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ESTUDO COMPARATIVO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E ESTRANGEIRA SOBRE A CONCESSÃO E CONTRATAÇÃO DAS ATIVIDADES REFERENTES AO SETOR PETROLÍFERO Álvaro Gustavo Castello Parucker Consultor Legislativo da Área XII Recursos Minerais, Hídricos e Energéticos ESTUDO MARÇO/2001 Câmara dos Deputados Praça dos 3 Poderes Consultoria Legislativa Anexo III - Térreo Brasília - DF

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ESTUDO COMPARATIVO DA LEGISLAÇÃOBRASILEIRA E ESTRANGEIRA SOBRE A

CONCESSÃO E CONTRATAÇÃO DASATIVIDADES REFERENTES AO SETOR

PETROLÍFERO

Álvaro Gustavo Castello ParuckerConsultor Legislativo da Área XII

Recursos Minerais, Hídricos e Energéticos

ESTUDOMARÇO/2001

Câmara dos DeputadosPraça dos 3 PoderesConsultoria LegislativaAnexo III - TérreoBrasília - DF

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ÍNDICE

1. OBJETIVO ................................................................................................................................. 32. ASPECTOS BÁSICOS DA LEGISLAÇÃO PETROLÍFERA ................................................... 33. TIPOS DE AUTORIZAÇÃO LEGAL AO EXERCÍCIO DAS OPERAÇÕES

PETROLÍFERAS ....................................................................................................................... 44. A LEGISLAÇÃO PETROLÍFERA NO QUADRO INTERNACIONAL ................................. 95. CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 22BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................... 26

2001 Câmara dos Deputados.Todos os direitos reservados. Este trabalho poderá ser reproduzido ou transmitido na íntegra, desdeque citados o(s) autor(es) e a Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. São vedadas avenda, a reprodução parcial e a tradução, sem autorização prévia por escrito da Câmara dos Deputados.

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1. Objetivo

O presente trabalho tem por finalidade apresentar um estudo comparativo das legislações bra-

sileira e estrangeira, relativamente à concessão das atividadesconcernentes à indústria petrolífera.

2. Aspectos básicos da legislação petrolífera

Antes de se passar à análise da legislação petrolíferados diversos países do quadro internacional, deve-se fazer umabreve explanação do que se entende por “legislação petrolífera” eseus objetivos, bem como dos documentos legais dela resultantesque autorizam o exercício das várias atividades da indústria petro-lífera.

Por legislação petrolífera deve-se entender toda le-gislação que tenha o intuito específico de regulamentar as opera-ções concernentes ao setor petrolífero, aí compreendendo-se aconstrução e operação de quaisquer instalações petrolíferas, in-clusive condutos, métodos de trabalho e disposições sobre condi-ções de saúde e de segurança dos trabalhadores encarregados detais operações.

ESTUDO COMPARATIVO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA EESTRANGEIRA SOBRE A CONCESSÃO E CONTRATAÇÃO DAS

ATIVIDADES REFERENTES AO SETOR PETROLÍFERO

Álvaro Gustavo Castello Parucker

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Essa definição inclui também a legislação referente à imposição e cobrança de quaisquerencargos ou taxas específicos, relativos aos ganhos obtidos em razão do exercício das atividades daindústria petrolífera, tais como royalties, ou ao pagamento e divisão de quaisquer lucros resultantesdessas atividades, além de cobrir os documentos legais que as autorizam, os quais podem ser licençasou contratos de trabalho, cujo detalhamento se fará mais adiante.

Subsidiariamente à legislação petrolífera propriamente dita, aplicam-se ainda às operaçõesreferentes à indústria petrolífera os textos legais de caráter mais geral que digam respeito ao pagamentode taxas e impostos, à observância das relações trabalhistas e ao pagamento de encargos sociais relati-vos ao exercício de quaisquer atividades econômicas, bem com à proteção ambiental e preservação dosdemais recursos naturais, inclusive quanto à recuperação das áreas ocupadas e utilizadas por essasoperações.

3. Tipos de autorização legal ao exercício das operaçõespetrolíferas

Na legislação petrolífera internacional, existemdois tipos de autorização legal que possibilitam o exercício dasatividades referentes ao setor petrolífero, que são as licenças e oscontratos de trabalho. Tais autorizações diferem não somentequanto ao caráter das partes entre as quais são celebrados, mastambém quanto à sua duração, ao poder decisório na conduçãodas operações e à posse do petróleo ou gás natural obtido comoresultado dessas atividades.

a) Licenças

As licenças, sem equivalente legal no Brasil, são auto-rizações legais outorgadas pela autoridade governamental com-petente, geralmente um ministério, apesar de que em alguns paí-ses as licenças devam ser aprovadas por decisão de seus respecti-vos Parlamentos, revestindo-se do status de uma lei formal.

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Além disso, as licenças podem ter caráter exclusivo ou não-exclusivo. Uma licença não-exclusiva pode ser concedida para trabalhos gerais de geologia e de geofísica em uma dada área – emgeral, de grandes dimensões –, desde que tais operações não envolvam serviços de perfuração; já umalicença exclusiva é outorgada para a realização de operações de exploração, incluindo perfuração,trabalhos de desenvolvimento e produção e entrega dos produtos, sendo que em alguns casos fazem-se necessárias licenças específicas para cada fase, tanto na exploração quanto na explotação.

Quanto à sua duração, as licenças podem ser concedidas por um período único, ou por umperíodo inicial, com direito a uma ou mais prorrogações.

No caso de uma licença combinada para as atividades de exploração, desenvolvimento eprodução, seu período total pode, em geral, atingir a 30 ou 40 anos; por outro lado, uma licença apenaspara atividades exploratórias normalmente não ultrapassa o período de dez anos.

Dentro dos prazos de concessão das licenças, é comum a existência de cláusulas que obri-guem à liberação, em intervalos predeterminados, de partes da área inicialmente concedida; essas áreasdevem possuir um tamanho e forma tais que permitam a sua nova oferta para outro licenciamento.

Também durante o período inicial de uma licença, há a obrigação de se executar um pro-grama mínimo inicial, previamente estabelecido, dependendo a extensão do período da licença doalcançamento dessas metas. O não-cumprimento do programa obrigatório de trabalho, no todo ou emparte, sujeita o licenciado à imposição de penalidades, que podem mesmo chegar ao cancelamento dalicença.

Um outro aspecto importante no tocante às licenças diz respeito à titularidade do petróleoou gás natural que venha a ser produzido. A concessão da licença representa a transferência detitularidade do petróleo produzido do proprietário do petróleo in situ, em geral o Estado ou seurepresentante legal, para o possuidor da licença que, assim, poderá dele dispor ao seu livre-arbítrio.

