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ALINHAMENTO ESTRATÉGICO: MAPA COGNITIVO, FRAMEWORK PROCESSUAL E ANÁLISE DE CONTEÚDO DE ESTUDOS DE CASO Carolini Bonetti (PUCPR) [email protected] Edson Pinheiro de Lima (PUCPR/ PPGE) [email protected] O ambiente competitivo no qual as organizações se encontram têm demandado que as mesmas se alinhem estrategicamente, de modo que através deste, seus objetivos e metas possam ser alcançados eficazmente. Neste contexto, o trabalho se propõe cconstruir um mapa cognitivo que apresente as variáveis relevantes do processo de alinhamento e um framework processual que ilustre cada etapa para sua promoção; além disso, visa-se examinar os modelos construídos e analisar os mesmos sob enfoque de sete estudos de caso. A identificação das variáveis relevantes do alinhamento requereu uma fundamentação teórica, que por sua vez, constituiu o raciocínio requerido para o desenvolvimento do framework de processo. Como resultado, constatou-se a presença do alinhamento em todas as empresas, porém em níveis diferentes. Além disso, percebeu-se que se a empresa conseguir relacionar todos os seus indicadores de desempenho aos respectivos objetivos estratégicos de origem, sem sobrar nem faltar algum, ela estará, pelo menos em parte, alinhada estrategicamente. Palavras-chaves: Alinhamento estratégico, mapa cognitivo do alinhamento, framework processual do alinhamento, análise de conteúdo de estudos de caso XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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Page 1: ALINHAMENTO ESTRATÉGICO: MAPA COGNITIVO ......Figura 1: Mapa cognitivo com as variáveis relevantes para o alinhamento estratégico Fonte: Autores, 2010. 5 As setas entre os elementos

ALINHAMENTO ESTRATÉGICO: MAPA

COGNITIVO, FRAMEWORK

PROCESSUAL E ANÁLISE DE

CONTEÚDO DE ESTUDOS DE CASO

Carolini Bonetti (PUCPR)

[email protected]

Edson Pinheiro de Lima (PUCPR/ PPGE)

[email protected]

O ambiente competitivo no qual as organizações se encontram têm

demandado que as mesmas se alinhem estrategicamente, de modo que

através deste, seus objetivos e metas possam ser alcançados

eficazmente. Neste contexto, o trabalho se propõe cconstruir um mapa

cognitivo que apresente as variáveis relevantes do processo de

alinhamento e um framework processual que ilustre cada etapa para

sua promoção; além disso, visa-se examinar os modelos construídos e

analisar os mesmos sob enfoque de sete estudos de caso. A

identificação das variáveis relevantes do alinhamento requereu uma

fundamentação teórica, que por sua vez, constituiu o raciocínio

requerido para o desenvolvimento do framework de processo. Como

resultado, constatou-se a presença do alinhamento em todas as

empresas, porém em níveis diferentes. Além disso, percebeu-se que se a

empresa conseguir relacionar todos os seus indicadores de

desempenho aos respectivos objetivos estratégicos de origem, sem

sobrar nem faltar algum, ela estará, pelo menos em parte, alinhada

estrategicamente.

Palavras-chaves: Alinhamento estratégico, mapa cognitivo do

alinhamento, framework processual do alinhamento, análise de

conteúdo de estudos de caso

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1. Introdução

As diversas abordagens da literatura enfatizam que a melhoria contínua da manufatura e o

alinhamento desta com prioridades estratégicas se tornaram essencial na busca de

competitividade a longo prazo (ATKINSON et al., 1997; DANIELS e BURNS, 1997).

Segundo Day (1984), para se alcançar uma vantagem competitiva sustentável é necessário

integrar a estratégia empresarial à estratégias funcionais. Da mesma forma, Porter (1996)

sugere que a vantagem competitiva e sua sustentabilidade são consequencia do ajuste

estratégico entre muitas atividades.

