informativo transformação

4
Boletim Informativo Associação Comunidade Nova Criatura Edição 01 outubro/novembro 2012 1 Trans formAção. TransformAção Transfor mAção Charles Gonçalves de Castro Psicóloga Adriana Franscica Oliveira Nova Criatura

Upload: educomunicacao

Post on 07-Mar-2016

220 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Informativo produzido com a comunidade terapêutica Nova Criatura.

TRANSCRIPT

Page 1: Informativo Transformação

De acordo com a OrganizaçãoMundial de Saúde (OMS) e a SecretariaNacional Antidrogas (SENAD), define-seComunidade Terapêutica como um ambi-ente estruturado no qual indivíduos comtranstornos por uso de substâncias psicoa-tivas residem para alcançar a reabilita-ção*. Trata-se de um ambiente residencialprotegido, técnica e eticamente orientado,cujo principal instrumento terapêutico é aconvivência entre os pares.

Os objetivos dessas comunidadessão recuperar os residentes em tratamen-to, de forma a resgatar a cidadania, a rea-bilitação física e psicológica e areinserção social. Algumas de suas carac-terísticas principais são a aceitação volun-tária do programa para tratamento, oenfoque na pessoa como um todo, a coe-são interna embasada em um sentimento

de solidariedade fraterna e a aceitação devalores morais*.

Boleti

mInfo

rmati

voAss

ociaçã

oCom

unidad

eNova

Criatu

raEdi

ção01

outubr

o/nove

mbro

2012

1

A Associação Comunidade NovaCriatura apresenta à sociedade uberlan-dense, com muito prazer, o jornal Trans­formAção. Lembro-me como se fossehoje. O ano era 2009, no qual, com muitaluta e empenho, Lizomar e eu decidimoscriar um local onde homens, dependentesquímicos, pudessem ter a oportunidadede deixar o uso de drogas e retornar a seruma pessoa produtiva para si e para a so-ciedade.

Nasceu então a Comunidade.Uma instituição sem fins lucrativos e quetem como objetivo a prevenção, a recupe-ração, a atenção e a reinserção social deusuários e dependentes de drogas e álcool,bem como apoio às famílias afetadas peloproblema. A instituição busca, ainda, aaplicação da Lei 9.790/99, art.3º, na qual fi-ca prevista a realização de programas deacolhimento, orientação e tratamento.

Atualmente, a Comunidade aten-de 20 famílias de forma direta e 60 famíli-as de forma indireta. De acordo com odicionário, transformação é o “ato detransformar ou transformar-se; mudança

de forma; metamorfose: a transformaçãoda crisálida em borboleta”. E é justamen-te nesse sentido que buscamos trabalharem nossa Comunidade, na transformaçãode todos aqueles que nos procuram embusca de apoio e ajuda para saírem domundo das drogas.

Hoje, com muita dedicação e per-severança diante de muitas dificuldades ecom o apoio do grupo PET ConexõesEducomunicação da Universidade Fede-ral de Uberlândia, trazemos a 1 ª ediçãodo nosso jornal. É com o intuito de divul-gar este trabalho que bimestralmente pu-blicaremos uma edição doTransformAção. Nessa edição apresenta-mos o funcionamento da comunidade, aforma de tratamento aplicada aos nossosresidentes, artigos terapêuticos, o progra-ma espiritual dos doze passos, entrevista,depoimentos, nossos eventos e os conta-tos para doações.Obrigado a todos! Saboreiem o Transfor­mAção e conheçam a Comunidade!

Da comunidade

Tra

nsform

ção

O que é Comunidade Terapêutica?

* Fonte: Curso para Dirigentes, Coordenadores e Técnicos de Comunidades Terapêuticas – Federação Brasileira deComunidades Terapêuticas, 2009.

Charles Gonçalves de CastroCoordenador da Comunidade

Psicóloga Adriana Franscica Oliveira

FFoottoo:: MMaarriiaa LLuucciimmaarr

José Lizomar, um dos fundadores da Nova Criatura, na hortada instituição

Page 2: Informativo Transformação

2

Expediente

Até quando terei que carregar as mar-cas morais de um drogado?

