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  • 7/21/2019 Aline Reis Dialogando Com Freire e Boaventura Sobre Emancipao Humana Multiculturalismo e Educao Popular

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    Aline Reis Msicas Shows

    QUARTA-FEIRA, 26 DE MAIO DE 2010

    DIALOGANDO COM FREIRE E BOAVENTURA SOBREEMANCIPAO HUMANA, MULTICULTURALISMO EEDUCAO POPULAR

    DIALOGANDO COM FREIRE E BOAVENTURA SOBRE EMANCIPAO

    HUMANA, MULTICULTURALISMO E EDUCAO POPULAR

    Maria do Amparo Caetano de Figueiredo

    RESUMO

    Este trabalho tem o intuito de refletir as concepes de emancipao e

    multiculturalismo apresentadas por Paulo Freire e Boaventura dos Santos.

    Portanto, este dilogo busca dar visibilidade s prticas onde o ser humano

    possa ter o direito de ser, de se expressar nos seus potenciais,

    capacidades e diferenas, contemplar na ao educativa o respeito e avalorizao das diferenas sejam elas de raa, gnero, cor, etnia.A partir

    dessas reflexes, quero trazer tona o papel desenvolvido pela educao popular

    no processo instituinte de aes emancipatrias num contexto multicultural. Nessa

    perspectiva, estes autores tm contribudo para fortalecer as concepes e

    prticas no campo da educao popular, que vem sendo gestadas e nutridas por

    um projeto de sociedade emancipada.

    Palavras - chave: Emancipao Humana - Multiculturalismo - Educao Popular

    INICIANDO O DILOGO

    H um sculo e meio Marx e Engels gritavam em favor da unio das classes

    trabalhadoras do mundo contra sua espoliao. Agora, necessria e urgente se

    fazem a unio e a rebelio das gentes contra a ameaa que nos atinge, a da

    negao de ns mesmos como seres humanos submetidos fereza da

    tica do mercado. (FREIRE, 1998).

    Nesse novo milnio estamos vivendo diante de um grande paradoxo: ao

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    mesmo tempo em que avanamos com relao ao progresso tecnolgico,

    por outro lado, caminhamos num sentido quase inverso s nossas

    capacidades de garantir um norte tico e emancipatrio para a nossa vida

    em coletividade. Estamos diante de uma sociedade cada vez mais

    globalizada, tecnologicamente avanada. Contraditoriamente, a maioria da

    populao vive submetida a processos de excluso e violncia sem

    precedentes. H uma tica que atende muito mais aos interesses do

    mercado, do que a espcie humana. Tem-se o desenvolvimento da cincia, e

    ao mesmo tempo, a banalizao da vida, a desumanizao do ser.

    Paulo Freire e Boaventura dos Santos apresentam crticas ao projeto deglobalizao e as polticas neoliberais excludentes que se consolidam em nvel

    nacional e internacional. Nesse sentido, Freire reflete sobre o papel e o

    compromisso da cincia e a da tecnologia. A todo avano tecnolgico

    haveria de corresponder o empenho real de resposta imediata a qualquer

    desafio que pusesse em risco a alegria de viver dos homens e das

    mulheres (FREIRE, 1998, p.147).Uma cincia e tecnologia a servio do

    processo de emancipao humana. Por outro lado, Boaventura defende uma

    globalizao contra-hegemnica, ou seja, uma globalizao condizente com um

    projeto de sociedade que respeite as culturas locais, multicultural e emancipada.

    Assim, neste contexto da globalizao hegemnica, a educao muitasvezes se encontra pouco vigorosa para dar a sua contribuio no processo

    de emancipao humana.Diante dessa situao, as idias sobre emancipao

    precisam ser (re)discutidas, atravs de um debate terico que contemplem os

    dilemas e as perspectivas da emancipao da humanidade frente s novas

    configuraes societrias institudas. O desafio a construo de propostas

    concretas para superar dialeticamente os processos socioculturais

    desumanizantes construindo, igualmente, novas bases filosfico-cientficas

    capazes de orientar um projeto emancipatrio de sociedade (ZITKOSKI,

    2003, p.1).Portanto, a elaborao desse texto nasce do desejo e da necessidade

    de estar refletindo as perspectivas de uma sociedade emancipada que contemple

    o multiculturalismo, identificando as possibilidades e os limites que as prticasemancipatrias colocam para a Educao Popular. Inicio o ensaio a partir do

    debate com Paulo Freire sobre emancipao e multiculturalismo. Posteriormente,

    apresento as reflexes desenvolvidas por Boaventura dos Santos sobre o projeto

    de sociedade emancipada e multicultural, enquanto um projeto contra-hegemnico

    diante do atual estgio do capitalismo globalizado. Feitas essas reflexes

    conceituais, abordo os desafios, limites e perspectivas presentes no campo da

    Educao Popular, vislumbrando a instituio de uma sociedade emancipada. A

    educao popular, pelo dilogo, caminha para a superao das formas

    existentes de opresso, uma pedagogia emancipatria... Uma pedagogia

    orientada pela interpretao do mundo, considerando que todos se educam

    pelo dilogo, intersubjetivamente.(MELO NETO, 2004, p. 176).

    Encontro-me, pois, no desafio de realizar uma provocao terica-prtica sobre os

    desafios e as perspectivas de emancipao da humanidade, sem a pretenso de

    esgotar ou at mesmo concluir este debate. Encontro-me tambm mobilizada

    pelo desejo de tentar processar as possibilidades da atividade da educao

    popular nessa empreitada emancipatria.Enfim, escrever sobre a

    emancipao humana discorrer sobre um conjunto de aes, utopias, lutas,

    sonhos, projetos, aes humanas em busca da felicidade, da justia, da liberdade

    e da fraternidade.

    SOBRE O CONCEITO DE EMANCIPAO E MULTICULTURALISMO

    Para desenvolver o debate sobre emancipao buscarei me fundamentar nopensamento de Paulo Freire e Boaventura dos Santos, atravs das suas

    construes tericas sobre estes.

    Segundo o Dicionrio do Pensamento Marxista, o conceito de emancipao

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    tem a ver com a liberdade em nvel da supresso dos obstculos

    emancipao humana, ou seja, ao mltiplo desenvolvimento das

    possibilidades humanas e a criao de uma nova forma de associao

    digna da condio humana.Dentro da comunidade ter cada indivduo os

    meios de cultivar seus dotes e possibilidades em todos os sentidos (MARX, apud

    BOTTOMORO, 1997, p.124). Assim, quanto tratarmos da concepo de

    emancipao, em alguns momentos do texto, vamos fazer referncia aos

    conceitos de liberdade e de emancipao como termos aproximados.

