. E consideram, absorto, que esses sete dias excecionais,
passageiros em toda a parte e em toda a parte adrede estabelecidos a maior realce de outros dias mais
numerosos, de felicidade – lhe são, ali, a existência inteira, monótona, obscura, dolorosíssimo e
anônima, a girar acabrunhadoramente na via dolorosa inalterável, sem principio e sem fim, do círculo
fechado das “estradas”. Então pelas almas simples entra-lhes, obscurecendo as miragens mais
deslumbrantes da fé, a sombra espessa de um conceito singularmente pessimista da vida: certo, o
redentor universal não os redimiu; esqueceu-os para sempre, ou não os viu talvez, tão relegados se
acham à borda do rio solitário, que no próprio volver das águas é o primeiro a fugir, eternamente,
àqueles tristes e desfrequentados rincões.
Mas não se rebelam, ou blasfemam. O seringueiro rude, ao revés do italiano artista, não abusa da
bondade de seu deus desmandando-se em convívios. É mais forte; é mais digno. Resignou-se a desdita.
Não murmura. Não reza. As preces ansiosas sobem por vezes ao céu, levando disfarçadamente o travo
de um ressentimento contra a divindade; e ele não se queixa. Tem a noção prática, tangível, sem
raciocínios, sem diluições metafísicas, maciças e inexorável – um grande peso a esmagar-lhe
inteiramente a vida – da felicidade, e submete-se a ela sem subterfugir na cobardia de um pedido, com
os joelhos dobrados. Seria um esforço inútil. Domina-lhe o critério rudimentar uma convicção talvez
desmasiada objetiva, ou ingênua, mas irredutível, a entrar-lhe a todo o instante pelos olhos adentro,
assombrando-o; é um excomungado pela própria distância que o afasta dos homens; e os grandes
olhos de Deus não podem descer até aqueles brejais manchando-se. Não lhe vale a pena penitenciar-se,
o que é um meio cauteloso de rebelar-se, reclamando uma promoção na escala indefinida da bem-
aventurança. Há concorrentes mais felizes, bem mais protegidos, mais numerosos, e, o que lhe figura
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mais eficaz, mais vistos, nas capelas, na igreja, nas catedrais e nas cidades ricas onde se estadeia o
fausto do sofrimento uniformizado de preto, ou fugindo na irradiação das lágrimas, e galhardeando
tristezas...
Ali – é seguir, impassível e mudo, estoicamente, no grande isolamento as sua desventura.
Além disto, só lhe é lícito punir-se da ambição maldita que o conduziu àqueles lugares para entregá-lo,
maniatado e escravo, aos traficantes impunes que iludem – e este pecado é o seu próprio castigo,
transmudando-lhe a vida numa interminável penitência. O que lhe resta a fazer é desvendá-la e
arrancá-la da penumbra das matas, mostrando-a nuamente, na sua forma apavorante, à humanidade
longínqua...
Ora, para isso a igreja dá-lhe um emissário sinistro: Judas; e um único dia feliz: o sábado prefixo aos
mais santos atentados, ás balbúrdias confessáveis, à turbulência mística dos eleitos e à divinização da
vingança.”
JUDAS-ASVERO: Fragmento poético da obra de Euclides da Cunha. À Margem da História (Leituras
Indispensáveis 2, Aziz b´Sáber, p. 77-83).
Na segunda década do século XX, a fama de Monteiro Lobato, com a criação do
personagem “Jeca Tatu”, Lobato criou a caricatura de uma figura preguiçosa do caipira, do
caboclo e homem do campo, diferente dos idealizados pela literatura romântica do período.
Essa fantasia mostra à força de uma imagem (mesmo falso) sobre a realidade, tanto que ainda
hoje, permanece no imaginário da classe média brasileira, a falsa versão, o estereótipo de
Lobato, e não a realidade do caboclo, do caipira e do homem do campo.
Mas foi Cornélio Pires quem esclareceu o engano, autor de mais de vinte livros, entre
os quais, “Dicionário Caipira”, sobre a cultura dos caipiras, vocabulário, as músicas, os
termos e expressões usadas pelos caipiras, que foi reconhecido pelo meio acadêmico, disse o
Prof. Antonio Candido sobre Conélio Pires: “O nosso maior estudiosos da sociedade e da
cultura caipira, especialmente no livro „Os Parceiros do Rio Bonito‟.”
Cornélio Pires escreveu sobre a caricatura do caipira (JÉCA TATÚ) de Lobato,
esclarecendo a questão:
“Coitado do meu patrício! (Monteiro Lobato) Apesar dos governos os outros caipiras se vão
endireitando à custa do próprio esforço, ignorantes de noções de higiene... Só ele, o caboclo, ficou
mumbava, sujo e ruim! Ele não tem culpa... Ele nada sabe. Foi um desses indivíduos que Monteiro
Lobato estudou, criando o Jeca Tatu, erradamente dado como representante do caipira em geral!”
(Cornélio Pires, jornalista, escritor, folclorista)
Essa visão reducionista é um dos traços de nossas elites, reacionária, desde o império,
coloca a imagem que poderia lhe servir (lhe serve), a carapuça é vestida no outro, que não tem
voz e nem escrita, o tempo da história do homem do campo era o tempo da oralidade.
Nos anos 50, nasceu “O Complexo de Vira-Lata”, criado por Nelson Rodrigues. É
outro exemplo clássico de nossa história, após o fracasso da copa de 1950, na busca de uma
resposta, criou-se a culpa, jogando-a no povo brasileiro, ou seja o “Complexo de vira-lata, era
culpa do povo. Ainda hoje se vê, mesmo nas elites e na intelectualidade das universidades
(tenho ouvido, tido experiências horríveis, diria incontáveis). Como separar o joio do trigo?
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Como separar a intelectualidade e a elite é uma questão séria, diria muito séria, perante os
desafios que temos pela frente, em plena “Nova era Vargas”. Fica a pergunta: Como, qual é a
linha tênue que separa nossa elite da intelectualidade? Quem forma quem? Onde começa a
influência de um para e sobre o outro? Continuaremos a reproduzir mais do mesmo, como nas
últimas décadas e séculos de nossa história vergonhoso?
O imaginário do povo brasileiro é diferente do imaginário das elites e dos intelectuais
desde o império. Disse Joaquim Nabuco, “em mim só o sentimento é brasileiro, a minha
imaginação e européia”.
O imaginário do povo, derivado de outro pensamento de Joaquim Nabuco, reza o dito
popular: “O povo é melhor que sua elite”.
A visão do geógrafo, Milton Santos, sobre nossa história, patrimonialista, reacionária e
perversa, a elite secular tupiniquim, de pouca-vergonha:
(...) “Porque o Brasil jamais teve cidadãos. Nós, a classe média, não queremos direito, queremos
privilégios, e os pobres, não têm direitos. Não há pois, cidadania neste país, nunca houve.” (SANTOS).
Voltemos aos cenários para a Amazônia, vindos da Alemanha. As surpresas da vida,
que a gente não poderia imaginar. O pensamento estereotipado, reducionista do caboclo e dos
povos da floresta, agora vem da Alemanha. Quem diria, temos também agora uma espécie de
“Jéca Tatú” do caboclo destruídor da floresta, que desafia até Deus, criado pelo Professor de
Economia, Manfred Nisch, que muito provavelmente não conhece a história de Monteiro
Lobato, Cornélio Pires e o texto de Euclides da Cunha, se conhecer, ou se for descendente de
nossas praias e da elite tupiniquim, creio que piora o quadro, o soneto fica pior que a emenda. Quando os interesses que estão em jogo, fala mais alto do que a realidade dos fatos,
quando a hipocrisia da intelectualidade sucumbe aos interesses especulativos e não a jactância
da dúvida e da buscar do saber e do conhecimento. Os interesses e mitos do homem branco,
urbano industrial (Diegues, 2008), são diferentes do povo da floresta, ou como diz o próprio
Manfred Nisch: “O mundo moderno está fundamentado em recursos minerais advindos de
todas as partes da terra.” (Leituras Indispensáveis, p. 15).
“A ciência mente, mas não admite que mente, a arte mente mas admite que mente, a arte é superior a
ciência” (Nietzsche).
Cabe perguntar: Qual era o Deus do homem europeu que levou o continente a destruir
mais de 90% de suas florestas?
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O artigo de Manfred Nitsch, trás comentários sobre duas referências da bibliografia do
próprio artigo, que são estudos do Governo Alemão sobre a Amazônia, anos 80´s, no último
cenário do estudo, Cenário de Contraste (p. 21-22):
“No final da década de 1980, no início dos processos que levaram ao PPG7, lançou-se a ideia de a
comunidade internacional cancelar ou reduzir as dívidas dos países possuidores de florestas tropicais e
de oferecer-lhes uma compensação financeira pela proteção dessas florestas (veja relatório de 1988
para o Chanceler alemão Helmut Kohl redigido pelo cientista político Oberndörfer (1989a), publicado
pela chancelaria). Oberndörfer aperfeiçoou sua ideia (1989b), ressaltando a necessidade de uma
“compensação econômica maciça” (p. 111) e ridicularizando a visão dos silvicultores de proteger a
floresta tropical primária utilizando seus recursos e convertendo-a numa floresta manejada. Para ele
isso seria um mero devaneio ou um “Holzweg irrealista (p. 103: o termo alemão holzweg tem duplo
sentido: trilha na floresta e beco sem saída). As subvenções maciças que sustentam o PPG7 podem,
pois, ser vistas como uma espécie de “compensação indenizatória” e como o primeiro passo no sentido
de um regime que remunere os serviços ambientais por meio de transferências de fundos.
Nesse ínterim, o Protocolo de Kyoto de 1997 levou essa ideia muito adiante ao criar o Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL) para que benefícios imediatos pudessem ser auferidos pelo Brasil (veja
Fearnside 1997 e 2001b).”