Motivados por estas questões, alguns autores procuraram, através de estudos empíricos,

analisar a existência de uma relação de causalidade entre alinhamento e desempenho. Alguns,

constataram que o alinhamento entre a estratégia de negócios e os elementos operacionais

promovia a melhoria no desempenho organizacional (SMITH e REECE, 1999; PAPKE-

SHIELDS e MALHOTRA, 2001; EDELMAN et al., 2005; XU et al., 2006). Outros, não

identificaram nenhuma proporcionalidade alinhamento-desempenho (JOSHIET et al., 2003;

LINDMAN et al., 2001; HOMBURG et al., 1999; WEST e SCHWENK, 1996).

Kathuria et al. (2007) afirmam que o alinhamento requer uma compreensão comum das metas

e objetivos organizacionais por gestores de diferentes níveis e em diferentes unidades da

hierarquia organizacional. Logo, propõe-se que ele seja um processo de integração dos

sistemas da organização em torno do propósito essencial dos negócios (LABOVITZ e

ROSANSKY, 1997). Desta maneira, pode-se dizer que ele é uma dinâmica que procura

ajustar a organização externamente em relação ao seu ambiente de atuação, e internamente,

buscando um todo coeso entre a estratégia, os recursos e os processos gerenciais (PRIETO,

2006).

Segundo Kaplan e Norton (2006), o processo de alinhamento começa quando a administração

corporativa define a proposta de valor da organização, destinada a criar sinergias entre as

unidades operacionais, as unidades de apoio e os parceiros externos. Depois que a

organização desenvolve sua estratégia e sua proposta de valor, cada unidade de negócio e de

apoio elabora seu planejamento de longo prazo e o alinha com os objetivos corporativos. Em

seguida, as unidades de serviços compartilhados (RH, tecnologia da informação, finanças e

planejamento) desenvolvem seus planos de longo prazo para apoiar as estratégias das

unidades de negócio e as prioridades da corporação.

A literatura distingue dois tipos de alinhamento estratégico, o vertical e o horizontal. O

alinhamento vertical refere-se a configuração de estratégias, objetivos, planos de ação e

decisões nos vários níveis da organização. Ele é verificado quando a estratégia está

claramente formulada e as pessoas entendem qual é a sua contribuição para o alcance dos

objetivos estratégicos. Este tipo de alinhamento pode ser realizado de cima para baixo (top-

down) ou de baixo para cima (botton-up). Já o alinhamento horizontal, refere-se à

coordenação dos esforços de toda a organização e pode ser verificado quando as necessidades

dos clientes são conhecidas e estão incorporadas nos processos. Neste sentido, ele pode ser

definido em termos de uma integração interfuncional e/ou intra-functional. A interfuncional

denota a coerência das decisões através das funções de modo que as atividades e decisões nos

diversos setores complementem e apóiem umas as outras. Já a intra-funcional, também

conhecida como ajuste interno, é alcançada através da coerência entre áreas de decisão. Esta

última, visa alcançar sinergia dentro de cada função através do intercâmbio e da cooperação

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entre várias atividades funcionais (LABOVITZ e ROSANSKY, 1997; KATHURIA et al.,

2007).

Neste contexto, por meio de uma fundamentação teórica e estudos de casos, a pesquisa se

propõe construir um mapa cognitivo que apresente as variáveis relevantes do processo de

alinhamento estratégico e um framework processual, que ilustre cada etapa para sua

promoção. Após a apresentação dos modelos, serão realizadas análises e comparações

baseadas nos modelos construídos e nos estudos de caso realizados.

2. Construção do mapa cognitivo

Tanto para construção do mapa cognitivo quanto para a do framework processual foi

necessário realizar uma fundamentação teórica a respeito do tema abordado, alinhamento

estratégico. Desta maneira, através da investigação de diversos artigos que abordassem o

assunto proposto, foi possível identificar algumas variáveis que se repetiam, e por isso, e

foram compreendidas como relevantes.

Estas variáveis foram dispostas em um mapa cognitivo, que segundo Cossete e Audet (1992),

pode ser entendido como a representação gráfica de um conjunto de representações

discursivas feitas por um sujeito (o ator) com vistas a um objeto (o problema), em contextos

de interações particular.

