amanda serafim a visÃo de educadores infantis sobre o …

43
1 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Amanda Serafim A VISÃO DE EDUCADORES INFANTIS SOBRE O LÚDICO São Paulo 2010

Upload: others

Post on 16-Oct-2021

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Amanda Serafim

A VISÃO DE EDUCADORES INFANTIS SOBRE O LÚDICO

São Paulo 2010

2

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Amanda Serafim

A VISÃO DE EDUCADORES INFANTIS SOBRE O LÚDICO

Monografia apresentada ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Presbiteriana Makenzie, como parte dos requisitos exigidos para a conclusão do Curso de Ciências Biológicas, modalidade Licenciatura.

Orientador: Prof ª Ms. Marcia Regina Vital

São Paulo 2010

3

Dedico esse trabalho com todo carinho,

principalmente a meus pais, que sempre me deram

de tudo para que eu conseguisse alcançar os meus ideais,

me ensinando os verdadeiros valores da vida e

fazendo quem eu sou hoje.

E ao meu querido filho que é a razão do meu viver.

4

Agradecimentos

Agradeço à Universidade Presbiteriana Mackenzie, e ao Centro de Ciências Biológicas e da

Saúde.

Agradeço à Profª Ms. Marcia Regina Vital por ter me orientado na realização deste trabalho.

Agradeço também aos meus professores de licenciatura, que no decorrer desses cinco

semestres caminharam ao meu lado exercendo um papel fundamental para o meu aprendizado

e a minha formação, como o Prof˚ Dr. Adriano Monteiro de Castro, a Profª Drª. Rosana dos

Campos Jordão e a Profª Drª. Magda Medhat Pechliye.

Agradeço aos convidados Prof˚ Dr. Adriano Monteiro de Castro e a Profª Ms. Célia Regina

Batista Serrão, que aceitaram gentilmente meu convite para participar da banca examinadora

do Trabalho de Conclusão de Curso.

Agradeço a colaboração das Educadoras Infantis, que gentilmente abriram as portas de suas

escolas para que eu pudesse tornar esta pesquisa real.

Agradeço também aos meus pais e ao meu irmão que sempre me apoiaram e me deram forças

para atingir meus objetivos.

Agradeço ao meu filho e ao Ítalo por tornarem os meus dias mais felizes e por completarem

minha vida.

Agradeço aos meus amigos que ao longo da minha caminhada estiveram presentes ao meu

lado.

E, agradeço à Deus por possibilitar todos esse acontecimentos.

5

Resumo

O presente estudo teve como objetivo conhecer a visão de educadores infantis sobre o

lúdico e perceber se este é entendido e valorizado pelos mesmos. A metodologia usada foi a

qualitativa, através da realização de três entrevistas com educadores de diferentes escolas de

Educação Infantil, e de levantamento bibliográfico sobre o lúdico. De acordo com a análise

dos dados obtidos, constatamos que os educadores entrevistados têm conhecimento da

importância do lúdico tanto para a aprendizagem como para o desenvolvimento das crianças.

Foi possível, também, perceber que, para estes educadores, o lúdico pode ser um importante

instrumento no processo de aprendizagem, no desenvolvimento, e na vida das crianças.

Palavras chave: educadores, lúdico, aprendizagem, desenvolvimento, educação infantil.

6

Abstract

The present study had as objective knows the infantile educators' vision on the

playful and to notice this is understood and valued by the same ones. The used methodology

was the qualitative, through the accomplishment of three interviews with teachers of different

child education schools and of bibliographical rising on the playful In agreement with the

analysis of the obtained data, we verified that the educators interviewees have knowledge of

the importance of the playful so much for the learning as for the children's development. It

was possible, also, to notice that, for these educators, the playful can be an important

instrument in the learning process, in the development, and in the children's life.

Words key: teachers, playful, learning, development, child education.

7

Sumário

1.Introdução.............................................................................................................................08

2. O lúdico e a Educação Infantil..........................................................................................10

2.1 – O lúdico............................................................................................................................10

2.2 – Educação Infantil.............................................................................................................15

2.3 – A criança e seu desenvolvimento.....................................................................................20

3. Procedimentos Metodológicos...........................................................................................27

4. Resultados e Analises.........................................................................................................28

5. Considerações Finais..........................................................................................................33

6. Referências Bibliográficas................................................................................................34

APÊNDICE I – Entrevista educadora A...............................................................................37

APÊNDICE II – Entrevista educadora B.............................................................................39

APÊNDICE III – Entrevista educadora C...........................................................................41

8

1. Introdução

A evolução lúdica, notadamente, nos primeiros anos de vida mostra que ao brincar a

criança desenvolve a inteligência, aprende prazerosamente e progressivamente a representar

simbolicamente sua realidade, deixa, em parte, o egocentrismo que a impede de ver o outro

como diferente dela, aprende a conviver. O lúdico “não está nas coisas, nos brinquedos ou nas

técnicas, mas nas crianças, ou melhor, dizendo, no homem que as imagina, organiza e

constrói” (OLIVEIRA, 2000, p.10).

Criar condições para o brincar está sendo transferido, cada dia mais, do núcleo familiar

para a instituição mais ampla como creches, escolas, centros de lazer, etc. Entretanto, a

criança aprende a brincar desde os primeiros anos de vida, precisando de alguém disponível

para brincar com ela e à ensiná-la a brincar.

Esta pesquisa tem como objetivo principal conhecer a visão de educadores infantis

sobre o lúdico, percebendo se este é entendido e valorizado e, em que medida estes

educadores oferecem tempo e oportunidade para o lúdico. Para isso foram realizadas três

entrevistas com educadores da Educação Infantil, em escolas particulares e públicas e um

levantamento bibliográfico, que possibitou o embasamento teórico de toda a pesquisa.

A escolha do tema justifica-se pelo fato das crianças de zero a cinco anos, integrantes

da Educação Infantil, possuírem características e necessidades diferenciadas das demais

idades, pois estão em um constante momento de desenvolvimento psicológico, físico,

intelectual e social. E, é claro, da minha paixão por essas crianças que nos surpreendem cada

vez mais e nos fazem sorrir com um simples olhar.

A educação infantil que se desenvolve em creches e pré-escolas ganha um novo

sentido no sistema escolar brasileiro passando a integrar a Educação Nacional, a partir de

dezembro de 1996 quando entrou em vigor a Lei n° 9394/96, que estabelece as Diretrizes e

Bases da Educação Nacional, a LDB.

Esta lei, no Título V – Dos níveis e das Modalidades de Educação e Ensino, no

Capítulo I, da Composição dos Níveis Escolares, em seu art. 21, traz que a educação escolar

compõe-se de dois níveis: I educação básica e II educação superior. A educação básica, por

sua vez, subdivide-se em educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Na Seção II,

em seu art. 29 traz: “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como

finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos

físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e comunidade”.

9

A partir de todos estes aspectos levantados, o segundo capítulo deste trabalho foi

intitulado “O lúdico e a Educação Infantil” que por sua vez foi subdividido em três partes,

sendo elas: “O lúdico”, que aborda a importância do mesmo na aprendizagem e no

desenvolvimento das crianças de 0 a 5 anos entre outros aspectos acerca do lúdico; “Educação

Infantil” que discorre sobre um breve histórico da educação infantil, tendo em vista seus

principais idealizadores, assim como suas concepções atuais; e “A criança e seu

desenvolvimento”.

Em seguida, adentramos o terceiro capítulo, denominado “Procedimentos

Metodológicos”, onde é abordado os procedimentos realizados e as justificativas para a coleta

de dados. Esta deu origem ao quarto capítulo “Resultados e Análise”, em que há uma

apresentação dos resultados juntamente com a discussão dos mesmos, com base no

levantamento bibliográfico.

Por fim, temos as “Considerações Finais”, que retomam os principais aspectos do

trabalho.

10

2. O lúdico e a Educação Infantil

A ludicidade é um assunto que vem sendo muito estudado, principalmente na

educação infantil, por ser o brinquedo a essência da infância e seu uso permitir um trabalho

pedagógico que possibilita a produção do conhecimento, da aprendizagem e do

desenvolvimento infantil. Neste trabalho explanamos algumas definições acerca do lúdico,

sua importância no processo de ensino-aprendizagem. Trazemos também um breve histórico

sobre a Educação Infantil e suas concepções atuais, além de discorrer sobre a criança e seu

desenvolvimento.

2.1 O lúdico

Independentemente de época, cultura e classe social os jogos e brinquedos fazem parte

da vida da criança, pois elas vivem em um mundo de fantasia, de encantamento, de alegria, de

sonhos.

Na sociedade de mudanças aceleradas em que vivemos somos sempre levados a

adquirir competências novas, pois é o indivíduo a unidade básica da mudança

(MONTESSORI, s/d). A utilização de brincadeiras e jogos no processo pedagógico faz

despertar o gosto pela vida e leva as crianças a enfrentarem os desafios que surgirem.

