alomorfia prefixal numa abordagem otimalista

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA: ANÁLISE DE /iN-/, /aN-/ E /deS-/ ANA MARIA DOS SANTOS PINTO Rio de Janeiro 2008

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Page 1: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE LETRAS

ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA: ANÁLISE DE /iN-/, /aN-/ E /deS-/

ANA MARIA DOS SANTOS PINTO

Rio de Janeiro

2008

Page 2: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

ANA MARIA DOS SANTOS PINTO

ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA:

ANÁLISE DE /iN-/, /aN-/ E /deS-/

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Gonçalves

Rio de Janeiro 2008

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PINTO, Ana Maria dos Santos.

Alomorfia Prefixal numa Abordagem Otimalista: 117fls.

Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Gonçalves Trabalho de Conclusão do Curso de Doutorado/Língua

Portuguesa Universidade Federal do Rio de Janeiro/RJ-UFRJ, 2008.

Bibliografia: fls. 107-112.

1. Fundamentação Teórica do Estudo 2. Pressupostos Teóricos da Alomorfia

3. Conceitos Básicos da Teoria da Otimalidade 4. Análise dos Dados

Page 4: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

Alomorfia prefixal numa abordagem Otimalista:

Análise de /iN-/, /aN-/ e /deS-/

Orientador: Professor Doutor Carlos Alexandre Gonçalves

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas. Examinada por: ____________________________________________________ Presidente, Prof. Doutor Carlos Alexandre Gonçalves - UFRJ _____________________________________________ Profa. Doutora Sandra Pereira Bernardo – UERJ e PUC-Rio

_____________________________________________ Profa. Doutora Carmem Teresa Dorigo - UFRRJ

_____________________________________________________ Prof. Doutor Antônio Sérgio C. da Cunha – UERJ/FFP

_____________________________________________________ Profa. Doutora Mônica Maria Rio Nobre - UFRJ _____________________________________________________ Profa. Doutora Maria Lúcia Leitão de Almeida - UFRJ _____________________________________________________ Prof. Doutor Ricardo Joseh Lima – UERJ/Maracanã Aprovada em: 29 de fevereiro de 2008.

Rio de Janeiro Fevereiro de 2008

Page 5: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

Para Carlos Magno e Bruna,

pelo amor sem restrições.

Page 6: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Carlos Alexandre Gonçalves, por ter sido um modelo de persistência, incentivo, dedicação e pela orientação segura;

Ao professor Sebastião Josué Votre, pela indicação;

À Secretaria da Pós-Graduação e Coordenação do Departamento de Letras da UFRJ, pela atenção dispensada;

Aos diretores do CIEP 165 Brizolão Brigadeiro Sérgio Carvalho, pelo apoio;

Às diretoras da E.M. Rubens de Farias Neves, pela compreensão;

Ao meu marido e meus filhos, que sempre me julgaram ótima;

Aos meus pais, parentes e amigos que, de alguma forma, baniram o desânimo e eliminaram a fadiga da minha trajetória;

A Katia Emmerica, primeira no ranking de melhor companheira de estudos.

Page 7: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

“Chega mais perto e contempla as palavras.

Cada uma

tem mil faces secretas sob a face neutra

e te pergunta, sem interesse pela resposta,

pobre ou terrível, que lhe deres:

Trouxeste a chave?”

Carlos Drummond de Andrade

Page 8: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

SINOPSE

Estudo da alomorfia prefixal em português na Teoria da

Otimalidade: análise dos prefixos /iN-/, /aN-/ e /deS-/ por

ranqueamento de restrições; alomorfia prefixal resultante de

combinação com a base; interação dos restritores de fidelidade

com os restritores de marcação (boa-formação silábica).

Page 9: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

RESUMO

Este trabalho investiga a alomorfia dos prefixos /iN-/, /aN-/ e

/deS-/. Com os instrumentos da Teoria da Otimalidade (Prince e

Smolensky, 1999), buscamos abordar um tema conhecido via

nova proposta teórica. A motivação para a escolha desses

prefixos foi o alto grau de polimorfismo que apresentam. A OT,

por seu aspecto econômico, é capaz de esclarecer o resultado do

processo com mais rapidez, eficiência, clareza e objetividade

que outros modelos teóricos como o Estruturalismo e o

Gerativismo. Concluímos o trabalho mostrando a superioridade

da OT na análise desse fenômeno.

Page 10: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

ABSTRACT

This work investigates the alomorphy in the prefixes /iN-/,

/aN-/ and /deS-/. With the Optymality Theory’s instruments

(Prince and Smolensky, 1999), we treat a known theme through

out a new theorical purpose. The motivation for the choice of

these prefixes was the high degree of polimorfism that they

present. The OT, for its economical aspect, is capable of

clarifying the process result more quickly, efficiently, clearly

and objectively than other theorical models like Structuralism

and Gerativism. We conclude this work by showing OT’s

superiority in the analysis of this phenomenon.

Page 11: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

RÉSUMÉ

Ce travail a pour but l’étude de la présence de la l’alomorphie

dans les préfixes /iN-/, /aN-/ et /deS-/. À l’aide des instruments

de la Optymality Theory (Prince et Smolensky, 1993) nous

cherchons à entamer un sujet déjà connu par le moyen d’une

nouvelle proposition théorique. La motivation pour le choix de

ces préfixes-là est celle de leur haut niveau de polimorfisme. La

Optymality Theory à cause de son aspect économique est

capable d’éclaircir le résultat d’un processus avec plus de

vitesse, d’efficace, de clarté ainsi que d’objectivité que d’autres

modèles théoriques comme le Structuralisme et le Gerativisme.

Nous concluons ce travail en démontrant la supériorité de la OT

dans l’analyse de ce problème.

Page 12: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO......................................................................................................14

2. ENFOQUES SOBRE A ALOMORFIA NA TEORIA LINGÜÍSTICA: BREVE

PERCURSO HISTÓRICO .......................................................................................17

2.1.Sobre o conceito de alomorfia.............................................................................17

2.2.A alomorfia no âmbito do Estruturalismo...........................................................20

2.3.A questão da semelhança fônica .........................................................................22

2.4.Distribuição complementar.................................. ...............................................24

2.5.Modelos Descritivo-Estruturais da alomorfia......................................................25

2.6.A alomorfia à luz do Gerativismo clássico ... .....................................................29

2.7.Contribuições da fonologia lexical......................................................................34

2.8.A alomorfia na Teoria da Otimalidade (OT).......................................................39

3.TEORIA DA OTIMALIDADE: CONCEITOS BÁSICOS...................................41

3.1.Arquitetura do modelo.........................................................................................41

3.2.Breve comparação entre a OT e a teoria gerativa de Princípios e Parâmetros

(Chomsky, 1968).......................................................................................................48

3.3.Emergência do não-marcado...............................................................................50

3.4.O tratamento da morfologia no âmbito da OT.....………….......……….……...51

3.5.A alomorfia no paradigma da Otimalidade.........................................................53

3.6.Abordagens sobre alomorfia prefixal na OT.......................................................57

4. ANÁLISE DOS DADOS: A ALOMORFIA DE /iN-/,/aN-/ e /deS-/...................65

4.1.Restrições que atuam no fenômeno da alomorfia do prefixo /iN-/.....................65

4.1.1. Hierarquia proposta para o prefixo /iN-/.........................................................67

4.1.2. Tableaux do prefixo /iN-/................................................................................69

4.1.3.Generalizando os dados da língua ...................................................................83

4.2. Análise da Alomorfia Prefixal com /aN-/...........................................................83

4.2.1.Restrições que atuam no fenômeno da alomorfia do prefixo /aN-/..................84

4.2.2.Hierarquia proposta para o prefixo /aN-/ ........................................................ 84

4.2.3.Tableaux do prefixo /aN-/ ................................................................................85

4.3.Análise da alomorfia do prefixo /deS-/ ...............................................................90

4.3.1. Restrições que atuam no fenômeno da alomorfia do prefixo /deS-/ ...............91

Page 13: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

4.3.2. Hierarquia proposta para o prefixo /deS-/ .....................................................93

4.3.3. Tableaux do prefixo /deS-/ ............................................................................94

4.3.4. A sibilante em coda silábica ..........................................................................98

5. CONCLUSÃO ....................................................................................................103

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................106

ANEXO: Conjunto de restrições não ranqueadas ..................................................112

Page 14: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

1. INTRODUÇÃO

As causas da alomorfia têm levantado questões relacionadas à estrutura dos afixos e

das bases, levando a observações sobre como os padrões de boa formação silábica da

língua interferem na adjunção dos prefixos. Este trabalho de pesquisa abrange, além de

aspectos morfológicos, também aspectos fonológicos e prosódicos (silábicos), que podem,

então, trazer novas abordagens para o fenômeno.

Pesquisar a alomorfia na Teoria da Otimalidade (Optimality Theory, doravante OT)

significa lidar com a questão das restrições no lugar das regras – antigas conhecidas dos

lingüistas estruturalistas e gerativistas. Partindo do pressuposto de que restrições de vários

níveis atuam no processo, as questões a investigar são as seguintes:

a) Há prefixos que são mais sensíveis ao fenômeno da alomorfia? Por quê? O que faz deles

mais suscetíveis de sofrer o processo?

b) A alomorfia depende mais da natureza da base ou da estrutura fonológica do prefixo?

c) Qual é a especificação fonológica das sílabas envolvidas no fenômeno da alomorfia em

termos de pontos e modos de articulação de seus inícios (onsets)?

Page 15: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

15

d) Como se dá o relacionamento entre forma subjacente – o input – e forma de superfície –

o output – a partir de uma hierarquia de restrições?

e) Quais são as restrições de nível mais alto: as prosódicas, as fonológicas ou as

morfológicas?

O presente estudo tem por objetivo estabelecer quais são as restrições morfológicas,

segmentais e prosódicas que interagem na geração de formas com alomorfia no prefixo.

Estabelecer uma possível hierarquia dentro do conjunto universal de restrições e observar

como elas interagem é a principal meta do trabalho.

Pretendemos, com os instrumentos da OT, representar formalmente o fenômeno e

explicitar o grau de interação entre regras de formação de palavras e processos fonológicos.

Se, para outros modelos formais, a desobediência a regras ou princípios leva à

agramaticalidade de formas, para a OT a violação pode implicar um resultado gramatical.

Os princípios podem ser violados, sem que sejam gerados resultados agramaticais. Nesse

sentido, a OT trabalha com seleção de formas e não com transformações e/ou regras.

Os dados foram coletados a partir de busca eletrônica nos dicionários Houaiss (2001)

e Ferreira (1973). O corpus foi dividido em grupos de afinidade fonética e fonológica pela

seqüência inicial, levando em conta as diferentes realizações dos prefixos selecionados para

Page 16: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

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análise: /iN-/, /aN-/ e /deS-/1. O controle dos dados foi feito conforme a forma do prefixo,

levando em conta as alternâncias.

Para desenvolver este estudo, dividimos nosso trabalho em três capítulos, além desta

introdução e das considerações finais.

No segundo capítulo, são apresentadas diferentes propostas de análise para o

fenômeno da alomorfia em vários modelos teóricos. A apresentação de tais propostas de

interpretação tem dois propósitos, fundamentalmente: (1) embasar nossa abordagem para

o estudo da alomorfia, desenvolvida no capítulo 4, e (2) mostrar as vantagens da OT sobre

modelos baseados em regras, na análise da alomorfia. Então, com essas metas,

apresentamos, no capítulo 2, as contribuições de lingüistas estruturalistas como Rosa

(2005), Kehdi (2003), Monteiro (2002) e Laroca (2005), entre outros, e gerativistas, como

Bisol (2005), Rocha (1998) e Lee (1995).

No terceiro capítulo, temos como foco o estudo da Teoria da Otimalidade (OT).

Distinguindo seus componentes, hierarquias, restrições e violações, apresentamos as

estratégias utilizadas pela OT para explicar o fenômeno da alomorfia prefixal.

No quarto capítulo, analisamos a alomorfia dos prefixos /iN-/, /aN-/ e /deS-/ com

base no paradigma da Otimalidade. Procuramos, com isso, estudar um velho assunto – a

alomorfia – a partir de uma nova postura teórica – a OT. Assim, pretendemos fornecer ao

leitor um panorama acerca das antigas soluções para um problema já clássico na literatura,

1 Neste e em outros momentos do texto, utilizamos / / para representar fonologicamente os prefixos e < >, quando fazemos referência à forma gráfica dos mesmos.

Page 17: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

17

como é o caso da alomorfia (capítulo 2), à luz de um modelo de análise que descarta a

operação de regras sobre uma forma subjacente em favor de ranqueamentos de restrições

universais passíveis de violação.

2. ENFOQUES SOBRE A ALOMORFIA NA TEORIA LINGÜÍSTICA: BREVE

PERCURSO HISTÓRICO

Neste capítulo, iremos apresentar, ainda que brevemente, alguns enfoques teóricos

sobre a alomorfia, a partir do Estruturalismo lingüístico. Temos, com isso, o propósito de,

após a análise dos dados de nossa pesquisa, mostrar as vantagens do modelo teórico

assumido – a Teoria da Otimalidade – sobre as propostas anteriores para o tratamento da

alomorfia.

2.1 Sobre o conceito de alomorfia

Ante a necessidade distinguir entre morfe (representação mínima significativa de um

morfema) e morfema (entidade tipicamente semântica), lingüistas pós-blomfieldianos

passaram a defender a tese do morfe como sendo a forma e o morfema, o significado. Nessa

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linha de raciocínio, a alomorfia seria um morfema (entidade do plano do conteúdo)

representado por morfes (formas) variados, perspectiva na qual os alomorfes seriam nada

mais que morfes alternantes (variações) para dado morfema.

Para Dubois et al. (1978: pág. 41), “quando se dá o nome de morfema à unidade

significativa mínima, chamam-se alomorfes as variantes desse morfema em função do

contexto”. Do ponto de vista morfológico, segundo Crystal (2000), o termo alomorfe é

composto pelo prefixo /alo/ (variação) e pela raiz /morfe/ (forma). A alomorfia, portanto, é

um fenômeno de variação na forma e invariância no conteúdo, ou seja, nessa situação um

mesmo morfema se realiza foneticamente de formas variadas. O quão variadas podem ser

as formas em situação de alomorfia é questão de debate no âmbito dos estudos

estruturalistas, como destacaremos em 2.3.

Entendida como fenômeno de variação na forma fonética de morfemas, a alomorfia

não deve ser confundida com modificações de natureza ortográfica, como em <brincar /

brinquei>, par em que não ocorre alomorfia na raiz, pois <qu> é uma representação gráfica

do fonema /k/ diante de vogais anteriores. Nesse caso, a forma fonética da raiz não sofre

nenhum tipo de modificação, já que não há alteração na pronúncia.

Compartilhando tal noção de alomorfia, Rocha (1998) admite a ocorrência de

variação em praticamente todos os elementos morfológicos do português: prefixos, bases

nominais e verbais, sufixos, desinências verbais, flexões nominais de gênero e número etc.

Alguns exemplos de alomorfia na língua portuguesa são listados a seguir:

(01) injusto vida cabe garota casas

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19

ilegal vital coube órfã mares

inapto vidão caibo leoa canis

Nos dados em (01), observamos alomorfia no prefixo de negação, um dos objetos de

estudo desta tese, na primeira coluna. A forma do prefixo alterna entre vogal nasal e oral e

presença / ausência de consoante nasal. Na segunda coluna, a base nominal varia entre vid-

e vit-, alternância denominada por alguns autores de raízes doublets (Gonçalves, 2006). Na

terceira, a base verbal apresenta três formas diferentes: cab-, coub- e caib-. Por fim, nas

duas últimas colunas, verificam-se modificações nas flexões de gênero (4ª. coluna) e de

número (5ª.). Na primeira situação, o acréscimo da marca de feminino leva a modificações

na base, quando ela termina em segmento nasal. No caso do plural, a colocação do /S/ pode

levar a uma série de modificações: desde a epêntese de /i/ em palavras terminadas em

consoantes (<mar / mares>; <vez / vezes>) até o apagamento de líquidas laterais (<canil /

canis>), podendo envolver, adicionalmente, também uma epêntese (<canal / canais>;

<papel / papéis>).

Em geral, na língua portuguesa, como nas demais línguas do mundo, podem ocorrer

dois tipos de alomorfia:

a. Alomorfia Condicionada Fonologicamente: respectivamente à desinência verbal do

pretérito imperfeito do modo indicativo /va/ (<eu andava, tu andavas, ele andava, nós

andávamos, vós andáveis, eles andavam>), pode ser observada uma alomorfia na segunda

pessoa do plural, na qual, por fatores fonológicos, a desinência passa a ser realizada como

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20

/ve/, porque a vogal média /e/ tem um ponto de articulação muito mais próximo de /i/,

integrante da desinência número-pessoal /is/; daí a sistemática substituição de /a/ por /e/ no

paradigma verbal; e

b. Alomorfia Condicionada Morfologicamente: no caso da expressão morfológica de

imperfeito do indicativo, observa-se, também, uma sistemática mudança na forma,

condicionada pela classe temática a que pertence o verbo. Assim, /va/, que aparece na

primeira conjugação (<cantava, namorávamos>), concorre com /ia/, forma utilizada nas

demais conjugações (<bebia, sorríamos, sentia>). Nesse caso, não há condicionamento

fonológico, mas paradigmático: diferentes classes de conjugação determinam a escolha do

sufixo, de modo que são agramaticais formas como *bebeva, *partiva ou *cantia.

Certos autores, como Gonçalves (2006), admitem como casos de alomorfia raízes

doublets, ou seja, diferentes formas fonológicas de raiz que aparecem em construções

morfologicamente complexas (<jovem/juventude>; <céu/celeste>). Esse fenômeno, que se

explica por causas históricas, remete ao latim ou ao grego clássico nos elementos

formativos de palavras que, na moderna língua portuguesa, não apresentam rigorosamente a

mesma constituição fonológica na raiz: <pedra> e <pobre> são exemplos que servem para

sedimentar o conceito de morfemas transparentes, que formam derivados igualmente

transparentes (<pedrada>, <pobreza>), embora também formem derivados opacos

(<petrificar>, <paupérrimo>).