Gostaria de inserir, adicionar aqui, partindo da análise dos três grandes eldorados
globais, de Bertha Becker (Geopolítica da Amazônia, 2004, ESTUDOS AVANÇADOS 19
(53), 2005), mais um eldorado: a África. “Há quatro grandes eldorados naturais no mundo contemporâneo: a Antártida, que é um espaço
dividido entre as grandes potências; os fundos marinhos, riquíssimos em minerais e vegetais, que são
espaços não regulamentados juridicamente; o continente africano, a África de riquezas imensas; e a
Amazônia, região que está sob a soberania de estados nacionais, entre eles o Brasil.”
“Só as evidências podem nos deixar atônitos” (Roland Barthes). A Amazônia “verde”
foi, desde sempre, desde os tempos do Brasil colônia, a menina dos olhos de cobiça do
mundo, séculos se passaram, mas nas últimas décadas, é evidente, desproporcional e
descomunal o poder das estratégias das políticas internacionais das potências, principalmente
os EUA e Alemanha (Bertha Becker) e das grandes ONGs transnacionais conservacionistas.
A política da governança global e das grandes ONGs transnacionais conservacionistas
comandando e definindo os rumos da nossa política para a Amazônia nas últimas décadas,
como é relatado por Manfred Nitsch, “desde os anos 80´s”, o governo da Alemanha vem
estudando o assunto, assim como as demais potências. Estudando propondo e definindo as
nossas estratégias e rumos, temos aqui os “bad samaritanos”, “faça o que eu digo, mas não
faça o que eu faço (ou fiz), “Chutando a Escada”.
Se voltarmos um pouco mais no tempo, anos 20 e 30, a ameaça veio com o fator
Henry Ford, e nos anos 60, o futurologista americano, Herman Kahn, também entrou nessa
seara amazônica, fez um projeto para a Amazônia, que consistia em criar grandes lagos na
região amazônica. O Brasil vivia sob regime de ditadura militar, que por diversos motivos e
em reação ao projeto e ambição velada americana, lançou o “Projeto Transamazônico”.
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Diante da complexidade e da inter-relação entre os vários temas e abordagens, creio
ser miopia e falta de visão pensar somente na Amazônia “verde”, é mero reducionismo, e não
procurar entender o todo, é se contentar, se iludir com uma pequena parte do todo. Esse ponto
de vista, evidentemente, interessa e é como atuam as potências internacionais na governança
global, esse é o ponto de vista deles para conosco, o ponto de partida, a eterna e secular
conquista dos colonizados, pois ainda temos enraizado, nas elites e na intelectualidade, muitas
formas de agir dos tempos da “colônia”, o nosso Deus vem do norte, as nossas ideias também,
nos últimos anos a moda as “listas do norte” de classificação de universidades, ainda somos
ilhas de pensamentos isolados, sem um projeto claro de nação, e as potências e ONGs
conservacionistas transnacionais (O falso “bons rapazes globais”, ver Diegues, 2008), sabem
muito bem do fato e o exploram. Essa é a lógica, os “neomitos” na Geopolítica da Amazônia
pelas potências e ONGs transnacionais conservacionistas, “lobo em pele de cordeiro”, ou na
linguagem dos adolescentes, „transformers‟:
(...) “Enfim, para desgosto da tradição antropocêntrica, tão ao sabor ao pensamento europeu, a lógica
da distribuição dos recursos naturais não é a mesma lógica dos que querem exercer o domínio do
mundo. Tudo passa a ser removido e movido por todo o mundo, submetido a lógica de produção de
mercadorias, sob o comando dos grandes monopólios industriais financistas pelos grandes bancos,
dividindo territorialmente o mundo em áreas de influência entre diversos imperialismos nacionais – o
imperialismo inglês, o alemão, o francês, o holandês, o belga, o italiano, o ianque, o japonês.
O final do século XIC e o início do século XX verão o comércio internacional crescer
espetacularmente. Na verdade, com o imperialismo, instala-se uma verdadeira pilhagem de recursos
naturais da África, Ásia, da América Latina e do Caribe e, desordem ecológica social. Até mesmo duas
guerras acabaram envolvendo a própria Europa na desordem generalizada que a dinâmica
expansionista inerente ao capitalismo acabara impondo a todos”
(Haesbaert & Porto-Golçalves, 2005).
Precisamos desenvolver o nosso projeto de Brasil, para a Amazônia, “verde”,
Amazônia “azul” e Amazônia “vermelha”, e quiçá, o mesmo se deseja aos demais países
amazônicos e sul americano.
Segundo Antonio Carlos Diegues (2008, O MITO MODERNO DA NATUREZA
INTOCADA), o MODELO de áreas nacionais protegidas (vazias, sem povos), nasceu nos
EUA, meados do século XIX, e se constitui na principal estratégia do país (EUA e Europa)
para conservação da natureza, e são largamente utilizadas nas políticas conservacionistas
pelos países do terceiro mundo. Parte da ideologia preservacionista subjacente ao
estabelecimento dessas áreas protegidas está baseada na visão do homem como
necessariamente destruidor da natureza, devido ao contexto de rápida expansão urbano-
industrial dos EUA. Esses espaços, essas áreas naturais protegidas se constituíram em
propriedades públicas.
55
Mas os EUA, o principal articulador, financiador e promotor dessa política no mundo,
têm hoje, menos de 2% de seu território preservado em áreas protegidas e a Europa menos de
7%, enquanto os países do terceiro mundo, que detêm a grande maioria das áreas preservadas,
na qual os povos que sempre viveram no campo, são expulsos das florestas (idem).
Nos anos 60, havia 2.000 áreas protegidas no mundo, em 2008, chegou em 108.000,
representando cerca de 12% da área do planeta, ou 20 milhões de quilômetros quadrados, área
essa maior que o continente africano. No período foram expulsos das florestas, entre 10 a 14
milhões de pessoas, principalmente África e Ásia (idem).
No Brasil em 1985, as áreas protegidas eram de 15 milhões, 2007 passou para 130
milhões, 15, 2% do território nacional e 20% da Amazônia, com implicações ecológicas,
sociais, culturais e geopolíticas (idem).
O projeto ARPA- Áreas Protegidas da Amazônia (WWF e Banco Mundial): Iniciativa
que previa ampliar, aumentar áreas protegidas na Amazônia em 10% até 2010.
(...) “Portanto, a Amazônia terá, em breve, mais de 30% do seu território em áreas protegidas, uma
área equivalente ao território da Espanha” (Becker, Conf. IEA - 2004, p. 80).
Como podemos ver acima, em 2008 as áreas haviam atingidos 12% do planeta, e em
2010, já foi dado o novo passo, a nova estratégia das potências, o protocolo assinado em
Nagoya em 2010 que pede a ampliação, para 17% da superfície planetária, das áreas de
conservação da biodiversidade em terra e para 10% das de ecossistemas marinhos e costeiros,
incluídos os mangues.
Diegues diz que a simples transposição desses espaços vazios, “neomitos” (a natureza
selvagem intocada), na qual não é permitido moradores, entrou em conflito com a realidade
dos países tropicais, cujas florestas são habitadas por povos indígenas e tradicionais
(ribeirinhos, pescadores, artesanais, extrativistas), que tem modos de vida diferentes da
urbano-industrial. A natureza em estado puro não existe mais, as regiões naturais apontadas
pelos biogeógrafos usualmente corresponde a áreas manipuladas pelos homens. Essas
populações conhecem a natureza e os ciclos biológicos, têm dependência dos ciclos naturais, e
dos ciclos de vida.
Fica claro aqui, que não se trata apenas de preservação e “conservação do mundo
natural”, como dizem, pois se são importantes para o terceiro mundo, não são para eles
próprios. Na globalização desenfreada, há uma corrida pelas riquezas das áreas do planeta,
nitidamente, os países do terceiro mundo.
56
Diegues, no livro, “A ecologia política das grandes ONGs transnacionais
conservacionistas”, 2008, desnuda a imagem de “bons rapazes globais” por terem as ONGs,
construído a credibilidade de serem “mais confiáveis, não corruptas e eficazes”. Nas últimas
três décadas, as principais ONGs globais, com arrecadações de recursos milionários, junto a
USAID e multinacionais, atuam da mesma forma que as estruturas de grandes empresas, são
elas: CI (Conservation International), presidida por Russel Mittermedier; TNC (Nature
Conservancy); WCS (Wildlife Conservation Society); WRI ( World Resources Institute) e
WWF (World Wildlife Fund).
“As experiências,..., relatadas e a presença das Três Grandes ONGs transnacionais no Brasil- WWF,
CI e TNC- sugerem a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre seu papel no mundo
globalizado da conservação da natureza. Essa coletânea foi baseada em estudo mais amplos e gerais
feitos fora do Brasil, porém importantes para se entender como funcionam esses grandes ONGs da
conservação.
Os estudos sobre as atividades dessas organizações não-governamentais são raros ou mesmo
inexistentes no Brasil, apesar de sua importância no cenário conservacionista brasileiro e em outros
países tropicais.
Esse debate precisa ser iniciado no Brasil, sem xenofobismos de qualquer natureza, visando avaliar os
objetivos, estratégias e práticas dessas grandes ONGs conservacionistas e seus impactos sobre as
políticas públicas no setor da conservação da natureza.
Alguns aspectos globais e internacionais das estratégias dessas mega-organizações foram analisados
por distintos especialistas nesta antologia e merecem destaques....” (DIEGUES, p. 14).
O antropólogo, com longa experiência, demonstra cabalmente a influência dessas
grandes ONGs nas políticas ambientais de instituições governamentais, mesmo no Brasil,
grande capacidade de arrecadação junto a Órgãos multilaterais, como Banco Mundial e
corporações multinacionais e suas vinculações, promotoras de seminários com a participação
de autoridades de governos, promoção de treinamentos para os verdes encastelados nos órgão
oficiais dos governos e ONGs locais.
Denuncia Diegues, não é uma denúncia vazia :
(...) “envolvimentos de ONGs em compra de terras, usando ONGs locais, como
intermediárias”, (...) “não há linhas especificas de financiamento para as pesquisas de caráter
sociológico como ocorre para as ciências naturais”, (...) influência das grandes ONGs sobre
os modelos de ciência da conservação hoje usado no país, (...) Há necessidade urgente das
universidades e institutos de pesquisas dos países tropicais em desenvolver modelos de
conservação que, além de eficazes, sejam democráticos, participativos, levando em conta os
interesses das comunidades locais”.