Sendo assim, o brincar se torna uma ferramenta essencial e necessária ao processo de

desenvolvimento humano. O lúdico abrange o brincar e tem o mesmo sentido de infantil, diz

respeito ao “inútil” do ponto de vista imediato, refere-se à atividade em si mesma que não visa

algum outro fim, mas que tem grande importância no processo de desenvolvimento a longo

prazo (KISHIMOTO, 2002). O senso lúdico tem papel fundamental para o ser humano, tanto

no início como durante toda sua vida, devendo fazer parte do dia-a-dia de cada um, pois

favorece a construção prazerosa do viver e da convivência social.

O lúdico tem sua origem na palavra latina "ludus" que quer dizer "jogo”. Se achasse

confinado a sua origem, o termo lúdico estaria se referindo apenas ao jogar, ao brincar, ao

movimento espontâneo. O lúdico passou a ser reconhecido como traço essencial de

psicofisiologia (ramo biológico da psicologia que estuda as relações mentais e as funções

físicas, procurando o entendimento da relação corpo-mente e dos processos psíquicos com os

fisiológicos) do comportamento humano. De modo que a definição deixou de ser o simples

sinônimo de jogo. As implicações da necessidade lúdica extrapolaram as demarcações do

brincar espontâneo (ALMEIDA, s/d).

11

Para Wajskop (2001), a brincadeira, segundo uma visão sócio antropológica, é um fato

social, um espaço privilegiado de interação infantil e de constituição do sujeito-criança como

sujeito humano, sendo produto e produtor de história e cultura, pois é um tipo de atividade

cuja base é comum à da arte, ou seja, trata-se de atividade social, humana, que supõe

contextos sociais e culturais, a partir do qual a criança recria a realidade através da utilização

de sisitemas simbólicos próprios. Ainda de acordo com a autora, a forma como se apresenta a

brincadeira infantil, hoje, confirma a tese que demonstrou o professor Brougère em 1989, de

que não existe na criança um jogo natural, pois a brincadeira é o resultado de relações

interindividuais, portanto, de cultura, pressupondo uma aprendizagem social, ou seja,

aprende-se a brincar.

Kishimoto (2002) também relaciona o brincar com a cultura preexistente da criança,

afirmando que antes de saber brincar a criança deve aprender a brincar e que as brincadeiras

chamadas de brincadeiras de bebês entre a mãe e a criança são indiscutivelmente um dos

lugares essenciais desta aprendizagem. Cita como exemplo a brincadeira de esconder uma

parte do corpo, onde a criança aprende a reconhecer certas características essenciais do jogo:

o aspecto fictício, pois o corpo não desaparece de verdade, trata-se apenas de um faz-de-

conta; a inversão de papéis; a repetição que mostra que a brincadeira não modifica a

realidade, já que se pode sempre voltar ao início; a nessecidade de um acordo entre parceiros,

mesmo que a criança não consiga aceitar uma recusa do parceiro em continuar brincando.

Então, conclui que o jogo supõe uma cultura específica ao jogo, mas também o que se chama

de cultura geral: os pré-requisitos.

O lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida humana. Assim, na

idade infantil e na adolescência a finalidade é essencialmente pedagógica. A criança e mesmo

o jovem opõe uma resistência à escola e ao ensino, porque acima de tudo ela não é lúdica, não

é prazerosa, afirma Neves (s/d), pois a convivência de forma lúdica e prazerosa com a

aprendizagem proporciona à criança estabelecer relações cognitivas às experiências

vivenciadas, bem como relacioná-la as demais produções culturais e simbólicas, conforme

procedimentos metodológicos compatíveis a essa prática.

A ludicidade, tão importante para a saúde mental do ser humano, é um espaço que

merece atenção dos pais e educadores, pois é o espaço para expressão mais genuína do ser, é o

espaço e o direito de toda a criança para o exercício da relação afetiva com o mundo, com as

pessoas e com os objetos.

De acordo com Kishimoto (1994), o lúdico possibilita o estudo da relação da criança

com o mundo externo, integrando estudos específicos sobre a importância do lúdico na

12

formação da personalidade. Através da atividade lúdica e do jogo a criança forma conceitos,

seleciona idéias, estabelece relações lógicas, integra percepções, faz estimativas compatíveis

com o crescimento físico e desenvolvimento e, o que é mais importante, vai se socializando.

De acordo com Nunes (s/d), a ludicidade é uma atividade que tem valor educacional

intrínseco, mas além desse valor, que lhe é inerente, ela tem sido utilizada como recurso

pedagógico. Segundo Teixeira (1995), várias são as razões que levam os educadores a

recorrer às atividades lúdicas e a utilizá-las como um recurso no processo de ensino-

aprendizagem:

• As atividades lúdicas correspondem a um impulso natural da criança, e neste sentido,

satisfazem uma necessidade interior, pois o ser humano apresenta uma tendência

lúdica;

• O lúdico apresenta dois elementos que o caracterizam: o prazer e o esforço

espontâneo. Ele é considerado prazeroso, devido à sua capacidade de absorver o

indivíduo de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmo. É este aspecto de

envolvimento emocional que o torna uma atividade com forte teor motivacional, capaz

de gerar um estado de vibração e euforia. Em virtude desta atmosfera de prazer dentro

da qual se desenrola, a ludicidade é portadora de um interesse intrínseco, canalizando

as energias no sentido de um esforço total para consecução de seu objetivo. Portanto,

as atividades lúdicas são excitantes, mas também requerem um esforço voluntário;

• A situação lúdica mobiliza esquemas mentais. Sendo uma atividade física e mental, a

ludicidade aciona e ativa as funções psico-neurológicas e as operações mentais,

estimulando o pensamento.

Em geral, o elemento que separa um jogo pedagógico de um outro de caráter apenas

lúdico é de que desenvolve-se o jogo pedagógico com a intenção de provocar aprendizagem

significativa, estimular a construção de novo conhecimento e principalmente despertar o

desenvolvimento de uma habilidade operatória, ou seja, o desenvolvimento de uma aptidão ou

capacidade cognitiva e apreciativa específica que possibilita a compreensão e a intervenção

do indivíduo nos fenômenos sociais e culturais e que o ajude a construir conexões (NUNES,

s/d).

De acordo com Horn (2004, p. 71)

“O brinquedo satisfaz as necessidades básicas de aprendizagens das crianças, como, por exemplo as de escolher, imitar, dominar, adquirir competências, enfim de ser ativo em um ambiente seguro, o qual encoraje e consolide o desenvolvimento de normas e valores sociais.”

13

Ajuda no desenvolvimento da confiança em si mesmo e em suas capacidades e em

situações sociais, ajuda a criança a julgar as muitas variáveis presentes nas interações sociais e

a ser empática em relação aos outros. As crianças que brincam em diversos ambientes ricos de

informações e demonstram interesse por estar ali brincando, adquirem conhecimentos e

transmitem conhecimentos, através da interação com seus pares. Sendo eles os próprios

construtores do seu conhecimento com a mediação de alguém mais experiente. De acordo

com Fantin (2000 p. 53)

“Brincando (e não só) a criança se relaciona, experimenta, investiga e amplia seus conhecimentos sobre si mesma e sobre o mundo que está ao seu redor. Através da brincadeira podemos saber como as crianças vêem o mundo e como gostariam que fosse, expressando a forma como pensam, organizam e entendem esse mundo. Isso acontece porque, quando brinca, a criança cria uma situação imaginária que surge a partir do conhecimento que possui do mundo em que os adultos agem e no qual precisa aprender a viver”.

Ao brincar a criança expressa seus anseios, sua maneira de como está percebendo o

mundo que a cerca e principalmente está vivendo a sua infância. Tem também suas

necessidades satisfeitas que são: adquirir novos conhecimentos, habilidades, pensamentos e

entendimentos coerentes e lógicos. Reconhecendo-se em um meio e como parte do mesmo,

ela cria sua própria brincadeira interagindo com todos que a rodeiam. Temos aí então a

importância de se oferecer um espaço povoado de objetos disponíveis e acessíveis à criança.

Para Campos (s/d), o brincar e o jogar são atos indispensáveis à saúde física,

emocional e intelectual e sempre estiveram presentes em qualquer povo, desde os mais

remotos tempo. Através dele, a criança desenvolve a linguagem, o pensamento, a

socialização, a iniciativa e a auto-estima, preparando-se para ser um cidadão capaz de

enfrentar desafios e participar na construção de um mundo melhor. Ainda segundo a autora, o

jogo, nas suas diversas formas, auxilia no processo ensino-aprendizagem, tanto no

desenvolvimento psicomotor, isto é, no desenvolvimento da motricidade fina e ampla, bem

como no desenvolvimento de habilidades do pensamento, como a imaginação, a interpretação,

a tomada de decisão, a criatividade, o levantamento de hipóteses, a obtenção e organização de

dados e a aplicação dos fatos e dos princípios a novas situações que, por sua vez, acontecem

quando jogamos, quando obedecemos às regras, quando vivenciamos conflitos numa

competição, etc.