2.2. A Alomorfia no âmbito do Estruturalismo

Page 21: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

21

Embora a variação de morfemas tenha sido tratada em modelos pré-estruturalistas,

foram os defensores da corrente estruturalista que, em linhas gerais, definiram esse

conceito. Para Rosa (2005:61), a alomorfia corresponde às “configurações que um morfema

pode assumir”. Kehdi (2003) sugere alguns critérios específicos à compreensão da

alomorfia; sustenta que tanto os alofones quanto os alomorfes freqüentemente aparecem em

distribuição complementar, ou seja, quando acontece uma forma, não pode(m) ocorrer a(s)

outra(s). Esse mesmo autor também discorre a respeito da escolha da forma básica (uma

espécie de “representante oficial” do morfema que se realiza por diferentes alomorfes).

Para ele, o critério para definir a forma básica entre as formas variantes é a produtividade,

isto é, a forma que aparecer mais vezes na língua deverá ser a básica.

Cabral (1980) chama atenção para o critério ‘restrição contextual’, e considera que

as formas básicas são aquelas com menor grau de restrição por ambientes fônicos.

Tomemos como exemplo a alomorfia abaixo exemplificada (cf. Gonçalves, 2006):

(02) mortal escolar

dorsal escalar

estomacal familiar

coronal cavalar

constitucional tutelar

participial ocular

laminal alveolar

Page 22: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

22

Nos dados em (02), a realização do sufixo modal que forma adjetivos a partir de

substantivos é condicionada pela existência de /l/ no onset da sílaba final: quando essa

sílaba apresenta uma lateral, o sufixo se manifesta como -ar, como ocorre em <escalar>,

<escolar> e <milenar>. Nos demais casos, a consoante do sufixo se realiza como líquida

lateral (cf. <vital, mortal, constitucional>). Em outras palavras, a realização do sufixo é

condicionada pela presença de uma lateral no final da raiz, coibindo formas com

configuração *l V l, com uma lateral em onset e outra em coda (*familial2, *escolal). A

consoante do sufixo contorna, obrigatoriamente, a da raiz, de modo a torná-la diferente da

que a antecede na sílaba final do derivado.

O fenômeno que aparece nos dados em (02) é a dissimilação. Como, nos casos de

alomorfia, pode-se escolher a forma básica dentre as que alternam, a forma básica do sufixo

seria /-al/, já que ela apresenta menos restrição contextual, aparecendo em qualquer

ambiente diferente de /l/. Desse modo, a forma /-ar/ é menos freqüente e mais restrita,

sendo considerada, por isso mesmo, a variante de /-al/.

2.3. A questão da semelhança fônica

Enquanto Jensen (1990:8) define os alomorfes, com base na imprevisibilidade da

variação, como “variantes de um morfema que não são fonologicamente predizíveis”,

Ortega (1990:67) afirma que “a escolha dos alomorfes não tem nenhuma base fonética, nem

2 A forma “familial”, apesar de pouco produtiva na língua, aparece no dicionário eletrônico Houaiss (2001).

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23

depende da classe gramatical da base ou de qualquer traço fonológico específico. É, na

realidade, uma alternância totalmente aleatória, que não pode ser identificada mediante uma

regra”.

Tendo em vista a polêmica quanto à importância da semelhança fônica nas formas

que apresentam alomorfia, vem sendo sustentada a tese de que quaisquer formas com

mesmo significado devem ser consideradas casos de alomorfia (Jensen, 1990). Apesar de

renomados lingüistas, como Gleason Jr. (1978) e Hodge (1972), também defenderem a

idéia de que a semelhança fonética entre os alomorfes não é importante, Laroca (2005)

ressalta que a alomorfia é um recurso de que os morfes, semelhantes fonética e

semanticamente, dispõem para representar um mesmo morfema. Assim, se não há o

mínimo de identidade formal entre os elementos variantes, fica difícil estabelecer os limites

entre sinonímia e alomorfia.

Ao estabelecer o aspecto formal como critério para a definição da alomorfia, Kehdi

(2003) parte do significado dos morfemas, apesar de também observar a semelhança

fonológica entre as formas em questão. Assim, nos casos de <-vel> e <-bil> (<amável /

amabilidade>), estamos diante de alomorfes de um mesmo morfema devido ao fato de

essas formas diferentes apresentarem o mesmo significado e guardarem um mínimo de

identidade fonológica, sendo possível relacionar /v/ com /b/ e /e/ com /i/. Em <altura /

altitude>, Kehdi considera que <-ura> e <-itude> são morfemas distintos, apesar da grande

semelhança de significado, sobretudo porque essas formas são completamente diferentes.

Page 24: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

24

Segundo Gleason Jr. (1978) e Hodge (1972), a definição da alomorfia, em relação

ao significado/forma das palavras, pode ser exemplificada através da conjugação de verbos

como /ir/ (<vou, vais, vamos, iremos, irei>). Tais formas devem ser consideradas

alomórficas por estarem associadas a um mesmo paradigma, ainda que a semelhança fônica

atinja o nível zero. Enfim, o grau de semelhança fônica é uma questão não muito bem

resolvida na análise da alomorfia, de modo que existem, entre os morfólogos do português,

diferentes visões sobre o assunto.

2.4. Distribuição complementar

Os casos mais evidentes e incontestáveis de alomorfia são os que envolvem

distribuição complementar de formas. Em linhas gerais, o termo distribuição é usado com

referência ao conjunto total de contextos lingüísticos, ou ambientes, em que pode ocorrer

uma unidade, seja ela um segmento, um morfema ou uma palavra (CRYSTAL, 2000: 87).

Em fonologia, diz-se que sons estão em distribuição complementar quando se

encontram em ambientes mutuamente exclusivos, a exemplo do que ocorre com [t] e [ts],

que, na fala carioca, por exemplo, revezam-se por contextos fonológicos específicos de

cada um.

Em morfologia, o termo “ambiente” pode não fazer referência, necessariamente, a

Page 25: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

25

um contexto fonológico. Sem dúvida alguma, há uma complementação entre /-va/ e /-ia/, na

expressão do imperfeito do indicativo. Nesse caso, “ambiente” envolve paradigma, já que a

complementação é determinada pela classe temática do verbo. Neste trabalho, iremos lidar

com casos de alomorfia condicionada fonologicamente que envolvem complementação de

formas por ambientes tipicamente segmentais.

De acordo com Rio-Torto (1998), a alomorfia é condicionada por ambientes

morfolexicais, e a autora argumenta ser obsoleto discutir a questão da fronteira entre os

condicionamentos fonológico e morfológico da alomorfia. A variação formal do prefixo

/iN-/, um dos contemplados neste trabalho, exemplifica Rio-Torto (1998), se dá graças à

estrutura formal das bases às quais se associa, na medida em que, não sendo ele um item

lexical dotado de significado autônomo, se denota fonologicamente dependente da base.

Assim sendo, a alomorfia ocorre devido às distintas possibilidades de combinação

morfolexical a que o prefixo está sujeito.

2.5 Modelos Descritivo-Estruturais da Alomorfia

Page 26: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

26

Rosa (2005) explana que, enquanto o modelo IA (Item e Arranjo) parte da premissa

de que, pela propriedade da comutação, pode ser conseguida uma base, um prefixo ou um

sufixo, desde que na troca de um elemento por outro se tenha certeza de sua origem ou

função lingüística, no modelo IP (Item e Processo) não há comutação; apenas aplicação de

regras que permitem verificar a eficácia do emprego de morfemas em dado contexto.

Com ênfase nos modelos que usam a definição de item, Rosa (2005) ressalta que se

torna difícil fragmentar alguns morfes, na proporção que, se assemelhando a “processos”

devido ao seu comportamento como “unidades discretas”, não são passíveis de adição de

outros morfes; logo, a insuficiente transparência da estrutura que chega à superfície não

permite que sua constituição mórfica seja dividida nem que seja verificada a sua

composição com exatidão.

A formação do plural, por exemplo, é um fenômeno que permite observar as

substanciais diferenças entre os modelos, posto as palavras sofrerem variações conforme

sua terminação (<formoso/formosos>, <ponte/pontes>; <mar/mares>; <anzol/anzóis>). No

primeiro par, por exemplo, a aplicação da regra morfológica leva à abertura da vogal do

sufixo -oso, que passa de [o], no singular, para [ó], no plural. Nesse caso, fica difícil dividir

o todo em partes discretas, de modo a mostrar a constituição mórfica da palavra.

Além disso, os modelos item-combinação/arranjo e item-processo variam a maneira

de explicar o mesmo fato lingüístico. Embora os dois modelos sejam descritivos, o item-

arranjo busca explicar a língua como uma série de combinações lineares de morfes/itens;

por sua vez, o item-processo analisa as palavras. A diferença consiste na concepção de

Page 27: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

27

formação de palavras: para o IA, as palavras e as sentenças são formadas a partir de

combinações entre morfes/itens; para o IP, as palavras sofrem processos para alcançar a

forma de superfície.

Utilizando as palavras de Jensen (1990), podemos assumir que o modelo IA analisa

os morfemas necessariamente como “coisas”, enquanto o IP permite que morfemas também

sejam considerados regras, ou seja, operações fonológicas. Como o modelo IA trata os

morfemas como “coisas”, em alguns casos específicos esse procedimento se torna

complexo, significativamente porque morfes dos tipos replacitivo, subtrativo e

suprassegmental, os chamados “mal-comportados” (Jensen, 1990), marcam a mudança de

significado respectivamente pela altura vocálica (<avô / avó>), pela perda de um segmento

(<órfão / órfã>) e pela variação no acento lexical (<fabrica / fábrica>).

Uma diferença fundamental entre esses dois modelos, no caso da alomorfia, é a

noção de forma básica, forma a partir da qual as demais variantes podem ser descritas e

geradas. Somente em abordagens via IP essa noção pode ser aplicada com mais êxito, pois

“itens” podem vir à superfície passando por processos, ao invés de arranjos. Sob o modelo

IA, portanto, é impossível explicar, sem recorrer à postulação de uma forma básica, se

determinados itens sofrem arranjos, modificações na própria base, ou se passam pelos

processos de perda, substituição ou acentuação.

Para ilustrar a diferença entre IP e IA na análise de um fenômeno morfológico do

português, utilizemos a situação apresentada em Gonçalves (2006). Segundo o autor, um

dos casos de difícil resolução em IA, por não envolver seqüenciação linear de formas, é o

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28

minus morfema (morfe subtrativo). Na visão de Nida (1949), morfes subtrativos devem ser

postulados para acolher casos em que a expressão de um traço gramatical se faz através da

diminuição do corpo fônico da palavra-base. Consistem, pois, na perda de um ou mais sons

para marcar oposição entre membros de uma mesma categoria.

Pares como ‘irmão’/’irmã’ e ‘órfão’/’órfã’, entre outros, evidenciam que as formas

de feminino são caracterizadas pela queda da semivogal do masculino. Então, um modelo

como o IA precisa lançar mão de um tipo de morfema como o subtrativo para descrever

casos desse tipo. Num modelo do tipo IP, poder-se-ia pensar numa forma básica marcada

pela presença de um arquifonema nasal travador de sílaba (/‘iRmaN/ e /‘óRfaN/). O

segmento final dessas formas teóricas se torna visível nas operações derivacionais, como

em <irmanar> e <orfanato>, e é suprimido, quando, em fronteira morfológica, precede o /-

a/ de feminino, nasalizando a vogal precedente e ocasionando a posterior crase da vogal da

base com a vogal de feminino, como no esquema a seguir:

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29

(03) /‘iRmaN/

/‘iRmaN/ + /-a/

/‘iRmaNa/

/‘iRmãa/

[‘ix.mã]

Sem dúvida, essa análise via forma básica terminada em nasal permite que se

analisem dados como <órfão>, <irmão> e <alemão> de maneira bem parecida com de

formas como <leão> e <patrão>. Nesses casos, a forma básica terminaria em /oN/, já que

essa seqüência aparece em <leonino> e <patronato>, por exemplo. Assim, a única diferença

entre essas palavras e as formas com o chamado morfe subtrativo seria a aplicação de uma

regra de desnasalização, motivada pela adjacência de vogais finais diferentes, como se vê

em (04) abaixo:

(04) /le’oN/

/le’oN/ + a

/le’oNa/

/le’õa/

[le’oa]

Page 30: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

30

2.6 A alomorfia à luz do Gerativismo clássico

Na teoria gerativa clássica, a morfologia, mostra Basílio (1980), foi caracterizada,

por assim dizer, pela ausência. Uma das razões para isso foi o tratamento fonológico da

alomorfia, ou seja, casos de alomorfia condicionados fonologicamente passaram a receber

um tratamento fonológico, via regras derivacionais.

Câmara (1984) salienta que o gerativismo trabalha com traços distintivos e, com

isso, atende tanto o nível fonológico (estrutura subjacente), como o nível fonético (estrutura

superficial), relacionando-os através de regras, as quais apagam, inserem ou mudam os sons

em dados contextos. Assim, a morfologia interessante para a fonologia passou a ser

descrita, no modelo proposto por Chomsky e Halle (1968), a partir de processos

fonológicos que relacionam o que vem à superfície (output) e o que é subjacente à língua

(input).

Callou e Leite (2001) mostram que o modelo gerativo produz formas abstratas

subjacentes para explicar as formas que vêm à superfície e fornecem ao leitor um bom

exemplo de abordagem morfofonológica nesse modelo: a formação do plural. Segundo essa

proposta, a formação do plural é um processo morfologicamente regular, o que minimiza o

uso da alomorfia, profundamente utilizado nas abordagens estruturalistas.

Gonçalves (2004) utiliza o modelo de Chomsky e Halle (1968) e mostra que o

plural se realiza por uma única regra morfológica – agregação de /S/ à borda direita da base

– e várias regras fonológicas que são aplicadas numa seqüência específica. Algumas bases

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31

utilizarão umas regras; outras desprezarão as mesmas regras, visto que já alcançaram seu

objetivo de pluralização e boa formação silábica.

Para simplificar a descrição, iniciaremos pela regra mais simples: a anexação pura e

simples do /S/ de plural à base. Essa regra dá conta de bases terminadas por qualquer vogal

ou semivogal oral: <casas>, <pais>. Algumas outras palavras, após processo de

pluralização, não podem figurar em português somente com o /S/ incorporado ao final

delas, como, por exemplo, *piress e *mess, porque criam estrutura silábica em desacordo

com os padrões fonotáticos básicos da língua. Para desfazer esse problema, a língua lança

mão de uma segunda regra, a degeminação (cf. Gonçalves, 2004) – o /S/ de plural é

apagado quando a base termina em –s anoxítono, resolvendo, assim, a situação da palavra

<pires>, mas não da forma *mess, que não apresenta a mesma acentuação, precisando,

dessa forma, de outra regra que desfaça a criação de consoantes geminadas: a epêntese, o

que resulta, então, em <meses>.

A regra de inserção de [i] também caracteriza palavras que figuram com duas

consoantes contíguas, mesmo que não geminadas: *pars. Para essa questão, é preciso usar

outra vez a epêntese, que irá desfazer a coda complexa e formar então outra sílaba:

<pares>.

Ainda há muito o que fazer para explicar a pluralização em ambientes tão distintos,

como os que aparecem nas palavras <canal>, <funil> e <fóssil>, por exemplo. Essas

palavras passam (1) pela regra de anexação de /S/ à direita da base: *canals, *funils,

*fósils; (2) pela silabificação: *ca.nals, *fu.nils, *fó.sils; (3) pela epêntese vocálica:

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32

*ca.nalis, *fu.nilis, *fó.silis; e (4) pela ressilabificação: *ca.na.lis, *fu.ni.lis, *fó.ssi.lis. Ao

contrário das demais até então analisadas, essas palavras sofrem a regra de apagamento de

/l,n/ no contexto de pluralização: *ca.na.is, *fu.ni.is, *fó.si.is. A segunda sofre

degeminação /i/ > 0: <fu.nis>. O abaixamento de /i/ > /e/ desfaz a situação de duas vogais

contíguas idênticas (*fó.se.is), mas é preciso usar a regra da ditongação /i/>y para tornar

gramaticais as palavras (fó.s[ey]s e ca.n[ay]s). Uma síntese da análise de Gonçalves (2004)

para a formação do plural com base na fonologia gerativa clássica é vista no quadro em

(05), a seguir (cf. Gonçalves, 2004: 94):

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33

(05)

Regras /‘kaza/ /‘paR/ /ka‘nal/ /fu‘nil/ /‘fósil/ /‘pireS/ /‘mês/

1. Anexação de /S/ à

direita da base

[X]s � [[X]s S]s pl.

‘kazas

‘pars

ka‘nals

fu‘nils

‘fósils

‘piress

‘mess

2. Degeminação

/S/ � Ø / (C)VS [- ac] – /S/

O -s de plural é apagado quando a

base termina em -s anoxítono

‘pires

3. Silabificação (.)

‘ka.zas

‘pars

ka.‘nals

fu.‘nils

‘fó.sils

‘pi.res

‘mess

4. Epêntese de [i]

Ø � [i] / C – + C

Um [i] é inserido para dissolver

grupos consonânticos

‘paris

ka.‘nalis

fu.‘nilis

‘fó.silis

‘mezis

5. Ressilabificação (.) e

atribuição de ponto coronal

para Cs em onset

‘pa.ris

ka.‘na.lis

fu.‘ni.lis

‘fó.si.lis

‘me.zis

6. Apagamento de /l, n/

ka.‘na.is

fu.‘ni.is

‘fó.si.is

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34

+ soa

+ cont. � Ø / V – + V [pl.]

7. Degeminação

/i/ � Ø / – [+ ac.] i

Um [i] acentuado é apagado

quando seguido de [i]

fu.‘nis

8. Abaixamento

/i/ � e / – [- ac.] i

Um [i] átono abaixa quando

seguindo por outro [i]

‘fó.se.is

9. Ditongação

/i/ � y / V –

Uma vogal alta passa a glide

quando segue outra vogal

ka.‘nays

‘fó.seys

Saída Fonética

[‘kazax]

[‘parix]

[ka‘nayx]

[fu‘nix]

[‘fóseyx]

[‘pirix]

[me‘zix]

Assumindo o modelo de Chomsky e Halle (1968), que recorrem à derivação serial,

Gonçalves (op. cit.) analisa a pluralização em português como um típico fenômeno de

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35

interface morfologia-fonologia. Diferentemente, soluções estruturalistas, como a de

Câmara (1970), tratam a pluralização como mais um caso de alomorfia condicionada

fonologicamente: o plural se realiza pelos alomorfes {-s}, {-es} e {0}.