O mapa construído possui quatro níveis. O nível zero, central, corresponde ao problema, ou

seja, ao alinhamento estratégico. O nível um apresenta os elementos primários, o dois, os

elementos secundários e, por fim o nível três, que apresenta o resultado do problema, que

neste caso é a melhoria do desempenho organizacional.

Das variáveis tidas como relevantes a primeira identificada foi „comprometimento da alta

direção‟, que segundo Faria (2009) pode ser entendido como o engajamento total da alta

direção na realização de algum projeto, no qual o seu amplo envolvimento é parte

imprescindível para que ele seja bem sucedido. Desta forma, a influência e a participação de

executivos afetam o alinhamento, que, por sua vez, afeta o desempenho dos negócios

(PAPKE-SHIELDS e MALHOTRA, 2001).

A segunda variável identificada foi „conhecer o ambiente interno e externo‟. Este

conhecimento requer que se identifiquem os recursos, capacidades e competências da

empresa; os clientes alvos; os concorrentes; e, os fornecedores. A compreensão do ambiente

interno é importante por que se devem conhecer os recursos disponíveis e estratégicos para se

determinar objetivos e metas viáveis. E, a compreensão do ambiente externo é relevante para

se determinar o posicionamento competitivo da empresa, salvo os fornecedores, que devem

ser conhecidos para que seja possível alinhar as especificações do produto ao propósito da

organização.

A próxima variável é „planejamento estratégico‟, que é responsável por formalizar a visão, os

valores, a missão e estratégia da empresa; determinar os objetivos específicos; promover o

pensamento corporativo e estratégico; determinar visão de curto e longo prazo; e,

compreender a visão e a cultura da empresa. Para Kaplan e Norton (1997) o planejamento

estratégico não é um processo gerencial isolado, mas sim uma das etapas de um processo

contínuo e lógico que movimenta toda a organização, desde a declaração da missão de alto

nível até o trabalho executado pelos empregados.

A quarta, e talvez mais importante, variável identificada foi „sistema de medição de

desempenho - SMD‟. O sistema de medição de desempenho, segundo Neely (2005), pode ser

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definido como o processo responsável por quantificar igualmente eficácia e eficiência, através

de um conjunto de medidas de desempenho definidas. A Fundação do Prêmio Nacional da

Qualidade - FPNQ (2001) complementa afirmando que as medidas de desempenho são uma

relação matemática que mede, numericamente, atributos de um processo ou de seus

resultados, com o objetivo de comparar esta medida com metas numéricas, pré-estabelecidas.

Desta maneira, o SMD se faz relevante, pois sem ele seria impossível analisar se o processo

de alinhamento contribuiu para melhorar a performance da organização. Entretanto, para que

este sistema possa funcionar eficazmente é necessário que se entenda e se reconheça a

necessidade desta variável no processo de alinhamento; haja indicadores de desempenho

padronizados e estratégicos, e que os mesmos sejam utilizados para tomada da decisão; exista

monitoramento e feedback rápido e acurado; e, que o sistema seja atualizado de tempos em

tempos e/ou quando ocorrem mudanças.

A última variável acordada foi „difusão do conhecimento‟. A difusão do conhecimento é o

fator que possibilita a integração da informações e a coordenação entre todas as variáveis

identificadas no mapa, sejam estas de primeiro ou de segundo nível. Para que a mesma ocorra

de forma adequada é necessário capacitar e instruir tanto os colaboradores internos quanto os

externos (fornecedores), já que sem esta habilitação não seria possível difundir o conheciemto

e consequentemente alinhar a organização interna e externamente.

Portanto, o alinhamento dos elementos da organização em torno de um propósito essencial,

deve proporcionar a melhoria do desempenho e a aprendizagem organizacional

(STEPANOVICH e MUELLER, 2002). Ou seja, o alinhamento estratégico garante melhoria

da performance quando os recursos da organização estão voltados para uma única direção

(PRIETO, 2000).

Na sequência, figura 1, segue o mapa cognitivo construído.

Figura 1: Mapa cognitivo com as variáveis relevantes para o alinhamento estratégico

Fonte: Autores, 2010.