Cumpre salientar, no entanto, que a posse das jazidas petrolíferas (o petróleo in situ) per-manece com o seu proprietário original, na maioria das vezes, o Estado; há, porém, algumasexceções, como no caso do Estados Unidos, onde o proprietário do solo também é o proprietário dosubsolo, e o da Holanda, onde o proprietário do petróleo in situ passa a ser o detentor da licença que,em geral, é diferente do proprietário das terras.

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b) Contratos de trabalho

Os contratos de trabalho constituem-se em permissões legais para o exercício das ativida-des atinentes ao setor petrolífero neles descritos, sendo em geral firmados entre as companhias petro-líferas contratantes e uma companhia petrolífera estatal e estando sujeitos à aprovação da autoridadecompetente, seja ela um ministério encarregado dos assuntos petrolíferos, de mineração ou de recursosenergéticos, ou mesmo um Parlamento nacional.

Há três tipos principais de contratos de trabalho que são firmados para a prestação deserviços e operações petrolíferas. São eles: contrato de serviço com cláusula de risco, contrato deserviço sem cláusula de risco e contrato de partilha de produção.

A seguir, far-se-á uma breve exposição sobre cada um dos tipos de contrato anteriormentemencionados.

1) Contrato de serviço com cláusula de risco

Este tipo de contrato já foi adotado no Brasil, entre outubro de 1975 e outubro de 1988,quando a Constituição Federal passou a vedar sua utilização no país. Tal vedação perdurou até a pro-mulgação da Emenda Constitucional n° 9, de 1995, que, a partir de novembro daquele ano, eliminoutal proibição da Carta Magna brasileira.

Nesta modalidade, a empresa contratante, isto é, aquela que firma o contrato com a em-presa estatal, obriga-se a fornecer os serviços técnicos necessários à execução das atividades contrata-das, bem como o seu respectivo financiamento, além de assumir completamente os riscos do empreen-dimento.

Disso decorre que no caso de não ser realizada qualquer descoberta de petróleo ou de gásnatural que possa ser comercialmente explotável, nenhuma compensação será devida à empresa con-tratante pelo capital por ela investido e pelos serviços e custos relacionados às suas operações.

No caso favorável, isto é, caso se configurem descobertas comerciais de petróleo e gásnatural e seja efetuada a sua produção, o contratante receberá sua compensação em moeda conversível– geralmente em dólares americanos –, seja pela quantidade produzida e entregue à companhia estatal,seja por uma forma combinada, que consiste no pagamento dos investimentos realizados pelo contra-tante, acrescido de uma remuneração, pelo valor de mercado, de uma parcela do petróleo ou gás naturalproduzido, durante um determinado período; nesta última hipótese, o contratante poderá converter ototal a ser recebido em uma quantidade equivalente do petróleo produzido, avaliado a preços de mer-cado.

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2) Contrato de serviço sem cláusula de risco

Neste tipo, o contratante assume com a empresa estatal o compromisso de prestar servi-ços técnicos de operação e de desenvolvimento de campos de petróleo já descobertos, bem comoprovidenciar o necessário financiamento. O investimento realizado pelo contratante é reembolsado,além de haver a possibilidade do pagamento de um bônus relacionado à produção excedente à plane-jada que tenha sido obtida em razão de trabalhos especiais executados pela empresa contratante nodesenvolvimento dos campos petrolíferos.

Tais contratos são denominados sem cláusula de risco em virtude de não se incorrer emriscos exploratórios e pelo fato de o petróleo já ter sido descoberto; em alguns casos, contudo, podeexistir um considerável risco envolvido nas operações de desenvolvimento dos campos para os quaisforam contratados os serviços.

3) Contratos de partilha de produção

Este tipo de contrato surgiu na Indonésia, no ano de 1966, e desde então tem sido adotadoem diversas partes do mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. Na prática, celebra-seum tipo de contrato para cada caso; existem, entretanto, algumas características básicas e comuns atodos eles, que serão abordadas a seguir.

Os contratos de partilha de produção (production sharing contracts) diferem das licenças porserem documentos que contêm em si próprios todas as condições e regras aplicáveis durante suavalidade, com exceção de algumas regras mais gerais, habitualmente referentes a condições trabalhistas,questões de saúde e segurança e proteção ambiental, constantes de outras normas legais.

Nesta modalidade, a titularidade dos direitos de exploração petrolífera pertence à compa-nhia estatal do país ofertante, que recebe autorização para contratar outras empresas, normalmenteestrangeiras, capazes de realizar as atividades específicas da indústria petrolífera que serão objeto docontrato.

Há alguns casos em que o Estado, representado pelo ministério responsável por essa área,tem participação direta nesses contratos, devendo ocorrer a aprovação de uma lei pelo Parlamento dopaís para aprovar e ratificar o contrato firmado, que adquire então o status de uma lei formal.

A realização das operações técnicas, bem como o seu necessário financiamento, ficam soba responsabilidade da empresa ou empresas contratantes, conforme o estipulado pelas cláusulascontratuais.

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A causa para a denominação de tais contratos como de partilha de produção, ou de produ-ção compartilhada, provém do fato de que, no caso de ocorrerem descobertas comerciais de petróleoe gás natural em virtude dos trabalhos exploratórios efetuados pelas companhias contratantes, a produ-ção delas proveniente será, de hábito, dividida em três parcelas desiguais, cujos valores percentuaisconstam dos termos do contrato. A primeira delas destina-se ao Estado; é o chamado petróleo deroyalty, que em geral está relacionado ao volume da produção.

A segunda parcela, denominada petróleo de recuperação de custos , ou simples-mente petróleo de custo, destina-se ao reembolso dos custos incorridos pelo contratante durante ostrabalhos por ele realizados para a descoberta do petróleo. A descrição dos custos que podem serreembolsados e da maneira pela qual se efetivará o pagamento também devem constar das cláusulascontratuais.

Finalmente, a parcela remanescente, designada petróleo de lucro, é aquela que é dividida,em partes normalmente desiguais, entre a companhia estatal e a contratante; a divisão dessa parcela daprodução petrolífera é a responsável pela designação desse tipo de contrato.

De maneira geral, é permitida a exportação da parcela do petróleo produzido que cabe àempresa contratante (isto é, o petróleo de custo mais a respectiva parcela do petróleo de lucro) mas,em boa parte dos casos, essa liberdade para exportação vincula-se ao atendimento preferencial dasnecessidades domésticas de consumo do país produtor, que pode ter a prioridade – dependendo doque for estipulado nas cláusulas contratuais – para a aquisição de uma quota do petróleo exportávelpela companhia contratante.

A realização das operações abrangidas pelos contratos de partilha de produção pode serválida por um período fixo em anos (por exemplo, 20 ou 30 anos), dentro do qual o desenvolvimentoe a produção de todas as descobertas comerciais efetuadas devem ser realizados.

Também é comum a divisão do período total do contrato em uma fase de exploração eoutra de desenvolvimento. A fase de exploração é habitualmente dividida em subperíodos, que podemser de dois ou três anos; ao final de cada um desses subperíodos, uma porção da área originalmentecontratada para a exploração deverá ser liberada para novo oferecimento contratual.