Fui diagnosticado um dependente quí-mico. Disseram-me que sou portador deuma doença incurável e que se eu nãoparar de usar drogas, poderei morrer.

Sobre a minha morte, já não me impor-to mais, porém, estou matando minhafamília também, e eles, diferente de

mim, não usam drogas.

Não consigo mais usar drogas, estousofrendo muito. Eu não quero mais medrogar, mas tenho uma doença, preciso

de tratamento.

Se eu não me tratar, continuarei usandoe morrerei usando.

Só eu posso parar, mas sozinho eu nãoconsigo.

Preciso de um local de tratamento segu-ro das influências típicas.

Preciso de uma equipe que entenda omeu problema.

Preciso do amparo, carinho e afeto dosmeus familiares e entes queridos.

Preciso também do apoio da sociedade,dos movimentos sociais, dos órgãos pú-blicos e dos empresários que lutam por

uma sociedade melhor.

Preciso de saúde, educação e segurança.

Preciso de trabalho digno e o amor dasociedade.

Preciso de tratamento, pois sou porta-dor de uma doença.

Eu não quero mais usar drogas, mas pa-ra que isso aconteça, eu preciso da aju-da de todos vocês, porque sozinho eu

não consigo!

Não fazemos acepção depessoas, raça, credo, classe soci-al, etc. Acreditamos que o progra-ma espiritual dos doze passosestá disponível para todos aque-les que desejam e procuram umatransformação de vida e uma li-bertação plena das drogas.

Quem primeiro mencio-nou as possibilidades de recupe-ração pela via espiritual foi CarlGustav Jung, em 1934, a um deseus pacientes alcoólatras, o ame-ricano Roland Hazard. Em no-vembro de 1 934, Bill Wilsonparou de beber e em dezembrode 1 938 ele apresentou os DOZEPASSOS*:

1 °) Admitimos que éramos impo-tentes perante a nossa adicção eque nossas vidas tinham se torna-do incontroláveis.

2º) Viemos a acreditar que um po-der maior do que nós poderia de-volver-nos à sanidade.

3°) Decidimos entregar nossa von-tade e nossas vidas aos cuidadosde Deus, da maneira como nós ocompreendíamos.

4º) Fizemos um profundo e deste-mido inventário moral de nós mes-mos.

5°) Admitimos a Deus, a nós mes-

mos e a outro ser humano a natu-reza exata das nossas falhas.

6°) Prontificamo-nos inteiramen-te a deixar que Deus removessetodos esses defeitos de caráter.

7º) Humildemente pedimos a Eleque removesse nossos defeitos.

8°) Fizemos uma lista de todas aspessoas que tínhamos prejudica-do e dispusemo-nos a fazer repa-rações a todas elas.

9°) Fizemos reparações diretas atais pessoas, sempre que possível,exceto quando fazê-lo pudesseprejudicá-las ou a outras.

1 0º) Continuamos fazendo o in-ventário pessoal e, quando está-vamos errados, nós o admitíamosprontamente.

11 °) Procuramos, através da pre-ce e meditação, melhorar nossocontato consciente com Deus, damaneira como nós o compreen-díamos, rogando apenas o conhe-cimento da Sua vontade emrelação a nós e o poder para reali-zar essa vontade.

1 2º) Tendo experimentado umdespertar espiritual, como resul-tado destes passos, procuramoslevar esta mensagem a outrosadictos e praticar estes princípiosem todas as nossas atividades.

O programa espiritual dos DOZE PASSOSna Comunidade Terapêutica

Sozinho eu não consigoUma outra perspectiva

* Os doze passos e as doze tradições reimpressos e adaptados com autorização de AAWORLD SERVICES, INC.

Hygor Cirino AlvesDependente químico em recuperação e

membro da Nova Criatura

Associação Comunidade Nova Criatura: Charles Gonçalves e José Lizomar da Silva (coordenadores). PET Conexões dos Sabe­res Educomunicação: Adriana Cristina Omena dos Santos (Tutora), Abadia Adenísia Rocha e Silva, Cíntia Aparecida de Sousa,Gabrielle Carolina Silva, Neimar da Cunha Alves e Suzana Arantes. Colaboradores: Adriana Franscica Oliveria, Hygor CirinoAlves e Márcia Santana de Sousa. Tiragem: 5.000 exemplares.