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As setas entre os elementos secundários identificam um relacionamento dependente entre os

fatores conectados.

3. Construção do framework processual

A literatura aponta para a importância do alinhamento, mas autores como Venkatraman e

Camillus (1984) e Naman e Slevin (1993) concordam que há lacunas para a operacionalização

deste conceito. Notada esta lacuna, construiu-se um modelo processual para facilitar a

promoção do alinhamento estratégico nas organizações.

O modelo foi construído de acordo com a notação padronizada BPMN (Business Process

Modeling Notation), que segundo White (2004) tem como objetivo principal fornecer uma

notação que seja compreensível por todos os usuários de negócios, desde os analistas que

criam os rascunhos iniciais dos processos, até as pessoas de negócios que irão gerenciar e

controlar esses processos. Na figura 2, segue o modelo construído do processo de

alinhamento.

Figura 2: Framework do processo padrão geral do alinhamento estratégico

Fonte: Autores, 2010.

O framework processual inicia-se com a atividade de conscientização da alta direção com

relação ao seu imprescindível comprometimento perante o processo de alinhamento. Após

esta primeira etapa, e após quase todas as etapas, são inseridas caixas triangulares (gateway)

que marcam a divergência ou a convergência da seqüência do fluxo e que, geralmente, são

constituídas por perguntas relacionadas às atividades anteriores. Na primeira, a pergunta é “A

alta direção reconhece sua responsabilidade perante o sucesso do alinhamento?”, logo, há uma

bifurcação que indica duas possibilidades de resposta, “sim” ou “não”. Se “sim”, o fluxo

continua e se “não”, um subprocesso é iniciado. Neste caso, o subprocesso é constituído pelas

atividades de convencer e instruir da alta direção com relação ao seu comprometimento.

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Depois disso, a mesma pergunta é inserida “A alta direção reconhece sua responsabilidade

perante o sucesso do alinhamento?” e as mesmas possibilidades são dadas. Este ciclo repete-

se até que a resposta da organização seja “sim”, pois desta maneira garante-se que todas as

atividades sejam satisfeitas até que o processo de alinhamento seja completado.

A segunda atividade busca identificar os fatores contingenciais interno (recursos,

competências e capacidades) e externo (concorrentes e clientes) da empresa. Esta atividade foi

justificada na explicação da variável „conhecer o ambiente interno e externo‟ do mapa

cognitivo.

A próxima atividade é formalizar a visão, os valores, a missão e a estratégia da empresa. Na

formalização da missão é importante, segundo Porto (1997), que a mesma abranja o propósito

básico da organização (foco no cliente externo). Na da visão, Senge (1990) observa que uma

visão compartilhada por todos é o primeiro passo para permitir que pessoas que desconfiavam

umas das outras comecem a trabalhar juntas, pois ela cria uma identidade comum

(alinhamento) e, desta maneira, quando surgem gaps entre a visão e a realidade atual, gera-se

uma energia criativa suficiente para impulsionar ainda mais os colaboradores rumo ao

atingimento dos objetivos, além disso, ela propõe uma imagem de um futuro desejado. Na

formalização dos valores, Tamayo e Borges (2001) propuseram que os valores

organizacionais são crenças relativas a condutas e metas organizacionais desejáveis que

orientam a vida da organização, ou seja, identificar os princípios relevantes para orientar

todos na organização. E a estratégia, que Simon (1965) conceituou como sendo o conjunto de

ações e decisões que devem definir o rumo da organização durante determinado período de

tempo, é o meio para alcançar os objetivos. Estas formalizações promovem um pensamento

corporativo único, o que contribui com o processo de alinhamento.

Depois disso, é necessário verificar o alinhamento vertical e horizontal, atividades que

marcam as duas próximas atividades. Para isso, é relevante examinar se colaboradores

possuem conhecimento sobre propósito essencial da organização - alinhamento vertical, e se

são conhecidas as necessidades dos clientes (internos e externos) e as peculiaridades dos

fornecedores - alinhamento horizontal (LABOVITZ e ROSANSKY, 1997).