2.7 Contribuições da fonologia lexical

A fonologia lexical se propõe a trazer alternativas metodológicas para a descrição

das variações morfológicas e/ou morfofonêmicas. Essas alternativas consistem em dividir a

língua em estratos cíclicos nos quais se encaixam regras de formação de palavras

(derivação e flexão) e regras fonológicas. Esse modelo procura explicar o que acontece

quando uma regra fonológica atua em diferentes estratos da língua.

Os afixos apresentam diferenciação fonológica no contato com a base; isso se traduz

de forma que eles não têm o mesmo status para inúmeras operações fonológicas. Assim se

explicam variações morfológicas que acontecem quando um prefixo perde a nasal

(/iN-/+legal > <ilegal>) e quando não perde a nasal (/eN-/+lat/-ar/ > <enlatar>). O que

ocorre nesses casos é que o processo fonológico em questão se comporta de modo

diferenciado quando atua em processos morfológicos diferentes. Dito de outra maneira, o

apagamento da nasal diante de soantes ocorre em casos de derivação prefixal (/iN-/+real >

<irreal>; /iN-/+lógico > <ilógico>), mas não em casos de parassíntese (/eN-/+raiva+/-eser/

> <enraivecer>, *erraivecer; /eN-/+luto+/-ar/ > <enlutar>, *elutar).

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36

A fonologia lexical (doravante FL) se propõe a diminuir a distância entre o que é

produzido na estrutura subjacente e o que é realizado na estrutura de superfície, ou seja,

objetiva integrar o componente fonológico (lexical) com o morfológico (lexical) e com o

sintático (pós-lexical).

A FL trabalha com três níveis de representação das palavras: a) o subjacente; b) o

lexical (vários) e c) o de superfície (pós-lexical). Esse modelo, proposto por Kiparsky

(1982), é do tipo top-down/bottom up: traduz-se que a representação lexical é input para o

nível mais baixo e, conseqüentemente, se submete às regras fonológicas daquele nível

específico até alcançar a forma de output, interagindo profundamente a morfologia com a

fonologia. Cada estrato contém seu próprio conjunto de regras fonológicas.

O primeiro nível (que é base para a formação de todas as outras palavras derivadas e

flexionadas) é o que contém os primitivos morfológicos: itens lexicais não-derivados e lista

de afixos. Esse nível inicia o processo cíclico de interação morfologia-fonologia porque

fornece o elemento de input que vai resultar num output depois de passar por todas as

regras daquele nível e assim sucessivamente. O nível inicial produz uma representação

lexical que irá se tornar um input da fonologia de nível seguinte para sofrer as regras

morfológicas do próximo nível até sair do componente lexical para a sintaxe, aí se

submetendo à fonologia pós-lexical. Na figura em (06), a seguir, extraída de Kiparsky

(1982: 215), sintetiza-se o modelo:

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(06)

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38

As regras fonológicas se dividem em lexicais (respeitam as informações

morfológicas e são aplicadas quando a palavra ainda está em formação) e pós-lexicais

(ignoram as informações morfológicas, ou seja, não “sabem” o que é um prefixo, por

exemplo, e são aplicadas quando a palavra já está pronta).

Um exemplo de regra fonológica pós-lexical é a vocalização da lateral palatal (/l/ >

[w] / – $). A prova de que a regra de vocalização é aplicada à palavra já pronta é que, em

derivados de palavras terminadas em /l/, o /l/ se mantém, como no exemplo a seguir:

<papel> ([pa’pEw]) mas <papelada> ([pape’lada]).

Um exemplo de regra fonológica lexical é o apagamento de nasal (/n/ > 0 / -

[+nasa]). A regra é aplicada quando a palavra ainda está em formação porque não é

possível recuperar, em nenhum derivado, a nasalidade cancelada por essa aplicação, como

podemos observar em /iN-/+moral > <imoral, imoralidade>. Além disso, esse processo não

é aplicado em fronteira de palavras: “em Minas, *e Minas.

Lee (1995) propõe três estratos para o léxico do português: o nível A agrupa

palavras formadas por flexões irregulares e pela maioria dos processos derivacionais; o

nível B reúne palavras que apresentam flexão regular, parassíntese e formações

superprodutivas, como os advérbios terminados em -mente; e o nível W é o das palavras

formadas por composição, já na saída do léxico para a sintaxe.

A FL trabalha com alguns princípios básicos, que são: (a) Hipótese do Domínio

Forte (HDF), (b) o Princípio de Preservação de Estrutura (PPE) e (c) O Princípio do

Contorno Obrigatório (OCP).

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A Hipótese do Domínio Forte (HDF) pressupõe que determinadas regras podem ter

validade num nível do léxico mas não se comportar da mesma forma em outros níveis. Um

exemplo da atuação de HDF é a assibilação (transformação de uma oclusiva numa fricativa

sibilante). Essa regra, que converte /t/ >/s/ diante de /i/, não é categórica (<bonito> >

* bonisíssimo) porque não se aplica a todos os sufixos que começam por /i/; esta regra se

aplica ao sufixo –ia, mas não a –íssimo ou –inho (<profeta> > <profecia>, <paciente> >

<paciência>; <gago> >*gagíssimo). Outro exemplo de regra que só acontece num nível e

não em outro é o abrandamento de velar, segundo a qual /k/ >/s/ e /g/ > /z/ (transformação

de uma oclusiva velar em fricativa), a exemplo do que acontece com <elétrico> >

<eletricidade> e <filólogo> > <filologia> mas não com <caco> > *cacinho e <gago> >

*gaginho. A atuação diferenciada das regras é evidência de que os afixos da língua não

figuram no mesmo estrato lexical.

Para finalizar o princípio HDF, vamos abordar a questão da supressão de nasal

diante de soante (apagamento da nasal quando o elemento seguinte é uma líquida (lateral ou

uma vibrante) ou uma nasal). Dentre as variadas regras estudadas por Lee (1995) nesse

modelo, a que mais interessa a um dos fenômenos de alomorfia prefixal investigados é o

apagamento de nasal diante de soantes, como, por exemplo, em /iN-/+lícito, /iN-/+lógico

etc.

A HDF mostra que regras não-cíclicas ocorrem em um nível mas não em outro; daí

temos que /eN-/+lat/-ar/, que não perde a nasalidade (diante do mesmo ambiente

fonológico), não se localiza no mesmo estrato lexical que /iN-/, o que nos mostra estar a

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regra fonológica de apagamento localizada no nível mais profundo do léxico – o nível A

(cf. Lee, 1995).

O Princípio de Preservação de Estrutura (que não é o objeto do nosso estudo) prevê

que somente segmentos contrastivos da representação subjacente (fonemas) podem ocorrer

durante as operações lexicais. Esse princípio limita os tipos de regras que podem atuar no

componente lexical: as que lidam com alofones, por definição, são pós-lexicais.

O Princípio do Contorno Obrigatório (OCP) proíbe elementos adjacentes idênticos

nas representações lexicais. Por esse princípio, se elementos idênticos (segmentos ou

traços) ficarem adjacentes, necessariamente haverá um contorno, que pode implicar no

cancelamento de um dos sons (degeminação), na mudança de traços de um dos segmentos

envolvidos ou na inserção de uma forma (epêntese) separando a seqüência em causa. Esse

princípio é fundamental no estudo da alomorfia prefixal e será comentado com mais

atenção nos capítulos de OT (3) e de análise (4), já que ele se mostra relevante tanto na

prefixação de /iN-/ quanto na de /deS-/.

2.8 A alomorfia na Teoria da Otimalidade (OT)

No âmbito da OT, a alomorfia é tratada com base numa hierarquia de restrições,

sobretudo as referentes à sílaba, ao acento e à ordem dos morfemas; nessa linha de

investigação, o que irá determinar a melhor combinação entre um afixo e uma base é a

obediência à determinada hierarquia e o melhor atendimento às demandas desse ranking.

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41

Como a OT é base de nosso estudo, cabe, antes, apresentar esse quadro teórico, o que será

feito no capítulo a seguir. No final do próximo capítulo, resenhamos a análise otimalista de

Schwindt (2000) sobre a prefixação.

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3. TEORIA DA OTIMALIDADE: CONCEITOS BÁSICOS

Neste capítulo, levantamos os principais conceitos relacionados à Teoria da

Otimalidade (OT). No item 3.1, esquematizamos a arquitetura do modelo, definindo suas

premissas básicas e seus princípios formadores; no item 3.2, estabelecemos uma breve

comparação entre a OT e a teoria gerativa de Princípios e Parâmetros, doravante PP,

observando as vantagens do modelo OT em detrimento do modelo PP; em 3.3, definimos a

emergência do não-marcado como mais uma especificidade da OT; por fim, em 3.4, 3.5 e

3.6, encerramos o capítulo com algumas abordagens sobre fenômenos morfológicos e

alomorfia na OT.

3.1. A arquitetura do modelo

A Teoria da Otimalidade é um modelo lingüístico gerativo que tenta explicar as

estruturas fonológicas, morfológicas e sintáticas de qualquer língua a partir de um

ranqueamento de restrições universais violáveis. Criada por Prince e Smolensky (1993),

com o objetivo de questionar os modelos anteriores em relação às regras gramaticais que

não podem ser violadas sem gerar resultados agramaticais, a OT propõe que diferentes

línguas correspondem a diferentes hierarquizações de restrições.

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43

Na arquitetura da OT, postulam-se três componentes: gerador (GeN, abreviação da

forma inglesa generator) cria um conjunto de candidatos a output (ou estrutura superficial /

saída) a partir de um determinado input (estrutura subjacente / entrada). Essa produção de

candidatos não é aleatória: buscam-se formas que respeitem propriedades lingüísticas

conhecidas. O Conjunto de restrições violáveis (CoN, abreviação da forma inglesa

constrains) contém o conjunto universal de restrições violáveis e não-ranqueadas. As

restrições podem ser de Fidelidade e de Marcação. As de Fidelidade são responsáveis pela

identidade entre o input e o output; as de Marcação são exigências estruturais que regulam

a boa formação de estruturas segmentais e/ou prosódicas.

A OT postula que as restrições são universais e passíveis de violação. Essa violação,

porém, não é gratuita: viola-se uma restrição para satisfazer outra que apareça mais alta na

hierarquia de uma determinada língua. Um último componente da OT é o avaliador

(EVAL, abreviação da forma inglesa evaluation), que compara os candidatos a output e

seleciona, entre eles, uma forma ótima, mediante a hierarquia de restrições de uma dada

língua. Em outras palavras, a partir de um determinado input, são gerados candidatos que se

submetem a um conjunto de restrições que avaliam o melhor candidato a output, chamado

de ótimo.

Todo o processo de avaliação se apresenta em forma de tableau, que facilita

visualizar a aplicação do modelo. Na linha superior da tabela, encontram-se as restrições,

ranqueadas de acordo com as prioridades de uma determinada língua. A leitura é feita da

esquerda para a direita. O input se localiza no canto superior da primeira coluna e os

candidatos a serem avaliados, logo abaixo do input, ainda nessa coluna. As outras colunas

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44

apresentam o resultado da avaliação de cada candidato. O asterisco (*) marca uma violação

a uma determinada restrição; a exclamação (!), após um asterisco (*!), marca uma violação

fatal que elimina o candidato da disputa; o símbolo (�) indica o candidato gramatical ou

ótimo. A área sombreada da tabela demonstra que os candidatos não estão mais

participando da disputa e a avaliação das restrições não faz mais diferença para a escolha

do candidato vencedor, conforme pode ser observado no tableau ilustrativo abaixo.

(01)

Input Restrição 1 Restrição 2 Restrição 3 Restrição 4

a. candidato * **!

b. candidato � * *

c. candidato * *!

d. candidato *!

No caso hipotético acima, o candidato (d) é sumariamente eliminado, uma vez que

infringe a restrição mais alta na hierarquia. Mesmo violando as restrições 2 e 3,

respectivamente, os candidatos (a) e (b) continuam na disputa porque elas não estão

crucialmente hierarquizadas, ou seja, uma não domina a outra (daí a linha tracejada entre

elas). Como a forma (c) viola as restrições 2 e 3, ao contrário dos demais, que violam uma

ou outra, ela sai da disputa nesse momento da avaliação. O candidato (a) é banido por

infringir mais vezes que o concorrente (b) a restrição 4 . Embora a restrição 4 esteja em

posição mais baixa no ranking, é ela que decide a escolha do candidato (b) como ótimo.

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45

Portanto, a OT é um modelo que aceita como gramatical um candidato que viole restrições,

desde que ela ocupe um lugar mais baixo na hierarquia proposta.

A OT apresenta premissas que a tornam diferente de outros modelos, tais como:

universalidade, violabilidade, hierarquização, inclusividade e paralelismo.

A universalidade consiste em criar restrições que possam atender a qualquer língua,

como as restrições de marcação (morfológicas, fonológicas, sintáticas), capazes de

descrever, explicar e fundamentar qualquer estrutura lingüística, e como as restrições de

fidelidade, que buscam manter o output o mais fiel possível ao input. (cf. anexo 1, que

contém um glossário de restrições)

A violabilidade é a premissa que melhor traduz o espírito do modelo em questão.

Por permitir que uma restrição seja violada, a OT difere dos demais modelos gerativos.

Violar uma restrição não significa condenar um candidato à agramaticalidade. Um

candidato pode ser considerado ótimo, embora viole mais restrições que os concorrentes,

desde que elas estejam menos cotadas na hierarquia da língua, ou viole menos restrições

que seus oponentes (cf. Collischon, 2000:40). Na seleção do vencedor, o que importa não é

o número de restrições que o candidato viola, mas a posição que a restrição ocupa na

hierarquia. Dependendo de qual restrição o candidato violar, ele pode ser eliminado ou não

da disputa. O que conta na escolha do candidato ótimo é a hierarquização. Portanto, um

candidato considerado ótimo por esse modelo será gramatical, mesmo violando restrições,

visto que a gramaticalidade não implica absoluta obediência às restrições. Como vimos no

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46

tableau em (01), o candidato vencedor viola duas restrições, não sendo, por isso,

considerado agramatical.

A hierarquização é um fator que varia de língua para língua. A idéia básica da OT é

que existam restrições universais, capazes de dar conta de todos os possíveis fenômenos de

qualquer língua, e passíveis de serem violadas. A partir de hierarquizações específicas de

cada língua, o modelo prevê a criação de candidatos e a submissão deles às restrições

universais. É a hierarquia que determina qual será o candidato ótimo.

A hierarquização não deve ser confundida com a ordenação de regras aplicadas, por

exemplo, no modelo gerativo de Chomsky e Halle (1968), em que uma mesma regra pode

ser testada cíclica ou totalmente. Na OT, a hierarquização é responsável pela avaliação de

todos os candidatos, mesmo aqueles que estão menos cotados na disputa. Já os modelos que

se utilizam da ordenação de regras são chamados de derivacionais (ou serialistas), uma vez

que um determinado input pode sofrer aplicação de regras e gerar um certo output, que

posteriormente pode ser input para outra regra e formar outro output.

Para a OT, que é um modelo paralelista, uma restrição não tem o mesmo valor que

regras. Nessa teoria, o processo ocorre de forma bastante diferente, pois as restrições atuam

em todos os candidatos de forma simultânea, não havendo níveis intermediários de

representação.

A inclusividade delimita o número de candidatos a serem avaliados numa

determinada língua, uma vez que só aceita outputs que respeitam as condições de boa

formação, para que não sejam gerados candidatos absurdos. Outros modelos teóricos

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47

gerativistas, com exceção do Programa Minimalista de Chomsky (1995), não se preocupam

com a escolha de candidatos com boa formação (Costa, 2001) e isso faz com que a OT seja

diferente de outros modelos de base gerativa.

O paralelismo é outra característica marcante para a distinção entre a OT e outros

modelos. Na OT, todos os candidatos são avaliados paralelamente com relação a todas as

restrições propostas.

Um dos aspectos inovadores da OT são as restrições, e uma importante família é a

de Fidelidade, que impõe que o output seja maximamente semelhante ao input. A

identidade do output com o input é importante por evitar que aplicações livres de regras

gerem uma série de apagamentos, inserções ou alterações em unidades lingüísticas, sem

qualquer motivação. Sabemos, porém, que a OT permite a violação de restrições; logo, o

output pode não ser tão idêntico ao input, mas isso só ocorrerá se houver uma restrição

estrutural (de marcação) mais alta no ranking da língua em análise. Restrições estruturais

são aquelas que dão conta de expressões correspondentes aos valores não-marcados da

língua.

A OT apresenta-se inovadora porque é capaz de demonstrar que quando uma

restrição de Fidelidade está dominada na hierarquia de uma língua emergirá um output não

marcado, isto é, aquele estruturado seguindo os padrões lingüísticos mais comuns às

línguas.

De acordo com os trabalhos de Prince & Smolensky (1993), Grimshaw (1997) e

Legendre (1995), entre outros, a OT é considerada uma teoria nova e completamente

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48

independente de outros modelos gerativos, porque assume explicitamente divergências com

outras teorias. Por exemplo, a Otimalidade trata a dicotomia universal-particular como uma

diferença entre a universalidade das restrições e a particularidade das hierarquias, sem

perder de vista que as restrições podem ser violadas. Já alguns autores, como Broekhuis &

Dekkers (1996), Costa (1997, 1998) e Polgardi (1998), consideram a OT um instrumento

de trabalho compatível com outras teorias, porque, apesar de apresentar um conjunto de

premissas diferentes, não dispensa as noções definidas por outros modelos teóricos e suas

ferramentas de análise. Bons exemplos de estudos sobre a compatibilidade da OT com

outras abordagens teóricas para o português do Brasil são Piza (2005) e Damulakis (2005),

que, respectivamente, assumiram um enfoque da OT com a Lingüística Cognitiva e com a

Teoria da Variação para abordar, nesta ordem, a distribuição dos agentivos denominais (-

eiro, -ista, -ário, -ólogo e -ógrafo) e o apagamento da segunda consoante em grupos

consonantais (próprio, problema).

