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Animador Sociocultural: Revista Iberoamericana vol.1, n.2, mai.2007/set.2007 Lazer e sociedade Marcellino 1 ALGUMAS APROXIMAÇÕES ENTRE LAZER E SOCIEDADE Prof. Dr. Nelson Carvalho Marcellino Universidade Metodista de Piracicaba-SP/CNPQ Brasil Recebido em 3 de fevereiro de 2007 Aprovado em 27 de fevereiro de 2007 Resumo O estudo parte do entendimento do lazer para estabelecer relações com a sociedade, destacando os fatores socioeconômicos, de faixa etária, de gênero e de espaço/equipamentos. Aborda ainda as posturas ideológicas no que diz respeito à vinculação lazer e sociedade. Palavras-chave: Lazer, sociedade Some approaches between Leisure and Society The study comes from the understanding of leisure to establish relations with the society, analyzing the socio-economic factors of age, gender and space/equipments. It also approaches the ideologist position in what is said about the relationship between leisure and society. Key words: Leisure, society Quando se trabalha, dentro de uma mesma área, por mais de três décadas, é praticamente impossível estabelecer novas relações dentro dela, sem recorrer a trabalhos anteriores, sob pena de não o explicitando, faltar à verdade com aqueles com nos lêem, ou ouvem. Dessa forma, correndo sempre riscos, e o que aqui se apresenta é o de ser repetitivo, vou retomar, nesta fala, as conclusões de minha dissertação de mestrado (MARCELLINO, 2004) e da tese de doutorado (MARCELLINO, 2005) e a partir delas, estabelecer algumas relações, entre lazer e sociedade.

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ALGUMAS APROXIMAÇÕES ENTRE LAZER E SOCIEDADE.

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    ALGUMAS APROXIMAES ENTRE LAZER E SOCIEDADE Prof. Dr. Nelson Carvalho Marcellino

    Universidade Metodista de Piracicaba-SP/CNPQ

    Brasil

    Recebido em 3 de fevereiro de 2007

    Aprovado em 27 de fevereiro de 2007

    Resumo O estudo parte do entendimento do lazer para estabelecer relaes com a sociedade, destacando os fatores socioeconmicos, de faixa etria, de gnero e de espao/equipamentos. Aborda ainda as posturas ideolgicas no que diz respeito vinculao lazer e sociedade. Palavras-chave: Lazer, sociedade

    Some approaches between Leisure and Society

    The study comes from the understanding of leisure to establish relations with the society, analyzing the socio-economic factors of age, gender and space/equipments. It also approaches the ideologist position in what is said about the relationship between leisure and society. Key words: Leisure, society

    Quando se trabalha, dentro de uma mesma rea, por mais de trs dcadas,

    praticamente impossvel estabelecer novas relaes dentro dela, sem recorrer a trabalhos

    anteriores, sob pena de no o explicitando, faltar verdade com aqueles com nos lem,

    ou ouvem. Dessa forma, correndo sempre riscos, e o que aqui se apresenta o de ser

    repetitivo, vou retomar, nesta fala, as concluses de minha dissertao de mestrado

    (MARCELLINO, 2004) e da tese de doutorado (MARCELLINO, 2005) e a partir

    delas, estabelecer algumas relaes, entre lazer e sociedade.

  • Animador Sociocultural: Revista Iberoamericana vol.1, n.2, mai.2007/set.2007 Lazer e sociedade Marcellino

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    Ainda julgo ser necessrio, nos meus escritos e falas, explicitar o conceito de

    lazer, com o qual trabalho, para evitar mal entendidos na sua discusso. Cada vez que

    o fao, acrescento novas explicaes, em decorrncia de questionamentos que

    recebo, por ocasio de suas colocaes.

    Muitas vezes o que constato que se busca uma definio. No entanto,

    trabalho com um conceito operacional do lazer historicamente situado.

    Deve-se salientar que se originalmente lazer e recreao apresentavam-se de

    forma distinta, o primeiro visto como o tempo onde a segunda ocorria, hoje a

    recreao um componente do lazer criar de novo, dar vida nova, com novo vigor,

    como pode ser, tambm, de outras esferas de manifestao humana

    (DUMAZEDIER, s/d/).

    Dessa perspectiva, a considerao da recreao/lazer, cada vez mais em nossa

    sociedade, deve levar em conta os seguintes pontos:

    l. cultura vivenciada (praticada, fruda ou conhecida), no tempo disponvel das

    obrigaes profissionais, escolares, familiares, sociais, combinando os aspectos tempo e

    atitude.

    Digo, do concreto da sociedade contempornea- como , e no do devir- como

    deveria ser, inclusive numa sociedade que eu prprio considere mais justa;

    Quando me refiro cultura, no estou reduzindo lazer a um nico contedo,

    vendo-o a partir de uma viso parcial, como geralmente ocorre quando se utiliza a

    palavra cultura, quase sempre restringindo-a aos contedos artsticos, mas aqui

    abordando os diversos contedos culturais.