A nossa elite (“elite branca e burra”), que nunca teve necessidade de uma nação, “nunca
precisou da ideia de nação” (FIORI), está fazendo muito mal ao país também com políticas
de cima para baixo, dos interesses da elite global ao sabujos da elite tupiniquim, e isso precisa
ser revisto, e analisado.
“Esse debate precisa ser iniciado no Brasil, sem xenofobismos de qualquer natureza, visando
avaliar os objetivos, estratégias e práticas dessas grandes ONGs conservacionistas e seus
impactos sobre as políticas públicas no setor da conservação da natureza.” A. C. Diegues.
57
Reproduzo o Sumário do livro, que reputo ser leitura fundamental, quanto se é
brasileiro e se deseja entender o Brasil, a Amazônia “verde” e o mundo.
Diegues faz uma introdução, em seguida, traduções de estudos e artigo em inglês:
1- MacChapin: Um Desafio aos Conservacionistas.World Watch Magazine, Nov.-dez. 2004
(p. 23).
2- Respostas dos leitores ao artigo de MacChapin. (P. 61)
3- Por dentro da TNT- Nature Conservancy: Arrebata Bilhões. Filantropia faz ativos em
parceria com corporações. Devid B. Ottaway, Joe Stephens- Washington Post, 04-05-2003 (p.
67)
4- Daniel Compgnon: Administrar Democraticamente a Biodiversidade Graças as ONGs?
IRD Paris: Editions, 2005. (p. 83).
5- Mariteuw Chimère Diaw: Escalas nas Teorias da Conservação: Um Outro Conflito de
Civilizações? International Forestry Research-CIFOR. (p. 105).
6- Mark Dowie: Refugiados da Conservação, www.oriononline.org (Jan. 2006) (p. 113)
7- Expulsão para a Conservação da Natureza: Uma visão Global (p. 125). Dan BroCkington-
Jim Goe Institute for Development Policy and development, University Manchester- GB,
2006.
OS NEOMALTHUSIANOS CATASTROFISTAS
(...) “O que quer dizer afinal mudança climática? É a modernização reflexiva, estúpido! (Latour,
2008) Ou para colocar a questão de outra forma: Como criar um ecologização da modernidade?”
(...) “So what is climate change all about? „It‟s reflexive modernization, stupid!‟ (Latour, 2008) or, to
put it in the form of a question: How to create a greening of modernity?” (Urich Beck, 2010).
Parafraseando a música de Jorge Bem Jor, “os neomalthusianos estão voltando, estão
voltando os neomalthusianos”, embora consumo global cresce a taxa três vezes maior que a
taxa da população mundial. O fato é que assistimos a volta deles pelo mundo no século XXI,
pela terceira vez na história, costumam repetir como um mantra, “é Malthus estava certo, se
não tivesse havido no mundo melhoras na produção de alimentos,....”, ou seja, esse “se”, é
como nossos avós diziam, se plantar um pé de “se”, teremos, “se” daqui, “se” dali, “se”
acolá. Ao olharmos os argumentos e conteúdos, veremos que eles não resistem a uma análise
em que a realidade do todo e não só dos 20% do topo da pirâmide, pois estão defendendo e
falando para os 20% do andar de cima da nave espacial Terra. Vejamos o que eles estão
defendendo e qual a proporção de concentração:
58
A concentração de renda global, estudo do PNUMA (2002),
“os 20% mais ricos da população mundial são responsáveis por 86% dos gastos com consumo
privados, consomem 58% da energia mundial, 45% de toda carne, 84% do papel e possuem 87% dos
automóveis e 74% dos aparelhos de telefones. Em contraste, os 20% mais pobres do mundo
consomem 5% ou menos, de cada um desses bens e serviços.”
PNUMA, Perspectivas Del médio ambiente mundial - GEO-3 Barcelona: Mundi-Prensa, 2002, p.35.
Haesbaert & Porto-Golçalves, A nova des-ordem mundial, 2005, p. 127.
A visão do Professor Ignacy Sachs* frente os neomalthusianos:
CM - A ressurgência neomalthusiana forma uma corrente cada vez mais forte; que riscos
acarreta ao ambientalismo?
IS - Minha resposta a quem diz que não dá mais, ou seja, que o planeta ficará inviável com
9 bilhões de habitantes é a seguinte: extraia as consequências desse postulado.
CM - Quais são elas?
IS - Estão na obra de Jonathan Swift (*Em 1729, o escritor Jonathan Swift, autor das
„Viagens de Gulliver, apresentou o que chamou de "modesta proposta" para resolver o
problema da infância abandonada no seu país. Famílias pobres venderiam seus filhos para
serem degustados como fina iguaria pelas famílias ricas. Segundo ele, sua "modesta
proposta" daria renda aos pobres e uma nova delícia gastronômica à nobreza, criaria
empregos na rede hoteleira e tiraria da rua a infância abandonada).
CM - Esse é o cardápio oculto do neomalthusianismo?
IS - Sim, e se o diagnostico é esse, vamos dar-lhe as devidas consequências: será por sorteio,
por meio de uma guerra nuclear ou através da modesta proposta de Swift? Qual será o
método de eliminação do excesso? Infelizmente, há muita gente que pensa de forma
malthusiana. Tive uma discussão desse tipo com o oceanógrafo Jacques-Yves Cousteau;
Lovelock também pensa assim.
CM - A tese da descarbonização embute esse risco?
IS - Temos que encarar esse debate seriamente. Mesmo porque a população vai a 9 bilhões,
isso está escrito no mapa de percurso da humanidade. Está dado. A pergunta é: podemos ter
uma vida razoável com 9 bilhões? Eu acredito que sim, dentro dos parâmetros com os quais
qualificamos a nova agenda do desenvolvimento. Agora, podemos ter a mesma qualidade
ambiental e social com 90 bilhões de pessoas? Não. Mas a verdade é que uma multiplicação
descontrolada como essa apenas evidenciaria a síndrome de um desequilíbrio. A miséria é
uma de suas características. A estabilidade demográfica, em contrapartida, ocorre
progressivamente desde que outras variáveis estejam presentes, entre elas eliminação da
pobreza. A crise e a aposta de Ignacy Sachs para a Rio-2012, Carta Maior, Meio Ambiente, 29/08/2011.
(*) Economista e Professor da École dês Hautes Études em Sciencies Sociales, em Paris.
A preocupação global expressos nos inúmeros relatórios (e na linguagem) da
McKinsey:
“No século XX, os recursos naturais, tornaram-se, progressivamente mais barato, sustentando o
crescimento econômico global. Mas o século 21 poderá ser diferente. De fato, nos últimos dez anos, o
rápido desenvolvimento econômico nos mercados emergentes tem dizimado todos os declínios do
século anterior nos preços das commodities real. E nas próximas duas décadas, até três bilhões de
pessoas (e seu poder de compra) serão adicionados à classe média global. O mundo está entrando na
era da alta sustentada dos preços dos recursos, levando ao aumento do risco econômico, social
e geopolítico?”
Mobilizing for a resource revolution, McKinsey Quarterly, Jan. 2012
Ver também: A new era for commodities, McKinsey Quarterly, Nov. 2011,
59
Oil's uncertain future, McKinsey Quartely, Nov. 2011,
Setting priorities for resource productivity, McKinsey Global Institute, Nov. 2011.
Diante da explosão dos preços das commodities da última década, da explosão do
consumo no mundo, dos novos cenários de consumismo para as próximas décadas, das
expectativas de aumento de três (3) bilhões de novos consumidores no mundo nas próximas
duas décadas, das expectativas do contínuo aumento dos preços das commodities nas
próximas décadas, ou seja, bem diferente da estabilidade dos preços das commodities no
século XX, descrita visualmente no gráfico abaixo:
A new era for commodities, McKinsey Quarterly, Nov. 2011
O Professor Ildo Sauer e equipe, trás ao debate a capacidade de produção da Terra e
quem está usando mais recursos no momento, através da analise realizada por Samir Amin
sobre a pegada de carbono ecológico de Wackernaged e Rees (“Ecological Footprint” by
Mathis Wackernagel and William Rees, 1996). Samir Amin, Capitalism and the Ecological
Footprint, Samir Amin, Monthly Review, 2009. (tradução minha):
“A nível global a bio-capacidade do nosso planeta é 2,1 gha (global hectares per capita). Em
contraste, a média global de recursos por consumidor, já era em emados dos anos 90, de 2,7 gha.
Essa “média”, na verdade mascara um gigantesco desbalanceamento, a média entre a tríade
(América do norte, Europa e Japão), já atingiu quatro vezes mais que a média global (2,7 gha), ou
seja, atingindo 10,8 gha, ou cinco vezes acima da capacidade do planeta, por outro lado, significa
que uma boa proporção da capacidade das sociedades dos países do hemisfério sul está sendo usado
pelas populações do norte.” J. F. de Carvalho et al./Energy Policy 38(2010)5399–5402, p. 5401
60
At the global level, the bio-capacity of our planet is 2.1 global hectares (gha) per capita. In contrast, the global average for consumption of resources was already – in the mid-1990s – 2.7 gha. This „„average‟‟ masks a gigantic imbalance: the average for the Triad (Europe, North America and Japan) reached a multiple of the order of four magnitudes of the global average. A good proportion of the bio-capacity of societies in the South is taken up by and to the advantage of these centers (Amin, 2009). p.
J. F. de Carvalho et al./Energy Policy 38(2010)5399–5402, p. 5401
Voltamos ao bom senso e a realidade dos fatos, ao Professor Ignacy Sachs*,
“Um tema da maior importância é a implantação de unidades de produção intensiva orti-fruti-
arbórea em e ao redor de açudes, igarapés, lagos, e ao longo dos rios e nas extensas áreas protegidas
por recifesno litoral marítimo. Uma unidade de meio hectare pode atender ao consumo de 200
brasileiros. Obviamente, podemos trabalhar com unidades de produção maores, de um ou mais
hectares. Não deveríamos ser limitados, ao menos no Brasil, pela falta de espaço para implantação
dessas unidades. Um uso tão intensivo dos solos se justifica pela necessidade de manter em pé, por
razões ambientais e sociais, grandes extensões de florestas. Por outro lado, elas geram um potencial
apreciável de oportunidade de trabalho decente (uma a duas famílias de dois adultos por unidade).