Na figura 3 encontram-se ilustrados os subprocessos relacionados ao comprometimento da

alta direção, auditoria interna e externa, planejamento estratégico e alinhamento vertical.

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Figura 3: Framework dos subprocessos do processo padrão geral do alinhamento estratégico

Fonte: Autores, 2010.

Mas como identificar se há alinhamento vertical e horizontal? Para isso é preciso que haja um

SMD que mensure tanto atividades hierárquicas quanto as inter e intradepartamentais. O‟mara

et al. (1998) afirmam que o SMD não apenas fornece dados necessários para a gerência

controlar as várias atividades da empresa, mas também influenciam as decisões e o

comportamento organizacional.

A sétima atividade consiste em identificar o motivo da existência do SMD, que pode ser

determinado tanto por um fator interno quanto externo à empresa. Segundo Bond (2002),

entender o questionamento das razões de uma organização precisar medir seu desempenho é

um requisito importante, e, os gestores que entendem a causa de uma coleta de dados são

capazes de decidir adequadamente o que medir e como a informação será utilizada. Desta

forma, caracteriza-se por fator interno o entendimento e consequente motivação da alta

gerência em implantar um SMD, e por fator externo, todos os outros fatores que não partem

desta compreensão de relevância, como por exemplo, a necessidade de uma certificação para

competir em determinado mercado.

A figura 4 apresenta os seguintes subprocessos do framework geral: alinhamento horizontal e SMD – etapa 1, 2 e 3.

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Figura 4: Framework dos subprocessos do processo padrão geral do alinhamento estratégico

Fonte: Autores, 2010.

A 8ª, 9ª, 10ª e 11ª atividades do framework geral referem-se ao projeto do SMD, e neste

contexto é preciso observar se:

a) Os indicadores existentes são suficientes para garantir o atingimento dos objetivos da

empresa, ou seja, para cada objetivo estratégico deve haver pelo menos um indicador que

meça o seu atingimento ou não;

b) Os indicadores estão sendo utilizados para tomada de decisão, pois se não, o SMD pode

estar desalinhado com o planejamento organizacional, logo este deve ser revisto. Segundo

Woodcock (1989), as informações de um sistema de medição de desempenho precisam ser

utilizadas para induzirem as atitudes para a redução da variabilidade e das atividades que não

adicionam valor;

c) Os indicadores estão dispostos em um modelo formal (com dados básicos como: título,

propósito, alvo, fórmula, frequencia da medida etc.) que facilite sua utilização por todos na

empresa;

d) Há alinhamento de cada indicador com o seu objetivo de origem.

As próximas atividades, 12ª e 13ª, buscam validar e implementar os indicadores em suas

respectivas áreas de atuação e treinar os funcionários, capacitando todos para utilizar e ainda

contribuir com o SMD. Nesta etapa, é necessário habilitar também os responsáveis pelos

indicadores, pois desta forma eles terão maior conhecimento das características do SMD e

consequentemente poderão auxiliar e facilitar o treinamento dos subordinados.

No contexto do uso do SMD, o mesmo deve medir tanto os processos quanto os produtos e as

informações provindas desta medição devem ser armazenadas em um banco de dados

adequado que facilite sua utilização por todos na companhia, principalmente a dos gestores.

Além disso, nesta fase, 14ª e 15ª atividades, deve haver uma nova reflexão sobre os

indicadores existentes, para que somente aqueles que realmente foram utilizados permaneçam

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no rol do SMD da empresa. Neely (1998) ressalta que, embora a medição permita aos

gerentes estabelecerem onde sua organização está e como seu desempenho deve ser

melhorado, o real valor da medição vem das ações que se seguem, pois uma organização pode

ter o melhor SMD do mundo, mas, ao menos que ações apropriadas sejam tomadas com base

nas informações fornecidas pelo sistema, não existirá um impacto positivo sobre o

desempenho.

Na figura 5, segue o último subprocesso do framework geral que indica o SMD – etapa 4, 5, 6

e 7.

Figura 5: Framework dos subprocessos do processo padrão geral do alinhamento estratégico

Fonte: Autores, 2010.