    E, finalmente, quando digo vivenciada, no estou restringindo o lazer prtica

    de uma atividade, mas tambm ao conhecimento e assistncia, que essas atividades

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    podem ensejar, e at mesmo possibilidade do cio, desde que visto como opo, e

    nem confundido com ociosidade, sem contraponto com a esfera das obrigaes, no

    nosso caso, fundamentalmente, a obrigao profissional.

    2. o lazer gerado historicamente e dele podendo emergir, de modo dialtico, valores

    questionadores da sociedade como um todo, e sobre ele tambm sendo exercidas

    influncias da estrutura social vigente;

    A relao que se estabelece entre lazer e sociedade dialtica, ou seja, a mesma

    sociedade que o gerou, e exerce influncias sobre o seu desenvolvimento, tambm pode

    ser por ele questionada, na vivncia de seus valores.

    3. um tempo que pode ser privilegiado para vivncia de valores que contribuam para

    mudanas de ordem moral e cultural, necessrias para solapar a estrutura social vigente;

    A vivncia desses valores pode se dar numa perspectiva de reproduo da

    estrutura vigente, ou da sua denncia e anncio atravs da vivncia de valores

    diferentes dos dominantes- imaginar e querer vivenciar uma sociedade diferenciada.

    4. portador de um duplo aspecto educativo - veculo e objeto de educao,

    considerando-se, assim, no apenas suas possibilidades de descanso e divertimento, mas

    tambm de desenvolvimento pessoal e social.

    E aqui no se est negando o descanso e o divertimento, mas simplesmente

    enfatizando a dimenso menos considerada do lazer, a de desenvolvimento que o seu

    vivenciar pode ensejar.

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    Volto a repetir, como em outros escritos que o lazer entendido, portanto, como

    a cultura, compreendida em seu sentido mais amplo, vivenciada no tempo disponvel.

    fundamental como trao definidor, o carter desinteressado dessa vivncia. Ou seja,

    no se busca, pelo menos basicamente, outra recompensa alm da satisfao provocada

    pela prpria situao. A disponibilidade de tempo significa possibilidade de opo pela

    atividade ou pelo cio (MARCELLINO, 2004).

    importante ressaltar, tambm, que o entendimento do lazer no pode ser

    efetuado em si mesmo, mas como uma das esferas de ao humana historicamente

    situada. Outras opes implicariam na colocao apenas parcial e abstrata das questes

    relativas ao lazer. impossvel, por exemplo, abordar as questes do lazer isoladas das

    questes do trabalho, da educao, etc.

    A polmica verificada quanto ao conceito, permanece quando se examina a

    questo da ocorrncia do lazer na vida social, do ponto de vista histrico. Alguns

    autores consideram que, se os homens sempre trabalharam, tambm paravam de

    trabalhar, existindo assim um tempo de no-trabalho, e que esse tempo seria ocupado

    por atividades de lazer, mesmo nas sociedades tradicionais. Para outros o lazer fruto

    da sociedade moderna urbano-industrial.

    No h, a rigor, um carter de rejeio entre as duas correntes, mas sim enfoques

    diferentes. A primeira aborda a necessidade de lazer, sempre presente, e a segunda se

    detm nas caractersticas que essa necessidade assume na sociedade moderna. Assim, o

    lazer sempre existiu, variando apenas os conceitos sobre o que era e quais os seus

    significados.

    Em outros tipos de organizao social, o que se verifica o no isolamento das

    atividades obrigatrias, das ldicas, o que de modo algum significa a no existncia do

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    ldico. E mais ainda, o que no nos permite prever se essa diviso, verificada

    atualmente na sociedade moderna, urbano-industrial, permanecer efetivamente ou no.

    Entender o lazer como um campo especfico de atividade, em estreita relao

    com as demais reas de atuao do homem, no significa deixar de considerar os

    processos de alienao que ocorrem em quaisquer dessas reas. Entender o lazer como

    espao privilegiado para manifestao do ldico na nossa sociedade, no significa

    absolutiz-lo, ou menos ainda, consider-lo como nico. Ao meu ver esse entendimento

    parece ser uma postura que contribui para abrir possibilidades de alterao do quadro

    atual da vida social, tendo em vista a realizao humana, a partir de mudanas no plano

    cultural.

    O fator econmico determinante desde a distribuio do tempo disponvel entre

    as classes sociais, at as oportunidades de acesso escola, e contribui para uma

    apropriao desigual do lazer. So as chamadas barreiras inter-classes sociais .Sempre

    tendo como pano de fundo esse fator econmico, podemos distinguir uma srie de aspectos

    que inibem e dificultam a prtica do lazer, fazendo com que se constitua em privilgio. So

    chamadas de barreiras intra-classes sociais.