A título preliminar, generalizando os dados disponíveis e adequando-os a uma população de 9
bulhões de habitantes, para assegurar o consumo de 50 quilos por habitante/ano de peixe,
necessitaríamos de 4,5 milhões de hectares de açudes. Supondo que o consumo anual de hortaliças
requer 10 metros quadrados por pessoa/ano, precisaríamos de 9 milhões de hectares de hortas. Ao
crescimento ainda de 9 milhões de pomares e plantações arbóreas chegaríamos a um total de 22,5
milhões de hectares, ou seja, menos da metade da área da França, isto para atender a uma parte
significativa do consumo da população mundial”.
CartaCapital, CartaVerde, edição N˚ 7, 28/09/2011.
(*) Economista e Professor da École dês Hautes Études em Sciencies Sociales, em Paris.
(...) “Em outras palavras, a expansão atual do capitalismo está destruindo o planeta e a
humanidade. Conclusão lógica dessa expansão é ou o genocídio atual dos povos do Sul - como a alta
densidade populacional ou, pelo menos, seu confinamento da crescente pobreza. Uma vertente eco-
fascista de pensamento está sendo desenvolvido que dá legitimidade a esse tipo
de "solução final" para o problema.”
(…) “In other words, the current expansion of capitalism is destroying the planet and humanity. This
expansion‟s logical conclusion is either the actual genocide of the peoples of the South — as “over-
population” — or, at the least, their confinement to ever increasing poverty. An eco-fascist strand of
thought is being developed that gives legitimacy to this type of “final solution” to the problem.”
Samir Amin, Capitalism and the Ecological Footprint, Monthly Review, 2009.
Existe uma abismo entre o discurso e a realidade dos fatos, trata-se da conjunção entre
ciência, Poder e Ideologia. Podemos perguntar, diante dos fatos, os neomalthusianos e sua
„pegada ecológica”, são defensores da “nova economia verde”, são eco-fascistas, ou são os
dois?
Mercado de Carbono (CO2)
Bertha K. Becker: “O que é o protocolo de Kyoto se não o mercado do ar?”
(...) “Observa-se um processo de mercantilização da natureza. Elementos da natureza estão se
transformando em mercadorias fictícias, usando a expressão de Karl Polanyi, em seu livro A grande
transformação. Fictícias por quê? Porque elas não foram produzidas para venda no mercado – o ar, a
água, a biodiversidade. Mas, no entanto, através desta ficção são gerados mercados reais e isto se deu,
como Polanyi mostra muito bem, no início da industrialização, quando terra, dinheiro e trabalho foram
transformados em mercadorias fictícias, gerando mercados reais.
O que é o protocolo de Kyoto se não o mercado do ar? É a tentativa de estabelecer cotas de emissão de
carbono nos países fortemente industrializados e poluidores em troca de manutenção de florestas em
países com elas dotadas. O mercado do ar é o mais avançado. Em outras palavras, esses mercados
61
reais tentam se institucionalizar em fóruns globais, o que também é uma vertente nova dentro do
Direito Internacional.
Não é fantasia o fato de que está em curso na Amazônia a transformação de bens da natureza em
mercadorias.”
Bertha Becker, ESTUDOS AVANÇADOS 19 (53), 2005 p. 77, Conf. IEA-2004.
Para tentar entender o jogo, a palavra é “capturar” à lógica do “mercado de CO2” e da
“Teoria do Aquecimento global”. E sem cair ou escorregar em posições ideológicas extremas.
O consumo global cresce a taxa três vezes maior que a taxa da população mundial. Devido à
sistêmica crise global e conseqüente fraude no “Mercado de CO2” de bilhões de dólares nos
últimos anos, de grande divulgação, o preço estimado da tonelada de carbono por metro
cúbico, no final de 2011, estava entre um a dois dólares, segundo as empresas que atuam e
desenvolvem projetos no Brasil, conforme apresentação de aluno do nosso curso e gerente de
empresa que atual na área, segundo ele, a empresa necessita para se viabilizar,
financeiramente falando, um preço em torno de quatro a cinco dólares por tonelada cúbica.
Por outro lado, estudo da McKinsey, “Resource Revolution report” (Nov. 2011), projeta preço
do carbono por volta de trinta dólares por tonelada cúbica para viabilizar a necessária
produção de alimentos para o mundo nas próximas duas décadas. Veja bem a lógica do
estudo, não é o aumento da produção de alimentos necessária para atender três bilhões de
novos consumidos nas próximas duas décadas o que fará aumentar o preço do carbono no
mercado, mas sim o contrário, segundo McKinsey:
“No geral, vemos uma oportunidade global para criar 2,9 trillion dólares de recursos relacionados
com benefícios em 2030 com base em preços correntes de mercado. Nestas circunstâncias, cerca de
70 por cento das oportunidades que analisamos poderia proporcionar retornos sobre o
investimento de mais de 10 por cento. Além disso, esse total poderia ser maior, talvez 3,7 trillion
dólares, se os subsídios e os impostos sobre água, energia e agricultura foram removidos e as
emissões de carbono custarem US $ 30 por tonelada. Para ajudar a priorizar, nos reunimos
oportunidades em 15 grupos. Cinco das principais áreas são exploradas aqui.”
Setting priorities for resource productivity, McKinsey Global Institute, Nov. 2011.
“No século XX, os recursos naturais, tornaram-se, progressivamente mais barato, sustentando o
crescimento econômico global. Mas o século 21 poderá ser diferente. De fato, nos últimos dez anos, o
rápido desenvolvimento econômico nos mercados emergentes tem dizimado todos os declínios do
século anterior nos preços das commodities real. E nas próximas duas décadas, até três bilhões de
pessoas (e seu poder de compra) serão adicionados à classe média global. O mundo está entrando na
era da alta sustentada dos preços dos recursos, levando ao aumento do risco econômico, social
e geopolítico?”
Mobilizing for a resource revolution, McKinsey Quarterly, Jan. 2012
A estrutura do jogo, a criação de mercados fictícios (como o mercado de água), a
especulação desenfreada, ou modelo “Master of the Universe”. A linha de referência e a
fronteira dos negócios, “business as usual”, como bem nos lembra Benkler, a velha posição
62
entre Hobbes e Rousseau, “Wall Street game” ou “Community game” (Cooperação natural).
Benoît Mandelbrot, o matemático que detectou essa anomalia brutal dos mercados
financeiros, nos anos 60, com estudos sobre commodities do algodão, falou sobre a realidade
financeira, “um acaso selvagem”.
Mesmo o gênio da física, Isaac Newton, que escrevia em Latim, sucumbiu à
picaretagem:
“Isaac Newton disse ao vender suas ações da Soulth Sea Company, com um belo lucro em abril de
1720, antes que a bolha estourasse: “Sei calcular os movimentos dos corpos celestes, mas não a
insensatez das pessoas”. No entanto, poucos meses depois, tornou a entrar no mercado, na alta, e
perdeu 20 mil libras esterlinas.” (WHEEN, p. 50, 2007.)
6. Conclusão:
“na verdade, esse nosso país ainda pode dar esperança de si,..., Mas é simplesmente porque
arromba toda concepção que se faça dele”, de Mário de Andrade, Crônica de 1929.
Taxi e Crônicas do Diário Nacional, Telê Ancona Lopes, org. (1976).
Tupi, or not tupi that is the question”,
Oswald de Andrade, Manifesto Antropófago, 1928.
(...) “O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge
ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O
minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.”
Oswald de Andrade, Manifesto Pau-Brasil, 1924.
Depois de Machado de Assis, o criador de nossa literatura, a memória modernista,
desde anos 20, com a antropofagia oswaldiano, “devorar a cultura européia e abrasileirá-
63
la”, com o espírito macunaímico, nosso herói que nasceu de partenogênese, como Cristo, e
que não tem nada de bobo, pois é preguiçoso para trabalhar, mas não prá namorar. Só mesmo
um aforismo oswaldiano, para deixar Wagner corado com o carnaval carioca.
A imaginação criatividade do brasileiro, dos Andrades, Jackson do Pandeiro e tantos
outros brasileiros, como a utopia de mestre Darcy Ribeiro, “somos a nova civilização, a nova
Roma”. Se ainda não é possível misturar Miami com Copacabana, fiquemos com as parábolas
roseana e oswaldiana, “a terceira margem do rio”, “o oposto do operário não é o burguês, é
o boêmio: “Tupi or not tupi, that is the question”.
Um dos nossos maiores indigenista, Orlando Villas-Bôas, explica a estrutura e forma
de vida numa adeia, numa frase, “numa aldeia, o adulto cuida da aldeia, o velho cuida da
história da aldeia e o jovem cuida do mundo”. Sem exageros, tenho a impressão, forte
impressão, que a maturidade dos debates que temos no mundo e no Brasil, em torno do
„Aquecimento Global‟, „Economia Verde‟, „Desenvolvimento Sustentável‟ e „Mercado de
Carbono‟, podem ser classificados como o final da frase de Orlando Villas-Bôas: debates
entre jovens adolescentes, ou seria picaretagem global?
O discurso politicamente correto de “boa política” e “boa governança” é conversa fiada,
falácia, o famoso e literal, “faça o que digo, mas não faça o que eu fiz ou faço”. Na “Teia da
Vida”, não existe desenvolvimento sustentável sem distribuição de riquezas, diminuição de
desigualdades, eliminação da pobreza e cooperação mútua.
“Entre os pensamentos de Hegel, está o ensinamento de que a palavra amor quando
dita por um jovem não tem o mesmo valor e conteúdo do que quando formulada por um
homem entrando na derradeira fase da vida.”