Page 3: Informativo Transformação

3

A tarefa de definir adicçãotem desafiado médicos, psicólo-gos, juízes e as pessoas em geral.Algumas definições enfatizam a de-pendência fisiológica e psicológi-ca, a dinâmica familiar, amoralidade e os problemas compor-tamentais. A palavra adicção deri-va do latim addictu, adjetivo quesignifica dependente, nesse caso“dependente da droga”. Droga é to-da substância que altera a mente eo humor, inclusive a maconha e oálcool. A adicção é uma doença bi-opsicossocial, que manifesta no in-

divíduo de forma progressiva,incurável e quando não tratada, po-de levar à morte. Portanto, um adic-to é simplesmente um ser humanocuja a vida é controlada pelas dro-gas.

Um adicto apresenta sinto-mas de ordem psicológica (egocen-trismo – a fantasia de que o mundogira em torno de si mesmo), mental(obsessão – pensar somente em usardrogas causando intensa ansiedade),e físico (compulsão – uma vez quese inicia o uso, o adicto não conse-gue mais parar).

O importante é saber queatravés da abstinência da droga(paralizaçãodo do uso) e a aplica-ção de um programa terapêutico, arecuperação é possível e o adictopode encontrar uma melhor manei-ra de viver sem drogas.

Assim, é importantedesmistificar a ideia de que umavez drogado sempre drogado, poiscom a aplicação do programa tera-pêutico dos doze passos, a recupe-ração é algo possível.

Entenda o que é adicto e desmistifique alguns conceitos

Tra

nsform

ção

Papo aberto

A favor da vid

Adriana Franscica OliveiraPsicóloga

O diretor da Vara de Execu-ções Criminais, da comarca deUberlândia, Valter Rocha, fala so-bre o Programa Inclusão Social deEgressos do Sistema Prisional(PrEsp).

O PrEsp faz o acolhimentodas pessoas recém liberadas do siste-ma prisional e ofere a elas assistênciapsicológica, social, encaminhamentopara cursos e postos de trabalho. Oprograma é um equipamento públi-co de inclusão social que promovecondições para que os egressos dosistema prisional retomem a vida so-

cial em liberdade.Para conhecer mais sobre o

programa e sua inserção em Uber-lândia, confira a entrevista comVal-ter Rocha, diretor da Vara deExecuções Penais de Uberlândia.

Com o projeto, qual plano a cida­de adotará?Juiz: O projeto visa diminuir as ex-clusões e estigmas decorrentes deprocessos de criminalização e priva-ção da liberdade. Assim, aqui emUberlândia, por meio do programa,estamos planejando a construção deum sistema semiaberto de colôniapenal agrícola e industrial, para le-var os industriais até o presídiocom a possibilidade de levar o traba-lho para aquelas pessoas.

Essa colônia já tem previsão dequando vai funcionar?Juiz: O desenho já está até pronto,mas existem alguns ajustes a seremfeitos. É um projeto local, mas que

o Estado se propôs a auxiliar noque for possível. A colônia é quaseque um anexo à penitenciária Pi-menta da Veiga.

Junto ao trabalho também sãonecessárias outras atividades?Juiz: A gente não consegue essasocialização sem trabalho, semdisciplina, educação e religião.Nós estamos querendo levar nãosó o trabalho, mas levar tambémpessoas que tenham o envolvimen-to e o interesse na recuperação dedrogados e alcóolatras. Vamos ten-tar efetivamente reeducá-los, poisé preciso não só a prevenção, masa recuperação, uma reeducaçãoefetiva.

Valter Rocha é diretor da Vara de ExecuçõesCriminais da comarca de Uberlândia

Projeto PrEsp: reinserção e trabalho oferecido aos egressos dosistema prisional

Em Uberlândia, os egressos podemprocurar atendimento no Centro dePrevenção à Criminalidade (CPCs),que fica na avenida Getúlio Vargas,1 533, Centro, ou pelo telefone(34)32245430 / 32106448.

Fique por dentro

Foto: Suzana Arantes

Page 4: Informativo Transformação

4

VVaa llee

aappeennaa !!