Segundo Tezani (2004), o jogo não é simplesmente um “passatempo” para distrair as

crianças, ao contrário, corresponde a uma profunda exigência do organismo e ocupa lugar de

extraordinária importância na educação escolar. Estimula o crescimento e o desenvolvimento,

14

a coordenação muscular, as faculdades intelectuais, a iniciativa individual, favorecendo o

advento e o progresso da palavra. Estimula a observar e conhecer as pessoas e as coisas do

ambiente em que se vive. Através do jogo o indivíduo pode brincar naturalmente, testar

hipóteses, explorar toda a sua espontaneidade criativa. O jogo é essencial para que a criança

manifeste sua criatividade, utilizando suas potencialidades de maneira integral. É somente

sendo criativa que ela descobre seu próprio eu.

O lúdico é o mais importante das atividades da infância, pois a criança necessita

brincar, jogar, criar e inventar para manter seu equilíbrio com o mundo. A importância da

inserção e utilização dos brinquedos, jogos e brincadeiras na prática pedagógica é uma

realidade que se impõe ao professor. Brinquedos não devem ser explorados só para lazer, mas

também como elementos bastantes enriquecedores para promover a aprendizagem. Através

dos jogos e brincadeiras, o educando encontra apoio para superar suas dificuldades de

aprendizagem, melhorando o seu relacionamento com o mundo. Os professores precisam estar

cientes de que a brincadeira é necessária e que traz enormes contribuições para o

desenvolvimento da habilidade de aprender e pensar (CAMPOS, s/d).

Diferindo do jogo, o brinquedo supõe uma relação íntima com a criança e uma

indeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um sistema de regras que organizam sua

utilização (KISHIMOTO, 1994).

O brinquedo é a oportunidade de desenvolvimento, pois brincando, a criança

experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a

curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporcionam o desenvolvimento da linguagem,

do pensamento, concentração e da atenção.

O brinquedo traduz o real para a realidade infantil; suaviza o impacto provocado pelo

tamanho e pela força dos adultos, diminuindo o sentimento de impotência da criança.

Brincando, sua inteligência e sua sensibilidade estão sendo desenvolvidas, uma vez que a

qualidade de oportunidade que estão sendo oferecidas garante que suas potencialidades e sua

afetividade se harmonizem.

Para a criança, a brincadeira gira em torno da espontaneidade e da imaginação. Não

depende de regras, de formas rigidamente estruturadas. Para surgir basta uma bola, um espaço

para correr ou um risco no chão (VELASCO, 1996).

A culura lúdica, segundo Kishimoto (2002), se diversifica por numerosos critérios,

evidenciando em primeiro lugar, a cultura em que está inserida a criança e sua cultura lúdica.

Sendo que estas culturas não são idênticas nos diferentes países do mundo; elas se

diversificam também conforme o meio social, a idade e o sexo da criança.

15

Ainda segundo Kishmoto (2002), analisando nossa época destacando as

especificidades da cultura lúdica comtempôranea ligadas com o meio ambiente e os suportes

que a criança dispõe, nosso tempo tem como característica a multiplicação dos brinquedos,

uma forma solitária de jogos, ou melhor, dizendo, uma interação social diferida através de

objetos portadores de ações e de significações. Não podendo deixar de citar, os videogames:

uma nova técnica que cria novas experiências lúdicas que transforma a cultura lúdica de

muitas crianças.

2. 2. Educação infantil

A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, N̊ 9.394/96, o

atendimento a crianças em creches (até 3 anos de idade) e pré-escolas (de 4 a 6 anos) constitui

a educação infantil, nível de ensino integrante da educação básica. Esta condição, segundo

Oliveira (2002), ao mesmo tempo que rompe com a tradição assistencialista (historicamente a

creche era vista como refúgio assistencial para a população infantil desprovida de cuidados

domésticos) presente na área, requer um aprofundamento do debate acerca de quais seriam os

modelos de qualidade para a educação coletiva de crianças pequenas.

O termo “infância” (in-fans) tem o significado de “não fala”. Na educação grega do

período clássico, “infância” referia-se a seres com tendências selvagens a serem dominadas

pela razão e pelo bem ético e político. Já o pensamento medieval entendia a infância como

evidência da natureza pecadora do homem, pois nela a razão, reflexo da luz divina, não se

manifestaria. Nos séculos XV e XVI, novos modelos educacionais foram criados para

responder aos desafios estabelecidos pela maneira como a sociedade européia então se

desenvolvia. O desenvolvimento científico, a expansão comercial e as atividades artísticas

ocorridas no período do Renascimento estimularam o surgimento de novas visões sobre a

criança e sobre como ela deveria ser educada. Autores como Erasmo (1465-1530) e

Montaigne (1483-1553) susutentavam que a educação deveria respeitar a natureza infantil,

estimular a atividade da criança e associar o jogo à aprendizagem (OLIVEIRA, 2002).

Uma nova etapa de construção da idéia de educação infantil na Europa inicou-se na

fase avançada da Idade Moderna, com o crescimento da urbanização e a transformação da

família patriarcal em nuclear. A Revolução Industrial, então em curso, iniciou um processo de

16

expropriação de antigos saberes dos trabalhadores, o que modificou as condições e exigências

educacionais das novas gerações (OLIVEIRA, 2002).

A discussão sobre a escolaridade obrigatória, que se intensificou em vários países

europeus nos séculos XVII e XIX, enfatizou a importância da educação para o

desenvolvimento social, afima Oliveira (2002), sendo que neste momento, a criança passou a

ser o centro do interesse educativo dos adultos: começou a ser vista como sujeito de

necessidades e objeto de expectativas e cuidados, situada em um período de preparação para o

ingresso no mundo dos adultos, o que tornava a escola um instrumento fundamental, pelo

menos para os que podiam frequenta-la. Wajskop (2001), relatam que fora nesta época que

apareceram as primeiras instituições de educação de crianças pequenas: escolas de tricotar

fundadas por Padre Oberlin, creches fundadas por Mabeau, e jardins da infância, os

Kindergarten, fundados por Froebel.

Oliveira (2002) destaca autores como Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Decroly,

Froebel e Montessori, entre outros, que estabeleceram as bases para um sistema de ensino

mais centrado na criança. Muitos deles achavam-se compromissados com questões sociais

relativas a crianças que vivenciavam situações sociais críticas (órfãos de guerra, pobreza).

Cuidaram de elaborar propostas de atividades em instituições escolares que compensassem

eventuais problemas de desenvolvimento. Embora com ênfases diferentes entre si, as

propostas de ensino desses autores reconheciam que as crianças tinham necessidades próprias

e características diversas das dos adultos, como o interesse pela exploração de objetos e pelo

jogo.

Educar crianças menores de 6 anos, de diferentes condições sociais, era uma questão

tartada por COMÊNIO (1592-1670), em 1637, elaborou um plano de escola maternal em que

recomendava o uso de materiais audiovisuais, como livros de imagens, para educar crianças

pequenas. ROUSSEAU (1712-1778) criou uma proposta educacional em que combatia

preconceitos, autoristarismo e todas as instituições sociais que violentassem a liberdade

caracteristica da natureza. O que abriu caminho para as concepções do suíço PESTALOZZI

(1746-1827), que também reagiu contra o intelectualismo excessivo da educação tradicional,

susutentava que a educação deveria cuidar do desenvolvimento afetivo das crianças desde o

nascimento. Estas idéias foram levadas adiante por FROEBEL (1782-1852), educador

alemão, no quadro das novas influências teóricas e ideológicas de seu tempo (liberalismo e

socialismo). Ele criou, em 1837, um Kindergarten (jardim-de-infância), onde crianças e

adolescentes (pequenas sementes que, adubadas e expostas a condições favoráveis em seu

meio ambiente, desabrochariam sua divindade interior em um clima de amor, simpatia e

17

encorajamento) estariam livres para aprender sobre si mesmos e sobre o mundo (OLIVEIRA,

2002).

Os jardins de infância divergiam tanto das casas assistenciais da época, por incluírem

uma dimensão pedagógica, quanto da escola, que demonstrava ter, segundo Froebel, constante

preocupação com a moldagem das crianças, praticada de uma perspectiva exterior,

(OLIVEIRA, 2002). O modo básico de funcionamento de sua proposta educacional incluía

atividades de cooperação e jogo, entendidos como a origem da atividade mental. Froebel

elaborou canções e jogos para educar sensações e emoções, enfatizou o valor educativo da

atividade manual, confeccionou brinquedos para a aprendizagem da aritmética e geometria,

além de propor que as atividades educativas incluíssem conversas e poesias e o cultivo de

horta pelas crianças.

DECROLY (1871-1932),elaborou em 1901, uma proposta metodológica de ensino que

propunha atividades didáticas baseadas na idéia de totalidade do funcionamento psicológico e

no interesse da criança. Ao contrário dos que o precederam em que acentuavam a importância

de um trabalho com as emoções, Decroly defendia um ensino voltado ao intelecto e é

conhecido também por defender rigorosa observação dos alunos a fim de poder classificá-los

e distribuí-los em turmas homogêneas (OLIVEIRA, 2002).