Para a OT obter mais respaldo como teoria, é importante que o estudioso leve em

consideração, dentre outros aspectos, o maior número de candidatos a output, já que o input

deve estar representado nos vários candidatos a output. Também se faz necessário comparar

os resultados obtidos, testando-os com uma nova hierarquização.

Na fonologia, a OT vem sendo aplicada a quatro áreas, fundamentalmente: teoria da

sílaba, morfofonologia, acento e inventários segmentais. Neste trabalho, aplicamos a OT à

morfofonologia, na linha de Kager (1995/ 1999), Costa (2001), Klein (2000), Green (2003/

2004) e Bonet (2004), entre outros, procurando dar conta de alomorfias há muito estudadas

Page 49: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

49

em outros modelos teóricos. No final do capítulo, apresentamos uma seção específica para

o tratamento da morfofonologia no paradigma da OT.

3.2. Breve comparação entre a OT e a teoria gerativa de Princípios e Parâmetros

(CHOMSKY, 1968)

A grande diferença da OT em relação ao modelo de Princípios e Parâmetros é que

este explica o que já existe, enquanto a Otimalidade explica o que é possível ser formado e

o que não pode vir à superfície (e por que). No caso da sílaba, por exemplo, a OT explicita

a opcionalidade da formação de ataque ou coda em uma dada língua, a partir da satisfação a

restritores do tipo ONSET, NÃO-CODA e MAX. Já o modelo PP só aceita duas opções: ou

a língua tem ou não ataque ou coda (COSTA, 2001). Ambos os modelos fazem predições

corretas quanto à formação de sílabas em uma língua, mas o que assegura, na OT, a

realização ou não de uma dada estrutura silábica é a família Fidelidade, sendo esse modelo

considerado, então, mais flexível por utilizar essa família de restrições que assegura a

opcionalidade onde realmente ela existe. O enfoque proposto pela OT revela-se mais

adequado empiricamente, já que condições de boa-formação podem ser respeitadas ou

violadas numa mesma língua ou em línguas diferentes.

O movimento ocorrido na teoria gerativa, por volta dos anos 90, em prol da

substituição de regras por restrições, impulsionou as pesquisas fundamentadas na OT. Em

modelos anteriores, a utilização de regras provocava uma sobrecarga de expedientes, isto é,

para se chegar a um resultado analítico era preciso considerar várias categorias, como

Page 50: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

50

princípios, restrições, filtros e regras. Regras são passíveis de ordenação pelo seu grau de

generalidade, ou seja, pode-se aplicar uma regra, obter, com ela, um resultado e a este

resultado aplicar-se outra regra. Na OT, o processo de análise dos fenômenos lingüísticos

gira em torno de restrições violáveis, apenas, não sendo necessários expedientes variados,

como filtros, condições de boa formação, regras e princípios. A OT dispensa todos esses

dispositivos em proveito de trabalhar apenas com restrições.

Segundo Collischonn & Schwindt (2003: 18), trabalhar com restrições (e não com

regras) possibilita “economia descritiva, universalidade e uniformidade de análise”. A

economia ocorre pelo fato de a OT lançar mão apenas de restrições, e as outras abordagens,

de regras que podem também necessitar de restrições. Regras são específicas de uma

língua, enquanto restrições são universais. A uniformidade da análise é resguardada porque

na OT todas as restrições estão presentes em todas as línguas e podem ser violadas.

Os modelos baseados em regras privilegiam o processo propriamente dito em

detrimento do alvo (output). Em contrapartida, a OT enfatiza o alvo e não o processo. Por

exemplo, sabemos que a maioria das línguas adota como básico o padrão silábico CV.

Muitos processos podem ocorrer para assegurar essa constituição silábica, como, por

exemplo, apagamento de vogais e inserção de consoantes. Na OT, que tem foco no output

(e não no processo), a emergência de sílabas com ataque é assegurada pela restrição

ONSET, que obriga a presença desse constituinte.

Page 51: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

51

3.3. Emergência do não-marcado

As irregularidades morfológicas encontradas numa língua muitas vezes são

conseqüência de processos fonológicos regulares, como, por exemplo, a alternância

vocálica que se aplica na vogal tônica de verbos irregulares de terceira conjugação em

português (<durmo, dorme, dormimos>; <sirvo, serve, servimos>), determinada pela altura

ou timbre da vogal do radical. Essa alternância vocálica constitui um traço redundante, já

que, para marcar as flexões de número e pessoa, existem os morfemas flexionais que se

adjungem ao radical do verbo.

Outra irregularidade morfológica, decorrente de regularidades fonológicas, pode ser

observada no processo de formação de plural (<café > cafés>; <mar > mares>). A variação

entre –s e –is é condicionada fonologicamente, ou seja, em geral, em português, basta o

acréscimo do morfema de plural <–s> à base. No entanto, para evitar uma coda complexa

(*mars), ocorre alomorfia desse morfema, que passa a se realizar [–is]. Se fizéssemos um

tableau ilustrativo para o plural das palavras <café> e <mar>, obteríamos a seguinte

hierarquia: MARCAÇÃO >> FIDELIDADE.

A emergência do não-marcado não pode ser vislumbrada no modelo gerativo PP,

que trabalha exclusivamente pelo método da derivação, ou seja, aplica-se uma regra,

espera-se o resultado e depois se aplica(m) outra(s). Torna-se custoso observar de que

maneira o output final pode constituir uma estrutura não-marcada na língua.

A OT fornece uma possibilidade que nenhuma outra teoria pode oferecer, ou seja,

existe a chance de alcançarmos um candidato ótimo, respeitando a hierarquia de uma

Page 52: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

52

determinada língua, e visualizarmos também os efeitos das restrições menos cotadas na

hierarquia, o que chamamos de emergência do não-marcado. A OT possibilita uma visão

panorâmica do processo, apesar de estar focada no resultado, isto é, emerge o não-marcado

quando se podem perceber os efeitos de restrições mais baixas.

Segundo Collischon & Schwindt (2003), há também de se considerar a emergência

do não-marcado no nível das restrições. A OT permite que uma restrição de marcação

como *CODACOMPLEX permaneça na hierarquia, apesar de ser violada inúmeras vezes,

isto é, sempre que possível a coda complexa será evitada em função da sílaba padrão CV do

português, por exemplo <Marcelo > Macelo>, <perturbar > pertubar>, <perturbação >

pertubação>. Outro exemplo de restrição “pouco respeitada” mas que não deixa de aparecer

em atividade na língua é ONSET: apesar de esse restritor ser sistematicamente violado na

língua (palavras como ‘ave’ e ‘hiato’ ilustram bem isso), há inúmeras situações que

mostram a atividade dessa restrição, como, por exemplo, os processos de reduplicação e

hipocorização, analisados em Gonçalves (2004).

3.4 O tratamento da morfologia no âmbito da OT

A Teoria da Otimalidade (Prince e Smolensky 1993, McCarthy e Prince 1993a),

como correntemente é concebida, não constitui modelo adequado apenas ao tratamento de

fenômenos fonológicos; também possibilita tratar com sucesso questões de morfologia e de

interface morfologia-fonologia. Isso inclui, entre outras aplicações, a descrição (a) do

tamanho de produtos morfológicos, (b) do formato de morfemas reduplicativos, (c) da

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53

colocação precisa de afixos no interior da palavra e (d) da escolha entre alomorfes de um

mesmo morfema. Como vimos, para a OT uma gramática é baseada no output e todas as

possibilidades de output são avaliadas por restrições universais ranqueadas e passíveis de

violação. Nesta seção, vamos descrever, ainda que brevemente, como a análise de

fenômenos morfológicos pode ser feita com os instrumentos da OT. Especial destaque é

dado à alomorfia condicionada fonologicamente, situação dos prefixos aqui analisados.

Um importante avanço para a descrição da morfologia na perspectiva da OT provém

da análise do alinhamento generalizado por meio de restrições (McCarthy e Prince 1993).

Desse modo, uma família de restrição de alinhamento regula as margens de categorias de

mesmo nível (prosódicas com prosódicas e morfológicas com morfológicas) ou de níveis

diferentes (prosódicas com morfológicas e morfológicas com prosódicas). Na OT, a

combinação de categorias é levada a cabo pela família de restrições ALIGN (alinhamento),

responsável, por exemplo, pela posição de um afixo em relação a uma base.

Particularmente interessante é o tratamento de afixos que vacilam entre prefixação e

infixação como conseqüência da interação de restrições de alinhamento e restrições de

estrutura silábica. Por exemplo, em Tagalog, língua analisada por McCarthy & Prince

(1993), o afixo um-, de ‘um-aral’, é geralmente colocado na posição inicial, equivalendo a

um prefixo, pela importância da restrição ALIGN-LEFT (um-, base), mas, nessa língua, a

restrição de alinhamento é dominada por NÃO-CODA. Por isso mesmo, a melhor

obediência a NÃO-CODA força a infixação de um- em bases como ‘gradwet’ (gr-um-

adwet), uma vez que o prefixo formaria *um-gradwet, com uma coda a mais que a forma

atestada na língua. Diferentemente do Tagalog, o português é uma língua em que a restrição

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54

de alinhamento (ALIGN-LEFT (X, base)), em que X é um afixo, é dominante em relação às

restrições silábicas e, por isso mesmo, em português, MORFOLOGIA >> PROSÓDIA.

Para uma língua como o Tagalog, o ranking válido é PROSÓDIA >> MORFOLOGIA.

3.5 A alomorfia no paradigma da Otimalidade

Recentes trabalhos sobre alternâncias morfológicas no âmbito da OT têm

examinado algumas possibilidades de análise da alomorfia nesse paradigma, como, por

exemplo, Kager (1996; 1999), Mascaró (1996a, 1996b), Burzio (1996, 1997, 1998), Bonet

(2004) e Yip (2004). Em tais análises, é proposto que:

1. a entrada (input) de uma forma morfológica complexa deve especificar os

formativos (afixos e raiz / palavra), sem qualquer referência a eventuais

modificações formais, e que restrições de marcação decidam qual das várias

alomorfias em competição é a ótima num exemplo particular; ou

2. a própria entrada já seja constituída dos vários alomorfes de um dado morfema e

que restrições de vários tipos determinem a escolha da melhor combinação

morfológica.

Os casos mais simples de alomorfia condicionada fonologicamente dizem respeito a

situações nas quais a escolha do alomorfe correto depende somente de fatores fonológicos.

Esse caso é exemplificado em (02), a seguir, com as variantes do morfema ergativo, /k/ ou

/ek/, encontradas em nomes próprios em Basco (BONET, 2004).

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55

(02) a. Jon: Jonek *Jonk

b. Patxi: Patxik, *Patxiek

A escolha do alomorfe /k/ em (02a) (cf. *Jonk) causaria a violação de

*COMPLEXCODA. A violação é evitada com a escolha do alomorfe /ek/ (cf. Jonek). Em

(02b), a escolha do alomorfe /ek/ causaria a violação de ONSET (cf. *Patxiek), problema

evitado com o outro alomorfe /k/ (cf. Patxik). Em ambos os casos, o alomorfe escolhido é o

mais harmônico com respeito à restrição de marcação da estrutura silábica. Lexicalmente,

os dois têm o mesmo status. É possível que em outros contextos a língua permita codas

complexas e sílabas sem onset. No entanto, na combinação morfológica em questão,

emergem variantes menos marcadas.

Uma primeira possibilidade de análise é considerar que apenas um dos formativos

em questão (o mais geral e menos restrito contextualmente) faça parte do input e, nesse

caso, a escolha será determinada pela dominância de MARCAÇÃO sobre FIDELIDADE,

já que nem sempre o afixo ou a base se realizarão como expressos no input. A segunda

possibilidade, conhecida como na literatura como MIH (Morphological Input Hiphotesys –

Hipótese do Input Morfológico), consiste em assumir, seguindo Mascaró (1996), que o

input contém ambas as variantes, sendo especificado, por exemplo, como /jon+{ek,k}/.

Dado que os dois formativos aparecem no input, candidatos com os dois alomorfes (i.e.

[jonek] e [jonk]) satisfazem a restrição de fidelidade. Assim, a MIH assume que restrições

de fidelidade, como MAX ou DEP, são satisfeitas por todos os candidatos que coincidem

com a base mais o alomorfe, sendo, portanto, inativas. Desse modo, obedecem aos

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restritores de fidelidade os candidatos ‘jonek’ e ‘jonk’. A decisão cabe aos restritores de

marcação, mas, ao contrário da proposta anterior, não há conflito entre MARCAÇÃO e

FIDELIDADE, uma vez que as variantes constam da representação subjacente.

Segundo Green (2003/2004), é importante não deixar que morfemas tenham

múltiplas entradas (isto é, diferentes representações subjacentes); é mais interessante, numa

perspectiva otimalista, que o fenômeno da alomorfia seja descrito pela alta cotação de uma

restrição de marcação fonológica ou de uma restrição morfossintática específica de uma

língua e, com isso, seja analisado a partir de rankings de restrições universais. Desse modo,

Green (op. cit.) defende a primeira estratégia de análise.

A maior parte da literatura consultada defende a primeira solução para alomorfias

como as analisadas neste trabalho, em que a alternância é previsível contextualmente.

Nesses casos, as diferentes saídas correspondentes a uma única entrada dependem das

propriedades fonológicas do som seguinte, que inicia a base com a qual o prefixo irá se

combinar. Nessa situação, a seleção do alomorfe correto é implementada por uma (ou mais

de uma) restrição de marcação, que selecionará a variante que melhor se combina com a

base. É claro que FIDELIDADE também terá papel decisivo, desde que os alomorfes

contidos no output sejam maximamente semelhantes à forma que consta do input.

Quando as restrições de marcação estão ranqueadas abaixo das de fidelidade I-O,

elas não podem forçar um output a ser infiel ao seu input; podem apenas forçar a seleção de

uma alomorfia menos marcada localmente quando ambas são disponíveis no input. Caso

somente um input seja disponível, o output será sempre fiel ao input, mesmo à custa de

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57

violação a restrições de marcação. Nesse caso, então, perde-se a idéia de conflito entre

MARCAÇÃO e FIDELIDADE, talvez a principal motivação para a maioria dos casos de

alomorfias condicionadas fonologicamente.

Quando, na seleção da alomorfia, restrições de marcação são dominantes, pode

ocorrer a emergência do não-marcado (McCarthy and Prince 1994, Mascaró 1996b,

McCarthy 2002, 129-38), o que conta em favor da primeira proposta de análise.

Segundo Kager (1999), o input é visto como a representação fonológica subjacente

do afixo, ou seja, como um conjunto de informação fonológica e lexical que permite ser

relacionado a um significado específico no output, a partir da combinação com uma base.

Como estamos interessados em observar as variações segmentais dos prefixos selecionados

para análise, optamos por eleger uma representação subjacente e propor candidatos a output

que apresentem diferentes configurações fonéticas para a forma de prefixo proposta como

input. Por exemplo, assumindo-se que /iN-/ é a representação subjacente do prefixo de

negação, os candidatos a output são gerados em função de processos fonológicos diversos

que podem alterar essa forma: o apagamento da nasal ([ i ]), a ressilabificação da nasal

([i.n]) e a realização da nasal em coda como nasalização da vogal precedente ([ ĩ ]), entre

outras. Em todos esses casos, estão minimamente resguardadas as relações de fidelidade

entre as formas de superfície e a que consta do input. Desse modo, assumimos, como Kager

(1999) e Green (2003), entre outros, que alomorfias como as analisadas neste trabalho

sejam vistas a partir do conflito entre MARCAÇÃO e FIDELIDADE.

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58

3.6 Abordagens sobre alomorfia prefixal na OT

Trataremos, nesta seção, dos estudos sobre a prefixação em português sob a ótica da

OT. Ao que tudo indica, a única abordagem nessa linha é a de Schwindt (2000). Ele

trabalha com propriedade todos os conceitos de que necessitamos para alcançar o objetivo

maior de nosso trabalho: analisar a alomorfia prefixal com os instrumentos da Otimalidade.

Uma divisão (do ponto de vista prosódico) adotada por ele é PCs, para prefixos

composicionais, como “pós-,” “pré-,” “ex”- e “sub”-, e PLs, para prefixos legítimos, como

“in”-, “an-” e “des"-. PCs funcionam prosodicamente como palavras fonológicas

independentes, autônomas, isto é, têm acentuação própria e originam-se de formas livres,

que, por algum motivo, tornaram-se prefixos. PLs, por sua vez, encaixam-se na definição

tradicionalmente difundida do que vem a ser um verdadeiro prefixo, isto é, uma sílaba que

não tem vida própria, uma forma presa e átona (que não apresenta acentuação própria,

sendo hospedada prosodicamente à base).

A distinção entre PCs e PLs torna-se evidente quando eles são afastados da base: os

PCs atendem o princípio da isolabilidade e os PLs não são isoláveis de suas respectivas

bases, não sofrendo, por exemplo, o fenômeno do truncamento3. Esse fenômeno,

considerado ao mesmo tempo não-concatenativo (porque parte de uma base é copiada) e

aglutinativo (devido ao acréscimo de vogal final –a, como em ‘salafra’ e ‘delega’, reduções

3 Esse fenômeno recebe outras nomenclaturas, como: Redução Vocabular (ALVES, 1990), Abreviação (SANDMANN, 1990), Braquissemia (MONTEIRO, 1987) e Retroformação (SÂNDALO, 2001).

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de ‘salafrário’ e ‘delegado’, nesta ordem), foi analisado por Gonçalves & Vazquez (2005) ,

que atentaram para a existência de quatro padrões estruturais de formação.