    No entanto, situarei brevemente a origem e a evoluo do conceito de

    emancipao, sobretudo por compreender que as concepes desses autores sereferenciam tambm nesta histria.

    Segundo Pogrebinschi (2004), a origem do conceito de emancipao, em sua

    formulao latina original emancipatio, deriva de e manu capere, enquanto ato

    jurdico atravs do qual o paterfamilias da Repblica Romana tinha autorizao

    para libertar seu filho do ptrio poder. Este conceito retomado pelo projeto do

    iluminismo, atravs dos iderios de liberdade e igualdade, inspiradores da

    Revoluo Francesa. Nesse contexto, o conceito de emancipao tambm

    aprestado na perspectiva de auto-emancipao, passando a ser ao do prprio

    sujeito. Portanto, se na Roma republicana a autoridade que proporcionava a

    emancipao era o paterfamilias, na Idade Mdia ela passa a ser o direito

    emanado do Estado, tem-se, portanto, a emancipao no campo pblico, poltico.O Estado representa o agente emancipatrio, ou seja, um instrumento de

    realizao da emancipao. Entretanto, no sculo XIX, o Estado constitui o

    prprio objeto de emancipao, ou seja, a origem da opresso da qual se

    deseja emancipar. No entanto, somente em Marx o conceito de

    emancipao se libertar do Estado.Assim, em A questo judaica (1978), Marx

    estabelece uma distino entre os conceitos de emancipao poltica e

    emancipao humana. A emancipao poltica se configurou pela superao da

    forma de sociabilidade feudal, em que o modo de produo estabelecia uma

    desigualdade jurdica e poltica explcita entre as classes sociais. Portanto, a

    emancipao poltica, no extingue, antes solidifica a desigualdade social. No

    obstante, para Marx, a emancipao poltica para o seu contexto, representa umgrande progresso. certo que no a ltima forma da emancipao humana,

    mas a ltima forma da emancipao humana na ordem do mundo actual.

    Entendamo-nos: falamos da emancipao real, da emancipao prtica. (MARX,

    1978, p. 23).

    Dessa forma, o marxismo torna-se herdeiro de um conceito mais frtil e mais

    amplo de emancipao: emancipao humana geral, enquanto a mais elevada

    expresso das potencialidades humanas. A emancipao humana s realizada

    quando o homem reconheceu e organizou as suas prprias foras como foras

    sociais, deixando, pois de separar de si a fora social sob a forma de fora poltica

    (MARX, 1978, p.46). Nesse sentido, pauta sua obra no conhecimento e crtica

    sociedade burguesa, vislumbrando alternativas, caminhos, aes instituintes de

    emancipao da espcie humana.

    O conceito de emancipao tambm foi constituinte do projeto dos pensadores da

    Teoria Crtica ou Escola de Frankfurt. Estes pensadores desenvolveram nos seus

    estudos profundas crticas e alternativas a sociedade de suas poca e, sobretudo

    diante da no efetivao de uma sociedade emancipada, inclusive no contexto do

    chamado socialismo real. A Escola de Frankfurt foi criada na Alemanha em 1923.

    Constituiu um grupo de intelectuais que formularam uma teoria social especfica,

    de inspirao marxista Contudo, no permaneceu na Alemanha, pois foi

    transferida para os Estados Unidos em 1933, onde permaneceu at 1950,

    retornando ao pas origem. Seus principais representantes foram: Theodor

    Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse e Jrgen Habermas.

    Adorno realiza uma conversao com Hellmut Becker e Gerd Kadelbach (1969)

    sobre o processo educacional e a prtica emancipatria. Adorno recoloca o

    desafio de no mnimo fazer oposio barbrie, a partir de uma educao que

    e leva tenso para Vil...

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    promova a emancipao.

    EMANCIPAO E MULTICULTURALISMO EM PAULO FREIRE

    Freire em toda a sua obra, deixa claro sua prpria posio na sociedade, na

    educao, na vida, diante do outro, diante dele mesmo. Ele sempre nos desperta

    para refletir sobre os limites da educao. Entretanto, destaca fundamentalmente

    o papel que temos e a responsabilidade de assumi-lo bem, na construo de uma

    sociedade mais democrtica e humana. Nesse sentido, Freire reconhece que o

    projeto de emancipao humana s ser efetivado na sociedade socialista.Freire reconhece assim como Marx, o progresso da emancipao poltica, no caso

    de Freire, a vivencia da cidadania, mas considera que s com a instituio do

    socialismo possvel a emancipao geral da humanidade. Para Freire, o

    contexto atual nos possibilita projetar novas experincias socialistas,

    transcendendo ao modelo negativo do socialismo sovitico, assim como o

    paradigma autoritrio do chamado socialismo real:

    O discurso contra a utopia socialista o discurso liberal ou neoliberal

    necessariamente e obviamente enaltece o avano do capitalismo. Eu me recuso a

    pensar que se acabou o sonho socialista porque constato que as condies

    materiais e sociais que exigiram esse sonho esto a. Esto a a misria, a

    injustia e a opresso. E isso o capitalismo no resolve a no ser para umaminoria. Eu acho que nunca, nunca na nossa Histria, o sonho socialista foi to

    visvel, to palpvel e to necessrio quanto hoje, embora, talvez, de muito mais

    difcil concretizao. (FREIRE, 2001, p. 209).

    Nesse sentido, a emancipao humana no acontecer por eventualidade,

    por concesso, mas ser uma conquista efetivada pela prxis humana, que

    demanda uma luta ininterrupta.Assim, Freire no defende uma libertao

    enquanto ponto ideal, fora dos homens, ao qual inclusive eles se alienam. A

    liberdade condio imprescindvel ao movimento de busca em que esto

    inscritos os homens como seres inconclusos... A libertao, por isto, um

    parto[...] O homem que nasce deste parto um homem novo que s

    vivel na e pela superao da contradio opressores-oprimidos, que alibertao de todos (FREIRE, 1991, p.35).