    Uma delas o gnero e nesse aspecto, as mulheres so desfavorecidas

    comparativamente aos homens, ou pela rotina do trabalho domstico, ou pela dupla

    jornada de trabalho e, principalmente pelas obrigaes familiares decorrentes do

    casamento, numa sociedade que, apesar dos avanos nesse sentido, continua machista.

    Outro delas a faixa etria. Aqui as crianas e os idosos so os esquecidos. A

    criana, por no ter ainda entrado no mercado produtivo, no considerada como a faixa

    etria que deve ser vivenciada, mas apenas como uma etapa de preparao para o futuro. O

    idoso, por j ter sado do mesmo mercado, tambm tem dificuldades de participao nas

    atividades de lazer.

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    Alm disso, no plano cultural, uma srie de preconceitos restringe a prtica do

    lazer aos mais habilitados, aos mais jovens e aos que se enquadram dentro dos padres

    estabelecidos de normalidade.

    Dessa forma, a classe social, o nvel de instruo, a faixa etria, o gnero, entre

    outros fatores, limitam as oportunidades de prtica do lazer. So indicadores indesejveis e

    necessitam ser atacados por uma poltica que objetive a democratizao do lazer

    (MARCELLINO, 2006).

    Democratizar o lazer implica democratizar o espao. Muito embora as pesquisas

    realizadas na rea das atividades desenvolvidas no tempo disponvel enfatizem a atrao

    exercida pelo tipo de equipamento construdo, deve-se considerar que, para a efetivao

    das caractersticas do lazer necessrio, antes de tudo, que ao tempo disponvel

    corresponda um espao disponvel. E se a questo for colocada em termos da vida diria

    da maioria da populao, no h como fugir do fato: o espao para o lazer o espao

    urbano.

    Se procedermos relao lazer/espao urbano, verificaremos uma srie de

    descompassos, derivados da natureza do crescimento das nossas cidades, relativamente

    recente, e caracterizado pela acelerao e imediatismo. O aumento da populao urbana

    no foi acompanhado pelo desenvolvimento de infra-estrutura adequada, gerando

    desnveis na ocupao do solo e diferenciando marcadamente, de um lado as reas

    centrais, ou os chamados plos nobres, concentradores de benefcios, e de outro a

    periferia, com seus bolses de pobreza, verdadeiros depsitos de habitaes. Mesmo

    quando nesses espaos esto localizados equipamentos tais como shoppings center, a

    populao local, geralmente no tem acesso privilegiado a eles.

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    Constata-se, principalmente, a centralizao de equipamentos especficos

    (teatros, cinemas, bibliotecas, etc.),1 ou a sua localizao em espaos para pblicos

    segmentados, o ar de santurio de que ainda se revestem um bom nmero deles e as

    dificuldades para utilizao de equipamentos no-especficos o prprio lar, bares,

    escolas, etc.

    Essa situao agravada, sobretudo se considerarmos que, cada vez mais, as

    camadas mais pobres da populao vm sendo expulsas para a periferia e, portanto,

    afastadas dos servios e dos equipamentos especficos; justamente as pessoas que no

    podem contar com as mnimas condies para a prtica do lazer em suas residncias e

    para quem o transporte adicional, alm de economicamente invivel, muito

    desgastante. Nesse processo, cada vez menos encontramos locais para os folguedos

    infantis, para o futebol de vrzea, ou que sirvam como pontos de encontro de

    comunidades locais.

    Assim, aos espaos destinados ao lazer pouco restou. O lazer tambm passou a

    ser visto pelos grandes investidores como uma mercadoria. H muito a cidade deixou

    de ser basicamente um espao pblico, neutro, sem querer chamar a ateno. A prpria

    cidade um produto a ser vendido para o desenvolvimento de atividades

    lucrativas(SASSEN, 2000, p.120). preciso que o poder municipal entenda a

    importncia dos espaos urbanos de lazer nas cidades, antes que empresas os

    transformem em produtos acessveis somente a classes sociais mais altas.

    Se o lazer colocado pela sociedade capitalista enquanto um momento de

    consumo, o espao para o lazer tambm visto como um espao para o consumo. A 1REQUIXA (l980) enfatiza a necessidade de integrao, dentro de uma poltica de lazer, de equipamentos privados e pblicos, de um lado, e de outro, de equipamentos especficos e no-especficos. Como equipamento no-especfico entende os que, em sua origem, no foram construdos para a prtica das atividades de lazer, mas que depois tiveram sua destinao especfica alterada, de forma parcial ou total, criando-se espaos para aquelas atividades. O autor coloca que hoje os espaos das cidades precisam ser aproveitados de modo a se tornarem polivalentes Entre esses equipamentos no especficos esto: o lar, a rua, o bar, a escola, etc. J os equipamentos especficos so construdos com essa finalidade, podendo ser classificados pelo tamanho, atendimento aos contedos culturais, ou outros critrios.