Caso a fase de exploração se encerre sem a realização de qualquer descoberta comercial, ocontrato é considerado encerrado e o contratante perde o total do capital investido, sem direito areembolso.

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4. A legislação petrolífera no quadro internacional

Dada a diversidade de modelos existentes no tocanteà concessão das atividades de pesquisa e lavra petrolífera, selecio-nou-se, além do Brasil, um grupo de países – China, EstadosUnidos, Malásia, Noruega e Reino Unido – para ilustrar os dife-rentes enfoques da questão no panorama internacional.

A seguir, apresentaremos um resumo da situação le-gal do exercício das atividades referentes à exploração e produçãopetrolífera em cada um dos países mencionados.

a) Estados Unidos

Todas as atividades operacionais são realizadas porempresas, sejam elas privadas ou estatais, nacionais ou estrangei-ras, de pequeno ou grande porte (estas últimas comumente co-nhecidas como majors).

A participação governamental se dá nas funções deplanejamento, coordenação e fiscalização das atividades vincula-das ao setor de energia no país. Essas atividades de coordenação efiscalização são ainda realizadas pelos governos estaduais, quepossuem estrutura própria para tal fim e, muitas vezes, tambémpor órgãos municipais.

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A licitação das áreas em alto mar (áreas offshore) para as atividades de exploração e produ-ção petrolífera é feita segundo um calendário estabelecido pelo governo; as responsabilidades e osprocedimentos a serem observados nessas operações são previamente definidos em lei.

Nas áreas terrestres, os direitos do proprietário do solo estendem-se também ao subsolo;os interessados em explorar os recursos do subsolo, denominados mineral owners (proprietários dosbens minerais), deverão realizar com o proprietário do solo contratos de servidão, para que lhes sejapermitida a execução de suas atividades.

Vale notar que o mineral owner pode negociar o seu contrato com terceiros para a realiza-ção das atividades de exploração e produção; nesse caso, receberá royalties pela cessão desses direitos(overriding royalties).

As reservas de petróleo e gás constituem patrimônio das companhias petrolíferas e, por-tanto, o óleo e o gás produzidos, bem como as suas respectivas reservas, podem ser negociados oudados como garantia em empréstimos para o desenvolvimento de campos petrolíferos.

Os contratos são feitos por prazo determinado e normalmente a fase inicial, com duraçãode três anos, destina-se a trabalhos exploratórios, compreendendo pesquisa geológica, geofísica e per-furação exploratória, que devem obedecer a um programa obrigatório mínimo previamente estipulado.

Realizando-se descobertas de petróleo e gás e estabelecida a sua produção comercial, ocontrato desenvolve-se normalmente até seu término, fazendo-se o pagamento ao proprietário deterras de um royalty correspondente a 12,5% (doze inteiros e cinco décimos por cento) da produção.Além desse royalty pago ao proprietário das terras, existem outros impostos e indenizações a serempagos a Estados e Municípios, cujo montante é bastante variável.

No caso de não serem realizadas descobertas comerciais até o fim do prazo contratual, aempresa contratante perde o total do capital investido e há a devolução das áreas aos seus respectivosdonos. Se as áreas forem localizadas na plataforma continental (áreas offshore), aquelas situadas atéquinze milhas (24 quilômetros) de distância da costa reverterão aos Estados confrontantes, enquantoque aquelas situadas além desse limite tornarão à posse do governo federal.

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b) China

A exploração e produção de petróleo e gás natural na China é aberta à participação estran-geira através de contratos de partilha de produção (production sharing contracts). Tais contratos se mate-rializam na criação de associações contratuais (contractual ventures) entre as companhias contratantesestrangeiras e as companhias estatais chinesas. No caso de áreas de exploração terrestres, o contrato éfeito com a China National Oil Development Company (CNODC); para as áreas offshore, a realização docontrato se dá com a China National Offshore Oil Company (CNOOC).

Embora os termos de cada contrato possam variar, há sempre um modelo básico a serseguido. Segundo tal modelo, a duração normal de cada contrato é de 25 anos, divididos em três fases:exploração, desenvolvimento e produção.

A fase exploratória estende-se por um período mínimo de três anos, prorrogáveis por maisdois anos; nesse prazo, deverão ser realizadas as pesquisas constantes de um programa mínimo obriga-tório, ficando os custos exploratórios exclusivamente sob responsabilidade da empresa estrangeiracontratante.

No caso de ocorrerem descobertas comerciais de petróleo e gás natural, às companhiasestatais chinesas (CNODC ou CNOOC, conforme o caso) é dada a opção de participação na fase dedesenvolvimento, até uma parcela correspondente a 51% (cinqüenta e um por cento) do capital totalinvestido, sendo os custos incorridos nessa fase divididos de acordo com a participação de cada com-panhia.

Realizada a produção, as parcelas são divididas da seguinte forma:

1) inicialmente, é cobrado um imposto de 5% (cinco por cento) sobre a produção bruta erealizado o pagamento dos royalties ao governo, que podem variar desde 1% (um por cento), para umaprodução anual não superior a 50.000 (cinqüenta mil) toneladas métricas de óleo bruto, até 12,5%(doze inteiros e cinco décimos por cento), para uma produção superior a um milhão de toneladasmétricas;

2) a seguir, deduz-se do total remanescente a parcela correspondente ao petróleo de cus-to, destinada a cobrir os custos exploratórios, de desenvolvimento e de operação – incluída aí a partici-pação estatal – incorridos pela empresa contratante, e que podem atingir um máximo de 50% (cin-qüenta por cento) da produção total do período;

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3) a porção restante corresponde ao petróleo de lucro, do qual se retira um percentualvariável de 10% (dez por cento) a 80% (oitenta por cento), conforme o aumento da produção, destina-do ao governo chinês; da parcela obtida após tais deduções, 40% (quarenta por cento) do óleo ficamcom o governo chinês e 60% (sessenta por cento ) com a companhia contratante, que é então subme-tida ao pagamento de imposto de renda sobre sua parcela.

Cabe salientar que a companhia contratante estrangeira pode dispor livremente de suaparcela do petróleo produzido, não estando sujeita à obrigação de vendê-la para o governo chinês, afim de atender às necessidades de consumo interno.

c) Malásia

Até o ano de 1974, a Malásia adotava o mesmo regime a que se submetiam os países doOriente Médio até a década de 1970, isto é, o regime de concessões tradicionais, as quais garantiamàs empresas petrolíferas que lá operavam (em geral, as majors) direitos exclusivos de exploração eexplotação petrolífera, abrangendo habitualmente todo o território daqueles países, por longos perío-dos de tempo – de 60 a 75 anos –, sem restrições quanto à destinação do petróleo produzido, quepoderia ser livremente exportado em sua totalidade, sem preocupações com o atendimento do merca-do interno do país produtor; em troca, tais empresas obrigavam-se ao pagamento de alguns bônus eroyalties anuais, geralmente mantidos em níveis mínimos.