Gostaria de trazer, nessas conclusões, reflexões e pensamentos de figuras humanas
proeminentes, citados no texto, que dispensam maiores apresentação, “pensar é uma
atividade coletiva” (Eduardo Viveiros de Castro, Antropólogo), pois “é junto dos bão que o
cê fica mió” (Guimarães Rosa); Raymundo Faoro, um intelectual orgânico e outsider, Milton
Santos, um intelectual orgânico e que se definia como um “outsider”, José Luis Fiori, um
pensador brasileiro de geopolítica, entre os principais do globo, o Prof. Celso Furtado, um
mestre e demiurgo do Brasil e o Prof. Ignacy Sachs, um apaixonado pelo Brasil.
Raymundo Faoro:
(...) “Uma nação pode aprender com as outras e, depois que descobrir a pista da lei natural do seu
desenvolvimento, não pode saltar etapas por decreto, embora esteja no seu poder minorar e abreviar as
leis do parto acrescentava o esquecido prefácio. O desenvolvimento começa com a descoberta
desta pista da lei do desenvolvimento. Antes que ela se revele, como uma iluminação valorativa, a
sociedade atrasada dorme, sem as tensões que aí começam. Se o desenvolvimento é mera extensão de
64
uma fonte desenvolvida, como nas colônias gregas e, possivelmente, nos Estados Unidos com relação à
Inglaterra, não se pode falar em modernização.” (p. 1).
(...) “O exemplo hegeliano para o desenvolvimento é a planta: a planta não se desenvolve por uma
força externa, mas a partir de seu germe, que a contém de modo ideal (neste passo tem sentido o que se
diz no prefácio da edição de O capital de 1867: a pista da lei natural do desenvolvimento a planta,
para se desenvolver, se tivesse consciência, perceberia que se desenvolveria de acordo com o germe,
jamais contra ele). O conceito e o exemplo mostram que não é a força externa, uma direção superior,
um enxerto, o que desenvolve a planta, que, com o crescimento, apenas muda de forma. Para transpor
a ideia hegeliana à nossa hipótese, deve-se dizer que a modernização não vai além da modernidade:
além da modernidade só existem os espectros e as ruínas do dies irae. Fora daí só existem convulsões,
espasmos e quedas. O desenvolvimento é uma realização (é a palavra usada na tradução Bourgeois da
Enciclopédia: Paris, 1970, 84). A progressão, que a modernização é capaz de fazer, é uma passagem
de um para outro, enquanto o desenvolvimento é o aparecimento de algo adequado ou que o ser
comporta, que estava na essência do ser. O conceito de desenvolvimento aproxima-se do conceito de
energia a exterioridade da energia (André Leonard. Commentaire littéred de la logique de
Hegel. Paris, 1974, pp. 242 e 244). (E verdade que, em outro momento, Hegel usa a palavra Fortschritt
para o que seria desenvolvimento: “ a história universal é o progresso (Fortschritt) da consciência da
liberdade.)” ( Uma outra terminologia para a mesma ideia: processo por necessidade interior seria o
desenvolvimento e processo por necessidade exterior corresponderia à progressão: Jacques
D'Hondt. Hegel. Filósofo de la historia viviente. B. Aires, 1971: “Um fim exterior não se apresenta
senão como um acidente que interrompe ou perturba a realização ativa da finalidade interna, como um
acontecimento que não obedece à necessidade interior ao ser ao qual afeta”. p. 238). O processo por
necessidade externa, a progressão, impulsionado por uma vontade tecnocrática não é mais do que um
fim subjetivo de um grupo de pessoas, incapaz, por não se irradiar como força interna, de se
incorporar à história. Por isso, em certos casos, as modernizações, depois que chegam ao fim, que é
quando a elite, como a encarna Simão Bacamarte, muda de objetivos, parecem nunca ter existido. Elas
se circunscrevem ao tempo circular, com uma memória condicionada ao tempo precário, que duram
enquanto outra onda se sobrepõe à atual, desfazendo-se ambas. A história que daí resulta será uma
crônica de déspotas, de governos, de elites, de castas, de estamentos, nunca a história que realiza,
aperfeiçoa e desenvolve. A história, assim fossilizada, é um cemitério de projetos, de ilusões e de
espectros.” (p. 8).
Raymundo Faoro, IEA-USP ( Jan. /Abril 1992).
Milton Santos:
(...) “Porque o Brasil jamais teve cidadãos. Nós, a classe média, não queremos direito, queremos
privilégios, e os pobres, não têm direitos. Não há pois, cidadania neste país, nunca houve.” (SANTOS).
José Luis Fiori:
(...) “Não é casual o fato de que a intelectualidade brasileira esteja há 150 anos se debatendo, sem
sucesso, na tentativa de formular um conceito e um projeto de nação que pudesse dar conta dessa
aparente “desconjunção” brasileira, enquanto o “país real” dos donos do poder e da riqueza
expandia-se, de forma cíclica mas continuada, através das portas abertas pelo liberalismo
internacionalizante e de costas para o povo. Na verdade, este “país real” nunca precisou da ideia de
nação e sua vontade política dirigente nunca apontou efetivamente para a “construção de um sistema
de decisões e produção capaz de definir e hierarquizar por si mesmo objetivos coletivos ou nacionais.”
(FIORI, p. 54, 2000).
Celso Furtado:
“O ponto de partida de qualquer novo projeto alternativo de nação terá que ser, inevitavelmente, o
aumento da participação e do poder do povo nos centros de decisão do país”. (FURTADO, 1999.)
Ignacy Sachs:
“O Brasil possui condições objetivas para entrar no caminho de um desenvolvimento socialmente
incluso e ambientalmente sustentável, assim como desempenhar um papel político de liderança entre as
65
terras de boa esperança. Entretanto, será o processo político que decidirá que o Brasil irá aproveitar
esta oportunidade e eu não tenho como prever esse resultado” (SACHS, N˚1, IPEA, 2009).
UMA IDEIA, UMA PROPOSTA E UMA APOSTA:
“Aquele que tem ciência e arte, tem também religião”, GOETHE.
Tudo que o homem produz pode ser copiado, exceto a produção artística, porque é feita do espírito. O
espírito não segue regra nenhuma, porque ele muda todo instante”, HEGEL.
“A imaginação é mais importante que a ciência, porque a ciência é limitada, ao passo que a
imaginação abrange o mundo inteiro.”, EINSTEIN.
A ideia: Tenho como linha de referência o pensamento do poeta Antonio Machado,
“Uma idéia não tem mais valor que uma metáfora; em geral tem menos”.
A proposta: Uma proposta prospectiva e criativa, na linha do pensamento do
professor Milton Santos, “A clarividência é uma virtude que se adquire pela intuição, mas
sobretudo pelos estudos, tentar ver a partir do presente, o que se projeta no futuro.”
A aposta: Como nos ensina Hegel, “nada de grande se realizou no mundo sem
paixão”, temos na riqueza de nossa história, nas artes, na música e na literatura, diversas
apostas, como Pascal e Dostoievski. Pascal apostou que Deus existe, acreditou que tinha tudo
a ganhar e nada a perder. Dostoievski e a criação de um personagem complexo da literatura,
que aparenta fugir ao controle do criador em “Crime e Castigo”, o personagem Raskolnikv,
apostou que se Deus não existe, então tudo era possível. A minha aposta vem sendo
construída nessa somatória de experiências ao longo de nossa memória e história coletiva
(Historiografia): humana, prosaica, poética, literária e espírito científico, “somos feito de
histórias e não de átomos” (Muriel Rukeyser), com elos nas ostras e nos deuses
desconhecidos do futuro, descritos e pinçados no pensamento de Rubem Alves, Edgar Morin
e Ilya Prigogine, respectivamente: “Ostra feliz não faz pérola”, “Fé na incerteza”, “o futuro é
incerto,..., mas a incerteza está no coração da criatividade humana”.
“Entre o passado e o futuro” (Hannah Arendt), “o passado nunca está morto, ele
nem mesmo é passado” (Faulkner), nessas palavras finais, nessa “Geopolitics of Emotions”,
em que a imaginação supera a „nova racionalidade‟, alguns poderão dizer, isso é ciência ou
panfletagem?
Pode ser, ou não, ou os dois, não é uma simplificação da „arte pela arte‟, pergunto: O
que é ciência hoje? Qual a relação entre Ciência e Poder? Quando a relação entre Ciência e o
Poder ultrapassam os limites da nova racionalidade e entra no campo da ideologia, do
“neomito”?
Relembremos alguns pensamentos e questionamentos sobre a ciência, na sua maioria,
por Rubem Alves, Filosofia da Ciência, 1981:
66
Gunnar Myrdal :
“A ciência nada mais é que o senso comum refinado e disciplinado.”,
Kleist:
“Mas o início e o fim de toda ciência não estão envoltos em obscuridade?”,
Carta de Freud a Einstein, 1932:
“Não será verdade que cada ciência, no fim, se reduz a um certo tipo de mitologia?”,
Émile Durkheim:
“(...) as categorias mais fundamentais do pensamento e, conseqüentemente, da
ciência, têm sua origem na religião.”,
Rousseau (Emílio): “Nosso verdadeiro estudo é o da condição humana”,
Kant:
“O que os objetos são, em si mesmos, fora da maneira como a nossa sensibilidade os
recebe, permanece totalmente desconhecido para nós. Não conhecemos coisa alguma a não
ser o nosso modo de perceber tais objetos – um modo que nos é peculiar e não
necessariamente compartilhado por todos os seres...”,
Miguel de Unamuno:
“As variações da ciência dependem das variações das necessidades humanas, e os
homens de ciência costumam trabalhar, quer queiram, quer não, consciente ou
inconscientemente, a serviço dos poderosos ou do povo, que lhes pedem confirmação de suas
aspirações.”