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    constituio dos ncleos primordialmente assentada em interesses econmicos. Foram

    e so concebidos como locais de produo, ou de consumo.(MARCELLINO, 2006,

    p.25). Dessa forma, tambm os equipamentos de lazer, os espaos de convvio, seguem

    uma tendncia privatizao, incluindo a as reas verdes que, como o prprio lazer,

    passam a ser mercadorias.

    Somos partidrios da opinio de que a bela cidade constitui o equipamento mais

    apropriado para que o lazer cotidiano da maioria da populao possa se desenvolver.

    a, onde se localizam os grandes contingentes da populao, que a produo cultural

    pode ser devidamente estimulada e veiculada, atingindo um pblico significativo.

    O crescimento desordenado, a especulao imobiliria, enfim, uma srie de

    fatores vem contribuindo para que o quadro das nossas cidades no seja dos mais

    promissores, quer na defesa de espaos, quer em termos da paisagem urbana, quando se

    fala da contemplao esttica. Em nome da economia e da funcionalidade, muito se tem

    feito enfeiando a paisagem urbana.

    Mas, no somente a urbanizao regida pelos interesses imediatistas do lucro.

    A viso utilitarista do espao determinante tambm nos processos de renovao

    urbana, ou seja, nas modificaes do espao j urbanizado, ditadas pelas transformaes

    verificadas nas relaes sociais. Alm da alterao da paisagem, fato mais facilmente

    observado e que, pela ausncia de critrios, geralmente contribui para a

    descaracterizao do patrimnio ambiental urbano e a conseqente perda das ligaes

    afetivas entre o morador e o habitat, h diminuio dos equipamentos coletivos e o

    aumento do percurso casa/trabalho, enfim, o favorecimento de pequenos grupos sociais

    em detrimento dos antigos moradores.

    relativamente recente a preocupao com os efeitos nocivos causados pelo

    processo de urbanizao crescente, para a estrutura de nossas cidades. A ao

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    predatria, motivada pelos interesses imediatistas, ocasiona problemas muito srios, que

    afetam a qualidade de vida e o lazer das populaes, contribuindo com a violncia e a

    falta de segurana, inclusive.

    Todas as pesquisas do conta de que a grande maioria da populao desenvolve

    suas atividades de lazer, prioritariamente, no ambiente domstico. O lar o principal

    equipamento no especfico de lazer, ou seja, um espao no construdo de modo

    particular para essa funo, mas que eventualmente pode cumpri-la. Nessa mesma

    categoria figuram os bares, as ruas, as escolas etc

    Quanto ao lar, ainda que possa oferecer condies satisfatrias para uma minoria

    de privilegiados, constitui um dos poucos equipamentos, disponveis para grandes parcelas

    da populao, empurradas para dentro de suas casas, no tempo disponvel para o lazer.

    Exatamente essas pessoas so as que menos tm condies para o desenvolvimento de

    lazer nas suas habitaes. O espao exguo, quer se considere as reas construdas, ou os

    quintais e reas abertas coletivas, quando existem. Na maioria de nossas cidades h

    favelados em barracos e tambm nas favelas de alvenaria, formadas pelas autoconstrues

    de fins de semana, ou pelos cubculos dos programas de habitao popular.

    No que diz respeito aos bares, muito preconceito ainda existe, ligado ao consumo

    de bebidas alcolicas. Via de regra, o bar vem perdendo a sua caracterstica de ponto de

    encontro, muito embora algumas iniciativas ocorram, no sentido de sua transformao em

    espao alternativo para outras atividades, como exposies, lanamentos de livros, msicas

    ao vivo, etc.. A maioria dessas iniciativas fica restrita aos chamados barzinhos e cafs

    freqentados por jovens, quase que na totalidade estudantes. Os tradicionais botequins,

    onde se jogava conversa fora, so substitudos, nas reas nobres pelas lanchonetes,

    onde o consumo rpido desistimula a convivncia.

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    As escolas contam com grandes possibilidades para o lazer, em termos de espao,

    nos vrios campos de interesse: quadras, ptios, auditrios, salas, etc.. Deve-se considerar,

    ainda, seus perodos de ociosidade, em frias e fins de semana, e a existncia de vnculos

    com a comunidade prxima. No entanto, a to propalada abertura comunitria desses

    equipamentos no vem se verificando, talvez pelo temor dos riscos de depredao. J tive

    oportunidade de desenvolver atividades de lazer em escolas, em trabalhos comunitrios e,

    ao contrrio do que se possa imaginar primeira vista, uma ao bem realizada nesse

    sentido, s contribui para aumentar o respeito das pessoas pelo equipamento, uma vez que,

    medida que o utilizam, vo desenvolvendo sentimentos positivos, passando a colaborar

    na sua conservao. No entanto, o que se verifica, na maioria das vezes, a abertura

    desses equipamentos apenas para festas, cujo objetivo principal a arrecadao de

    fundos para a sua manuteno.