    De tal modo que a superao dessa contradio um processo que traz ao

    mundo novos seres, no mais opressores, nem oprimido, mas homem libertando-

    se. Nesse contexto, A pedagogia do oprimido (1991), constitui a pedagogia dos

    homens e das mulheres empenhando-se na luta por sua emancipao. A origem

    da pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, deixa de ser

    do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente

    libertao. (FREIRE, 1991, p. 41).

    Destarte, o processo de emancipao humana na perspectiva de Freire contempla

    o processo de humanizao tanto do oprimido quanto do opressor. Essa luta

    unicamente tem sentido quando os oprimidos, ao buscarem reconstruir sua

    humanidade, no se sentem idealistamente opressores, nem se tornam, de fato,

    opressores dos opressores, mas restauradores da humanidade de ambos. E a

    est a grande tarefa humanista e histrica dos oprimidos libertar-se a si e

    aos opressores.(FREIRE, 1991, p.30):

    A desumanizao, que no se verifica apenas nos que tm sua humanidade

    roubada, mas tambm, ainda que de forma diferente, nos que a roubam,

    distoro da vocao do ser mais... Na verdade, se admitssemos que a

    desumanizao vocao histrica dos homens, nada mais teramos que fazer, a

    no ser adotar uma atitude cnica ou de total desespero. A luta pela humanizao,

    pelo trabalho livre, pela desalienao, pela afirmao dos homens como pessoas,

    como seres para si, no teria significao. Esta somente possvel porque adesumanizao, mesmo que um fato concreto na histria, no , porm, destino

    dado, mas resultado de uma ordem injusta que gera a violncia dos opressores e

    esta, o ser menos. (FREIRE, 1987, p.30).

    Assim, emancipao na perspectiva de Freire apropriar-se e experimentar o

  • 7/21/2019 Aline Reis Dialogando Com Freire e Boaventura Sobre Emancipao Humana Multiculturalismo e Educao Popular

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    poder de pronunciar o mundo, a vivncia da condio humana de ser protagonista

    de sua histria. Freire nos possibilita um projeto de educao popular que almeja a

    libertao, humanizao e emancipao humana. Sua pedagogia caminha em

    torno de uma ontologia social e histrica. Ontologia que, aceitando ou postulando

    a natureza humana como necessria e inevitvel, no a entende como uma a

    priori da Histria. A natureza humana se constitui social e historicamente.

    (FREIRE, 2000, p.119). A emancipao consiste num fazer cotidiano e histrico

    permeado de desafios, sonhos, utopias, resistncias e possibilidades.

    Vocacionado Liberdade, o ser humano busca responder atravs de sua

    disposio de cavar, sem cessar, espaos de autonomia, em vista de um renovadocompromisso com a causa emancipatria, seja no plano pessoal, seja no mbito

    coletivo (CALADO, 2001, p. 55). Freire busca realizar o sonho poltico a favor da

    emancipao humana. Esta tarefa, no entanto, no pode ser proposta pela classe

    dominante. Deve ser cumprida por aqueles que sonham com a reinveno da

    sociedade, a recriao ou reconstruo da sociedade. (FREIRE, 2001, p.49).

    Libertao e opresso, porm, no se acham inscritas, uma e outra, na histria,

    como algo inexorvel. Da mesma forma a natureza humana, gerando-se na

    histria, no tem inscrita nela o ser mais, a humanizao, a no ser como vocao

    de que o seu contrrio distoro na histria... Homens e mulheres, ao longo da

    histria, vimo-nos tornando animais deveras especiais: inventamos a possibilidade

    de nos libertar na medida em que nos tornamos capazes de nos perceber comoseres inconclusos, limitados, condicionados, histricos. Percebendo, sobretudo,

    tambm, que a pura percepo da inconcluso, da limitao, da possibilidade, no

    basta. preciso juntar a ela a luta poltica pela transformao do mundo. A

    libertao dos indivduos s ganha profunda significao quando se alcana a

    transformao da sociedade. (FREIRE, 1997, p. 100).

    Assim, no contexto da sociedade capitalista, h muitos limites ao processo

    de emancipao humana. Esta emancipao ser sempre um processo em

    construo, um devenir. Nesse sentido, a emancipao humana no

    pensamento de Freire um vivenciar cotidiano, no um projeto a ser

    concretizado somente num futuro longnquo, inclusive para ser construdoe vivido por outros. Portanto, as prticas emancipatrias da humanidade se

    efetivaro ao mesmo tempo no cotidiano e na histria. Ocorre em casa, nas

    relaes entre pais, mes, filhos, filhas, na escola, nas relaes de trabalho,

    no importa o seu grau, afirma Freire (2000), o essencial se sou uma

    pessoa coerentemente progressista. Nesse sentido, a educao popular

    constitui um dos espaos fundamentais que possibilita aos seres humanos

    ir exercitando o processo de emancipao individual e coletiva. Assim, na

    perspectiva freireana, a emancipao inclui a vivncia das necessidades

    matrias e subjetivas, contempla a festa, a celebrao, a alegria de viver:

    Essa educao para a liberdade, essa educao ligada aos direitos

    humanos nesta perspectiva, tem que ser abrangente, totalizante ela tem

    que ver com o conhecimento crtico do real e com a alegria de viver.E no

    apenas com a rigorosidade da anlise de como a sociedade se move, se mexe,

    caminha, mas ela tem a ver tambm com a festa que vida mesma. Mas preciso

    fazer isso de forma crtica e no de forma ingnua. Nem aceitar o todo-

    poderosismo ingnuo de uma educao que faz tudo, nem aceitar a negao da

    educao como algo que nada faz, mas assumir a educao nas suas limitaes

    e, portanto, fazer o que possvel, historicamente, ser feito com e atravs,

    tambm, da educao. (FREIRE, 2001, p. 102).

    Neste aspecto, Freire argumenta contra a concepo bancria de educao. Uma

    educao que no promove a emancipao, ao contrrio, reduz o ser humano ao

    autmato, que constitui a negao de sua ontolgica vocao de ser mais. Umaconcepo de homem como ente vazio a quem o mundo encha de contedos,

    constitudo numa conscincia particularizada, mecanicistamente compartimentada:

    Na concepo bancria que estamos criticando, para a qual educao o ato de

    depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos, no se verifica nem

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    pode verificar-se esta superao. Pelo contrrio, refletindo a sociedade opressora,

    sendo dimenso da cultura do silncio a educao bancria mantm e

    estimula a contradio. (FREIRE, 1987, p. 59).