Thomas S. Kuhn:
“Nenhum processo já revelado pelo estudo da história do desenvolvimento científico
se parece, nem de longe, com o estereótipo da falsificação pela comparação direta com a
natureza”, Bertold Brecht:
“Eu sustento que a única finalidade da ciência está em aliviar a miséria da existência
humana”,
Rubem Alves:
(...) “A ciência é um fato social, como muitos outros, tais como religião, família,
exércitos, partidos políticos: instituições que se organizaram em torno de certos problemas e
estabeleceram regras para o seu funcionamento”. (...) “Imagine as várias divisões da ciência
– física, química, biologia, psicologia, sociologia – como técnicas especializadas. No início
pensava-se que tais especializações produziriam, miraculosamente, uma sinfonia. Isto não
ocorreu. O que ocorre, freqüentemente, é que cada músico é surdo para o que os outros estão
tocando. Físicos não entendem os sociólogos, que não sabem traduzir as afirmações dos
biólogos, que por sua vez não compreendem a linguagem da economia, e assim por diante.” (...) “Antes de mais nada é necessário acabar com o mito de que o cientista é uma
pessoa que pensa melhor do que as outras.,”
(...) “O conhecimento está a serviço da necessidade de viver... E essa necessidade
criou no homem os órgãos do conhecimento... O homem vê, ouve, apalpa, saboreia e cheira
aquilo que precisa ver, ouvir, apalpar, saborear ou cheirar ... Os parasitas que, nas
entranhas dos outros animais, vivem dos sucos nutritivos por estes preparados, como não
67
precisam de ouvir ou ver, não ouvem nem vêem ... Para estes parasitas não deve existir nem o
mundo visual nem o mundo sonoro.”,
(...) “Preconceito e resistência parecem ser mais a regra do que a exceção no
desenvolvimento científico avançado.”
Alvin Gouldner:
(...) “é necessário “abandonar o pressuposto muito humano, mas elitista, de que os
outros crêem movidos por interesses, enquanto que eles (cientistas) crêem em obediência aos
ditames da lógica e da razão”,
L. L. Whyte:
“O místico crê num Deus desconhecido. O pensador e o cientista crêem numa ordem
desconhecida. É difícil dizer qual deles sobrepuja o outro em sua devoção não racional.”
Claro, é preciso dizer que, entre as diversas maneiras de se chegar a novos
conhecimentos, a ciência continua sendo a melhor maneira que temos para saber e entender as
coisas, se praticada de forma que entenda suas limitações, não mais a ciência das certezas,
mas a ciência das possibilidades. O “pensar é uma atividade coletiva”.
Vem à memória a pergunta de quem foi, na minha adolescência, a primeira inspiração
(e uma confissão, imitando Luis F. Veríssimo: meu primeiro voto, anos 70), o Ex-Presidente
FHC, em artigo de 2010, indaga: Para onde vai o Brasil?
Mestre Darcy Ribeiro, dizia que levou mais de trinta anos para publicar sua paixão
declarada, “O POVO BRASILEIRO” (1995), que começou borbulhando em sua mente, e no
Uruguai, abril de 1964, a pergunta: Por que o Brasil ainda não deu certo?
Darcy Ribeiro foi à voz de gerações, que encenou a derradeira passagem por essas
bandas, do “gênio da raça”, Glauber Rocha, na qual pincei as palavras finais dele, com a voz
embargada e com a mão na “urna”, (...) “ver o mundo que podia ser, que vai ser Glauber, que
há de ser”.
Não é simples ter a percepção da história e do momento em que vivemos, no tempo
presente, a oportunidade bate a porta novamente, talvez como nunca antes em nossa história,
seja no cenário nacional, latino e global.
Mestre Celso Furtado, que nos anos pós-segunda guerra, teve a percepção em seu
tempo, das mudanças conjunturais e estruturais que estavam ocorrendo no mundo, dos
rearranjos de forças globais, hoje olhando a história, podemos dizer, foi “um bonde chamado
desejo”, semelhante oportunidade perdemos no início do século XX.
Assistimos aos sinais de desmanche da catedral do poder global dos últimos séculos,
“Tectonic shift” (Dominique Moïsi), “The Global Power Shift” (Paddy Ashdow), são cenários
e possibilidades que estão ocorrendo, mudanças dessa magnitude são raríssimas na história da
68
humanidade. Se a extensão será desde a revolução industrial, quanto o poder mudou do
oriente para o ocidente, há 200 anos, ou se desde a “Paz de Vestfália”, 1648, (360 anos), ou se
quando o Ocidente (Europa) começou a sua expansão no mundo, a conquista de territórios há
500 anos (século XVI), América, África, Índia e Oriente; só o tempo dirá, não o tempo breve
(tempo humano), o tempo político (tempo curto) e o tempo de longa duração, conjuntural,
estrutural.
Anísio Teixeira escreveu sobre o livro de Darcy (nota de orelha do livro):
“embora um texto introdutório, uma iniciação, não é reprodução de saber convencional, mas visão
geral, ousada e de longa perspectiva e alcance. Darcy Ribeiro é realmente uma inteligência-fonte e em
livros desse tipo é que se sente à vontade. Considero Darcy a inteligência do Terceiro Mundo mais
autônoma de que tenho conhecimento. Nunca lhe senti nada da clássica subordinação mental do
subdesenvolvido [...].”. (RIBEIRO, 1995).
Darcy, ele próprio explicar:
“Há mais de trinta anos eu o escrevo e reescrevo, incansável, ..., Pedia mais de mim, me prometia revê-
lo, refazê-lo, até que alcançasse aquela forma que devia ter. Qual?” (RIBEIRO, 1995).
Como diz Mestre Darcy, “uma ideia não acaba nunca”. Depois de entrar o ano novo,
dedicar algumas semanas fazendo esse trabalho, e resgatar anotações de longa data, somente
agora vem à consciência que tenho outra confissão a fazer para mim mesmo, pois falhei no
primeiro propósito, na primeira solicitação, escrever um texto com no máximo 20 laudas.
Talvez esteja querendo, inconscientemente, seguir os passos de mestre Darcy. As primeiras
impressões são que não estou escrevendo um artigo somente para conclusão do curso e
disciplina, a introdução vai nessa linha ao citar Umberto Eco, que não saberia dizer se é uma
tese, ou até mesmo a ambição de elaborar um futuro livro. Mas não posso seguir os passos do
Professor Darcy, e principalmente, não tenho o mesmo tempo, estou mais para Paulinho da
Viola, “Meu tempo é hoje, eu não vivo no passado, o passado vive em mim”. Creio que possa
estar pecando pelo excesso em meus objetivos diante da oportunidade, diante de “um mar de
conhecimento com um dedo de profundidade”. Ainda é um arrazoado de idéias, hipóteses,
mas que tem um prazo final para entrega, o que cumprirei, mas não posso pensar na hipótese
de um final para meus propósitos aqui, esse não é um ponto de chegada, mas sim de partida,
para mim é apenas o fim do começo, existe um novo mundo lá fora para ser visto e
compreendido com novos olhares, novas buscas e descobertas. Esse é a minha ideia, minha
proposta e minha aposta.
“Prá que serve a utopia? A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos ela se afasta dois
passos,..., por mais que eu caminhe jamais alcançarei. Prá que serve a utopia? Serve para isso: para
que eu não deixe de caminhar” (Fernando Birri).
69
Esse é o meu caminho de investigação, “My Way”. Gostaria de saber, eu desejo buscar
pela intuição e pelos estudos, se não há verdade em si, o “momento da verdade”, o salto
qualitativo do pensamento, da ideia à hipótese, à tese, à teoria/“paradigma” (qual?), de uma
possível solução, para entender e compreender a “Nova Era Vargas” e a utopia para além da
“Nova Era Vargas”.
Confesso não estar totalmente convencido, porem gostaria de acreditar que tem algum
fundo de verdade no que venho pensando e escrevendo, mas à medida que diminui algumas
dúvidas, acrescentam-se outras. Nesse “Admirável Mundo Novo”, devo admitir o grau de
incerteza na busca de solução, mas ao contrário do que se pensava, sabemos hoje, temos
muitas evidências, somos muito mais propensos ao jogo cooperativo (Community game), do
que “Wall Street game” (Unselfish Gene, Yochai Benkler).
“Somos o que fazemos, mas somos especialmente, o que fazemos para mudar o que somos”
(GALEANO, Eduardo).
As perguntas que esperneiam na mente nesses anos, tal qual nas memórias do bruxo
do Cosme Velho (Um mestre na periferia do capitalismo, Roberto Schwarz), Machado de
Assis e o „X‟ do problema, “decifra-me ou devoro-te”, do enigma ao salto, a busca do
conhecimento da “Nova Era Vargas” e a utopia para além da “Nova Era Vargas”:
Brasil, a primeira sociedade afluente dos trópicos na nova economia verde?
“Para onde vai São Paulo” e “Para onde vai o Brasil” na “Nova Era Vargas”?
Dobrar a aposta de JK: Brasil, desenvolver um século numa geração?
O Brasil descobriu „a pista da lei natural do seu desenvolvimento‟?
Qual é a estratégia, a geopolítica para „as Amazônias‟ no novo contexto nacional e global?
“Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar o seu valor”?
Chegou a hora do “POVO BRASILEIRO”, conquistar a cidadania? (do grego: cidadania e
política é a mesma coisa).
Estamos construíndo um novo paradigma? (Diz o dito popular, derivada de um pensamento
de Joaquim Nabuco: “O povo é melhor que suas elites”),
Está nascendo, das bases, uma nova elite com ideia de nação?
Ou, o pior, a morte do futuro: Brasil, mais um século perdido? (o verbo morrer e esquecer é o
mesmo em grego).
Brasil, a sociedade afluente dos trópicos na nova economia verde?
70
Para finalizar, gostaria de fazer uma reflexão sobre as perguntas acima.
A aposta global na construção do futuro, a criação da nova economia verde, na
“civilização da biomassa”.
As apostas, os caminhos trilhados pelo Brasil e pelo mundo (ocidental) em fontes e
usos finais de energias no período pós segunda guerra. Em três fases, primeiramente o período
pós 45 até anos 60, um segundo momento, os anos 70, a crise do petróleo e a aposta do Brasil
no Programa Pró-álcool em substituição aos combustíveis fósseis, finalizando no tempo
presente, o século XXI e a aposta global na construção do futuro, de uma nova economia
verde. Uma idéia, uma proposta e uma aposta.