A partir daquele ano, a nova legislação petrolífera aprovada na Malásia nacionalizou todasas concessões existentes, criou a companhia estatal Petroliam Nasional Berhad (Petronas), garantindo-lhea exclusividade da posse e dos direitos de exploração e explotação dos recursos petrolíferos do país etransformou os contratos de partilha de produção na única forma possível de participação das compa-nhias internacionais nas atividades da indústria petrolífera em seu território.

Se, por um lado, a Petronas tornou-se a responsável única pela realização dos pagamentosrelativos à exploração exclusiva das atividades petrolíferas no país aos governos federal e estaduais, poroutro lado, ficou livre para escolher a forma, termos e condições de todos os contratos a serem firma-dos com as empresas estrangeiras, sem a obrigação de submetê-los à aprovação do governo, ou mesmodo Parlamento.

Segundo o modelo de contrato adotado pela Malásia, o percentual de participação daempresa estatal e das contratantes estrangeiras é deixado em aberto mas, de forma geral, cada empresaentra com 50% (cinqüenta por cento) do capital total do empreendimento, sendo a área total do con-trato dividida por uma malha geográfica em sub-blocos de 10 minutos de lado.

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O prazo total do contrato é de 24 anos. Em sua fase inicial, cuja duração é de quatro anos,prorrogável por mais um ano, devem desenvolver-se os trabalhos exploratórios, segundo um programamínimo previamente estabelecido.

Findo o período exploratório, os sub-blocos nos quais não tenham sido descobertos cam-pos de petróleo ou gás natural são, de imediato, excluídos da área original do contrato e ficam livrespara oferta a novos contratos.

Por outro lado, a descoberta de petróleo e gás natural em quantidades comerciaistransforma automaticamente os blocos em que se localizem tais jazidas em áreas de desenvolvimento.A partir de então, corre um prazo de quatro anos para que se inicie a produção comercial de óleo; nahipótese de que esta não se realize, os respectivos blocos devem ser entregues à Petronas, deixando defazer parte do contrato.

O início da produção comercial de óleo e gás transforma as áreas de desenvolvimento emáreas de produção, às quais se somarão as áreas de novos campos que venham a ser descobertos epostos em produção. O prazo destinado à produção de petróleo dos campos descobertos e desenvol-vidos é de quinze anos a partir da data da primeira produção comercial, ou até a data prevista para otérmino do contrato, o que primeiro ocorrer.

Os contratos de produção compartilhada também permitem à Petronas determinar àsempresas contratantes o acréscimo ou o decréscimo da produção de quaisquer campos petrolíferos,com os seguintes propósitos e razões: otimização da recuperação de óleo e gás, minimização do des-perdício de gás durante a produção, motivos operacionais e de segurança ou no interesse nacional.

Também por motivos de interesse nacional, a Petronas pode requisitar das empresas con-tratantes que promovam, em benefício da empresa estatal, o desenvolvimento de quaisquer reservató-rios de petróleo considerados pelos contratantes como subcomerciais, bem como, por causa dessesmesmos motivos, executar tais trabalhos e realizar a construção das necessárias instalações de acordocom os desejos da Petronas.

Outra cláusula a destacar nesses contratos é a que estatui que a Petronas fica isenta doscustos dos trabalhos exploratórios realizados, que correm totalmente por conta dos contratantes es-trangeiros. Na eventualidade de ocorrerem descobertas comerciais de petróleo, a Petronas é livre paradecidir se participa ou não da fase de desenvolvimento.

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É importante também frisar que a posse do petróleo, antes ou depois de sua descoberta eprodução permanece com a Petronas, até o momento em que o produto seja colocado nos pontos deexportação ou de venda, quando então é feita a entrega ao contratante da parte que lhe cabe dopetróleo produzido.

Da mesma forma, pertencem à Petronas todos os dados originais, estejam eles em estadobruto, processados ou interpretados, resultantes das diversas operações petrolíferas, bem como todosos equipamentos e bens adquiridos pelos contratantes para utilização nas atividades referentes aoscontratos, sendo o uso de tais bens e equipamentos facultado exclusivamente aos contratantes e livreda incidência de encargos apenas enquanto durarem os contratos.

d) Noruega

A legislação petrolífera da Noruega consiste de Atos do Parlamento, ou leis formais, queabordam os assuntos referentes às atividades do setor petrolífero no país, e de legislação subsidiária,com a finalidade de suplementar e regulamentar tais leis, representada pelos Regulamentos e DecretosReais, expedidos pela Coroa norueguesa.

Atualmente, a legislação petrolífera em vigor na Noruega está representada pelo Ato de 22de março de 1985 e pelo Decreto Real de 14 de junho de 1985, que contêm todas as disposiçõespertinentes às operações petrolíferas na águas territoriais e plataforma continental da Noruega, bemcomo sua regulamentação.

O Ministério do Petróleo e Energia da Noruega é o responsável pela supervisão e controlede todas as operações petrolíferas no país, as quais – seja qual for a sua importância – não podem seriniciadas antes de recebida a aprovação formal do Ministério.

Os instrumentos formais pelos quais é concedida a permissão para o exercício das ativida-des petrolíferas no país são as licenças, que podem ser outorgadas pelo Ministério em caráter não-exclusivo, para as operações exploratórias, ou pela Coroa, através de Decreto Real e com caráter deexclusividade, para as operações de produção realizadas nas áreas específicas descritas nas licenças.

As licenças exploratórias, em geral concedidas para grandes áreas (daí o seu caráter não-exclusivo), permitem apenas a realização de pesquisas geológicas e geofísicas; já as licenças de produ-ção podem compreender um ou mais blocos – que, segundo o Ato de 1985, correspondem à divisãodas áreas de mar territorial e plataforma continental norueguesa em subáreas, por uma malha geográ-fica medindo 15 minutos de latitude por 20 minutos de longitude – e permitem o direito exclusivo dasatividades de exploração, inclusive perfuração, e produção de petróleo.

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Quanto à sua duração, as licenças de produção têm um prazo previsto de seis anos, pror-rogáveis por mais quatro períodos de um ano. Por requerimento do licenciado, tais licenças podem serestendidas por um período que não exceda o prazo total de 30 anos, contados desde o início da licençaoriginal, porém em uma área cujas dimensões não ultrapassem a metade da área inicialmente licencia-da, e desde que a área resultante não seja inferior a cem quilômetros quadrados.

A posse do petróleo in situ, isto é, das jazidas petrolíferas descobertas, pertence ao Estado,e a administração de tais recursos naturais deverá ser feita sempre em benefício de toda a sociedadenorueguesa, contribuindo para o desenvolvimento da indústria do país e levando também em conside-ração o exercício das demais atividades econômicas, as políticas nacionais e regionais e a proteçãoambiental. A posse do petróleo passa ao licenciado apenas após a sua produção; em outras palavras, olicenciado tem direito unicamente ao petróleo por ele produzido, e não às reservas por ele descobertas.

