altar cristão evolução até à reforma católica

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ALTAR CRISTÃO EVOLUÇÃO ATÉ À REFORMA CATÓLICA

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  • ALTAR CRISTO EVOLUO AT REFORMA CATLICA

  • MARIA ISABEL ROCHA ROQUE

    ALTAR CRISTO

    EVOLUO AT REFORMA CATLICA

    ^CETC^'

    Coleco TESES Universidade Lusada Editora

    Lisboa 2004

  • Biblioteca Nacional - Catalogao na Publicao Roque, Maria Isabel Rocha, 1961- Altar Cristo, evoluo at reforma catlica. - (Teses) ISBN 972-8883-05-6 CDU 246

    247

    FICHA TCNICA Autor Maria Isabel Rocha Roque Titulo Altar Cristo, evoluo at reforma catlica

    Coleco Teses Depsito Legal 213211/04

    ISBN 972-8883-05-6 Local Lisboa Ano 2004

    Editora Universidade Lusada Editora Rua da Junqueira, 188-198 1349-001 Lisboa Tels.: +351 213611500 / +351 213611568 Fax: +351 213638307 URL: http://editora.lis.ulusiada.pt E-mail: [email protected]

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    - 2004, Universidade Lusada de Lisboa Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo electrnico, mecnico ou fotogrfico incluindo fotocpia,

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  • NDICE

    INTRODUO 11

    CAPITULO I - O ALTAR CRISTO Simbologia 19 Conceito 21

    CAPTULO II - EVOLUO DO ALTAR CRISTO AT AO CONCLIO DE TRENTO 23

    O altar primitivo 25 Da mesa agpica ao altar eucarstico 25 A ligao do altar s relquias dos mrtires, confessores da f 27

    O altar das primeiras baslicas 31 Localizao e orientao 31 Forma e estrutura 34

    O altar retabular da Idade Mdia Renascena 39 "Elevatio in altum": As relquias sobre o altar 39 O retbulo e o culto da imagem 41

    O altar da Igreja reformada 47 A XXV Sesso do Conclio de Trento e a funo da imagem 47 O papel apologtico da imagem np retbulo tridentino 51 A estrutura do altar tabernculo 53

    CAPTULO III - O ALTAR CRISTO EM ESPAO PORTUGUS AT REFORMA CATLICA

    O altar na baslica paleocrist. Baslica de Torre de Palma

    O altar no tempo de S. Martinho de Dume . A Baslica de S. Martinho, em Dume Reunies conciliares

    A liturgia visigtica-morabe e o espao hierarquizado da igreja. Arquitectura

    Catedral da Egitnia Santurio de S. Frutuoso de Montlios Igreja de S. Gio, Nazar

    Mobilirio litrgico: Ncleo pacence (Beja e Sines)

  • O aparecimento do altar-mor 89 O altar-mor nas igrejas de peregrinao segundo o modelo de Cluny 89 S Velha de Coimbra 91

    O espao da antiga capela-mor 94 O actual altar: recuperao de um p de altar coevo 97

    O altar-mor no espao monstico de Cister 100 Abadia de Santa Maria, em Alcobaa 104

    O retbulo e a iconografia sobre o altar 107 Pintura da parede testeira da ousia 108 Iconografias paralelas nos grandes retbulos gticos 109 A presena dos doadores no altar 112 A representao do quotidiano no espao do divino 115

    CAPTULO IV - O ALTAR DA REFORMA CATLICA 119 Aplicao dos modelos tridentinos pela Companhia de Jesus 121

    Altar-mor da Igreja de S. Roque 127 Historial 127 Localizao e orientao 129 Descrio da pea 131

    Anlise formal e compositiva 131 Anlise estilstica 135 Anlise iconogrfica 136 Funcionalidade litrgica... 140

    CONCLUSO 145

    BIBLIOGRAFIA 153

    ANEXOS 173 Textos 175

    Dos Milagres de S. Martinho, Livro Quarto - Da uva m Galiza, sc. VI.... 175

    . Bispo Martinho de Dume (? - 579) - Na Baslica 177 Carta do Papa Viglio ao Arcebispo Profuturo de Braga,