    Freire desenvolve uma concepo dialgica da educao fundamentada numa

    compreenso problematizadora do ato de conhecer e a intencionalidade de mudar

    o mundo. Freire prope uma educao que, eliminada a roupagem alienada e

    alienante, consista em uma fora de transformao, emancipao e libertao

    humana.(FREIRE, 1987). A sociedade que a est impe sua cultura, linguagem,

    sintaxe, semntica, gostos, sonhos, projetos de classe dominante. Como exemplo,

    Freire cita a imposio da escola: por isso que no h verdadeiro bilingismo, muito menos multilingismo, fora da

    multiculturalidade e no h esta como fenmeno espontneo, mas criado,

    produzido politicamente, trabalhado, as duras penas, na histria... a criao

    histrica que implica deciso, vontade poltica, mobilizao, organizao de cada

    grupo cultural com vistas a fins comuns. Que demanda, portanto, uma certa

    prtica educativa coerente com esses objetivos. Que demanda uma nova tica

    fundada no respeito s diferenas. (FREIRE, 1997, p.157).

    Desse modo, o projeto de emancipao humana defendido por Freire, contempla

    a questo do multiculturalismo. O direito e o respeito s diferenas constitui um

    dos aspectos abordados por Freire, principalmente nos seus ltimos trabalhos.

    Segundo Freire (1997, p.156), refletir sobre a multiculturalidade constitui um temaque demanda uma anlise crtica da sua constituio. A multiculturalidade no se

    constitui da justaposio de culturas, muito menos no poder exacerbado de uma

    sobre as outras, mas na liberdade conquistada, no direito assegurado de mover-se

    cada cultura no respeito uma da outra. Assim, numa sociedade com perspectivas

    de emancipao multicultural, o desafio consiste em estabelecer uma anlise

    crtica das prticas educativas, com o intuito de no se confundir uma justaposio

    de culturas com o multiculturalismo.

    Portanto, a perspectiva multicultural freireana se expressa enquanto a concretude

    de um dilogo crtico entre as culturas, potencializando ao mesmo tempo aes

    que vislumbrem formas mais humanas de convivncia e de crescimento individual

    e coletivo de todos os seres humanos. Refere-se a processos educativos queefetivamente contribuam com a construo da humanidade do ser humano, de

    todos os seres humanos em todos os quadrantes do globo (SOUZA, 2001).

    Dessa forma, Freire claro quando argumenta que no basta apenas garantir o

    direito a essa diversidade numa sociedade dita democrtica. Freire critica o

    modelo de ps-modernidade de direita, que difunde a idia que foi suprimida as

    classes sociais, as ideologias, os sonhos e utopias. (FREIRE, 1997, p.198). Nessa

    perspectiva, tem-se o discurso de que a categoria classe social foi abolida nos

    estudos sociolgicos e educacionais, e de que no existem mais classes sociais, e

    os trabalhadores esto diludos em vrias frentes: pelo trabalho, pela

    sobrevivncia imediata. Entretanto, reflito que a questo bsica ainda a

    desigualdade social de classes. E, as outras temticas em questo nos tempos

    atuais, tais como, a defesa da natureza, as lutas tnicas, das mulheres, o direito

    diferena, demandam tambm o debate sobre as classes. Ou seja, a forma

    desigual como os mais diversos grupos sociais tm participado do processo de

    produo e usufruto dos bens culturais e materiais produzidos pela humanidade:

    Num primeiro momento a luta pela unidade da diversidade que

    obviamente uma luta poltica, implica a mobilizao e a organizao das

    foras culturais em que o corte de classe no pode ser desprezado, no

    sentido da ampliao e no do aprofundamento e superao da democracia

    puramente liberal. preciso assumirmos a realidade democrtica para a

    qual no basta reconhecer-se, alegremente, que nesta ou naquela

    sociedade, o homem e a mulher so de tal modo livres que tm o direito de

    at de morrer de fome ou de no ter escola para seus filhos e filhas ou deno ter casa para morar. O direito, portanto, de morar na rua, o de no ter

    velhice amparada, o de simplesmente no ser. (FREIRE, 1997, p. 157).

    (Grifos nossos)Portanto, o multiculturalismo no constitui simplesmente a

    afirmao do direito de ser diferente, quando esta diferena est sendo

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    caracterizada pela desigualdade social. Pois o simples direito diferena entre as

    multiplicidades de culturas insuficiente para se dizer que estamos numa

    sociedade multicultural. Nesse sentido, a pedagogia freireana tem cada vez mais

    se colocado radicalmente a favor da transformao das condies e situaes de

    vida e de existncia das maiorias desapossadas de quaisquer poderes econmico,

    social e poltico. (SOUZA, 2001, p.119). Diante desse debate Freire faz uma

    distino entre a ps-modernidade progressista e a conservadora, neoliberal,

    combatendo essa ltima, e reafirmando a opo pelos excludos. Nesse contexto,

    Freire assume-se enquanto um ps-moderno crtico:

    Para mim, a prtica educativa progressistamente ps-moderna nela que sempreme inscrevi, desde que vim tona, timidamente, nos anos 50 a que se funda

    no respeito democrtico ao educador como um dos sujeitos do processo, a que

    tem no ato de ensinar aprender um momento curioso e criador em que os

    educadores reconhecem e refazem conhecimentos antes sabidos e os educandos

    se apropriam, produzem o ainda no sabido. a que desoculta verdades em lugar

    de escond-las. (FREIRE, 2001, p.159).

    Freire identifica assim como Boaventura, que h diferentes culturas ou traos

    culturais de uma mesma cultura nacional, embora se encontrem justapostas ou em

    situaes de dominao e subalternidades. O desafio consiste, portanto,

    transcender essa diversidade cultural, por meio do dilogo crtico entre as culturas

    e das culturas (interculturalidade), numa multiculturalidade.(SOUZA, 2001, p.123).Nessa perspectiva, a multiculturalidade assim como a interculturalidade no so

    situaes espontneas, so projetos, ainda desejos, utopias, metas de alguns

    poucos grupos sociais, especialmente dos novos movimentos sociais. Assim, a

    multiculturalidade se efetivar como conseqncia de uma construo desejada

    poltica, cultural e historicamente. Portanto, esta utopia, sua esperana, poder

    tornar-se uma nova configurao da convivncia humana (em suas dimenses

    econmica, poltica e gnosiolgica), nos novos cenrios mundiais. (SOUZA, 2001,

    p.126). A experincia do Frum Social Mundial tem oportunizado esse movimento

    global de expresso, partilha e solidariedade entre diversos povos, culturas.