O truncamento, que, em princípio, consiste na diminuição do corpo fônico de uma

palavra base (português – portuga) com o objetivo de, prioritariamente, acrescentar algum

sentido pejorativo, apresenta algumas subdivisões que nos interessam. Segundo Santos

(2002), existem três tipos de truncamento: tipo A (gastro, odonto, cardio), tipo B (micro-,

ex-, pós-, pré) e tipo C (portuga, delega, maraca, batera). Cabe ressaltar aqui o tipo B, que

trabalha com prefixos isoláveis de suas bases sem perda de significação (ex-, pré-, micro-,

pós-). Os PCs se encaixam perfeitamente no tipo B dos truncamentos porque são prefixos

com existência fônica própria, que adquirem, com o truncamento, status formal de palavra

morfológica. Vejam-se os exemplos a seguir, em que o prefixo remete, metonimicamente, à

construção morfológica complexa:

(03) Maurício está fazendo pós.

(04) Coloquei o prato no micro. (05) Minha filha já está cursando o pré.

(06) Encontrei com meu ex ontem.

Quanto ao status lexical, a prefixação pode ocorrer em níveis distintos: os PLs

podem se afixar à raiz na condição de sílabas pretônicas (σ’s), isto é, durante a formação

da palavra (nível 1), ou podem se afixar depois da palavra pronta (nível 2 ). Já os PCs só se

afixam no nível da palavra (nível 2 ). Na perspectiva da Fonologia Lexical (ver 2.7),

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60

palavras trilham diferentes caminhos até completarem o processo de formação. PCs

permanecem como palavras prosódicas (ω’s) até serem alçados como prefixos no nível pós-

lexical.

O tipo de prefixação pode ser motivado por fatores fonológicos internos

(neutralização da pretônica, como, por exemplo, <refazer>, harmonização vocálica, como

em <d[i]sintupia>, e assimilação da nasal, como, por exemplo, em <analfabeto>,

<enobrecer>) ou externos (neutralização da átona final <ant[i]projeto> e elisão

<par[e]statal>) à palavra. Nesse caso, PCs, como palavras independentes, estão à mercê dos

fatores de origem externa, mas não são atingidos pelos fatores de origem interna, enquanto

os PLs, que são fonologicamente dependentes, estão sujeitos às alterações fonológicas de

origem interna e não externa. Por exemplo, o prefixo <pré>- não se submete à regra de

neutralização das pretônicas, já que sua vogal média permanece sempre aberta. O prefixo

<des->, ao contrário, pode sofrer o alçamento por harmonia vocálica, realizando sua vogal

média como alta, a exemplo do que ocorre com ‘desentupir’, palavra comumente

pronunciada com /i/ no prefixo (d[i]sintupir).

A língua adota diferentes expedientes para resolver seus problemas de má formação

silábica. Um exemplo disso, segundo Harris (1983), pode ser encontrado na análise do

prefixo in-dentro e in-negação, que, para desfazer um onset malformado com a sílaba

seguinte, incorpora-o à sílaba anterior, formando uma coda complexa, mas possível em

português. Outra saída é a epêntese de uma vogal para que cada sílaba tenha, então, sua

estrutura de onset, núcleo e coda bem formados. O quadro a seguir, adaptado de Schwindt

(2000), auxilia a visualização dos fenômenos apresentados.

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(07)

In-dentro In-negação

In+scrito inscrito In+sperado inesperado

In+spirar inspirar In+squecível inesquecível

In+stituir instituir In+stimável inestimavel

Na primeira coluna, assumindo-se que as bases não se iniciam por vogais, o

acréscimo do prefixo provoca a criação de uma coda complexa, constituída de nasal +

sibilante; na segunda, ao contrário, assumindo-se o mesmo tipo de segmento inicial, lança-

se mão da inserção de [e] para desfazer a complexidade na coda.

Segundo Schwindt (2000), os prefixos in-(dentro) e in-(negação) apresentam formas

diferentes de serem incorporadas às bases. Em alguns casos, o prefixo in-(dentro) é

incorporado diretamente à base, como, por exemplo, em /iN-/+scrito, /iN-/+spirar e /iN-

/+stituir; em outros, o prefixo in-(negação) recebe uma epêntese vocálica antes de ser

incorporado à base para evitar uma sílaba mal formada, como, por exemplo, /iN-/+sperado,

/iN-/+squecível e /iN-/+stimável.

Um ponto questionável, na proposta de Schwindt (op. cit.), é a motivação para o

estabelecimento de determinadas bases. Em alguns casos, parece ter sido a escolha

determinada diacronicamente, já que não há critérios explícitos para determinar que a base

de um verbo como ‘esquecer’ não contenha a vogal inicial.

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62

Considerando a análise da alomorfia prefixal pela OT, Schwindt sugeriu a seguinte

hierarquia de restrições para analisar os PLs:

(08) SON, MAX-IO, DEP-IO, ONSET, NUC, CODACOND>>DEP(NUC) >>CONTIG

>>ONSET>>*CODA, *COMPLEX.

Restrições de estrutura silábica / marcação:

SON (sonoridade): onsets devem crescer em sonoridade e codas devem decrescer.

Escala: líquida> nasal, S> fricativa, oclusiva (cf. Clements, 1990).

PEAK: as sílabas devem ter núcleo.

ONSET: toda sílaba deve ter onset.

*COMPLEX: sílabas têm no máximo uma consoante na borda.

*CODA: codas são proibidas.

*NASCONT: seqüências de [+nas] e [+cont] são proibidas.

Restrições de Fidelidade:

MAX-IO: todo segmento/traço do input tem correspondente no output (proíbe

apagamentos).

DEP-IO: todo segmento/traço do output tem correspondente no input (proíbe epênteses).

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CONTIG: os elementos que aparecem no input devem apresentar a mesma seqüência, ou

seja, a mesma ordem linear no output (proíbe metátese – inversão de segmentos).

INTEGR (MORPH): elementos mórficos prosodicamente escandidos não podem ser

apagados.

O tableau seguinte ilustra a hierarquia proposta por Schwindt para explicar a

inserção do prefixo /iN-/ (dentro) no nível da raiz

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(09)

IN[scrito] SON PEAK MAX DEP *NASCONT CONTIG ONSET *COMPLEX *CODA

a)iN.scri.to *! * *

b)iNs.cri.to� * **

c)iN.sV.cri.to *! *

d)i.NVs.cri.to *! * *

e)i.scri.to *! * * *

Algumas restrições não são infringidas neste tableau, mas devem figurar para que se

verifiquem as restrições relevantes para se chegar ao candidato ótimo. Os candidatos (a) e

(e) são eliminados de pronto pela restrição SON, já que apresentam um padrão de declive

no onset da segunda sílaba (sk). A alta cotação de DEP impossibilita que os candidatos (c)

e (d) cheguem à superfície, uma vez que inserem um elemento vocálico sem respaldo no

input, o que leva à escolha de (b).

Na verdade, a análise de Schwindt (2000) se desenvolve com base na LPM-OT

(Lexical Phonology-Morphology-OT), uma versão serialista da Teoria da Otimalidade, que

incorpora a estratificação do léxico proposta pela Fonologia Lexical. Assim, o autor admite

diferentes hierarquias para os prefixos in-(dentro) e in-(negação), já que o primeiro se

anexa no nível da raiz e o segundo, no da palavra. Nossa análise se concentra em apenas

um desses prefixos, in-(negação), como em <ilógico> e <inábil>. Assim, nossa análise

difere da de Schwindt por dois motivos, fundamentalmente: (a) em primeiro lugar, não

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adotamos a LPM-OT; e (b) em segundo lugar, pretendemos dar conta das várias formas que

esse prefixo pode assumir, descrevendo-as à luz de uma hierarquia única de restritores de

marcação (alguns semelhantes aos adotados por Schwindt (2000)) e de fidelidade, o que

será feito no capítulo seguinte, que também contempla os prefixos <an-> (‘analfabeto’,

‘anormal’) e <des-> (‘desfazer’, ‘dessecar’).

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4. ANÁLISE DOS DADOS: A ALOMORFIA DE /iN-/, /aN-/ e /deS-/

Este capítulo trata da análise dos contextos morfofonológicos em que os prefixos

/iN-/, /aN-/ e /deS-/ ocorrem. O objetivo do capítulo consiste justamente em observar quais

são os ambientes que favorecem uma ou outra variação de um mesmo morfema e quais são

as motivações para o surgimento das alomorfias prefixais em questão, abordando o

fenômeno pela OT.

A seção 4.1 apresenta as restrições que participam da avaliação do candidato ótimo

no fenômeno da alomorfia do prefixo /iN-/. Em 4.1.1, hierarquizamos as restrições de modo

que elas dêem conta do fenômeno. Em 4.1.2, analisamos alguns tableaux com o prefixo

/iN-/ junto a uma base iniciada por vogal; em seguida, a uma base iniciada por lateral /l/,

nasal /n/ e vibrante /r/ e, por fim, a uma base iniciada por oclusiva velar desvozeada /k/ e

fricativa alveolar desvozeada /s/, para ilustrar a alomorfia pela OT. Em 4.2, analisamos o

prefixo /aN-/ e, finalmente, em 4.3, o prefixo /deS-/.

4.1 Restrições que atuam no fenômeno da alomorfia do prefixo / iN-/

Esta seção tem o objetivo de estabelecer quais são as restrições morfológicas,

fonológicas e prosódicas que interagem na geração de formas que apresentam alomorfia no

prefixo /iN-/. Com base no corpus analisado, verificamos que o prefixo </iN-/ figura diante

de nomes e verbos iniciados por vogal, por consoantes (oclusivas e fricativas) e por soantes

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67

(líquidas e nasais) e contribui com os significados “que não é X”, “oposto de X” e

“privação de X”. Nas variações desse prefixo, são três as famílias de restrições relevantes:

(a) as de fidelidade I-O, (b) as de marcação e (c) as de alinhamento.

As restrições de fidelidade são responsáveis pela identidade entre o input e os

candidatos a output. Em nossa análise, dois restritores de fidelidade são necessários:

MAX-IO:Todo segmento/traço do input tem correspondente no output = proíbe

apagamentos; e

DEP-IO: Todo segmento/traço do output tem correspondente no input = proíbe acréscimo

de um elemento no output, ou seja, impede epênteses.

As restrições de marcação ficam encarregadas de regular a boa formação de sílabas.

No caso das diferentes realizações de /iN-/, as restrições de marcação atuantes são as

seguintes:

OCP (Princípio do Contorno Obrigatório): Impede segmentos adjacentes idênticos. No caso

da prefixação de /iN-/, OCP atua com base no traço [soante], já que dois segmentos com

essa especificação são proibidos;

ONSET: Sílabas devem começar com uma consoante, ou seja, devem ter ataque;

Page 68: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

68

*CODA: Sílabas têm de terminar com uma vogal, ou seja, têm de ser abertas (codas são

proibidas).

Por fim, uma restrição morfológica deve ser estabelecida para a combinação de /iN-/

com uma base. Trata-se de alinhamento à esquerda (ALINH /iN-/, E), um restritor de

alinhamento que exige, como formulado, que /iN-/ seja alinhado à esquerda da base,

funcionando, dessa maneira, como prefixo. Assim, assumimos que, em português, ao

contrário de outras línguas, como o Tagalog (cf. McCarthy & Prince, 1993), analisada no

capítulo 3 (ver 3.4), essa restrição de alinhamento domina as restrições prosódicas

(silábicas) e, por isso mesmo, prefixos nunca deixam de aparecer à esquerda. ALINH é,

portanto, a restrição mais alta da hierarquia e, inviolável em português, impede realizações

de prefixos e sufixos como infixos, que, no âmbito da OT, não são primitivos morfológicos,

mas o resultado da dominação de restritores de alinhamento por restritores silábicos.

Assumimos, pois, que a restrição de alinhamento é a mais alta da hierarquia e, tendo em

vista que ela nunca decide entre candidatos a output que sejam caracterizados pela

realização de /iN-/ como prefixo, deixaremos de incluí-la na hierarquia proposta a seguir.

4.1.1 Hierarquia proposta para o prefixo /iN-/.

O principal objetivo desta seção é estabelecer uma possível hierarquia para o

conjunto de restrições formulado em 4.1, verificando como elas interagem para dar conta

da alomorfia de /iN-/. A escala proposta é a seguinte:

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69

(01) DEP, OCP >> ONSET, *CODA>> MAX.

A restrição de fidelidade DEP e a de marcação OCP são as mais altas na hierarquia,

mas entre elas não há uma relação de dominância. A restrição de marcação ONSET

também não domina a restrição de marcação *CODA, mas esses dois restritores dominam a

restrição de fidelidade MAX. Em outras palavras, é possível concluir que as restrições de

fidelidade ocupam tanto a posição mais alta (DEP) quanto a mais baixa (MAX) da

hierarquia, sendo intercaladas por restritores de marcação de vários tipos (silábicos e

fonotáticos). Esse ranqueamento demonstra a importância de se manter o output o mais fiel

possível ao input, não criando nenhum segmento (ou mesmo um traço) sem respaldo na

representação subjacente.

Outra observação importante se faz em relação às restrições de marcação, ou seja, as

sílabas precisam ser bem formadas: a anexação do prefixo pode criar estruturas em

desacordo com os padrões fonológicos da língua e, por isso, determinadas realizações

acabam sendo banidas pela força das restrições mais bem cotadas.

Essa hierarquia demonstra as preferências da língua em relação à alomorfia prefixal:

em primeiro lugar, é fundamental que não se insira nenhum elemento; depois, que não haja

segmentos contíguos com traços idênticos; que todas as sílabas tenham onset e sejam

abertas, isto é, que não tenham coda, e, por fim, é menos importante que se apague algum

elemento do input, já que MAX é o restritor mais baixo da hierarquia.

Page 70: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

70

4.1.2 Tableaux do prefixo /iN-/

Pretende-se, com os instrumentos da OT, representar formalmente o fenômeno. Os

tableaux a seguir sintetizam a análise sobre a alomorfia que resulta da combinação do

prefixo /iN-/ com a) bases iniciadas por vogal, como em <hábil> e <adequado>; b) bases

iniciadas por soantes ( lateral, vibrante e nasal), a exemplo de <lógico>, <negável> e

<real>, nesta ordem; e c) bases iniciadas pelos demais segmentos consonânticos, como, por

exemplo, <certo>, <capacidade>.

O prefixo /iN-/ apresenta um elevado grau de polimorfia, podendo realizar-se como

[i.n], ou seja, uma seqüência bifônica constituída de vogal alta anterior oral e de nasal

alveolar heterossilábica diante de vogais; como [i-], vogal alta anterior oral, diante de

soantes (líquidas e nasais); e como [ĩ-], vogal alta anterior nasal diante de obstruintes

(consoantes oclusivas e fricativas). Exemplos dessas três realizações são vistos,

respectivamente, em cada uma das três colunas de (02), a seguir:

(02) Alguns exemplos

[i.n-]

[i.n] útil

[i.n] adequado

[i.n] operante

[i.n] esgotável

[i.n-] esquecível

[i.n-] esperado

[i.n-] eficaz

[i-]

[i] lícito

[i] negável

[i] negociável

[i] lógico

[i] moral

[i] mortal

[i] legítimo

[ĩ- ]

[ĩ] praticável

[ĩ] calculável

[ĩ] certa

[ĩ] coerente

[ĩ] discutível

[ĩ] culto

[ĩ] decisão

Page 71: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

71

Comecemos a análise com a combinação de /iN-/ com palavras iniciadas por vogal.

Nesse caso, a nasal não-especificada para ponto se realiza alveolar, formando, com a vogal

da forma de base, a segunda sílaba da palavra derivada. Em termos derivacionais, temos um

processo fonológico de ressilabificação e aquisição de ponto coronal, pois um elemento não

especificado para ponto de articulação (o arquifonema nasal) sai da posição de coda para a

posição de onset de sílaba. Isso acontece por força de um princípio universal de boa

formação silábica conhecido na literatura como Princípio de Maximização do Ataque, que

consiste, segundo Collischonn (2005), em dividir uma seqüência de consoantes entre vogais

para maximizar o ataque silábico. Muito embora não seja uma questão tão importante para

a OT, em função do Princípio da Riqueza da Base4 (cf. Prince & Smolensky, 1993), cabe

aqui esclarecer os critérios para a escolha do input /iN-/. Optamos por essa forma

subjacente pelos seguintes motivos:

a) é quase consensual na teoria fonológica a idéia de que não existem vogais nasais

subjacentes, sendo a nasalidade vocálica interpretada, desde Câmara Junior (1970), como

uma seqüência bifonemática do tipo /VN/;

b) talvez por uma questão de memória morfológica, o falante de alguns dialetos

brasileiros pronuncie “*inlógico” e não “ilógico” o que vem comprovar que a forma

internalizada desse prefixo contém uma nasal;

4 Kager (1999) mostra que não há restrições para a escolha do input, porque o que vai realmente determinar a escolha do output é a gramática de cada língua, ou seja, a hierarquia das restrições. O output pode coincidentemente apresentar a mesma forma do input. O resultado será o mesmo no caso do input que possui uma forma diferente do output. Cabe lembrar que a riqueza da base a que estamos nos referindo é o input, ou seja, base é sinônimo de input. As generalizações da OT são expressas como interação de restrições sempre no nível do output, nunca no nível do input.

Page 72: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

72

c) essa forma permite capturar, com mais naturalidade, processos fonológicos que a

transformem em representações de superfície, sendo, portanto, mais geral;

d) tal forma já foi proposta como a representação subjacente do prefixo em questão por

alguns morfólogos do português, como, por exemplo, Gonçalves (2005) e Cabral (1980).

Ainda em relação aos critérios para a escolha do input, é necessário observar o que

preconiza o princípio da otimização do léxico (Prince & Smolensky). Esse princípio parece

se contrapor ao princípio da riqueza da base porque ele justamente reduz a gama de

possibilidades de inputs. A escolha do candidato ótimo continua sendo tarefa da hierarquia

da língua; o princípio propõe, tão somente, reduzir o volume de candidatos a input, gerando

só os que forem mais próximos aos outputs.

Comecemos a análise com a combinação do prefixo <iN-> com “hábil”. A avaliação

dos candidatos é feita no tableau em (03)5.

(03)

5 Para simplificar, transcrevemos foneticamente apenas a parte fonológica que interessa: a seqüência inicial, sempre colocada entre colchetes. No entanto, todos os segmentos da palavra que constam no input são levados em conta na avaliação.