    29 de Junho de 533 178 Io CONCLIO DE BRAGA, ano 561 178 Vida de S. Frutuoso (? - c. 665) 180 Santo Isidoro de Sevilha (c. 560- 636) - Etimologias 182 Annimo, sculo VIII - Instruo do bispo 184 Papa, 1198-1216 (Inocncio III) - Dos mistrios da lei evanglica e do

    sacramento da eucaristia 185

  • Nota das benfeitorias de D. Miguel Salomo (Bispo de Coimbra entre 1146 e 1176) S de Coimbra 186

    S. Bernardo (1090-1153) - Apologia ao Abade Guilherme de Saint-Thierry 188

    Captulo da Ordem de Cister, c. 1130 190 CONCLIO DE TRENTO, 1545-1563 Da Instituio do

    Sacrosanto Sacrificio da Missa 190 CONCLIO DE TRENTO, 1545-1563 - Da invocao, venerao, e

    Relquias dos Santos, e das sagradas Imagens 192 TELLES, Baltazar - Chronica da Companhia de Jesus. 1645-1647 194 Instruo de S. Carlos Borromeu (Arona, 1538 - Milo, 1584)

    para a construo e mobilirio das igrejas (resumo) 197 Referncias Historiogrficas e Litrgicas 199

    Evoluo do altar cristo at ao Conclio de Trento 199 O altar catlico da Reforma catlica 205 O altar cristo em espao portugus at Reforma catlica 210 O altar da Reforma catlica em Portugal (Igreja de S. Roque) 216

    Fichas descritivas 225 Glossrio 277 Tabelas Cronolgicas e Esquemas 289

    Esquema: Evoluo da forma e posio relativa do altar 289 Cronologia: Evoluo da planta da igreja (Itlia/Portugal) 290 Cronologia: Evoluo do espao do altar (Itlia/Portugal) 291 Esquema: Retbulo da capela-mor da Igreja de S. Roque, em Lisboa 292

    ABREVIATURAS 293

    CRDITOS DAS IMAGENS 295

  • Introduo

    INTRODUO

    "A nossa tarefa comum j no descrever e classificar os fenmenos, mas averiguar funes e significado."

    Rudolf Wittkower

    O altar um ponto de ligao entre o humano e o divino, pelo que o lugar que ocupa no templo se situa, concreta e simbolicamente, no sancta sanctorum, o Santo dos santos.

    Assumindo-se, por excelncia, como objecto litrgico, o altar igualmente uma obra de arte. O conceito sagrado que lhe inerente concretiza-se atravs do mais belo e mais precioso, num espao prprio e com um conjunto de elementos destinados liturgia, numa dupla ocorrncia: por um lado, a criao artstica levada ao sublime, traduzindo os parmetros estilsticos, culturais e tcnicos da poca e do lugar; por outro lado, a obrigao imperiosa de se adequar ao fim a que se destina. Isto significa que o objecto ir reflectir o melhor da produo artstica dentro das regras da sua funcionalidade.

    Esta dualidade - entre a excelncia e a parametrizao - imprimem ao estudo da arte religiosa e sacra um valor acrescido no mbito da definio de tipologias, na medida em que provocam a depurao e a sntese dos conceitos e tcnicas que lhes esto subjacentes.

    Na realidade, o objecto litrgico provm da apropriao de tipos profanos. Trata-se de peas de uso comum que, merc de algumas transformaes, ingressaram no servio do culto, enquanto outras convergiam directamente para o espao religioso, transportando para o cerimonial as prticas da vida civil - da mesa ao altar; da taa ao clice; do prato patena; do pequeno recipiente tapado pxide; da bacia e gomil ao servio de lavabo; de componentes da baixela domstica salva e galhetas para o vinho e a gua; de elementos com funes essencialmente decorativas ou de aparato a componentes obrigatrios no arran- jo do espao destinado eucaristia, como os candelabros, as jarras, os atris ou as toalhas e os revestimentos de altar.