    EMANCIPAO E MULTICULTURALISMO EM BOAVENTURA DOSSANTOS

    Boaventura dos Santos aporta uma nova concepo de emancipao. Esta

    perspectiva nasce do aprofundando da teoria democrtica, que contempla uma

    nova equao entre subjetividade, cidadania e emancipao. Segundo este

    pensador, no contexto atual, o socialismo encontra-se liberto da caricatura

    grotesca do socialismo real e torna-se, portanto disponvel para voltar a ser a

    utopia de uma sociedade mais justa e de uma vida melhor para todos.

    Santos (2003), coordenou um projeto de pesquisa de mbito internacional

    intitulado: Reinventar a emancipao social: Para novos manifestos. O ponto

    central desse projeto que a atuao e a concepo que estearam e deram

    credibilidade aos ideais modernos de emancipao social encontrar-se no

    momento atual fortemente questionado pelo fenmeno da globalizao, que

    embora no seja novo, tem adquirido nas duas ltimas dcadas uma amplitude tal

    que tem redefinido os contextos, as configuraes, os objetivos, os meios e as

    subjetividades das lutas sociais e polticas. A idia, portanto desse projeto que

    esta forma de globalizao, embora hegemnica, no a nica e de fato tem sido

    progressivamente confrontada por uma outra forma de globalizao: alternativa,

    contra-hegemnica, instituda pelo conjunto de iniciativas, movimentos e

    organizaes que, atravs de vnculos, redes e alianas locais/globais, lutam

    contra a globalizao neoliberal mobilizados pelo desejo de um mundo melhor,

    mais justo e pacfico que acreditam possvel e a que sentem ter direito (SANTOS,

    2003, p.14):A emancipao no mais do que um conjunto de lutas processuais, sem fim

    definido. O que a distingue de outros conjuntos de lutas o sentido poltico das

    processualidades das lutas. Esse sentido , para o campo social da emancipao,

    a ampliao e o aprofundamento das lutas democrticas em todos os espaos

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    estruturais da prtica social. (SANTOS, 2003, p. 277).

    Essa perspectiva de emancipao emergiu no I Frum Social Mundial em Porto

    Alegre e se fortalece at os dias atuais. nesta globalizao alternativa e no seu

    embate com a globalizao neoliberal que esto sendo criados os novos caminhos

    da emancipao social. De acordo com Santos (2003, p.35), esta viso

    alternativa de globalizao vai se fundamentar no marxismo perante a idia da

    importncia das articulaes internacionais das lutas no contexto do capitalismo

    globa:

    O sucesso das lutas emancipatrias depende das alianas que os seus

    protagonistas so capazes de forjar. No incio do sculo XXI, essas alianas tmde percorrer uma multiplicidade de escalas locais, nacionais e globais e tem de

    abranger movimentos e lutas contra diferentes formas de opresso. (SANTOS,

    NUNES, 2003, p.64).

    De acordo com Nunes e Santos (2003), essas lutas tm sido travadas em um

    contexto histrico, onde se observa a emergncia de diferentes lutas e atores

    coletivos distintos: as mulheres, os ambientalistas, os movimentos anti-racistas.

    Segundo estes autores, diante das novas configuraes do capitalismo

    globalizado, no mais possvel atribui apenas a um ator coletivo o proletariado

    global, o papel principal das lutas contra as formas diversas de opresso,

    excluso e dominao. Tem-se a emergncia de uma diversidade de lutas e

    sujeitos coletivos. Portanto, torna-se necessrio reconceitualizar a escala espacialdessas lutas, que so travadas nos espaos nacionais, supranacionais e

    subnacioanis em que opera o capitalismo. (SANTOS, 2003, p.35).

    Desse modo, a globalizao hegemnica, ao mesmo tempo em que sucinta novas

    formas de racismo5, tambm tem criado condies para a emergncia do

    multiculturalismo. Santos (2003), escreve sobre multiculturalismo, justia

    multicultural, direitos coletivos e cidadanias plurais, enquanto termos que

    permeiam o debate em torno da tenso entre a diferena e a igualdade, entre a

    exigncia de reconhecimento da diferena e de distribuio que possibilite a

    efetivao da igualdade. Essas tenes ocorrem no seio das lutas dos movimentos

    sociais com perspectivas emancipatrias, contra as redues eurocntricas de

    alguns termos, buscando propor concepes mais inclusivas e ao mesmo tempo,respeitadoras da diferena de concepes e prticas alternativas que buscam a

    dignidade humana (SANTOS, NUNES, 2003, p.25).

    Nesse contexto, Santos e Nunes (2003, p.28), debatem o multiculturalismo

    enquanto um termo controverso e atravessado por tenses6. A expresso

    multiculturalismo designa, originalmente, a convivncia de formatos culturais ou de

    grupos caracterizados por culturas diferentes no mbito das sociedades

    modernas. Este termo tem sido usado, portanto, para designar as diferenas

    culturais em um contexto transnacional e global. Desse modo, existem diferentes

    noes de multiculturalismo, no entanto, nem todas tm um sentido emancipatrio.

    Este tanto pode ser conservador, quanto emancipatrio. Segundo estes autores,

    este termo apresenta as mesmas dificuldades e os mesmos potenciais do conceito

    de cultura. Um dos conceitos dominante refere-se aos caminhos do saber

    institucionalizado no Ocidente. No entanto, h outras concepes, que

    reconhecem a existncia de uma pluralidade de culturas, definindo-as como

    totalidades complexas que se confundem com as sociedades, permitindo

    caracterizar modos de vida baseados em condies materiais e simblicas

    (SANTOS e NUNES, 2003, p.27).

    A partir do racismo tem-se a justificativa ideolgica para a prtica do imperialismo

    e do colonialismo. Relaciona-se com a ascenso e domnio ocidental e capitalismo

    no globo. Proclamando a superioridade da cultura e da religio ocidental,

    justificando as aes de colonizao para a civilizao dos povos brbaros e

    pagos. Da o surgimento do termo ocidentalismo. Nessa perspectiva, omulticulturalismo assume a perspectiva de luta para combater os legados do

    racismo e garantir a instituio de uma sociedade mais justa. (GHAI, 2003, p.557).