/iN/+ hábil

DEP OCP ONSET NÃO CODA MAX

a) [i.'a].bil **! * * b) [ĩ.'a].bil **! * c) [i.'na].bil ���� * * d) [in.'a].bil **! * e) [i.ni.'a].bil *! ** *

Page 73: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

73

Os candidatos a output foram propostos de acordo com as possibilidades do sistema

lingüístico do português. Cada candidato pressupõe a atuação de um processo fonológico

regular sobre a representação subjacente. A escolha dos candidatos a output obedece a

padrões gerais fonotáticos da língua.

Foram considerados os seguintes processos fonológicos para a seleção dos

candidatos a output: para o candidato (a) ([i.'a.]bil) – apagamento do traço nasal; (b)

([ĩ.'a.]bil) – realização da nasal em coda como nasalização da vogal oral precedente; (c)

([i.'na.]bil) – ressilabificação da coda nasal para a posição de onset da sílaba seguinte ; (d)

([in.'a.]bil) – realização de uma nasal alveolar em coda; e finalmente para o candidato e)

([i.ni.'a.]bil) – epêntese vocálica.

Os candidatos (a), (b) e (d) passam incólumes por DEP e OCP, violam ONSET duas

vezes e, levando em conta a gravidade dessa violação, acabam sendo eliminados pelos

restritores de sílaba (ONSET e *CODA), que atuam em conjunto. O candidato (c) é o que

melhor satisfaz essas restrições e por isso é considerado ótimo: no total, computam-se duas

violações nos restritores silábicos, enquanto os rivais (a), (b) e (d) apresentam três

violações cada. O candidato (e) é sumariamente eliminado da disputa porque infringe a

restrição mais alta na hierarquia (apesar de ela não estar crucialmente hierarquizada com

OCP, todos os demais candidatos satisfazem as restrições mais altas). MAX, neste caso, é

inoperante, porque, em sua avaliação, o output já havia sido escolhido.

Page 74: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

74

O candidato vencedor conservou os segmentos/traços do prefixo /iN-/6, sendo fiel

ao input, e é impulsionado pela distribuição fonotática universal das línguas, que têm como

padrão silábico ideal a sílaba CV. Em outras palavras, toda vez que houver a junção do

prefixo /iN-/ com uma palavra iniciada por vogal, ocorrerá uma ressilabificação, isto é, uma

reestruturação dos elementos da sílaba do novo vocábulo formado: o elemento de coda do

prefixo passa a onset da primeira sílaba da base. O candidato (a), *[ ĩ.'a.]bil, não é o

vencedor da disputa, uma vez que o português evita a formação de um hiato. Por isso, a

forma que realiza a nasal como onset da sílaba seguinte é mais bem sucedida que a que

manifesta a nasal como nasalização da vogal precedente exatamente porque diminui o

número de sílabas sem ataque.

Confirma a análise acima apresentada a combinação de <iN-> com uma base que

não tem uma sílaba sequer com coda. Veja-se o tableau em (04), a seguir:

(04)

6 Admite-se que outro restritor de extrema importância na língua impeça a realização do output tal como consta no input (iN.á.bil). Tal restrição é TENHA PONTO, utilizada, por exemplo, na análise de Battisti (1998) sobre a nasalização em nossa língua. Assim, se a nasal pode não ser especificada no nível do input, no output, no entanto, por força de TENHA PONTO, a nasal do prefixo, caso se realize foneticamente como consoante, deverá ter ponto de articulação. No caso da nasal, o ponto default é o coronal ([n]), como se observa em inúmeros processos morfológicos do português: macarrão >> macarronada; rã >> ranário; bom >> boníssimo.

/iN/+adequado

DEP OCP ONSET * CODA MAX

a) [i.a.] de.'qua.do **! * b) [ĩ.a.] de.'qua.do **! c) [i.na.] de.'qua.do ���� * d) [in.a.] de.'qua.do **! * e) [i.ni.a.]de.'qua.do *! **

Page 75: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

75

Levando em conta que DEP e OCP são as restrições mais altas na hierarquia, o

primeiro candidato a ser eliminado é (e) justamente pelo fato de ele inserir [i] entre o

prefixo e a base, processando uma epêntese. Tal fenômeno é sancionado por DEP, que

impede qualquer tipo de acréscimo. Com isso, quatro candidatos prosseguem na disputa:

(a), (b), (c) e (d). As próximas restrições são conjuntas: ONSET e *CODA; o candidato que

melhor satisfaz essa dupla de restrições é (c), por que ele apresenta apenas uma sílaba sem

ataque, e seus rivais apresentam pelo menos duas sílabas sem ataque; então, o candidato

que prioriza o preenchimento do ataque é melhor que os outros.

O tableau acima confirma as informações de que o prefixo /iN-/, somado a uma

base iniciada por vogal, ressilabifica sua coda nasal, ou seja, a coda do prefixo se torna o

onset da sílaba seguinte. Uma diferença entre /iN-/ + hábil e /iN-/+adequado é que este

último candidato satisfaz a restrição *CODA, ao passo que todos com a base “hábil”

violam tal restrição. A restrição OCP não pune nenhum candidato porque, sendo a base

iniciada por vogal, torna-se impossível a existência de segmentos adjacentes idênticos no

traço [soante].

Como se pode perceber, em bases que se iniciam por vogal a restrição mais

importante, apesar de não ser a mais alta na hierarquia, é ONSET, pois é nessa restrição que

se elege a real forma de output, como ficou evidenciado no tableau em (04), em que apenas

um candidato viola *CODA.

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76

Passemos agora aos casos em que a base se inicia por um segmento soântico, como

se vê nos dados a seguir, respectivamente começados por uma lateral, por uma nasal e por

uma vibrante.

(05)

No tableau a seguir, exemplifica-se a realização do prefixo como uma vogal alta

anterior oral com a base “lógico”.

Nasais

imoral

imortal

inegável

imensurável

imerecido

vibrantes

irreal

irracional

irremovível

irregularidade

irreverência

Laterais

ilegível

ilegal

iletrado

ilimitado

ilegítimo

Page 77: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

77

(06)

/iN/ +lógico DEP OCP ONSET *CODA MAX

a) [in.]'lo.gi.co *! * *

b) [ ĩ ]'lo.gi.co *! *

c) [i.ni.]'lo.gi.co *! *

d) [i.]'lo.gi.co ���� * *

O primeiro candidato ([in.] 'lo.gi.co) pressupõe a possibilidade de realização de

uma nasal alveolar em coda; o candidato b) ([ ĩ ]'lo.gi.co), a nasalização da vogal anterior

[i]; o candidato c) ([i.ni.]'lo.gi.co), uma epêntese vocálica; por fim, o candidato d)

([i.]'lo.gi.co), o apagamento do traço nasal.

Como se vê, há um candidato a menos nesse caso porque descartamos a realização

da nasal no onset da sílaba seguinte ([i. 'n lo.]gi.co) por pressupor a atuação dominante do

restritor *SONOR, que impede um platô de sonoridade nas margens de sílaba (cf.

Collischonn, 2005). No caso em questão, a nasal e a lateral têm o mesmo grau de

sonoridade, não havendo, portanto, aclive do onset para o núcleo. Essa forma também seria

rejeitada por uma restrição que milita contra a existência de onsets complexos

(*COMPLEX). Em qualquer uma das hipóteses, a forma em questão seria descartada, o que

mostra a atuação decisiva de tais restrições. Assim, assumimos, como fizemos com

ALINH, que tais restritores são tão bem cotados na hierarquia que, por isso mesmo, não

têm papel decisivo na escolha do candidato vencedor.

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78

O tableau (06) mostra que o prefixo /iN-/, quando adjacente a uma base iniciada por

líquida, comporta-se de forma diferente, ou seja, ele não ressilabifica a coda nasal; pelo

contrário, perde esse constituinte silábico, apagando o segmento não-especificado para

ponto (/N/). Desse modo, a forma do prefixo é infiel ao input por não preservar o traço

nasal contido na representação subjacente.

O candidato (c) é o primeiro a ser banido da disputa porque, na tentativa de formar

sílabas com o padrão CV e evitar segmentos adjacentes idênticos, atende à exigência de

OCP, mas infringe a de DEP, uma das restrições mais altas na hierarquia, que proíbe

epênteses (inserção). Os candidatos (a) e (b) são eliminados por OCP, que proíbe elementos

adjacentes idênticos: o /n/ e o /l/ são igualmente soantes, ou seja, são sons produzidos com

um fluxo de ar relativamente livre7 e, portanto, não devem figurar juntos. A restrição OCP

atua em função do traço soante e, por isso mesmo, elimina os candidatos (a) e (b) da

disputa.

O candidato (d) é o grande vencedor porque infringe a restrição MAX (não apague

segmentos do output) para não infringir outras mais altas na hierarquia (p. ex., a que proíbe

epênteses e a que bane contigüidade no traço [soante]). O candidato “ilógico” preenche os

quesitos exigidos pela língua em relação à boa formação silábica. A restrição ONSET é

violada por todos os candidatos, já que o prefixo se inicia por vogal. Todas as restrições

dominadas por DEP e OCP são inoperantes nesse caso porque a real forma de output

7 Denomina-se sonante o traço relativo às cordas vocais em uma posição tal que torne possível uma sonoridade espontânea, como nas vogais, nas líquidas, nas nasais e nas laterais. (DAVID CRYSTAL, 2000)

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79

emerge quando as principais restrições são violadas por todos os concorrentes, exceto (d), e

a restrição *CODA é obedecida por quase todos, sendo, dessa forma, bastante inoperante

neste tipo de disputa, tanto quanto MAX.

No tableau a seguir, representa-se a seleção a partir de um input iniciado por nasal:

“negável”.

(07)

/iN/+ negável DEP OCP ONSET *CODA MAX

a) [in.]ne.'ga.vel *! * **

b) [ ĩ .]ne.'ga.vel *! * *

c) [i.ni.]ne'.ga.vel *! * *

d) [i.]ne.'ga.vel ���� * * *

O caso analisado acima demonstra como uma base iniciada por nasal influencia o

prefixo, buscando atender às necessidades da hierarquia de boa formação da língua. O

candidato (c) escapa de OCP, mas, na tentativa de evitar segmentos adjacentes idênticos,

insere um segmento vocálico e nesse momento é banido pela restrição DEP. Este exemplo

mostra que infringir restrições mais baixas não determina a eliminação do candidato, visto

que nenhum deles passa pelo crivo de ONSET e NÃO-CODA pelo menos uma vez. O

candidato ótimo infringe MAX, que está ranqueada na última posição. Com esse tableau,

observamos que é preciso apagar algum segmento do input para atender a outras restrições

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80

mais altas e importantes na hierarquia. Portanto, para promover a boa formação silábica na

língua, é permitido apagar.

E, finalmente, para concluir os casos em que a base é iniciada por segmento

soântico, como visto nos exemplos em (05), no tableau abaixo observaremos a realização

do input iniciado por vibrante: “real”.

(08)

/iN/ +real DEP OCP ONSET *CODA MAX

a) [in.]re'al *! * **

b) [ ĩ ]re'al *! * *

c) [i.ni.]re'al *! * *

d) [i.]re'al ���� * * *

Pudemos observar, nos tableaux (07) e (08), que as bases iniciadas por soantes,

quando são prefixadas pelo /iN-/, tendem a provocar o fenômeno da desnasalização, ou

seja, a restrição OCP impede que segmentos com traços idênticos figurem contíguos e,

assim, nasais e soantes são proibidas quando adjacentes nessa fronteira de morfemas.

O candidato (a) é eliminado da disputa porque infringe OCP. Ele é o único que

infringe *CODA duas vezes porque apresenta a nasal de travamento no prefixo <in->, ou

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81

seja, vogal alta anterior mais nasal alveolar, além de ter coda também na própria base (“re-

al”).

O candidato (b) só é melhor que o candidato (a) porque infringe uma vez menos a

restrição *CODA; apesar disso, ele é desclassificado pela mesma restrição que o rival

anterior: OCP.

O candidato (c) consegue se igualar aos concorrentes anteriores em termos de não-

atendimento às imposições dominantes. Ele infringe a restrição DEP, que é uma das mais

altas na hierarquia, perdendo, assim, qualquer oportunidade de continuar na disputa, já que

(d) atende aos requisitos ranqueados mais altos e, por isso mesmo, prioritários na língua.

O candidato (d) é o vencedor porque não infringe DEP e OCP, embora infrinja

ONSET, *CODA e MAX, que são as mais baixas na hierarquia em questão. Inclusive, ele é

o único que infringe MAX e, mesmo assim, sai vencedor porque, pelos critérios de

avaliação dessa hierarquia, é mais interessante que se apague um segmento do que se insira

um ou que se deixe em contato segmentos com um mesmo traço.

A última realização possível para o prefixo de negação /iN-/ é como vogal alta

anterior nasal. Nesse caso, portanto, a nasal sub-especificada do prefixo se manifesta tão

somente como marca da nasalidade sobre a vogal que a antecede. Vejamos essa situação

com o tableau em (09):

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(09)

/iN/+certo DEP OCP ONSET *CODA MAX

a) [i.]'cer.to * * *!

b) [ĩ.]'cer.to ���� * *

c) [in.]'cer.to * **!

d) [i.ni.]'cer.to *! * *

Este tableau mostra que o candidato (d) foi eliminado porque infringiu uma das

restrições mais altas da hierarquia, DEP. Os candidatos (a) e (b) infringiram igualmente

ONSET e *CODA, mas o candidato (a) infringiu também MAX e, portanto, é eliminado da

disputa exatamente pela restrição mais baixa do ranking. O candidato (c) infringiu ONSET

uma vez e duas vezes *CODA, sendo eliminado por isso: com a eliminação de (d), os três

rivais seguem sendo avaliados pelas restrições de sílaba. (a) e (b) violam as duas restrições

da mesma maneira, mas a infração cometida por (c) é mais grave que a deles, pois essa

forma lingüística apresenta duas sílabas travadas – “in” e “cer”.

O candidato (b) emerge como vencedor porque é o que infringe menos restrições e

também as menos cotadas na hierarquia. Esse tableau mostra a alomorfia do prefixo /iN-/

quando ele está junto a uma base que se inicia por consoante (nesse caso, a alveolar

desvozeada [s]). Acontece, então, que a realização da coda nasal como nasalização da vogal

precedente é a solução para passar pelo crivo das exigências mais bem cotadas: nesse caso,

MAX, apesar de dominada, elege (b) como output porque essa saída fonética é mais fiel ao

input, realizando a nasal, mesmo que como um traço de outro segmento (a vogal /i/). Essa

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83

realização nasal não é sancionada por MAX, que proíbe apagamentos, pois o input contém

apenas o traço nasal. Como (a) não realiza a nasalidade, viola MAX uma vez e, em função

disso, é preterido por (b).

Vejamos um outro caso de /iN-/ diante de consoantes: ‘incapacidade’.

(10)

/iN/+capacidade DEP OCP ONSET *CODA MAX

a) [i.]ca.pa.ci.'da.de * *!

b) [ĩ.]ca.pa.ci.'da.de ���� *

c) [in].ca.pa.ci.'da.de * *!

d) [i.ni.]ca.pa.ci.'da.de *! *

Observamos a junção do prefixo /iN-/ com uma base iniciada por uma consoante

oclusiva velar desvozeada, no caso, [k]. Este tableau apresenta os mesmos resultados no

que se refere às restrições que se encarregam de verificar o prefixo e a união com a base.

DEP descarta o candidato com epêntese, mesmo com essa forma lingüística atendendo às

demais restrições. *CODA impede a realização de uma nasal alveolar em coda, já que todas

a sílabas da base são abertas. Como *CODA >> MAX, é mais importante priorizar sílabas

livres do que realizar todos os segmentos/traços da representação subjacente. A solução

encontrada para passar pelo crivo de *CODA e MAX, que estão em conflito, é realizar a

coda nasal apenas como traço do segmento vocálico precedente.

Page 84: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

84

4.1.3 Generalizando os dados da língua

Pelo que observamos ao longo desta seção, podemos concluir que o polimorfismo

do prefixo de negação resulta da interação de restritores de fidelidade com restritores de

marcação. As restrições OCP e *CODA, se obedecidas, podem levar a apagamentos no

output e, conseqüentemente, a violações de MAX. Isso acontece nas realizações

monofônicas do prefixo: no caso da realização oral, o apagamento da coda nasal é

implementado por OCP, que impede a adjacência de segmentos com o traço [soante]; no

caso da realização nasal, a manifestação do prefixo como vogal nasal tem a vantagem de

melhor atender às restrições *CODA e MAX, sobre a realização com a coda nasal alveolar.

A nasal sub-especificada do prefixo pode vir à superfície na forma de um segmento

consonântico. Nesse caso, a realização bifônica do afixo é fruto do atendimento a ONSET,

restrição que, apesar de dominada e sistematicamente violada pelo prefixo /iN-/, tem os

seus efeitos visíveis em situações como essas, o que mostra a importância da emergência do

não-marcado na OT. Em português, sempre que as circunstâncias permitirem, será formada

uma sílaba com ataque, otimizando o formato CV, como acontece quando as bases para a

anexação de /iN-/ se iniciam por segmentos vocálicos.

4.2. Análise da Alomorfia Prefixal com /aN-/

Esta seção tem por finalidade analisar a alomorfia prefixal do formativo /aN-/.

Observaremos o comportamento do prefixo com bases diferentes e quais as preferências da

Page 85: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

85

língua em relação à sua anexação à esquerda de uma base. Todo o fenômeno será

investigado pelo prisma da OT, à semelhança do que foi feito para o prefixo /iN-/.

A seção 4.2.1 trata das restrições envolvidas no processo da alomorfia prefixal de

/aN-/. Em 4.2.2, observamos a hierarquia proposta para o fenômeno. Em 4.2.3 analisamos,

alguns tableaux com uma base iniciada por vogal; depois, com uma base iniciada por

consoante.