O nome da médica psiquiatra italiana Maria MONTESSORI (1879-1952) inclui-se

também na lista dos principais construtores de propostas sistematizadas para a educação

infantil no século XX. Ressaltando o aspecto biológico do crescimento e desenvolvimento

infantil, a autora teve como marca distinta a elaboração de materiais adequados à exploração

sensorial pelas crianças e específicos ao alcance de cada objetivo educacional (Montessori,

s/d).

Oliveira (2002) afirma que no início do século XX, não só era dominante a

preocupação de encaminhar as concepções sobre a infância a um estudo mais rigoroso,

científico e integrado como também os valores sociais produzidos no embate de problemas

políticos e econômicos eram defendidos como metas para a educação infantil.

Atualmente, o reconhecimento do significado da infância e dos direitos da criança em

seus primeiros anos de vida vem sendo tratado como assunto prioritário por governos,

organismos internacionais da sociedade civil, em um número crescente de países em todo o

mundo, segundo o índice de Desenvolvimento Infantil (IDI, 2006), pois é consenso entre os

especialistas que os primeiros anos de vida são caracterizados por um rápido e significativo

desenvolvimento físico e mental, que são alicerces das capacidades cognitivas e emocionais

futuras. Neste contexto, os serviços de educação infantil assumem um papel importante e, em

18

complementação à ação da família, devem proporcionar condições adequadas de

desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social da criança. Oliveira (2002) afirma que

muitas das creches e pré-escolas estão preocupadas com a construção de uma proposta

pedagógica, que julgam progressista, orientada primordialmente para o desenvolvimento

cognitivo. Este, no entanto, é entendido por elas de modo muito restrito, ignorando-se, por

exemplo, a função do afeto neste processo, pois é comum prevalecer a idéia da educação

infantil como preparatória para o ensino fundamental, o que tem levado a políticas públicas de

garantia de vagas para crianças com idade próxima dos 6 anos, em detrimento das menores,

particularmente os bebês.

O recorte em favor da família como a matriz educativa preferencial aparece também

nas denominações das instituições de guarda e educação da primeira infância, pois, de acordo

com Wajskop (2001) o termo francês crèche equivale a manjedoura, presépio, sendo criada

para educar, guardar e abrigar crianças pequenas cujas mães necessitavam trabalhar ou

crianças que necessitavam de assistência. O termo italiano asilo nido indica um ninho que

abriga e a “Escola Materna”, outra designação usada para referir-se ao atendimento de guarda

e educação fora da família a criança pequena.

A instituição de educação infantil pode atuar como agente de construção de

conhecimentos elaborados pelo conjunto das relações sociais presentes em determinado

momento histórico. Porém, isto deve ser feito na vivência cotidiana com parceiros

signifiacativos, quando modos de expressar sentimentos em situações particulares, de

recordar, de interpretar uma história, de compreender um fenômeno da natureza transmitem à

criança novas maneiras de “ler” o mundo e a si mesma (Oliveira, 2002). A definição de uma

prosposta pedagógica, ainda de acordo com a autora, deve considerar a importância dos

aspectos socioemocionais na aprendizagem e a criação de um ambiente interacional rico em

situações que provoquem a atividade infantil, a descoberta, o envolvimento em brincadeiras e

explorações com companheiros, devendo priorizar o desenvolvimento da imaginação, do

raciocínio e da linguagem, como instrumentos básicos para a criança se apropriar de

conhecimentos elaborados em seu meio social, buscando explicações sobre o que ocorre à sua

volta e consigo mesma, além de receber cuidados de saúde e higiene.

O espaço criado para a criança deve estar organizado de acordo com a faixa etária da

criança, isto é, propor desafios cognitivos e motores que a farão avançar no desenvolvimento

de suas potencialidades. Deve estar povoado de objetos que retratem a cultura e o meio social

em que a criança está inserida. Reconhecendo que a criança é fortemente marcada pelo meio

social em que se desenvolve, e que também deixa suas próprias marcas neste meio, que

19

tem a sua família como o seu principal referencial, apesar de todas as relações que

ocorrem em todos os níveis sociais, o espaço infantil deve priorizar remeter a história da

criança para o seu contexto e através disto promover a troca de saberes entre as crianças.

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, vol 1, p. 21-22):

“as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas sim, fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressifignificação”.

As interações que ocorrem dentro dos espaços são de grande influência no

desenvolvimento e aprendizagem da criança.

De acordo com o IDI (2006), a educação da criança nesta etapa inicial do ciclo de vida

não é apenas um direito de cidadania, configura-se como essencial para que seja possível

assegurar uma vida digna a todas as crianças brasileiras. A garantia do dieito à educação em

creches e pré-escolas públicas de qualidade é um dos aspectos mais importatntes para se

construir uma sociedade mais igualitária. E ela deve Assim, cada vez mais a educação infantil

se afirma com o nível inicial do processo educacional. É o que sustenta a Declaração Mundial

sobre Educação para todos, de 1990, aprovada em Jontien, na Tailânia, ao firmar que a

aprendizagem se inicia com o nascimento. Dez anos mais tarde, no Forum Mundial de

Educação, realizado em Dakar, Senegal (2000), entre as metas fixadas encontravam-se a

expansão e o aprimoramento da assistência e educação da primeira infância, espcialmente

para as crianças mais vulneráveis e desfovorecidas.

Assim, a relevância atribuída recentemente à saúde, à assistência e à educação da

criança corresponde, portanto, ao reconhecimento do papel crucial dos primeiros anos de vida,

no desenvolvimento integrado das potencialidades psíquicas do ser humano, não apenas no

que diz respeito as dimensões intelectuais e cognitivas, mas também ao equilíbro emocional e

à sociabilidade, essenciais para a formação da pessoa e do cidadão, de acordo com o Plano

Nacional de Educação (PNE, 2001), do Ministério da Educação (MEC).

Educar para a cidadania, para Oliveira (2002), envolve a formação de atitudes de

solidariedade para com os outros, particularmente com aqueles em dificuldade de supareção

de atitudes egoístas; implica em fazer gestos de cortesia, preservar o coletivo, responsabilizar-

se pelas próprias ações e discutir aspectos éticos envolvidos em determinada situação. Com

isso, a situação educativa torna-se o ambiente ideal para o cultivo da tolerância, do combate a

preconceitos e do aprendizado com base nas diferenças.

20

2.3 A criança e seu desenvolvimento

As transformações na sociedade contemporânea têm ocasionado mudanças na

concepção de infância, como vistas no capítulo anterior, considerada etapa fundamental no

processo de construção da cidadania, agindo hoje como realidade social (Índice de

Desenvolvimento Infantil, Brasil, IDI, 2006).

Embora, como cita Mussen (1979), a atividade de pesquisa sobre socialização e

desenvolvimento social e da personalidade infantil, tratam-se de tópicos como papéis sexuais,

os determinantes familiares de agressão das crianças e de orientações pró-sociais, as

interações com colegas e sua influência no comportamento social das crianças, além do efeito

dos meios de comunicação de massa sobre o desenvolvimento.

De acordo com o autor, o desenvolvimento é um processo contínuo que começa junto

com a vida, isto é, na concepção; o óvulo fertilizado, que é uma única célula, divide-se e

subdivide-se rapidamente, e em pouco tempo milhões de células se terão formado. Ele relata

que o desenvolvimento humano ocorre de acordo com certo número de princípios gerais, que

serão apresentados a seguir:

O primeiro princípio tem como base o crescimento e as mudanças no comportamento

que são ordenados e ocorrem em seqüências invariáveis. Toda criança consegue sentar-se

antes de ficar em pé, fica em pé antes de andar e desenha um círculo antes de poder desenhar

um quadrado, entre tantos outros exemplos.

O segundo traz que o desenvolvimento é padronizado e contínuo, mas nem sempre

uniforme e gradual, pois há períodos de crescimento físico muito rápido e de incrementos

extraordinários nas capacidades psicológicas. Como a altura e o peso dos bebês, que

aumentam enormemente no primeiro ano, e os órgãos genitais que se desenvolvem muito

lentamente durante a infância, mas de modo muito rápido durante a adolescência.

O terceiro princípio trata das interações complexas entre a hereditariedade e o

ambiente (a experiência) que regulam o curso do desenvolvimento humano. Muitos aspectos

físicos e da aparência são fortemente influenciados por fatores genéticos – sexo, cor de olhos

e da pele, forma do rosto, peso e altura. No entanto, fatores ambientais podem exercer forte

influência mesmo em algumas dessas características que são basicamente determinadas pela

hereditariedade; especialmente a alimentação e as condições de vida afetam o físico e a

rapidez do crescimento.