    6 Para aprofundar as crticas que so feitas sobre o conceito multiculturalismo ver

    Santos e Nunes (2003).

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    V Colquio Internacional Paulo Freire Recife, 19 a 22-setembro 2005

    Destarte, mesmo diante da globalizao, possvel se falar em verses

    emancipatrias do multiculturalismo. Sua relevncia consiste no fato de ser a

    cultura, na era do capitalismo global, o espao privilegiado de articulao da

    reproduo das relaes sociais capitalistas e ao mesmo tempo, o do antagonismo

    a elas. (SANTOS e NUNES, 2003, p.33). Portanto, para estes autores a relao

    entre globalizao e multiculturalismo ambgua. Ao mesmo tempo em que a

    globalizao favorece a relao entre as diversas culturas, reforando os contatos

    entre os diferentes povos do globo, observa-se a influncia homogeneizadora do

    capitalismo e dos mercados globais sobre estas culturas.Assim, Santos (2003), defende o multiculturalismo emancipatrio, que se baseia

    no reconhecimento da diferena e no direito diferena e da coexistncia ou

    construo de uma vida em comum alm da diferena de vrios tipos. No entanto,

    a igualdade ou a diferena, por si ss, no so aspectos suficientes para uma

    poltica emancipatria. O debate sobre os direitos humanos e sua reinveno

    como direitos multiculturais, bem como a luta das mulheres, dos povos indgenas,

    mostram que a afirmao da igualdade com base em pressupostos universalistas,

    bem como os que determinam as concepes ocidentais, individualistas, dos

    direitos humanos, leva muitas vezes descaracterizao e negao das

    identidades, das culturas e das experincias histricas diferenciadas. Portanto:

    [...] como compatibilizar a reivindicao de uma diferena enquanto coletivo e, aomesmo tempo, combater as relaes de desigualdade e de opresso que se

    constituram acompanhando essas diferenas? Que experincias existem neste

    campo e o que nos ensinam elas o saber as possibilidades e as dificuldades de

    construo de novas cidadanias e do multiculturalismo emancipatrio? (SANTOS,

    NUNES, 2003, p.25).

    Enfim, o conceito de emancipao (a globalizao contra-hegemnica) proposta

    por Santos, baseada na construo de cidadanias emancipatrias partir das

    lutas e iniciativas locais-globais de grupos populares na perspectiva de resistir

    opresso, descaracterizao e excluso institudas com o modelo da

    globalizao hegemnica, por intermdio de redes e de coligaes mundiais,

    atravs de um conjunto de lutas, de diferentes povos, culturas. Assim, as polticasemancipatrias e a inveno de novas cidadanias colocam-se no terreno do

    conflito entre igualdade e diferena, entre o requisito de reconhecimento e o

    imperativo da nova distribuio da justia social. Conforme Santos e Nunes (2003,

    p.63), a afirmao da diferena por si s pode servir de justificativa para a

    discriminao, excluso ou inferiorizao, em nome dos direitos coletivos e de

    especificidades culturais. Nesse aspecto, Santos (2003), prope que para abolir

    este dilema se faz indispensvel defender a igualdade sempre que a diferena

    originar inferioridade, e defender a diferena sempre que a igualdade referir-se

    descaracterizao.

    EDUCAO POPULAR, EMANCIPAO E MULTICULTURALISMO

    A histria da educao popular emerge da necessidade de contestar o discurso

    formal da igualdade e do Estado de direito, institudo desde a Revoluo

    Francesa, e tem sido desenvolvida na Amrica Latina, enquanto uma educao

    aberta aos camponeses, indgenas, mulheres, trabalhadores rurais, moradores de

    favelas, populaes que historicamente tem sido excludas do usufruto dos bens

    materiais e culturais produzidos socialmente. Nesse aspecto, a educao popular

    recusa a neutralidade poltica e cientfica e afirma concepes e prticas

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    V Colquio Internacional Paulo Freire Recife, 19 a 22-setembro 2005

    emancipatrias da humanidade.

    Portanto, a educao popular submerge da compreenso de que a educao

    um processo permanente de afirmao da condio do ser de sujeito histrico.

    Sua proposio fundamental constitui estimular processos que promovam aliberdade, emancipao, autonomia individual e coletiva. Essa perspectiva de

    educao se fundamenta no pensamento marxista, na concepo de Homem

    construtor da sua histria e da sua cultura, enquanto ser da prxis. De acordo com

    Melo Neto, a educao caracterizada popular est relacionada:

  • 7/21/2019 Aline Reis Dialogando Com Freire e Boaventura Sobre Emancipao Humana Multiculturalismo e Educao Popular

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    [...] as lutas polticas com a construo da hegemonia da classe trabalhadora

    (maiorias), mantendo o seu constituinte permanente, que a contestao [...] Uma

    ao popular quando capaz de contribuir para a construo de direo poltica

    dos setores sociais que esto margem do fazer poltico. (MELO NETO, 2003,

    p.52).

    Deste modo, o conceito de popular refere-se a uma ao que contemple os

    seguintes elementos que se relacionam entre si, no entanto diferenciando-se: tem

    uma origem nas maiorias (povo), ou a ele esteja encaminhado, tem o poltico

    como componente de promoo de hegemonia dos setores majoritrios da

    sociedade, no aspecto metodolgico, vislumbra uma prtica para o exerccio dacidadania crtica e geradora de ao. No tocante a dimenso tica e utpica,

    fundada em princpios de solidariedade, tolerncia e justia pela busca incessante

    de alternativas de vida e de felicidade. (MELO NETO, 2003).

    Paulo Freire nas suas diversas obras expressa a sua compreenso de educao

    popular vinculada s aes com os oprimidos. Freire prope uma metodologia que

    facilite o processo de emancipao do indivduo e da sociedade, na esperana de

    superao da opresso, explorao e desigualdade social. Nessa perspectiva,

    Freire coloca que uma das primordiais tarefas da educao crtica radical

    libertadora (popular) trabalhar a legitimidade do sonho tico-poltico da

    superao da realidade injusta. Assim, a educao popular defendida por Freire

    aquela que persegue o sonho da construo de uma sociedade:[...] reinventando-se sempre com uma nova compreenso do poder, passando por

    uma nova compreenso da produo, uma sociedade em que a gente tenha gosto

    de viver, de sonhar, de namorar, de amar, de querer bem. Esta tem que ser uma

    educao corajosa, curiosa, despertadora da curiosidade, mantenedora da

    curiosidade. (FREIRE, 2001, p.101).