    O estudo de um objecto litrgico, porque a qualidade esttica se no sobrepe sua justificao primordial como utenslio, implica um estudo que ultrapasse a classificao como pea artstica, partindo de abordagens relaciona- das com a descrio histrica, estilstica, material e iconogrfica para o

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  • Maria Isabel Rocha Roque

    aprofundamento de outros nveis que permitam a compreenso integral da pea. A identificao da autoria, ou o registo preciso do momento nico em que o objecto foi criado, fazendo deste um elemento exclusivo a partir dp qual se podem estabelecer relaes e formular resultados concretos, so processos correntes na historiografia da arte, na medida em que realizam a apreenso de novos dados necessrios ao avano cientfico. Porm, no caso dos objectos cuja imanncia primordial no seja de ordem esttica - e, portanto, reveladora de um gesto criador diferenciado -, mas cujo fabrico revela um sistema cultural unitrio com objectivos definidos, compreendidos e aceites pelo grupo a que se destinam, estas no so questes fulcrais: em relao ao utenslio de uso comum ou no se colocam ou surgem de forma ambgua, no mbito da antropologia; no caso do objecto litrgico, a abordagem no se confina aos processos inerentes sua realizao material. Tal como tem vindo a suceder na actual historiografia da arte, encarada globalmente, sobretudo no campo das expresses religiosas e sacras que mais imperiosa se toma a pesquisa das suas intencionalidades. O estudo de um objecto litrgico converge para os seus aspectos formais e de contedo, bem como para a criatividade colectiva que lhe esteve na origem e os objectivos que o determinaram.

    No se aceita mais a ideia de dependncia unilateral e de causalidade de um fenmeno em relao a outro, sendo praticamente consensual o conceito de inter-relao entre as vrias ocorrncias que compem a realidade, tomando-a mais dinmica e, em certo sentido, imprevisvel, mas simultaneamente mais espontnea. O elemento determinante no apenas o ponto que se encontrava no incio da cadeia causal, tal como os positivistas previam; tudo pode interferir e ser agente de mudana neste processo evolutivo que, assim, se abre a mltiplas perspectivas. No campo da historiografia da arte, estas concepes provocam alteraes metodolgicas, alargando o campo da pesquisa. No domnio mais especfico do objecto litrgico, na medida em que se conjugam funes prticas, religiosas e simblicas, a investigao passa necessariamente por campos relacionados com a teologia e a forma como esta justifica o complexo cerimonial do culto.

    Da mesa situada no centro do templo ocultao do sacrifcio eucarstico, que progressivamente se assume e define como mistrio, remetendo o altar para zonas cada vez perifricas at ao fundo da abside, h um longo caminho a percorrer, justificado e definido por normas litrgicas e materializado atravs de elementos arquitectnicos e decorativos que as traduziam. Para compreender aquelas condicionantes, far-se- uma abordagem acerca da especificidade da liturgia neste contexto peninsular, perifrico, aqui registando a importncia da aco de S. Martinho de Dume e das reunies conciliares de Braga, nas quais se assume a separao do altar dentro da igreja. Assim, procurando no espao portugus metropolitano, peas em que se observem traos desta evoluo, referirindo a presena de ciborium, transennse, ou iconostasis, como elementos que destacam, enquadram e delimitam o espao sagrado junto ao altar, abordaremos

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  • Introduo

    os casos da Baslica paleocrist de Torre da Palma, em que o altar ainda ocupa um lugar central, bem como a Catedral da Egitnia e a Igreja de S. Gio, em que aquele se desloca para o interior da ousia. A referncia a S. Frutuoso de Montlios, embora este caso aponte para uma utilizao funerria, justifica-se como exemplo da arquitectura desta poca, em que a complexa estrutura do edifcio quebra a visibilidade do espao interior, tal como requeria o culto religioso.

    Na viragem do primeiro milnio, h novas condicionantes que provo- cam o redimensionamento e reestruturao do espao interno das igrejas, com profundas alteraes a nvel da cabeceira. O culto das relquias e o ideal de peregrinao provocam novos ritmos na sua utilizao. Os imperativos do culto implicaram depois a ocorrncia de altares secundrios, pervertendo o conceito de lugar teofnico nico e irrepetvel, coincidindo ainda com a adopo da liturgia romana, o que se referir a propsito da S Velha de Coimbra. Regista-se, ento, o conceito de altar-mor, o principal em relao aos que lhe so secundrios, ou central em relao aos perifricos. Mas tambm provocou o aparecimento de novas solues como o espao do deambulatrio, mesmo em igrejas monsticas, como a da Abadia de Santa Maria de Alcobaa.