    Com relao s ruas, e mesmo que se considere as praas, quase sempre so

    concebidas como locais de acesso, de passagem. Transit-las uma aventura. Algumas

    iniciativas so tomadas por grupos de moradores fechando espaos para festas juninas

    ou ruas de lazer. Mas so atitudes raras e efmeras.

    A precariedade na utilizao dos equipamentos no especficos coloca-nos trs

    questes igualmente importantes: 1- a necessidade de desenvolvimento de uma poltica

    habitacional, que considere, entre outros aspectos, tambm o espao para o lazer - o que

    no fcil num Pas como o nosso, com alto dficit habitacional, e que deve estimular

    alternativas criativas em termos de reas coletivas; 2- a considerao da necessidade da

    utilizao dos equipamentos para o lazer, atravs de uma poltica de animao; 3- a

    preservao de espaos urbanizados vazios.

    Se o espao para o lazer privilgio de poucos, todo o esforo para a sua

    democratizao no pode depender unicamente da construo de equipamentos

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    especficos. Eles so importantes e sua proliferao uma necessidade que deve ser

    atendida. Mas a ao democratizadora precisa abranger a conservao dos

    equipamentos j existentes, sua divulgao, dessacralizao, e incentivo utilizao,

    atravs de polticas especficas, e a preservao do patrimnio ambiental urbano

    (MARCELLINO, 2006)

    Mesmo quando superados todos os entraves para a participao da populao em

    atividades realizadas nos equipamentos especficos e, particularmente, naqueles

    dirigidos s reas de interesses intelectuais e artsticos, caso de bibliotecas, museus,

    galerias de arte, teatros, etc., freqentemente essa participao dificultada e inibida

    pelo ar de santurio de que se revestem as construes e sua sistemtica de utilizao,

    principalmente, quando so mantidos pelo poder pblico.

    Talvez por nossa falta de tradio, fruto de uma histria ainda recente, e marcada

    por longo perodo de colonialismo, e ultimamente do consumismo das obras da

    indstria cultural que, em ltima anlise tambm representa uma forma de colonialismo,

    a necessidade de preservao de bens culturais, at bem pouco tempo atrs, atingia um

    pequeno nmero de especialistas e cultores, os quais, no raro, adotavam atitudes que,

    aos olhos da maioria, assumiam caractersticas de esnobismo.

    Outro fator deu uma parcela bastante significativa, nesse sentido: a crena na

    impossibilidade de conciliar tradio e progresso, e a prpria idia do que seriam essa

    tradio e esse progresso.

    At bem pouco tempo era difundida uma falsa noo de memria cultural, de

    sentido muito restrito e embebida na ideologia dominante. Essa noo estava ligada ao

    conceito clssico de patrimnio histrico e artstico, tal como definido no decreto de

    criao do Servio de Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. Assim, o decreto-Lei

    n.25, no seu artigo 1, definia como patrimnio artstico nacional [...] o conjunto de

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    bens mveis e imveis existentes no Pas e cuja conservao seja de interesse pblico,

    quer por sua vinculao a fatos memorveis da histria do Brasil, quer por seu

    excepcional valor arqueolgico ou etnogrfico ou artstico.

    Historicamente, entre estudiosos e instituies voltadas para a preservao, nota-

    se uma ampliao gradativa da abrangncia do conceito, com a idia de

    excepcionalidade dando lugar a noo de representatividade dos elementos a serem

    preservados. Dessa forma, evoluiu-se para o conceito de Patrimnio Ambiental Urbano,

    constitudo por espaos, que inclusive transcendem a obra isolada e que caracterizam as

    cidades, pelo seu valor histrico, social, cultural, formal, tcnico ou afetivo.

    Congressos e seminrios mais recentes vm ampliando ainda mais a abrangncia

    do conceito, incluindo usos e costumes. Para ns, importa destacar que, enquanto a

    primeira noo era baseada em atributos como a singularidade e a monumentalidade, o

    conceito mais recente reconhece, inclusive, os elementos afetivos como critrios para a

    preservao.Dessa perspectiva, a participao comunitria fundamental para o

    conhecimento do valor do ambiente e da cultura, e para o incentivo a um

    comportamento destinado preservao, valorizao e revitalizao urbanas.

    O lazer pode contribuir, de forma prazerosa, no processo de valorizao e

    preservao do patrimnio, desde que entendido da perspectiva colocada anteriormente,

    e no como mero item da indstria cultural. Cumpre importante papel, tambm, na

    revitalizao dos espaos e equipamentos. Assim, muito importante a considerao

    dos patrimnios artsticos, arquitetnicos e urbansticos, que fazem parte da memria

    das cidades, como elementos de enriquecimento da paisagem urbana. Esse Patrimnio

    Ambiental Urbano, desde que preservado e revitalizado, pode e deve se constituir em

    novos equipamentos especficos de lazer. Alm disso, contribui de maneira

    significativa para uma vivncia mais rica da cidade, quebrando a monotonia dos

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    conjuntos, estabelecendo pontos de referncia e mesmo vnculos afetivos. Outro

    aspecto, no menos importante, que preservando-se a identidade dos locais, pode-se

    manter, e at menos aumentar o potencial turstico de nossas cidades.