Em todas as licenças concedidas, estabelece-se que a companhia estatal norueguesa DenNorske Stats Oljeselskap (Statoil) terá uma participação de, no mínimo, 50% (cinqüenta por cento) doempreendimento. Vale notar, entretanto, que a partir do ano de 1985, o Estado norueguês passou a teruma participação direta em todas as associações em que a Statoil tome parte, da seguinte forma: doscinqüenta por cento correspondentes à Statoil, o Estado passa a deter 30% (trinta por cento), ficandoa empresa estatal com os restantes 20% (vinte por cento); qualquer aumento na participação da Statoilnos empreendimentos petrolíferos é direta e completamente repassado ao Estado norueguês.

Tais aumentos na participação se dão principalmente em áreas cuja produção seja superiora 250.000 (duzentos e cinqüenta mil) barris de óleo equivalentes; nesta hipótese, a cota de participaçãoda Statoil (em combinação com o Estado norueguês) no empreendimento eleva-se a 75% (setenta ecinco por cento) e, em alguns casos, a até 80% (oitenta por cento).

Em relação aos pagamentos a serem efetuados pelos licenciados, além dos impostos sobrea renda, cabe destacar o pagamento das taxas de área e dos royalties sobre a produção realizada.

As taxas de área são cobradas em razão da ocupação da área da licença, e correspondema 3.000 (três mil) coroas norueguesas (cerca de quatrocentos dólares americanos) por quilômetro qua-drado por ano, durante os primeiros anos do contrato; se ocorrer a prorrogação da licença, as taxascobradas, a partir do décimo primeiro ano, correspondem a 90.000 (noventa mil) coroas norueguesas(aproximadamente doze mil dólares americanos) por quilômetro quadrado por ano.

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Os royalties sobre a produção de petróleo e gás natural estão estabelecidos nos Regulamen-tos promulgados pelo Decreto Real de 14 junho de 1985, sendo que o Ministério do Petróleo e Energiapode determinar que seu pagamento pelos licenciados seja parcial ou totalmente realizado em óleoproduzido.

Os royalties são cobrados de maneira escalonada, em taxas que variam a intervalos de doispontos percentuais, desde 8% (oito por cento) até 16% (dezesseis por cento) do total produzido,conforme a produção média diária, no caso do óleo, e a uma taxa fixa de 12,5% (doze inteiros e cincodécimos por cento), no caso da produção de gás natural.

Cumpre salientar que, na hipótese de pagamentos de royalties em valores superiores a 12%(doze por cento), o valor cobrado nunca será inferior a este limite, mesmo quando ocorrer o declínioda produção da área.

A redução dos valores dos royalties a serem pagos poderá ser estipulada pelo Ministério,quando da concessão da licença ou posteriormente a ela, considerando-se a profundidade do mar, acapacidade de produção dos poços ou outras circunstâncias relevantes, a seu critério. Também fica acargo do Ministério a determinação do preço-base do petróleo para o cálculo dos royalties pagos – queserá estabelecido de acordo com o Decreto Real de 25 de junho de 1976 –, bem como quaisquerreajustes que sejam julgados necessários.

Um ponto importante ainda digno de menção refere-se à estabilidade dos termos daslicenças. Não há qualquer garantia de que isso ocorra; ao contrário, todas as condições estão sujeitas amudanças, que se darão sempre que forem aprovadas alterações e emendas aos Atos pelo Storting (oParlamento norueguês), ou aos Regulamentos, pela Coroa.

No entanto, há dois aspectos em que os direitos dos licenciados estão garantidos. Taisdireitos referem-se à decisão dos licenciados em absterem-se de participar do desenvolvimento dejazidas por eles descobertas – caso em que a Statoil o fará isoladamente – e nos casos de operações dedesenvolvimento de risco em que a Statoil não deseje participar, quando então os licenciados poderãofazê-lo por sua própria conta.

e) Reino Unido

A legislação petrolífera em vigor no Reino Unido compreende, à semelhança da Noruega,Atos (leis formais) e Regulamentos, que fazem parte da legislação subsidiária que normatiza e suplementaas matérias tratadas pelos Atos.

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Os Atos são votados e aprovados pelo Parlamento, e os principais atualmente vigentes quetratam dos assuntos petrolíferos são o Ato do Petróleo, de 1934; o Ato da Plataforma Continental, de1964; o Ato do Petróleo e dos Condutos Submarinos, de 1975; o Ato do Gás, de 1986 e o Ato doPetróleo de 1987 (que trata do estabelecimento de zonas de segurança ao redor de condutos e instala-ções petrolíferas em terra e do abandono de instalações em alto mar).

Os Regulamentos são os documentos legais que dispõem sobre as cláusulas-modelo aserem observadas nas licenças concedidas para o exercício das atividades petrolíferas no Reino Unido.

Uma outra diferença com o caso norueguês é que tais Regulamentos são expedidos sob aautoridade do Secretário de Estado para a Energia e estão sujeitos ao controle do Parlamento. Nãoobstante tal controle, os Atos de 1934 e de 1964 permitem ao Secretário de Estado completa liberdadepara, antes da concessão de uma licença, estipular quaisquer condições que achar apropriadas em cadacaso, como por exemplo na exploração petrolífera em áreas com maior grau de dificuldade (áreas defronteira em águas profundas), e também para determinar critérios de qualificação para os concorren-tes às áreas oferecidas à exploração petrolífera, tais como competência técnica, capacitação financeira,desempenho anterior em outras áreas e contribuições anteriores ou planejadas à economia do ReinoUnido, dentre outros.

As atividades de exploração, avaliação, desenvolvimento e produção petrolífera nas áreasde alto mar (áreas offshore) do Mar do Norte sob a jurisdição do Reino Unido são todas autorizadas poruma única licença, denominada licença de produção offshore, que confere ao licenciado a exclusividadepara o exercício de tais operações na área nela descrita.

Quanto à sua duração, os Regulamentos atualmente em vigor prevêem um período-pa-drão inicial de seis anos, durante o qual deverá ser executado um programa obrigatório de trabalho,conforme aprovado pelo Secretário de Estado.

Findo o período inicial, cumpridas as condições inicialmente estabelecidas e observada aexecução do programa obrigatório de trabalho, poderá ser concedida uma prorrogação da licençaoriginal por até 30 anos, em duas etapas, sendo a primeira de 12 anos e a segunda, de 18 anos. Asegunda etapa da prorrogação será concedida se, antes de expirado o prazo da primeira prorrogação,houver sido aprovado pelo Secretário, ou por ele determinado, um programa de desenvolvimento paraas descobertas petrolíferas realizadas na área correspondente à licença.