    A prxima grande mudana no espao do altar ocorre em finais da Idade Mdia, com a preponderncia da iconografia que ganha novas dimenses nas construes retabulares. Se, at ento, as representaes icnicas eram sbrias e sublimes, cingidas ao essencial, como se regista em Nossa Senhora de Negrelos ou na antiga matriz de Vila Verde, a decorao toma-se cada vez mais imperiosa, com as cenas religiosas a inscreverem-se em estruturas arquitectnicas impo- nentes, quase a impor-se sobre os temas representados, como no retbulo-mor da S Velha. Prossegue-se com a identificao de novos elementos que, do humano ao quotidiano, se lhe vo associar: a presena dos doadores que surgem no retbulo da Igreja do Mosteiro de S. Marcos, em Tentgal; o tratamento da narrativa religiosa como cenas de gnero, autnticos documentos da moda do traje e dos ambientes, que se observa nas pinturas provenientes da capela-mor da Igreja do Convento de Jesus em Setbal.

    A poca das reformas, protestante e catlica, foi um perodo de grande inquietao e interrogao acerca da manifestao religiosa, do seu universo visvel, da imagem e da liturgia. Se anteriormente j muito pouco poderia ser considerado fruto do acaso e do instinto, a partir de agora tudo ser consequncia de uma reflexo consciente e intencional. Da que, ao preten- dermos efectuar o estudo do altar cristo e ao ser necessrio fix-lo num momento especfico, o tenhamos escolhido precisamente nesta altura, em que as persistncias do passado tm de ser confirmadas pela atitude reflectida do presente.

    Coincide, ainda, esta poca com o eclodir do pensamento crtico acerca da arte renascentista, que se afirmara como uma profunda ruptura em relao

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  • Maria Isabel Rocha Roque

    esttica medieval e cujas marcas persistiro na criao artstica dos tempos vindouros, e a ocorrncia dos primeiros desvios propositados em relao s ordens clssicas. Enquanto na poca anterior prevalecera a forma, a produo maneirista privilegiava o significado e a funo, aproximando-se dos ideais tridentinos e pondo-se ao seu servio. Define-se, por esta altura, a capacidade significativa, identificando intenes e funcionalidade.

    Por seu turno, a Companhia de Jesus, aps uma participao a todos os nveis notria no Conclio de Trento, assumiu-se como um veculo activo e empenhado das normas reformadoras, particularmente no mbito da renovao teolgica e litrgica, bem como das exigncias que esta impunha aos empreen- dimentos arquitectnicos e sua decorao plstica e iconogrfica. Alm disso, o crescimento interno da Companhia, possibilitando uma interveno mpar na actividade apostlica, no s na Europa, como nos novos continentes que a Igreja procurava conquistar para a cristandade, levou racionalizao de conceitos prprios no mbito da arte religiosa, os quais foram igualmente adoptados pelas outras ordens reformadas, embora estas o tenham feito com menos impacto.

    Conduzindo-nos esta constatao abordagem de uma igreja jesutica, a escolha teria de recair, se no na primeira a ser construda pela Companhia em Portugal, ento na igreja da sua casa professa, a principal da provncia portu- guesa. Para o estudo do altar e capela-mor da Igreja de S. Roque, como referncia de um modelo que, na sequncia de uma longa evoluo desde a poca paleocrist, se fixa durante a Reforma catlica, a referncia primordial ser a Igreja de Jesus, em Roma, sobretudo no que concerne sua estrutura arquitectnica, com a presena do tabernculo e de suportes para a exposio solene do Santssimo.

    O objectivo predominante realizar a anlise descritiva das peas, atravs do historial, do seu estado material, da caracterizao das disposies e volumetrias e da anlise compositiva, estilstica e iconogrfica. Ao focaliz-las como objecto de estudo, passam a constituir um modelo convergente da sua srie nos eixos diacrnico e sincrnico. Esta alegao determina a metodologia do estudo.

    A abordagem histrica do altar, enquanto operao descritiva, permitir reter as invariveis, isto , as suas caractersticas comuns e inalterveis, a fim de expor o seu postulado; mas, em simultneo, recuperar os elementos acessrios correspondentes a necessidades pontuais e institucionalizaes circunscritas, ainda que significativas. Este processo implica a decomposio do contedo, explorando cada uma das unidades por si, sem perder o seu carcter comple- mentar em funo do significado global Porm, o fulcro deste processo delinear as relaes espaciais do altar com o templo, ou seja, apresentar o seu percurso desde o centro, um ponto nuclear no cruzamento dos eixos da igreja, periferia, ao fundo da abside, cuja localizao definida e confirmada pelo Conclio de Trento.