4.2.1 Restrições que atuam no fenômeno da alomorfia do prefixo /aN-/

Esta seção tem por objetivo apresentar as restrições que atuam na alomorfia do

prefixo /aN-/. As restrições são: as de fidelidade MAX-IO e DEP-IO; e as de marcação,

OCP, ONSET e *CODA. Elas foram amplamente explicadas na seção 4.1 da alomorfia do

prefixo /iN-/ .

4.2.2 Hierarquia proposta para o prefixo /aN-/

O objetivo desta seção é hierarquizar as restrições que atuam na alomorfia do

prefixo /aN-/. A hierarquia é a mesma que foi proposta para o prefixo /iN-/, ou seja:

(11) DEP, OCP >> ONSET, *CODA>> MAX.

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86

Como já foi comentado anteriormente, DEP e OCP não estão crucialmente

hierarquizadas, mas dominam ONSET, que, por sua vez, não está crucialmente

hierarquizada com *CODA, mas ambas dominam MAX. Essa hierarquia permite comparar

os dados de alomorfia desse prefixo de origem grega que também significa “negação ou

privação de X” com os dados de anexação de /iN-/.

4.2.3 Tableaux do prefixo /aN-/

O prefixo /aN-/ apresenta um grau menos elevado de polimorfia, se comparado a

/iN-/. Ele pode realizar-se como [a.n], ou seja, uma seqüência bifônica constituída de vogal

baixa central oral e de nasal alveolar heterossilábica diante de vogais; ou como [a], vogal

baixa central oral, diante de soantes (líquidas, nasais) e consoantes (oclusivas e fricativas).

Exemplos dessas duas realizações são vistos, respectivamente, em cada uma das duas

colunas de (12), a seguir:

Page 87: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

87

(12) Alguns exemplos

[a.n] [a.]

[a.n]algia [a.]céfalo

[a.n]ecúmeno [a.]fonia

[a.n]orexia [a.]teu

[a.n]algesia [a.]sexuado

[a.n]arquia [a.]normal

[a.n]aeróbico [a.]moral

[a.n]orgânico

Comecemos a análise com a combinação de /aN-/ com palavras iniciadas por vogal.

Nesse caso, a nasal não-especificada para ponto se realiza alveolar, formando com a vogal

que inicia a base a segunda sílaba da palavra derivada. Em termos derivacionais, temos um

processo fonológico de ressilabificação e aquisição de ponto coronal, pois um elemento não

especificado para ponto de articulação (o arquifonema nasal) sai da posição de coda para a

posição de onset de sílaba. Isso acontece, como vimos, por força do princípio de boa

formação silábica chamado Princípio da Maximização do Ataque.

Page 88: ALOMORFIA PREFIXAL NUMA ABORDAGEM OTIMALISTA

88

(13)

/aN-/+aeróbico DEP OCP ONSET * CODA MAX

a) [an.a]e.'ro.bi.co ***! *

b)[ a.na]e.'ro.bi.co ���� **

c) [ã.a]e.ro'.bi.co ***!

Neste caso, há três candidatos a output que respeitam as possibilidades do sistema

lingüístico do português. Esses candidatos (a,b e c) apresentam fatos fonológicos passíveis

de ocorrer na Língua Portuguesa e a escolha do melhor candidato não invalida os processos

pelos quais os outros poderiam eventualmente passar. O candidato (a) ([an.a]e.'ro.bi.co)

realiza uma nasal alveolar em coda; o (b) ([ a.na]e.'ro.bi.co ) ressilabifica a coda nasal para

a posição de onset da sílaba seguinte e (c) ([ã.a]e.ro'.bi.co) realiza a nasal em coda como

nasalização da vogal oral anterior.

Apesar de estar no topo da hierarquia, o restritor DEP (não insira segmentos) não

sanciona os candidatos (a), (b) e (c), pois eles não inserem material fonológico que não

tenha respaldo no input. Todos os candidatos infringem ONSET (tenha ataque) sendo que

(a) e (c) o fazem três vezes e o candidato vencedor, apenas duas. A escolha é implementada

por ONSET, tendo em vista a gravidade da violação: (b) emerge como output ótimo porque

preenche a posição de ataque melhor que os rivais. A ressilabificação é a saída para atender

às necessidades mais básicas da língua neste caso.

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89

Vejamos o próximo tableau, que apresenta o prefixo /aN-/ diante de consoante.

(14)

/aN-/+sexuado DEP OCP ONSET * CODA MAX

a) [an.]se.xu.a.do ** *!

b)[ a.]se.xu.a.do ** *!

c) [ã]se.xu.a.do���� **

Novamente, os três candidatos a output não sofrem qualquer tipo de sanção pelas

restrições mais altas na hierarquia (DEP e OCP) porque eles não inserem nenhum segmento

nem promovem adjacência de elementos soânticos. Continuando a análise, todos são

penalizados por ONSET porque apresentam sílabas sem ataque (o próprio prefixo provoca

uma dessas violações). A eliminação de (a) se deve a *CODA, pois essa forma realiza a

nasal do input como consoante alveolar em posição de travamento. O candidato vencedor é

o único remanescente que não infringe MAX, a restrição mais baixa na hierarquia, mas não

é a forma que se realiza na língua. Estamos, portanto, diante de um impasse: ou

(a) a hierarquia precisa ser revista e/ou ampliada, de modo a promover a escolha da forma

efetivamente atestada na língua (‘assexuado’) ou

(b) a forma do prefixo não contém, no nível subjacente, uma nasal, sendo, portanto,

diferente da situação anterior – a de /iN-/.

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90

Sem dúvida alguma, os dados apresentados em (12) são bastante opacos, se

comparados aos da prefixação com vogal anterior. Em alguns casos, a isolabilidade da base

é altamente questionável, já que não há palavra correspondente sem a seqüência [a.n]. Tal é

a situação, entre outras, de ‘anorexia’ e ‘analgesia’. A opacidade diminui

consideravelmente nos dados da segunda coluna, em que as bases são mais claramente

identificadas (‘anormal’, ‘assexuado’). De todos os dados recolhidos com bases iniciadas

por vogal, os mais transparentes (e de ingresso mais recente na língua) são ‘anaeróbico’,

‘anarquia’8 e ‘anorgânico’, com condições ótimas de isolabilidade do afixo e de

reconhecimento da base. Propomos, então, ao contrário do que preconiza a tradição

gramatical (cf. Cunha (2001), Bechara (2001) e Rocha Lima (1987)), que, à exceção de

‘anaeróbico’ e ‘anorgânico’, as formas da primeira coluna de (12) são consideradas

primitivas no atual estágio da língua.

Se assim procedermos, podemos considerar que a verdadeira forma subjacente do

prefixo de negação originário do grego não contém a nasal, sendo caracterizada apenas pela

vogal [a]. Nessa linha de raciocínio, ‘anaeróbico’, ‘anarquia’ e ‘anorgânico’ – únicas

formas com base identificável – podem ser consideradas analógicas em relação ao prefixo

de negação /iN-/.

Outro argumento para não considerar a existência de alomorfia nos dados em (12) é

a falta de correspondência, em termos de distribuição por contextos fônicos, com /iN-/.

8 Apesar de ‘arquia’ apresentar base presa, há condições ideais para o isolamento da base, já que o português conta com palavras como ‘monarquia’, ‘oligarquia’, ‘autarquia’; entre outras.

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91

Como vimos, a nasalidade é observada em dados iniciados por consoante (‘ingrato’,

‘incerto’, insensível intolerante), o que não acontece com o suposto prefixo /aN-/

(‘acéfalo’, ‘assexuado’; ‘ateu’). Esse é mais um argumento favorável à interpretação de que

o prefixo, no atual estágio da língua é /a-/. Nesse caso, as formas ‘anaeróbico’e

‘anorgânico’ podem ser consideradas analógicas em relação a outras que também

expressam negação em português.

Como se vê no tableau a seguir a escolha do output correto acontece já nas

primeiras restrições da hierarquia, pois os candidatos que apresentam nasal são

sumariamente eliminados por inserirem material fonológico que não consta do input.

(15)

/a-/+sexuado DEP OCP ONSET * CODA MAX

a) [an.]se.xu.a.do *! ** *

b)[ a.]se.xu.a.do ���� **

c) [ã.]se.xu.a.do *! **

4.3 - Análise da alomorfia do prefixo /deS-/

Esta seção tem o objetivo de descrever e formalizar a alomorfia decorrente da

adjunção do prefixo /deS-/ a diferentes bases e está segmentada da seguinte forma: em

4.3.1, apresentamos as restrições atuantes. Em 4.3.2, analisamos a hierarquia proposta para

dar conta do fenômeno. Em 4.3.3, trabalhamos com os tableaux referentes a bases iniciadas

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por oclusiva sonora, por fricativa surda, por sibilante e por vogal. Em 4.3.4, faremos um

breve comentário sobre a análise feita, com base na leitura de Barbosa (2005), uma

Dissertação de Mestrado, defendida na UFRS, sobre o <-s> em coda de sílaba.

4.3.1 Restrições que atuam no fenômeno da alomorfia do prefixo /deS-/

De origem latina, cujo correspondente grego é o prefixo /a-/, o prefixo /deS-/

igualmente designa separação, privação, negação e inversão, muito embora por vezes sirva

também para reforçar ou reiterar. Vemos abaixo alguns exemplos desse prefixo com bases

iniciadas por consoantes surdas (primeira coluna); nasais (segunda); fricativas labiais

(terceira); sibilantes (quarta); laterais (quinta); e, finalmente, vogais (última coluna).

(16) desproteger desmascarar desfazer dessalgar deslisar desapartar

destravar desmatar desfolhar desjejum deslavrar desenganar

despedaçar desmerecer desviar degelar desligar desintegrar

descascar desmentir desventura dessecar desratizar desobedecer

Vemos, nos dados em (16), que a forma do prefixo varia, na manifestação da

sibilante em posição de coda, entre a realização surda (quando as bases se iniciam por

segmento desvozeado), a realização sonora (diante de bases começadas por consoantes

vozeadas ou por vogais) e o zero fonético (no caso de bases iniciadas por sibilantes).

Estamos, portanto, diante de (a) um claro processo de assimilação de vozeamento, nas duas

primeiras situações, e (b) um processo de dissimilação, na última.

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93

Para analisar a alomorfia decorrente da adjunção do prefixo /deS-/ a diferentes

bases, é preciso observar quais restrições atuam no fenômeno. Em primeiro lugar, a

restrição de marcação referente a OCP (Obligatory Contorn Principle), que proíbe

segmentos adjacentes idênticos, atua em função dos traços [contínuo] e [coronal], já que

inibe a presença de duas sibilantes contíguas. Essa restrição será capaz de eliminar a

fricativa do prefixo na adjunção a bases iniciadas por fricativas não-labiais, como, por

exemplo, “deS+salgar” e “deS+gelar”.

Em segundo lugar, é igualmente relevante a restrição ONSET (tenha onset), que

advoga em favor de sílabas com a posição de ataque preenchida, como, por exemplo, em

“de.so.be.de.cer” e “de.su.nido”. Essa restrição milita contra candidatos que não

silabifiquem a coda fricativa do prefixo /deS-/ em onset quando as bases se iniciam com

vogais.

As restrições de fidelidade são as mesmas já descritas na análise dos prefixos /iN-/ e

/aN/, quais sejam: MAX IO, que proíbe apagamentos entre o input e o output, e DEP IO,

que proíbe epênteses entre o input e o output. Para dar conta da assimilação de vozeamento,

lançamos mão do restritor HARMONY (harmonia), que, nesse caso, atua em função do

traço [voice] (vozeado). Essa restrição é definida da seguinte maneira:

(17) HARMONY-CODA[voice]: segmentos em coda devem combinar no traço [voice]

com o segmento imediatamente posterior, ou seja, se o onset da sílaba seguinte for [-

voice], a coda será [-voice]; do contrário, será [+ voice].

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Desse modo, a alomorfia de /deS-/ difere das já analisadas pela presença do restritor

HARMONY, que, nesse caso, advoga em prol da harmonia de vozeamento do constituinte

coda em relação ao onset da sílaba seguinte. A hierarquia proposta é definida a seguir.

4.3.2 Hierarquia proposta para o prefixo /deS-/

A hierarquia proposta para /deS-/ é praticamente a mesma dos prefixos anteriores,

com única diferença: a substituição de *CODA por HARMONY[voice], como se vê

abaixo:

(18) DEP, OCP[- contínuo, + coronal] >> ONSET >> HARMONY-CODA[voice] >>

MAX.

Apresentaremos, a seguir, quatro tableaux: um como representativo da realização

desvozeada da coda sibilante; outra da realização sonora da mesma; um terceiro para

ilustrar a manifestação do prefixo apenas como <de->; e, por último, discutiremos se a

hierarquização acima proposta consegue dar conta dos casos em que o prefixo ressilabifica

como onset a fricativa em coda do prefixo. Comecemos pela alternância de vozeamento na

sibilante, em função da especificação em [voice] do som que inicia a base. Antes disso,

uma ressalva: não iremos entrar no mérito das diferentes realizações dialetais do /S/ em

coda, que pode se manifestar como [+ anterior] ou [- anterior], a depender da área

geográfica. É sabido, por exemplo, que esse segmento subjacente pode se realizar [s] ou [z]

em áreas como Minas Gerais e São Paulo; esse mesmo elemento pode equivaler a [s] ou [z]

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95

em áreas como o Rio de Janeiro (Silva, 2000). Assumiremos [s] e [z] como realizações

prototípicas, deixando para trabalhos futuros, que tratem especificamente de fenômenos

variáveis no paradigma da OT, a alternância entre as quatro sibilantes do português.

4.3.3 Tableaux do prefixo /deS-/

No tableau abaixo, como nos demais a seguir, propomos quatro candidatos: (a) o

primeiro com epêntese de [i]; o segundo com a perda de /S/; o terceiro com o segmento em

questão desvozeado e o último com a fricativa sonora. Transcrevemos foneticamente só a

parte relevante à análise:

(19) /deS/+bloquear DEP OCP ONSET HARMONY MAX

a) de.[si].blo.que.ar *! * b) de.[0]blo.que.ar * *! c) de[s].blo.que.ar * *! d) de[z].blo.que.ar � *

O prefixo /deS-/, quando se adjunge a uma base iniciada por consoante oclusiva

vozeada ([b, d. g]), fricativa labial vozeada ([v]), nasal ([m, n]) ou líquida ([l, r]) não sofre

ressilabificação, mas adquire a especificação [+ voice], como se vê no tableau acima, que

funciona como protótipo da realização vozeada da fricativa em coda.

O candidato (a) é eliminado por infringir a restrição DEP, já que insere [i], ainda

que satisfaça todos os demais restritores ranqueados mais baixo; nenhum candidato infringe

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96

OCP, uma vez que, nesse caso, não há segmentos idênticos adjacentes nos traços ([-

contínuo, + coronal]); todos os candidatos infringem ONSET, pois a sílaba final do verbo

(‘ar’) não contém esse elemento; o candidato (c) infringe HARMONY, por deixar [s] e [b]

adjacentes, não havendo, entre eles, qualquer concordância no traço [voice], já que [s] é

especificado como [- voice] e [b], como [+ voice]. O candidato (d) emerge como vencedor

apenas na última restrição da hierarquia, MAX, que, apesar de ocupar a posição menos

privilegiada, descarta (b), que apaga a sibilante do prefixo. Nessa primeira situação, as duas

últimas restrições permitem selecionar o candidato que estabelece a harmonia de

vozeamento na coda.

No tableau a seguir, veremos o prefixo /deS-/ diante de base iniciada por consoante

fricativa desvozeada. Observe-se que as duas últimas restrições novamente são as

determinantes para a escolha:

(20) /deS/ + fazer DEP OCP ONSET HARMONY MAX

a) de.[si].fa.zer *! b) de.[0]fa.zer *! c) de[s].fa.zer � d) de[z].fa.zer *!

No tableau em (20), que representa a combinação de /deS-/ com qualquer base

iniciada por segmento surdo, como ‘despudor’, ‘destratar’, ‘descartar’ e ‘desfiar’, entre

outros, o candidato com epêntese é sumariamente eliminado por DEP. Logo após, é

descartado o candidato sem harmonia de [voice] na coda, já que [z] e [f] não combinam em

vozeamento. A escolha de (c) é determinada por MAX, restritor anti-apagamento, que

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97

seleciona a forma com coda harmônica em detrimento do concorrente que apaga esse

constituinte silábico do prefixo. Nos tableaux abaixo, os candidatos com coda não

conseguem superar o rival que deleta /S/:

(21) /deS/+salgar DEP OCP ONSET HARMONY MAX

a) de.[si].sal.gar *! b) de.[0]sal.gar � * c) de[s].sal.gar *! d) de[z].sal.gar *! *

(22) /deS/+gelar DEP OCP ONSET HARMONY MAX

a) de.[si].ge.lar *! b) de.[0]ge.lar � * c) de[s].ge.lar *! * d) de[z].ge.lar *!

Diante de bases iniciadas por sibilante (<salgar, gelar, jejum, selar, secar,

geminar>), a adjunção do prefixo /deS-/ leva ao apagamento de uma das duas consoantes

idênticas adjacentes, infringindo a restrição MAX. Nessa análise, deve ser ressaltado o

papel da restrição OCP, que impede a ocorrência de consoantes com os mesmos traços; ela

acaba banindo os candidatos (c) e (d) da disputa, já que ambos apresentam contíguas duas

sibilantes. O candidato (a), o único que inseriu um segmento, foi severamente punido por

DEP e descartado de pronto. O único candidato capaz de atender às demandas mais

importantes da hierarquia, MAX e OCP, é selecionado como output ótimo já na segunda

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98

restrição. Isso faz com que as demais restrições sejam inoperantes e, por esse motivo, o

apagamento implementado pela forma (b) dos tableaux (21) e (22) é irrelevante.

Observe-se que a restrição HARMONY é violada pelas duas formas que deixam a

fricativa em posição de coda – no primeiro tableau pela ordem [+ voice] [- voice] e, no

segundo, pela ordem [- voice] [+ voice]. Como OCP é mais importante que HARMONY,

esses candidatos jamais conseguiriam superar o rival vencedor sem a coda sibilante. Desse

modo, a solução encontrada para atender OCP é apagar /S/9.