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Nas hipóteses de áreas de exploração localizadas em águas profundas, o período inicial dalicença é de oito anos, prorrogáveis por mais quarenta anos, também em duas fases, sendo a primeirade 16 anos e a segunda, de 24 anos; já para áreas consideradas como de fronteira, em que as condiçõesexploratórias sejam particularmente difíceis, ou o seu conhecimento geológico ainda não seja maisaprofundado, o período inicial das licenças e as duas fases de sua prorrogação são, respectivamente, denove, quinze e vinte e quatro anos.

As áreas marítimas oferecidas para a realização das operações petrolíferas são divididaspor malhas geográficas em unidades de 200 a 250 quilômetros quadrados de área, estando cada qualsubdividida em 120 seções, que serão agrupadas em blocos exploratórios para os quais se concederãoas licenças.

Após encerrado o período inicial de uma licença, para que se conceda a primeira fase desua prorrogação, o licenciado deverá devolver metade da área original licenciada, caso esta seja igual ousuperior a 60 seções; caso contrário, o licenciado poderá reter 30 seções como nova área de trabalho,fazendo a devolução da área restante. Na eventualidade de não ser a área originalmente licenciadasuperior a 30 seções, não haverá necessidade de devolução de áreas para a concessão da primeira faseda prorrogação.

Para que se dê início ao desenvolvimento das descobertas petrolíferas realizadas durante afase de exploração e também para que posteriormente se realize a sua produção petrolífera, o licenci-ado deverá submeter ao Secretário de Estado para a Energia um programa contendo os trabalhos aserem executados, o prazo de sua realização e as quantidades máximas e mínimas de petróleo e gásnatural a serem produzidas.

Submetido esse programa, o Secretário poderá aprová-lo sem restrições, aprová-lo parcial-mente, sujeitando-o a certas condições ou restrições, ou rejeitá-lo. Nesta última hipótese, o licenciadodeverá promover as necessárias alterações para adequá-lo aos limites de produção que o Secretárioindicar como apropriados à preservação do interesse nacional e às condições de boa lavra petrolífera,conforme os padrões internacionalmente aceitos. O não-atendimento de tais condições poderá resul-tar na imposição ao licenciado, pelo Secretário de Estado, de um novo programa de desenvolvimentoe produção, ou mesmo na revogação da licença.

Ademais, mesmo durante o período de produção, o Secretário poderá emitir aos licencia-dos notificações de limitação da produção, nas quais estabelecerá, por um determinado período, asquantidades máximas e mínimas de petróleo e gás natural a serem produzidas, para a preservação dointeresse nacional, ou para o atendimento de uma emergência nacional.

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Durante o período de vigência de uma licença, deverá ser paga uma quantia inicial previa-mente determinada, referente à área ocupada, cujo cálculo poderá ser feito por bloco ou pela área emquilômetros quadrados abrangida pela licença. A partir de então, deverão também ser anualmenteefetuados pagamentos previamente estipulados, referentes à área em quilômetros quadrados ocupadapelo licenciado, enquanto durar a concessão da licença.

Além disso, deverão ser pagos os royalties pela produção petrolífera realizada, cujas taxastêm sido sempre fixadas em 12,5% (doze inteiros e cinco décimos por cento). Contudo, foram garan-tidas, pelo Ato dos Royalties Petrolíferos, de 1983, e pelo Ato da Plataforma Continental, de 1989,isenções de pagamento de royalties para alguns “novos campos”, situados em áreas consideradas comode fronteira.

Um ponto importante também a considerar refere-se à posse do petróleo. A propriedadedo petróleo in situ no Reino Unido, conforme os Atos de 1934 e 1964, pertence à Coroa. A transferên-cia da posse do petróleo ao licenciado, que possui os direitos exclusivos de exploração e produçãopetrolífera, ocorre apenas após realizada a sua produção, isto é, o licenciado tem direito apenas aopetróleo produzido e não às reservas petrolíferas.

Finalmente, cabe salientar que, uma vez concedidas, as licenças de exploração e produçãopetrolífera no Reino Unido possuem força de lei, e somente podem ser alteradas as condições inicial-mente estabelecidas através da aprovação de novos Atos pelo Parlamento britânico.

f) Brasil

Com a promulgação da Emenda Constitucional n° 9, de 1995, passou a ser possível aparticipação de outras empresas, de caráter estatal ou privado, além da Petrobrás, no exercício de todasas atividades, exclusive a de distribuição, referentes à indústria petrolífera nacional que, entretanto,continuam constituindo-se em monopólio da União.

A fim de regulamentar esses novos mandamentos constitucionais, foi sancionada, em 6 deagosto de 1997, a Lei n° 9.478 que, além de estabelecer os princípios e objetivos da política energéticanacional, institui o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) – órgão consultivo da Presidên-cia da República no estabelecimento das diretrizes e metas referentes ao aproveitamento dos recursosenergéticos nacionais e na garantia do suprimento das necessidades energéticas do país – e a AgênciaNacional do Petróleo (ANP) – novo órgão regulador e fiscalizador das atividades da indústria petrolí-fera brasileira –, além de estipular as normas legais referentes às atividades de exploração, produção,refino, transporte, importação e exportação de petróleo, seus derivados e gás natural.

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Pelo disposto na nova lei petrolífera nacional, todos os direitos de exploração e produçãode petróleo e gás natural em território brasileiro, nele compreendidos a parte terrestre, o mar territorial,a plataforma continental e a zona econômica exclusiva, pertencem à União, cabendo sua administraçãoà ANP.

Constituem parte integrante dos recursos petrolíferos nacionais, além das reservas de pe-tróleo e gás natural, também o acervo técnico de dados e informações sobre as bacias sedimentaresbrasileiras, cuja coleta, manutenção e administração cabem à ANP.

A exploração e a produção de petróleo no país serão exercidas por quaisquer empresasconstituídas sob as leis brasileiras, com sede e administração no país, mediante contratos de conces-são, precedidos da correspondente fase de licitação de blocos, que são as unidades nas quais sedividem as áreas a serem oferecidas às empresas interessadas em participar dessas atividades em terri-tório nacional.

O edital de licitação deverá indicar o bloco (ou blocos) objeto da concessão, o prazoestimado para a duração da fase de exploração, os investimentos e programas exploratórios mínimos,os requisitos técnicos, econômicos e jurídicos exigidos pela ANP, os critérios de pré-qualificação, osdocumentos comprobatórios da capacidade técnica, da idoneidade financeira e regularidade jurídicados interessados, e ser acompanhado da minuta básica do respectivo contrato.

Caso seja permitida a participação de consórcios de empresas, o edital conterá ainda asexigências de comprovação de compromisso público ou particular de constituição do consórcio, indi-cação da empresa líder, apresentação, por parte de cada uma das empresas consorciadas, dos documen-tos exigidos para avaliação da qualificação técnica e econômico-financeira do consórcio, proibição departicipação de uma mesma empresa em mais de um consórcio, ou isoladamente, na licitação de ummesmo bloco, e registro do instrumento constitutivo do consórcio conforme o disposto na Lei n°6.404, de 15 de dezembro de 1976.

