Alterações Legislativas (III)

A nova legislação sobre o arrendamento urbano vai conhecendo novas evoluções, ora os serviços de finanças já têm o programa informático operacional para a emissão do RABC (Rendimento Anual bruto Corrigido). Este documento (ou a sua ausência) tem impedido o aumento efetivo do valor das rendas para os casos em que se aplica – inquilinos que aleguem um RABC inferior a cinco RMNA (retribuição mínima nacional anual). Estes, para impedirem o imediato aumento do valor da sua renda em relação ao valor do imóvel, invocando e provando um rendimento anual inferior a 33950,00€ beneficiarão de um aumento de renda inferior, em percentagem diferente conforme os valores auferidos. Este aumento “reduzido” terá uma validade de 5 anos, findos os quais o valor da renda corresponderá ao fixado em função do valor patrimonial do imóvel arrendado.

Está previsto na lei que alterou os contratos de arrendamento medidas a implementar pelo Estado a fim de minorar o impacto que o aumento de renda terá sobre a disponibilidade económica das famílias inquilinas, todavia, atendendo ao que conhecemos do Estado Português dificilmente estas medidas serão implementadas a tempo e nas condições desejáveis, deixando muitos inquilinos anteriormente convencidos de que o seu futuro na atual habitação estaria garantido, na circunstância de terem de rever a possibilidade de pagarem ou não a renda exigida e da possibilidade de, eventualmente, mudarem de residência, criando com isso uma verdadeira revolução social.

Em Espanha, tem já sido divulgado pelos meios de comunicação social graves problemas derivados da alteração ao arrendamento e à crise social ora vivida, com dramas pessoais e familiares a atingirem vastas camadas sociais. Por este motivo deverá o governo Português, as autarquias e as instituições de solidariedade social estarem prevenidos e preparados para

atuarem em situações mais complexas, criando um mínimo de sustentabilidade das famílias.

Decorridos cinco anos sobre a alteração do valor das rendas, mesmo no caso dos inquilinos que “beneficiem” da alegação do RABC inferior a 5 RMNA, ao contrato será aplicada toda a nova legislação do arrendamento (com exceção dos contratos em que o inquilino tenha mais de 65 anos e tenha alegado e provado tal facto), que implica cuidados especiais, nomeadamente, com a eventual estipulação de prazo nos contratos anteriormente sem prazo, sendo regra, à falta de outra determinação, o prazo de 2 anos.

Todas estas alterações obriga a um cuidado extremo no acompanhamento técnico-jurídico para evitar surpresas desagradáveis, numa legislação que não é fácil de apreender e que traz consigo profundas alterações numa das instituições sociais mais importantes – a nossa residência ou casa de morada de família.