    Freire indaga a favor de quem e contra quem so desenvolvidas as prticas de

    libertao e emancipao humana no processo educativo. Como que a prtica

    em educao se articula a outras aes vislumbrando a construo de uma nova

    sociedade? Nesse aspecto, Freire est atento para os limites da educao como

    prtica de liberdade. Para ele, a educao modelada pela sociedade segundo os

    interesses dos que detm o poder, e sozinha no vai instituir uma sociedadeemancipada. Portanto, Freire enfatiza que embora a educao no seja a

    alavanca da transformao social", a transformao em si, no obstante, um

    evento educacional:

    Sei que o ensino no a alavanca para a mudana ou a transformao da

    sociedade, mas sei que a transformao social feita de muitas tarefas pequenas

    e grandes, grandiosas e humildes! Estou incumbido de uma dessas tarefas. Sou

    um humilde

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    V Colquio Internacional Paulo Freire Recife, 19 a 22-setembro 2005

    agente da tarefa global de transformao. Muito bem, descubro isso, proclamo

    isso, verbalizo minha opo. (FREIRE, 2001, p.60).

    No contexto atual, o desafio da educao popular estimular e possibilitar, nas

    circunstncias mais diferentes, a capacidade de interveno e transformao do

    mundo na perspectiva da emancipao humana contemplando a diversidade

    cultural. Nesse sentido, Freire (2000), destaca a experincia tanto dos quilombos

    quanto dos camponeses das Ligas e os sem-terra de hoje, o protagonismo

    histrico desses sujeitos sociais:

    [...] anteontem, ontem e agora sonharam sonham o mesmo sonho, acreditaram e

    acreditam na imperiosa necessidade da luta na feitura da histria como faanha

    da liberdade... Se os sem-terra tivessem acreditado na morte da histria, da

    utopia, do sonho no desaparecimento das classes sociais, na ineficcia dos

    testemunhos de amor liberdade se tivessem acreditado que a crtica ao

    fatalismo neoliberal a expresso de um neobobismo que nada constri setivessem acreditado na despolitizao da poltica, embutida nos discursos que

    falam de que o que vale hoje pouca conversa, menos poltica e s resultados,

    se, acreditando nos discursos oficiais, tivessem desistido das ocupaes e voltado

    para suas casas, mas para a negao de si mesmos, mais uma vez a reforma

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    agrria seria arquivada. (FREIRE, 2000, p. 61).

    Dessa forma, Freire desenvolve uma discusso centrada na educao libertadora

    enquanto educao democrtica, desveladora, desafiadora, um ato crtico do

    conhecimento, da leitura da realidade, da compreenso de como funciona a

    sociedade, a escola, como tambm, os processos educativos que se do no

    interior dos movimentos sociais e das prticas em educao popular. Em uma de

    suas ltimas obras: Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica

    educativa (1998), Freire apresenta diversos saberes imprescindveis ao

    educativa. Destaco dois saberes abordados por Freire fundamentais na

    constituio de uma educao popular emancipatria: o saber da Histria comopossibilidade e no como determinao. O mundo no . O mundo est sendo

    (FREIRE, 1998, p. 85). Outro saber o de que, como experincia

    designadamente humana, a educao uma forma de interveno no mundo.

    (FREIRE, 1998, p.110).

    Assim, diante dessas reflexes sobre as concepes de educao popular,

    observa-se que os projetos em educao popular na atualidade precisam buscar

    uma sada terico-prtica que responda aos desafios e as possibilidades postas

    pelas novas configuraes humano-sociais:

    Precisam tornar-se projetos atrelados busca de realizaes de novas relaes

    sociais, pautadas em outros fundamentos. Podem estar voltadas construo de

    um novo estilo de vida...Elas parecem ter significado medida que sejamconduzidas a processos que mantenham o humano como centro dessas

    realizaes e o trabalho impulsionador de sua emancipao, assegurando a

    existncia da prpria vida humana resultante de sua interveno na natureza

    (MELO NETO, 2004, p.85).

    Conforme Souza (2001, p.127), o modelo de globalizao que est a, tem

    provocado diversas transculturaes, especialmente, ao longo dos ltimos 50

    anos. No entanto, no tem provocado uma unidade na diversidade de culturas,

    apenas, possibilitado uma diversidade cultural ou pluriculturalidade que tende,

    predominantemente, fragmentao cultural. Nesse sentido, diversos movimentos

    sociais tm denunciado permanentemente essa problemtica. Como exemplo tm-

    se os protestos dos vrios movimentos sociais, efetivados durante diferentesencontros de mbito internacional dos donos do mundo (Seatle, Danos,

    Gnova).

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    V Colquio Internacional Paulo Freire Recife, 19 a 22-setembro 2005

    Por outro lado, h tambm as aes propositivas do Frum Mundial Social, cujo

    mote central Um outro mundo possvel.

    Nessa perspectiva, o multiculturalismo pode ser uma alternativa de resistncia

    diante das transculturaes provocadas pelos processos atuais de globalizao

    hegemnica (Santos, 2003), marcada por uma nova sociabilidade humana, diante

    da diversidade cultural, vislumbrando o dilogo, o respeito, o compartilhar dessas

    diferenas. Portanto, nesse contexto, a educao popular encontra-se desafiada

    por outros papis e novas demandas:

    [...] no apenas conceituais, mas procedimentais e organizativas, sobretudo em

    termos de seus contedos e prticas pedaggicas. Se deseja que os processos

    educativos potencializem, a partir da diversidade cultural, o crescimento humano

    integral de todo o ser humano e de todos os seres humanos da Terra, no respeito,

    promoo, proteo e desenvolvimento do meio ambiente natural e cultural.

    (SOUZA, 2001, p. 122).

    Vejo a identidade entre Freire e Boaventura quando estes propem o respeito s

    diferenas e o dilogo entre as culturas como processo de emancipao humana.

    Desse modo, a educao, os movimentos sociais, constitui o lcus privilegiado

    do aprendizado permanente desse processo. Nessa perspectiva, o

    multiculturalismo constitui um dilogo horizontal entre as pessoas, as culturas, ospovos, os territrios, as naes, os estados. Conforme Santos (2001, p.560), o

    multiculturalismo emancipatrio e as aes alternativas de justia social se opem

    diferenciao desigual da identidade, dominao. Nesse sentido, observa-se o

    potencial emancipatrio dos direitos humanos, incluindo a formao de redes

  • 7/21/2019 Aline Reis Dialogando Com Freire e Boaventura Sobre Emancipao Humana Multiculturalismo e Educao Popular

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    baseadas nos direitos humanos e iniciativas locais, assim como a importncia dos

    direitos individuais e coletivos, o pluralismo e o respeito s diversidades tnicas,

    sociais e culturais.