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  • Introduo

    Esta forma de afastamento, porm, no impede a inteno absoluta e determinante de comunicar.

    A funo comunicativa do altar perceptvel, de forma difusa, atravs dos seus componentes decorativos, entre o sbrio e o excesso, o simples e o complexo, o visvel e o oculto, no sentido da norma e dos seus desvios. Tem, j como intrprete e referente de um contexto geral, a qualidade significante que geralmente se recusa s artes desprovidas de iconografia. Porm, na sequncia de atitudes anteriores, que sero reformuladas pelo Conclio de Trento, como reforo sua inteno catequtica, o altar enquadra na sua estrutura formal, representaes temticas, em que a comunicao primordial no mbito das intencionalidades. Cabe, agora, discernir a inteno das imagens, a forma como se processa a comunicao directa que a iconografia, dos finais da Idade Mdia poca das Reforma catlica, procura efectuar; mais uma vez, se assume a necessria comparao com os modelos de pintura retabular anteriores, a fim de apreender as convenes culturais desta poca e as intenes implcitas que levaram seleco dos temas e das caractersticas das representaes iconogrficas; e, a partir da, analisar a forma como a imagem se articula com a estrutura do altar.

    A compilao destes elementos, que decorre de tarefas de sntese, justifica- -se pelo objectivo de apreender o significado do objecto, os conceitos que o sustentam e a forma como estes evoluram e foram traduzidos materialmente. No mbito em que decorrem - o mundo ocidental de tradio crist - eles so universais e, como tal, constituem-se em cdigo subjacente a uma linguagem comum.

    Em qualquer investigao haver sempre falncia de perspectivas, porque nenhuma obra se poder considerar fechada, com tudo o que aqui se depreende de completo e definitivo. Cada objecto um universo nico e especfico e cada ponto de vista, cada ngulo de observao, parcial e redutor. O altar cristo, numa perspectiva geral, no um tema indito, mas tem sido levado a cabo essencialmente por eclesisticos, em que se destacam os trabalhos de sntese, no especificamente em relao ao altar mas s alfaias litrgicas na sua globalidade, de Ren Aigrain, Fernand Cabrol, Henri Leclere, Martimort e Mrio Righetti, cuja preocupao dominante a componente litrgica, em detrimento dos seus aspectos artsticos. Idntico trabalho de sntese foi elaborado, em portugus, pelo Cnego Manuel de Aguiar Barreiros. Todos estes autores do notcia da evoluo do altar e das normas litrgicas que condicionaram o seu devir histrico; aquilo que neste trabalho se pretende avaliar de que forma as abordagens genricas que realizam se aplicam ao caso particular do espao metropolitano portugus. Registamos, contudo, que Justino Maciel e Carlos Alberto Ferreira de Almeida recorrem a informaes teolgicas e litrgicas para a compreenso da arte religiosa das poca paleocrist e da alta Idade Mdia.

    Estas permissas determinam a metodologia a seguir: identificando, nas linhas que a historiografia de arte tem vindo a propor, os mtodos que mais

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  • Maria Isabel Rocha Roque

    favorecem o objectivo concreto do estudo e optar por um procedimento dialctico. Esta maleabilidade, continuamente sujeita a crtica, poder facilitar a reintegra- o do objecto na sua situao histrica real e o restabelecimento das normas e condicionantes a que esteve sujeito. A via que se prope , pois, a fuso de vrios mtodos de pesquisa, tendo em vista uma abordagem histrica adequada ao objecto, mas respondendo igualmente ao interesse e modo de agir do sujeito que o estuda.

    A proposta dominante deste trabalho enveredar por uma via interdisciplinar que acudir sobretudo histria da arte e da religio, * teologia e liturgia.

    Talvez se demonstre que a leitura coerente de um objecto ligado ao culto se no pode fazer sem o concurso destas matrias, ou que, pelo menos, estas proporcionam novos desafios e proveitos na cognio dos temas de arte reli- giosa. -

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