Façamos algumas reflexões em retrospectiva, as civilizações e suas apostas ao longo
da história, da memória coletiva humana, por exemplo:
Colombo e a aposta no escuro em seu tempo. Apostou procurando um novo caminho
para as Índias, contrariando o bom senso da época, navegou ele para o oeste para chegar aos
mares das Índias, em busca de especiarias, mas,
“No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.” Carlos Drummond de Andrade “No Meio do Caminho”,
Revista de antropofagia, 1928.
Colombo descobriu essas terras, porém foi Américo Vespúcio quem a inventou,
colocando nelas, seu nome e sentido, a „América‟ e o „novo mundo‟.
Pascal apostou que Deus existe, acreditou que tinha tudo a ganhar e nada a perder.
Dostoievski e a criação de um personagem complexo da literatura universal, que
aparenta fugir ao controle do criador em “Crime e Castigo”, o personagem Raskólnikov
apostou que, se Deus não existe, então tudo era possível.
Machado de Assis, o mestre da periferia em “Memórias póstumas de Brás Cuba”, o
enigma e o „X‟ do problema, “a pirâmide e o trapézio”, “decifra-me ou devoro-te”.
O Brasil e o mundo, as diferenças de apostas, no período pós 45 até anos 60, a aposta
do mundo continuou sendo a do fim do século XIX e início do século XX, combustíveis
fósseis, o preço do barril de petróleo era de centavos de dólares na época, mas a opção do
Brasil não seguiu totalmente a estratégia global, apesar dos preços baixos do barril do
71
petróleo, creio que dentre os motivos, figura que não tínhamos petróleo, a Petrobrás era
embrionária, e a dependência de energia externa era questão de segurança energética nacional,
diante do quadro, a aposta do Brasil, o caminho trilhado foi na exploração do potencial da
energia hidroelétrica para suprir a necessidade de eletricidade industrial, comercial e
residencial, decisão na contramão do mundo, mas solução certeira para o país, pois éramos (e
ainda somos) um país de grande potencial hidroelétrico, o nosso caminho foi a construção de
usinas hidroelétricas, o desenvolvimento e fortalecimento da engenharia e do corpo técnico
nacional.
Nos anos 70, frente à crise mundial dos preços do petróleo, a aposta no escuro feita
pelo Brasil nos anos 70, o Pró-Álcool. Há décadas fomos os pioneiros, se não os
descobridores, fomos os desbravadores, o primeiro „laboratório global‟ em escala, para o
desenvolvimento de energia alternativa, renovável e sustentável, aposta inquestionável anti a
cri$e dos fósseis, demonstrando na prática a viabilidade da alternativa ao mundo, mas a
história que esta sendo escrita, pela lógica do sistema econômico hegemônico, é como dantes
no quartel de Abrantes: Colombo descobriu essas terras, Américo Vespúcio a inventou.
Uma decisão de Estado que colocaria à altura do Brasil nos anos 70, um novo capítulo
da nossa civilização esta sendo escrito, e sua história esta apenas começando. Considero a
decisão do Estado Alemão em 2011, de voltar atrás em sua decisão, que foi, “continuar com o
programa de usinas de energia nuclear (2010), porém após o acidente de Fukushima (2011),
num piscar de olhos, a decisão ficou de ponta cabeça, o Estado alemão decidiu baniu a
energia nuclear num futuro próximo. Essa foi à primeira decisão de Estado na modernidade,
se a aposta no escuro do Estado Alemão será frutífera para outras nações, só o tempo futuro
dirá, oxalá a sociedade compartilhe esse caminho.
Passados meio século, descobrimos também que somos ricos em „ouro negro‟, o Pré-
Sal, como se diz, a “Amazônia azul”, graças à capacitação e competências técnicas da
Petrobrás. É bom que se diga a nação, em alto e bom tom, essa nobre história, poucos vezes
contada, é a segunda vez nas últimas três décadas que o mundo tecnológico das empresas de
petróleo correm atrás do “know how” tecnológico da Petrobrás em águas profundas. A
primeira foi com o desenvolvimento de tecnologia pela Petrobrás no final dos anos 70 e início
dos anos 80, instalando plataformas de 500 a 600 metros de coluna d‟água, ante o limite de
100 até 150 metros no período. Agora com o Pré-Sal, chega-se a profundidade acima de sete
mil (7.000) metros, entre colunas d‟água e perfuração abaixo da coluna d‟água.
Pois não é que, queriam nos fazer crer, boa parte da elite global, apoiados como
sempre, quase em uníssono pela elite tupiniquim, entre os maduros e os verdes, que
72
estávamos na contramão do mundo, esse é um filme que já vimos por diversas vezes, vem de
longe, desde o tempo da elite brasileira do império, que comprou a nossa independência, diga-
se, um caso „sui generis‟ na história de um país com as nossas dimensões. “É um dos raros
países do mundo que pagou a Independência!” (Luiz Felipe de Alencastro, O Observador do
Brasil no Atlântico Sul, Revista FAPESP, Outubro, 2011, edição 188).
Nesta fase atual, no início de século XXI, o Brasil precisa descobrir que, além da
Amazônia „verde‟, Amazônia „azul‟, temos também, é sempre bom lembrar, a dívida da
Amazônia social, que eu chamei de Amazônia “vermelha”, vermelha de vergonha, das
favelas, da pobreza, do “pretobras” e da elite com pouca vergonha.
Estamos em céu de brigadeiro, aparentemente, outra vez como protagonistas em
primeiro plano, as apostas em energia alternativa, renováveis e sustentáveis, o que no início
provocou certo riso ao mundo, tornou-se modelo para o mundo, despertou a aposta na
construção de futuro melhor, a “nova economia verde”; no agronegócio já somos o segundo
produtor mundial com perspectiva de assumir o topo nesta década, e a descoberta e inovação
tecnológica da Petrobrás, que projeta dobrar a produção de óleo em 5 anos (2011-15, o que
levou 57 anos para a Petrobrás realizar (1953-2010), fará em cinco a duplicação da produção
e triplicará em mais cinco anos (2016-20). A projeção para o pico de produção das reservas
provadas até o momento é estimada para a década de 2030-40.
Mestre Celso Furtado, que nos anos pós-segunda guerra, teve a percepção em seu
tempo, das mudanças conjunturais e estruturais que estavam ocorrendo no mundo, dos
rearranjos de forças globais, hoje olhando o passado, dizemos, foi “um bonde chamado
desejo”, semelhante oportunidade perdemos no início do século XX.
A minha pergunta no título acima não é nova, a não ser uma palavra, ela foi formulada
nos anos cinqüenta pelo canadense americano, John Kenneth Galbraith, no clássico livro,
“The Affluent Society” (1958), sobre a sociedade Americana do pós guerra, eu só acrescentei
a palavra “trópicos” para adaptar a nossa realidade. Galbraith no fim de sua vida, reformulou
alguns de seus pensamentos, mas dizia ele, (...) “aprendi que para estar certo e ser útil, deve-
se aceitar uma contínua divergência entre a crença da sociedade, que eu tenho chamado de
conhecimento convencional e a realidade dos fatos. E no final, sem surpresa, é a realidade
que conta”.
Como a aposta do Professor Ignacy Sachs* sobre o futuro,
(...) “Provavelmente, historiadores futuros deixarão de lado a dicotomia entre „antes e depois de
Cristo‟ e falarão da época do antropoceno, salientando que o reconhecimento tardio de nossa
entrada do antropoceno foi precedido de uma forte aceleração da história imediata durante o breve
século XX”,..., (...) “Os geonautas nunca devem perder de vista a absoluta necessidade de enfrentar
simultaneamente as questões de sustentabilidade ambiental e de justiça social” (...) “Por outro lado,
73
a busca da justiça não nos eve levar a comportamentos destrutivos do meio ambiente a ponto de
provocar mudanças climáticas deletérias, pondo em risco a própria sobrevivência a termo de nossa
espécie.” (...) “Para avançar na direção de um desenvolvimento socialmente includente e
ambientalmente sustentável, vamos precisar de paradigmas energéticos baseados em três princípios:
sobriedade, eficiência e substituição das energias fósseis, responsáveis pela emissãode efeito estufa,
por energias renováveis.”
CartaCapital, CartaVerde, edição N˚ 7, 28/09/2011.
(*) Economista e Professor da École dês Hautes Études em Sciencies Sociales, em Paris.
A ideia, como linha de referência o pensamento do poeta Antonio Machado, “Uma
idéia não tem mais valor que uma metáfora; em geral tem menos”.
A minha proposta é que o Brasil assuma de fato sua vida prosaica e poética nesse
mundo em „grande transformação‟, e creio, devemos assumir como fato e não mais como uma
pergunta, somos há décadas pioneiros, os desbravadores em larga escala da energia
alternativa, renovável e sustentável, não se trata mais de dizer que o Brasil poder ser uma
“potencial ambiental”, como se ouve vozes no governo e em setores da sociedade. O Brasil é
uma potência ambiental, fato. O que queremos? Que o valor da aposta no escuro do Brasil em
energias alternativas seja esquecida no tempo como foi à aposta de Colombo ao descobrir
essas Terras? Para séculos depois, ser reavaliada sua importância pelos historiadores? A
questão é política, estúpido!
Voltemos a Ignacy Sachs, um cidadão global e por opção, brasileiro de coração:
“O Brasil possui condições objetivas para entrar no caminho de um desenvolvimento socialmente
incluso e ambientalmente sustentável, assim como desempenhar um papel político de liderança entre
as terras de boa esperança. Entretanto, será o processo político que decidirá que o Brasil irá
aproveitar esta oportunidade e eu não tenho como prever esse resultado” (SACHS, Ignacy. N˚1,
IPEA, 2009).