Após todas estas atividades, ainda é preciso rever os objetivos, e consequentemente os

indicadores, de tempos em tempos e/ou quando alguma modificação requerer atualização dos

mesmos. Posteriormente, deve-se re-alinhar o SMD de acordo com as atualizações efetuadas.

Meyer (1994) argumenta que, se as mudanças organizacionais não forem acompanhadas por

mudanças nos SMDs, no futuro próximo estes sistemas no melhor dos casos, serão

ineficientes e, no pior, contra-produtivos.

4. Análises e comparações

As análises e as comparações serão realizadas com base no framework processual do

alinhamento e nos estudos de caso realizados. Entretanto, para que fosse possível analisar o

conteúdo dos sete estudos de caso realizados, com empresas intituladas de A a G, foi

necessário transformar as informações qualitativas dispostas no framework, em um

questionário com 17 perguntas com alternativas quantitativas que se enquadram numa escala

de Likert. A escala possui como alternativas os números 0, 1 e 2, que significam “não”, “mais

ou menos” e “sim”, respectivamente.

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Desta forma, a pontuação máxima de 34 significa que a empresa está completamente alinhada

e a mínima de 0, completamente desalinhada. Na tabela1, encontram-se os resultados das

análises das oito empresas.

N° Empresas

A B C D E F G

1 1 1 1 1 0 1 0 5

2 2 2 2 2 1 2 2 13

3 2 2 2 2 0 2 1 11

4 2 1 1 1 0 0 0 5

5 2 2 1 2 1 1 1 10

6 2 2 2 2 1 1 2 12

7 2 2 2 2 1 1 2 12

8 1 1 1 1 0 1 0 5

9 2 2 1 2 0 0 2 9

10 1 0 0 1 0 0 1 3

11 2 2 2 2 1 1 2 12

12 1 1 0 1 1 1 0 5

13 2 2 1 2 1 1 1 10

14 2 2 2 2 2 2 2 14

15 2 1 1 1 2 1 1 9

16 2 2 2 2 0 0 1 9

17 2 2 1 2 0 0 1 8

30 27 22 28 11 15 19 152

(%) 88,24% 79,41% 64,71% 82,35% 32,35% 44,12% 55,88% 55,88%

Fonte: Autores (2010)

Tabela 1: Respostas e resultados do questionário diagnóstico do alinhamento

A partir dos resultados evidenciados acima é possível averiguar que a questão 10, que se

refere à possibilidade de identificar a partir do indicador o objetivo estratégico de origem, é a

que teve menor pontuação. Dado que ela, dentre as outras perguntas é a que mais evidencia ou

não o alinhamento, pode-se inferir que, embora algumas empresas tenham atingido um bom

nível de alinhamento, as mesmas não se encontram relevantemente alinhadas.

Entretanto, analisando-se o inverso, conclui-se que a questão que teve maio pontuação foi a

14, referente à facilidade de encontrar os dados das medições. Isso se aplica, levando-se em

consideração que encontrar as informações que foram medidas é o mínimo que uma empresa

deve conseguir.

Comparando as empresas entre si, destacam-se a A, C e E com maior nível de alinhamento.

Isso também era esperado, visto que as mesmas se enquadram a um nível global de

organização, que segundo Brown et al. (2007), se justifica pois o envolvimento e alinhamento

são identificados como altamente significativos em organizações de classe mundial.

Wheelwright, (1981) e Wheelwright e Hayes (1985) argumentam que o envolvimento de

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gerentes de manufatura no planejamento estratégico de processos auxilia no alinhamento da

manufatura e estratégia de negócios, e este alinhamento é associado com a alta performance

da manufatura.

A última análise feita é com relação ao percentual global do alinhamento, que na média com

55,88%, reflete o que consta na literatura, que foi anteriormente citado no início da seção 3,

que embora a literatura aponte para a importância do alinhamento, alguns autores concordam

que há lacunas para a operacionalização deste conceito (VENKATRAMAN e CAMILLUS,

1984; NAMAN e SLEVIN, 1993).