No caso de empresa estrangeira que deseje concorrer isoladamente ou em consórcio, de-verá esta apresentar juntamente com sua proposta prova de capacidade técnica, idoneidade financeirae regularidade jurídica e fiscal, nos termos de regulamentação editada pela ANP, inteiro teor dos atosconstitutivos e prova de encontrar-se organizada e em funcionamento regular, conforme a lei de seupaís, designação de representante legal junto à ANP, com poderes especiais para a prática de atosrelativos à licitação e à proposta apresentada e compromisso de, caso vencedora, constituir empresasegundo as leis brasileiras, com sede e administração no país, sendo essa última condição essencial paraa assinatura do contrato de concessão com essa empresa.

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No julgamento das propostas oferecidas na licitação, será identificada a proposta maisvantajosa, segundo critérios objetivos, observados os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,publicidade e igualdade entre os concorrentes, ficando estipulado que, em caso de empate, alicitação será decidida em favor da Petrobrás, sempre que esta concorrer não consorciada com outrasempresas.

Os contratos de concessão deverão prever duas fases: a de exploração, abrangendo asatividades de avaliação de eventuais descobertas de petróleo ou gás natural, para determinação de suacomercialidade, e a fase de produção, na qual se incluem também as atividades de desenvolvimento doscampos descobertos.

Além disso, tais contratos deverão conter a definição do bloco objeto da concessão, oprazo de duração das fases de exploração e produção, bem como as condições para sua prorrogação, oprograma de trabalho e o volume de investimentos previstos, a indicação das garantias prestadas peloconcessionário quanto ao cumprimento do contrato, a especificação das regras relativas à devolução edesocupação de áreas, retirada de equipamentos e instalações, as obrigações do concessionário quantoao fornecimento à ANP de dados, relatórios e informações referentes às atividades desenvolvidas, oscasos de rescisão e extinção do contrato, as penalidades aplicáveis nos casos de descumprimento dasobrigações contratuais e as participações governamentais previstas, considerado obrigatório o paga-mento pela ocupação ou retenção de áreas e o dos royalties pela produção de petróleo e gás natural,podendo ser exigido ainda o pagamento de bônus de assinatura para obtenção da concessão, bemcomo de participação especial, em caso de grande volume de produção ou grande rentabilidade dalavra.

Os royalties a serem pagos pela produção de petróleo e gás levarão em consideração ospreços de mercado desses produtos, suas especificações e a localização dos campos de produção, ecorresponderão a um montante equivalente a dez por cento da produção, excetuando-se os casos emque, tendo em vista os riscos geológicos, as expectativas de produção e outros fatores pertinentes, essesvalores possam ser reduzidos até um mínimo de cinco por cento da produção.

Incluir-se-ão, ainda, no cálculo dos royalties devidos os volumes de gás queimados emflares, em prejuízo de sua comercialização, bem como as perdas de produtos ocorridas sob a responsa-bilidade dos concessionários.

Constará também do contrato de concessão de bloco localizado em terra cláusula quedetermine o pagamento aos proprietários de terras em que se dê a produção petrolífera e de gás naturalde participação equivalente a um percentual variável entre 0,5% (cinco décimos por cento) e 1% (umpor cento) da produção, sendo tal valor distribuído na proporção do volume produzido nas proprieda-des regularmente demarcadas na superfície do bloco.

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As atividades de refino de petróleo, processamento de gás natural, transporte, importaçãoe exportação de petróleo, seus derivados e gás natural serão realizadas por empresas constituídas sob asleis brasileiras, com sede e administração no país, mediante a obtenção de autorização da ANP, queestabelecerá os requisitos técnicos, econômicos e jurídicos e as exigências de segurança e proteçãoambiental pertinentes ao exercício dessas atividades.

Do título autorizativo outorgado pela ANP para o exercício de tais atividades, constará adefinição do objeto e da titularidade, sendo necessária a prévia e expressa autorização daquele órgãopara a transferência dessa titularidade, desde que o novo titular satisfaça os requisitos e as exigênciasanteriormente mencionadas.

No transporte de petróleo, seus derivados e gás natural, será facultado a qualquer interes-sado o uso de dutos de transporte e dos terminais marítimos existentes ou a serem construídos, medi-ante remuneração adequada ao titular das instalações. No caso de não haver acordo entre as partes, aANP fixará o valor e a forma de pagamento da remuneração considerada adequada, verificando aindase o valor acordado é compatível com o mercado e assegurando a preferência do proprietário no usode suas instalações para o transporte dos próprios produtos, a fim de promover a máxima utilização dacapacidade de transporte dos dutos.

Os dutos previamente classificados como de transferência, isto é, utilizados para a movi-mentação de produtos em meio ou percurso de interesse específico e exclusivo do proprietário ouexplorador das instalações, poderão ser reclassificados pela ANP como dutos de transporte, caso hajacomprovado interesse de terceiros na sua utilização, observando-se então as demais disposições ante-riormente mencionadas.

5. Conclusões

Após mais de quarenta anos de monopólio estatal dopetróleo exercido apenas por uma companhia estatal, o Estadobrasileiro decidiu-se por mudanças de rumo na condução dosnegócios nesse setor. Manteve-se o monopólio estatal, ainda queapenas sob o aspecto formal, já que, nos aspectos relevantes, quaissejam, os do aproveitamento econômico das reservas petrolíferase de gás natural, o monopólio está definitivamente encerrado, igua-lando os recursos petrolíferos aos demais recursos minerais dopaís, cuja exploração e produção é realizada sob o regime de com-petição aberta, passando a posse dos recursos produzidos aosdetentores das concessões minerárias.

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Poder-se-ia, é claro, argumentar que a posse das jazidas continua com o Estado brasileiro– o que é verdade. Mas de que adiantam as jazidas minerais ou petrolíferas, se delas não forem extraí-dos seus produtos? E se, em sendo extraídos, esses recursos não mais pertencem ao Estado, mas aoprodutor – o que, aliás, está garantido pela Constituição Federal – isso é o que importa.

Cremos que, a despeito de não ser o monopólio estatal do petróleo, ao contrário dosdesejos de alguns, a garantia da posse e aproveitamento dessa fonte energética exclusivamente feito sobo talante do Estado, mas apenas a manutenção da prerrogativa de regular as atividades e de efetivar asconcessões e autorizações para a atuação dos diversos participantes da indústria petrolífera nacional,não se deve olhar de maneira xenófoba para a nova situação dos recursos petrolíferos brasileiros, poisde nada adianta ao país manter a efetiva posse das jazidas petrolíferas e de gás natural sem dispor derecursos para proceder à sua exploração econômica, transformando-as em riquezas e em segura fontede empregos para seus cidadãos.