    Toda essa questo do acesso aos equipamentos e espaos de lazer deve ser vista

    no somente no mbito municipal, com a formao das chamadas Regies

    Metropolitanas, em muitas reas do pas.

    O termo megalpole usado principalmente para designar um fenmeno preponderante contemporneo. Baseia-se na superposio e interpenetrao de reas metropolitanas anteriormente distintas, formando um setor urbanizado contnuo. Onde havia cidades menores, forma-se uma rea urbanizada maior, na qual os centros metropolitanos so as unidades bsicas (SANTINI, 1993, p, 41).

    Diante do novo quadro urbano que se desenha no pas, com a concentrao das

    populaes em regies metropolitanas, e tendo em vista que o lazer se configurou,

    historicamente, como uma problemtica essencialmente urbana, imperioso que se

    trabalhe em polticas pblicas na perspectiva dessas regies-consrcios. impossvel

    ficar restrito aos mbitos municipais, inclusive com a srie de impactos que polticas de

    lazer podem trazer para regies inteiras.

    A Pesquisa de Informaes Bsicas Municipais(IBGE, 2001) aponta que em

    quase metade da Regio Metropolitana de Campinas (RMC) no h espaos culturais e

    de lazer construdos, embora o perfil apresentado para a regio esteja acima da mdia

    brasileira em oferta de servios de lazer e cultura. Ainda assim, as cidades perifricas da

    regio conseguem ter algum servio de qualidade em lazer, quando eles so da natureza,

    como lagos e cachoeiras. Mas, mesmo aqueles mais democrticos, como parques,

    tambm so muito pobres nas periferias. Dos municpios que integram a RMC apenas

    um no tem clube ou associao recreativa e somente dois no tm estdio ou ginsio

    poliesportivo, mas a pesquisa constata a alta concentrao dos servios na cidade sede.

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    Segundo Rinaldo Brcia Fonseca, coordenador do Ncleo de Economia Social,

    Urbana e Regional (Nesur), do Instituto de Economia, da Universidade Estadual de

    Campinas (UNICAMP), esses dados refletem o perfil tradicional das regies

    metropolitanas, que so caracterizadas por centro e periferia, onde a oferta de servios

    de qualidade est no centro(COSTA, 2002)

    Partimos do pressuposto de que, o que ocorria antes com a concentrao dos

    equipamentos de lazer, no centro das cidades, e que, com o decorrer do processo de

    urbanizao e especulao imobiliria, deslocou-se para outras reas urbanizadas, hoje

    se d com relao ao centro de regies metropolitanas, em relao s cidades

    perifricas, dificultando o acesso da populao.

    Mesmo para os municpios sede das regies metropolitanas, onde h mais

    facilidade de acesso aos equipamentos, preciso verificar o grau de sacralizao de

    que muitas vezes eles so revestidos, como fatores inibidores, do seu efetivo uso

    democrtico por parte da populao.

    Por outro lado, ao examinar as relaes Lazer e sociedade preciso verificar

    quais as ideologias que sustentam as diferentes abordagens da questo. Comecei a

    estudar o assunto, por ocasio do meu trabalho de Mestrado (MARCELLINO, 2005).

    Naquela ocasio, distingui vrias nuanas de uma viso que poderia ser caracterizada

    como funcionalista do lazer, e destacava que ... em todas essas abordagens-

    romntica, moralista, compensatria, ou utilitarista- pode-se depreender uma viso

    funcionalista do lazer, altamente conservadora, que busca a paz social, a

    manuteno da ordem, instrumentalizando o lazer como fator que ajuda (...) a suportar

    a disciplina e as imposies obrigatrias da vida social, pela ocupao do tempo livre

    em atividades equilibradas socialmente aceitas e moralmente corretas"(Ibid., p.38).

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    No preciso muita perspiccia para perceber que esta, a concepo de lazer,

    muitas vezes oculta, que hegemnica na orientao e formulao de polticas na rea,

    ou a no formulao explcita, que ao final, acaba dando o mesmo resultado. E tomem

    poltica de eventos: dia disso, dia daquilo, do desafio, de aes globais, de lazer, de

    recreao, etc. Muito embora as experincias de administraes populares e

    democrticas tenham feito a diferena, com uma concepo crtico-criativa de lazer,

    orientando um modelo participativo de gesto.

    Na mesma ocasio, em Lazer e educao, chamava a ateno para a

    contraposio daquela viso de lazer que o concebe como instrumento de dominao,

    diferentemente da que o entende como gerado historicamente e do qual emergem

    valores questionadores da sociedade como um todo, e sobre o qual so exercidas

    influncias da estrutura social vigente. Assim, a admisso da importncia do lazer, na

    vida moderna, significa consider-lo como um tempo privilegiado para a vivncia de

    valores que contribuam para mudanas de ordem moral e cultural. Mudanas

    necessrias para a implantao de uma nova ordem social(MARCELLINO, 2004,

    p.41)

    Mas, preciso que se fale de uma viso crtica mope, tambm, que contribui

    para a manuteno do status quo que tenta criticar, uma vez que leva ao imobilismo.