EEss pp

aa ççoo

aa bbeerr ttoo

Por que estou aqui na comunidade?Porque cansei da vida que eu levava. Vidade humilhação, desespero, intranquilidade emedo. Mas estou aqui porque quero mudar aminha vida para melhor. Quero me recupe-rar, retornar à sociedade, poder voltar para aminha família, levar uma vida tranquila,mesmo com dificuldades, de cabeça erguida,sem ter que olhar para o chão. Por tudo isso,estou aqui. Compreendo que minha vida es-tava sendo controlada pelas drogas. A maio-ria das pessoas que estão na adicção achaque podem controlar as drogas. Pensam queusam a droga, mas, na verdade, é a drogaque os usa.

Carta de um residente da ComunidadeNova Criatura

Para ler: Equilíbrio e recompensaO livro de Lourenço Prado ensina comovencer as pequenas contrariedades da vidadiária, responsáveis pelo esgotamento físicoe moral, a fim de o indivíduo poder alcançaro equilíbrio interior.

Para ver: 28 diasA vida para Gwenn Cummings (Sandra Bul-lock) não passa de uma eterna festa, até olamentável escândalo que apronta na ce-rimônia de casamento de sua irmã, quandose embriaga, causa um acidente e acabacondenada a uma pena de 28 dias em umcentro de reabilitação. Depois de conheceros outros pacientes, Gwen começa gradual-mente a reexaminar sua vida e ver que, naverdade, ela tem um problema sério.

Para escutar: Só Por Hoje (Legião Urbana)

MMaaiiss ssoobbrree nnóóss

TTáá

nnaa

ss oocc iieeddaa dd

ee

Associação Comunidade Nova CriaturaCNPJ: 11 .088.620/0001 -40E-mail: [email protected]/ Fone: (34) 3211 -1772Rua: Nacir Mendes Lima, 625. Bairro: Morada Nova, Uberlândia-MG

Caixa Econômica FederalOperação 003Agência 0162Conta Corrente nº 2730-4

DDooaaççõõeess

Márcia Santana de SousaGestora de Projetos (Associada nº 1750 da Associação

Brasileira de Captadores de Recursos – ABCR – NúcleoTriângulo Mineiro)

Captar recursos é um tema que sempre es-tá nas reuniões, no material de divulgação e nafala dos diretores, apoiadores e voluntários de to-das as organizações não-governamentais, sejaela do segmento social, ambiental ou cultural. Es-sa ação requer muito planejamento estratégico,profissionalismo e marketing relacionado às cau-sas, pois depende dela a realização dos progra-mas, projetos e ações propostas.

No Brasil, o número crescente de institui-ções desse setor revela as necessidades existen-tes em relação às estratégias de captação derecursos, profissionalismo, transparência, gestão,controle, avaliação, monitoramento e prestaçãode contas, além das responsabilidades com o im-pacto social ou ambiental dos projetos. Mas deonde vêm os recursos utilizados pelas institui-ções brasileiras? Como diz o dito popular, nãodevemos colocar todos os ovos na mesma cesta?Ter a sustentabilidade da instituição em apenasum financiador ou apoiador não é o ideal, nemmesmo o mais prudente.

A utilização do termo “não-governamen-tal” nos dias de hoje não representa a realidade

de muitas instituições que vivem ou sobrevivemapenas dos recursos governamentais ou de trocade favores. Devemos lembrar o surgimento his-tórico e político dos movimentos sociais, das co-munidades de base, dos sindicatos, dosestudantes, das donas de casa, enfim, da mobili-zação social que gerou e impulsionou várias leise políticas públicas em nosso Brasil. Claro queesse setor cresceu e evoluiu. Temos a necessida-de de recursos humanos e financeiros para aten-der as nossas demandas, mas sem perder o“brilho nos olhos”.

Existe sim um pote de ouro para as insti-tuições que atuam de forma correta, com a docu-mentação atualizada, com profissionalismo eresultados. Os recursos de fato existem, mas odesafio está em fazer com que esses bons proje-tos cheguem até o pote de ouro.

Na próximo edicão: “Está acontecendo”.

Em busca do pote de ouro