Um possível alvo de críticas na nova legislação petrolífera brasileira é o fato de, ao se sairde mais de quatro décadas de um regime de monopólio efetivo do setor, em vez de se optar inicialmen-te por um modelo de partilha de produção, como fazem muitos dos países em desenvolvimento produ-tores de petróleo e não pertencentes à OPEP, passou-se diretamente para o regime de concessões,semelhante ao regime de licenças adotado por países mais desenvolvidos.

Com isso, criou-se uma certa instabilidade institucional, já que o país não tinha experiênciaem lidar com empresas internacionais atuantes na exploração e aproveitamento de seus recursos petro-líferos sob um regime de franca competição.

Talvez tivesse sido mais útil e produtivo para o país se, antes de se promover uma alteraçãolegislativa de tal monta, houvesse sido mais propriamente considerada a diferença que há entre a mu-dança pura e simples de um para outro regime.

Possivelmente, teria aproveitado mais ao Brasil, em vez de mudança mais radical, como apraticada, a adoção de uma linha mais coerente, como o fez, por exemplo, a Noruega que, no início dadécada de setenta, como parte de uma estratégia energética geral e tendo como objetivo alcançar aauto-suficiência com a exploração de seus recursos petrolíferos do Mar do Norte, encetou o que sechamou de “Trindade Norueguesa”, composta pelo Ministério de Petróleo e Energia, encarregado deestabelecer a política energética e a base legal para as operações da indústria petrolífera; a NPD, órgãocorrespondente à ANP, encarregada de monitorar e reforçar a regulamentação petrolífera, dividindo-se nos setores de Recursos Petrolíferos e Segurança e Meio Ambiente, e a empresa estatal Statoil, criadapara produzir petróleo, isoladamente ou em parceria com outras empresas petrolíferas interessadas emtrabalhar na Noruega.

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Apesar de tais percalços, em grande parte devidos ao famoso imediatismo brasileiro, àerrônea noção de que, ao se fazerem rapidamente as mudanças, seria o processo mais indolor e malgradoas vacilações iniciais do novo órgão regulador do setor petrolífero, com o decorrer do tempo, todos osparticipantes da indústria petrolífera brasileira começaram a habituar-se à nova situação vigente, fazen-do com que a turbulência inicialmente criada fosse, aos poucos, se dissipando.

Um exemplo disso se deu quando da divulgação, pela ANP, de minuta de contrato deexploração e produção de petróleo e gás natural, para recebimento de sugestões. Nessa ocasião, aresposta das companhias petrolíferas internacionais foi que o contrato proposto, embora cobrisse to-dos os pontos de interesse, era excessivo quanto à exigência de garantias em geral e, por outro lado,insuficiente quanto ao oferecimento de garantias de comercialização de petróleo e gás a preços compe-titivos, não estando de acordo com um modelo típico de concessões internacionalmente adotado pelaindústria petrolífera.

Apesar dessas observações, o que se pôde verificar foi, após duas rodadas de licitaçõesinternacionais de blocos para exploração petrolífera, realizadas pela ANP, uma expressiva participaçãode empresas petrolíferas estrangeiras, seja isoladamente, em consórcios, ou mesmo em parcerias denegócios com a Petrobrás, já tendo algumas delas anunciado a descoberta de áreas com bons indíciosde hidrocarbonetos, com boas perspectivas quanto a seu futuro aproveitamento comercial; além disso,no caso da terceira rodada de licitação de blocos exploratórios, a realizar-se possivelmente no próximomês de junho, dezenas de empresas petrolíferas já manifestaram seu interesse em participar, tendocerca de quarenta delas assegurado o seu direito a participarem desse evento.

Outro ponto a merecer análise diz respeito à distribuição e revenda de combustíveis, tam-bém de responsabilidade da ANP. Nesse particular, são constantes as reclamações que se ouvem e sevêem, veiculadas por uma imprensa na maior parte das vezes sensacionalista e ávida de matérias que,mesmo não mantendo grande correspondência com a verdade, ajudem a vender seus jornais e revistas,tratando da falta de qualidade dos combustíveis vendidos no país.

Tais “notícias”, em sua maioria preparadas com claros objetivos políticos, buscam, nomais das vezes, atribuir a responsabilidade dessa situação à negligência, ou mesmo, por vezes, à cumpli-cidade de ANP, que estaria negando-se a uma atitude mais firme para coibir esses abusos.

O que esse tipo de exploração parcial e casuística dos fatos busca esconder é que, naverdade, tais acontecimentos dão-se à revelia da atuação daquela autarquia que, a despeito de seupouco tempo de vida, conseguiu elaborar um conjunto de normas que, se ainda não conseguiu atingira perfeição – estado, aliás, vedado a qualquer ser humano, ou a suas criações – tem-se aproximado daneutralidade e do equilíbrio necessários à boa condução dos negócios da indústria petrolífera nacional.

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Se abusos têm ocorrido e, infelizmente, ainda persistem, embora em menor número, talnão se deve à falta de ação da ANP, no sentido de sua eliminação e da defesa dos interesses dosconsumidores brasileiros, mas – isso sim – da ação conjunta e nefasta de maus empresários, interessa-dos apenas em seus lucros fáceis e rápidos, ainda que obtidos em prejuízo da maioria da população, ede juízes que, nem sempre interessados na boa aplicação da Justiça, senão na obtenção de benessesindevidas, provêem-lhes sentenças coniventes e convenientes, concedendo liminares que permitem acontinuidade do funcionamento de empresas que, analisadas de forma isenta e honesta, jamais poderi-am atuar no mercado e que, por tal motivo, tiveram seus registros suspensos e severas multas aplicadaspela ANP.

Além disso, cabe-nos ainda sublinhar que é não apenas possível, mas missão indeclináveldo Congresso Nacional, diretamente ou através de qualquer de suas casas, fiscalizar e controlar os atosdo Poder Executivo, inclusive os da administração indireta, conforme reza o artigo 49 da ConstituiçãoFederal.

Assim sendo, os membros do Congresso Nacional devem conscientizar-se de sua respon-sabilidade de, através da tarefa de controle e fiscalização, ou mesmo através do poder de legislar, auxi-liar a ANP na missão de regular e normatizar as atividades da indústria petrolífera nacional de formamais equilibrada e justa.

Que cada parlamentar brasileiro apresente as sugestões que considere válidas e apropria-das para a melhoria da legislação petrolífera do país, sempre de forma que se garanta ao capital privado,de origem nacional ou estrangeira, o direito a um lucro justo pela exploração das reservas nacionais depetróleo e gás, em troca da produção desses recursos energéticos e do pagamento dos correspondentesimpostos e participações governamentais, gerando assim mais oportunidades de empregos, riquezas eprosperidade, a serem eqüitativamente divididos entre todos os cidadãos brasileiros.

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Bibliografia

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