    Trata-se de uma viso crtica fechada e cnica, como alguns estudiosos pregam: Lazer

    e capitalismo so incompatveis, A felicidade no est nem no trabalho, nem no lazer,

    no nosso modo de produo, etc. E da? Vivemos o aqui e agora. O que fazer? Esperar

    a situao ideal para agir? E enquanto isso no ocorre?

    A psicanalista Maria Rita Kekl(2000), analisando o filme Cronicamente

    invivel, de Srgio Bianchi, faz uma interessante reflexo sobre o pacto do cinismo da

    sociedade brasileira contempornea. O raciocnio caminha pela gerao da

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    cumplicidade, devido ao excesso de compreenso. Maria Rita conclui que h uma

    passagem quase imediata, da realidade ao cinismo. Em seguida, e completando seu

    belo raciocnio, contrape o filme de Bianchi, montagem de Marco Antonio Braz, de

    Bonitinha mas, Ordinria, e especificamente .... demonstrao genial de Nelson

    Rodrigues de que o efeito de um discurso crtico fechado sobre si mesmo pode ser a

    socializao do que ele pretende demolir.... desautoriza qualquer aposta em outra

    dimenso que no seja a canalhice(Ibid., p.31 ).

    Que a anlise da realidade e a tomada de conhecimento de sua msera crueza no

    nos sirvam de libis para cinismo e canalhice.

    No que a crtica no deva existir, muito pelo contrrio. por ela que as

    construes do novo comeam. Ou deveriam comear. E no d para querer que se

    tenham as solues prontas, acabadas, principalmente em questes macro. Trabalhamos

    com a cultura, com a super-estrutura, e seria um absurdo irmos para luta com

    modelos no plano cultural, estabelecidos a priori. Isso deve ser uma construo

    coletiva.

    O sonho precisa virar Utopia. Mas, parece-me que criticidade no deva ser

    desespero. E muitas vezes as crticas esto levando ao imobilismo, ao invs de

    mobilizarem.

    H ainda no campo do lazer uma outra viso, ecolgica ingnua, que cr que o

    simples vivenciar dos valores, principalmente os ecolgicos, ser suficiente para a

    mudana de situao, no havendo assim necessidade de interveno do Estado, atravs

    do estabelecimento de polticas publicas.

    O lazer abre mltiplas possibilidades. preciso aes que se contraponham s

    da indstria cultural, na maioria das vezes, exploradora do lazer mercadoria, do

    entretenimento na sua pior conotao. Uma poltica setorial de lazer, deve levar em conta

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    as limitaes estruturais, mas tambm deve crer na especificidade da ao no plano

    cultural, como um dos instrumentos de mudana.

    Somos partidrios de uma corrente, que pode ser denominada de crtico-criativa,

    que entende o lazer da perspectiva acima colocada.

    Lazer sim, mas no qualquer lazer. No o mero entretenimento, no o lazer-

    mercadoria. Cada vez mais precisamos do lazer que leve convivencialidade, mesmo,

    por paradoxal que isso possa parecer, sendo frudo individualmente. Convites

    convivncia, significam, do meu ponto de vista, minimizar os riscos da exacerbao dos

    prprios componentes do jogo, to bem colocados por CALLOIS(1990), e aqui por mim

    retomados, em interpretao livre: a competio, que no leve violncia, a vertigem,

    que no leve ao risco no calculado de vida, a imitao, que no promova o fazer de

    conta imobilizante da pior fantasia, sorte/azar, que no provoque alheamento. E no se

    trata de censura, ou coisa que o valha, sobre o que fazer, mas posies, ou proposies,

    do como fazer.

    Praticamente todos os autores, ligados ao estudo do lazer, reconhecem seu duplo

    aspecto educativo. Trata-se de um posicionamento baseado em duas constataes: a

    primeira, que o lazer um veculo privilegiado de educao; a segunda, que para a prtica

    das atividades de lazer necessrio o aprendizado, o estmulo, a iniciao, que

    possibilitem a passagem de nveis menos elaborados, para nveis mais elaborados,

    complexos, com o enriquecimento do esprito crtico, na prtica ou na observao.

    Verifica-se, assim, um duplo processo educativo - o lazer como veculo e como objeto de

    educao.