O pano de fundo do debate atual, na verdade, sem exagerar no “conceito de ironia”, é
o velho e secular debate entre Rousseau e Hobbes, são modelos antigos de mundo que
trazemos ao longo da caminhada, modelos enraizados com suas filosofias e ideologias,
simbolizados entre nós nos modelos “Wall Street Game” e o modelo Jogo comunitário
(“Communty game”), mas que tomou proporções extremas nas últimas décadas neoliberais,
onde tudo no mundo e na vida social e pessoal é resumido ao modelo “Wall Street Game”.
Nesse “Admirável Mundo Novo”, devemos admitir o grau de incerteza na busca de solução,
mas bem ao contrário do que se pensava, sabemos hoje, temos muitas evidências, somos
muito mais propensos ao jogo cooperativo (Community game), “pró-social”, do que “Wall
Street game” (Unselfish Gene, Yochai Benkler).
Transcrição e tradução da fala de Benkler :
74
“Se você deseja, como eu, construir uma sociedade em que os indivíduos cooperem generosamente e
sem egoísta para o bem comum, você pode esperar uma pequena ajuda da natureza biológica. Vamos
tentar ensinar generosidade e altruísmo, porque nós nascemos egoístas”. (Richard Dawkins. The
Selfish Gene, 1976).
(...) “Vivemos em um mundo construído por uma motivação humana em torno de modelos enganosos,
incorretos. Temos quatro décadas de refinamento requintado de sistemas a partir de nossos locais de
trabalho, para um sistema bancário, para as nossas estruturas de rede, que são todos construídos em
torno desse núcleo e fundamental erro, ...., o erro básico não é que às vezes temos interesses-próprio,
isso é correto, o erro básico é a ideia de que podemos corretamente modelar e construir nossos
sistemas assumindo que faremos isso muito bem, e desenhando nossos sistemas se for construído de
acordo com um modelo que assume que parte de nossa racionalidade é interesse-próprio, que
estaremos nos aproximamos de quem somos, ao dizer que somos „mais ou menos uniforme‟ e „ mais ou
menos auto-interessado‟, nós não estaremos indo muito errado,....”
Yochai Benkler sintetiza de um lado Thomas Hobbes e Adam Smith, e por outro lado,
Rousseau e David Hume, criando a imagem, em seu livro da figura do software livre (open
source), contrapondo-a imagem hobbesiana: The Penguin and the Leviathan: How
Cooperation Triumph over Self-Interest (the science and practice of human cooperation)
A Rio+20 é uma oportunidade como poucas, como a oportunidade única que os
brasileiros têm hoje de ver o painel “Paz e Terra” do nosso pintor Cândido Portinari, é hora e
oportunidade também para colocarmos pingos nos “is”, dizer a nação e consequentemente, a
sociedade global, como vemos e deseja construir a “nova economia verde”, o que pensamos, o
que queremos e o que podemos. Não é dizer o que eles querem ouvir, é comunicar a nossa
posição como nação, comunicar o caminho da nação. Precisamos encontrar respostas as
perguntas formuladas em nossa história, como a que mestre Darcy Ribeiro formulou à quase
meio século, “Por que o Brasil ainda não deu certo?” e formular outras, como as reflexões
recente de FHC, Marcio Porchmann e Wanderley Guilherme dos Santos, que sintetizo na
pergunta: “Para onde vai São Paulo” e “Para onde vai o Brasil” na “Nova Era Vargas”?
É hora de fazer um balanço de nossa história e das últimas décadas da globalização
majoritariamente hobbesiana, “Wall Street game”. É hora de uma postura proativa para o jogo
“pró-social” (jogo comunitário) da sociedade brasileira para com a sociedade global do futuro,
que começa hoje. Olhando em retrospectiva nossa história, se esse não for “um momentum”
importante em nossa história, qual será? O que será, será. Quem viver verá! “Alea jacta est”.
Mercado de Carbono (CO2): “neomito” e “Bad Samaritans” ........... Error! Bookmark not defined.
“Normalmente os cientistas não têm por objetivo inventar novas teorias e são,
75
freqüentemente, intolerantes para com aquelas inventadas por outros. Ao
contrário, a pesquisa científica normal tem por objetivo a articulação daqueles
fenômenos e teorias que o paradigma proporciona. A ciência normal não
busca novidades de fato ou de teoria e, quando bem sucedida, não encontra
nenhuma” (Idem, p. 86, 114). Kuhn
Rubem Alves – Filosofia da Ciência
158
“deixados a si mesmos, não podem e não falsificarão aquela teoria filosófica
em questão, pois os seus defensores farão aquilo que nós já vimos os cientistas
fazer quando confrontados com anomalias. Eles inventarão inúmeras
articulações e modificações „ad hoc‟ de sua teoria a fim de eliminar qualquer
conflito aparente” (Idem, p. 140). Kuhn Rubem Alves – Filosofia da Ciência
159
Aí os paradigmas viram paradogmas...
Assim, temos de acabar com o mito do “cientista como o investigador sem
preconceitos em busca da verdade; o explorador da natureza – o homem que
rejeita idéias preconcebidas quando entra no laboratório, que coleciona e
examina fatos crus, objetivos e que é fiel a tais fatos e só a eles” (Thomas S.
Kuhn “Função do dogma na investigação científica” In: Jorge Dias de Deus
(org.) A Crítica da Ciência. p. 53).
Pag. 160.
“Vem esperança e pousa leve, como um traço de verde giz (é meu anseio que te
escreve), sobre a sorte do meu país.” Carlos Drumonnd de Andrade, Jornal da UNE, anos 80.
“Em nosso tempo, tem-se falado frequentemente na importância da dúvida para a ciência; mas o que a
dúvida é para a ciência, a ironia é para a vida pessoal. E assim como os homens da ciência afirmam
que não é possível uma verdadeira ciência sem a dúvida, assim também se pode, com inteira razão,
afirmar que nenhuma vida autenticamente humana é possível sem ironia.”
Kierkegaard. 1841, p. 277. During the economic and financial crisis of 2008 the mechan- isms adopted, in consultation among countries, to mitigate its consequences have been focused on revival of economic growth, deepening the existing production structure. The crisis was not viewed primarily as an opportunity to change patterns of production and consumption. While discourses for the development of renewable sources, especially biofuels 2nd and 3rd generation, have been delivered alongside the need of the search for greater efficiency in energy use, the real world seems to go by another path: the energy source of higher global growth, since 1990, has been coal, the highest GHG emissions per unit of available useful energy, but cheaper, which reinforces the idea that choice of sources is linked to the potential of allowing more economic surplus.
J. F. de Carvalho et al./Energy Policy 38(2010)5399–5402, p. 5402
Porém alguns palavras sobre ciência, mitos, ideias e ideologia, “Los caminantes de la
floresta del conocimiento” (Pablo Lorenzano):
76
“O conhecimento científico como forma simbólica- considera a partir da abordagem
antropológica feita por Ernst Cassirer (Filosofia das formas simbólicas, 1920, 3 vol.). No
pensamento do ser mitológico, não se faz separação do mundo da realidade e o mundo do ser
distante. Epistemologia da matéria e da lógica, Jean Cavalli:
“Não é a filosofia do sujeito para entender a ciência, mas a filosofia do conceito”. “A história do
desenvolvimento das ideias” (Hegel). Antropologia do conhecimento: palavra é conceito científico,
linguagem é teoria científica; na livre criação da mente humana, o mundo é secundário, considera-se
mais as ideias. As vezes conhecimento científico da lugar a novas mitologias. A ciência nasce da
ideologia. A ciência transforma a ideologia. A referência da ciência é a realidade objetiva.”
Pablo Lorenzano (Univ. Nacional de Quilmes, Argentina): Filosofia e Historia da
ciência, XXIII Seminário Intern. FFLCH-USP/2011.
Anexo I
Palestras e conferências do curso “Amazônia em Transformação:
- Prof. José Pedro de Oliveira Costa: “Ocupação do Território” e “Conceitos de Ambiente e
a Amazônia e sua História”
- Prof. Warwick Manfrinato: “Questões Climáticas relacionadas a Amazônia”
- Prof. Aziz Ab‟saber: Amazônia e as Células Especiais (5), e as 29 sub-áreas.
- Prof. Maritta Kochwesser: “Projeto Amazônia-Transformação”
- Prof. Martin Gegner: “Visão Estrangeira sobre a Amazônia”
- Raquel D. Venturato: Mamirauá (RDS)
- Almirante Ibsen de Gusmão Câmara: “Proteção da Biodiversidade”
- Adelmar Coimbra Filho: “Biodiversidade e Climatologia”
- Prof. Paulo Nogueira Neto: “Áreas Protegidas”
- Instituto Sócio Ambiental: “Questões de Sustentabilidade”
- Prof. Antonio Carlos Diegues: “O MITO MODERNO DA NATUREZA INTOCADA”
- Prof. Ariovaldo Umbelino de Oliveira: “Questão Indígena”
- Betty Mindlin: Populações Indígenas
- Prof. M. Lourdes Davies Freitas: “Experiência da Companhia do Vale do Rio Doce na
Amazônia”
- Prof. Eduardo Goes Neves: “Arqueologia da Amazônia”
- Conferência IEA-USP, Russel Mittermedier: Biodiversity Conservation & The Global
Importortance of Brazil
- Seminário IEA-USP: Economia verde na Amazônia – Programa Amazônia em
Transformação (9:00 às 17:00 H, 29-11-11).
1
Referências Bibliográficas:
A Brief History of Time: From the Big Bang to Black Holes (New York: Bantam Books,
1988).
A elite tupiniquim exporta „know how‟ para elite global?
A Outra 'Era Vargas' - Prof. Wanderley Guilherme dos Santos, Aula Magna, IESP-UERJ,
março de 2011.
A Questão Nacional e a Modernização(vídeo) Conferencista: Raymundo Faoro (jurista,
historiador e cientista político) Apresentador: Carlos Guilherme Mota (IEA e Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP) Coordenador: Jacques Marcovitch (diretor
do IEA), Data: 31 de março de 1992 - Duração: 1h31min
ALTVATER, Elmar, O preço da riqueza, 1995.
ALVES, Rubem. “Variações sobre o prazer” (Santo Agostinho, Nietzsche, Marx e
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2
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