5. Conclusão

Dada a fundamentação teórica a respeito do alinhamento estratégico e dos fatores que

impactam em seu desempenho, foi possível identificar algumas variáveis que se destacaram

perante outras e por isso foram classificadas como variáveis relevantes ao alinhamento

estratégico. Estas variáveis possibilitaram o cumprimento do primeiro objetivo desta pesquisa,

construir um mapa cognitivo que apresentasse e associasse as mesmas, dispondo-as de forma

que sua visualização seja rápida e fácil, tanto por gestores quanto por estudiosos.

A partir das variáveis relevantes identificadas foi possível prosseguir almejando o

cumprimento do segundo objetivo, construir um framework processual que promova o

alinhamento estratégico nas organizações. Nesta etapa encontraram-se algumas dificuldades

no momento de assimilar, organizar, referenciar e expor de forma lógica toda informação

provinda do embasamento teórico realizado inicialmente. Contudo e felizmente, o objetivo foi

concluído e pôde-se dar sequencia aos propósitos do trabalho.

O último objetivo, realizar análises e comparações baseadas nos modelos construídos e nos

estudos de caso realizados, foi concluído com êxito. Entretanto, também houve certa

dificuldade para se analisar as empresas corretamente, visto que as informações das empresas

eram restritas e às vezes deficientes. A partir das reflexões oriundas deste último foi possível

identificar algumas sugestões para trabalhos futuros:

a) Inserir pesos às questões do questionário diagnóstico do alinhamento, dado que algumas

perguntas se mostraram mais relevantes que outras;

b) Ampliar a aplicação dos questionários no intuito de obter informações mais consistentes

que as obtidas através da análise de conteúdo dos estudos de caso;

c) Analisar as respostas dos entrevistados do questionário e calcular o alfa de cronback para

mediar consistência das respostas.

Por fim, averiguou-se que, embora o alinhamento estratégico possua um processo de

promoção contínuo, complexo e que depende de muitas pessoas e variáveis, ele se encontra

presente em todas as empresas, mesmo que em níveis diferentes. Talvez o maior aprendizado

ou conhecimento gerado a partir destas análises, comparações e reflexões esteja na percepção

de que se a empresa conseguir relacionar todos os seus indicadores de desempenho aos

respectivos objetivos estratégicos, sem sobrar nem faltar algum, ela estará, pelo menos em

parte, alinhada estrategicamente.

Referências

ATKINSON, A. A.; WATERHOUSE, J. H.; WELLS, R. B. A stakeholder approach to strategic performance

measurement. Sloan Management Review, 1997

BOND, E. Medição de desempenho para gestão da produção em um cenário de cadeias de suprimentos. Tese

de mestrado, USP. São Carlos, 2002.

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ANEXO A

N° Perguntas

1 A alta direção reconhece sua responsabilidade perante o sucesso do alinhamento?

2 São conhecidos os fatores contingenciais interno e externo da empresa?

3 Os valores, a visão e a estratégia estão alinhadas à missão (propósito essencial) da organização?

4 Há alinhamento vertical (hierarquia)?

5 Há alinhamento horizontal (departamentos, clientes, fornecedores, concorrentes)?

6 Existe um Sistema de Medição de Desempenho (SMD) na empresa?

7 A alta direção entende a relevância do SMD?

8 Os indicadores existentes são suficientes para garantir o atingimento dos objetivos estratégicos?

9 Os os indicadores estão padronizados (formalizados)?

10 É possível identificar ou relacionar o objetivo estratégico de origem para cada indicador existente?

11 Os gerentes (responsáveis) são capazes de utilizar adequadamente e ainda contribuir com o SMD?

12 Os funcionários são capazes de utilizar e contribuir com o SMD ?

13 Os indicadores estão sendo utilizados para medir os processos e produtos?

14 Os gerentes (responsáveis) conseguem localizar os dados armazenados das medições?

15 Os dados das medições estão sendo utilizados para tomada de decisão?

16 Os indicadores são revistos de tempos em tempos e/ou quando há alguma alteração no planejamento?

17 O SMD é re-alinhado após as atualizações realizadas?

Fonte: Autores (2010)

Tabela 2: Tabela com as perguntas do questionário diagnóstico do alinhamento