21

No quarto princípio, o autor ressalta que todas as características e capacidades do

indivíduo, assim como as mudanças de desenvolvimento, são produtos de dois processos

básicos: a maturação (mudanças orgânicas neurofisiológicas e bioquímicas que ocorrem no

corpo do indivíduo e que são relativamente independentes de condições ambientais externas,

de experiências ou práticas (como o crescimento pré-natal e as mudanças na estrutura do

sistema nervoso) e a experiência (aprendizagem e treino, como o desenvolvimento das

habilidades motoras e o desenvolvimento cognitivo).

O quinto trata das características de personalidade e respostas sociais que são em

grande proporção resultado de experiência e prática, sendo então, aprendidos. Esta

aprendizagem vem sendo uma das áreas centrais das pesquisas em psicologia, e alguns

príncipios importantes foram estabelecidos: o condicionamento clássico parte da

aprendizagem da criança que ocorre através do condicionamento ou da formação de novas

associações entre estímulos e respostas; o condicinamento operante ou instrumenal uma

resposta que já está no repertório da criança é recompensada ou reforçada – seja por alimento,

prazer, aprovação ou alguma outra recompensa material; e este repertório comportamenal

expande-se através da aprendizagem por observação, em que a criança, após uma resposta ter

se associado a um estímulo, tem a probabilidade de transferir tal resposta a situações similares

(assim, não tem que aprender a responder a cada situação nova).

O sexto príncipio geral interfere no desenvolvimento humano havendo períodos

críticos no desenvolvimento de certos órgãos do corpo e certas funções psicológicas. Caso

ocorra interferências no desenvolvimento normal durante esses períodos é possível que haja

deficiências ou disfunções permanentes. Por exemplo, há períodos críticos no

desenvolvimento do coração, olhos, rins e pulmões do feto e se o curso do desenvolvimento

normal for interrompido a criança pode sofrer um dano orgânico permanente.

O sétimo e último príncípio se baseia nas experiências das crianças, que em qualquer

etapa do desenvolvimento afetam o seu desenvolvimento posterior. Como no caso da criança

que recebe pouco afeto, amor e atenção no primeiro ano de vida não desenvolverá a

autoconfiança e nem a confiança nos outros no início da vida, e provavelmente se tornará, na

adolescência, uma pessoa desajustada e emocionalmente instável.

O desenvolvimento humano, portanto, depende, em larga medida, de aprendizagens e

de experiências e para entendermos estes processos devemos conhecer as necessidades, as

capacidades sensoriais e as potencialidades de respostas das quais o indivíduo parte no início

da vida (MUSSEN, 1979).

22

O período da infância é subdividido em fases ou estágios, cada um deles com

características próprias, durante os quais a criança vê o mundo e age de modo diferente,

interage com as pessoas e o ambiente de forma diferente e está preocupada com questões

novas (Montardo, 2009).

O autor diz ainda que, em linhas gerais, os estágios mantêm uma seqüência estável,

nenhum é omitido, cada um é uma sequência do anterior e base para o seguinte, sendo que,

apesar de cada fase ter uma idade aproximada durante a qual deve ocorrer, cada criança tem o

seu próprio ritmo. Portanto, mesmo considerando que a sequência é sempre a mesma (todos

passam por todas as fases), há variações individuais que dependem de características pessoais,

estímulos,etc.

Conhecer as características de cada fase, de acordo com Montardo (2009), ajuda a

identificar o que é normal e os desvios da normalidade. Assim, o hábito do bebê levar tudo o

que estiver ao seu alcance à boca, a contestação dos limites, a insistência em responder todas

as perguntas com um “não”, vivenciar fantasias, manipular os órgão genitais, manifestar uma

curiosidade insaciável evidenciada pelo insistente “por quê?”, gostar de fazer coleções, entre

tantas outras, são características transitórias e serão abandonadas na fase seguinte.

Para Mussen (1979), a linguagem possui um papel fundamental no desenvolvimento

da criança; ela é parte indispensável da aprendizagem, pois é base de toda a comunicação

social. Ele afirma que muitos psicólogos norte-americanos e russos, como Vygotsky,

sustentavam que o desenvolvimento do pensamento depende da linguagem, o que se

contrapõe com o ponto de vista de Piaget, que considera que a linguagem desempenha um

papel limitado, embora importante, na formação do pensamento da criança, ou seja, a

linguagem não modela o pensamento, e este implica muito mais do que a linguagem. Em

resumo, o autor cita que embora para Piaget a linguagem seja usada muitas vezes no

pensamento, é possível pensar sem ela.

No entanto, a linguagem uma vez adquirida se torna o mais importante dos nossos

sistemas simbólicos facilitando o pensamento, o raciocínio, a formação de conceitos, a

aprendizagem e a lembrança. Mussen (1979) afirma que “As crianças pronuciam sua

primeira palavra aos 12 meses de idade...” (p. 50), mesmo que esta palavra seja

habitualmente uma sílaba simples ou duplicada, ela se refere a alguma pessoa, animal ou

objeto muito importante para ela. Por volta dos 18 meses , os bebês de todas as culturas

começam a juntar palavras em sentenças simples ou primitivas. O autor cita exemplos como:

“onde cachorro”, “mais leite”, “lá sapato” (p.50) .

23

Por volta dos três anos, as crianças têm um acentuado desenvolvimento nas áreas de

linguagem (Montardo, 2009), enunciando sentenças que já revelam amplo domínio das

estruturas da língua, muito parecido com o do adulto.

Mussen (1979) por sua vez nos traz que conforme a linguagem da criança se torna

mais complexa novos processos cognitivos aparecem e suas habilidades intelectuais

aumentam. “O segundo grande período de desenvolvimento intelectual, de acordo com

Piaget, é o pré-operacional, que se estende de, aproximadamente, um ano e meio até os sete

anos.” (p. 53). Ao final do primeiro período do desenvolvimento cognitivo, o sensório-motor,

a criança é capaz de manipular objetos e os usa como meios para atingir objetivos, mas todo o

seu pensamento e raciocínio é limitado a objetos e eventos que estão presentes imediatamente.

Ao contrário do pré-operacional, em que a criança começa a usar símbolos mentais (imagens

ou palavras) que estão no lugar ou representam objetos que não estão presentes, o autor nos dá

como exemplos, brincadeiras simples de crianças como: “... uma bicicleta pode ser um avião,

uma caixa torna-se uma casa e um pedaço de pano pode ser um manto.” (p.54).

Para Montardo (2009), na primeira parte do estágio pré-operacional, entre dois a

quatro anos, a criança desenvolve a capacidade para usar símbolos em pensamentos e ações e

consegue lidar melhor com conceitos como idade, espaço, tempo e moralidade. Entretanto,

não separa ainda o real do irreal e grande parte do seu pensamento é egocêntrico (é incapaz de

considerar o ponto de vista de outras pessoas). Sendo também incapaz de manipular

problemas de ordenação, Mussen (1979):

“... em um estudo de Piaget, as crianças receberam dez

varetas que diferiam somente em tamanho. Pediu-se-lhes que escolhessem a vareta menor. Depois disso, foi dito às crianças: ‘Agora, coloquem em primeiro lugar a menor, depois aquela que é um pouco maior, depois outra maior, e assim por diante. ’ Crianças de quatro anos não conseguiram resolver este problema...” (p. 55).

O próximo grande período do desenvolvimento cognitivo, que Mussen (1979) o

caracteriza como “período dos operações concretas”, começa aproximadamente aos sete

anos de idade. As crianças adquirem o conceito de conservação ou princípio de invariância,

segundo Piaget. Percebem que a quantidade de argila que fora modelada em uma bola, não

muda somente porque a forma mudou. Adquirem também o conceito de reversibilidade, que

para Mussen (1979) se caracteriza pela idéia de que, nos pensamentos, as etapas podem ser

retomadas, as ações podem ser canceladas e a situação original pode ser restaurada.

24

As crianças que estão no período operacional são bem sucedidas em tarefas nas quais

falham as pré-operacionais. Podem escolher objetos baseados em características como forma,

cor e tamanho, e compreendem as relações. Por exemplo, entendem que um objeto pode

pertencer simultaneamente a classes e a subclasses. Enquanto que as crianças do pré-

operacional pensam em termos absolutos (claro ou escuro, grande ou pequeno) e não parecem

compreender termos relacionais.

Com relação à personalidade Mussen (1979) afirma que o seu desenvolvimento é um

processo muito complexo, que é moldado por fatores inter-relacionados que operam,

interagem e afetam simultaneamente esse desenvolvimento. Sendo a personalidade um

conceito que se refere à organização permanente das predisposições do indivíduo, de seus

traços característicos, motivações, valores e modos de ajustamento ao ambiente.

Do ponto de vista do desenvolvimento da personalidade, o aspecto mais significativo

do mundo de uma criança é seu ambiente social. Pois cada sociedade possui uma cultura

distinta, ou seja, um conjunto de conhecimentos acumulados, modos característicos de pensar

e sentir, atitudes, objetivos e ideais. Mussen (apud C. Kluckhohn, 1949) traz que :

“A cultura regula nossas vidas a todo momento. Do momento

em que nascemos até a morte, estejamos conscientes disso ou não, há uma pressão constante sobre nós que nos leva a seguir certos tipos de comportamentos que outros homens criaram para nós”(p. 84).