    Tratando-se do lazer como veculo de educao, necessrio considerar suas

    potencialidades para o desenvolvimento pessoal e social dos indivduos. Tanto cumprindo

    objetivos consumatrios, como o relaxamento e o prazer propiciados pela prtica ou pela

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    contemplao, quanto objetivos instrumentais, no sentido de contribuir para a compreenso

    da realidade, as atividades de lazer favorecem, a par do desenvolvimento pessoal, tambm

    o desenvolvimento social, pelo reconhecimento das responsabilidades sociais, a partir do

    aguamento da sensibilidade ao nvel pessoal, pelo incentivo ao auto-aperfeioamento,

    pelas oportunidades de contatos primrios e de desenvolvimento de sentimentos de

    solidariedade.

    Por outro lado, para o desenvolvimento de atividades no tempo disponvel, de

    atividades de lazer, quer no plano da produo, quer no plano do consumo no conformista

    e crtico, necessrio aprendizado. Entretanto, quando a anlise dirigida ao lazer como

    objeto de educao - o que implica na considerao da necessidade de difundir seu

    significado, esclarecer a importncia, incentivar a participao e transmitir informaes

    que tornem possvel seu desenvolvimento, ou contribuam para aperfeio-lo, entra-se

    numa rea polmica e marcada por muitas interrogaes.

    A principal delas talvez seja: como educar para o lazer conciliando a transmisso

    do que desejvel em termos de valores, funes, contedos, etc., com suas caractersticas

    de livre escolha e expresso? Creio que a escolha ser to mais autntica quanto maior for

    o grau de conhecimento que permita o exerccio da opo entre alternativas variadas.

    Alm disso, as barreiras impostas pelos preconceitos e pelas vrias correntes

    ideolgicas, verificadas no plano cultural, podero ser relativizadas com mais facilidade,

    medida que o lazer v sendo convenientemente entendido em termos dos seus valores e

    funes. E tal fato contribuiria para que a expresso atravs das atividades de lazer

    adquirisse uma extenso muito maior. A prpria passagem de nveis elementares para

    superiores teria condies de se concretizar mais rapidamente, atravs da ao educativa

    para o lazer somada sua vivncia, do que se dependesse unicamente da participao nas

    atividades, ou seja, se se restringisse educao pelo lazer.

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    A educao para o lazer pode ser entendida tambm como um instrumento de

    defesa contra a homogeneizao e internacionalizao dos contedos veiculados pelos

    meios de comunicao de massa, atenuando seus efeitos, atravs do desenvolvimento do

    esprito crtico. Alm do mais, a ao conscientizadora da prtica educativa, inculcando a

    idia e fornecendo meios para que as pessoas vivenciem um lazer criativo e gratificante,

    torna possvel o desenvolvimento de atividades at com um mnimo de recursos, ou

    contribui para que os recursos necessrios sejam reivindicados, pelos grupos interessados,

    junto ao poder pblico ( MARCELLINO,2006).

    Referncias bibliogrficas. CALLOIS, R., 1990. Os jogos e o homens. Liboa, Cotovia. COSTA, M. T., 2002. Quase metade da RMC carente de espaos culturais.Disponvel em http://www.cosmo.com.br/diversaoarte/2002/12/21/materia_div_4/131.shtm Acesso: 21/12/2002 IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica), 2001. Pesquisa de Informaes Bsicas Municipais. Disponvel em www.ibge.gov.br Acesso: 10/12/2005 KEKL, M.R, 2000. O pacto do cinismo. Folha de So Paulo, Domingo, 04 de junho , Mais, pp. 30 e 31. MARCELLINO, N.C., 2006. Estudos do lazer;uma introduo, 4.ed., Campinas, Autores Associados. ________. Pedagogia da animao.7.ed.2005, Campinas, Papirus. ________. Lazer e educao. 11., ed.2004, Campinas, Papirus. REQUIXA, R, 1980. Sugestes de diretrizes para uma poltica nacional de lazer. So Paulo: SESC. SANTINI, R. de C.G., 1983. Dimenses do lazer e da recreao. So Paulo: Angelotti. SASSEN, S., 2000. A cidade e a indstria global do entretenimento. In: LAZER numa sociedade globalizada: Leisure in a globalized society. So Paulo: SESC/WLRA, p. 113-120.

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    Dados do autor Nelson Carvalho Marcellino Socilogo, Doutor em Educao, Livre docente em Educao Fsica- Estudos do Lazer, Docente do mestrado em Educao Fsica, da Faculdade de Cincias da Sade, da Universidade Metodista de Piracicaba-UNIMEP,Brasil, [email protected] , Coordenador do Ncleo do Centro de Desenvolvimento do Esporte Recreativo e do Lazer-REDE CEDES, do Ministrio do Esporte www.unimep.br/cedes , Lder do GPL, Grupo de Pesquisas do Lazer www.unimep.br/gpl , e Pesquisador do CNPq. Autor de vrios trabalhos publicados na rea, a maioria pela Papirus Editora: www.papirus.com.br, entre os quais se destacam Lazer e Humanizao, Lazer e Educao, Pedagogia da Animao, Repertrio de Atividades de Recreao e Lazer, Lazer e Recreao: repertrio de atividades, por fases da vida, etc.