    DECLARAES FINAIS

    O projeto neoliberal e globalizado que a est, tem difundindo um discurso

    fatalista, conservador e alienatrio sobre os caminhos e as perspectivas da

    humanidade. Nesse aspecto, sou cmplice de Freire (2000), quando declara que o

    discurso da impossibilidade de mudar o mundo o discurso de quem, por

    diferentes razes, aceitou a acomodao, inclusive por lucrar com ela. Freire

    sublinha a necessidade do aprendizado constante da leitura do mundo, exigindofundamentalmente a compreenso crtica da realidade, que envolve, de um lado,

    sua denncia, de outro, o anncio do que ainda existe, mas poder existir: uma

    sociedade emancipada.

    Portanto, aps a feitura desse texto, muitas reflexes permanecem em aberto.

    Emancipao em que nvel? Como conduzir um projeto de emancipao humana

    geral em um globo cada vez mais apartado por polticas neoliberais e

    excludentes? Como conduzir uma prtica emancipatria em um contexto cada vez

    mais opressor, individualista, cujas leis maiores esto sendo as do mercado, a da

    luta pela sobrevivncia imediata? A emancipao humana um sonho possvel

    ou no? Se menos possvel, trata-se, para ns, de saber como torn-lo mais

    possvel (FREIRE, 2000).Conforme penso, a educao para a emancipao no to fcil de ser instituda,

    pois a

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    V Colquio Internacional Paulo Freire Recife, 19 a 22-setembro 2005

    educao por si s no fundamentalmente um fator de emancipao. Nessa

    perspectiva, Freire, Adorno, Boaventura... nos convidam a pensar a sociedade e a

    educao em seu devir, vislumbrando fixar alternativas histricas tendo como base

    uma educao para a emancipao humana, enquanto um processo instituinte ao

    longo da histria da humanidade. Nesse contexto, compreendo o conceito de

    emancipao enquanto uma categoria dinmica, como um vir-a-ser e no um

    ser. (ADORNO, 2003).Portanto, dialogar sobre a emancipao humana no mbito das prticas em

    educao popular constitui uma utopia, um que fazer poltico, pedaggico, social,

    cultural, humano, tico, construdo ao mesmo tempo no cotidiano e na histria.

    Uma vez que, no mbito da sociedade capitalista ela ser sempre incompleta, um

    processo em construo, pois os obstculos estruturais emperram sua realizao

    efetiva. Desse modo, a consolidao da emancipao passa pelas transformaes

    profundas no mbito das relaes sociais de produo, assim como nas micro-

    relaes. No entanto, mesmo diante de todos esses limites, ela vem ocorrendo a

    partir de diferentes formas de luta e manifestaes de sujeitos sociais, nos vrios

    lugares, formatos, sentidos, pelos vrios povos, culturas, utopias em defesa de um

    mundo mais justo e fraterno:

    O sonho pela humanizao, cuja concretizao sempre processo, e sempre

    devir, passa pela ruptura das amarras reais, concretas, de ordem econmica,

    poltica, social, ideolgica etc., que nos esto condenando desumanizao. O

    sonho assim uma exigncia ou uma condio que se vem fazendo permanente

    na histria que fazemos e que nos faz e re-faz. (FREIRE, 1997, p. 99).

    Enfim, acredito que atravs das prticas em educao popular emancipatria, que

    vm sendo desenvolvidas pelos diversos setores da sociedade, no mbito das

    Organizaes Governamentais, das Organizaes No-Governamentais e dos

    Movimentos Populares, est sendo fundada uma outra sociedade munida de

    valores, tais como o respeito humano, a liberdade, a solidariedade, a cooperao.

    neste sentido que mulheres e homens interferem no mundo enquanto os outros

    animais apenas mexem nele. por isso que no apenas temos histria, masfazemos a histria que igualmente nos fazem e que nos torna, portanto histricos.

    (FREIRE, 2000, p. 40).

    Nessa esperana, o processo de emancipao no mbito da educao popular

    busca instaurar progressivamente uma transformao humano-social, atravs de

  • 7/21/2019 Aline Reis Dialogando Com Freire e Boaventura Sobre Emancipao Humana Multiculturalismo e Educao Popular

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    uma prtica que possibilite aos sujeitos sociais a vivncia da autonomia,

    participao na tomada de decises, produo e usufruto de um conjunto de bens

    tanto materiais quanto simblicos, fruto do seu trabalho e do trabalho coletivo.

    Desse modo, no posso falar em emancipao apenas na perspectiva social, ou

    econmica, ou poltica, ou cultural, mas geral que possibilite ao ser humano

    expressar-se ao mximo na sua capacidade, criatividade, potencialidade,

    realizao da sua humanidade.

    Destarte, refletir sobre emancipao humana na educao popular discorrer

    sobre projetos, utopias, sonhos de pessoas, sua compreenso cognitiva e afetiva

    de como vislumbrar, vivenciar prticas para alcanar liberdade e felicidade emsociedades mais solidrias, amorosas e democrticas. Da a necessidade de

    trazer tona o debate sobre o multiculturalismo, o respeito e o dilogo com as

    diferenas e as potencialidades humanas, considerando que esta sociedade que

    sonho emancipada dever contemplar a beleza, os saberes e os fazeres de todos

    que compem a histria da humanidade.

    Colquio Internacional Paulo Freire Recife, 19 a 22-setembro 2005

    REFERNCIAS

    ADORNO, T. HORKHEIMER, M. A Dialtica do esclarecimento: fragmentosfilosficos. Traduo de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,

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    brasileira. IN: LASTRIA, Luiz A. Calmon Nabuco, COSTA, Belarmino Csar

    Guimares da, PUCCI, Bruno Pucci (Orgs.). Teoria Crtica, tica e Educao.

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    SANTOS, Boaventura de Souza, NUNES, Joo Arriscado. Introduo: para

    ampliar o cnone do reconhecimento, da diferena e da igualdade. In. Sousa

    Santos, Boaventura. Reconhecer

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