Outro fator que Mussen (1979) considera o mais crítico sobre o desenvolvimento da

personalidade é o histórico das experiências da criança com outros, sobretudo com os

membros da própria família, pois a primeira aprendizagem social da criança ocorre em casa.

Ao que tudo indica, os bebês sentem-se seguros pela presença de pessoas que cuidam deles e

pela oportunidade de estar em contato com as mesmas. Uma vez que, educados em ambientes

emocionalmente frios e não estimuladores – por exemplo, em instituições onde o cuidado é

apenas rotineiro e há pouca atenção individual – não formam, prontamente, apego em relação

a outras pessoas, tendendo a ser passivos, quietos, inativos, infelizes e emocionalmente

pertubados.

O próximo fator importante na determinação do comportamento e das características

da criança é o biológico, no qual se incluem dotação genética, temperamento, aparência física

e taxa de maturação. A aparência física pode ter impacto indireto sobre a personalidade e a

autoconfiança.

25

O último tipo de influência sobre o comportamento manisfesto e sobre as

características de personalidade é a situação, ou seja, os estímulos que estão atingindo

diretamente o indivíduo em uma ocasião particular. As outras pessoas que estão presentes, os

sentimentos da criança em um determinado momento (em conseguência de fatores como

cansaço, frustação, ansiedade, calma ou bom humor), as recompensas imediatas e os castigos

iminentes afetam as características da personalidade e as predisposições que a criança irá

manifestar (MUSSEN, 1979).

Durante o segundo ano de vida, emergem novas e importantes habilidades linguísticas,

motoras e cognitivas. Aumenta a compreensão do mundo por parte da criança e sua

capacidade de pensar e resolver problemas se aprimoram. Ela investiga o ambiente e testa

suas novas aptidões.

Pais que exercem controle, são exigentes, mas ao mesmo tempo calorosos, racionais,

comunicativos e receptivos, seus filhos serão amadurecidos, competentes e autoconfiantes. No

qual, tal educação implica no equilíbrio entre amor e controle, grandes exigências,

comunicações claras e encorajamento da exploração independente por parte da criança. Pais

de crianças descontentes, retraídas e desconfiadas, são desapegados e altamente controladores,

menos carinhosos e mais punitivos. Enquanto que pais permissivos, ou seja, calorosos,

carinhosos e fornecedores de apoio, mas inclinados à superproteção e à uma disciplina

relaxada, fazendo poucas exigências aos filhos, e quase nada para encorajar a indepêndencia,

educarão crianças com pouca autoconfiança e autocontrole. É o que demonstra estudos feitos

por Diana Baumrind, do Instituto do Desenvolvimento Humano da Universidade da

Califórnia, segundo Mussen (1979).

Como ressaltamos anteriormente, muitos padrões de repostas, caracteríticas, atitudes e

motivos das crianças são adquiridos em decorrência da aprendizagem social e de recompensas

obtidas no lar. Entretanto, outros padrões de comportamento, bem como outras tendências

motivacionais e emocionais, parecem ser adquiridos espontaneamente, é o que Mussen (1979)

nos traz como sendo a identificação. Este é um mecanismo fundamental do desenvolvimento

da personalidade e socialização, podendo ser considerado como um impulso ou motivo

aprendido para ser semelhante a outro indivíduo. Quando a criança se identifica com alguém,

pensa, comporta-se e sente como se as características da outra pessoa fossem as suas; essa

identificação implica na aprendizagem por observação. Identificando-se com os pais, as

crianças adquirem muitos de seus modos de se comportar, pensar e sentir, e como são

representantes de sua cultura, a identificação com eles fornece-lhes habilidades, qualidades

26

temperamentais, atitudes, motivos, ideais, valores, tabus e princípios morais apropriados para

o seu grupo social.

No entanto, paralelamente à expansão de seu mundo social, as crianças, descobrem

outros modelos de identificação entre seus colegas, professores, heróis de ficção da televisão.

Tentam então, incorporar seus comportamentos, suas características e ideais, obtendo uma

personalidade baseada numa longa série de identificações.

27

3. Procedimentos Metodológicos

Considerando os objetivos desta pesquisa, foi realizado um levantamento bibliográfico

que favoreceu todo o percurso da pesquisa, e foram coletados dados através de entrevistas

estruturadas (Apêndice I, II e III) realizadas com três educadoras da Educação Infantil.

Portanto foi realizada uma pesquisa qualitativa que, segundo Bogan e Biklen (apud LUDKE;

ANDRÉ, 1982), envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do

pesquisador com a situação estudada, enfatizando mais o processo do que o produto que se

preocupa em relatar a perspectiva dos participantes.

Ainda de acordo com Ludke e André (1986), a entrevista permite a captação imediata

e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os

mais variados tópicos.

Duas educadoras eram de escolas particulares e uma de escola pública. Categorizamo-

as por Educadora A, Educadora B e Educadora C. A entrevista com a educadora A não está na

íntegra, pois não houve a possibilidade de se gravar a mesma, por motivo de incômodo por

parte da entrevistada. A entrevista com a Educadora B está na íntegra e a Educadora C

preferiu que fosse entregue as perguntas à ela escritas em uma folha, para que pudesse

respondé-las à mão, em outro horário e local mais apropriado.

Foi feita uma análise de conteúdo das falas das educadoras juntamente com o

levantamento bibliográfico, ocorrendo assim maior compreensão do objeto de estudo. Para

haver um maior entendimento da análise, foram criadas duas categorias: “Significado do

lúdico” e “O espaço do lúdico nas creches e pré-escolas”, dentre as quais estão as respostas

das educadoras.

Levamos em consideração que não haveria espaço mais apropriado para este estudo,

uma vez que a proposta da pesquisa era conhecer a visão de educadores sobre o lúdico no

contexto onde as ações se realizam.

28

4. Resultados e Análise

A análise dos dados exigiu, inicialmente, repetidas idas e vindas do material coletado,

leituras e releituras das falas das participantes da pesquisa, a fim de que no momento seguinte

pudéssemos reunir as informações com um sentido comum, isto é, elementos com

características comuns, lembrando que Bardin (2004, p. 108) recomenda “desconfiar das

evidências”. Através destes procedimentos foram construídas as categorias de análise dentre

as quais trazemos à discussão: Significado do lúdico e o Espaço do lúdico nas creches e pré-

escolas.

Para a categoria Significado do lúdico tivemos as respostas das seguintes perguntas:

Em sua opinião, o que o lúdico significa?

Em que sentido o lúdico favorece a criança?

Cada uma das educadoras, a seu modo, expôs seu ponto de vista.

“Ele transforma a situação de uma maneira mais significativa para a criança, usando a fabulação, a imaginação”. “O lúdico é tudo que envolve o brincar, não só com materiais concretos, mas a criação deles. Tudo que as crianças fazem que desenvolva o corpo, a mente,...” “ O ato de brincar estimula o uso da memória, facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, etc.”.

As respostas mostram que as educadoras concebem o lúdico como importante para o

desenvolvimento da criança em todos os sentidos e também para a aprendizagem em geral.

O aspecto afetivo foi destacado.

“O lúdico é muito abrangente, ele está relacionado ao brincar, mas não é só isso; tem uma relação de prazer, de desejo, com uma necessidade de descoberta”.

Indo ao encontro com o que nos traz Montessori sobre a utilização de brincadeiras e

jogos nos processos pedagógicos que faz despertar o gosto pela vida e leva as crianças a

enfrentarem os desafios que surgirem. Assim como, afirma Teixeira (1995) dizendo que o

lúdico é prazeroso, pois envolve a criança de forma intensa e total criando um clima de

entusiasmo.

29

O lúdico como agente de socialização foi situado de forma significativa.

“Ele também diminui o egocentrismo das crianças, pois nas brincadeiras elas começam a conviver melhor umas com as outras”.

“... desenvolve a expressão oral e corporal, reforça habilidades sociais, reduz a agressividade, integra-se na sociedade e constrói seu próprio conhecimento”.

O lúdico possibilita o estudo da relação da criança com o mundo externo, pois através

dele, o indivíduo forma conceitos, seleciona idéias, estabelece relações lógicas, integra

percepções e vai se socializando (Kishimoto, 1994). Fantin (2000) também comenta que o

lúdico ajuda no desenvolvimento da confiança em si mesmo e em situações sociais, ajuda a

julgar as muitas variáveis presentes nas interações sociais.

Também foi apontada a questão da relação entre o lúdico e a aprendizagem.

“Em tudo, sem o lúdico não tem progresso. As crianças, sem a partir do brincar, do criar, do desenvolver, não vão conseguir chegar a ponto concreto nenhum, a parte concreta de aprendizado nenhum”.