Finalizemos a análise observando dados como ‘desestruturar’ e ‘desobedecer’, ou

seja, casos em que a consoante do prefixo forma sílaba com a vogal que inicia a base. No

tableau a seguir, os candidatos pressupõem os mesmos processos já vistos anteriormente:

(23) /deS/+abrigar DEP OCP ONSET HARMONY MAX

a) de.[si].a.bri.gar *! * b) de.[0]a.bri.gar *! * c) de.[sa].bri.gar � d) de.[za].bri.gar �

Como se vê no tableau acima, dois candidatos emergem como vencedores, o que

não corresponde à realidade. Temos, então, um problema: ou

9 Sem dúvida alguma, existem realizações da sibilante em coda em dados deS+gelar e deS+jejum. Nesses casos, a solução é dividir a forma derivada em duas palavras prosódicas, o que significa aplicar no prefixo determinadas regras fonológicas, como a ditongação: [deyz].gelar, [deyz].jejum.

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99

(a) a hierarquia deve ser revista e/ou ampliada ou

(b) a forma de input não pode conter um segmento parcialmente especificado

(arquifonema).

Vejamos como o problema pode ser resolvido, comentando, a seguir, algumas

análises sobre o /S/ implosivo.

4.3.4 A sibilante em coda silábica

O segmento fricativo em coda gera inúmeras discussões no que diz respeito a

situações como a formação de plural e a ressilabificação para o onset de uma sílaba iniciada

por vogal, em fronteira de palavras ou de morfemas. Câmara Jr., em 1949, considerava o

/S/ como arquifonema em final de sílaba, sendo esse elemento não-especificado para ponto

e para vozeamento. Em 1977, Câmara Jr. repensa a sua posição e elege o /z/ como elemento

subjacente. Sua conclusão foi baseada em estudos que mostram que em posição de final de

palavra esse segmento pode se realizar tanto surdo como sonoro, mas quando a palavra vem

acompanhada de outra iniciada por vogal, ele sistematicamente se realiza /z/, o que mostra

que o fonema que prevalece é mesmo o /z/.

Lopez (1980) considera que os segmentos mais freqüentes em final de sílaba são /r/,

/l/, /n/ e /s/. Ela diz que não estamos diante de arquifonemas, visto que todos são

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100

plenamente especificados nessa posição. A posição de coda enfraquece as consoantes, pois

fatores como a consoante que inicia a palavra seguinte, a existência de pausa ou de vogal

contígua geralmente interferem em alguns traços da consoante travadora de sílaba.

De acordo com Barbosa (2005), que segue Lopez (1980), em posição de final de

sílaba o elemento subjacente é /z/, uma fricativa alveolar vozeada, sendo as demais

realizações condicionadas pelo ambiente fônico. O segmento /z/ passa pelo processo de

ensurdecimento quando ocupa a posição de coda diante de pausa, por uma preferência

natural das línguas, ou diante de segmentos igualmente desvozeados; em outras posições, o

/z/ se mantém sonoro.

A alomorfia que acontece no prefixo /des-/ (que pode se realizar [z] em

“de[z]almado” ou [s] em “de[s]temido”) é semelhante à que ocorre com o prefixo <pós->

que pode vir à superfície como [z] (po[z]operatório), como [s] (pó[s]tratamento) ou [0]

(pó[s]ocrático) e ao prefixo <ex-> que igualmente pode levar a diferentes realizações:

e[z]aluno, e[z]goleiro ou e[s]presidiário. O contexto seguinte é que determina a

especificação do segmento. Por exemplo, quando a consoante seguinte ao <s> é vozeada,

como em “desgastar”, o <s> se realiza também vozeado “de[z]gastar”. Quando a base é

iniciada por vogal, que tem o traço mais vozeado, o <s> final do prefixo se realiza vozeado,

como, por exemplo, em de[z]amor.

Em resumo, se admitirmos que a forma subjacente do prefixo é /dez-/,

conseguiremos dar conta dos dados de forma mais satisfatória, resolvendo o problema do

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101

tableau em (23), que admite variação onde não há. Nesse caso, no entanto, deveremos

incluir IDENT na hierarquia, após, MAX, para assegurar que a verdadeira realização do

prefixo venha à superfície.

(24) IDENT: Não pode haver discrepância de traços do input para o output, isto é, a forma

de input deverá ser idêntica à de output em todos os traços.

No tableau em (25), incluímos IDENT na hierarquia e alteramos o input; vejamos o

resultado da avaliação:

(25) /dez/+abrigar DEP OCP ONSET HARMONY MAX IDENT

a) de.[si].a.bri.gar *! * * b) de.[0]a.bri.gar *! * c) de.[sa].bri.gar *! d) de.[za].bri.gar �

O tableau demonstra o desempenho do prefixo <des-> diante de uma base iniciada

por vogal. Nesse caso, o prefixo mantém o mesmo modo e o mesmo lugar de articulação da

consoante em coda, preservando, inclusive, a especificação em [voice] da forma subjacente.

A única diferença observada é a migração para o onset da sílaba seguinte, para melhor

atender ONSET. Os dois rivais que atendem às demandas mais altas da hierarquia se

mantêm na disputa até o restritor IDENT, que escolhe (d), mais fiel à forma subjacente que

(c), o qual promove mudança no traço [voice]. Veja, a seguir, que a mudança do input e a

inclusão de IDENT não alteram os resultados das avaliações anteriores:

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(26) /dez/+bloquear DEP OCP ONSET HARMONY MAX IDENT

a) de.[si].blo.que.ar *! * * b) de.[0]blo.que.ar * *! c) de[s].blo.que.ar * *! * d) de[z].blo.que.ar � *

(27) /dez/ + fazer DEP OCP ONSET HARMONY MAX IDENT

a) de.[si].fa.zer *! * b) de.[0]fa.zer *! c) de[s].fa.zer � * d) de[z].fa.zer *!

(28) /dez/+salgar DEP OCP ONSET HARMONY MAX IDENT

a) de.[si].sal.gar *! * b) de.[0]sal.gar � * c) de[s].sal.gar *! * d) de[z].sal.gar *! *

(29) /dez/+gelar DEP OCP ONSET HARMONY MAX IDENT

a) de.[si].ge.lar *! * b) de.[0]ge.lar � * c) de[s].ge.lar *! * * d) de[z].ge.lar *!

Como se vê, a inclusão de IDENT não altera a escolha das reais formas de output

porque, nos dois primeiros casos, a decisão continua sendo feita por MAX e, nos últimos,

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por OCP. IDENT, portanto, é ativa apenas nas situações em que a base se inicia por vogal.

Desse modo, nossa análise sobre a prefixação de <des-> confirma a proposta de Lopez

(1980) e Barbosa (2005), para quem não há arquifonema sibilante em posição de coda, mas

o elemento plenamente especificado /z/.

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5. CONCLUSÃO Este trabalho analisou os prefixos /iN-/, /aN-/ e /deS-/ e as causas das alomorfias

prefixais, observando as exigências morfológicas e fonotáticas da língua. Investigamos pela

OT se alguns prefixos são mais suscetíveis de sofrerem o processo de alomorfia que outros

e chegamos à conclusão de que os prefixos chamados de legítimos (Schwindt, 2000), ou

seja, os que não constituem palavras prosódicas autônomas, como /iN-/, /aN-/ e /deS-/ têm

mais chance de ser alomórficos.

A consoante na posição de coda fica naturalmente enfraquecida e mais suscetível de

sofrer influência da base e isso favorece a variação na forma do prefixo. Como foi visto no

capítulo 4, o prefixo /iN-/ pode perder a nasal (“imoral” – base iniciada por nasal), mantê-la

como traço da vogal precedente (“inconveniente” – base iniciada por oclusiva velar) ou

ressilabificá-la para o onset da sílaba seguinte (“inadequado” – base iniciada por vogal).

Essas variações são determinadas pelo tipo de segmento que inicia a base. No caso de <des-

>, a consoante da base transfere para a coda do prefixo determinados traços, como

vozeamento.

O prefixo /aN-/ se comporta de maneira diferenciada. Ele se realiza com ou sem

nasal, apenas, sendo o menos polimórfico dos analisados. A ausência da nasal é facilmente

observada em exemplos como “acéfalo”, mas a presença da nasal se dá como parte da base

e não como parte do prefixo, como podemos ver em “anorexia”, em que a base é opaca, se

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105

isolada a seqüência inicial, e se torna impossível considerar os dois primeiros segmentos da

palavra como integrantes do prefixo, devido à inviabilidade de se decomporem, no atual

estágio da língua, formas como an + ‘orexia’ e an + algésico. Portanto, contrariando as

gramáticas tradicionais citadas no corpo do trabalho, podemos propor que a forma do

prefixo é /a-/, já que falta correspondência de comportamento entre o prefixo /iN-/ e o

suposto prefixo /aN-/.

Para satisfazer condições de boa formação silábica, variações na forma dos prefixos

precisam acontecer. A alomorfia, portanto, depende mais da estrutura fonológica da base

que da própria natureza do prefixo. A existência de coda é o pivô das modificações, quando

o prefixo se adjunge à base.

O prefixo /deS-/ também se mostra dependente da base em termos do traço de

vozeamento ([voice]). A base força o prefixo a se realizar [+vozeado] ou [- vozeado], de

acordo com o segmento que a inicia. Respaldados em Barbosa (2005), propomos que o

prefixo <des-> apresenta um segmento plenamente especificado, /z/, e não um

arquifonema, /S/, em posição de coda silábica, no nível subjacente. Um argumento em

favor dessa tese é o seguinte: quando unido a uma base iniciada por vogal, o prefixo <des->

se realiza /dez-/, categoricamente. O segmento subjacente é /z/, uma sibilante sonora, que,

em contato com segmentos surdos na superfície, sofre variação e passa a /s/, sibilante surda,

não se alterando diante de consoantes sonoras ou de vogais.

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106

Em nossa análise, procuramos mostrar o quão importante é o restritor OCP, em

casos de alomorfia envolvendo prefixos. Tanto na manifestação de <in-> quanto de <des->,

a coda pode ser apagada quando a base apresenta um traço idêntico ao do segmento que

inicia a base. No caso de <in->, OCP atua em função do traço [soante], uma vez que duas

soantes não figuram contíguas nessa posição (*inreal, *inlícito, *inmoral); no caso de <des-

>, os traços relevantes são [+ contínuo, + coronal]. Desse modo, OCP é capaz de banir

formas prefixadas com duas sibilantes adjacentes (*desjejum, *desgelar), fazendo com que

o apagamento seja a solução encontrada para melhor atender às exigências de restritores de

nível mais alto.

A OT é um modelo inovador que atende às inquietações causadas pelo processo da

alomorfia. Ela oferece uma visão panorâmica do processo porque trabalha com candidatos

possíveis a output que são gerados por GEN, avaliados por EVAL, de acordo com a

hierarquia específica da língua que vai priorizar as restrições universais de acordo com sua

relevância para o fenômeno em questão, isto é, restrições que forem categoricamente

infringidas ou categoricamente indiferentes não serão relevantes para resolver a questão e

por isso serão desconsideradas.

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107

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALI, M. Said. Gramática secundária da língua portuguesa. 7ª ed. São Paulo: Melhoramentos, 1966. _____. Gramática histórica da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1966. ALVES, I.M. Neologismo. São Paulo: Ática, 1990. ANDRADE, F. G. C. Polissemia e produtividade nas construções lexicais: um estudo do

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ANEXO 1

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CON – CONJUNTO DE RESTRIÇÕES NÃO-RANQUEADAS:

(a) RESTRIÇÕES DE FIDELIDADE

Tratam das relações de identidade nas linhas input-output (I-O) e output-output (O-

O). Quando Fidelidade >> Marcação, emergem padrões lexicalmente especificados.

1. IDENT-IO: Input e output precisam ter identidade de traços [nasal, coronal, sonoro,

etc.]; 2. MAX-IO: Todo segmento/traço do input tem correspondente idêntico no output =

proíbe apagamentos; 3. DEP-IO: Todo segmento/traço do output tem correspondente idêntico no input =

proíbe acréscimo de um elemento no output; 5. HEADMAX-IO: Todo o segmento na cabeça do input tem um correspondente no

output, isto é, não pode haver deleção de sílaba tônica do input para o output; 6. FID-AC (Fidelidade Acentual): Restrição de correspondência que requer total identidade

entre vogais acentuadas; 7. FID-METR (Fidelidade Métrica): Input e output devem ter a mesma divisão em pés. (b) RESTRIÇÕES DE MARCAÇÃO

São exigências estruturais que regulam a boa-formação de estruturas segmentais

e/ou prosódicas, levando à escolha de outputs menos marcados. Focalizam apenas os

candidatos a output. Quando Marcação >> Fidelidade, emergem padrões menos marcados

estruturalmente.

8. HARMONY-CODA[voice]: segmentos em coda devem combinar no traço [voice] com

o segmento imediatamente posterior, ou seja, se o onset da sílaba seguinte for [- voice], a

coda será [-voice]; do contrário, será [+ voice].

9. TENHA PONTO (HavePlace) Todo segmento deve ter algum ponto.

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10. OCP (Princípio do Contorno Obrigatório): Impede segmentos adjacentes idênticos; 11. SONOR (Sonoridade): Impede a ocorrência de seqüência de consoantes no onset em

que a diferença no grau de sonoridade seja pequena. Pressupõe uma escala de sonoridade: VOGAL (3) > LÍQUIDA (2) > NASAL (1) > OBSTRUINTE (0);

12. PEAK ou *COMPLEX[nucleus]: O núcleo silábico deve conter apenas uma vogal; 13. ONSET: Sílabas devem começar com uma consoante, ou seja, devem ter ataque; 14. *COMPLEX: Sílabas têm no máximo uma consoante nas bordas (margens complexas

são proibidas); 15. *CODA: Sílabas têm de terminar com uma vogal, ou seja, têm de ser abertas (codas são

proibidas); 16. CODA-COND[soante, nasal, coronal]: Impõe limites ao preenchimento da margem

direita da sílaba, impedindo que determinados segmentos apareçam nessa posição;

17. ANALISE-σ: Proíbe sílabas não vinculadas a pés, ou seja, todas as sílabas devem estar

integradas; 18. *Vl+VS: Rejeita formas que apresentam consoante líquida lateral intervocálica; 19. PÉ-BIN ou BINPÉ: Todos os pés (∑) são binários ou dissilábicos; o pé não pode ser

trissilábico nem pode ter apenas uma mora; 20. PÉ-BIM: Todos os pés (∑) são bimoraicos ([µµ]∑), ou seja, possuem duas sílabas

leves ([σµσµ]∑) ou uma sílaba pesada ([σµµ]∑); 21. (*[X Pwd):Não pode existir palavra prosódica (Pwd) iniciada por um dado fonema (X),

por exemplo, (*[r Pwd) proíbe tepes no início de palavras prosódicas; 22. *(X] Pwd): Impede palavras prosódicas terminadas por um dado fonema (X), por

exemplo, *(á] Pwd), proíbe palavras prosódicas terminadas em “a” acentuadas nessa vogal;

23. JTS: Impede a criação de pré-proparoxítonas; 24. *DACT: Rejeita pés dactílicos, ou seja, não admite formação de proparoxítonas; 25. RED=CV: O reduplicante deve apresentar o formato silábico CV;

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26. NO-PWD*:Não-recursividade no domínio da Pwd: formas de output não podem

apresentar nódulos PWD*, isto é, mais de um acento lexical; 27. PPE (Princípio de Preservação de Estrutura): Processos morfológicos não podem

operar com traços não-distintivos nem criar estruturas em desacordo com os padrões prosódicos básicos da língua.

28. MWD=PWD: A categoria palavra prosódica deve estar vinculada a apenas uma

palavra morfológica, isto é, não pode realizar-se em duas palavras prosódicas, como se fosse um composto;

(c) RESTRIÇÕES DE ALINHAMENTO

Trabalham sempre com duas variáveis, ou seja, com categorias (do mesmo nível ou

de níveis diferentes) e local do alinhamento (direita ou esquerda).

29. TODO-PÉ (D, E): O pé deve ser alinhado à direita ou à esquerda da palavra prosódica

(Pwd); 30. ALINH (D,E): Nivelar a margem direita ou esquerda da Base com a margem direita

esquerda do output; 31. ALINH-S2-E: A margem esquerda do S2 deve coincidir com a margem esquerda da

palavra prosódica; 32. ANCOR (D, E): Ancoragem à Direita ou à Esquerda – pressupõe alinhamento perfeito

entre as margens de S1 para S2; 33. TROQUEU ou PÉ (ALINH cab-esq): Forma pés trocaicos (pés com cabeça à

esquerda) no nível moraico ou silábico; 34. IAMBO ou PÉ (ALINH cab-dir): Os pés devem ser iâmbicos, isto é, devem

apresentar cabeça à direita; 35. LX ≈ PR: Requer coincidência entre os limites ou bordas das palavras lexicais e

prosódicas; categoria a categoria; 36. ALINH(M����P): Alinhamento de margens de Mwd (palavras morfológicas) com

margens de Pwd (palavras prosódicas); margem a margem; Impede o desalinhamento das margens de Pwd no interior do de Mwd.

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(d) RESTRIÇÕES DE COMBINAÇÃO

Controlam as relações de dominação de categorias.

37. PARSE-X (Analise X): A unidade mais baixa deve estar contida na unidade mais alta

da hierarquia; 38. FILL-X (Preencha X): Todas as categorias mais altas devem ser realizadas

foneticamente. (e) OUTRAS RESTRIÇÕES

39. MORPHDIS (Disjuntividade Morfêmica): Segmentos ambimorfêmicos, isto é,

vinculados a mais de um morfema, são proibidos. Nenhuma porção morfológica deve estar relacionada a dois morfemas. Não pode haver compartilhamento;

40. MORPHCON (Conjuntividade Morfêmica): Segmentos ambimorfêmicos são

vinculados a mais de um morfema. Porções fonológicas (sons, sílabas, seqüências) devem estar relacionadas a dois morfemas. Impõe compartilhamento de formas, ou seja, uma só forma tem de se vincular a mais de um morfema.

41. NÃO-HOMONÍMIA: Proíbe formação de palavras já existentes na língua.