Tal fala justifica-se com o que diz Teixeira (1995), em que a situação lúdica mobiliza

esquemas mentais. Sendo uma atividade física e mental, pois aciona e ativa as funções psico-

neurológicas e as operações mentais, estimulando o pensamento. E, segundo Horn (2004) o

lúdico satisfaz as necessidades básicas de aprendizagens das crianças, como, por exemplo, as

de escolher, imitar, dominar, adquirir competências, ou seja, ser um agente ativo em um

ambiente seguro, o qual encoraje e consolide o desenvolvimento de normas e valores sociais.

Para a categoria Espaço do lúdico nas creches e pré-escolas tivemos as perguntas:

Na prática, como o lúdico é trabalhado na escola?

Quais recursos você acha que são necessários para se trabalhar o lúdico?

A Educadora A nos relata em sua fala, um pouco da inserção do lúdico no ambiente

escolar.

“Em todos os contextos, o lúdico está presente o tempo todo. Seja para fazer a higiene da criança ou as atividades em sala e até mesmo o nosso espaço foi todo elaborado para promover desde a autonomia até a movimentação, o mexer, o tocar,...”.

30

O que vai ao encontro com a idéia de Oliveira (2002) quando nos traz que os cuidados

ministrados nas creches e pré-escolas incluem também a criação de um ambiente que garanta

segurança física e psicológica às crianças e que lhes assegure oportunidades de exploração e

de construção de sentidos pessoais, além da preocupação com a forma pela qual elas estão se

percebendo como sujeitos. O espaço criado para a criança deverá estar organizado de acordo

com a faixa etária da criança, isto é, propondo desafios cognitivos e motores que a farão

avançar no desenvolvimento de suas potencialidades.

Além disso, o espaço deve estar povoado de objetos que retratem a cultura e o meio

social em que a criança está inserida, como vimos no capítulo anterior.

Reconhecendo que a criança é fortemente marcada pelo meio social em que se

desenvolve, e que também deixa suas próprias marcas neste meio, que tem a sua família como

o seu principal referencial, apesar de todas as relações que ocorrem em todos os níveis sociais,

o espaço infantil deve priorizar remeter a história da criança para o seu contexto e através

disto promover a troca de saberes entre as crianças, comenta Kishimoto (2002).

As Educadoras B e C contam brevemente como é o espaço para o lúdico na escola

em que trabalham.

“Nosso ponto principal é o lúdico, a gente sempre parte do lúdico. Todas as atividades que a gente vai dar para a criança a gente começa com o lúdico, então até nos roteiros quando eu estou montando eu escrevo assim: ‘Iniciar atividade com o lúdico’, dou sugestões de brincadeiras, de jogos, de materiais pedagógicos ou não, que eles vão participando... então todo o momento o lúdico está presente nas atividades da educação infantil”.

“O lúdico aparece em todas as atividades desenvolvidas, quando preparamos as atividades, elas já trazem em si uma intencionalidade, seja no brincar livre ou dirigido”. Como vimos anteriormente, a Educação Infantil deve considerar a criação de um

ambiente interacional rico em situações que provoquem a atividade infantil, a descoberta, o

envolvimento em brincadeiras e explorações com companheiros, devendo priorizar o

desenvolvimento da imaginação, do raciocínio e da linguagem, como instrumentos básicos

para a criança se apropriar de conhecimentos elaborados em seu meio social, buscando

explicações sobre o que ocorre à sua volta.

Concordamos com Oliveira (2002) quando comenta que a partir da atividade lúdica, a

criança passa a compreender as características dos objetos, seu funcionamento, os elementos

da natureza e os acontecimentos sociais. Passando então a se movimentar em direção ao

saber.

31

A participação do educador nesses momentos foi considerada essencial.

“A disponibilidade do educador, não que o educador seja um animador de festa infantil, mas que ele conheça os limites da criança, a faixa etária do grupo que trabalha,tendo interações lúdicas, mas com um objetivo no que se faz”. “O educador tem como papel, ser um facilitador das brincadeiras, sendo necessário mesclar momentos onde orienta e dirige o processo, com outros momentos onde as crianças são responsáveis pelas suas próprias brincadeiras”.

“O importante é o professor estimular a imaginação infantil, para isso o professor deve oferecer materiais dos mais simples aos mais complexos...”

O educador torna-se então, o mediador entre crianças e os objetos de conhecimento,

organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem os recursos e

capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus conhecimentos

prévios. O educador constitui-se portanto, um parceiro mais experiente, cuja função é

propiciar e garantir um ambiente rico, prazeroso, saudável de experiências educativa e social

variadas (CAMPOS, s/d).

Na fala da educadora B observamos, ainda, a participação do educador an atividade

lúdica.

“ Eu lembro que quando eu dava aula para a sala mista, as minhas crianças adoravam brincar com pregador, o que eles montavam com os pregadores era impressionante, a Sueli ficava ‘tiririca’ comigo, ela falava assim: ‘ Com tanto brinquedo que tem aqui você dá os pregadores para eles brincarem?!’ e eu respondia para ela ‘Dá os brinquedos que eles vão brincar 15 minutos...’ Mas se desse a caixa com os pregadores, eles brincavam meia hora, quarenta minutos....”.

O que observamos neste relato é que muitas vezes o educador, tem a visão de que

proporcionar a criança o brincar é deixá-la fazer o que quer e onde quer, sem considerar a

brincadeira como um processo de organização, de recíproca, de troca de saberes. Cabe ao

educador então, confiar nas crianças e valorizar o seu agir contribuindo para ampliação das

descobertas e não apenas estar ao seu lado permitindo toda e qualquer ação. O educador deve

considerar a brincadeira segundo o Referencial Curricular Para a Educação Infantil (1998, vol

1, p. 28): “como um meio de poder observar e constituir uma visão dos processos de

desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada uma em particular, registrando suas

32

capacidades de uso das linguagens, assim como suas capacidades sociais e dos recursos

afetivos e emocionais que dispõe”.

A pesquisa mostrou que o espaço para o lúdico é disponibilizado às crianças o tempo

todo, ele acompanha a rotina delas, juntamente com a aprendizagem.

33

5. Considerações Finais

A pesquisa realizada sobre “A visão de educadores infantis sobre o lúdico” foi de

grande importância, enriquecendo nossa vida acadêmica e nosso futuro profissional.

De acordo com os dados obtidos a partir da visão dos entrevistados, constatamos que o

lúdico exerce um papel importante na aprendizagem das crianças, nesse sentido o lúdico pode

contribuir de forma significativa para o desenvolvimento do ser humano, auxiliando não só na

aprendizagem, mas também no desenvolvimento social, pessoal e cultural, facilitando no

processo de socialização, comunicação, expressão e construção do pensamento, além do

educador exercer um importante e fundamental papel nesse processo.

A partir do exposto pudemos concluir que os educadores entrevistados “obtém”

conhecimento sobre o tema, e que desmistificam o papel do “brincar”, que não é apenas um

mero passatempo, mas sim um objeto de grande valia na aprendizagem e no desenvolvimento

das crianças.

Vale ressaltar, porém, que o lúdico não é a única alternativa para a melhoria no

intercambio ensino-aprendizagem, mas é uma ponte que auxilia na melhoria dos resultados

por parte dos educadores interessados em promover mudanças.

Sendo assim a escola e, principalmente, a educação infantil deveria considerar o lúdico

como parceiro e utilizá-lo amplamente para atuar no desenvolvimento e na aprendizagem das

crianças.

34

6. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Anne. Ludicidade como instrumento pedagógico. Disponível em:

http://www.cdof.com.br/recrea22.htm. Acesso em 29 de março de 2010.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2004.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional. Lei n° 9.394/96, publicada no DOU de 23/12/1996, Seção I, p. 27839. São

Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1996.

_______ Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental.

Referencial curricular nacional para educação infantil . Brasília: MEC/SEF, 1998. v.

I, II, III.

_____Ministério da Educação e do Desporto. Censo Escolar. Brasília: Inep, 1999 e 2004.

_______ Ministério da Educação e do Desporto. Plano Nacional de Educação. Brasília, 2001

CAMPOS, M. C. R. M. A importância do jogo no processo de aprendizagem.

Disponível em: http://www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?entrID=39.

Acesso em 19 de março de 2010.

FANTIN, M. Jogos e brinquedos e brincadeiras – A cultura lúdica na educação infantil. In:

Síntese da qualificação da educação infantil. Florianópolis: Prefeitura Municipal de

Florianópolis. Secretaria Municipal de Educação: 2000.

HORN, Maria da Graça de Souza. Sabores, cores, sons, aromas. A organização dos espaços

na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

KISHIMOTO, T. M. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. 6. ed. São Paulo:

CORTEZ, 1994.

KISHIMOTO, T. M. (ORG). O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 2002.

35

LUDKE, M.; ANDRÉ, A. D. E. Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas.

São Paulo: EPU, 1986.

MONTARDO, J. Desenvolvimento da criança: entre os três e os cinco anos. Disponível

em: http://montardo-ap.blogspot.com/2009/05/desenvolvimento-da-crianca-entre-os.html.

Acesso em 15 de abril de 2010.

MONTESSORI, M. A criança. Rio de Janeiro: Nórdica, s/d.

MUSSEN, H. P. O desenvolvimento psicológico da criança. Nova Jersey: Guanabara, 1979.

NEVES, Lisandra Olinda Roberto. O lúdico nas interfaces das relações educativas.

Disponível em: http://www.centrorefeducacional.com.br/ludicoint.htm. Acesso em 20 de

março de 2010.

NUNES, Ana Raphaella Shemany. O lúdico na aquisição da segunda língua. Disponível

em: http://www.linguaestrangeira.pro.br/artigos_papers/ludico_linguas.htm. Acesso em 17 de

março de 2010.

OLIVEIRA, V.B. (ORG). Introdução In: O brincar e a criança do nascimento aos seis

anos. Petrópolis: Vozes, 2000.

OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. São Paulo:

Cortez, 2002.

TEIXEIRA, Carlos E. J. A ludicidade na escola. São Paulo: Loyola, 1995.

TEZANI, Thaís Cristina Rodrigues. O jogo e os processos de aprendizagem e

desenvolvimento: aspectos cognitivos e afetivos. 2004. Disponível em:

http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=621. Acesso em 22 de março de

2010.

UNICEF. Situação da infância brasileira, 2006.

36

VELASCO, Cacilda Gonçalves. Brincar: o despertar psicomotor. Rio de Janeiro: Sprint

Editora, 1996.

WAJSKOP, G. Brincar na pré-escola. São Paulo:Cortez, 2001.

37

Apêndice I – Entrevista educadora A

1) Em sua opinião, o que o lúdico significa?

“O lúdico é muito abrangente, ele está relacionado ao brincar, mas não é só isso;

tem uma relação de prazer, de desejo, com uma necessidade de descoberta. Tem

um desafio propulsor do desejo, é vivenciar situações mais intensamente. Por

exemplo, você fala para a criança que precisa trocar a fralda ou tomar banho ou

escovar os dentes, ela não vai querer parar de brincar para fazer isso, mas se

você falar de uma outra maneira, brincando com a imaginação dela, ela vai

aceitar melhor e vai gostar do que esta fazendo. Falar por exemplo assim: ‘Olha

este meu óculos grande, nossa você não sabe o que estou vendo daqui! Um monte

de bichinhos verdes no dente, vamos pegar esta escova e tirar todos eles daí...

chocchocchocchoc...’ Coisas assim, você encontra uma maneira de se conectar

com a criança”.

2) Em que sentido o lúdico favorece a criança?

“Ele transforma a situação de uma maneira mais significativa para a criança,

usando a fabulação, a imaginação. Tem um texto muito interessante do Lino

Macedo que fala sobre isso, ele se chama: O lúdico nos processos de ensino e

aprendizagem. Ele também diminui um pouco o egocentrismo das crianças, pois

nas brincadeiras elas começam a conviver melhor umas com as outras”.

3) Na prática, como o lúdico é trabalhado na escola?

“Em todos os contextos, o lúdico está presente o tempo todo. Seja para fazer a

higiene da criança ou as atividades em sala e até mesmo o nosso espaço foi todo

elaborado para promover desde a autonomia até a movimentação, o mexer, o

tocar, fazendo com que a criança tenha acesso a diferentes objetos, mas com um

certo limite, pensando na segurança da criança em primeiro lugar”.

4) Quais recursos você acha que são necessários para se trabalhar o lúdico?

“A disponibilidade do educador, não que o educador seja um animador de festa

infantil, mas que ele conheça os limites da criança, a faixa etária do grupo que

trabalha, tendo interações lúdicas, mas com um objetivo no que se faz. Eu escuto

38

todos os dias no rádio, o programa do Eraldo Barbeiro da CBN, ele faz estas

interações lúdicas com os outros apresentadores e com as notícias, dando uma

descontraída para quem esta no trânsito logo cedo, ele brinca com a gente,

diverte”.

39

Apêndice II – Entrevista educadora B

1) Em sua opinião, o que o lúdico significa?

“O lúdico é tudo que envolve o brincar, não só com materiais concretos, mas a

criação deles. Tudo que as crianças fazem que desenvolva o corpo, a mente,...

tudo faz parte do lúdico então, o brincar em todos os sentidos. ”.

2) Em que sentido o lúdico favorece a criança?

“Em tudo, sem o lúdico não tem progresso. As crianças, sem a partir do brincar,

do criar, do desenvolver, não vão conseguir chegar a ponto concreto nenhum, a

parte concreta de aprendizado nenhum. Pois até para produzir uma família

silábica, a gente vai a partir da brincadeira com as crianças, então assim: ‘

vamos ensinar a família do p’, então vamos brincar com pipa, rodar pião. Então

a gente sempre parte do lúdico até para puxar a palavra chave e chegar lá na

alfabetização”.

3) Na prática, como o lúdico é trabalhado na escola?

“Nosso ponto principal é o lúdico, a gente sempre parte do lúdico. Todas as

atividades que a gente vai dar para a criança a gente começa com o lúdico, então

até nos roteiros quando eu estou montando eu escrevo assim: ‘Iniciar atividade

com o lúdico’, dou sugestões de brincadeiras, de jogos, de materiais pedagógicos

ou não, que eles vão participando... então todo o momento o lúdico está presente

nas atividades da educação infantil”.

4) Quais recursos você acha que são necessários para se trabalhar o lúdico?

“Eu acho que desde um botão, um pequeno botão até os materiais mais

elaborados. Eu acho que tudo para a criança vira um brinquedo. Eu lembro que

quando eu dava aula para a sala mista, as minhas crianças adoravam brincar

com pregador, o que eles montavam com os pregadores era impressionante, a

Sueli ficava ‘tiririca’ comigo, ela falava assim: ‘ Com tanto brinquedo que tem

aqui você dá os pregadores para eles brincarem?!’ e eu respondia para ela ‘Dá

os brinquedos que eles vão brincar 15 minutos...’ Mas se desse a caixa com os

pregadores, eles brincavam meia hora, quarenta minutos.... Então, tudo que está

40

em volta de uma criança se torna lúdico, se torna brinquedo, eles criam em cima

de qualquer objeto. Isso que é importante, por mais que você dê um jogo

sofisticado, por exemplo um computador, eles vão brincar com aquele jogo, mas

se você der um montinho de pregador, um montinho de botão, eles vão criar com

aquilo. Então eles brincam sempre, criam com tudo e tudo isso está dentro do

lúdico”.

41

Apêndice III – Entrevista educadora C

1) Em sua opinião, o que o lúdico significa?

“O brincar é uma necessidade do ser humano, mas no âmbito da Educação

Infantil tem um papel de maior importância, o ato de brincar estimula o uso da

memória, facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural,

etc.”.

2) Em que sentido o lúdico favorece a criança?

“Brincar ajuda a criança no seu desenvolvimento físico, afetivo, intelectual e

social, pois, através das atividades lúdicas, a criança forma conceitos, relaciona

idéias, estabelece relações lógicas, desenvolve a expressão oral e corporal,

reforça habilidades sociais, reduz a agressividade, integra-se na sociedade e

constrói seu próprio conhecimento”.

3) Na prática, como o lúdico é trabalhado na escola?

“‘A criança deve ter todas as possibilidades de entregar-se aos jogos e às

atividades recreativas, que devem ser orientadas para os fins visados pela

educação; a sociedade e os poderes públicos deve esforçar-se para favorecer o

gozo desse direito’ (Declaração Universal dos Direitos e Deveres da criança,

1959).

O lúdico aparece em todas as atividades desenvolvidas, quando preparamos as

atividades, elas já trazem em si uma intencionalidade, seja no brincar livre ou

dirigido. O educador tem como papel, ser um facilitador das brincadeiras, sendo

necessário mesclar momentos onde orienta e dirige o processo, com outros

momentos onde as crianças são responsáveis pelas suas próprias brincadeiras. A

criança comunica-se consigo mesma e com o mundo, aceita a existência dos

outros, assim, procuramos garantir nesta EMEI, que a mesma estabeleça

relações sociais, construa conhecimentos, desenvolvendo-se integralmente,

‘crescimento’ global”.

42

4) Quais recursos você acha que são necessários para se trabalhar o lúdico?

“O importante é o professor estimular a imaginação infantil, para isso o

professor deve oferecer materiais dos mais simples aos mais complexos, podendo

os brinquedos e/ou jogos serem fabricados ou reciclados com, por exemplo,

pedaços de madeira, papel, folhas secas, tampas de garrafas, garrafas plásticas,

panos, fantasias, etc. Há também a importância dos cantinhos para

desenvolverem a imaginação, como montar cabanas, tendas de circo, casinhas

etc”.

43

Estou ciente do conteúdo da Monografia “A VISÃO DE EDUCADORES INFANTIS

SOBRE O LÚDICO”.

___________________________________________

Profª Ms. Marcia Regina Vital

(Orientadora – Universidade Presbiteriana Mackenzie)

___________________________________________

Amanda Serafim

(Aluna – Código de Matrícula 4071816-6)

Trabalho a ser apresentado em junho de 2010.